Harry James Potter



Londres
(Novembro de 1979- Agosto de 1980)


Um grupo de bruxos encapuzados reunia-se num pub de aspecto sombrio. A chuva forte fustigava as janelas, cujas vidraças não pareciam ter sido limpas havia pelo menos um século. Canecas de bebidas fumegantes – chá, cerveja amanteigada, uísque de fogo – estavam dispostas à frente do grupo suspeito e o vapor que delas exalava tomava variadas formas de acordo com a personalidade de seu dono. Um dos homens encapuzados, cujo vapor da xícara de chá acabara de tomar o formato de um grande cachorro, sussurrava muito baixo:
“Pegaram toda a família dela, Remo. Dá para acreditar nisso? O filhinho dela, o marido trouxa e os pais... Pobre Marlene. Não merecia isso.”
“Ninguém realmente merece, não é? Bem, e o que aconteceu depois disso? Digo, o Primeiro Ministro Trouxa?”
“Os trouxas piraram, é claro” – bufou uma voz feminina do outro lado da mesa – “A imprensa foi à loucura. Primeiro Ministro Trouxa declara necessidade de limpeza racial; como se alguém de fato soubesse o que isso significa... E ele desapareceu hoje de manhã; achamos que pode ter fugido do país...”
“E você sabe o que aconteceu com os Prewett? Acharam só os pedacinhos deles. Molly está arrasada, claro.”
“Por que parece que sempre que nos reunimos só existem más notícias? É como se trabalhássemos num necrotério; contabilizando os mortos... Tremo só de pensar em quem poderá ser o próximo. Ou talvez eu seja o próximo da lista. Veja bem, quando você e James foram atacados semana passada... Foi muita sorte terem escapado”
“E graças ao Remo também.” – Disse Lily sorrindo para o lobisomem.
“É, pelo menos uma vez minha licantropia foi útil...” – Remo suspirou
“Mas nem tudo são más notícias” – Disse Lily, um sorriso satisfeito no rosto.
“Como assim?” – perguntou Sirius pressuroso.
“Você não sabia?” – Lily surpreendeu-se, mas seu sorriso apenas aumentou – “Estou grávida.”
“Grávida?!” – Exclamou Sirius, engasgando-se – “Mas isso é maravilhoso! Merece um brinde!”
“Sirius, não!” – gemeu Remo.
Mas Sirius pelo visto achava que um brinde à gravidez de Lily merecia o risco de serem reconhecidos.
“Garçom!” – ele gritou, e o velho barman olhou-o com uma cara de quem acabava de ser interrompido no meio da atividade mais interessante do mundo, ambora apenas enxugasse copos. – “Uma rodada de cerveja amanteigada aqui, por favor!”
Remo olhou para Lily, que ria abertamente.
“Ele realmente gosta de chamar atenção, não?”
“É, acho que gosta.” – Lily respondeu risonha, observando Sirius gesticular em direção da mesa, enquanto todo o Caldeirão Furado olhava para eles.


[...]


Lily Potter passeva tranqüilamente pelas ruas tortas do Beco diagonal. Levava uma montanha de sacolas numa das mãos e um delicioso sorvete de chocolate com nozes na outra. Acabava de passar pela vitrine da loja Madame Malkin, calculando quanto tempo levaria até não caber mais em nenhuma de suas vestes. Passou a mão (agora livre das sacolas que ela pousara na calçada para descansar um pouco) carinhosamente na barriga que começava a aparecer por baixo da roupa e sentiu um leve movimento em resposta. Sorrindo, ela entrou na loja e resignou-se a se dirigir à arara que exibia vestes tamanho G.
Experimentou um belo conjunto de vestes verdes de seda e desistiu ao ver o preço: ainda havia muito o que comprar para o bebê. Ainda assim, deslizou os dedos pelo tecido, sentindo a fria maciez em contato com a sua pele e a levou de encontro ao rosto.

