O Herdeiro de Riddle



O imponente trem vermelho esperava na estação 9 ½ como sempre, lançando suas baforadas de fumaça cinzenta no céu claro. O maquinista gritava por aqueles que ainda estivessem ocupados se despedindo dos pais, então, às exatas onze em ponto, o trem deu a partida e moveu-se lentamente em linha reta até sair da estação, ganhando velocidade até que finalmente só o que se via eram bonitos campos verdes e plantações de trigo dourado.
A cabine onde Voldemort costumava sentar era sempre a mais cheia de Sonserinos entrando e saindo para falar com seu Monitor ou a turminha que o cercava.
Formavam um grupinho de certa forma, indigesto. Não que realmente fizessem alguma coisa contra qualquer um – exceto, claro, aos calouros do primeiro ano, mas esses eram vítima de qualquer outro com um pouco menos de solidariedade. Voldemort os controlava para que nunca fossem apanhados no ato. Mas havia sempre muitos incidentes. Como quando Lestrange transformou o dever de casa de um grifinório em um desenho muito obsceno de seu professor tomando banho, ou quando este mesmo entrou na cozinha sorrateiramente e despejou poção anti-prisão de ventre na tigela de mingau que ia para a mesa da Grifinória. Essa lembrança o fez sorrir, quando entrou na cabine e deu de cara com seus colegas todos sentados ao redor de Avery. Ele estava com os olhos muito inchados e uma expressão de revolta nos olhos. Seu rosto estava marcado pelas lágrimas secas.
“O que aconteceu?” – Perguntou numa voz pretensamente preocupada.
Avery não levantou o rosto. Apenas respondeu:
“Grindewald. Ele matou minha mãe”. – Havia um profundo tom de raiva, nojo e revolta com que pronunciou aquelas palavras.
“Mas por que ele fez isso?” – Perguntou, preocupado. Nenhum de seus amigos sabia de suas aulas com o Bruxo das Trevas.
“Minha tia se aliou ao exército de Dumbledore, então minha mãe foi designada para mata-la. Mas ela não quis, então ele a matou. Aquele velho maníaco desgraçado...” – Avery cuspia nas palavras.
Por um momento, sentiu pena do garoto. Ele sabia o que era não ter mãe.
“E o seu pai?” – Perguntou.
“Ah, meu pai achou ótimo! Disse que não deveríamos nunca descumprir as ordens de Grindewald, aquele filho da...” – Mas não completou a frase. Começou a tremer numa série interminável de soluços.
Quando Riddle fez menção de se afastar e sentar no banco à frente, Avery o agarrou pela manga no casaco trouxa que ainda usava, e disse, encarando-o olho no olho, com ferocidade:
“Me ajude, Voldemort. Eu quero me vingar.”
Poucas vezes Riddle vira qualquer um de seus pretensos amigos lhe dirigirem tal olhar. Havia ódio marcado nas faces de Avery e ele estava falando sério. Pesou sua resposta por um momento. Ele era grato a seus amigos, apesar de tudo.
“Eu vou te ajudar, não se preocupe. Não é mais do que a minha obrigação.” – E deu um trejeito de sorriso. Mas Avery continuou a olha-lo alucinado e pediu mais uma vez:
“Eu quero ver Grindewald morto...”
Voldemort se surpreendeu com aquelas palavras.
“Isso está além de meus poderes, Avery.” – E então teve uma súbita visão de Grindewald bebendo um cálice de absinto envenenado – “Ou talvez, não.”
Avery permaneceu o resto da viagem calado. O clima tenso entre eles se dissolveu rapidamente após a passagem do carrinho de guloseimas, mas seus outros colegas não paravam de lhe encarar, tentando adivinhar o que significava o “talvez não”, mas nenhum deles com coragem de perguntar.
A viagem prosseguiu lenta. Por fim, com meia hora de atraso devido à chuva forte que caía, o Expresso de Hogwarts chegou à estação. Os alunos desceram e tomaram as carruagens, apressados em busca do calor reconfortante do salão.
A seleção prosseguiu como de costume, com os pirralhinhos todos molhados até os ossos e tremendo de frio. No final, junto com a insígnia de cada casa, receberam vestes secas direto da lavanderia. Felizes, os novatos se sentaram na grande mesa de sua casa e começaram a devorar o delicioso banquete que se materializara diante deles magicamente.
Riddle também saboreou o banquete com prazer. Sentira saudade; estava em fim de volta ao lar.

