O animago inesperado



Tom acordou muitas horas depois com alguém batendo tão forte contra sua porta que parecia firmemente decidido a derruba-la.
Percebeu-se enrolado de tal maneira nos lençóis que podia jurar que eles haviam criado vida e o agarrado. De fato, não se lembrava de ter feito um único movimento à noite toda. Aliás, não se lembrava de ter dormido tanto e tão profundamente em toda a sua vida.
“Já acordei.” – Gritou mal-humorado para a alma infeliz que ousava perturbar seu sono.

Encarou o espelho redondo na cabeceira. Sua aparência não tinha mudado muita coisa; exceto, talvez, seus olhos, que pareciam um tanto mais opacos que o normal. Porém, profundas olheiras roxas marcavam seu rosto. Então, enquanto lavava o rosto, as lembranças da noite anterior invadiram sua mente.
Inconscientemente, uma gargalhada brotou do fundo de sua alma (ou do que tivesse sobrado dela). Dumbledore. O que ele faria se soubesse? Provavelmente mais um daqueles discursos amorosos idiotas. Velho tolo. Realmente acha que o amor pode salvar o mundo? Veja onde eu estou, agora, com dezessete anos e praticamente imortal... No entanto, uma constatação incômoda se fez presente. Ele nunca tinha amado. Nem sido amado, ao menos não que soubesse. Talvez Francis... Não. - Sussurrou uma vozinha incômoda em sua mente - Você nunca amou Francis. Nem ela te amou, tampouco... A imagem de cada um de seus amigos também passou por sua cabeça. Não, ele não nutria afeto verdadeiro por nenhum deles. Nem eles, por Tom. Talvez admiração, respeito, inveja. Mas não amor.

O infeliz bateu à sua porta novamente.
“Estou indo!” – Berrou, afundando o rosto numa daquelas toalhas felpudas e macias como só Hogwarts tinha. Sentiu-se idiota por um momento; que uma simples toalha pudesse lhe provocar tal sentimento de nostalgia e tristeza. Mas afinal, Hogwarts tinha sido seu único e verdadeiro lar. No que dependesse dele, jamais voltaria àquele orfanato nojento que não fosse para tacar fogo nele. E o faria da maneira mais trouxa possível; adoraria espalhar pessoalmente combustível ao redor da casa e depois atear-lhe fogo... A cena de um vilão de cinema trouxa ateando fogo no mocinho lhe ocorreu rapidamente, fazendo-o rir.
Então, finalmente, abriu a porta num puxão e dirigiu à pessoa que ousava perturbar-lhe um de seus olhares mais mortíferos, capazes de fazer até o Diretor Dippet se borrar todo.
“O quê...?” – Preparou-se para gritar.
Mas desistiu do barraco quando percebeu que era Slughorn quem lhe batia à porta. Então forjou um sorriso educado.
“Á que devo essa agradável surpresa, professor?”
Slughorn preparava-se para dar-lhe uma bronca, mas a tom de voz de seu aluno preferido lhe amoleceu completamente. O Diretor da Sonserina apenas devolveu o sorriso e disse:
“Seus colegas estavam começando a ficar preocupados com seu silêncio. Eles bem que tentaram arrombar a porta, mas você a tornou totalmente imperturbável. Como já passa do meio-dia, achei melhor vir dar uma olhada...”
O professor espichou o pescoço por cima por cima do ombro de Tom, aparentemente verificando se este se encontrava sozinho. Como sua busca por alguma aluna perdida que porventura houvesse ido parar na cama do monitor não desse resultados, Slughorn apenas acrescentou um comentário:
“Você está com uma aparência horrível, Tom. Não deveria estudar tanto, mesmo com N.I.E.M.´s chegando.”
“Sim, senhor.” – Respondeu, obediente, fechando a porta atrás de si impedindo os olhares curiosos do professor.
Mas Slughorn tinha ligeiras suspeitas de que as olheiras não eram, de modo algum, marcas das noites viradas sobre os livros. Começava a pensar se Dumbledore não teria um tanto de razão no que afirmava sobre Tom. Afinal, teoricamente, ele podia ter matado o unicórnio... Mas afastou rapidamente essa idéia da cabeça. Não Tom Riddle, o aluno exemplar, Monitor, Monitor-Chefe, prêmio por serviços especiais prestados à escola e que em breve ganharia medalha de honra ao mérito junto com seu diploma...

