Resolvendo algumas coisas

Resolvendo algumas coisas



Capítulo 21 – Resolvendo algumas coisas


Alice soltou um gemido de dor quando levantou o braço pra esfregar os olhos. Certamente tinha dormido de mau jeito, pois sentia como se cada músculo do seu corpo gritasse desesperadamente.

Com muito esforço, sentou e abriu os olhos. Quando se deu conta de onde tinha passado a noite, sentiu-se despertar imediatamente. Ainda estava na arquibancada do campo de quadribol e Frank, Edgar e Gwenda também estavam dormindo.

Se aproximou cautelosamente do namorado. Queria acorda-lo sem que ele se assustasse. Se ajoelhou ao lado do banco em que Frank dormia.

- Precisamos sair daqui. – Falou em sussurros.

Ele nem se mexeu. Alice respirou fundo, pronta para lhe dar um beijo na testa quando sentiu uma mão pousar em seu ombro.

Sufocando um grito de susto e levantando rapidamente, deu de cara com James e Sirius.

- Por Merlin! Vocês me assustaram. – Alice levou a mão direita ao peito, tentando controlar a respiração pesada.
- Vocês precisam voltar para o castelo. – James se manifestou. – e precisamos conversar sobre essa noite.
- Depois discutimos isso, ainda estou tentando assimilar tudo que aconteceu.

Instintivamente, os dois marotos olharam para Gwenda que dormia em um canto afastado.

- Como ela está? – Foi Sirius quem perguntou.

Alice deu um sorriso fraco.

- Está muito mal e inconformada.
- Não era pra ela descobrir desse jeito.
- E quando o Remus pretendia revelar esse segredo pra ela, James? Iria enganá-la até quando?
- Tecnicamente, Remus nunca a enganou, porque ela nunca perguntou se ele era um lobisomem... na verdade ele só omitiu esse pequeno detalhe de personalidade.
- Pequeno detalhe de personalidade? – Alice estreitou os olhos tal como Lily fazia quando estava furiosa – Por favor, James! Remus poderia tê-la matado qualquer noite dessas.
- Remus é afastado do colégio durante as transformações. – Sirius esclareceu.

Alice balançou a cabeça, normalmente era difícil discutir alguma coisa com aqueles dois.

Naquele momento percebeu Frank se mexer e levantar com uma certa dificuldade.

- Estou moído – Ele falou enquanto se espreguiçava e esfregava os olhos. – Não acredito que passamos a noite aqui.

James e Sirius trocaram um olhar preocupado e James sentou ao lado de Frank.

- Er... Bem, Frank. Sobre o que aconteceu ontem...
- Ninguém vai saber de nada pela minha boca, James. Não se preocupem com isso.

Os marotos respiraram aliviados.

- Obrigado. – Sirius agradeceu.
- Eu acho que deveríamos, ao menos, falar com Dumbledore. – Alice se manifestou.
- Dumbledore já sabe sobre o Remus, Lice. – Falou James.
- Mas eu falo sobre vocês serem animagos ilegais.

James engoliu em seco.

- Se fizermos isso, nem mesmo Dumbledore vai poder aceita-los em Hogwarts, Alice.

Os quatro se viraram na direção da voz. Era Edgar quem tinha falado.

- Se Dumbledore arranjou uma maneira de manter o Remus afastado durante o período de lua cheia, não devemos nos preocupar, afinal ele é o único que poderia nos ofereceu algum risco.
- Então você diz...
- Esquecermos o que vimos ontem. É impressionante que estudantes de dezesseis anos sejam animagos, mas mesmo assim é ilegal. Ninguém poderia impedir o ministério de expulsa-los de Hogwarts e confiscar suas varinhas.

Os dois marotos estavam pasmos. Sirius principalmente esperava que qualquer um antes de Edgar o defendesse.

- É o mais certo a fazer. – Frank concordou.
- Alice?

A morena baixou os olhos e pensou por algum tempo.

- Edgar tem razão. Vocês devem ter um ótimo motivo pra serem animagos com tão pouca idade. Não vou prejudicá-los, fiquem tranqüilos.

James se sentiu aliviado. Faltava apenas Gwenda, Lily e Lucy. Com um sobressalto, perguntou assustado:

- Onde estão Lily e Lucy?

Sirius também levantou preocupado. Alice esclareceu.

- Nos perdemos no meio do caminho, parece que na hora de correr elas desviaram para a trilha da direita, pra dentro da floresta negra.

Sirius tirou um pergaminho do bolso e virando-se para Edgar falou calmamente:

- Teremos que te revelar mais um segredo dos marotos. – E encostando a varinha no pergaminho aberto, falou – Juro solenemente não fazer nada de bom.