[...]
Mais ou menos duas horas depois, Tom berrava com os novatos reunindo-os numa fila só para leva-los ao dormitório. Ele podia jurar que eles encolhiam cada vez mais. Estava terminando de ameaçar azarar um novato particularmente teimoso quando Francis Finningham cruzou seu caminho e o impediu de continuar descendo as escadas em direção às masmorras.
“Espere, eu preciso falar com você”. – Ela disse, apoiando as mãos nos joelhos para respirar melhor.
O que diabos aquela garota queria?
“Agora não vai dar”. – Disse, apontando para a fileira de novatos assustados que conduzia.
“Eu quero te pedir desculpas...” – Francis falou, ignorando o último comentário de Tom.
Aqui não!” – Respondeu entre os dentes. Os novatos começavam a mostrar sinais de interesse na sua conversa. Mas a garota o ignorou mais uma vez.
“Desculpa. Por favor. Foi aquele ataque ao James, me abalou realmente, sabe...” – Ela continuou, elevando uma nota a voz e carregando no tom melodramático.
“Sai da frente, Francis, a gente se fala amanhã com calma”. – Disse, tentando manter a calma.
Francis saiu, mas dirigindo-lhe um olhar mortificado e carregado de significados. Cochichou alguma coisa para uma amiga e então se misturou à massa de estudantes mais velhos que seguia os calouros.
[...]
No dia seguinte, após as aulas da tarde Francis foi procura-lo novamente. Dessa vez havia um ar de determinação cercando-a, de tal modo que Riddle nada pôde fazer para impedi-la de começar a jorrar palavras e mais palavras a respeito de qualquer coisa. Ela parecia ter tomado a poção tagarela.
“...e então eu me senti tão culpada quando James foi petrificado, sabe, quer dizer, tudo bem, ele foi recuperado e agora está bem, mas foi pior, agora eu sei que ele é um idiota insuportável, com aqueles papos sensíveis e intelectuais, ele é simplesmente tão chato! E depois teve o Willian, aquele de Hogsmeade, ele parecia tão legal...”
Ela falava, falava e falava. Realmente, só Merlin sabia quanto tempo ele teria esperado na noite anterior até perder a paciência e estupora-la. Era uma pena que ali diante de tanta gente ele não pudesse lançar outro cruciatus nela. Apesar de que achasse que ela ia gostar. E era isso que começava a pensar em fazer, quando ela finalmente interrompeu o fluxo de frases:
“...então eu percebi que quero ficar com você, eu gosto de você...”
A garota suspirou melancolicamente e levantou o olhar, procurando o rosto de Voldemort, que permanecia impassível. Ela então aproximou o rosto do de Riddle, preparando um grande beijo, mas para sua surpresa, o rapaz esquivou-se.
“Era isso o que tinha para me falar?” - Perguntou finalmente, mordaz.
Então a fúria subiu à cabeça de Francis e ela gritou:
“Seu insensível desgraçado! Você se acha muita coisa, Tom Riddle! Você me disse uma vez que eu não era nada, mas nada é você! Eu devia....” – Ela parou por um instante, tomada de soluços e tremendo – “Eu devia ir direto ao diretor contar o que você fez comigo!”
Então Tom a tomou nos braços e lhe deu um grande beijo, calando a boca da garota com a sua. Quando Francis ainda estava de olhos fechados, puxou sua varinha e apontou para a cabeça da garota, murmurando “Obliviate” ainda com os lábios colados nos dela. A cabeça dela pareceu girar solta no pescoço por um momento, mas ela rapidamente voltou a si. Não tinha perdido toda a memória como acontecia com quem era submetido a esse feitiço mal-feito, mas perdera apenas a lembrança daquela tarde em Hogsmeade. Então finalmente Francis despertou de seu torpor e abriu os olhos, separando as bocas. Ela deu um sorriso e perguntou com a voz baixinha e infantil:
“Isso é um Sim?”
Tom riu e respondeu:
“Isso é só pra você sentir o gostinho do que não pode ter.”
E então saiu correndo e rindo alto, evitando os objetos e azarações que a garota enfurecida atirava em sua cabeça.

