O Príncipe Encantado



Londres
(1956-1957)



Ann corria pela praia, sentindo as pernas quase fraquejarem ao fazerem força para vencer quase um metro da parede de água que barrava seu caminho, como se tentasse desesperadamente impedi-la de chegar a seu destino.
Mas Ann não desistiria. Nada a faria desistir. Porque a voz a chamava, e ela não podia mais ignora-la.

Sussurros roucos invadiram seus ouvidos, os sussurros roucos já tão conhecidos, que a faziam querer que tudo se acabasse, quando ela finalmente poderia ter paz...
“Vá para lá” – a voz dizia, e sua própria voz rouca de tanto gritar e clamar por sanidade respondia que estava indo, que estava indo o mais depressa que podia...
Estava louca, sabia. Todos diziam isso. Que aquela voz, o chamado, o rosto que via tantas vezes em seus sonhos, um rosto indefinido, um rosto que não podia lembrar de quando havia visto pela primeira vez, o rosto sem dono, sem nome, mas pelo qual nutria uma paixão louca, absurda, era sinal da profunda loucura da qual sofria desde seu nascimento...
Queria toca-lo, queria vê-lo, porque as sombras escuras de sua mente perturbada não permitiam que Ann o visse, mas ela o amava assim mesmo. Ela as amava e as odiava. Odiava, porque aquelas vozes malditas a perturbavam o tempo todo, dizendo-lhe como as coisas deveriam ser e como as coisas aconteceriam, mas antes que Ann pudesse evitar que assim as coisas ocorressem. Mas as amava, porque eram a voz dele... E não importava quem ele fosse, sabia só que precisava encontra-lo...

Seu pé dormente de frio topou numa pedra qualquer no meio do caminho, e Ann caiu com o rosto imerso na água, a rocha fria cortando seus lábios e fazendo uma flor de sangue vermelho aflorar à superfície ondulante de espuma do mar, tremendo fantasmagoricamente antes de se dissolver com a próxima onda forte.
Ignorando a dor e o frio, Ann continuou a correr, sem saber para onde estava indo, só seguindo a voz que se intensificava, chamando-a, chamando, chamando, chamando...
“Estou indo!” – Gritou mais uma vez, e sua voz saiu como o som de algo que se rasga, rouca e desesperada.
“Estou indo, estou indo, pare com isso, por favor...”
Novo tropeço e dessa vez a superfície aguda e cortante do paredão de rocha ralou sua perna, fazendo mais sangue gotejar nas águas escuras do mar, que pareceu parar de ondear por alguns segundos para se deliciar com o novo tributo de sangue.
A lua cheia circundada por um fantasmagórico arco alaranjado iluminou o rosto coberto de cicatrizes e arranhões da garota que se debatia na água; ela tinha certeza de que tudo conspirava para que não chegasse lá, mas o chamado se intensificava, e a voz continuava chamando, chamando, chamando e ela não podia ignora-la, não mais, já o tinha feito por muito tempo...
Um grito desesperado de sofrimento e dor varou a noite solitária quando Ann tropeçou pela terceira vez, e foi seu braço fraturado pela queda do rochedo quem recebeu o novo ferimento. Contudo, ela não desistiu, continuou apenas seguindo o chamado da voz; a visão mais clara do que nunca...
Então entrou por uma fenda na rocha, e adentrou um salão onde estalactites acima de sua cabeça pendiam perigosamente, enrolando-se em seus longos cabelos brancos como algodão, mas Ann não se importou de deixar alguns fios para trás, nem de rasgar a roupa encharcada. A voz, enfim, cessara, mas a visão do rosto sombrio continuava fixa em sua mente, e ela continuou se arrastando até que tudo o que tinha à frente era um paredão de rocha lisa. Ajoelhou-se e pediu clemência, implorou por razão e sanidade, implorou por algo que nunca tivera... E então desmaiou.


[...]