Uma campainha soou no outro lado da loja quando a porta se abriu e James Potter entrou por ela.
“Veja, querido, o que acha?” – Lily disse, mostrando as vestes verdes.
“Acho que combina esplendidamente com seus olhos. Agora por favor vamos embora... Acho que acabei de quebrar um modelo de Comet 260 exposta na vitrine daquela loja e agora o dono está me perseguindo loucamente por aí...”
“Ah, James!” – Lily exclamou cansada e abandonou as vestes na arara.
O jovem casal saiu de braços dados da loja, e quando puseram os pés para fora, Lily não pôde evitar de comentar:
“Está frio aqui.”
“É, está...” – concordou James sacando a varinha – “Frio demais...” – sussurrou.
“Ei, aonde você está...?”
E de repente, como se alguém tivesse simplesmente aumentado o volume, todas as pessoas do Beco Diagonal começaram a gritar, correndo para cima e para baixo, atirando sacolas para todos os lados e desaparatando para qualquer lugar.
“Corra, Lily!” – James gritou, e Lily correu para junto da multidão, e sacou a própria varinha.
“Que está havendo?” – ela berrou, mas James já começara a atirar feitiços para todos os lados, enquanto era cercado por dezenas de vultos encapuzados.
Um patrono prateado em forma de leoa saiu da varinha de Lily e correu rapidamente até perder-se de vista, levando sua mensagem para a Ordem da Fênix.

Subitamente, um jato de luz verde passou de raspão por sua orelha direita e quando Lily se virou, seu queixo caiu.
“Ai meu D-Deus...” – ela gaguejou, conforme a figura de Lord Voldemort aproximava-se dela – “Afaste-se! Afaste-se de mim!” – berrou com a varinha em punho.
Expelliarmus!” – E seu feitiço, embora não neutralizasse a Maldição da Morte, interrompeu-a tempo suficiente para que Lily se jogasse no chão, escapando por um triz.
“Deixe-a em paz, seu monstro!” – James gritou, afastando três Comensais da Morte com um único feitiço poderoso – “Lute comigo!”
“Ora, ora, vejam só. O destino teima em nos unir, não é, Potters? Uma vez em Hogsmeade, outra vez em sua própria casa e agora, aqui, pela terceira vez. Isso parece até uma profecia...” – Disse Tom rindo. – “Mas hoje não. Hoje vocês não me escapam... Ou será que devo deixa-los ir? Afinal, não quero acabar matando um inocente...” – Tom apontou a varinha para Lily.
James se enterpôs entre a esposa e a varinha.
“Vai ter de me matar primeiro” – James disse em tom de desafio. Tom apenas riu.
“Seu tolo. Avada...
“NÃO!” – Lily gritou de repente, empurrando ambos para o lado e desviando do jato de luz verde.
O feitiço passou de raspão por James e ricocheteou numa estátua de pedra, cujos destroços o atingiram em cheio. James caiu desacordado.
Tom aproximou-se da jovem bruxa, baixando o capuz e encarou-a. Olhou fundo naqueles olhos verdes... Onde os tinha visto antes?
“Eu conheço esses olhos...” – sussurrou e lentamente baixou a varinha – “O que há com seus olhos?”
“Não gaste sua magia com essa sangue-ruim, Mestre” – soou a voz de Bella mais atrás – “Deixe que eu a mato...”
“Não. Deixe-a.”
“Mas mestre...” – protestou Bella.
Deixe-a, Bella.
Bellatrix olhou confusa para os dois e encolheu os ombros.
“Você tem mesmo sorte, sangue-ruim...” – sussurrou para Lily.
Lily arregalou os olhos de surpresa, não ousando se manifestar. Um por um, os Comensais da Morte foram desaparatando, ao mesmo tempo que os membros da Ordem iam aparatando e vinham ao seu socorro e ao de James desacordado sob os escombros.
Lily olhou para o marido: estava tão pálido... Estaria morto? Uma lágrima rolou por seu rosto...

Quando aquele inferno iria acabar, quando?

[...]


A muitos quilômetros dali, num outro pub ainda mais sombrio que o Caldeirão Furado, um jovem de longos cabelos escuros e pele pálida de quem nunca vê a luz do sol, esperava sua vez de ver o diretor de Hogwarts. Ele deveria conseguir o cargo de professor de Defesa Contra as Artes das Trevas: era sua missão; embora Severo duvidasse muito que conseguiria cumpri-la. Obtivera altos N.O.M.´s e N.I.E.M´s na matéria, mas ainda era bastante jovem e inexperiente, e de qualquer maneira, Severo tinha certeza de que Dumbledore teria o cuidado de checar se seu futuro professor possuía a Marca Negra, ainda que ela estivesse oculta por um poderoso feitiço de desilusão.
Enquanto observava a fumaça mágica de seu chá, assim como seu patrono fazia, tomar a forma de uma fênix (coisa que Severo sentia que jamais iria entender o motivo), tornou a ouvir as palavras de seu mestre sussurradas dentro de sua mente, como se o Lorde das Trevas estivesse a poucos centímetros de si...

