Legilimancia



O Clube de Duelos de Slughorn não era exatamente um clube de duelos. Bem, era um clube, de qualquer maneira, mas não um clube de duelos. Parecia mais uma espécie de sociedade secreta, onde alunos selecionados a dedo pelo Professor, em geral os bem-nascidos ou mais inteligentes, assistiam aulas extras a respeito de todo tipo de assunto, desde História da Magia (apenas as partes mais secretas e emocionantes, aquelas que o Professor Binns sempre deixava de fora de suas aulas), até Magia avançada, onde segundo Slughorn podiam aprender a desenvolver melhor suas habilidades ocultas. De vez em quando Slughorn servia de juiz para um curto duelo, onde aplicavam na prática seus conhecimentos. E foi assim que Tom Riddle aprendeu a preparar poções da morte, do desejo e da verdade; feitiços que causavam dor extrema, sangramentos eternos, abortos instantâneos e lobotomias; e aprendeu como alterar a memória das pessoas fazendo-as acreditarem que tinham feito coisas que não tinham realmente feito. Todas essas lições eram acompanhadas, é claro, da rígida supervisão do Professor, que alegava que não deveriam utilizar-se de tais meios jamais, mas que nunca era ruim saber com o que eles poderiam lidar mais à frente.
Porém naquela noite a classe entraria num assunto que para Tom, pareceu particularmente interessante: Legilimancia.
“Vocês sabem, meus caros, que eu venho ensinando a vocês todo tipo de magia, algumas delas rigidamente controladas em Hogwarts. Não espero que vocês precisem utilizar-se delas, e peço que tomem cautela ao comentar tais assuntos com seus colegas. O que estamos aprendendo aqui nada mais é do que Magia pura. Lembrem-se de que não existe Magia Branca ou Magia negra; a Magia é neutra. Negra ou Branca é o que fazemos com ela. Não existe bem ou mal, mas o poder, e os que são suficientemente tolos para não se aproveitar dele em benefício próprio. Lembrando, é claro, de um dos princípios básicos da convivência entre bruxos: Nunca interfira no livre-arbítrio do próximo. Mas hoje iremos adentrar num campo particularmente pedregoso da Magia. Apesar do sufixo ‘mância’, que está presente em termos como quiromancia, teomancia e outras formas de adivinhação; a Legilimancia é verdadeira e segura para aqueles que souberem interpretar corretamente as informações encontradas na mente de seu adversário”.
Um burburinho excitado correu pela sala. Tom não deu atenção aos outros. Estava começando a se interessar pelo assunto, se aquilo fosse o que pensava que fosse... Slughorn deu uma breve pausa e recomeçou a falar:
“Alguns tolos chamam vulgarmente a Legilimancia de leitura de mentes. Isso é uma bobagem; a mente não é um livro que se possa abrir e ler à vontade. A mente é recheada de sentimentos, emoções e pensamentos confusamente embaralhados. Com sorte e alguns anos de treinamento, vocês serão totalmente capazes de perceber alguém mentindo, a não ser é claro, que esse alguém seja um habilidoso Oclumente; assunto do qual trataremos mais tarde. Agora, quero que vocês se dividam em pares, e enquanto um pensa em algo simples fixamente, o outro deve manter contato visual, apontar a varinha para cabeça e dizer legilimens em voz alta e clara. Provavelmente na primeira vez não irão colher resultados, mas continuem até que possam visualizar ao menos um mesga de pensamento do outro; depois troquem de posição.”
Tom escolheu seu par – coincidentemente, era Francis, a garota que o achara uma gracinha (isso o tinha realmente irritado) e ele começou primeiro, tentando fixamente entrar na mente da garota.
Ficaram se encarando durante minutos e mais minutos, mas Tom não pareceu obter sucesso. Ninguém pareceu obter sucesso. Slughorn encerrou a aula, mas ao contrário de Tom, não pereceu frustrado. Vai ver a coisa é realmente difícil. Mas será que Slughorn não ficará frustrado comigo? Eu nem devia estar aqui; eu só tenho onze anos.... Tais pensamentos pareceram voar por sua cabeça, enquanto recolhia suas coisas. Como sempre, era o último a sair da sala. Mas então Slughorn falou algo que o fez ter certeza de que o professor tinha se utilizado da Legilimancia, embora eles não estivessem mantendo contato visual.
“Não se preocupe, Tom. Eu sei o que estou fazendo. Se eu o chamei para minhas aulas ainda que você seja uma criança, é porque sei que você tem um potencial brilhante e embora tenha sido criado entre trouxas, surpreendentemente conhece mais sobre Magia que muitos dos alunos puro-sangue do sétimo ano que eu tenho aqui. E não se aborreça por eu te-lo chamado de criança; há inúmeras vantagens em pertencer a essa condição. Você, ao contrário de mim, que sou um velho alquebrado, tem toda a vida pela frente e caminhos a seguir”.
Tom estava surpreso com aquela declaração de Slughorn. Não esperava algo assim do professor.
“Isso me faz pensar muito, sabe. De quando eu era criança; e não havia toda essa guerra. Guerra no mundo dos trouxas e guerra também no mundo mágico. Você certamente já ouviu falar de Grindewald?” – Tom assentiu com a cabeça – “Eu fui colega dele na Sonserina. Éramos bastante amigos. E ele era assim, exatamente como você. Uma criança tímida, brilhante, genial, amada pelos professores. Incrivelmente parecido com você. Exceto fisicamente, é claro. Grindewald nunca foi bonito. Assim como você, ele gostava de... digamos... Presentear aqueles a quem ele achava que merecia. Não estou chamando-o de bajulador nem algo do tipo, longe de mim. A propósito, adorei a garrafa de cerveja amanteigada que me mandou. Realmente deliciosa. Em todo caso, espero que você não siga seus passos. Mas creio que são as escolhas que fazemos que realmente mostra quem nós somos. Mas... Minha nossa, já são quase meia-noite! É melhor você voltar para seu dormitório”.
E Slughorn voltou aos seus afazeres como se nada tivesse acontecido, deixando Tom completamente abobado.
[...]
De volta ao seu dormitório, ainda sem sono embora já passasse de uma da manhã, Tom Riddle encarava Rookwood que dormia um sono profundo e pesado na cama ao lado da de Tom, com o dossel aberto. Tom encarava os olhos fechados do colega esperando que algo acontecesse, que talvez pudesse ler sua mente. Mas se já era difícil com os olhos abetos, imagine com eles fechados.
Mas, de repente, como num sonho, sua mente foi invadida por sensações e emoções que não eram dele...
O garoto moreno e franzino caminhava pela praia de areia fina branca, tão bela e quente que só poderia ser uma praia estrangeira. Ele não estava sozinho; conversava com um garotinho baixinho e gordo.
“Você me deve quinze galeões, Ralph” – Disse Roockwood
“Mas os Tornados só ganharam roubando...”
“Não importa, você deve pagar o que deve!”
Roockwood rapidamente sacou sua varinha, mas seu amigo Ralph o fez mais rapidamente, e gritou uma azaração qualquer, que Tom não pôde ouvir...