Lord Voldemort apontava sua varinha para o estranho e brilhante anel de pedra ônix que havia muito tempo, tinha pertencido a seu avô. Lamentava não poder mantê-lo consigo; realmente era um objeto fascinante. No entanto, manter uma Horcrux junto a si não era a coisa mais inteligente a fazer, ele sabia. Então resolveu devolve-lo às suas origens, mas não sem antes lançar uma maldição terrível que acabasse com quem ousasse tentar destruí-lo. Abriu a boca e pronunciou as palavras numa língua antiga e desconhecida, oculta por séculos, palavras que retumbaram como a batida rítmica de um tambor...

Quando a morte se aproxima
E toda a vida definha
Quando a dor se faz presente
E a tragédia se anuncia
Quando a paz é tida ausente
E o desejo mais profundo é o fim
Que aquele que macular este objeto seja desgraçado
E que a verdade se torne assim
E ele esteja amaldiçoado
Um por um seus dedos hão de cair
E a pele há de morrer
A dor vai se espalhar
E seu corpo vai sofrer
Gritos desesperador há de dar
Antes que o descanso lhe seja concedido
E antes do fim chegar
Ele estará arrependido
A Morte chega aos incautos
A sombra cobre de horror
As trevas mostram-lhe a dor
E ele erguerá as mãos ao alto
E pedirá perdão ao seu senhor
Mas as sombras chegam a galope
E as trevas mostrá-la-ão a dor
Que essas palavras se façam verdadeiras
E o pecado seja perdoado
À degradação de minha alma
Mas que sua alma descanse em paz
E que a mim venha o desagrado.”*


Sua varinha tremeu rapidamente, e então um fluxo de energia saiu lentamente da ponta, fazendo a pedra do anel de Servolo brilhar como um pedaço de madeira em brasa, tremer mais um pouco e finalmente, se ver envolvido por uma aura negra e sinistra que impedia qualquer pessoa de toca-lo.
Voldemort sorriu satisfeito, deu as costas ao anel e saiu.

Então olhou para o medalhão pesado que carregava consigo desde que o roubara de Hepzibá Smith e pensou onde diabos o ia esconder. O esqueleto de uma grande cobra jazia aos seus pés, e serviu de resposta à sua pergunta.
Será que a caverna ainda estava lá?

[...]

A caverna ainda estava lá, como Voldemort pôde constatar rapidamente ao aparatar no alto do penhasco e lançar um profundo olhar à bela paisagem que se estendia infinitamente até perder-se no horizonte sob seus olhos.
Lembrou-se de Amada por uns instantes.

Ela mereceu o que teve...

Então fez como fizera havia tantos anos, e mergulhou num salto gracioso na água gelada, o vento de fim de tarde cortando seu rosto. Gostava do mar, realmente gostava...

Por uns momentos, quando entrou no salão de rocha, escuro com as trevas mais profundas, não percebeu a presença estranha. Somente quando a luz da sua varinha iluminou o lugar, e seus olhos piscaram ardendo ante à nova e intensa iluminação, ele reconheceu o corpo estendido num ângulo estranho. Era um corpo de aparência frágil, pertencente a alguém do sexo feminino, bastante jovem pela estatura, Voldemort avaliou.
Longos cabelos brancos como algodão, lisos até a cintura poderiam pertencer a uma velha se não brilhassem com tanta juventude mesmo estando totalmente encharcados da água podre do fundo da caverna.
Alarmado, Voldemort se ajoelhou ao lado do corpo e tomou o pulso coalhado de arranhões e cortes profundos, alguns ainda mal cicatrizados, onde pôde verificar que ainda havia vida ali.
”Enervate” - Murmurou.
O corpo estremeceu por alguns segundos e então a mocinha abriu um par de grandes olhos azul-esverdeado aguados, quase incolores, e piscou assustada, voltando a si lentamente.
Então Ann ergueu o braço fino e num gesto delicado acariciou o rosto de Voldemort, sorrindo tolamente e murmurando esquisitices sem nexo.
“Você veio!”
Voldemort parou encarando a garota que ainda repousava a mão direita muito gelada sobre seu rosto e o acariciava com toda ternura do mundo, totalmente desconsertado.
“Quem é você?” – Rosnou raivosamente e atirando longe a mão da garota, deixando a cabeça que até então repousava em seu colo voltar à desconfortável posição inicial.

