Foi Um Erro



Harry não teve uma boa noite de sono. Lembrava-se de ter se jogado na cama muito pensativo no que houvera depois de caminhar até o dormitório meio zonzo. Não trocaram uma única palavra até o castelo, apenas se deram um “boa noite” sem nem se quer olhar um nos olhos do outro. Por um momento pôs-se de pé decidido a ir atrás de Hermione e pedir desculpas pelo o que parecia ser um mal entendido. Lembrou-se meio tarde que não podia entrar no dormitório feminino quando escorregou escada abaixo na escada de degraus normais que virava um escorrega toda vez que farejava um garoto subindo por ela.
Mas e se não fosse um mal entendido? E se realmente tivesse de acontecer porque obviamente tivera um dia ótimo ao lado de Hermione? Talvez ela não estivesse pensando o mesmo e Harry seria incapaz de desrespeita-la. Sentindo um vazio de culpa e também de dúvida, Harry adormeceu como estava; de jeans, tênis e um blusão de malha. O dia seguinte amanheceu ainda mais frio que o anterior e Harry levantou-se o mais cedo que conseguiu pretendendo falar com Hermione antes do café. Não havia muitas garotas no dormitório e Harry esperou uma por uma descer.

- Oi! – cumprimentou uma garota incomum à Grifinória.

- Oi!? – cumprimentou Harry se perguntando o que aquela garota estaria fazendo ali.

- As meninas me convidaram para uma festinha só para garotas ontem, sabe? – ela explicou como se lesse os pensamentos dele.

- Ah!

Loueine Brookstorm, a garota do Intercâmbio Mágico, parecia ainda mais bonita com os cabelos soltos, mesmo acabando de acordar. Ela os jogou para o lado e olhou para Harry de um jeito incômodo, fazendo o garoto corar.

- Você... é Harry Potter não é? – ela perguntou.

- Acho que... sou.

Loueine sorriu estendendo a mão.

- Prazer! Sou Loueine Brookstorm.

- O prazer é meu Loueine.

Harry apertou a mão dela e reparou o quão azuis eram seus olhos. Ela desviou o olhar e afastou-se alisando a poltrona mais próxima.

- Está... esperando alguém... Harry? – disse parando.

- Sim! – Harry respondeu rápido. - Na verdade estou sim... Hermione Granger.

- Granger?

- Sim, mas você provavelmente não sabe quem é ainda, não é mesmo?

- É a garota inteligente? – Harry surprendeu-se.

- Bem, pra mim é sim. Você a viu?

Loueine sentou-se no sofá ao lado de Harry, que sentiu-se mais incomodado ainda porque havia espaço suficiente para umas quatro pessoas e ela fez questão de sentar-se rente a ele.

- Bem, ela já desceu faz um tempo, eu mesma a vi quando acordou e saiu pela porta. Ela... parecia... apressada... - Harry fez uma cara de insatisfação com o que ouvira. Hermione agira mais rápido do que ele afinal. Teria de deixar a conversa para depois quando a encontrasse sozinha. – Será que... eu não poderia ajudar?

- Não! – respondeu Harry com um sorriso fino e levantando-se do sofá rapidamente. – Bem, eu... já vou indo então!

- Até loguinho! – o jeito como Loueine se despedira fixando os olhos em Harry o fez tropeçar nos próprios pés andando até a porta. A garota abafou um riso.


Depois que a porta se fechou às suas costas, Harry desejou ter demorado um pouco mais.

- Oi Harry!

Rony estava encostado na parede de fronte a porta esperando por ele.

- Ro... Rony? Quando foi que...

- Ah, eu cheguei de madrugada e não quis te acordar, embora você estivesse resmungando muito enquanto dormia.

- Resmungando? – Harry engoliu em seco. – O... o quê exatamente eu estava...resmungando?

- Não sei, não deu pra ouvir direito.

Harry aliviou-se. Tivera um sonho estranho com Hermione, que se transformava em Rony e depois em Hagrid.

- Vamos descer então? - apressou-se Harry começando a andar.

- E cadê a Hermione? – Rony perguntou naturalmente fazendo Harry parar de andar na mesma hora.

- Ela... já deve estar lá, vamos!

Harry retomou os passos ainda mais rápido que antes.

- Ei! Vai mais devagar Harry!!! – pediu Rony tentando acompanhar o amigo.

As mesas no Grande Salão ainda não estavam totalmente cheias, pois alguns alunos ainda não haviam voltado do recesso e além disso, faltava mais uma semana para ele acabar. Harry mirou Hermione que desviou o olhar concentrando-se no seu matinal “Profeta Diário”.

