E o motivo é a sua febre

E o motivo é a sua febre



Capítulo 6: E o motivo é a sua febre

Andaram por alguns minutos, até chegarem a um letreiro luminoso “Internationale Hotel Suisse” do lado de fora estavam hasteadas as bandeiras de vários países. Passaram pela porta giratória e entraram no luxuoso saguão. O piso era tão brilhante que refletia tudo. Havia um local de espera com um sofá aconchegante, uma mesinha de centro com revistas diversas, que estava sobre um tapete persa. Havia também uma televisão ligada no noticiário. Os lustres eram grandes e exuberantes. Chegaram à recepção. Havia três recepcionistas. Duas mulheres, as quais estavam ocupadas com outros hóspedes e um homem, que logo veio atendê-los:
-Eu e o meu marido procuramos um quarto, há algum disponível? –Gina perguntou cautelosamente, já que Draco não olhava com uma cara muito boa para o belo recepcionista.
Se ele se decepcionou ao saber que Virgínia era casada, não demonstrou, pois disse normalmente:
-Sim. De que tipo de quarto gostaria? –tinha um pouco de sotaque italiano, a ruiva percebeu.
-O mais luxuoso que tiver. –Draco respondeu despreocupadamente.
-Quantas diárias e qual forma de pagamento?
-Uma noite. –Draco respondeu –Dinheiro vivo.
O recepcionista arqueou as sobrancelhas pela visível ostentação do Malfoy.
-São 500 euros.
Draco tirou do bolso sua carteira de euros e deu-lhe 5 notas de 100.
-Seus nomes completos? –o recepcionista, de nome Carlo, como ela notou no crachá, perguntou.
Draco respondeu pelos dois:
-Virgínia Molly Weasley Malfoy e Draco Thomas Malfoy.
-Já se hospedaram aqui? Seus nomes não me são estranhos. –ele comentou, como se estivesse fazendo força para lembrar.
Draco e Gina trocaram um olhar significativo, o qual dizia que o recepcionista deveria ter lido um jornal na época em que foram acusados de usar um cartão fraudado em hotéis 5 estrelas.
-Não. –Draco afirmou tranqüilamente –É a primeira vez que nos hospedamos. As refeições são incluídas? –mudou de assunto.
-Sim, temos um dos melhores chefes de cozinha da Europa. –disse orgulhosamente.
Carlo anotou os nomes no livro de hóspedes, junto com o número do quarto, o tipo de pagamento e a permanência. Em seguida foi buscar a chave, voltando instantes depois:
-Quarto 45, 3º andar, o elevador fica naquela direção. Mas não precisam se preocupar em achar o quarto. O Richard aqui, irá levá–los. -e apontou um homem uniformizado que estava ao lado deles e que só agora o casal havia percebido –Tenham uma boa estadia. –e entregou a chave para o loiro.
Richard não parecia ter mais que 25 anos. Era um tipo que decididamente passava despercebido. Era um pouco mais baixo que Draco e magrelo. Os cabelos eram castanho claro assim como os olhos, mas estes eram calmos e pacientes. Aparentava ser o tipo do sujeito quieto, que não abre a boca nem para reivindicar algo a que tem direito.
Draco e Gina seguiram o empregado, após ele colocar suas malas num carrinho. Entraram no elevador. O ascensorista cumprimentou-o, Richard acenou com a cabeça.
-São hóspedes novos, não? –o ascensorista perguntou para o casal em um inglês perfeito –Nunca os vi por aqui.
-Sim, nós somos. –a ruiva respondeu –Este aqui é um belo hotel, não é mesmo?
-Ah, é sim. A propósito, sou Dennis Woodrow. Sou de Liverpool.
-Que legal, um compatriota. –a ruiva comentou –De onde é? –perguntou para Richard.
-Ele é mudo. –Dennis informou –É de Dublin, Irlanda.
-Ah... –Virgínia murmurou, aparentemente sem graça.
