Não olhe pra trás



Não mais se encontravam durante o dia, queriam evitar confusões. Faziam isso de madrugada, o que ocasionava olheiras em seus olhos mas valia o sorriso que davam um para o outro.
Uma semana havia se passado desde da briga e a ruiva levou um susto, quando ao descer para tomar café-da-manhã, encontrou Lúcio Malfoy conversando com Mcgonagall, Narcisa, Molly e Arthur.
Ficou parada na porta, sem ser notada, e esfregando os olhos para ver se não estava sonhando. Como Lúcio Malfoy podia estar ali?
Sentiu uma mão em seu ombro e virou-se, era Draco:
-Bom dia, Gina. –sussurrou.
Estava tão surpresa que nem respondeu o bom dia dele, foi logo perguntando:
-Draco, o que o seu pai está fazendo aqui?
Ele coçou brevemente a cabeça, como que pensando:
-A Diretora cumpriu o acordo, é isso. Só quero saber como eles vão fazer com a distribuição dos quartos. Se eu for transferido para o seu quarto, não reclamarei nem um pouco... –disse, sorrindo.
-Eles nunca vão fazer isso e você sabe. –o sorriso dele murchou –A essa altura o seu pai já deve saber sobre nós.
-E por isso mesmo que eu prefiro não chegar muito perto por enquanto, olha a cara dele.
Lúcio Malfoy tinha seu cabelo loiro opaco e curto, provavelmente cortado a navalhadas pelos guardas de Azkaban. Estava muito magro, quase esquelético. Seus olhos azuis estavam apagados e fundos. A despeito disso, vestia uma roupa que parecia nova, obviamente não era a mesma com que viera da prisão. Porém, seu rosto, para Gina era inexpressivo:
-Eu não vejo nenhuma expressão assassina no rosto dele. –comentou com Draco.
-Eu o conheço, isso é fúria contida.
Gina conhecia a aparência acabada de alguém que passava por Azkaban, ainda que Lúcio tivera sorte por não serem mais os dementadores a guardar Azkaban. Mas não compreendia porque Lúcio e Narcisa pareciam quase dois estranhos. Tinham passado muito tempo longe um do outro, por que não estavam nem ao menos abraçados? Seria mais um daqueles casamentos arranjados e sem amor?
-Draco...os seus pais parecem tão frios um com o outro. –comentou cautelosa.
Ele abafou um riso:
-Estão se comendo com os olhos, não vem a hora de recuperarem o tempo perdido. Pode não parecer, mas eles se amam. A minha mãe chorava quase toda a noite e murmurava o nome dele e que não agüentava mais ficar longe dele e se preocupava com o que estaria passando.
-Como você pode saber de tudo isso? –perguntou surpresa.
-São meus pais, eu tenho que saber como eles agem pelo menos um pouco, não? Além do mais a minha mãe é orgulhosa. Quando mostrava a sua parte fraca, achava que eu estava dormindo. –cochichou no ouvido dela.
-Como Malfoys são complicados.
Nesse instante finalmente foram notados. Gina pôde ver o olhar de desprezo que Lúcio lhe lançou e de repreensão para Draco:
-Temos muito que conversar, garoto. –disse para o filho, em tom de ameaça.
-Concordo. –Draco respondeu sem se abalar e mostrando que podia ser tão frio quanto o pai.
Gina foi até seus pais, enquanto os Malfoys se retiravam da cozinha:
-O que está acontecendo por aqui? –quis saber, olhando para a Diretora.
-Seus pais lhe contaram, Srta. Weasley. Tenho muito que fazer ainda. Até mais. –e se retirou.
-O Malfoy vai morar aqui também, Minerva tirou-o de Azkaban. –Arthur disse e Gina fez cara feia.
-Eu sei que não gosta dele. Não deveria gostar do filho também. –Molly não pôde deixar de dizer.
-O Draco é completamente diferente do pai dele. –ela defendeu-o.
-Filha, esqueça-o. O Harry te ama, quando essa guerra acabar...
-Não quero saber disso, mamãe. Eu não gosto do Harry como mais que amigo. Acabou, não entende?
-Ele poderia te fazer mais feliz que o Malfoy, Gina. –Arthur disse.
-Não, poderia fazer vocês mais felizes não a mim. Não vou ouvir uma palavra que digam contra o Draco. –avisou e foi procurar o que comer.

