Alguém Na Lareira



Depois da noite anterior, Harry achou melhor ir com calma com as aulas de D.C.A.T. e preferiu apenas discutir algumas questões mais simples com Loueine, coisas não menos importantes, mas certamente menos perigosas. Conversaram sobre feitiços que grandes bruxos, como Merlim, conjuravam para se defender do inimigo. Harry também contou a Loueine a história sobre os quatro fundadores de Hogwarts e a posição de Salazar Sonserina sobre o ensino seletivo, embora reconhecendo para si mesmo, que se Hermione estivesse ali, contaria mil vezes melhor toda a história.

- Bom Loueine, acho que por hoje é tudo. Amanhã eu vou ver se consigo encontrar umas anotações que fiz durante a AD e assim podemos seguir um roteiro do que iremos ver exatamente.

- Se você prefere assim, por mim está ótimo. Só de estar estudando D.C.A.T. com um professor como você Harry, eu me sinto bem mais preparada.

Disse Loueine o encarando bem próxima dele ali no chão onde estavam sentados. Harry levantou-se de um salto pigarreando e desvencilhando seu olhar.

- Acredite ou não, estas aulas vão contar muito mais pra mim que pra você. É o melhor jeito de estudar um pouco mais do que estou estudando.

- Sei. Os tais Testes Finais já estão chegando não é mesmo?

- Sim, já estão chegando. Falta menos de duas semanas e ainda tenho que ver algumas coisas. Mas você não tem que se preocupar com isso.

- Na verdade estou triste porque após os testes eu deverei voltar pra minha escola.

Lamentou a garota cabisbaixa.

- Ora, vai poder contar às suas amigas sobre o que aprendeu por aqui.

Argumentou Harry como que querendo animá-la um pouco.

- Amigas? Se eu tivesse alguma pelo menos. – ela sorriu fino e ironicamente. – Mas não, elas são todas umas interesseiras egoístas ou acham que não sou boa o bastante para o grupo.

- Quem sabe este será um bom motivo para fazer uma amizade de verdade?

- Pelo menos eu sei que por aqui eu já fiz um amigo. – falou Loueine sorridente estendendo sua mão à Harry que ficou encabulado, mas retribuiu o aperto de mão também sorrindo.

- Bom... a medida do possível, pode contar com a minha ajuda.


Harry estava exausto quando voltou ao dormitório naquela noite e mais desanimado ainda por saber que Rony com certeza o estaria esperando para saber tudo o que conversara com a Profª McGonagall, cada detalhe. Hermione estava sentada à mesa lendo um livro como era de costume, principalmente nos últimos tempos.

- Você devia descansar um pouco. – alertou-a Harry num tom brincalhão. Hermione ajeitou-se na cadeira e fechou o livro sorrindo.

- É que eu estava sem sono e decidi...

- Estudar mais um pouco, acertei? – completou ele sorrindo mais ainda.

- É, você acertou! - concordou Hermione colocando o livro de lado e indo sentar-se no sofá maior, onde Harry acabara de se largar pensativo. – Você fala de mim, mas também parece bem cansado e também preocupado. Sua conversa com McGonagall foi tão ruim assim?

- Na verdade foi melhor do que eu esperava. Ela perguntou, caso eu seja aprovado nos TF’s, se eu desejava ser assistente do professor Lupin.

Hermione abafou um gritinho de satisfação.

- Puxa Harry, mas isso é ótimo! Já tem um Estágio seqüencial em Magia garantido, o que vai ser muito útil quando tiver de trabalhar como um Auror.

- Espero que sim Hermione, porque eu aceitei.

- Parabéns! Estou realmente muito feliz por você! – disse transmitindo sua satisfação por Harry. – Quem sabe ano que vem pode até dar aulas por aqui.

- Apesar de achar maravilhosa a possibilidade de permanecer em Hogwarts, acho que é muito cedo pra pensar nisso Hermione, eu nem fui aprovado ainda.