[...]

O primeiro passeio a Hogsmeade não tardou a acontecer. Foi numa tarde fria e ventosa de outono, quando as folhas avermelhadas das árvores caíam aos montes e formavam pequenos morros em que os alunos mais novos se jogavam. Assim, foi com grande prazer que Tom Riddle se sentou na maior mesa do Três Vassouras, cercado de seus “amigos” para saborear uma deliciosa caneca de Cerveja Amanteigada. Acabava de contar os colegas os detalhes sórdidos de seu envolvimento com Francis (exceto a parte em que jogara a maldição Cruciatus nela), sentindo-se vingado. Se ela era uma vadia, seria reconhecida como tal.
Falando no diabo...” – Disse Rookwood, indicando com a cabeça a garota loira que acabara de entrar cercada de colegas. Elas cochicharam entre si e deram um olhar bravo para Tom, que retribuiu com uma reverência sarcástica, fazendo a mesa cheia de garotos explodir em risadas.
“Mas não vamos mais gastar saliva à toa, meus caros. Diga-me, Rodolfo, como andam as coisas no ministério?”
“Ah, nada boas, nada boas. Eles andam tendo problemas com um cara que fica azarando trouxas em Little Hangleton. Recém-saído de Azkaban, sabe.”
“Little Hangleton? Mas achei que lá só vivessem trouxas!” – Disse, curioso.
“Não, tinha uma família bruxa morando lá. Os Gaunt. Mas aí o velho Servolo e o filho Morfino foram presos e a filha deles, sei lá qual é o nome dela, sumiu do mapa. Faz muito tempo isso. Meu tio me contou que os trouxas disseram que ela tinha enfeitiçado o filho do cara mais rico do lugar e então fugiram. O trouxa voltou um ano depois totalmente perdido, acredita? É claro, essa história é bem antiga... Meu tio me contou essa história, foi ele que prendeu o tal Morfino.”
Então uma sensação de dèja vu percorreu sua mente. Servolo era o nome de seu avô, o qual sua mãe havia homenageando lhe batizando igual. Gaunt era o ramo perdido dos Slytherin, a família de sua mãe. Bingo!
“Augusto... Me conte mais... Qual era o nome desse cara que essa mulher fugiu?”
“Ah, não lembro... Mas porque você está tão interessado?”
Os olhares curiosos de seus amigos recaíram sobre si.
“Por nada, por nada.” – E sorriu afetadamente. Mudou bruscamente de assunto – “Então, quem foi afinal o campeão da liga desse ano?”
Os colegas acharam estranho aquele súbito interesse de Tom por quadribol. Quando Lestrange ia comentar esse fato, foi interrompido pela fala da garçonete:
“Aquela simpática mocinha ali está lhe enviando isso aqui” – E pousou uma generosa garrafa de hidromel envelhecido, do tipo mais caro, na mesa. Depois apontou para Francis que fingia conversar com as amigas. – “E ela mandou dizer que é só pra você.”
A ala masculina da Sonserina caiu na risada. Inclusive Tom Riddle, que fez questão de acrescentar um comentário mordaz, antes de se servir da garrafa:
“Ela realmente achou que eu valesse só uma garrafa de hidromel?”
“Você pode não valer, mas a sua cama vale!” – Acrescentou Avery, fazendo a turminha cair na gargalhada novamente.
A última coisa que Voldemort se lembrou foi de ter socado Rodolfo com força por ele ter chamado Francis de vadia e de ter saído sozinho abraçado com ela dali, para algum outro lugar sob os olhares atônitos dos colegas e risinhos das garotas amigas de Francis.
