Éden



Capítulo XXXVIII

Londres
(Novembro de 1978-Julho de 1979)



O sol derramava raios ofuscantes de luz sobre a grande cama cujo cortinado estava aberto, permitindo sua passagem livre. A vidraça e as cortinas mal impediam a luminosidade de atingir diretamente os ocupantes da mesma.
Tom piscou os olhos algumas vezes, acostumando-se à claridade e espreguiçou-se sobre os lençóis macios. Seu olhar surpreendeu o belo corpo estendido ao seu lado, e ele sorriu. Bella não tinha do que se queixar. Era definitivamente sua preferida.
Era cedo, não esperava que Bella acordasse logo, e desceu para a sala de jantar. Mas o elfo não respondia a seus chamados.

Um tanto nervoso – o último sumiço de Hunter definitivamente não lhe trouxera boa coisa – vasculhou por toda a casa, até que um cheiro desagradável lhe chamou atenção.
Tampando o nariz ante o cheiro nauseabundo que vinha de um dos últimos cômodos da casa, depois da área de serviço, aonde Tom mal se lembrava de ter ido alguma vez desde que comprara a casa, onde os elfos geralmente dormiam, Tom achou a porta hermeticamente trancada.
Era verdade que havia muitas horas que não via o elfo. Um feitiço simples para abrir a porta; a visão do corpo da criatura rodeado de moscas, o cheiro ainda mais forte.

Xingando baixinho e ainda tapando o nariz, Tom virou o corpinho sobre o amontoado de panos velhos que Hunter normalmente usava de cama, para certificar-se de que ele estava mesmo morto.
“Caramba!!” – gritou, ao se deparar com a barriga do elfo coalhada de pequenas larvas que se remexiam grotescamente.

É claro, elfos domésticos tinham a impressionante capacidade de se decomporem rapidamente, como se até nisso fossem programados para darem o menor trabalho possível.

Mas o problema maior não é esse. - pensou, enquanto fazia o corpo voar para dentro de um grande saco.

“Milorde?” – chamou uma voz conhecida da porta, fazendo Tom assustar-se.
“Bom dia, Bella.” – cumprimentou, muito sério – “Como pode ver, houve um pequeno imprevisto aqui”
Bellatrix olhou confusa, como se perguntasse o que ela teria a ver com aquilo.
“O Elfo era o Fiel do segredo que guardava a localização da casa...” – falou, enquanto fazia saco e o corpo de Hunter desaparecerem no ar com um movimento da varinha – “Vou precisar de um Fiel novo. Como você provavelmente sabe, o proprietário da casa não pode ser fiel de sua própria localização.”

Bellatrix continuava a olhá-lo confusa.
“Você poderia ser o Fiel.” – completou displiscentemente, enquanto trancava a porta por fora – “Mostrou-se bastante leal. Devia se orgulhar disso.”
“Meu senhor...” – Bella ofegou, arregalando os grandes olhos cinzentos em surpresa – “Muito obrigada, nem sei como agradecer...”
“Haverá oportunidades para tanto mais tarde, minha cara. Sente-se.” – indicou uma cadeira à mesa ao lado da sua ligeiramente mais alta na cabeceira.
Bella sentou-se, encarando o pratos de ovos mexidos enfeitiçado para não esfriar. Apanhou o pesado garfo de prata e remexeu a comida, visivelmente constrangida. O silêncio pesava entre os dois. Tom a encarava por sobre o cálice de suco de abóbora.

“Sim, haverão outras noites como essa.” – Falou.
Bellatrix corou; sabia que seu mestre era Legilimente, mas não contava com uma leitura mental no café-da-manhã. Tom apenas sorria.
“O feitiço do Fiel, mestre...” – ela sussurrou timidamente.
“Mais tarde faremos isso.” – falou despreocupadamente.
Bellatrix franziu as sobrancelhas e corou novamente – encarava os ovos mexidos com tanta vontade que parecia determinada a achar neles algum lugar para se esconder da própria vergonha.
Tom riu baixinho e olhou a Comensal levantar da cadeira e andar lentamente até a porta de trás que dava para o pequeno jardim oculto por mágica.
Observou os longos cabelos negros balançando conforme ela andava, ainda vestida nas vestes úmidas e rasgadas da batalha da noite anterior.
Bellatrix hesitou – temia estar sendo muito ousada, ele pôde ver em sua mente – mas finalmente abriu a porta, escancarando o belo jardim. Ela soltou uma exclamação de surpresa.