Logo o elevador parou e eles desceram, depois de Woodrow desejar-lhes uma boa estadia. Ao chegarem em frente ao quarto, antes que Draco sequer colocasse a mão no bolso, Gina deu a Richard uma generosa gorjeta:
-Obrigada, Richard. –disse sorrindo simpaticamente.
O empregado sorriu de volta e se retirou, Draco apenas olhava feio e não disse nada, para a surpresa de Gina.
“Que milagre que o Draco não reclamou. Nem por eu ter dado gorjeta com o meu dinheiro nem por ter ficado com ciúmes. Por que ele está tão quieto?” perguntou-se.
O loiro girou a chave na maçaneta e entraram. Gina abriu um grande sorriso, finalmente aquilo seria uma lua-de-mel como ela tinha imaginado e fantasiado por meses.
O chão era inteiramente coberto por um carpete branco macio e anti-alérgico. A cama era de dossel, bastante espaçosa e o colchão era de molas. Havia uma linda penteadeira e o guarda-roupa era embutido na parede. No alto, oposta a cama, estava uma televisão. Gina sentou-se na cama e começou a pular, dando impulso no chão com os pés, Draco apenas a olhava. Sorriu pra ela antes de virar-lhe as costas e colocar suas malas num canto.
Virgínia tirou os tênis e estendeu-se na cama olhando pro teto.
“Por que o Draco está tão quieto?” ela preocupou-se.
Logo sentiu um peso ao seu lado, Draco havia sentado na cama e a encarava.
-Draco, por que é que você não fala comigo? Se foi por causa da gorjeta...
O Malfoy engoliu:
-Não é nada disso, Virgínia. –garantiu.
-Jura que não está bravo comigo?
-Juro, pare de ser manhosa. Vamos jantar. Eu estou com fome, você não?
Ela fez que sim:
-Mas estou com uma preguiça...
-Ora, essa...
-Me levanta. –ela disse esticando o braço.
Draco a puxou e no segundo seguinte ela colou seus lábios. Teve que forçar os lábios dele a se abrirem com sua própria língua, só depois percebeu porque ele estava resistindo. Ela parou de beijá-lo:
-Draco! Você estava chupando uma daquelas pastilhas pra dor-de-garganta. Por que não me disse?
-Eu não queria te preocupar. –disse, tentando soar displicente –Vamos comer de uma vez, sim?
-Só se você prometer que não vai me esconder coisas como dor de garganta.
O loiro revirou os olhos e bufou, mas estava com tanta fome que resolveu concordar. Fez que sim e cruzou os braços:
-Satisfeita? –perguntou à mulher.
Gina calçou novamente seus tênis, tirou suas luvas, cachecol e touca, colocando-os em sua mala:
-Agora sim podemos ir.
Desceram até a recepção. Carlo estava ocupado. Uma das recepcionistas, Danielle, de acordo com o crachá veio até eles:
-Sim?
-Gostaríamos de saber onde é o restaurante do hotel. –Draco disse, e Gina prestou atenção no modo que ele olhava a recepcionista, mas não parecia haver nada demais.
-É fácil de encontrar. Fica na cobertura.
-Obrigada. –Gina agradeceu e saiu puxando o marido.
-Por que a pressa? –ele indagou.
-Estou com fome. –Gina respondeu –Achei que também estivesse.
-Hum...-ele murmurou e entraram no elevador.
-Olá novamente. –era Dennis –Para onde gostariam de ir?
-Para o restaurante. –o loiro disse.
O ascensorista apertou o botão do último andar:
-E então? Gostaram do quarto?
-É fantástico! –a ruiva respondeu com animação.
-E o colchão? É de molas, o preferido dos casais que vêm aqui, se é que me entendem...
Gina corou e Draco sorriu malicioso:
-Vamos ver se é realmente bom, não é mesmo, Gina?
As bochechas dela se tornaram ainda mais escarlates:
-Draco! –ela o censurou.
-É nossa lua-de-mel. –o Malfoy não pôde deixar de comentar com Dennis.
-Que ótimo! Não devem querer se desgrudar nem por um segundo, não é? Principalmente à noite...