- Mas vai ser, oras, você está estudando tanto! E se a Profª McGonagall fez questão de discutir este assunto antes mesmo de saber o resultado dos seus testes é porque ela sabe do seu potencial Harry!

Argumentou a garota fazendo Harry sentir-se muito bem confortado.

- Acho que você tem razão. Aliás, você sempre tem razão. - Hermione deu um sorriso vacilante depois desviou o olhar parecendo triste. Harry a olhou franzindo as sombracelhas. – O que foi?

Ela levantou-se massageando os nós dos dedos e pondo-se de costas para Harry.

- É que... eu recebi uma carta hoje Harry, uma carta de Paris.

- Uma carta de Paris. – repetiu Harry para ela. – E o que tem esta carta?

Ela virou-se para Harry.

- Eu... fui aceita pela Universidade de Magia de Paris! – soltou a garota fazendo Harry arregalar os olhos e ficar em pé de um salto.

- Ual! Nossa Hermione, eu nem sei o que dizer! Eu nem fazia idéia que existia uma Universidade de Magia, mas se existe deve ser boa e com certeza, um excelente lugar para bruxas como você!

- Obrigada! – agradeceu-o Hermione mordendo os lábios. Os dois se encararam com um semblante sereno.

- E como... está... se sentindo? – perguntou-a Harry quebrando o silêncio.

- Na verdade... eu também nem sei o que dizer! Foi tudo tão... rápido e... emocionante e... também assustador, puxa! – explicou ela deixando de lado a modéstia e colocando a mostra toda sua euforia. Harry sorriu e se aproximou abraçando a amiga num impulso. Hermione sentiu o perfume dele e seu coração disparou. Em seguida Harry a soltou, permanecendo ainda muito perto.

- Vai... se dar muito bem por lá, tenho certeza!

- É... o que eu desejo!

O silêncio constrangedor os pegou de surpresa e Harry foi tomado novamente por aquela mesma sensação de Hogsmead. Ele respirou fundo e achou melhor sentar-se de novo.

- E... quando você vai pra lá?

- Eu ainda não sei bem, mas presumo que assim que concluir Hogwarts. – Hermione também sentou-se calmamente. - Temos alguns parentes franceses e meus pais estão sempre viajando para lá. Acho que não terei problemas quanto à hospedagem, já que a universidade não é como Hogwarts, nosso segundo lar. Mas é claro, que você e também Rony, Luna e Gina vão me visitar não é?

- Não posso prometer, mas vou fazer o possível. Pelo menos Edwiges ficará bastante ocupada com a correspondência para Paris.

Eles sorriram. Hermione levantou-se devagar.

- Bom, acho que é melhor eu ir dormir. Pretendo acordar bem cedo amanhã e terminar aquela bendita monografia.

Harry também levantou-se colocando as mãos nos bolsos.

- Boa noite então e... parabéns de novo por sua aceitação.

- Obrigada Harry! Boa noite!

Harry a acompanhou subir as escadas e depois sentou-se próximo à lareira muito pensativo. De repente havia perdido o sono com toda aquela conversa. Recebera a notícia com um misto de alegria e também de tristeza. Seria muito mais difícil ver Hermione com ela morando tão longe, principalmente estando ambos bastante ocupados. Seus pensamentos voltaram à tona quando as chamas da lareira agitaram-se de forma meio exaltada e Harry engoliu em seco aproximando-se um pouco mais. De repente uma chama mais alta fez Harry proteger seu rosto com as mãos num impulso. Alguém tossiu e Harry destampou os olhos incrédulo.

- Sírius???

- Olá Harry, espero não tê-lo assustado com minha visita repentina, mas é que eu precisava falar com você, embora... – ele tociu de novo. -...eu odeie este tipo de comunicação.

Um rosto havia sido formado pelas chamas e cinzas e agora conversava com Harry. Numa outra ocasião ele se assustaria, mas já recebera a visita de Sírius daquele jeito, pela lareira.