[...]

A neve tinha escolhido aquele exato dia para desabar com fúria sobre o castelo, transformando os jardins em um cenário digno de peso de papel, com floquinhos brancos caindo graciosamente e o lago transformado numa imensa plataforma de gelo esbranquiçado.

Tom se dirigia a mais uma aula nas estufas, perguntando-se se basiliscos sentiam frio enquanto travava um diálogo animado com os colegas sobre o que fariam assim que se formassem.
“Eu já marquei uma entrevista no Ministério. Quero ser inominável, sempre quis saber o que tem de tão interessante naquele departamento de mistérios!” – Dizia Rookwood.
“Já eu” – Dizia Avery Nott – “Quero trabalhar no Gringotes, como meu pai. Ele ganha uma fortuna só para aturar aqueles duendes.”
“Eu vou ser jogador de quadribol. Já tenho fui contratado pelo Puddlemere United como apanhador reserva” – Vangloriava-se Malfoy.
“E você, Voldemort, que vai ser?”
Tom pensou por um momento antes de responder.
“Professor de Defesa Contra as Artes das Trevas, eu acho.”
Professor? Mas os professores ganham uma miséria!” – Protestou Avery.
“É, bem, mas é o que eu gostaria de ser.” – E lançou mais um de seus olhares assassinos. Detestava ser desafiado.
Diante dele, Avery pareceu encolher alguns centímetros.
“Desculpe, eu não quis ofender”
Tom não respondeu. Pelo visto ninguém parecia lembrar que ele não tinha lugar para onde ir, uma vez que teria de deixar o Orfanato ao completar dezoito anos. De qualquer maneira, aquele não era o único motivo por que gostaria tanto de se tornar professor. Sentia uma forte ligação, mesmo carinho, pelo castelo, pelo que a escola lhe representava. E ainda haviam muitos mistérios a serem descobertos e resolvidos, abrigados pelos braços de pedra que foram seus únicos protetores durante tanto tempo...

As estufas eram normalmente envolvidas por um desagradável calor úmido e sufocante, mas o frio anormal mesmo para aquela época fez com que os alunos recebessem de bom grado aquele hálito morno cheirando a algo doce e enjoativo que era o ar da estufa número vinte; a última e que continha as plantas mais perigosas e mortais.

Por fim, quando a professora dispensou-os após uma exaustiva luta contra uma muda de visgo do diabo particularmente teimosa, os alunos do sétimo ano foram chamados ao Grande Salão, onde as mesas tinham sido afastadas exatamente como nos testes de aparatação no sexto ano.

Um cochicho animado corria pelo salão. Eram as tão esperadas avaliações para animagos.
O instrutor era uma velha negra e encarquilhada; os cabelos presos num coque e muito curvada. Lembrava demais um corvo.
A mulher aumentou a voz (que também parecia um grasnido) algumas dezenas de vezes, e o som ecoou pelas paredes de pedra. Anunciou a que viera e como deveria ser realizado o teste. Então apanhou uma lista de nomes e começou a enunciar formalmente cada um deles, enquanto cada aluno em questão comparecia em frente à mesa da avaliadora e tentava realizar seu número.

Numa longa chamada que o fez lembrar-se vagamente do dia da seleção em seu primeiro ano, os alunos foram sendo avaliados, a grande maioria não obtendo sucesso. Quando Ratherwood teve sua tentativa de virar explosivin frustrada e se retirou do salão com o traseiro chamuscado, foi sua vez de comparecer em frente à banca avaliadora.

Durante o que lhe pareceram horas, se concentrou firmemente em seu intuito de virar uma cobra. Afinal, não havia animal mais apropriado, certo?

Quando, de repente, sentiu seu corpo encolhendo; encolhendo e ficando mais próximo do chão. Sua pele tornou-se escamosa e fria. Exultante, Tom virou os agora pequenos e redondos olhos escuros, procurando pelo resto de seu corpo esguio e sem patas, como a cobra que tanto tencionara se tornar.