Dennis e Draco ficaram nesse tipo de conversa subentendida até chegarem ao último andar. O casal desceu do elevador:
-Que foi, Gina? –o loiro perguntou cinicamente.
A ruiva estava muito vermelha e captou o cinismo na voz dele:
-Você sabe o que é! Me deixou morta de vergonha.
-Ora, só porque eu disse que apenas o seu rosto é angelical e que sabe me deixar louco? Mas isso é verdade.
Estavam andando, a porta para o restaurante ficava no final do corredor:
-Verdade ou não, isso é uma coisa íntima. Não é para ser falada para estranhos que você nunca viu na vida.
-Mas nós vimos ele quando chegamos...
-Decididamente você é um cínico, Draco Malfoy.
-Isso é um elogio?
-Não aposte nisso. –respondeu seriamente.
Chegaram ao restaurante. Escolheram uma mesa desocupada e logo o garçom chegou trazendo os menus. Havia comida francesa, alemã e italiana, entre outras:
-O que vai querer, Gina?
-Ravióli com molho branco.
-Comida italiana podemos comer em Veneza, escolha outra coisa.
-Então quero algo diferente.
Acabaram comendo yakisoba, acompanhado de saquê:
-Muito bom. –a ruiva elogiou a comida –Nunca tinha experimentado.
–Serei eu a lhe ensinar tudo que há de bom na vida?
-Não seja exagerado. Eu já tinha comido chocolate antes de te conhecer.
-Verdade. –concordou.
Quando voltaram para o quarto e Draco trancou a porta, estabeleceu-se o silêncio. Então Gina disse:
-Vou escovar os dentes.
-É, eu também.
Escovaram os dentes sem uma palavra e deixaram suas escovas no armário do banheiro. E por falar em banheiro, este era espetacular. Grande, com a decoração inteiramente branca. O vidro do box era transparente. A banheira era grande e circular.
-Que acha de tomarmos banho nessa banheira? –Draco perguntou cautelosamente.
-Ótima idéia. –respondeu timidamente.
Draco abriu a torneira de água quente e após encher a banheira, ele criou espuma com um gesto de sua varinha. Sorriu para Gina e puxou-a para fora do banheiro. Ela olhou-o, confusa:
-Suas mãos estão quentes. –ela comentou.
-Não é nada. –disse, soltando as mãos dela.
-Mas, Draco...
-Eu já disse que não é nada, que coisa, Virgínia.
A ruiva resolveu calar-se. Draco foi se despindo e colocando suas roupas em cima da cama. Gina fez o mesmo. O loiro terminou primeiro e entrou na banheira:
-Dá pra ser hoje? –perguntou em voz alta para que a ruiva ouvisse.
Logo ela apareceu na porta do banheiro, enrolada numa toalha e com outra na mão para ele. Os cabelos presos num coque:
-Não precisava, tem toalhas aqui.
-Toalhas nunca são demais. –Gina deu de ombros, pendurando a dele e em seguida a sua.
Deu uns passos vacilantes até a banheira. Entrou do lado oposto do Malfoy:
-Tudo isso é medo de mim, Virgínia? –ele perguntou suspirando.
-Não é medo, é timidez. –ela disse corando.
Draco foi até o lado de Gina e passou uma mão pelos ombros dela:
-Então temos que nos livrar dela.
Gina olhou pra ele, seus lábios estavam vermelho arroxeados e sua pele arrepiada:
-Draco, você está com frio? –perguntou, estranhando, já que para ela a temperatura estava agradável.
-Não. –ele mentiu e beijou-a.
A ruiva colocou a mão na testa dele e parou o beijo:
-Draco, você está ardendo em febre. –ela disse, preocupada –Por que não me disse? Pare de ser orgulhoso, homem!
-E isso tem importância? É só você esquentar o meu corpo. –e abraçou-a.
Virgínia devolveu o abraço, mas sentiu-se indignada com a negligência dele:
-Draco, eu estou falando sério. Você está com febre alta. Se aumentar mais você pode ter convulsões.