***

Entraram no quarto que Draco e Narcisa dividiam. A loira fechou a porta e sentou-se na beirada da cama. Assistindo os dois homens se encararem duramente. Lúcio foi quem começou a falar:
-Se quer saber, Draco, eu vou te contar o que estive pensando enquanto estava preso. Eu temia uma vingança do Lorde das Trevas contra você ou a sua mãe. Então fiquei sabendo que o Lorde das Trevas tinha te dado uma missão. Narcisa me mantinha informado. –explicou –Mas era óbvio que era uma missão impossível para você, para que não conseguisse mesmo. Sabia que no momento em que você falhasse, nossa família estaria perdida. Mas havia a ínfima possibilidade de que conseguisse e então cairia nas graças do Lorde. Quando sua mãe me contou das suas tentativas, fiquei um pouco mais esperançoso. Deve se perguntar ainda por que me tornei um Comensal da Morte, não é mesmo?
-Claro. Você nunca me contou e se esquivava quando eu queria saber.
-Pois bem. Eu sempre tive um certo talento para Artes das Trevas e nunca simpatizei com trouxas, mas não foi o principal. O que realmente pesou na escolha foi a sua mãe. Sua tia Bellatriz sempre freqüentou nossa casa. Ela era uma comensal e dizia que Lorde Voldemort venceria e quem estivesse contra ele, sofreria as conseqüências. No começo eu não acreditava no que ela dizia, mas foi me dando provas de quanto o lado das trevas era forte. Eu então pensei que havia acabado de casar com a Narcisa e pretendia ter um filho pelo menos. Não poderia permitir que a minha família fosse caçada como tantas outras. Então passei para o lado que julguei mais forte, apenas isso.
-Sempre pensei que fosse por fome de poder. –Draco disse neutro.
-Sempre me preocupei com você e a sua mãe. Qual não foi a minha decepção ao saber que você andava se agarrando por aí com uma Weasley. Você merece coisa melhor, filho. Ela é pobre e ignorante, a única coisa que pode te oferecer são alguns momentos de prazer e isso você pode ter com outras.
-Vocês não entendem mesmo. Eu gosto mesmo dela, caramba!
-Gostar? –Narcisa perguntou –Saí dessa, Draco. Você pode facilmente gostar de qualquer outra.
-Mas eu AMO a Gina.
Lúcio pegou o filho pela gola da camisa que vestia:
-Não me diga que ama aquela miserável! Eu não te criei para acabar com uma vida medíocre. Eu quero te ver no Ministério, moleque, no mínimo como um chefe de departamento. E não um reles empregado como o pai dela. Não quero que seja um falido! Não quero que atire o nosso nome na lama, entendeu? Os Malfoys têm sido uma família tradicional e rica por séculos, não deixarei que acabe com isso!
-Eu não quero trabalhar no Ministério. Eu vou ser um Medibruxo. Eu vou ficar com a Gina. Sou maior de idade, você não decide mais nada por mim.
-Eu vou te deserdar, moleque! Faça isso para ver se não fica sem nenhum nuque. Além do mais, você não gostaria que nada de mal acontecesse àquela grifinóriazinha, não é mesmo?
-Você não seria capaz...
-Duvida? Ninguém saberia que não foi acidente...Não posso deixar que ela estrague sua vida. Você vai agora mesmo até a cozinha e vai terminar com ela de forma definitiva e não pra ficar se encontrando com ela de madrugada na cozinha. –Draco abriu a boca –Como eu sei? Achava que não precisava fechar sua mente diante de mim, Draco? Sei que faz melhor que isso.
Dessa vez Draco realmente fechou sua mente e ficou quieto em seu lugar, tentando absorver aquela conversa. Como poderia não lutar por ela?
-Estou esperando, Draco. –e soltou a gola dele –Vamos fazer isso de uma vez. –e o conduziu para fora do quarto, piscando um olho para Narcisa.
“Ai, ai. Que ótimo que o Lúcio está de volta. Só ele para fazer o Draco deixar de ser teimoso.” Ela pensou.