Mas só o que viu foram os quartos traseiros de um grande dragão-de-komodo.
E certamente, se naquele momento Tom Riddle possuísse sangue suficientemente quente para permitir aquele tipo de manifestação, teria corado como nunca na vida.
Os outros alunos silenciaram por alguns segundos, antes do salão prorromper em cochichos animados. Um lagarto? Merlin, eu virei um lagarto!

A instrutora parecia encantada e preparava sua pena, enquanto do lado oposto, um sorriso irônico brincava nos lábios de Dumbledore.

Então, antes que a Instrutora registrasse Tom Riddle como dragão-de-komodo no grande livro do ministério, ele recuperou o restinho de dignidade que havia lhe sobrado, voltando novamente à sua forma humana, despenteado, amarrotado e totalmente arrasado.
“Não, por favor!” – Ele disse, num tom que soou mais suplicante do que havia planejado.
“Você não quer ser registrado?” – A Instrutora perguntou, parecendo chocada.
“Não” – Respondeu prontamente. – “Não um lagarto, não!”
“Pode deixar, Griselda.” – Intercedeu Dumbledore. – “A intenção desse rapaz era mesmo se tornar outro tipo de réptil...”
Novamente, o olhar de Dumbledore o constrangiu totalmente.
Ainda inconformada, A velha bruxa passou para o próximo nome da lista.

Quando estavam já no corredor, Tom venceu seu orgulho e perguntou, sussurrante:
“Por que um lagarto, professor?”
Dumbledore parou por um instante, antes de responder na voz cordial, porém fria com que costumava falar-lhe.
“Não basta querer se tornar tal animal. Creio que a pessoa tende a virar o animal com que mais se parece.”
“Certo, então eu sou preguiçoso e comilão?” – Perguntou, cheio de desprezo e mágoa na voz, mesmo sabendo que não era nenhum dos dois.
Novamente, Dumbledore pensou por um instante antes de responder; a voz ainda mais fria e dessa vez traindo um certo desprezo:
“Não, mas é capaz de abater presas muito maiores que você e envenenar aqueles que escapam de suas garras.” – Com essas palavras, o professor tomou a escada que levava à Torre da Grifinória, deixando Tom sem saber o que dizer.

[...]

Seus colegas, ao contrário dele, acharam o fato de Tom poder virar um lagarto um fato muito excitante. E de nada adiantava explicar que como legítimo Herdeiro de Slytherin, não tencionava ser outra coisa que não uma serpente, quiçá um basilisco. E que um lagarto era decididamente humilhante. De qualquer maneira, ele tinha sido o único a conseguir se transformar em algo melhor que um besouro, que de certa forma servia de consolo.

Mas logo os esperados exames de N.I.E.M´s chegaram, e naquela noite (exatamente oito após a avaliação de animagia do Ministério), véspera do exame de Defesa Contra as Artes das Trevas, os alunos do sétimo ano se achavam enterrados sob uma montanha de livros e pergaminhos, tentando absorver as últimas gotas de conhecimento que seus cérebros encharcados pudessem conter. E Tom não era exceção; achava-se com a cabeça enfiada num grosso exemplar de “Poções mui potentes”, repetindo mentalmente os ingredientes da Poção Polissuco, quando teve seus pensamentos interrompidos pela fala cansada de Avery, que ao contrário do resto dos alunos, tinha desistido totalmente de tentar estudar alguma coisa de última hora – não que ele tivesse estudado alguma hora.
“Você devia parar com isso. Já passou mesmo, vai ser condecorado e tudo... Em seu lugar, eu estaria passeando em Hogsmeade com os outros...”
“Então vá você passear em Hogsmeade” – Rosnou – “E depois não me venha pedir cola na hora da prova.”
Avery deu de ombros e continuou a observar os colegas histéricos, enquanto abatia moscas com a varinha. Em dado momento, porém, ele olhou o relógio (um rolex de ouro maciço, diga-se de passagem) e pôs na face uma expressão de profunda preocupação, saindo correndo e tomando o caminho do corujal.

Isso o intrigou profundamente. Primeiro, parecia abandonar completamente os estudos – não que Avery algum dia tivesse sido estudioso, mas como todos, tentava se garantir. E agora, mais essa. Então largou o “Poções mui potentes” e saiu atrás do colega sem ser visto.

