- Dolorosas Lembranças



Quartel-general da Ordem da Fênix. A neve caía graciosamente do outro lado da janela naquele tranqüilo final de tarde. Harry Potter, fitava com o olhar perdido o fogo que ardia e estalava lentamente na lareira da sala, à sua frente. Tudo tinha acontecido tão rápido... Ainda podia recordar dos raros e vazios sorrisos de Sirius. Já haviam se passado aproximadamente quatro meses depois de sua trágica morte e o rapaz jurara vingança.
--- Harry? – Indagou uma voz feminina, a da Senhora Weasley, que estava à sua procura. – Ah, ainda bem que lhe encontrei querido... Venha jantar.
Sem retirar os olhos da direção da lareira, o bruxo respondeu:
--- Desculpe-me... Estou sem fome. Não irei jantar esta noite.
Molly se aproximou lentamente de Harry. Realmente ele estava preocupando todos os membros da Ordem. Não comia direito há alguns dias e se sentia culpado por Bellatrix ter assassinado Black.
--- Querido...Você não pode se culpar por algo que não fez... Não foi culpa sua. Apenas fostes vítima de Você-Sabe-Quem.
--- Mas é claro que foi culpa minha! – Teimou. – Se eu não tivesse acreditado naquele sonho ridículo e ido procurar o Sirius, ele não teria ido com a ordem atrás de mim no departamento do ministério... E nada teria acontecido...
--- Não adianta ficar se culpando Harry. – Disse, Lupin, enquanto entrava na sala. – Agora venha comer... Não pode se manter assim por muito tempo...
O rapaz sentiu a mão de Remo encostar-se a seu ombro e desviou, retrucando:
--- Sei que não tem como trazê-lo de volta, nem ele e muito menos os meus pais... Mas quero vingar a morte de todos!
Após estas palavras, Potter se retira com rápidos passos do local e sobe as longas escadas, passando pelo barulhento retrato da Senhora Black, que agora chorava loucamente, em direção a seu quarto no andar de cima.
--- Essa vingança me preocupa Remo. – Disse Molly, olhando para a escada da qual Harry acabara de passar. – Tenho receio de que ele, estando nesse preocupante estado, cometa alguma loucura...
--- Acredito que todos nós da ordem temos esse medo. Só que ele tem 16 anos, não é mais uma criança Molly...
* * * * * *

A lua minguante tomara o lugar do sol fazia tempo. Todos estavam dormindo naquele momento. Harry, por sua vez, observava de sua cama, através da janela, o jardim malcuidado do vizinho.
--- Acho que vou comer algo... – Pensou, levantando-se cautelosamente e andando até a porta.
Desceu as escadas e passou pela porta, chegando na cozinha. Dirigiu-se até um pequeno armário que um dia vira a senhora Weasley retirando um pacote de aperitivos e procurou distraidamente algo para comer.
De repente, um barulho forte foi escutado. Harry, que estava entretido no que fazia, levou um susto, deixando uma taça de vidro cair no chão, num estrondo.
--- Quem está aí? – Perguntou o rapaz, esquecendo da fome, saindo da cozinha e andando até a sala.
Os passos lentos faziam o chão ranger. Harry estava sem varinha, indefeso.
--- Quem esta aí? – Repetiu, quando pôs o primeiro pé no interior da sala.
A lareira estava acesa. Recordou imediatamente que, antes de se deitar, havia a apagado. Olhou em volta com hesitação. Sentia seu corpo tremer levemente, embora não admitisse que estava com um pouco de medo.
Harry voltou a fitar a lareira. Logo se lembrou do maldito dia, assim apelidado por ele, em que aparecera ali, através da lareira da sala de Dolores Umbridge em Hogwarts para comunicar-se com Sirius. Aproximou-se lentamente do objeto... Lembranças... Dolorosas lembranças retornavam aos poucos...Ajoelhou-se e jurava que podia naquele momento ver a cabeça do padrinho ali, em meio ao fogo... Os cabelos negros despenteados, o rosto demasiadamente magro e pálido... Se pudesse voltar no tempo e impedir aquela tragédia... O único parente que lhe sobrara...
A janela se abriu num estrondo. A lareira se apagou com o vento que entrara violentamente. Harry, assustado pela primeira vez na vida, olhou para trás e viu as cortinas debatendo-se. Levantou-se, um pouco cegamente, devido ao escuro da noite e fechou a janela usufruindo somente de seu tato. Logo após, andou lentamente e encostou-se à porta, sentando-se. Ficou ali durante alguns minutos...