- Mas onde... onde você está? Porque viajou sem...

- Harry, eu não tenho muito tempo. Você está bem não é?

- Eu... estou.

- Ótimo! Prometo que depois responderei todas as suas perguntas, mas agora eu só quero saber se terá a tarde livre amanhã?

- Sim! Eu acho que sim. – respondeu Harry examinando seus pensamentos.

- Quero que vá até Hogsmead então. Procure Rosmerta e diga que você foi até lá como o combinado, ela saberá do que se trata.

- Madame Rosmerta?

- Ela mesma. Avise ao bom Hagrid que você precisa ir até lá para apanhar umas lembranças, já que é seu último ano aqui. Vá sozinho e não conte a mais ninguém, entendeu?

- Sim, eu entendi.

- Muito bem, então até amanhã Harry!

- Sírius! Espere! Como...

Mas Harry não chegou a terminar a frase, pois Sírius havia desaparecido da mesma forma que surgira entre as chamas. Agora tudo o que havia na lareira era um cinza avermelhada e uma fumacinha branda. Harry largou-se novamente na poltrona e tentou controlar sua ansiedade por saber o que exatamente o esperava em Hogsmead. A estas horas Rony provavelmente desistira de esperar por Harry e adormecera. Harry achou melhor subir e dormir também, assim o dia seguinte não tardaria a chegar.


- Harry! Harry! – chamou-o Rony sacudindo-o bastante.

- Hum? O que... o que foi? – resmungou Harry ainda sonolento firmando-se nos cotovelos sobre a cama.

- Você teve outro pesadelo cara! – contou Rony.

- Pesadelo? – indagou Harry sentando-se agora.

- É Harry, olha pra sua camisa! – indicou Neville estupefato.

Harry olhou desentendido de Rony para os outros rapazes que observavam tudo muito atentos. Depois olhou para si mesmo e apalpou sua camisa que estava ensopada.

- Mas, mas o que foi que...

- Você não se lembra não é? – completou Rony percebendo o quão Harry estava confuso com a situação.

- Não. – respondeu Harry desanimado depois de alguns segundos em silêncio. Rony olhou para Neville e Simas, os únicos no dormitório acordados e meio que indicou despistadamente que os deixasse sozinhos. Os dois, Neville e Simas, entenderam e voltaram para suas camas. Harry olhou pela janela e viu que ainda estava escuro.

- Achei que já tinha amanhecido.

- Não, ainda são duas da madrugada.

Harry largou-se nos seus travesseiros respirando fundo.

- Mas o que será que está acontecendo?

- Se você não sabe Harry, imagine eu. Mas estou começando a concordar com Hermione sobre você contar a mais alguém o que está acontecendo, é sério. – Rony levantou-se e apanhou uma camisa dentro de seu malão jogando-a para Harry. - Também sugiro que troque logo esta camisa ou vai acabar pegando um resfriado.

Harry sentou-se novamente e despiu sua camisa. Pensou em contar a Rony sobre a visita de Sírius, mas achou melhor esperar e obedecer ao pedido de seu padrinho sobre não contar nada a ninguém.

- Algum problema Harry?

- Não. Não é nada Rony. – respondeu Harry vestindo rapidamente a camisa que Rony lhe dera. – Valeu pela camisa.

- Não há de quê. – respondeu Rony ainda encarando Harry.

- Desculpe não querer falar sobre McGonagall agora Ron, mas é que...

- Tudo bem, eu também estou com muito sono. Amanhã você me conta. Boa noite!

- Boa noite!