Como previra, Avery estava no corujal. Puxava um envelope bem grande das vestes e olhava repetidas vezes no relógio.
“Que está fazendo?” – Perguntou Tom, saindo das sombras, fazendo Avery derrubar o pacote.
“N-nada...” - Gaguejou nervoso.
“Fale a verdade!” – gritou, no tom que costumava usar.
“Não é n-nada, sério...”
Mas Tom pôde facilmente identificar o conteúdo do envelope: um Avada Kedavra. Um feitiço contido num envelope, enfeitiçado para ser ativado às oito em ponto, matando quem estivesse com o envelope nas mãos. Endereçado a Grindewald.
“Seu idiota, estúpido, tapado!” – Gritou Tom, perdendo o controle e erguendo Avery pela camisa contra a parede. O garoto fechou os olhos, aparentemente temendo um murro ou coisa do tipo.
“Tem noção do que pode acontecer se esse envelope cair em mãos erradas? Você tem noção da merda que fez, Nott?
Feitiços envelopados não podiam ser desfeitos; a idéia era que o recebedor da encomenda não tivesse como evitar seu “presente”.
“E-eu só... Eu disse a você o que aconteceu...” – Justificou Avery.
“Você acha mesmo que Grindewald vai receber isso em mãos?” – Perguntou Tom, furioso, apertando mais ainda o colega contra a parede. Nesse momento, o gongo bateu oito horas.
“Vê o que vai acontecer agora? Alguém vai ter que abrir isso de um jeito ou de outro.”
Então Avery começou a chorar baixinho, profundamente arrependido.
“Se isso não fosse fazer a Sonserina perder uns mil pontos, eu bem que levaria esse envelope a Dumbledore.” – Cogitou Tom, imaginando a cena. “Por hora eu vou levar esse maldito envelope lá pra baixo e esconder. Se depois que eu me for, algum infeliz abri-lo, pouco posso fazer. Mas enquanto eu estiver aqui dentro, não posso deixar isso acontecer.” – Disse Tom, encerrando a questão e largando Avery, que escorregou pela parede, ainda lamentando.
Pegou o envelope com cuidado e guardou-o no bolso, levando-o para as masmorras. Porém, antes que chegassem ao Salão, foi a vez de Avery encosta-lo na parede. Sua expressão era intensa, quase desvairada, como no dia do trem em que Tom prometera-lhe ajuda para vingar a morte da mãe.
“Você prometeu me ajudar” – Ele falou, ofegante.
“Sim, só que eu ainda não tive a oportunidade...” – Respondeu Tom, aturdido.
“Você... Você faria um Voto Perpétuo?”
Um Voto Perpétuo? Está falando sério?” – Mas a expressão de Avery não podia ter deixado mais claro que ele estava falando sério, muito sério.
Tom avaliou suas possibilidade e o que teria a ganhar com isso. Quando uma idéia maluca, desvairada, passou por sua mente...
“Eu faço... Eu faço o Voto Perpétuo. Com uma condição.” – Respondeu Tom lentamente, avaliando a expressão do colega.
“Qualquer coisa” – Respondeu Avery, a expressão obstinada e o ar maníaco.
“Você deve me jurar lealdade eterna.”
Avery sequer hesitou.
“Qualquer coisa” – Repetiu.

Àquela altura, já tinham chegado ao Salão Comunal. Tom chamou Rodolfo Lestrange, que também estudava seu “poções mui potentes”. Sem entender nada, subiu com os outros dois para o quarto de Monitor Chefe, onde Tom trancou a porta.
“Você sabe o que fazer, Avery” – Disse Tom, soturno. “Talvez Rodolfo concorde em ser nosso Avalista.”
Lestrange arregalou os olhos, mas não disse uma palavra. Tom e Avery deram as mãos.
“Você fará o possível para me ajudar a vingar a morte de minha mãe?” – Perguntou Avery, tremendo descontroladamente.
“Farei” – Respondeu Tom.
“E não hesitará se tiver de matar o assassino?”
“Não hesitarei” – Respondeu novamente. “E você, Avery Nott, jura-me lealdade eterna, nem que para isso tenha de dar a própria vida?”
“Sim”
As linhas de fogo saíram da ponta da varinha de Rodolfo, envolvendo as mãos como um laço flamejante, que brilhou por um momento antes de se desfazer.