-Quem liga pra isso? –perguntou cercando-a com seus dois braços apoiados na borda da banheira, impedindo que ela saísse dali.
-Eu ligo, Draco. Como pode estar com uma febre tão alta e não se importar? Não está sentindo mais nada?
Sentou-se novamente ao lado dela, cruzando os braços em frente ao tórax:
-Está me rejeitando novamente, Virgínia? Pensei que quisesse transar comigo...
Ele falou tão desoladamente que Gina teve pena, mas ele estava entendendo tudo errado:
-Você acha que eu não quero?!? Só por que estou preocupada com a sua saúde? Amor não é somente sexo, eu me preocupo com você. Será que não percebe isso?
-Desculpa. –murmurou rapidamente –Se você quer saber...Sim, eu estou com febre. Não estou mais com coriza e dor-de-garganta graças à pastilha. Mas me sinto cansado, com o corpo em frangalhos e com uma dor-de-cabeça que parece estar martelando o meu cérebro.
Gina passou uma mão pelo rosto dele:
-Por que não me disse? Eu quero saber o que se passa com você. Não quero que esconda coisas de mim. Você disse que me contaria.
O loiro desviou o olhar:
-Não queria te preocupar e nem decepcionar, por isso fingi que estava tudo bem. Mas do jeito que estou, seria um milagre conseguir levantar alguma coisa...
-Eu vou cuidar de você. Saia dessa água quente ou sua febre irá aumentar. –disse levantando-se –Vamos, Draco, precisa tomar um banho gelado.
-Ah, não! Não, Virgínia!
-Não seja teimoso. Não quer melhorar logo?
Ele levantou e os dois saíram da banheira. Gina enrolou-se numa toalha. Foi até o box e ligou o chuveiro no neutro. Em seguida empurrou o marido pra debaixo do chuveiro:
-Você quer me matar, Virgínia?!? –perguntou indignado.
Gina esticou o braço e segurou uma mão dele:
-Agüenta um pouco, meu amor. –tentou incentivá-lo.
Draco apertou forte a mão da esposa. Mordia os lábios, já roxos, para evitar bater os dentes e sua pele estava toda arrepiada. A ruiva então disse:
-Já pode fechar o chuveiro. –o loiro o fez e foi puxado por ela para fora do box.
O Malfoy tremia e parecia a ponto de desmaiar. Virgínia pegou uma das toalhas e pôs-se a secar o corpo dele o mais rápido que pôde. Enrolou a toalha na cintura dele. Em seguida pegou outra toalha e secou os cabelos dele, depois colocando a toalha sobre os ombros dele.
O trouxe para o quarto. Jogou no chão todas as roupas que estavam em cima da cama e deitou-o. Decididamente ele não estava bem, posto que “apagou”:
-DRACO! –mas ele não acordou.
Virgínia pegou sua varinha e fez um enervate. Ele voltou a si, mas parecia um tanto delirante:
-Gina... –ele não parava de murmurar, às vezes com os olhos abertos, outras com eles fechados.
-Eu estou aqui, Draco. –ela disse, enquanto procurava roupas limpas pra ele dentro da mala.
Voltou pouco depois à cama. Desenrolou-o das toalhas e ele se encolheu, parecia um menino no corpo de um homem.
“Será que eu fiquei mal assim daquela vez em que ele teve que cuidar de mim?” a ruiva perguntou-se.
[N/A: Tá certo que a Gina não consegue se lembrar do que aconteceu, só o que o Draco contou, mas...]

***Flashback***

Ilha dos Portais, após a Gina e o Draco terem caído da cachoeira.
Foi até Gina e terminou de tirar o sobretudo dela, jogando-o pro lado. Ele então tirou a blusa vermelha que Gina vestia. A ruiva nem sequer tentou impedí-lo de fazer isso, estava se sentindo mal demais para se importar.
O loiro ignorou (com grande dificuldade), seus pensamentos libidinosos ao ver Gina daquele jeito a sua frente. Com um sutiã cor de pele, os seios subindo e descendo lentamente conforme a respiração, a pele levemente arrepiada, e parecendo tão indefesa.