Mas Ann não se importou. Porque ele tinha vindo, seu Príncipe Encantado, que era como o chamava, mesmo nunca tendo tido muita certeza sobre qual seria o sexo daquele rosto e daquelas vozes. Não era um rosto feio, muito pelo contrário, Ann reparou que havia uma beleza estranha ali, como se um dia ele tivesse sido diferente. Também não saberia dizer se seu Príncipe Encantado era jovem ou velho, embora seus cabelos fossem escuros e bem cuidados.

“Que está fazendo aqui? Como veio parar aqui?” – Perguntou Voldemort, e Ann se assustou com a voz gélida e sombria que a fez se encolher no canto da parede da caverna.
“Eu vim, eu vim, eu disse que vinha...” - Gritou novamente com a voz rouca, recomeçando a chorar e se ajoelhando aos pés do homem.

Não era justo, não era, Ann queria seu Príncipe Encantado, queria amá-lo, queria casar com ele, queria... queria... Queria tantas coisas!

Voldemort deu um salto para trás, se afastando das mãos feridas que agarravam a bainha de suas vestes.

“Se não disser o que veio fazer aqui, vou mata-la.” – Avisou, apontando a varinha ameaçadoramente para o trapo de gente a seus pés.
“Eu vim atrás do meu Príncipe, elas disseram que ele estariam aqui...”

E então Voldemort se deu conta de que não estavam falando em inglês, mas que o que saia de suas bocas era Língua de Cobra, e todo o seu desejo de matar a menina evaporou com uma rapidez espantosa. Não podia mata-la, ela era ofidioglota também!
“Príncipe?” – Perguntou Voldemort
Ann sacudiu a cabeça afirmativamente e tornou a agarrar a bainha de suas vestes.
“Eu sou seu Príncipe” – Disse, decidido a investigar a menina.
“Você é?” – Ela perguntou, e sua voz soou desesperadamente contente.
“Com certeza. Estou aqui para levar você.”
Ann soltou um guincho de felicidade e verteu mais lágrimas de alegria. Dando um sorrisinho amarelo em direção à garota, estendeu a mão e a ergueu, a abraçou e desaparatou para Londres, esquecendo-se totalmente do que viera fazer ali.

[...]

“Qual é o seu nome?”
“Ann”
“Ann...?”
“Não importa.” – Ela respondeu nervosamente, sorrindo e agarrando um bibelô de louça em forma de serpente no criado-mudo ao seu lado, como se não soubesse onde colocar as mãos.
“Você gosta mesmo de cobras.” – Ann observou, apontando para a tapeçaria que cobria a janela do quarto de hóspedes onde os dois se encontravam no momento.

Voldemort não respondeu. Eles continuavam falando língua de cobra, mas Ann não parecia se dar conta disso. Ela deu um suspiro cansado e largou o bibelô.

“Eu achava que estava louca. As visões, as vozes, você sabe...”
“Eu sei.”
Mas Voldemort não fazia a menor idéia do que ela estava falando. Só estava querendo investigar a menina, afinal ela era a única ofidioglota que conhecera além de si mesmo. Podia ser parente, quem sabe?
“E seus pais?” – Perguntou
Ann parou por uns momentos antes de responder lentamente:
“Não é a primeira vez que eu fujo de casa. Eles sabiam que não poderiam continuar a me prender em casa, não enquanto elas não parassem de sussurrar no meu ouvido...”
Voldemort olhou fixamente para a garota, investigando seus pensamentos...

Ela não estava mentindo.
Era verdade, ela ouvia vozes.
E era verdade também que ela tinha visões esquisitas, e que estava enlouquecendo por isso. Só que Voldemort não entendia onde ele entrava nessa história de Príncipe Encantado...

“Vou deixar você dormir. Se precisar de algo chame Hunter – eu estarei trabalhando.” – Disse, também começando a se sentir cansado daquela loucura sem sentido e batendo a porta atrás de si.
Antes que alcançasse o último degrau da escada, porém, uma voz rouca e estridente soou pelo corredor, atraindo-o de volta para o quarto.