[...]
Hogwarts estava esplendorosa àquela noite. O teto decorado com mil morcegos vivos parecia ter criado vida; as velas iluminavam o salão como se fogos estivessem sendo acesos ali e os alunos em suas melhores vestes de gala sorridentes e brilhando como nunca, felizes e contentes em sua formatura. O único que, por motivos óbvios e já citados, não estava contente em ter de deixar o castelo era Tom Riddle.

Soberbo em seu terno preto Tom andava pelos jardins onde um palco havia sido montado e o coral da escola iria se apresentar mais tarde, um copo de uísque de fogo na mão e uma expressão desolada.
Era como deixar um ente muito querido para trás, sabendo que sua probabilidade de reencontra-lo era muito pequena. Ainda assim, mesmo sabendo que o diretor Dippet nunca admitiria alguém recém-formado no staff, tinha enviado uma cópia de seu “currículo” naquela tarde, na esperança de ficar ali e ensinar Artes das Trevas às novas gerações.
A professora Merrythought estava se aposentando, de qualquer maneira, e Tom conhecia mais sobre as Artes das Trevas do que eles podiam imaginar – se quisesse, passaria no teste para Auror do Ministério sem sequer estudar. Mas não havia ocupação mais imprópria para ele como ser auror.

É claro que tinham chovido propostas de emprego, principalmente de Slughorn e seus “associados”, mas sinceramente, também não se via trabalhando no Ministério, não, política realmente não era com ele, embora fosse sedento de poder, era necessário ter escrúpulos que ele decididamente não tinha, para ocupar as altas posições.

O coral subira no palco e tocava uma música alegre enquanto os formandos mais animadinhos acompanhavam os cantores com a letra do hino de Hogwarts, segurando na mão e exibindo orgulhosamente o diploma. O seu, no entanto, já estava guardado na mala, junto com a medalha de honra ao mérito por ocupar o cargo de Monitor Chefe e obter excelentes resultados em todos os anos, esperando para ser levado de volta ao mundo trouxa no dia seguinte – onde teria de permanecer até dezembro, quando completaria dezoito anos e pelas leis trouxas, poderia ser liberado do Orfanato. Nada, porém, o impedia de concretizar suas idéias mirabolantes de destruí-lo.

O diretor Dippet subira no palco, arrancando aplausos entusiasmados dos alunos já um tanto altos por conta da bebida, e começou seu discurso emocionado:
“Eu me lembro de quando recebi a carta me chamando para Hogwarts. Foi uma emoção tão grande, sentar naquele mesmo banquinho, ter na cabeça aquele mesmo chapéu, emoção esta só comparável à que vocês devem estar sentindo agora... Passo a palavra ao recém-nomeado vice-diretor, nosso caro Alvo Dumbledore...” - E então retirou-se, às lágrimas, acenando aos alunos.
Tom perguntava-se se Dippet faria aquele mesmo discurso todo santo ano, quando notou Dumbledore e suas chamativas vestes púrpura subindo no palco.
“Meus caros alunos e alunas... O que posso falar sobre Hogwarts? É simplesmente o melhor, e por que não dizer, mais mágico lugar em todo o mundo! Como a freqüentei há bastante tempo, receio não compartilhar com exatidão do mesmo sentimento que vocês. Por que então não pedir o testemunho de um aluno? Passo novamente a palavra que me foi tão gentilmente cedida pelo Diretor Dippet, dessa vez para Tom Riddle, aluno querido, monitor, Monitor Chefe, vencedor do prêmio especial por serviços especiais prestados à escola e tantos outros méritos, demais em quantidade para que possamos enumerar aqui sem ter de tomar a última e mais divertida noite de formatura de vocês com discursos chatos de um velho bobão como eu. Por favor, Tom.” – Disse Dumbledore, sorrindo o sorriso calmo de sempre, mas deixando transparecer na voz e no olhar o desprezo e a fina ironia, perceptíveis apenas pelo Monitor.
Tom hesitou um pouco, mas corajosamente deu um passo à frente e subiu no palco. Apontou a varinha para a garganta e murmurou um feitiço mudo, fazendo a voz aumentar magicamente. Lançando um olhar desafiador (respondido com mais um sorriso debochado de Dumbledore), Tom começou:
“Bom... erm... Em primeiro lugar, boa-noite a todos. Diante de todos vocês eu só posso me sentir mais feliz do que nunca, relembrando todos os bons – e maus – momentos que vivi aqui, que foi meu verdadeiro lar. Gostaria também de agradecer ao Professor Dumbledore à grande oportunidade que me deu de aprender tudo o que sei e de me tornar quem eu sou.” – Disse, mordaz.
Dumbledore não pareceu gostar muito daquelas considerações sobre sua responsabilidade na formação do caráter de Tom. Mas ele continuou:
“Durante esses sete anos que – e agora faço minhas as palavras do Professor Sulghorn, espero que esses tenham sido os sete anos mais proveitosos de nossas vidas – Pude aprender um pouco dos mistérios que nos cercam e espero ter tirado o máximo de proveito deles, honrando minhas origens devidamente. Boa-noite a todos e um adeus especial ao Professor Dumbledore. Espero que não me esqueça, Professor.” – E com essas palavras, uma confissão íntima que apenas Dumbledore compreendeu, Tom Riddle desceu do palco, agora bem mais animado e disposto, ao ver o sorrisinho irônico do vice-Diretor desaparecer.
O coral, agora substituído por uma orquestra, tocava uma música agitada e dançante. Sorrindo, Tom estendeu a mão para uma bela Corvinal ruiva vestida de azul-marinho e tirou-a para dançar, esquecendo completamente de seus problemas.