“Entre, Severo” - soou a voz fria do Lorde das Trevas.
Severo entrou na sala iluminada apenas pela lareira. Seu Mestre estava de costas para ele, voltado para as chamas, e pelo que Severo podia ver, lia alguma coisa e segurava uma taça de vinho na outra mão. Eram raras as ocasiões em que Severo via o rosto do Lorde das Trevas, embora não entendesse muito bem o porquê dessa atitude.
“Tenho uma nova missão para você.” – Ele falou lenta e decididamente
“Sim, meu senhor.”
“Soube que Hogwarts está procurando um novo professor de Defesa Contra as Artes das Trevas...” – Ele pousou a taça na mesa, e por um momento Severo achou que ele iria se virar. Mas o Lorde das Trevas permaneceu onde estava, imóvel.
“Considerando as suas ótimas notas na matéria, creio que você seria o candidato perfeito para o cargo e possivelmente, um excelente espião. Você se candidataria ao cargo, e se tornaria um... ah, informante, dentro de Hogwarts, podendo inclusive trazer novos talentos para mim.”
“Mas meu senhor” – Severo interrompeu-o bruscamente – “Sou jovem demais”
O Lorde das Trevas parou por um instante, calado. Severo imaginava o que ele estaria pensando...
“Eu mesmo já tentei o cargo duas vezes, uma delas quando era mais jovem que você. Estive a ponto de consegui-lo, mas Dumbledore... Estou certo de que, com as suas credenciais, Dumbledore não terá porque não aceita-lo. Além do mais, como o cargo parece amaldiçoado, não há muito mais bruxos aptos que o queiram. Vá, Severo.”
“Sim, senhor. Boa-noite.”
E Severo saiu da sala imaginando o que diabos falaria para o Diretor o aceitar...


E era exatamente nisso que pensava naquele momento, quando terminou de esvaziar sua xícara de chá e a fênix desaparecia num último baforejo de fumaça.
Severo voltou seu olhar para o resto do bar. Não costumava freqüentar o Hog´s Head, mesmo quando era estudante; sempre preferira o Três Vassouras, embora quase sempre entrasse desacompanhado e acabasse muito mal-humorado ao ver os grupinhos alegres nas outras mesas. Ou entrava acompanhado de outros sonserinos de seu ano aos quais Severo dispensava a mesma atenção que dispensaria a uma meia velha – não que seus colegas lhe fossem mais atenciosos. Mas de qualquer maneira, era preciso que os sonserinos se mantivessem unidos, quando todas as outras casas pareciam achar que Sonserina era apenas um sinônimo para ninho de cobras peçonhentas. O que, no fundo, Severo sabia não ser uma total mentira.

Uma mulher de compridos cabelos crespos armados, envolta em muitos chales, usando grandes óculos que aumentavam os olhos até faze-los parecerem duas laranjas e exalando um cheiro incomum de incenso e xerez velho, levantou-se da mesa ao lado e foi ao encontro da figura barbada que acabara de se materializar na porta do bar e na qual Severo imediatamente reconheceu Alvo Dumbledore.
Ele a cumprimentou com uma mesura e fez sinal para que entrasse em uma das saletas privativas no primeiro andar.
Sibila Trelawney, Diretor, muito prazer...” – Severo a ouviu dizer para Dumbledore.
Eles entraram; Dumbledore parecendo não ter muita certeza sobre o que estava fazendo ali.
Severo os acompanhou, oculto nas sombras, muto mais pela curiosidade de saber o que aquela figura bizarra estaria a fim de tratar com Dumbledore.

“Bem, Srta.Trelawney, você, se eu não estiver muito enganado, manifestou desejo de se tornar a nova professora de Adivinhação de Hogwarts...”
“Sim, Diretor. É meu desejo pôr à disposição das jovens mentes sedentas de saber a minha Visão, estou certa de que sob as influências corretas, os estudante poderão aprender a interpretar os sinais de seu Olho Interior corretamente...”
“E você é, segundo você mesma, trineta de uma famosa vidente...”
“Sim, senhor; esses dons costumam pular três gerações...”