Mas Roockwood acordou repentinamente de um sobressalto, arfante e vermelho, cortando a ligação entre a mente de Tom e a do colega.
Tom se deu conta, surpreso, que havia acessado os sonhos de Roockwood de alguma forma. Mesmo com os olhos fechados, era mais fácil entrar na mente de alguém que estivesse dormindo e Tom o havia encarado por tanto tempo, e murmurado o feitiço tantas vezes que finalmente ele atingira seu objetivo. Bem, Tom não pretendia exatamente adentrar nos sonhos fúteis de Roockwood; sua intenção era investigar a mente do colega como uma espécie de treino, já que havia fracassado miseravelmente na primeira tentativa durante as aulas de Slughorn.
Então uma idéia lhe ocorreu.
Seu livro estranho continuava ali, sibilando baixinho para seu novo dono. Continuava totalmente em branco, exceto pela inscrição:
A bonis bona disce
Absens heres non erit
Draco dormiens nunquam titillandus

E uma frase que Riddle teve certeza de que não estava ali antes:
Aterrorise-os com a simples menção de teu nome...
Apesar de ser um alívio poder entender uma das frases que estavam escritas no livro, ela não chegava a ser um consolo: Não fazia sentido algum!
Mas ainda assim, numa vã esperança, Tom continuou a folhear o livro, na esperança que algo acontecesse. A única coisa que lhe veio à cabeça é que ele mesmo teria de escrever algo ali; então puxou sua pena da mochila e começou a escrever:
“Tom S. Riddle, Hogwarts.”
Tom ficou ali, fitando o pergaminho que lentamente absorvia a tinta de suas letras.
E obteve resposta.
Salazar Slytherin, Hogwarts
Sentiu a excitação e a ansiedade tomarem conta do seu corpo. E escreveu mais uma frase:
Cumprimentos aos Quatro Grandes.
O livro demorou a responder, mas quando o fez, deu uma resposta completamente desconcertante e inesperada:
Cumprimentos ao Herdeiro de Slytherin.
E quem tivesse passado por ali ficaria certamente assustado com o intenso fulgor vermelho que passou rapidamente pelos olhos de Tom Riddle.

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