Ele abriu sua mala e forrou o chão com algumas capas. Em seguida levantou Gina e tirou os tênis (branco e preto), a calça jeans preta. Deitou-a em cima das capas e tirou as meias (vermelhas) dela. A garota se encolheu e tremia compulsivamente.
Novamente Draco foi até sua mala, dessa vez para pegar uma toalha:
-Você vai ficar bem, Gina. –ele disse, pondo-se a secar o corpo e os cabelos dela.
-Draco... –ela murmurou entreabrindo os olhos e o mirando com adoração.
-Sim, eu estou aqui, Gina. Vou cuidar de você.
-Draco...que sonho esquisito...Você é o meu sonho?!?
“Coitada. Acha que isso é um sonho. Certamente deve estar delirando.” Ele pensou.
-O que você quiser, Gina. –ele murmurou, resolvendo não contrariá-la.
O loiro estava pegando um sobretudo para cobri-la, quando a ouviu dizendo:
-Não me deixa.
-Eu estou aqui com você. Não vou te deixar. –respondeu ainda de costas pra ela.
-Eu quero ficar com você, Draco... –disse, enquanto a cobria.
-Somos casados, Virgínia. Nós estamos juntos. –ele respondeu, mas a ruiva não pareceu ouvir.
-...Pra sempre... –acrescentou e seus olhos se encheram de água.
-Não chore. Isso faz o meu coração ficar apertado de tristeza. –disse limpando as lágrimas dela. –“Oras! Ela está delirando, ano faz mal que eu fale algo assim.” Ele pensou –Eu quero te ver sorrindo.
Gina deu um leve sorriso:
-Draco... Eu te amo...
Ele se afastou como se tivesse levado um choque. Gina fechou os olhos e não disse mais nada.
Draco sentou-se perto da fogueira e ficou assistindo ao crepitar das chamas. Não conseguia parar de ouvir a voz de Gina em seus pensamentos “Draco...Eu te amo...”. Por mais que tentasse se distrair, não conseguia parar de pensar na Weasley.
“Não seja idiota, Draco! Ela estava apenas delirando. A Gina nunca vai te amar! Ela é boa demais pra você! Eu não mereço que a Gina me ame, eu nunca amei ninguém que não fosse eu mesmo ou a minha mãe. Eu já quebrei o coração de tantas mulheres. Mas eu não posso fazer isso com a Gina! Eu não consigo fazer isso com ela. A Gina é importante demais pra mim. Ela não pode me amar...Eu não quero fazê-la sofrer! Ela não me ama, não sente nada por mim. Aquilo era apenas um delírio. Por que é que eu continuo tentando me enganar?!?” ele pensou e espirrou.
-Tinha me esquecido dessa roupa molhada. –falou e começou a se despir.
Ele tirou o que havia nos bolsos da roupa em que estivera vestido anteriormente. Vestiu uma camisa branca, o shorts azul-marinho de um pijama e um sobretudo preto por cima.
Draco estava examinando o mapa, quando viu Gina se remexendo. Foi até ela e colocou as costas de sua mão contra a testa dela.
-Mais quente, Virgínia? Assim está me deixando preocupado.
O loiro rasgou um pedaço da camiseta cinza que tinha tirado há pouco, molhou-o mais um pouco na água do rio e colocou sobre a testa de Gina. Quando ele sentia que a água tinha esquentado, ia molhar o pano no rio novamente. Fez isso por cinco vezes e constatou que houvera uma pequena melhora, mas não era o suficiente:
-O calor do corpo dela passa para a água do pano, que antes estava gelada. Mas é insuficiente. Preciso de algo que possa cobri-la, mais do que só a testa. Algo que seja ou esteja menos quente que o corpo dela. Mas o quê? Pense, Draco, pense! Draco? Hey, ‘pera aí, eu já sei! Eu posso fazer isso, o meu corpo está mais frio que o dela. Então se eu cobrir a Gina com o meu corpo, haverá uma nova temperatura. Uma temperatura de equilíbrio, que será maior do que a minha é agora e menos do que a dela é agora.