Haviam algumas árvores frondosas exóticas, de vasta folhagem e perfume doce; um belo gramado verde (embora descuidado), e uma cerca de hera que junto com as folhas das árvores impedia a luz de se espalhar totalmente, dando ao ambiente um certo ar etéreo e surreal. Ela reparou também nas grande e perfumadas orquídeas e flores coloridas.

“Eu nunca venho aqui.” – Tom falou – “Como pode ver, está um pouco... selvagem. São flores tropicais.” – acrescentou, apontando uma grande orquídea que pendia da árvore.
Bella olhou admirada para seu Mestre, como se esperasse ser repreendida por estar ali. Tom apenas deu de ombros e indicou uma bonita flor rosada.
“Papoula. Os trouxas usam para fazer uma espécie de droga entorpecente... E os bruxos, uma das poções da morte mais potentes que existem” – falou sombriamente
Belladona, Pappaver, Artemísia, Acônito...”
Tom confirmou com a cabeça
“E sangue de unicórnio. Essa é uma das minhas. Lembro que usei uma vez... Há muito tempo atrás... Ainda estava em Hogwarts. Uma pena meu estoque de Belladona ter acabado; o capitão do time da Grifinória não teria durado muito...”
Bellatrix riu timidamente e parou de mexer nas papoulas por um momento, voltando seu olhar para Tom. Ambos se encararam por um breve instante. Tom percebeu que a mente dela estava vazia.

No que estou pensando?! - Gritou mentalmente para si mesmo. Suas feições se tornaram mais duras, de repente.

“Saia daí, Bella.” – ordenou, e deu as costas, fechando a porta atrás de si.

Bellatrix estancou imediatamente, abandonando a papoula que preparava para enfeitar seus cabelos. A flor caiu de seus dedos lentamente; as frágeis pétalas voando com o vento, e por fim, enterrou-se na lama viscosa, sujando as pétalas restantes, agora imersas na terra molhada. Seu passo acabou de esmagar o último pedaço de cor que não estava mergulhada na sujeira.

“É bom você voltar para casa.” – Tom disse, ainda de costas para ela, sob a soleira da porta que dava para o jardim.

Engraçado como uma flor tão bonita pode ao mesmo tempo produzir algo tão letal... E ser tão frágil. - ela pensou, abandonando o vasto gramado que pisava.

[...]

A noite caía sobre a casa, silenciosa. Aquele havia sido uns dos poucos dias em pelo menos seis meses em que não houvera nenhum ataque. No dia anterior, por exemplo, gigantes haviam atacado uma cidadela no interior, a última cidade trouxa antes de Hogsmeade e os terrenos de Hogwarts. Ainda assim, era uma cidade trouxa, e os trouxas de nada sabiam, e os jornais haviam noticiado os ataques como “experiência mal-sucedida do governo”. Claro que houve muita ação dos obliviadores no caso, mas no final o ataque rendeu apenas três trouxas mortos e um cuja memória falhara em ser alterada e, segundo também noticiara o jornal trouxa, fora trancado permanentemente num manicômio.

E as eleições trouxas ocorreriam dali a um mês. Seria a oportunidade perfeita para pôr seus planos em prática, enquanto os dementadores, que multiplicavam-se a uma velocidade absurda, espalhavam o caos e o desespero por toda a parte. Greyback e sua horda de lobismomens faziam a festa. O Ministro estava quase cedendo... Era uma questão de tempo até chegar ao poder pleno.

Com esse pensamento feliz, Tom largou seu exemplar de “Semanário das Trevas” na mesa diante de si.
Talvez ordenasse um ataque a uma cidade trouxa àquela noite. Ainda não tivera a chance de atacar Londres propriamente – mais por covardia dos Comensais do que por qualquer outro motivo – mas, pensando bem, havia pelo menos três dias que não atacavam.
Espreguiçou-se lentamente, e deixou a confortável poltrona para trás, lamentando abandonar o calor reconfortante da lareira.
Estou ficando velho... - pensou, rindo de si mesmo ao fitar o próprio rosto no espelho.
Desceu desceu as escadas para a sala, fazendo uma nota mental de comprar um novo Elfo Doméstico.
Olhou para a janela, observando a noite fria lá fora, estrelada. Era quase irônico que estivesse tudo tão calmo; era uma das poucas vezes que ficava completamente sozinho em sua própria casa. Calmarias assim nunca precediam boa coisa...