[...]
Acordou com um intenso raio de sol incidindo diretamente no seu olho direito e a primeira coisa que sentiu foi uma grande dor de cabeça. A segunda, foi a consciência de que estava completamente nu e numa cama desconhecida.
Ainda lesado de sono, se virou para o lado perguntando-se se não estaria sonhando, mas a visão que teve o fez acordar definitivamente. Era Francis. Nua.
“SUA BRUXA DESGRAÇADA! O QUE VOCÊ FEZ COMIGO? ONDE EU ESTOU?!”
A garota espreguiçou-se e gemeu, dando um intenso e sonoro bocejo. Piscou os olhos duas vezes e falou calmamente:
“Bom dia, flor do dia.”
E então Riddle levantou-se da cama num salto, embrulhando o corpo nos lençóis brancos, olhando ao redor alucinadamente; os olhos arregalados fitando a jovem bruxa estendida na cama parcamente coberta pelo edredom.
“Estamos em Hogwarts, querido. Na sala precisa. Aquela a qual você me apresentou ano passado, no dia do baile” – E acrescentou mais umas risadinhas agudas e irritantes.
O hidromel. Claro! Como se deixara enganar tão facilmente?
“O que tinha no hidromel?” – Perguntou em voz baixa, contendo toda a sua raiva. Vasculhou a sala com os olhos a procura de suas roupas. Sentiu-se levemente desesperado quando não as encontrou. Precisava delas, e mais do que nunca, precisava de sua varinha.
“Como assim o que tinha no hidromel?” – Ela perguntou inocentemente, fazendo uma tentativa de olhar provocante.
Então lembrou-se. Flashes vieram à sua cabeça como num flashback de um filme trouxa.
O hidromel. Depois, o soco em Avery. O desespero e a paixão obsessiva com que tomara Francis e a puxara de volta para o castelo. A tapeçaria e atrás dela a entrada para a sala precisa. As roupas sendo deixadas para trás e o desespero, o contato entre os corpos e... Preferiu barrar as lembranças por aí. Sabia perfeitamente bem o que acontecera daí em diante. Então uma palavra apareceu em sua cabeça:
Amortentia. Sua vadia desgraçada, você colocou uma poção do amor no hidromel!”
Francis riu de um jeito meio histérico.
“Mas aposto como você gostou, não foi?”
Ele não respondeu.
“Eu quero minhas roupas. E minha varinha. Agora.” – Ordenou, no tom de voz mais autoritário que conseguia fazer naquele estado. É, provavelmente ele tinha gostado um bocado, mas não gostava de ter sido enganado daquela maneira tão óbvia. E queria ir embora dali o mais rápido possível. Sentiu uma onda de vergonha subindo por seu rosto quando pensou no que seus colegas iriam lhe dizer. Francis porém parecia ter sido gravemente ofendida:
“Ah, Tom! Você não presta mesmo!” – Ela bufou. – “Eu te dou a primeira e mais maravilhosa noite de amor da sua vida e você me trata assim!”
“Não foi”
“Não foi o quê?”
“Não foi a primeira noite de amor da minha vida” – Mentiu. Seu orgulho masculino havia sido gravemente ferido.
“Ha!” – Ela bufou mais uma vez, irônica. Então materializou suas roupas do nada e entregou-as, furiosa.
“Pode ir. Eu não me importo nem um pouco. Pode ir” – Ela falou, com uma nota de desespero na voz. Mas ela pelo visto se importava bastante, pois sua voz soara trêmula e descontrolada e lhe caíram lágrimas dos olhos.
“Ótimo, então. Eu vou indo!”
E acabou de se vestir, saindo com pressa e batendo a porta com força na cara da garota.