Ann estava sentada em posição de lótus, como se meditasse, e seus grandes olhos aguados emitiam um brilho maníaco assustador. Sua voz fraca e rouca tinha sido substituída por um tom grave e sinistro que causava um som profundo e penetrante, cujas palavras chocantes também impressionavam.
...assim como o filho do Grande Deus buscou seus pedaços para retorna-lo à vida, sete vezes ele irá buscar, por sete léguas, durante sete dias e sete noites. O filho do Lorde das Trevas sairá em busca de seus pedaços por sete vezes, e seis vezes ele fracassará, e sua alma não poderá descansar enquanto não retorna-lo ou retornar à morte.”

Voldemort percebeu, chocado, que Ann tinha acabado de fazer uma profecia. Uma profecia bastante óbvia, aliás.
Mas Lord Voldemort não tinha filhos! Só Ricky, e ele estava convenientemente morto!

“O que significa isso?” – Gritou para Ann, agarrando seus ombros e a sacudindo violentamente.
“O QUE ACONTECEU? O QUE SIGNIFICA ISSO?” – Gritou Voldemort novamente, sacudindo com mais força a garota assustada.
“O q-que... Eu n-não... Que é que v-você...?”
Então ele percebeu que ela não se lembrava. Não, claro que não. Os videntes nunca se lembravam de suas profecias...
Ann começou a chorar, deixando-o enojado. Mas não podia fazer nada com ela... E se suas visões malucas se provassem verdadeiras?
“Desculpe.” – Disse, sem muita convicção, largando os ombros da garota. - “Você acabou de fazer uma profecia sobre mim”
“Eu fiz?” – Ann perguntou, muito assustada. – “Mas você não deve acreditar nela, sabe... Eu nunca acerto, e dessa vez não será a primeira.”
“Eu não acredito” – Respondeu Voldemort rapidamente, mas era mentira.
Já tinha presenciado uma profecia se cumprir antes, e estava bastante inclinado a acreditar nelas, principalmente se elas envolvessem prenúncios de mortes estranhas.
“Mas acho melhor você não sair daqui. Não queremos que ninguém a leve para longe do seu Príncipe, queremos?”
Ann sacudiu a cabeça numa negativa firme, e abraçou-o fortemente.
Voldemort sentiu ímpetos de afasta-la, mas a garota estava realmente acreditando naquela esparrela de Príncipe, e era a oportunidade perfeita para investigar a garota; sua ascendência e quem sabe aproveitar seus dons de vidente.
Então enfeitiçou uma bandeja de sanduíches para alimenta-la e trancou-a por fora do quarto de hóspedes.
Aquela devia ser, ele calculou, a primeira raptada que queria ser raptada. E rindo para si, resolveu convocar seus Comensais – andava tendo idéias muito curiosas a respeito do que aconteceria se substituísse o sangue de um nascido trouxa pelo de um trouxa comum; idéias que clamavam para serem postas em prática.

[...]

Augusto Rookwood, Antony Dolohov, Avery Nott, Evan Rosier, Abraxas Malfoy e Sean Mulciber, todos devidamente marcados com a Marca Negra e encapuzados de modo a esconderem seus rostos o melhor possível, aparatavam juntos no mesmo instante em frente à sinistra casa no centro de Londres, todos parecendo nervosos e temerosos demais para apertar a campainha.