Tom sacou a varinha do bolso das vestes e a empunhou bobamente como se esperasse um ataque direto às suas costas. Então olhou para si mesmo e novamente riu.

Além de velho, estou ficando paranóico...

Guardou a varinha de volta no bolso, voltando-se para as escadas que desciam para as masmorras, pensando em verificar como ia a digestão de Nagini: a cobra havia devorado um de seus comensais acusado de traição; Dearborn, um espião da Ordem da Fênix. Bem, nunca achariam seu corpo.

E então tudo aconteceu muito rapidamente: uma dúzia de estampidos familiares explodiram à sua volta e doze vultos se materializaram no ar; as capas farfalhando e as varinhas cercando-o seguramente sem que houvesse um único centímetro de espaço vazio por onde pudesse fugir.
Tom mal teve tempo de abaixar-se e gritar um palavrão, quando doze jatos de luz verde voaram em sua direção.
Ele puxou sua própria varinha – fizera mal em devolve-la ao bolso – e com um movimento rápido e fluido, um risco branco cortou o ar, atingindo três aurores no peito e derrubando-os, inconscientes ao chão.
Mais um feixe de raios luminosos verdes voaram em sua direção, e com um mero rodar da capa Tom viu-se a dez metros de distância da batalha. O feixe ao invés de atingi-lo, bateu numa bonita tapeçaria representando passagens mitológicas que estava pendurada entre as escadas e a sala de jantar; a tapeçaria irrompeu em chamas.
“Têm noção de quanto custou isso?!” – Tom gritou, furioso, embora risse, e com um novo movimento agressivo da varinha, outros dois aurores foram ao chão desacordados.
Mais aurores avançaram: os jatos verdes e vermelhos voavam e ricocheteavam nas paredes loucamente, sem direção e destruindo tudo em seu caminho.
E então, sem aviso, uma azaração do impedimento o pegou pelas costas; Tom ouviu o grito de triunfo de um dos aurores que ele reconheceu vagamente como Frank Longbotton. Queimando em fúria, Tom urrou, mas o feitiço de fato o impedia de fazer movimentos, e sua varinha fora chutada para longe. Frank se aproximou, fitando-o preocupado.
“Espero que saiba que eu sou imortal, Longbotton” – Disse Tom, entre os dentes.
“Eu não sou um assassino, Voldemort. Não vou me rebaixar ao seu nível.” – ele retrucou cuspindo nas palavras.
Apontou a varinha para Tom. E então um estampido ainda mais alto que o de Aparatação reverbou por todo o local, tão alto e agudo que rachou as vidraças das janelas e Frank caiu desmaiado. Sua varinha jazia ao lado de seu corpo imóvel; aparentemente explodira e o feitiço literalmente voltara contra o feiticeiro.
“Droga, Longbotton, da próxima vez ao menos lance uma Avada Kedavra...” – Tom resmungou, pondo-se se pé num salto e apanhando a varinha. – “Agora, quem vai ser o próximo?”
Seus olhos, vermelhos de fúria, estreitaram-se, mirando as faces apavoradas dos poucos bruxos que não tinham batido em retirada.
“Se não se importa, Tom, poderia abaixar a varinha e deixar meus amigos irem? Garanto que eles não mais o atacarão.” – falou uma voz odiosamente calma e serena às suas costas.
Tom voltou-se e suas suspeitas tornaram-se verdadeiras, para seu completo desgosto.
“Como?”- disse Tom baixinho, sem se voltar para o Diretor; os olhos agora tão apertados que viraram fendas vermelhas – “Como, eu me pergunto. Como você espera que eu reaja a esse ataque?”
“Oh, esse ataque não foi autorizado. Eles não deveriam estar aqui.” – falou Dumbledore calmamente, sorrindo.
Tom podia sentir as ondas de ódio profundo fluindo em seu corpo, quentes. Como gostaria de poder esmaga-lo, liquidá-lo...
Um jato de luz verde saiu de sua varinha quase inconscientemente em direção não a Dumbledore, mas a Alice Longbotton. Dumbledore fez um movimento com a varinha e pareceu deslocar a mulher como se deslocasse um boneco, sob seus fracos protestos.
“Volte para casa, Alice. E leve Frank; ele não deve acordar tão cedo...”