- Olha ela ali! – indicou Rony caminhando até Hermione. Ele sentou-se rápido e Harry hesitou um pouco pensativo, mas sendo forçado por Rony a sentar-se.

- Você não pára de ler nem quando está comendo? – perguntou Rony servindo-se de leite quente e bolachas. Hermione ergueu os olhos.

- Eu? – perguntou inoscentemente.

- Ora, e há mais alguém com essa dedicação por aqui? – debochou Rony. Hermione teria ficado irritada e dado a ele uma bela resposta, mas ao contrário, deu um sorriso vacilante e bebeu um pouco do seu chá.

- Você está bem? – perguntou Rony surpreso com a atitude de Hermione que olhou de relance para Harry, que também a olhou calado e concentrado mais do que devia em seu café.

- Eu... é que... eu preciso ir! – Hermione fechou o jornal e levantou-se de um salto. – Com licença! – saiu rápida e sorrateira do Grande Salão.

- Nossa! Sou eu ou ela está estranha? - Harry que ainda acompanhava Hermione com os olhos, demorou a responder. – Harry?

- Hein?! – assustou-se Harry.

- Falei que ela está estranha.

- Estranha? É, pode ser. – Harry apanhou uma bolacha. - Co... como foi a viagem? – falou mudando de assunto bruscamente.

- Ah! Foi muito boa, embora eu esteja pregado e... fa..minto tam..bém! – falou Rony com a boca cheia.

- Estou vendo. – Harry sorriu vendo a gulodice de Rony. - E se saiu bem com os tais bebês dragões?

- Bom, o Carlinhos não reclamou...

Novamente Harry pareceu dispersar-se enquanto Rony contava como havia se saído. Harry balançava sua xícara com uma mão e escorava o rosto com a outra bastante quieto.

- Você está bem Harry? – perguntou Rony percebendo que Harry não parecia estar prestando atenção em mais nada. Harry estava se sentindo pressionado com as perguntas de Rony, até com as mais simples.

- Eu... estou ótimo! Eu só... me lembrei de uma coisa! – Harry também levantara-se tão rápido quando Hermione. – Tenho que... alimentar a Edwiges. Até logo Rony!

Harry acenou para o amigo que ficou encabulado com o estranho comportamento dos dois. Rony voltou a tomar seu café imaginando que era impressão dele, nada mais. Luna vinha em sua direção e Rony sentiu-se feliz em revê-la. Há uns dois minutos dali Harry com certeza não estava alimentando Edwiges. O que ele queria mesmo era encontrar Hermione para conversarem melhor sobre o ocorrido. Umas três vezes, antes de finalmente conseguir com que ela o ouvisse, Harry ouviu um “depois Harry”. Com muito custo conseguiu faze-lo à tardinha porque esperara minuciosamente a saída de Hermione do banheiro feminino, bastante embaraçado. Quando percebeu que Harry estava ali, Hermioe apressou o passo.

- Hermione! Ei, Hermione! - Harry a alcançou e ela parou virando-se. Haviam mais algumas meninas saindo do banheiro cujas quais olharam Harry abafando risinhos. Depois que se foram Harry olhou para Hermione que segurava um caderno nas mãos. – Será que... posso falar com você?

- Bem Harry é que...

- Por favor não me diga que agora não dá, está fazendo isso o dia todo! Não pode fugir de mim pra sempre! – lamentou Harry.

- Não estou fugindo de você! – explicou-se Hermione.

- Então o que é?

Hermione ficou calada por alguns segundos mais acabando por ceder.

- Tudo Bem! Mas vamos conversar aqui?

- Que tal na torre? Acho que ninguém está lá por agora.

Hermione achava amedrontadora demais a idéia de ficar algum tempo a mais a sós com Harry. O dia anterior fora o bastante para sentir-se assim.

- Tá, mas sem demoras.

- Eu prometo! – garantiu Harry.

Os dois rumaram para a torre da Grifinória cruzando com vários alunos, dentre eles Loueine Brookstorm que quase secou Harry com os olhos. Uma vez à porta do Salão Comunal da Grifinória, Harry e Hermione pararam.

- Não deviam estar no Grande Salão? – repreendeu-os a Mulher Gorda que ocupava o quadro que protegia a entrada.

- Margaridas Azuis! – informou-lhe Harry secamente, sem dar importância à repreensão dela.

- Que seja! – o quadro abriu-se como uma grande porta dando passagem aos dois que cruzaram o buraco e adentraram-na. Hermione colocou seu caderno sobre o console da lareira. Antes de falarem qualquer coisa, Harry garantiu se estavam realmente sozinhos. Deduziu rápido que estavam.