Severo apertou ainda mais o ouvido contra a porta, mal acreditando na quantidade de baboseiras que aquela mulher estava falando para Dumbledore. Sem saber porque o fazia, porém, continuou a escutar a conversa.

“...bem, minha cara Sibila, sinto muito dizer que não estou muito certo se é conveniente continuarmos a oferecer essa disciplina...”

Houve uma pausa, durante a qual nenhum dos dois falou nada. Severo achava que a mulher estava a ponto de ter um ataque de raiva. No momento seguinte, quando esperava ouvir gritos ou no mínimo uma palavra de protesto, o que ouviu foi uma voz rouca e assustadora:

“Aquele com o poder de vencer o Lorde das Trevas se aproxima...nascido dos que o desafiaram três vezes... nascido ao terminar o sétimo mês...”

O estômago de Severo deu um giro completo e ele sentiu como se tivesse engolido uma pedra de gelo tamanha a adrenalina que invadiu seu sangue ao ouvir tais palavras. Apertava tanto o rosto contra a porta que seus músculos já estavam dormentes.
“Ei, você, garoto!” – gritou uma figura barbada que cheirava a cabras. – “Que está fazendo aí, ouvindo às portas?”
“Eu... Estava só passando...” – Bufou, desesperado para ouvir o restante da profecia. Gesticulava nervosamente em direção à porta, e quando Aberforth agarrou seu braço, Severo atingiu-o com um feitiço que manteve o barman afastado dele.
E no momento seguinte Aberforth sacava a própria varinha e apontava-a para Severo, que reagiu instintivamente, mas na ânsia de se livrar do barman, só pôde ouvir um trecho mais adiantado da profecia.
...e um dos dois deverá morrer na mão do outro pois nenhum poderá viver enquanto o outro sobreviver... aquele com o poder de vencer o Lorde das Trevas nascerá quando o sétimo mês terminar...
Aberforth levantou-se, furioso. A porta da saleta se abriu e Dumbledore saiu, levemente atordoado.
“Que está havendo?” – o Diretor perguntou
“Ele estava ouvindo atrás da porta...” – disse o barman, apontando para o local onde Severo estivera poucos segundos antes de desaparatar.

[...]

Tom observava a estranha névoa gélida que avolumava-se no ar, comprimindo as vidraças, embora ainda não estivessem no inverno. Fazia mais frio do que nunca, e ele começava a pensar em dar um basta na multiplicação dos dementadores, embora não tivesse muita certeza se adiantaria alguma coisa, uma vez que as criaturas simplesmente brotavam umas das outras.

Observou também as chamas da lareira crepitarem e o barulho seco da lenha estalando. As chamas ganhavam uma coloração avermelhada pelo feitiço de aquecimento; uma cor horrivelmente avermelhada que lembrava sangue.
Quando, de repente, de vermelho-vinho, as chamas passaram para verde-esmeralda e uma pessoa surgiu de dentro delas.