Resignando-se, Tom finalmente voltou a face inchada de fúria para encarar o velho professor. Ambos se encararam muito sérios, até que Dumbledore quebrou o clima de mórbida hostilidade com um de seus típicos e enigmáticos sorrisinhos, observando Tom por cima de seus oclinhos de meia-lua como se ele não tivesse mais de onze anos e estivesse cumprindo uma detenção por assaltar a Sessão Reservada no meio da noite.

Dumbledore agitou novamente a varinha e conjurou um par de cálices repletos de um liquido cor de vinho que voluntariamente se ofereceram a Tom. Irritado, Tom acenou a própria varinha e fez as bebidas desaparecerem numa baforada de fumaça negra.

“Isso foi falta de educação, Tom.” – Disse Dumbledore gentilmente, observando ao redor – “Você tem uma casa realmente bonita.”
“Seria ainda mais bonita se seus aurores não a destruíssem.” – Tom resmungou; os olhos mais estreitos que nunca – “Você não tem medo que eu te mate, Dumbledore?”
“Não, não tenho.” – Dumbledore respondeu alegremente – “Mas peço desculpas pelo ataque. Como disse, não foi autorizado. E quase perdemos dois de nossos melhores...”
Mas Dumbledore foi impedido de continuar sua frase porque um jato de luz verde disparou da varinha de Tom, errando o alvo por pouco e atingindo o último de uma série de vasos chineses expostos ao lado de uma estante cujos livros eram particularmente macabros.
“Como foi que invadiram aqui, então?” – Perguntou Tom rispidamente
“Oh, contarei num minuto...” – Falou Dumbledore vagamente abaixando-se para apanhar algo no chão.
Dumbledore abaixou-se no mesmo instante em que outro jato de luz verde quase o atingia. O Diretor apanhou um belo broche de esmeralda caído no chão, inscrito com as iniciais “BL”.
“Isso aqui não é seu.” – falou Dumbledore divertido, erguendo o broche.
“Como foi que invadiram?” – tornou a perguntar Tom, ignorando o comentário do Diretor, embora tivesse corado ligeiramente – “A Casa é protegida por um Fiel...”
“Acontece que o Fiel do Segredo morreu, como você provavelmente sabe.” – Disse Dumbledore bondosamente – “O segredo, é claro, morre com o Fiel, mas no intervalo de tempo em que se trocam os Fiéis, aqueles que já conhecem o segredo podem orientar outros a localizaremo local, embora não possam dizer o nome. Infelizmente, isso teve um alto custo na vida do pobre Carátaco Dearborn, como você provavelmente já sabe também.”
“Você quer mesmo sabe o que aconteceu com ele, Dumbledore?” – falou Tom maliciosamente
“Oh, não, peço que me poupe desse tipo de detalhe. Eu só...” – abaixou-se para desviar de um novo jato de luz verde – “...eu só espero que ao menos possamos lhe dar um enterro digno de herói, que é o que ele...” – jogou-se para trás da estante de livros macabros que explodiu em pedacinhos – “...merece.”
“Diga logo o que você quer, Dumbledore; certamente não veio até aqui só para salvar seus amiguinhos imundos ou brincar de esconde-esconde comigo!” – bufou Tom, cessando as maldições que continuava atirando.
“Não. Vim para conversar.”
Conversar?” – repetiu Tom incrédulo – “Não temos nada para conversar!”
“Temos muito a conversar. Sente-se.” – Disse Dumbledore sorrindo, e apontando a poltrona em frente à sua; uma das poucas que resistira aos feitiços que praticamente destruíram a casa.
Tom não respondeu, fitando o velho Diretor de cima, indignado.
“Não seja bobo, rapaz. Sente-se. E pare de tentar me matar; ambos sabemos que você não vai conseguir.”
Tom ainda lançou um olhar de desgosto, e finalmente cedeu aos apelos de Dumbledore; sentou-se na poltrona em frente ao diretor; seus olhos ainda como fendas carmim.
“Seja breve, então.” – Tom falou, pingando sarcasmo cáustico.
“Não por isso. Aceite as bebidas.” – Acrescentou, tornando a materializar os cálices de vinho; um dos quais Tom apanhou com extrema má vontade. – “Muito bem, muito melhor agora. Agora... Seria muito grato se você me explicasse o porquê de tudo isso. Nosso último encontro foi breve demais e não tive tempo de travar um diálogo decente com você, porque ao que me parece, meu Patrono o atingiu com força. O que é bastante curioso, ao meu ver, pois o Patrono não deveria ter efeito negativo sobre seres humanos.”