-Draco... Me ajuda...
-Eu vou. –ele prometeu.
Draco novamente se despiu e dessa vez ficou somente com uma cueca samba-canção preta:
-Eu tô fazendo isso pro seu bem.
Ele deitou-se ao lado dela e então puxou-a para cima de si. Ao senti-la tremer de frio, ele cobriu-os melhor com o sobretudo e abraçou-a:
-Draco...Fica comigo... –ela sussurrou no ouvido dele –Eu te amo, Draco...
-Eu não vou sair de perto de você, Gina. Tudo o que quero agora é te ver bem de novo.
A ruiva estava mais calma agora que estava nos braços de Draco, mas ainda parecia estar com frio.
“Você é minha, Virgínia. Só minha. Mas isso é graças ao contrato... Não por merecimento. Mas isso não importa. Eu te quero pra mim, mas sei que não mereço. Abençoado seja o contrato... Creio que os comensais não nos acharão tão cedo. Você tem que ficar boa. Eu estou aqui abraçado a você por isso... Não que eu não adore sentir o seu corpo quente contra o meu. Eu adoro isso, é? Sim, Draco. Definitivamente você nunca adorou tanto estar com alguém como você adora estar com ela. Hum... E isso porque ela me deixa louco. E olha que a gente nunca foi até o fim. Como será que ela é na cama?” pensou olhando fixamente pra cima.
-Você é linda, Virgínia. Minha linda Gina. É você quem reina absoluta na minha mente. –ele murmurou, fechando os olhos e dormindo pouco tempo depois, morto de cansaço.

***Fim do flashback***

Gina colocou nele as roupas que havia pegado. Era uma cueca e um pijama leve de verão. Colocou as toalhas no banheiro, exceto a sua, que ainda estava enrolada no próprio corpo. Ele ainda tremia, mas a ruiva apenas o cobriu com um lençol. Depois pegou em sua mala dois comprimidos para dor-de-cabeça. No frigobar pegou uma garrafinha de água. Tomou um comprimido. Depois foi até o Malfoy:
-Abre a boca, Draco. –ela pediu e nada aconteceu –Eu disse pra abrir a boca. –tentou forçar o maxilar a se abrir, mas ele os tinha cerrado fortemente.
“Se isso não adiantar, não sei o que pode.” Pensou, debruçou-se sobre ele e encostou os lábios no dele.
A ruiva percebeu como os de Draco estavam frios. Forçou passagem com sua língua. Draco abriu a boca, ou porque tivesse uma leve noção de que estava beijando Gina, ou porque os lábios e a língua dela eram quentes e ele se sentia desesperado por calor.
A ruiva levantou o corpo de Draco da cama, mantendo-o sentado. Sem aviso prévio, descolou seus lábios e colocou o comprimido na boca dele, seguido da garrafa de água. Ele relutou em beber aquela água fria, mas Gina conseguiu.
De onde tinha tirado o comprimido contra dor-de-cabeça, uma malinha de primeiros socorros, Gina tirou um frasco com uma poção contra febre. Foi novamente até a cama e sentou-se ao lado de Draco:
-Draco. –ela chamou e ele abriu os olhos, parecia um pouco melhor.
-Gina, você está cuidando de mim?
Ela fez que sim e ele ia falar mais alguma coisa, mas Gina não deixou:
-Shiu! Você vai ficar bom. Tome essa poção, é pra baixar a sua febre.
Com alguma dificuldade, ele sentou-se na cama e bebeu a poção:
-Eu só te dou trabalho.
-Não se preocupe com isso, Draco. –disse, fazendo com que ele se deitasse novamente.
Então finalmente a ruiva tirou sua toalha e vestiu uma roupa de dormir. Draco tinha se coberto com o edredom. Ela suspirou:
-Ok. Eu vou deixar você com esse edredom, mas só porque tomou a poção. –e deitou-se ao lado dele.