Quinze minutos depois ele chegou no Salão da Sonserina. Ainda era bastante cedo, portanto ele constatou aliviado que ninguém estava acordado. Talvez pudesse fingir que tinha passado a noite no dormitório. É. Não foi assim tão mau..., pensou.
Ledo engano.
Seus colegas o receberam com uma chuva de travesseiros em sua cabeça, urras e mais garrafas de bebidas.
“E então, como foi?” – Perguntou Rookwood num tom debochado.
Foi bom pra você?” – Perguntou Avery imitando uma voz feminina. O dormitório explodiu em risadas.
Voldemort então foi tomado de cólera. Aqueles idiotas não percebiam?
“Tom, oh, Tom, isso, Tom!” – Gritava Lestrange, numa imitação um bocado obscena da voz de Francis. Mais uma série de risadas.
“PÁREM!” – Gritou, nervoso. - “Foi uma poção do amor, o que ela me deu! E vocês nem sequer perceberam! E se tivesse sido uma poção da morte? Eu não lhes ensinei nada? Eu podia ter sido envenenado, ou... ou sei lá!”
Seus colegas o encararam preocupados por um momento. Pararam de rir. Voldemort suspirou aliviado. Finalmente eles entenderam o porquê de sua preocupação. Então Avery falou:
“Qual é, cara?” – E os colegas desataram em risadas novamente, atacando-o com uma nova chuva de almofadas.
Riddle ainda explodiu uma almofada com a varinha, antes de ceder às gargalhadas também e começar a narrar tudo o que se lembrava aos colegas.

[...]

Não se voltou a falar do ocorrido naquela noite. Em parte porque ele mesmo não se lembrava de muita coisa devido ao efeito da poção combinada com o álcool do hidromel, e também porque deixara bastante claro que não queria mais responder perguntas sobre aquilo. Ainda se sentia levemente constrangido. Francis também não havia mais o procurado.
Mas algo ainda não tinha saído de sua cabeça: A história que Lestrange havia lhe contado, sobre a bruxa que enfeitiçara o trouxa e fugira. Ela era filha de Servolo – O nome de seu avô, e Gaunt. Aquela era sua mãe. Precisava encontrar seu maldito pai trouxa e mata-lo. Precisava vingar sua mãe.
Naquela tarde foi à biblioteca pesquisar sobre Little Hangleton. Se suas suspeitas se confirmassem, encontraria algo sobre a família Riddle, que dominava o lugar. Pesquisou em diversos livros, mas todos só se referiam a famílias bruxas. Quando estava quase desistindo, lembrou-se do livro trouxa que roubara da biblioteca do orfanato - Nobres Famílias da Grã-Bretanha. O livro de papel e escrita esquisitos, em que ele não conseguira achar o verbete Riddle. O papel ele reconheceu como pergaminho. Estranhou – o que raios um livro bruxo estaria fazendo no meio de uma biblioteca trouxa? Mas acabou convencendo-se de que aquele livro deveria teria ido parar lá por engano. Quem sabe não teria passado mais algum bruxo por aquele orfanato?
Com algum esforço conseguiu identificar as palavras na contra-capa do livro:
Apenas as famílias bruxas que deram continuidade à linhagem ou aquelas com mais de um membro estarão representadas nessas escrituras
Estranhamente, encontrou facilmente o verbete “Riddle”. Abaixo do grande nome representado em letras góticas, haviam apenas dois nomes:
Tom Servolo Riddle
(?) Riddle

Um ponto de interrogação. Mas o que aquilo poderia significar?

[...]