“Eu não sou um dementador!” – retrucou Tom em tom extremamente ofendido.
“Claro que não. Estou apenas dizendo que isso reforça minha teoria de que você está tão imerso em maldade e Trevas que...”
“Há!” – Exclamou Tom, rindo – “Lá vem você outra vez com aquela história boba de amor. Amor é para os fracos. Já tive infinitas provas disso.”
“Você está enganado.” – disse Dumbledore com simplicidade – “Você não pode saber pois creio que nunca o sentiu.”
“Você não é onisciente, Dumbledore. Não o tempo todo.”
“Não; muito pelo contrário... Se você soubesse o número de erros que esse velho tolo comete, ficaria surpreso... Mas algumas coisas estão bastante óbvias.”
“Estão.” – Respondeu Tom com um meio sorriso. – “Mas não entendo aonde você pretende chegar com isso.”
“Quero alerta-lo, Tom, porque você sempre teve um ponto fraco evidente demais: despreza o desconhecido. E o desconhecido e tão desprezado, nesse caso, é o amor que você tanto renega...”
“E como você sabe?” – retrucou com agressividade – “Você pode afirmar com tanta certeza que eu jamais amei?”
“Infelizmente, creio que posso. Eu o observei mais do que acho que você tem idéia, Tom... Por exemplo, o que você sentia por Richard Benson, seu próprio filho?” – perguntou Dumbledore sagazmente.
Tom parou por um momento, pensativo. Mal se dava conta do fato de estar cara-a-cara com um Dumbledore praticamente indefeso. Ele sempre tivera aquele poder sobre Tom, não? Envolve-lo, mantê-lo prso em seus próprio devaneios...
O que sentira por Ricky? Bem, era verdade que uma vez sentia amor... Mas não o amara. Era mais uma questão de amor pelo que ele representava; uma miniatura de si. Não respondeu. Sabia que Dumbledore estava lendo seus pensamentos. Subitamente, lembrou-se de fechar a mente, mas seu esforço foi inútil: não era tão bom Oclumente quanto Legilimente.
“Vou mudar de pergunta. O que você sentia, ou sente, por Avery Nott e Rodolfo Lestrange, que se eu não me engano, foram seus melhores amigos em Hogwarts? Ou Francis Finningham, que foi algo próximo a uma namorada? Ou quem sabe Ela...” – Dumbledore ergueu o broche que recolhera do chão – “Ou até por mim, Tom, que tentei oferecer-lhe um caminho correto, o qual você recusou desde a primeira vez que nos vimos? Fale a verdade, você já almou alguma dessas pessoas verdadeiramente?”
“Bom, vamos ver...” – Respondeu Tom com sarcasmo hostil – “Avery e Rodolfo são meus humildes servos e marcados como gado; properiedades minhas. Francis... Deixei-a morrer sob a Maldição Cruciatus; Bella é uma aluna dedicada e uma amante incrível, mas não passa de uma serva e escrava. E você, Dumbledore... Você é um velho pretensioso e metido a defensor dos fracos e oprimidos; alguém que eu daria tudo para ter o prazer de matar com minhas próprias mãos. É, não, parece que eu nunca amei ninguém!” – Disse Tom, a voz elevando-se a quase um grito na última sentença. – “Agora olhe aqui, Dumbledore...” – Tom inclinou-se para a frente, ficando com o rosto a centímetros do de Dumbledore – “...durante anos eu vi e vivi as mais diversas situações; levei a magia a extremos inimagináveis; criei feitiços, poções, maldições; reuni um exército competente e as criaturas das Trevas que se prostram aos meus pés; e nada, eu repito: nada me provou que o amor é algo além de uma fraqueza tola e estúpida. Pessoas comentem as maiores insensatezes quando amam. Você lembra do seu amiguinho Potter? Ele esteve a ponto de trair toda a Ordem para salvar o seu amor... E você acha isso bom?”
“Acho” – Disse Dumbledore sorrindo tristemente e levantando-se – “E também acho que você esqueceu de procurar em um lugar: dentro de si mesmo.”
E dizendo isso, Dumbledore desaparatou, deixando para trás um Lord Voldemort completamente desnortado e furioso.