--- Harry? Acorde Harry!
O rapaz dilatou as pupilas devagar. A sala estava iluminada por uma faixa de luz que era projetada pelo sol. Depois de alguns instantes, se deu conta de que havia adormecido na sala. Olhou em direção a voz que lhe chamava e viu Lupin, com uma expressão levemente preocupada.
--- Ahn? Já estou acordado Lupin...
--- O que faz aqui? Não deveria estar em seu quarto? – Indagou.
Harry demorou a recordar-se do acontecimento da noite anterior. Por um momento, pensou que a possibilidade de ter sido um simples sonho era grande, mas logo viu que o fato de ter acordado na sala de estar era a prova de que havia estado ali antes de adormecer. Fitou Lupin por alguns instantes e pensou seriamente em contar o ocorrido.
--- Lupin...É que...Ontem à noite...
--- Harry!! Querido, quando Rony contou-me que você não estava na cama, fiquei muito preocupada! Está tudo bem?
O moreno achou melhor ocultar. Apenas afirmou com um gesto de cabeça que estava bem e, com auxilio de Remo, levantou-se. Seu estômago doeu.
--- Acho que desta vez irei aceitar o Café-Da-Manhã... – Falou sorrindo levemente.
Apesar de estar sem comer nada durante dias, Harry não aparentava tanta fome. Afinal, já estava acostumado a passar longos períodos sem ingerir nada quando passara a infância – e a maior parte das férias - com os Dursleys.
--- Não quer mais um pouco de suco querido? – Perguntou Molly gentilmente, estendendo uma grande jarra.
--- Não, Obrigado Senhora Weasley...
Ignorando a resposta, o copo do rapaz encheu-se de suco. Molly recebeu um olhar de desaprovação de Lupin.
--- Ele disse que não queria mais Molly.
--- Mas ele está com vergonha e precisa se alimentar Remo! Você viu quanto tempo ele ficou sem comer...
Lupin balançou a cabeça por alguns segundos e Harry sorriu.
--- Pois então também aceito... – Falou Tonks, que naquela manhã estava totalmente de branco, dos cabelos até os pés. – Com licença...
Não poderia se esperar outra coisa. Tonks esbarrou na jarra, derramando o conteúdo da mesma inteiro no vestido de Gina, que se encontrava a sua frente. Uma fileira de copos foi caindo como um jogo de dominó pela comprida mesa da cozinha, deixando suco e água molharem as vestes de todos.
--- Tonks!!!!!! – Berrou Senhora Weasley furiosa.
Ela imediatamente desaparatou do local, agora vermelha da cabeça aos pés, de vergonha.

De tarde, Harry retornou a sala. Tudo era tão estranho... O que será que havia projetado o barulho que escutara a noite? Quando chegara lá, o local estava vazio...Quem será que acendeu a lareira? E será que realmente foi o vento que abriu a janela ou foi o invasor, tentando fugir?
Pensando nessas questões, Potter encostou-se à tapeçaria da família Black. Começou a sentir um pouco de calor... Calor nas costas... O rapaz, pensando que talvez deveria abrir a janela para arejar o lugar, levantou-se. Nesse exato momento, Rony apareceu na sala.
--- Harry?? O que está acontecendo?!
--- Como assim? Só estou abrindo a janela Rony...
--- Não Harry, olha a tapeçaria! Está pegando fogo!!
O moreno de olhos verdes imediatamente olhou para trás. O que Rony falara era verdade. A tapeçaria estava em chamas.
--- Finite incantatem! – Gritou, quando retirou a varinha, agora consigo, de suas vestes.
O cheiro da fumaça já havia se espalhado pela casa. Lupin, Tonks, Molly, Arthur e Moddy apareceram preocupados.
--- O que aconteceu???
--- É...É que... É que... Na verdade não sei! – Tentou explicar Harry. – Eu encostei na tapeçaria, senti calor e fui abrir a janela....
--- Aí eu cheguei e a tapeçaria já estava em chamas. – Completou Rony.
Os bruxos se entreolharam. Era evidente que alguém estava querendo matar Harry... Ou será que ele estava fazendo tudo aquilo sem perceber?
--- Harry, diga-me a verdade... Aconteceu algo semelhante, além disso, alguma vez?
Era a hora de contar a verdade. Ele afirmou com a cabeça.
--- E por que não me contou?? – Indagou Lupin. – Por que não nos contou isso? Podem ter descoberto o nosso esconderijo Harry...Você sabe o quanto isso é sério? Conte-nos o que aconteceu.
--- Sei... Aconteceu ontem à noite... Eu não conseguia dormir e estava com fome... Aí desci e fui até a cozinha. Quando estava olhando o que tinha no armário, escutei um barulho vindo desta sala mesmo. Resolvi vir aqui. Quando cheguei...A lareira estava acesa. Fui até ela e de repente, a janela abriu, apagando o fogo... Eu após isso acabei adormecendo...
--- Depois foi quando hoje de manhã lhe encontrei aqui...
--- Exato.
--- Reunião. – Falou Lupin, se retirando com os outros, deixando Harry e Rony sozinhos.
Ambos se entreolharam. Pareciam estar se comunicando através de telepatia. No mesmo momento, saíram do local e foram para o quarto, esperar o término da reunião entre os membros.

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