- Você prometeu não demorar. – lembrou-o Hermione escorando-se na poltrona defronte a lareira. Harry a imitou ficando na poltrona ao lado.

- Eu sei. - Harry fez uma pausa breve, o coração ainda estava num curso normal. – Olha, eu só queria falar sobre... sobre...

Harry desviava o olhar sem graça e Hermione espremia os olhos para tentar acompanha-lo em seu raciocínio.

- O que houve ontem? – arriscou Hermione numa tentativa de ajudar Harry.

- Isso! Exatamente! – ele contornou a poltrona massageando os nós dos dedos e sentou-se na poltrona. – Eu... tentei ir ao dormitório das garotas ontem, mas como você sabe, é proibida a minha e a entrada de qualquer garoto. – Hermione assentiu com a cabeça. – Também esperei por você hoje cedo, mas já havia saído e...

- Harry, eu também pensei em ir atrás de você! – interrompeu Hermione sentando-se na poltrona ao lado dele.

- Pensou? Que ótimo, eu achei que...

- Foi um erro! – soltou Hermione fazendo Harry ficar calado e fita-la. – Era isso o que queria me dizer, não é?

Harry parecia ter levado um soco no estômago e tinha consigo que não era exatamente assim que imaginava a conversa, mas não teve coragem de discordar de Hermione, que pareceu tão decidida.

- Sim, Hermione, era isso sim! – disse finalmente olhando pra ela.

- Que... que bom não é? Por um momento pensei haver estragado nossa... amizade.

- Imagine se... uma... besteira dessas ia... estragar... a nossa amizade. Eu nem pensei nisso.

Harry deu um sorriso vacilante levando a mão nos cabelos.

- Besteira? – Hermione parecia não estar totalmente segura disso. – Sim! Realmente devíamos estar... fora de nós mesmos e... aquela bendita...torta!

- Claro, a torta!

Houve um minuto de silêncio em que um fitou o outro, a respiração voltando ao normal e uma sensação mútua de insatisfação parecia pairar.

- Então vamos agir como se nada tivesse acontecido, né? – perguntou Hermione tensa.

- Acontecido? Nem me lembro mais disso! – concordou Harry num tom irônico.

- Que bom! - houve mais uma breve pausa em que os dois pareciam sem saber o que dizer. – Bom... – Hermione pegou seu caderno. - ... eu já vou indo então, preciso... estudar mais um pouco.

- É, vai lá, sem problemas, nos vemos... depois.

Hermione concordou com a cabeça, depois acenou saindo de costas para a porta. Harry sorriu amarelo e largou-se no sofá pensativo e cabisbaixo. A cabeça estava mais confusa do que antes. Será que era isso o que ela realmente achava? Que fora um erro e que deviam esquecer tudo? Ele achou bastante difícil, apesar de ter concordado, porém jamais iria perturbar a amiga com este assunto novamente se ela assim o desejava. Não queria arriscar perder a boa amizade cultivada durante cinco anos.

- Oi Harry! – Harry sentou-se rápido ajeitando a almofada no colo.

- Loueine? O que está...

- Desculpe, novamente o interrompo, não?

- De forma alguma, pode ficar à vontade.

- Obrigada.- a garota sorriu, mas desta vez ficou onde estava e Harry deu graças por isso.

- E... está aqui... há muito tempo? – perguntou Harry preocupado que ela tivesse ouvido sua conversa com Hermione.

- Não, eu acabei de entrar. – Harry sentiu-se aliviado.

- Eu não ouvi.

- Deve ser porque estava bastante distraído.

Loueine mordeu os lábios encarando Harry, que engoliu em seco sem jeito.

- Então? Está... gostando daqui?

- Muito! Hogwarts é muito mais interessante que Witchcrafts, onde só há garotas. – ela sorriu. – Além disso eu posso estar em todas as Casas e desfrutar de tudo o que há de bom em cada uma delas.

- Duvido que tenha conseguido isso em Sonserina! – ironizou Harry com um sorriso fino, num susurro que a garota não compreendeu bem.

- Como disse?

- Nada não, deixa pra lá!

Depois de mais uma breve pausa, Harry ficou de pé.

- Bom, eu tenho que ir. Você... não vem? – perguntou Harry desejando que ela ficasse.

- Não agora. Ao contrário de vocês, eu não estou de folga.

- Que pena! Então, até mais!

- Até, e... Harry? – Harry que já tinha dado uns dois passo virou-se.

- Sim?

- Legal conversar contigo de novo, os outros garotos geralmente se mantêm distantes de mim.

Harry deu de ombros e se perguntou porque ele não fazia o mesmo, depois sorriu e cruzou a saída.









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