[...]


O novo Primeiro Ministro assistia nervosamente ao telão instalado no meio da praça. A multidão agitava-se, urrava e cantava, todos vestidos nas cores de seu partido e sacudindo bandeiras com seu nome. Mais de uma vez naquela noite ele se perguntara o que aquela gente faria com tantas bandeiras se acaso ele não vencesse. Mas agora que o resultado estava confirmado (ele não sabia se sentia mais alívio ou preocupação), aquelas pessoas teriam mais o que comemorar. Provavelmente as comemorações durariam muito mais do que o normal. A verdade é que não havia muito o que comemorar ultimamanete.

O Primeiro Ministro acenou feliz para a multidão de cima de seu palanque, que urrou com a visão de seu candiato recém-eleito e clamou por discurso. Mas ele prometeu a si mesmo que não o faria: estava tão exausto e amedrontado que seria capaz de renunciar ali mesmo perante a todos.
Ao invés disso, então, terminou de acenar e beijar cabeças de bebês e se retirou para um mercido descanso.

Estava passando por um dos longos corredores que interligavam as salas do museu em frente ao qual a multidão se reunia, cercado de dois seguranças truculentos. Eles caminhavam lentamente em direção à saída do outro lado onde uma limusine o esperava para escapar do engarrafamento causado pela confusão. O Primeiro Ministro desejou que seus seguranças parassem de olhar para ele como se até ele fosse ameaça para si próprio. E então, quando passavam exatamente pelo corredor de egiptologia, onde múmias e sarcófagos eram expostos, subitamente, seu desejo foi atendido.

Olhou para o lado quando a luz que era barrada pelos maciços corpos dos seguranças passou a ilumina-lo completamente. Eles estavam deitados, desmaiados; completa e indubitavelmente desacordados. O Primeiro Ministro coçou a cabeça, intrigado. Não creia que aqueles homens fossem capazes sequer de fechar os olhos (eles mal piscavam), quanto mais desmaiar assim do nada. E então, de repente, ele viu o que julgou ser a razão do desmaio repentino de seus seguranças, porque quase causou o mesmo efeito no Primeiro Ministro: uma múmia se aproximava dele; os braços de faixas sujas e encardidas estendidos para frente, exatamente como via em filmes. O Ministro tropeçou num vaso de três mil anos de idade e o quebrou, mas o que ele menos lamentava no momento era a perda do acervo histórico do museu. A múmia se aproximava dele lentamente, resmungando coisas incompreensíveis.

De repente, ela parou, e desabou no chão sob o peso de seus ossos milenares esfarelados; as faixas caindo molemente ao seu lado.

“Não seja idiota, Malfoy” – Repreendeu uma voz fria que o Primeiro Ministro não pôde ver de onde vinha.
E então, a voz subitamente tomou forma: um homem alto, moreno, encapuzado; os olhos vermelhos brilhando maldosamente sob o capuz, apontava uma fina varinha para ele.
Imperius!

Ahhh, como se sentiu bem! Estava tão livre, tão solto, tão feliz... Será que morrera e fora para o céu? Mas se morrera, porque continuava a encarar o par de olhos vermelho cruéis? Mas ele já não sentia medo. Apenas paz. Será que atingira o Nirvana? Não, não; o Primeiro Ministro nunca fora um homem espiritual...