“Snape!” – Tom exclamou assustado – “O que...?”
“Mestre...” – ele arfou, como se acabasse de sair de uma corrida – “Mestre... Uma profecia...”
“Fale direito!” – ordenou – “Que está acontecendo?”
“Uma profecia... o Lorde das Trevas... derrotado...!” – Snape falou atordoado – “Estava no Hog´s Head, aguardando minha entrevista com Dumbledore, quando de repente ouvi essa Profecia... Mestre, o senhor precisa ir atrás dessa criança. Uma criança com o poder de derrota-lo.”
“Uma criança?” – Tom perguntou incrédulo – “Mas quais eram os dizeres dessa profecia?”
“Bem, senhor... eu não a ouvi inteira.” – Snape corou ligeiramente – “Aquele com o poder de vencer o Lorde das Trevas se aproxima...nascido dos que o desafiaram três vezes... nascido ao terminar o sétimo mês...
“O quê mais? Algo mais?” – Tom perguntou avidamente
“Depois houve uma briga, e só pude ouvir o final... e um dos dois deverá morrer na mão do outro pois nenhum poderá viver enquanto o outro sobreviver... aquele com o poder de vencer o Lorde das Trevas nascerá quando o sétimo mês terminar...
“Só isso? O que mais? O que tinha no meio?”
“Nada” – Snape suspirou – “Só ouvi isso.”
“Bem, isso é... Inesperado.” – disse Tom, lívido – “Muito bem, Snape, você fez bem em informar ao seu Mestre. Agora... O que isso significa?” – perguntou mais para si mesmo.
“Obviamente, essa criança ainda não nasceu, mas deve nascer em fins de de julho... Filha de pais que me desafiaram três vezes... E, obviamente, terei de mata-la. Certo... Rabicho. Vá chamar Rabicho, Snape.” – disse, ainda imerso em pensamentos.
Snape hesitou por um momento e então saiu correndo pela porta, voltando segundos depois com Pettigrew em seu encalço.
“Meu senhor... Que surpresa...” – disse Rabicho prestando uma reverência profunda e sorrindo torto – “O que milorde quer tratar comigo?”
“Acabo de ouvir uma profecia muito interessante, Rabicho. Ela prevê a minha queda pelas mãos de uma criança.”
“É-é mesmo, meu senhor?” – gaguejou Rabicho.
“Com certeza. E segundo essa mesma profecia, a criança será nascida de pais que me desafiaram três vezes. Você conhece alguém que se encaixe nesse perfil?”
“Bem, há vários, meu senhor... Dumbledore, Moody, Weasley...”
“Você não entendeu, Rabicho. Alguém que esteja esperando um bebê; a criança que supostamente será a causa de minha queda, cujos pais devem ambos pertencer à Ordem da Fênix. Repito: você conhece alguém assim?”
“Não sei, senhor. Há poucos membros casados... Weasley, como disse, mas sua mulher não pertence à Ordem; os Bones que têm uma filhinha recém-nascida, os Longbotton...”
“Longbotton... Esse nome me é familiar” – disse Tom, tentando lembrar-se de onde havia ouvido aquele nome.
“Sim!” – exclamou Rabicho aliviado – “Alice e Frank são dois dos melhores membros da Ordem que temos... Senhor, não é impossível que eles o tenham enfrentado várias vezes, e sobrevivido... E o melhor de tudo, senhor, é que eles esperam um bebê que deve nascer em julho...”
“Sim, é possível; muito provável, na verdade.”
Tom parou por um momento, voltando os olhos castanhos para Rabicho que pareceu encolher vários centímetros sob o peso do olhar que o Lorde das Trevas lhe dirigia. Rabicho abaixou a cabeça de repente. Os olhos de Tom brilharam ligeiramente.
“Por que sinto que você está escondendo algo de mim, Rabicho? Não minta para seu Mestre.”
“N-não, milorde...”
“Fale a verdade!” – ordenou tão imperiosamente que Rabicho estremeceu com a força das palavras.
“Os P-Potter... Lily e James.”
“Seus amigos?” – perguntou Tom; os olhos assumindo um colorido vermelho e estreitando-se, cheios de malícia.
“S-sim, senhor... Eles esperam um bebê também.”
“Me diga uma coisa, Rabicho...” – perguntou Tom, dando a volta para encarar Rabicho diretamente - “Por que ainda se preocupa com seus amigos? Por que ainda os considera amigos? Você fez a coisa certa, Rabicho. Por que se importar com os outros, aqueles a quem você chama de amigos, mas só o humilham e escarneiam pelas costas, quando você pode experimentar o poder que o Lorde das Trevas lhe dará quando o mundo for só meu?”
“Eu...”
“Basta. Vamos atrás dos dois.”

[...]