Draco cobriu-a com o edredom também e enlaçou o corpo dela:
-Obrigado. –murmurou no ouvido dela.
-Não precisa agradecer.
-Obrigado... –ele repetiu.
-Draco, eu já disse...
-Por entrar na minha vida. –completou.
Gina sorriu e virou-se para ele após alguns momentos, mas o loiro estava dormindo.
“Será que ele falou isso em meio a um delírio?” perguntou-se “Tanto faz, eu sei que ele realmente pensa assim”. Pensou e adormeceu também, mas a toda hora acordava para ver se o marido estava bem.
Na manhã seguinte, Gina acordou com a língua de Draco dentro de sua boca. Ele havia levantado sua camisola e acariciava seu corpo:
-Hm... –Gina fez pra ver se ele descolava suas bocas e foi o que aconteceu.
-Bom dia, moranguinho. Por que não faz jus ao anjinho e faz sua boa ação de hoje. –Draco ia beijá-la novamente, mas a ruiva desviou.
-Draco, me deixa dormir! Eu fiquei acordando a noite inteira pra checar se você estava bem. Estou morrendo de sono.
-Ora, mas que mau-humor , Virgínia.
-Desculpa... –murmurou de olhos fechados –Mas me deixa dormir.
Draco levantou-se. Sentia-se novo em folha. Tomou banho, vestiu-se e foi tomar café-da-manhã no restaurante. Ficou aliviado do ascensorista não ser Dennis ou com certeza seria perguntado sobre a qualidade do colchão...
Ao entrar no restaurante, viu que havia uma quantidade razoável de pessoas. Muitos olhares femininos recaíram sobre si, mas ele ignorou-os. Serviu-se de torradas, meio mamão e uma vitamina, em seguida seguindo para uma mesa vazia. Só que a mesa não se tornou vazia por muito tempo:
-Posso me sentar aqui? –uma morena alta, muito bonita, perguntou educadamente.
-Claro. –respondeu com indiferença e continuou sua refeição.
A morena sentou-se a seu lado:
-Sou Amanda Griffith. Tenho 18 anos. Trabalho como modelo e sou dos EUA. – houve silêncio –E você?
-Draco Malfoy. –o loiro respondeu, tomando um gole de sua vitamina.
-É sempre tão quieto? –perguntou.
O loiro fez que sim, estava tentando ignorar a beleza dela.
-Não tem nenhum jeito que faça você falar? –indagou, apertando a coxa dele.
O Malfoy quase engasgou com uma torrada. Terminou de mastigar e então levantou para ela o dedo anelar esquerdo:
-Não. Sou casado e estou em lua-de-mel.
Amanda tirou a mão da perna dele e perguntou desdenhosa:
“Vamos ver por quanto tempo se mantém fiel.”
-E onde está a sua esposa?
-Dormindo. Eu esgotei a coitada ontem à noite. –respondeu, o que não deixava de ser verdade, mas não do jeito que a modelo estava pensando.
-Com licença. –ela disse, se retirando aborrecida por ele não estar cedendo.
-Toda. –o Malfoy respondeu, satisfeito.
Pouco tempo depois outra morena perguntou se poderia sentar na mesma mesa que ele. Ao contrário da outra, esta tinha cabelos cacheados e olhos verdes. Draco acenou positivamente.
-É a primeira vez que vem para cá? –perguntou, seu tom era caloroso e simpático.
-Para essa cidade é a primeira vez. –respondeu normalmente.
-Eu venho pra cá uma vez por ano. –revelou –Hum...É casado, não? –perguntou, percebendo a aliança do loiro.
-Sim, muito bem casado.
-Que legal, a sua mulher tem sorte em ter casado com um homem tão fiel.
“Não é só porque a Virgínia tava com sono e não quis nada hoje de manhã que eu vou trai-la. Ela cuidou de mim ontem...” pensou, escondendo o seu lado galinha à sete chaves.