“Quero todos os trouxas mortos, senhor Primeiro Ministro” – falou a voz fria ligeiramente zombeteira – “Se aceita uma sugestão, pode reabrir aqueles campos de concentração; foram tão úteis da última vez, poderão prestar agora a nós, não?”

E o Primeiro Ministro sequer discutiu. Por que deveria? Estava tão leve e solto, que mais importava? Que eles morressem todos...
Espere aí, não! - gritou uma vozinha chata em sua cabeça. O Primeiro Ministro fez um esforço para reprimi-la, mas a voz era teimosa.
Você não pode ordenar um genocídio!
Não, não podia... Mas era o que os dois homens queriam, não? Apenas ordenaria o que tivesse de ordenar... Que lhe importava?
Mal registrou que os dois homens haviam desaparecido do nada no ar. Aliás, mal registrava nada. Guiou seus passos para fora do museu até a limusine. Argumentou que os seguranças haviam ficado para trás cuidando de um pequeno distúrbio. E que precisava ir direto para a coletiva de imprensa; havia um anúncio muito importante a ser feito...
Livraremos o mundo dos impuros.” – ele dizia em frente a centenas de câmeras e microfones – “Mestiços e sangues-ruins devem ser eliminados de uma vez por todas...”
Os jornalistas agitaram-se e cochicharam entre si; gritos de protesto ecoando na multidão. Vaias e gritos explodiram e alguém lançou um tomate podre contra o vidro do carro.
O Primeiro Ministro apenas mandou que seu motorista se apressasse: os jornalistas estavam começando a ficar agressivos.

E então sentiu dois pares de braços o agarrando por trás. Virou-se, atordoado, procurando seus donos. Duas pessoas apontavam varinhas finas iguais à do homem de olhar frio e cruel. Pressentia vagamente a ameaça, mas observava tudo de cima, como num pesadelo realista demais. Continuava sentindo-se solto no vácuo, livre como jamais estivera...

Uma pedra atingiu a vidraça blindada da limusine, que apenas rachou. Os dois pares de braços o puxaram para fora do carro e embora o Ministro protestasse violentamente, não pode fazer nada para impedir os dois estranhos de o arrastarem até uma viela escura. A próxima coisa que o Primeiro Ministro sentiu foi uma curiosa sensação de ter o corpo comprimido dentro de um tubo estreito, e de repente, reapareceu num lugar ainda mais estranho: um belo átrio dourado e reluzente em cujo teto moviam-se síimbolos que transformaram o teto num imenso quadro de avisos.
“O q...?” – perguntou o Primeiro Ministro, abobalhado.
“Fique quieto, seu nazista.” – vociferou uma mulher, a única que vestia jeans e roupas comuns.
“Seu o quê?” – perguntou interessado um outro homem alto e ruivo que havia feito uma péssima combinação de calções de banho e camisola florida para vestir.
“Nada, nada não. Não é sua culpa.” – ela falou bondosamente para o Ministro, que continuava a não entender nada – “Esses Comensais malucos... Mas isso foi o cúmulo! Atacar autoridades trouxas...”
“São todos uns pau-mandados de Voldemort.” - falou um bruxo negro que acabara de aparecer do nada e se reunira ao grupo.
“Quer parar de falar esse nome?” – reclamou a mulher de jeans, parando de repente; indignada como se o colega tivesse acabado de falar um palavrão muito feio.
“Dumbledore fala.” – respondeu o homem alto e negro, dando de ombros.
O estranho grupo continuou andando por uma série de corredores (escuros àquela hora), até que pararam diante da última porta de um longo corredor.
A mulher empurrou a pesada porta e entrou numa sala escura que se iluminou automaticamente quando tochas acenderam-se nas paredes de pedra.
Caminhou com desenvoltura como se conhecesse o caminho muito bem, até parar num ponto onde as diversas portas rodaram como se presas por rodinhas, confundindo-os. Não parecendo se importar com aquilo, a mulher e os dois homens, seguidos do Primeiro Ministro (que prometia a si mesmo nunca mais beber uma gota), entraram por uma sala cuja porta era a única aberta.
Era um escritório – embora um tanto sinistro, frio e escuro para que alguém pudesse trabalhar confortavelmente – e haviam mesas e cadeiras dispostas entre pilhas e pilhas de arquivos e papéis.
A sala estava vazia a não ser por uma mulher de cabelos vermelhos que lia alguma coisa concentrada em seu canto.