“James, por mais que Golgamot seja o nome do seu trisavô, não acho que seja uma boa idéia dar esse nome ao nosso filho.” – disse Lily, observando a própria barriga mover-se com o chute do bebê que ela abrigava.
“O que você sugere então?” – Perguntou James, pousando a mão na grande barriga de final de gestação e sentindo o bebê mover.
“Acho Dudley um nome bonito...” – Lily respondeu como quem não quer nada
“Nem pensar! Não é esse o nome do seu sobrinho?”
“Ah, é... Mas acho que Petúnia gostaria da homenagem, você não?”
“Não, acho que não.”
“É...” – Lily suspirou. Havia tanto tempo que não via a irmã; desde seu casamento com Valter Dursley, pelo menos... - “De qualquer maneira, nem sabemos se é um menino ou uma menina.”
“Eu gostaria de uma menina.” – disse James depois de pensar por um instante – “Há poucas apanhadoras realmente boas na Grifinória, e mulheres costumam ser mais leves e ágeis...”
“Eu e Alice achamos que é um menino... E por falar nisso, amanhã podemos visitar o pequeno Neville, o que você acha?”
“Ei, se for menino, podemos chamar de James.” – disse James - o pai, como se aquela fosse a sacada mais genial de sua vida.
“Nem pensar. Há três gerações que os homens da sua família se chamam James. O que você acha de Harry?”
“Prefiro James.” – declarou sumariamente
“Tudo bem, então. Harry James, que tal?”
“É, Harry James é um nome legal... Harry James Potter.” – James debruçou-se sobre a barriga de Lily, beijou-a e disse meio emocionado: “Eu te amo, Harry James Potter... Ei, ele me chutou!”
“Ele também daria um bom jogador de futebol!” – respondeu Lily, rindo. E acrescentou – “Um esporte muito mais interessante que Quadribol!”
“O quê? De jeito nenhum!” – exclamou James revoltado, como sempre que Lily fazia aquela afirmação – “Um esporte sem vassouras não é um esporte!”
“Já eu, discordo! Que tal uma partidinha de xadrez? Isso aqui está tão chato...” – Lily disse, bocejando. Havia horas que estavam de plantão no Departamento de Mistérios, embora fosse terminantemente proibido a James sair do quartel-general da Ordem da Fênix e perambular pelos outros corredores do departamento. – “Gostaria de poder sair daqui: me sinto tão sufocada...”

Lily levantou-se, apoiando as mãos nas costas e bocejando mais uma vez. Andou para um lado e para o outro, inquieta.
“Qual é o problema?” – James perguntou, reparando no comportamento estranho da mulher
“Estou cansada, só isso. Não se preocupe. Vá buscar o tabuleiro, sim?”
James virou-se para procurar o tabuleiro de xadrez bruxo.
“Você continua inquieta... Devia ir para casa descansar.” – disse, afagando os cabelos vermelhos de Lily.
“Só estou com um pouco de cólica” – ela resmungou – “Ai...!” – exclamou de repente, pondo a mão na barriga. De repente, a barra de suas vestes se viu encharcada.
“Droga!” – xingou Lily. – “A bolsa estourou!”
“Ai, Merlin! E agora?” – perguntou James aflito – “Que é que nós fazemos?”
“Não sei, não sei...” – gemeu Lily ainda mais aflita
“Como não sabe? Você sabe de tudo!”
“Chame... Chame alguém...”
“Quem?” – ganiu James.
“QUALQUER PESSOA!” – Lily gritou exasperada
“Sim... Sim... Sirius. Sirius...”
“NÃO! Sirius, não...”
“Remo! Vou chamar Remo: ele deve saber o que fazer...”
“Estamos na Lua Cheia!” – Lily gritou novamente, apertando a barriga com força. – “Deixe, eu vou sozinha...”
“Você não está em condições de aparatar...” – mas no momento seguinte Lily havia desaparecido, e não restou opções a James a não ser desaparatar junto com a mulher para o hospital.

[...]

Nagini se arrastou para dentro da sala, entrando sorrateiramente pela fresta na porta entreaberta que Tom esquecera-se de fechar. Levantou a cabeça e botou a língua bifurcada para fora, esperando sentir o cheiro de seu dono. No lugar disso, reconheceu a presença de mais outra pessoa além de Tom.
Bella… - Nagini sibilou.
A mulher estava sentada na poltrona em frente à de Tom e conversava tranqüilamente com ele.
Preciso alerta-lo... - Nagini sibilou novamente.
Bella também virou o rosto para encara-la, observando confusa a profusão de sussurros e silvos.
O que foi?
Nagini fez um sinal com a cabeça indicando Bella e depois a saída.
Ela não pode nos entender
Toda mulher também é uma cobra...” – sibilou Nagini maldosamente
Tom deu de ombros: há muito que tinha desistido de achar lógica na maior parte das palavras da cobra.
“Saia, Bella” – ordenou, e Bella retirou-se ainda confusa.
E então, o que veio fazer aqui?” – Tom perguntou para Nagini.
A profecia... a profecia... Você já sabe quem é o Escolhido?
Estou indeciso entre dois meninos...
Qual deles é o puro-sangue?” – perguntou Nagini rapidamente
Longbotton. Isso faz alguma diferença?
Nunca achei que o ouviria dizer isso...”
Então quem sabe eu não deva ir atrás do puro-sangue...?
Não, mylord. Talvez você deva ir atrás do seu igual... Você, você que se desconhece, deve temer aquele que mais parecer contigo, porque pode te surpreender como você mesmo surpreende a si próprio...
Nagini desenrolou-se de sua cadeira indo em direção à porta e antes de sair completou:
Não esqueça de fechar o Círculo, Thomas, ou ele poderá nunca tornar a se abrir novamente...
Não existe isso de ciclo. O tempo é linear... Não existe destino.” – disse Tom por fim.
Então por que dá tanto valor à profecia?