Francis Finningham corria mais uma vez para o banheiro. Era a terceira vez naquela semana que era obrigada a sair da aula antes que vomitasse a sala toda.
Inclinou a cabeça para dentro do vaso e botou para fora todo o café da manhã. Sentia-se nauseada. Seu espelho mostrava um rosto muito pálido e olhos entreabertos. Deixou-se escorregar pela parede. Ainda não procurara a enfermeira. Temia pelo que pudessem significar aqueles enjôos matinais. Mas ela sabia, que no fundo, o que Michelle havia lhe dito era verdade. Só há uma doença cujos sintomas são enjôos e atraso de regras. E não é exatamente uma doença.... As lágrimas brotaram dos olhos de repente e ela chorou com vontade. O que haveria de fazer da vida?

[...]

Naquele mesmo dia Tom Riddle foi encurralado na saída da aula de poções pela colega. Francis tremia da cabeça aos pés e chorava, chamando a atenção dos colegas. Ele mandou que se afastassem dali e então, permitiu que ela falasse.
“O que aconteceu?” – Perguntou, rispidamente.
Mas a garota enterrara o rosto nas mãos e não conseguia parar de chorar como uma criança.
“Vamos, fale logo, eu não tenho o dia todo!” – Ordenou-lhe novamente.
Francis respirou fundo.
“E-eu e-estou...Eu estou gra-grávida...”
Uma poção do catatônico não teria feito mais efeito em Voldemort do que aquelas palavras. O Monitor ficou parado por instantes sem saber o que falar. No fundo, esperava que ela tirasse as mãos do rosto e gritasse “Primeiro de Abril”. E foi só quando ele lembrou que ainda estavam em dezembro que falou alguma coisa:
“Tem certeza?”
“É claro” – Respondeu ela, com aguda ironia.
“Digo, tem certeza de que eu sou o pai?”
“Com licença, eu acho que tenho total condição de saber que é o pai do meu filho!” – Disse, sentindo-se profundamente ofendida – “E existem feitiços simples se você quiser uma prova!”
Voldemort não respondeu. Ela tinha razão.
“Quem mais sabe?”
“Só eu e você.”
“Tira. Aborta. Você não pode ter esse filho...” – Disse, desesperado. Sentia-se como se o chão tivesse se aberto debaixo de seus pés e caísse num poço sem fundo.
“Você enlouqueceu? Eu não vou abortar!” – Falou o mais alto que pôde sem gritar e saiu pisando duro em direção ao dormitório.
Ela não apareceu nas aulas seguintes, o que de certa forma facilitou o trabalho de sua mente. A única opção era abortar. Se isso não acontecesse, provavelmente os dois seriam expulsos de Hogwarts e obrigados a casar. Essa idéia causou-lhe um arrepio. Teve súbitos pensamentos de si mesmo numa casa quebrada e caindo aos pedaços, cercada de pirralhos e com uma mulher gorda a mandar nele. Então tomou uma decisão. Faria aquilo à noite, antes que a noticia da gravidez da garota vazasse e tudo fosse por água abaixo.

[...]

Jogou sobre si um feitiço desilusório e dirigiu-se ao dormitório feminino da Sonserina, onde cinco garotas dormiam um sono profundo. Assegurando-se de tê-las enfeitiçado para que não acordassem sob nenhuma circunstância, aproximou-se da última cama.
Francis dormia abraçada à barriga e descoberta até os joelhos. Parecia estar tendo um pesadelo; suas pernas se agitavam, ela suava e franzia a testa. Voldemort afastou as mãos cruzadas sobre o ventre e murmurou:
“Mors Conceptio”
O grito agudo de Francis atravessou a escuridão e o silêncio como uma faca. Voldemort, ainda semi-invisível, deslizou para de volta ao quarto ao lado, enfiando-se debaixo do corredor e rezando para que ninguém o tivesse visto.
Alguns minutos depois, o corpo desmaiado e ensangüentado de Francis Finningham era levado às pressas ao hospital St.Mungus

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