Imediatamente o pergaminho em branco se encheu de linhas e nomes de todos os estudantes e professores de Hogwarts. Edgar e Frank se aproximaram para verem melhor.

- O que é isso? – Perguntou Frank.
- Um mapa de Hogwarts com a indicação de todas as pessoas que estão nos limites do castelo. – Explicou Sirius – Me ajudem a procurar aquelas duas.

Sirius apoiou o mapa no chão e todos se ajoelharam em volta tentando localizar os nomes “Lily Evans” e “Lucy Eyelesbarrow”.

Passaram mais de cinco minutos nessa tarefa, quando James levantou cansado.

- Não é possível. Elas não podem ter desaparecido assim!
- Tem certeza que esse mapa funciona? – Edgar perguntou um tanto desconfiado.
- Certeza absoluta. Nunca falhou.
- Mas Sirius, como pode elas não estarem em canto nenhum? – Perguntou Alice.
- Só se elas tiverem... – Começou Frank, mas não teve coragem de terminar.

Sirius dobrou o mapa furioso.

- Elas só devem ter ido parar em Hogsmead, duvido que a Evans perca o segundo dia de aula. Tenho certeza que elas vão dar um jeito de voltar antes da primeira aula.

Mal sabia ele o quanto estava errado...




Lily acordou quando os primeiros raios de sol incidiam sobre a clareira em que passaram a noite. Esfregou os olhos e bocejou, tentando se livrar do pouco sono que ainda sentia.

Estranhamente sentia-se tão bem como se tivesse dormido na mais confortável das camas e não em um chão duro no meio da floresta.

- Sentiu frio durante a noite? – Peter se aproximou com um pouco de suco.
- Não. Dormi como uma pedra. – Falou ela pegando o suco das mãos do garoto. – E você, dormiu bem?

Peter abriu um sorriso.

- Nem parece que dormi num chão duro.
- Tenho a mesma impressão. – Lily falou sorrindo também.

Pela primeira vez desde que acordara, passou os olhos pelo lugar. Edmund e as irmãs Pevensie ainda dormiam, mas não viu nem sinal de Lucy.

- Onde está a Lucy?
- Não sei. – Peter respondeu sentando no chão ao lado de Lily. – Quando acordei ela já tinha levantado. Dei uma volta pelo lugar, mas não a vi em canto nenhum.
- Isso faz tempo? – Lily sentiu um estranho aperto no peito.

Peter pareceu pensar um pouco.

- Eu levantei, colhi algumas laranjas no mesmo lugar que ela pegou ontem e fiz esse suco. Deve ter sido a menos de uma hora. Ela não costuma acordar cedo?

Lily sentiu o aperto no peito diminuir, ainda assim, sentia-se preocupada com a amiga.

- Normalmente ela acorda bem antes que eu.
- Ela deve ter ido dar um volta aqui por perto. Lucy não parece ser do tipo que consegue acordar e ficar parada no mesmo lugar esperando enquanto todo mundo dorme.

Lily abriu um sorriso.

- Você não podia tê-la descrito melhor.

Lily e Peter se envolveram em uma agradável conversa sobre Nárnia e a vida de Lily no mundo bruxo.

Várias vezes enquanto contava alguma história sobre Hogwarts se via pensando onde Lucy havia se metido e uma pontada de preocupação a atingia.

A ruiva ouviu muitas outras histórias interessantes sobre a vida e alguns acontecimentos em Nárnia e se via cada vez mais encantada pelo lugar.

Enquanto conversavam, os dois saíram para colher algumas frutas para o café da manhã. Quando voltaram, Edmund, Susan e Lucy Pevensie já tinham acordado.

Todos comeram e conversaram bastante durante a ‘refeição’. Esperaram por muito tempo que Lucy aparecesse, mas ela não apareceu.

- Já devíamos ter saído. – Peter falou com cuidado, procurando não pressionar Lily que estava no auge de sua preocupação.

A ruiva sorriu compreensiva.

- Acho que vocês devem ir, eu espero por aqui até que ela volte.

As irmãs Pevensie trocaram um olhar bondoso e Susan se adiantou para perto de Lily.

- Lily, não quero te preocupar, mas... Provavelmente a Lucy saiu pra dar um passeio e se perdeu. Dificilmente ela vai conseguir voltar pra esse mesmo lugar.
- E o que você me sugere? Que eu esqueça ela perdida por aí?
- Se você ficar serão duas perdidas... – Falou Edmund tentando ajudar.

Lily sentiu um nó na garganta. Sabia que devia ir, mas não conseguiria sair dali sabendo que a amiga poderia voltar a qualquer momento.