Tom não soube responder.

[...]


A minúscula trouxinha se remexeu em seu berço e começou a chorar alta e vigorosamente, até que Lily estendeu os braços cansados e a tomou no colo. A jovem bruxa abriu um sorriso orgulhoso e afastou uma mecha dos cabelos pretos e fartos que caíam por cima dos olhos sensacionalmente verdes como eram os seus próprios.
“A senhora tem um bebê lindo, senhora Potter” – comentou a enfermeira abrindo um sorriso terno – “Perfeitamente saudável. Já sabe o nome que vão dar a ele?”
“Harry. Harry Potter.” – Lily respondeu sem desgrudar os olhos do filhinho. – “Ele se parece muito com o pai.”
“Mas tem os olhos da mãe” – disse uma voz conhecida na porta.
“Remo! Como você está? Digo...” – exclamou Lily aflita
“Foi tudo bem dessa vez. Consegui arranjar a poção a tempo. Agora, como vão você e o pequeno Harry?”
“Bem, muito bem, obrigada. Mas onde está o Sirius? Afinal, ele é o padrinho...”
“James foi busca-lo. Problemas com os Black, você sabe... Parece que um tio deixou uma herança para ele e Sirius está tendo problemas para retira-la...” – Remo sorriu timidamente e aproximou-se de Harry.
“Quer segura-lo?” – Lily ofereceu
“Por Merlin, não!” – Remo exclamou rindo. – “Não saberia o que fazer com ele, poderia derruba-lo.”
“E Pedro? Parece que ninguém nunca se lembra do coitado...”
“Pedro anda esquisito ultimamente. Nos evitando...”
“Bem, não sei o que pode ser.” – disse Lily após pensar um pouco, observando Harry brincar com uma mecha de seus cabelos.
“LILY! E Harry!” – gritou de repente uma outra voz conhecida e Sirius Black entrou no quarto junto de James e Pedro.
“Como vai meu filhote?” – Perguntou James feliz, cumprimentando Lily com um beijo no rosto e tomando Harry nos braços desajeitadamente. – “Ah não, ele sujou as fraldas de novo!” – exclamou desapontado.
“É a sua vez de trocá-lo...” – Lily alertou em tom autoritário, embora risse.
“É, Pontas amigão, acho que prefiro ser só padrinho do pirralho...” – comentou Sirius ao observar James trocar as fraldas do bebê.
“Padrinhos também trocam fraldas...” – James resmungou com um alfinete entre os dentes.
“Tudo bem, Pedro?” – cumprimentou Lily preocupada – “Está tão calado!”
“Ah, eu estava só... só pensando” – ele respondeu timidamente – “Parabéns, Lily. Harry é uma gracinha.”
A resposta pareceu satisfazer Lily, que voltou os olhos para o marido que ainda trocava as fraldas do filho.
“James, você está colocando a fralda para o lado errado!” – Ela exclamou e fez menção de se levantar para ajuda-lo.
“Não precisa Lils, veja!” – James ergueu o bebê nos braços e mostrou orgulhoso o amontoado de pano que eram as fraldas de Harry. O bebê imediatamente começou a chorar com vontade. – “Ah, não...”
Lily apenas riu e tomou Harry nos braços. Ajeitou a fralda com cuidado e enrolou-o no cobertor, ninando-o. Logo o bebê dormia um sono profundo e silencioso e todos os olhares se voltaram para o pequeno ser deitado no berço; os rostos demonstrando nada além da mais pura ternura inocente.
“Ah, olhe para ele, é tão bonitinho...” – suspirou a enfermeira que acabara de entrar novamente no quarto – “Sra.Potter, há um senhor ali fora querendo falar com a senhora e seu marido. Ele preferiu não se identificar.”
A enfermeira se retirou e abriu espaço para que um velho senhor de barba e cabelos compridos e prateados, vestindo uma soberba veste púrpura e um grande chapéu cônico de bruxo.
“Dumbledore! Mas que prazer...” – exclamou Pedro com mais animação do que era realmente necessário.
“Boa tarde, meus jovens queridos.” – Dumbledore depositou um belo buquê de lírios no vaso ao lado da cama de Lily – “Boa tarde também, pequeno Harry.”