Quando finalmente Malfoy se dignou a dar um passo a frente e bater na porta, Voldemort já os esperava em sua poltrona de estofado verde em frente à lareira, observando Nagini estraçalhar um camundongo sujando todo o tapete de sangue morno.
“Esse tapete não foi de graça, sabe?” – Disse para a serpente, lançando-lhe um olhar divertido de censura.
Nagini devolveu-lhe o olhar e se arrastou de volta para sua toca no sótão, deixando para trás uma trilha de sangue de camundongo, rapidamente limpa com um aceno da varinha.
Então Voldemort levantou-se e foi atender à porta na qual seus Comensais batiam impacientemente.
“Boa noite, meus amigos.”
Disse, abrindo caminho para que eles passassem.
A mesa, eles puderam reparar, estava posta para sete, embora nenhum deles ali estivesse muito inclinados a aceitar qualquer coisa que Voldemort oferecesse para eles comerem. Antes que algum deles pudesse manifestar seu desagrado diante da idéia de jantar ali, Voldemort tomou a cadeira na cabeceira da mesa e sentou-se, e convocou Hunter, que apareceu com um estalo à sua frente, prostrando-se a seus pés servilmente.
“Sim, meu Senhor Voldemort?”
“Sirva o jantar”
“Sim, meu senhor Voldemort” – E desapareceu com um novo estalo.
Os Comensais estavam todos sentado à mesa e olhavam apreensivos para seu mestre.
“Pedi que nos reuníssemos de novo para determinar as diretrizes de nosso Conselho.”
A curiosidade estampou-se nas faces dos homens, mas eles continuavam a evitar deliberadamente de se olharem.
“Nossa missão é simples” – disse Voldemort, num sussurro letal – “Eliminação – de – toda- a – escória.”
E então, finalmente os olhares dos Comensais se encontraram, e cada um dos bruxos sentados àquela mesa percebeu que não era o único a estar morrendo de medo.
Mas Voldemort tinha se levantado da mesa e encarava as chamas da lareira com uma determinação feroz, que certamente teria feito qualquer criatura viva sair correndo – mas o fogo apenas crepitou alegremente.
“Trouxas. Sangues-ruins. Mestiços. Quero a eliminação de cada um; quero esse maldito mundo puro como o orvalho da primavera” – E deu um sorriso frio ante à cruel ironia.
Os Comensais se mexeram desconfortavelmente. Provavelmente estavam lembrando de que o próprio Riddle era mestiço, mas nenhum deles teve coragem para pronunciar tal verdade em voz alta.
Voldemort continuou encarando as chamas da lareira, mudo, até que um estalo anunciou a chegada do jantar. Retornou à cadeira na cabeceira da mesa, ligeiramente mais alta que as demais, como um trono. Então tomou a taça de vinho e a ergueu num brinde:
“À morte”
Assim fizeram os demais.
“Aos companheiros da morte” – Disse Dolohov, lembrando-se da cabeça de Ernestina Tatler.
“Aos Comensais da Morte” – Completou Voldemort, com um sorriso.

[...]

A primeira missão dos Comensais da Morte seria invadir uma casa trouxa e raptar a família que ali morava. Então eles seriam utilizados em experiências macabras que Voldemort se recusara a contar quais eram.
Naquela noite, três após a última reunião na qual eles haviam sido oficialmente nomeados Comensais da Morte, se reuniam mais uma vez, mais sombrios e encapuzados do que nunca, debaixo de uma ponte na Londres Trouxa, protegendo-se da nevasca daquela noite de Natal. Então, quando o grande relógio bateu meia-noite, e alguns fogos alegres explodiram no céu anormalmente escuro, eles entraram em ação.
Estavam num típico bairro rico trouxa, com suas casinhas tão certinhas e gramados tão bem aparados que refletiam a pálida luz do luar, e as pequenas lâmpadas pisca-pisca com que decoravam suas janelas.
Sorrateiros e silenciosos como sombras, invadiram a primeira casa, onde uma família cheia e alegre repartia um suculento peru para os doze participantes da ceia, rindo e brincando inocentemente.
Estupore!” – Gritaram as sete vozes, e sete trouxas caíram no chão, enquanto os outros cinco gritavam chocados.