- Nós estamos próximos agora do acampamento. - Sugeriu Peter - Chegando lá, montamos uma equipe pra procurá-la pela região.
- É o mais sensato, Lily. - Ponderou Susan. - Nós mesmas podemos procurar a Lucy depois que chegarmos ao acampamento.

Lily mordeu o lábio inferior.
Pensando bem no assunto, A ruiva decidiu que era mesmo o mais certo a fazer. E de qualquer forma, Lucy saiu de perto deles por opção própria, se não fosse tão curiosa e inquieta certamente teria esperado alguém acordar e sairia acompanhada.

- Tudo bem, podemos ir.

Com uma última olhadela em volta, Lily seguiu atrás dos quatro irmãos, tentando se convencer que era mesmo o melhor a fazer.




Quando o sinal anunciando o fim da última aula daquela manhã tocou, Sirius, James e Peter correram para a enfermaria a procura de Remus.

Madame Pomfrey, já acostumada com aquelas visitas, os encaminhou para o último leito da ala hospitalar.

Remus estava com as costas apoiadas na cabeceira da cama e lia um livro sobre poções. Quando percebeu que seus amigos já tinham chegado, apoiou o livro no colo e abriu um sorriso forçado.

- Não perderam um segundo hoje, hein?

Sirius deu um meio sorriso.

- Precisamos te contar o que aconteceu ontem a noite... – O maroto deu um cutucão em James para que o outro continuasse.

Como ninguém falava nada, Remus começou a ficar nervoso. Sentiu as mãos suarem e um arrepio lhe percorrer a espinha. Não lembrava de nada... e porque aquele silêncio todo? Se inclinou para frente e tentou falar com a voz firme.

- Vão me contar ou pretendem me deixar em suspense o dia todo?
- Gwenda já sabe que você é um lobisomem. – Falou Peter sem o mínimo tato.

James e Sirius fecharam os olhos e Remus se apoiou de novo na cama.

- Isso... isso é...
- Sim, Remus. – Respondeu James num fio de voz e com a expressão de quem queria falar qualquer coisa, menos confirmar aquilo. – Ela seguiu o Sirius ontem a noite e deu de cara com você transformado.

Remus se manteve em silêncio. Uma lágrima solitária escorreu pelo seu rosto.

Sirius aproveitou pra dar um tapa na cabeça de Peter e murmurou um ‘idiota’.

- Eu a machuquei? – Perguntou temendo a resposta.
- Não. Mas tem mais coisa... – Falou James encarando Sirius para que ele desse continuidade.

Sirius tomou coragem e resolveu despejar tudo de uma vez...

- Quando Alice viu que a Gwenda estava me seguindo, chamou o Frank e eles foram atrás dela. Lily estava com James nos jardins e correram até nós quando ouviram o grito da Gwenda. Eu e James não podíamos nos transformar na frente da monitora-chefe, da Alice, da Gwenda e do Frank, então tivemos que te estuporar. Até que...
- Até que a Lucy apareceu do nada e começou a cantar para chamar a sua atenção. – Falou Peter.
- Depois ela começou a conversar em voz baixa com você e você pareceu se acalmar. – Continuou James – Até sentou de frente pra ela. Acho que ela estava lendo a sua mente porque vocês ficaram se encarando por uma porção de minutos.

Remus desviou os olhos dos amigos e encarou o chão pensativamente.

Daquilo ele conseguia lembrar. Lembrava como se tivesse sido um sonho distante, mas ainda assim, lembrava.

- Ela viu o dia em que eu fui mordido por Grayback.

Sirius e James se encararam estupefatos.

- Você lembra? – Foi Peter que perguntou.

Remus sorriu vagamente.

- Lembro. Ela viu tudo, inclusive... – Remus fez uma pausa.
- Inclusive? – Perguntou Sirius.
- Eu vou contar sobre aquele dia pra vocês...




Lily seguia atrás dos irmãos Pevensie rumo ao acampamento. Achou melhor dar uma pequena distância, o suficiente pra ficar um pouco sozinha e não perdê-los de vista.

Estava preocupada com o sumiço de Lucy. Não podia evitar esse sentimento. Se a amiga tivesse desaparecido em Hogwarts ou na Inglaterra, saberia achar algum socorro, mas e ali, num lugar completamente desconhecido?

- Era melhor ter escutado o que seu coração dizia.

Lily levou um susto. Não tinha visto ninguém por perto, olhou para trás e viu Aslam parado imponente em cima de uma enorme pedra.

- Aslam! – A ruiva exclamou feliz.

Aslam desceu e se aproximou dela.