***

Na cozinha, Gina comia algumas torradas com geléia de uvas e tomava vitamina de frutas. Olhou para porta e de repente viu Draco com Lúcio. Enquanto o pai ficou parado na porta, Draco foi até a mesa e sentou-se ao lado dela. Começaram uma conversa sussurrada.
-O que foi, Draco? Parece preocupado.
-O meu pai fez chantagem. –ele murmurou baixinho e quase sem mexer os lábios –Disse que se eu não terminar, algo ruim vai acontecer a você e ele não costuma ameaçar em vão.
-Então está tudo acabado?
-Olha, eu realmente não quero desistir de você. A única alternativa seria se fugíssemos, mas eu sei que você não faria isso, então...
-Se esse for o único modo, eu fujo com você.
-Nos encontraremos na porta que dá para saída às 2h da manhã, tá? Mas ele tem que acreditar que nós terminamos, todos têm. Então me ajuda no teatro, tá?
-Claro.
Ele aumentou a voz, para que Lúcio ouvisse:
-Eu estou tentando ser legal com você, tentando terminar da maneira mais suave possível, mas você não entende. ESTÁ ACABADO! Eu cansei de você, Weasley, quero que me deixe em paz!
-Não! –e os olhos dela se encheram de lágrimas –Você não pode estar falando sério! VOCÊ DISSE QUE ME AMAVA! Ainda ontem você disse isso!!!
-Foi um passatempo, Weasley! Não quero mais saber de você! ODEIO a sua família e ODEIO VOCÊ! Não agüento como é irritante e pega no meu pé. Você é muito chata! FIQUE COM O TESTA RACHADA!
-EU ODEIO VOCÊ, MALFOY! VOCÊ ME ENGANOU! NUNCA MAIS FALE COMIGO!!! –e saiu correndo, com lágrimas nos olhos.
“Ela interpretou perfeitamente, quase até eu acredito.” Ele pensou, enquanto fazia uma expressão abatida.
Lúcio malfoy veio em sua direção, batendo palmas:
-Muito bem, Draco. Duvido agora que ela não tenha entendido. Foi bem claro e como grifinória que é, tem orgulho e não voltará a te procurar. -Draco olhou com raiva para o pai –Ainda verá que fiz isso para o seu bem.

***

Às 2h em ponto, Gina estava no lugar marcado com o malão cheio de seus pertences. Esperava Draco chegar.
“E se ele desistiu?” ela perguntou.
Uns 5 minutos depois ele chegou, tapando-lhe os olhos:
-Adivinha quem é? –sussurrou no ouvido dela.
-Draco. –disse e ele destapou os olhos dela, virando-a para si.
Beijaram-se longamente:
-Achei que não viesse mais.
-Tive que esperar. Fiz um esforço para fingir estar dormindo enquanto eles transavam. E depois eles caíram em sono profundo. Então aproveitei para arrumar as minhas coisas e sair.
Gina tinha ficado vermelha, mas a luz do hall era pouca, não permitindo que Draco visse isso:
-O que vamos fazer, Draco?
-Primeiro vamos mudar um pouco nossas aparências. –ele tirou a varinha e deixou seus cabelos e os de Gina negros com um feitiço –E então nós iremos até o Gringotes. Tenho uma conta na qual só poderia mexer quando fosse maior de idade, então eu posso. Sacaremos todo o dinheiro.
-Não quero viver às suas custas.
-Não pense nisso agora. E bem...tem mais uma coisa que não te contei.
-O quê?
-Antes de deixar Hogwarts recebi uma coruja. Era de um hospital bruxo Austrália. Querem me contratar como mebibruxo e disseram que eu poderia escolher minha assistente. Estava pensando em não aceitar, por isso não te contei. Mas agora....o que acha da Austrália, futura assistente?
-Ótimo lugar, ainda mais com você, medibruxo.
Ele sorriu antes de darem um breve, mas apaixonado beijo. Em seguida abriram a porta com um alorromora e passaram por ela. Gina deu um profundo suspiro, quando ele fechou a porta e a casa desapareceu:
-O que foi? Não está certa? Podemos voltar?
-Não quero voltar, apenas estou me despedindo da minha antiga vida, aquela minha vida que era uma droga. –respondeu, pensando no simples bilhete que explicava o porque e com quem ela tinha fugido.
Pegou a mão dela, passando firmeza e estendeu o braço da varinha para chamar o Nôitibus. Aquela seria para eles uma nova vida. Recomeçariam em outro lugar. Não teria ninguém para lhes dizer que não deviam ficar juntos. Lá não seriam perseguidos por Voldemort e poderiam viver em paz.
Paz, essa palavra há tanto querida por ali, mas que não era alcançada. Agora isso seria passado. Era preciso olhar para frente e esquecer as mágoas do passado.
O Nôitibus chegou. Gina nem prestou atenção na apresentação habitual de Lalau. O condutor pegou sua mala e a de Draco. Eles entraram no veículo sem olhar para trás, sem se arrepender da vida que estavam deixando. Tudo o que importava era o que viria, disso estavam certos. Para muitos aquilo poderia ser insensato e não fazer sentido. Mas o amor sempre seria o maior argumento numa discussão. Sabiam que seriam felizes em qualquer lugar desde que estivessem juntos para compartilharem suas vidas.

Se não faz sentido,
discorde comigo
Não é nada demais
São águas passadas
Escolha uma estrada
E não olhe...Não olhe pra trás
[Não olhe pra trás –Capital Inicial]

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