Uma senhora muito idosa escorregara da cadeira para o chão, e parecia estar tendo alguma espécie de convulsão, provável resultado do choque da invasão.
“Dê uma folga para a coitada, Malfoy.” – Disse Voldemort, chutando a velha cruelmente contra a parede, sob os olhares aflitos dos demais trouxas.
Malfoy se aproximou, e sem hesitar gritou:
Avada Kedavra
Um flash de luz verde quase cegou os ocupantes trouxas da sala pouco acostumados àquela manifestação inexplicável.
Uma trouxa jovem mais corajosa, porém, se esgueirava em direção ao telefone tentando não chamar atenção para si, mas assim que puxou o aparelho do gancho, Voldemort virou-se para ela, e um olhar e sorrisos cruéis foram suficientes para que a trouxa largasse o telefone de volta ao gancho e se encolhesse contra a parede junto ao resto da família sobrevivente.
“Então... Qual de vocês vem primeiro?” – Perguntou delicadamente, quase gentil, em direção ao grupo apavorado acuado contra a parede. – “Escolha, Malfoy.”
Abraxas Malfoy deu um passo à frente, e apontou a Trouxa corajosa que havia tentado chamar a polícia.
“Certo. E você, Avery, escolha um outro.”
Avery apontou a varinha para um senhor ainda mais idoso, e o estuporou, e jogou seu corpo desacordado sobre a Trouxa petrificada contra o chão, como se fossem um amontoado de objetos inanimados.
“Acho que já temos nossos objetos de estudo.” – Disse, dirigindo um olhar cruel aos trouxas imobilizados. – “Vocês podem se divertir, não tenham pressa”. – E seus olhos brilharam num esgar maligno ao fitar as duas trouxas e o trouxa restantes encostados na parede.
Dolohov deu um passo à frente e agarrou rudemente a jovem trouxa que aparentemente tentava ser absorvida pela parede sólida às suas costas, tal era a força e a determinação com que ela se empurrava para trás, embora fosse impossível recuar mais.

Voldemort sentou-se na poltrona e pôs-se a assistir o terrível espetáculo: Dolohov estuprava a pobre trouxa, enquanto Malfoy tinha tomado a outra e agora alternava Cruciatus com facadas secas em suas costas, formando uma poça do líquido vermelho intenso no chão, num supremo rompante de crueldade fria e maligna. Nott ignorava a cena e agora se ocupava em devorar toda a ceia de natal; Lestrange e Rosier tocavam fogo no segundo andar e Mulciber parecia decidir o que faria a seguir, já tendo cansado de torturar o pobre homem que agora jazia desacordado no ar, pendurado de cabeça para baixo, provavelmente prestes a sofrer um derrame, porque seu rosto estava anormalmente vermelho.

Então, muito rapidamente, quando Mulciber decidia se unir a Dolohov no estupro da jovem trouxa e Voldemort, de costas, avaliava quanto deveria custar aquele belo quadro de Picasso pendurado no Hall, o homem pendurado no ar recuperou a consciência, e uma vez que Dolohov e Mulciber estavam muito ocupados tentando infligir o máximo possível de dor e humilhação à trouxa, se desvencilhou do feitiço e engatinhou até uma mesinha na sala, abriu a gaveta, sacou e armou uma velha pistola, e disparou, a bala indo acertar em cheio o ponto estratégico vital logo acima da nuca de Voldemort, que sentiu o sangue vazar absurdamente rápido, e então escorregou, tendo plena consciência de que se não fossem certas providências tomadas no passado, teria morrido ali e agora.

O Trouxa armado deu um grito de triunfo e se levantou, o que chamou a atenção de Dolohov e Mulciber, que imediatamente apontaram suas respectivas varinhas para o trouxa, e este recebeu dois jatos de luz verde direto no peito, sequer tendo chance de dar o último suspiro.

Mortalmente ferido, Voldemort aparatou de volta para casa com seus Comensais, sangrando aos borbotões.