Tudo bem que ele havia sido fiel desde que haviam voltado de Roma, mas antes de conhecer Gina, sabemos que ele era muito mulherengo. Não deixava passar uma. Mas depois de se apaixonar por Gina, ele viu que não adiantaria ficar com outras mulheres, pois sabia que a ruiva continuaria o “atormentando”. Por isso quando estavam na cama, cobrava de Virgínia por todas que ele poderia ter tido, já que por causa dela ele não conseguia sentir o devido prazer com outras. Tinha que ser ela. Tinha que ser a ruiva. Não era à toa que Gina reclamava antes do casamento que estava esgotada. De dia era o estafante trabalho no Ministério e à noite Draco a esgotava, deixando sem energias, ao mesmo tempo em que ficava plenamente satisfeita.
-Hum-hum. Estou atrapalhando algo? –era Gina emparelhando com a mesa deles.
Draco levantou-se e deu um selinho nela:
-Esta é a minha esposa, Virgínia Malfoy.
-Prazer, Virgínia. Pode me chamar de Annie. Estava apenas tomando café-da-manhã com o seu marido, espero que não se importe.
-Não, nem um pouco. –a ruiva respondeu –Vou pegar algumas coisas pra comer, volto logo –Fique aqui, Draco. Não vai querer deixar uma mulher comendo sozinha, vai?
Draco sentou-se e assistiu sua mulher se afastar.
“Ela não ficou muito feliz.” Pensou e percebeu que a modelo observava Gina com crescente curiosidade, assim como as outras mulheres que estavam na mesma mesa.
-Ela confia em você. –Annie comentou –O meu namorado ficou nos EUA. As férias dele só começam na semana que vem. Vou ficar uma semana sem vê-lo...Isso é chato.
Draco ficou mais tranqüilo ao saber que ela tinha namorado e provavelmente não estava dando em cima dele:
-E ele não fica com ciúmes de ficar em um outro país sem ele por uma semana?
-Eu amo o Albert. Nos falamos por telefone toda noite.
Logo Gina estava de volta e sentou-se ao lado de Draco:
-Eu achei que você quisesse dormir. –ele disse.
-E eu queria, mas não consegui mais depois que você se levantou.
-O que você faz Annie? –a ruiva perguntou, antes de começar a comer uma torrada.
-Sou programadora da Microsoft.
-Ah... –Gina respondeu, não entendendo o que aquilo significava.
-O meu namorado é RP do Wall Mart.
Draco e Gina perguntaram-se que diabos era RP. Não passando nem perto de acharem que era Relações Públicas.
-E vocês, o que fazem?
O casal entreolhou-se. Annie era uma trouxa. Tentaram chegar o mais perto possível de um trabalho trouxa:
-Trabalhamos para o governo. –Draco disse, sem informar que esse governo seria o Ministério da Magia.
-Somos ingleses. –Gina completou.
-Eu sou americana, como já devem ter percebido. Eu disse para o seu marido, passo sempre as férias aqui. Adoro esse país. É a minha segunda pátria.
Draco logo terminou de comer e Annie também. Gina então se apressou a terminar:
-Não nos veremos mais, mas digo que foi um prazer conhecê-la. –a ruiva disse.
-Digo o mesmo. –o Malfoy disse.
-Também foi um prazer. Mas estão indo pra onde?
-Vamos para Veneza. Estamos em lua-de-mel. –a ruiva respondeu.
-Oh, que bom! Desejo muitas felicidades. –e apertou a mão deles, se retirando logo em seguida.
Draco e Gina também saíram do restaurante, mas foram para o lado oposto de Annie. Não vendo que ela falava ao celular dentro de um banheiro feminino:
-Alô. Sim, informação positiva. Eles estão aqui na Suíça, cidade de Lucerna, Hotel Internationale Suisse. Estão indo hoje para Veneza. Essa é a informação que tenho, passe adiante, até o chefe. –e desligou, sorrindo para si mesma por ter tido a sorte de achar as pessoas que ele procurava, seria bem recompensada por isso. Albert gostaria de ganhar uns milhares de dólares a mais para gastarem juntos.

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