[...]

O dia seguinte amanheceu cinzento e frio. Tom foi o primeiro a acordar, e na verdade, o primeiro a faze-lo antes do meio-dia, já que todos os formandos deviam estar curtindo uma boa ressaca, enquanto os alunos dos outros anos já tinham sido mandados para casa.
Acordou com uma coruja batendo insistente contra a vidraça. Era uma coruja desconhecida, porém estranha às da escola. Levava uma carta amarrada na pata com firmeza.

Prezado Senhor Riddle
Em virtude da garantia feita a nosso associado Caractus Burkes há três verões exatos do pagamento da outra metade de uma certa quantia em ouro, em troca de certa informação confidencial (que pode, inclusive, deixar o senhor em maus lençóis se cair em ouvidos impróprios), solicito a cessão imediata do valor mediante quantia em dinheiro vivo (160 galeões, sete sicles e dois nuques) ou pagamento em forma de trabalho e/ou favores.

RSVP*
Atenciosamente,
Borgin&Burkes


Tinha se esquecido completamente!”
No verão de seu quarto ano, antes de entrar no quinto, antes até de abrir a Câmara Secreta, tinha pago uma boa quantia em ouro para Burkes em troca de auxílio para manusear o livrinho se Slytherin que lhe foi tão útil, mas esquecera-se de voltar e pagar a outra metade. E de algum jeito (e jeitos não faltavam de se descobrir uma coisa, trabalhando naquela loja), Burkes tinha descoberto que seu palpite estava correto. E agora, sem ouro (cervejas amanteigadas, vestes de gala e livros de Magia Negra avançada eram caros, oras!), teria de pagar com o próprio suor. Sabia que não tinha chance; Burkes tinha seus meios de garantir que devedores lhe pagassem, disso Tom tinha certeza.
Droga!

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Pronto, finalmente encerramos a temporada Hogwarts de Tom Riddle! A partir daqui Tom deixa de ser Tom e vira Voldemort de vez.
Podem perceber que ele já começou a arrumar seus primeiros seguidores, mas ainda não tomou um rumo na vida – é disso que eu vou tratar no próximo capítulo.
Ah, sim, e pra quem não sabe, RSVP é “Respondez s´il vous plâit”, ou seja, “Responder por favor”, uma sigla geralmente colocada em convites.
Ah, e PELO AMOR DE DEUS, COMENTEMMM!!!!
Kisses,
Lillith Riddle
;)

p.s.: Se alguém quiser mais informações sobre dragões-de-komodo, entre aqui: http://www.saudeanimal.com.br/komodo.htm

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