“O que aconteceu?” – Perguntou um dos comensais, aflito com a quantidade de sangue que vazava de Voldemort.
“Eu fui baleado, seu idiota” – Falou Voldemort muito claramente, não parecendo nem remotamente preocupado. – “Só é preciso um feitiço simples de expulsão da bala e... Ann?! Que é que está fazendo aqui?”
Ann acabara de descer as escadas que levavam ao quarto de hóspedes onde estivera trancafiada até então, recebendo visitas diárias de Hunter. Voldemort quase esquecera que a garota estava lá, preocupado como estava com a primeira operação...
“Emissão Mágica Involuntária” – Ela disse, vagamente – “Não posso usar varinha; elas fazem minhas visões piorarem. O que é que aconteceu com você?” – Ela perguntou, muito preocupada.
“Não foi nada, agora volte para o seu quarto.” – Gemeu, mas só agora percebia como aquela maldita bala doía.
Os comensais olharam para a garota de aspecto meio fantasmagórico e em seguida para Voldemort, como se esperando ordens de como proceder com ela; ordens que não vieram. Ao invés delas, o que Voldemort urrou foi:
“Estão esperando o quê, que eu morra de tanto sangrar?” – Abafou um novo gemido de dor.
Mas após inúmeras tentativas frustradas, Voldemort teve de reconhecer que nenhum de seus comensais era capaz de remover a maldita bala. Estava quase desacordado, quando sentiu-a alojada entre duas vértebras de aparência importante e murmurou alguma coisa sobre não chamarem o St.Mungus.
E então pôde ver Ann se aproximar, e seus Comensais frustrados abriram passagem para a garota determinada, que se aproximou do corpo ensangüentada mais pálida do que nunca, então levantou a mão direita e tocou a testa do bruxo, que tentou tolamente retirar sua mão dali.
“Que está...?”
“Não morra, meu Príncipe Encantado...”
“Não seja boba, eu não vou morrer...”
Ann aproximou o indicador dos lábios pálidos e fez sinal para que se calasse. E então chorou, muda, até que um par de lágrimas cristalinas e salgadas pingou em seu pescoço estraçalhado pela bala, e a bala foi expulsa, e a ferida se fechou imediatamente. Voldemort sentiu a dor ir passando, e até o sangue foi sendo lavado, num riacho de lágrimas que correu por suas costas até se transformar em pura água e pingar no chão como se fosse ele quem estivesse chorando.
Os Comensais assistiam chocados à cena, tão mudos quanto Ann. O único que emitia sons confusos era Voldemort, que não compreendia nada daquilo.
“Mas que m...?”

A garota tinha poderes curativos?

Enfim, Ann parou de chorar, e sua ferida estava completamente curada, e o pescoço intacto, como se nada tivesse lhe acontecido. Lentamente, deixando para trás um Lord Voldemort e seus Comensais da Morte muito assustados, Ann recuou lentamente até as escadas, e subiu em disparada para seu quarto.


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Olá!!
Notinhas, enfim!
Primeiro, a história maluca da maluca da Ann. Posso explicar o surgimento dela basicamente por três motivos:
1. Ainda Faltam décadas até os acontecimentos pré-Harry Potter. Lily e James sequer nasceram ainda, e eu preciso ocupar o tempo até lá hehe...
2. Foi uma esplêndida idéia da dona Nia Riddle, e eu não pude recusar.
3. Me deu na telha, ora bolas :-P
Só quero fazer uma ressalva de que a garota é louca, não tem essa de “Príncipe Encantado”, ela simplesmente tinha umas visões e ouvia umas vozes e acabou indo parar naquela caverna, e por coincidência o Tom acabou encontrando-a lá. Claro que ainda tem muito a ser falado sobre ela, o porquê de ela ser ofidioglota e ter lágrimas com poderes curativos, e mesmo essa “loucura” dela, tudo tem a ver. O problema é que eu ainda não pensei em nada disso, e como a entrada da Ann precisa ter alguma utilidade, talvez o próximo capítulo demore porque eu preciso pensar nisso.
E, humm... Aquele poeminha da maldição (que ficou um lixo completo) foi escrito por mim, num momento totalmente sem inspiração alguma. Ignorem, please ^^
A cena do massacre de trouxas vai ser um dos “feitos” que o Dumbledore cita quando fala com o Voldemort, e eu vou esclarecer isso também no próximo capítulo.
Ah, e sim, tivemos mais uma profecia! Haja profecia nessa história, né? Hehe...
É isso, espero que gostem e comentem. No último capítulo eu consegui os cinco comments!
*Lillith dançando conga*
Sejam bons leitores e comentem, e eu juro que não terá mais poemas toscos, e nem lillith dançando conga hehe...
Beijos,

Lillith R.

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