Harry acordou, mas não chorou: parecia estar ligeiramente intimidado com aquela presença. Abriu os olhinhos verdes e observou com atenção a cena.
“Nós... humm... nos retiramos...?” – perguntou Sirius timidamente.
“Oh não, fiquem. O que eu tenho a dizer é sério, mas creio que como amigos vocês todos têm o direito de saber.” – Dumbledore apontou a varinha para a porta e as janelas e as trancou. Depois suspirou profundamente, ainda observando Harry no berço – “Lord Voldemort está atrás de vocês: Lily, James e principalmente Harry.”
James e Lily olharam surpresos para Dumbledore, e Lily perguntou, trêmula:
“Mas... Por quê?”
Dumbledore deu mais um novo suspiro, profundo e cansado.
“Há alguns meses atrás eu ouvi uma profecia. Uma profecia que dizia respeito à queda de Voldemort e derrota deste pelas mãos de um bebê, nascido no final de julho e com ambos os pais já o tendo enfrentado três vezes. Neville e Harry correm perigo... Não quis alerta-los antes pois não corriam perigo de verdade até os bebês nascerem, mas agora... Vocês precisam se proteger.”
“Godric´s Hollow é segura” – afirmou James com convicção.
“Não o suficiente para manter Voldemort afastado. Precisamos tomar medidas drásticas.” – disse Lily com convicção – “Se Harry corre perigo, não mediremos esforços para protege-lo.”
“Eu estive pensando nisso” – disse Dumbledore pela primeira vez desviando os olhos de Harry e voltando-os para Lily e James. – “Acho que conheço um feitiço que poderia ser bastante útil em seu caso... Chama-se Feitiço do Fiel do Segredo. Consiste em depositar uma informação, um segredo, dentro de uma única pessoa e mesmo que outros conheçam o local, jamais poderão revela-lo.”
“Eu serei o fiel.” – disse Remo com firmeza
“Não, Remo. Você poderia deixar o segredo escapar quando... você sabe...” – James sussurrou.
“Eu serei, então!” exclamou Sirius.
“Tem certeza, Sirius?” – perguntou James – “Você correrá um enorme perigo...”
“Pontas...” – Sirius começou como se tivesse sido gravemente ofendido – “Não sou um covarde!”
“Não, é claro que não” – sorriu James.
“Vocês estão prontos?” – Dumbledore perguntou. – “Um dos protegidos deve fazer o feitiço...”
Lily adiantou-se, ergueu a própria varinha e, apontando-a para a própria mão entrelaçada com as de Sirius e James, disse:
“Harry, Lily e James Potter moram em Godric´s Hollow, número sete.”
“Harry, Lily e James Potter moram em Godric´s Hollow, número sete” – Sirius repetiu.
Fidelius!
Uma névoa prateada saiu da varinha, envolvendo os três pares de mãos, transformou-se numa corrente que os prendeu por um breve momento, e então dissolveu-se no ar.


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Oie!
Antepenúltimo capitulo da fic, mas eu não serei tão pretensiosa a ponto de achar que vocês gostaram... Não. Esse capítulo, apesar de importante, foi muito confuso. Dois confrontos Voldy x Potter´s, mas apenas só um deles foi mostrado, porque eu já estava sem criatividade para descrever cenas de batalhas... Well, o nascimento do Harry. Snape e a profecia. Tom decidindo ir atrás dos Potter. Sirius como primeiro guardião do segredo. Nfim, foi um capítulo basicamente focado nos Marotos e com muito pouco romance Voldie/Bella, e eu vou explicar o porquê: Por que estava ficando demais. Sério, eles já estavam quase namorados... E eu desisti de fazer eles comemorarem beltane por isso, e também porque eu escrevi a dita cuja cena e ficou ridííííícula, totalmente nada a ver... Não. Putz, não. Bom, desculpe pela demora também, mas estou sem internet em casa, sabe como é...
Beijos,

Lillith.

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