“Boa noite, Lily” – cumprimentou a outra mulher, e Lily abandonou sua leitura, voltando os grandes olhos verdes para a colega.
“Boa noite, Marlene” – ela bocejou – “O que houve?”
“Esse é o Primeiro Ministro Trouxa.” – Marlene falou muito séria – “Dominado por uma Maldição Imperius. Estava ordenando atrocidades terríveis... Por sorte conseguimos pegá-lo antes que causasse mal maior, ou fosse assassinado.”
“Aqui...” – Disse gentilmente o bruxo negro, apontando a varinha para o Primeiro Ministro, que assistia a tudo absolutamente espantado – “Finite Incantatem”

E de repente, toda a sensação de liberdade cessou. Sua queda no vácuo chegara ao fim e o Primeiro Ministro foi violentamente arrancado para fora de seus devaneios... E então a consciência de seus últimos atos o atingiu com a força de um rinoceronte raivoso.

“MEU DEUS!” – Ele gritou, deixando-se cair na cadeira. – “O que...? O que está havendo, quem são vocês...?”
“Acalme-se.” – Disse Lily, ajoelhando-se ao seu lado e lhe servindo um copo de água, que o Ministro tomou na mão trêmula – “Você foi enfeitiçado.”
“Enfeitiçado?” – sussurrou, atônito.
“Enfeitiçado, é.” – respondeu o bruxo ruivo e alto – “Caramba, não sou eu quem deveria lhe explicar isso...”
“Espere aí, onde estou?” – Perguntou o Ministro agressivamente.
“Nas entranhas do Ministério da Magia, no Departamento de Mistérios, ou mais especificamente, no quartel-general da Ordem da Fênix. É uma sociedade secreta, entende? Lutamos contra os bruxos das Trevas e seu maior líder, que foi quem o enfeitiçou hoje à noite.”
“Bruxos?” – sussurrou o Primeiro Ministro, agora decididamente aturdido. – “Vocês são...?”
Os quatro confirmaram com a cabeça. O Ministro simplesmente não sabia o que dizer.
“Agora, escute. Você precisa voltar lá e desfazer esse mal entendido. Estamos em meio a uma guerra, e estamos perdendo. Precisamos de todo apoio possível. Sei que a polícia trouxa pouco pode fazer, mas...”
“Aí é que você se engana, Arthur” – Disse Lily, sorrindo – “Os trouxas podem fazer mais estragos do que você imagina.”


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Olá, caros leitores...

Capítulo excepcionalmente curto e um pouco vazio... Mas o próximo será grande, já que provavelmente será o penúltimo ou antepenúltimo capítulo da históia... É, finalmente está chegando ao fim a Saga de Voldemort...
Bem, nesse capítulo ocorre o confronto Voldemort x Longbottons #3. Ainda faltam dois Potters x Voldemort, se eu não me engano, mas isso será em breve...
A morte de um dos membros da Ordem da Fênix citados por Moody na famosa foto que ele mostra a Harry, o que nunca encontraram o corpo (claro, Nagini o devorou =P). E a cena do jardim, um tanto romântica, mas sei lá, faz tanto tempo que não tem romance na história... Por mais breve que tenha sido, ahco que deu para sentir o gostinho novamente ;D
E, caramba, que título estranho para o capítulo, não? O pior é que o nome dos capítulos raramente têm a ver com os acontecimentos mais importantes... Mas de qqr maneira, o "Jardim do Éden" do capítulo é mesmo o jardim do Tom... Cheio de serpentes e frutos proibidos hehe ^^
Conversa com Dumbledore, profundas como sempre (já reparou que Dumbledore sempre deixa Tom abalado emocionalmente?)... Ataque ao Ministro Trouxa... É, é isso. Espero que gostem e comentem. Desculpe a demora... Mas meu computador quebrou e estou sem internet, sobrevivendo de Lan Houses baratas hehe...
Obrigada pelos comentário, como sempre. Amo vocês (mas continuem comentando hehe).

Beijos,

Lillith

P.s.: Pra variar, imploro por acessos na minha outra fic, “Why Do You love Me” que deve ser atualizada nesse final de semana também.





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