Assim que deitou-se em sua cama de novo, Rony adormeceu rapidamente, mas Harry, ao contrário, virou-se para o canto e não conseguiu pregar os olhos. Será que teria outro pesadelo e acordaria todo mundo? Porque afinal de contas não se lembrava deles. Aos poucos sentiu os olhos ficando pesados e mesmo que tentasse resistir, o sono veio e ele adormeceu. Tudo parecia normal quando acordou no dia seguinte e examinou o dormitório. Todos ainda dormiam profundamente, inclusive Rony. Concluiu para si mesmo, aliviado, que com certeza não tivera outro pesadelo daqueles. Depois de consultar o relógio dentro do bolso de seu casaco pendurado ao lado direito da cama, Harry viu que ainda era muito cedo para levantar-se e continuou deitado um pouco mais mirando o teto. Passaram-se uns vinte minutos até ele resolver saltar da cama. “Preciso de um banho”, pensou, e seguiu direto para o banheiro. Ficou pelo menos uns dez minutos com a cabeça debaixo da água tentando descansar seus pensamentos mais mirabolantes sobre os últimos ocorridos. Já vestido no dormitório novamente, Harry apanhou alguns livros e desceu para o café no Grande Salão. Era melhor estar sozinho para não ter de dar explicações sobre sua saída mais à tardinha.

- Bom dia Harry!

- Ehh...oi... oi Luna, tudo bem? – perguntou Harry a Luna Lovegood.

A garota sentou-se ao lado dele. Não havia muitos alunos sentados à mesa, era bem cedo.

- Então? Vejo que está estudando bastante. – comentou a garota.

- Fazer o quê né? Se eu não estudar não vou poder concluir meus objetivos para o próximo ano.

- Nem me fale em objetivos, meu pai quer de qualquer jeito que eu o ajude com O Pasquim no próximo ano, por isso estou pensando num estágio seqüencial em História da Magia.

- Que bom Luna, afinal você sempre gabou seu pai pelo jornal.

- Se eu que sou filha não o fizer, ninguém mais o fará.

Os dois sorriram e Harry abriu um caderninho sobre a mesa enquanto bebericava seu chocolate quente. Luna olhou atenta.

- Ehhh...desculpe Harry, mas... o que é isso aí?

- Ah, não é nada demais. São só umas anotações que eu fiz durante a AD.

- Anotações da AD? Puxa! Com certeza isso deve ser bem mais interessante que História da Magia. Será que poderia me emprestar, sinto tanta falta da AD.

- Claro Luna, mas vai ter de ser depois dos Testes Finais. Sabe como é, eu estou... estudando.

- Sem problemas. – ela ficou de pé. – Bom, eu acho que já vou. Se vir o Rony diga que estou esperando ele na biblioteca.

- Digo sim.

Luna sorriu grata e Harry voltou às suas anotações. Ela já tinha caminhado uns três passos quando voltou-se para Harry.

- Harry, desculpe perguntar, não quero ser inconveniente, mas é que o Rony tem andado preocupado com você.

- Preocupado? Comigo?

- Sim. Ele disse que você parece evitá-lo desde que voltou da Romênia, como se... escondesse algo. - Harry engoliu em seco e hesitou antes de responder alguma coisa. – Por acaso tem alguma coisa acontecendo? Porque se for por falta de quem conversar, eu...

- Ehhh... bem, Luna diga ao Rony que... é impressão dele. Eu estou ótimo, só estou preocupado com os Testes Finais, como todos por aqui, mais nada.

Ela sorriu.

- Que bom, é que... vendo você remexendo nessas anotações pensei na hipótese da AD voltar.

- Ah não! Apesar de ser uma boa idéia Luna, isso é meio complicado depois de tudo o que houve no quinto ano. Também não temos o mesmo tempo que tínhamos.

- É verdade. Mas se você mudar de idéia, por favor, não esconda isso da gente tá?

- Pode deixar, você será a primeira a saber!

Respondeu Harry com certeza e um sorriso nos lábios. Luna saiu sorrateira. Ele sacudiu a cabeça pensando nos tempos da AD com afeto. Depois consultou seu relógio e lamentou o longo dia que teria pela frente até que pudesse descobrir o que será que Sírius reservara para ele.

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