- Você tem que aprender a fazer ‘o que acha que deve fazer’ e não o que acha que é ‘certo’ fazer.

Lily arqueou a sobrancelha.

- Não estou entendendo, Aslam.
- Eu vou ser mais claro. Você estaria se sentindo melhor se tivesse ficado pra procurar a Lucy. É o que você queria fazer. Mas optou por seguir até o acampamento porque pensa que isso é o mais certo.
- O certo então era eu ter ficado? – Lily perguntou confusa.
- O ‘certo’ era você parar de pensar tanto no que ‘é certo’.

Lily piscou os olhos.

- Essa conversa ta muito confusa!

Aslam abanou a juba e mudou o semblante, parecia sorrir para a ruiva.

- Mas você sabe bem o que eu estou querendo dizer.
- Onde eu posso encontrá-la, Aslam?
- Você é que deve saber.

Lily procurou os irmãos Pevensie com o olhar, já estavam bem longe. Apressou o passo pela trilha, Aslam seguiu ao seu lado.

- Pelo menos pode me dizer se ela está bem?

Aslam continuou em silêncio.

- Você lembra das nossas conversas, Lily? Antes de você chegar aqui em Nárnia com a Lucy?

A ruiva pensou um pouco. Puxou cada encontro deles pela memória.

- Sim, Aslam. Lembro. Você me disse que Nárnia iria me ajudar a salvar o meu mundo, porque ele precisa de ajuda.

Aslam assentiu.

- Tem a ver com a guerra com Voldemort, não?
- Voldemort tem que ser impedido. – Aslam fez uma pausa. - Se ele continuar se fortalecendo como tem acontecido, temo que em pouco tempo não exista mais humanos ‘não-mágicos’ no seu mundo.
- Essa guerra é uma idiotice. – Lily desabafou.

O grande Leão parou e Lily virou pra ele com lágrimas nos olhos.

- Sinto muito pelos seus pais, Lily.

Ela não conseguiu falar nada, fechou os olhos e duas lágrimas lhe escorreram pela face.

- Eles eram tudo o que eu tinha, Aslam.
- Eu sei. Mas em meio a uma guerra, sempre haverá perdas. Você tem que ser forte pra superar a dor dessas perdas.
- Não consigo não sofrer.
- E eu não te pedi isso. Mas a vida Lily, é muito frágil, qualquer coisa pode destruí-la, ainda mais em uma guerra você tem que estar preparada para perder muitas pessoas queridas. Sofrer? É claro que você vai sofrer, mas não pode se deixar abater com isso.

Lily mordeu o lábio inferior, tentando segurar as lágrimas que insistiam em cair.

- Você quer dizer que muita gente ligada a mim ainda vai morrer?

Aslam não respondeu de imediato. Voltou a andar e Lily seguiu atrás dele.

- É uma guerra, Lily. Os dois lados vão sofrer baixas horríveis. Isso não quer dizer que vão morrer pessoas ligadas a você, mas isso pode acontecer. É quase inevitável.
- E como é que eu, logo eu, vou poder salvar o meu mundo, Aslam? Voldemort é mais poderoso, mais experiente e está determinado a acabar com todos os ‘trouxas’ e ‘mestiços’. O que eu posso fazer contra isso?
- Você também é poderosa, Lily. Só falta acreditar mais em você. O seu dom vai ser muito útil durante a guerra, mas no fim... no final de tudo isso você tem que lembrar que alguns sacrifícios devem ser feitos. Às vezes eles podem não parecerem certos, pode parecer um sacrifício inútil, mas o que vai contar é a intenção do seu coração.
- É como o caso de eu ter ficado pra procurar a Lucy?
- Exatamente.
- Mesmo que não fosse o mais prudente, é o que teria me deixado mais tranqüila, não é?
- Viu como não foi tão difícil entender, Lily? É precisamente isso. Escutar seu coração, suas vontades, esquecer um pouco o que é certo e o que é errado aos olhos do mundo. Quando tiver que tomar uma decisão e pensar ‘mas isso não é certo’, se pergunte: ‘mas não é certo pra quem?’ ou ‘pra quem isso é errado?’. O que importa são os seus sentimentos.
- Mas sem pisar nos sentimentos dos outros.
- Você vai saber respeitar. Está na sua natureza.

Lily respirou fundo.

- Eu vou fazer tudo o que estiver ao meu alcance pra acabar com aquela guerra, Aslam. Só preciso que você me ensine o que eu preciso saber.

Aslam a encarou com os olhos cheios de ternura e mais uma vez parecia sorrir para Lily.

Com a voz baixa, falou bondosamente:

- Minha filha, eu já lhe ensinei.

Lily respirou fundo e passou as mãos no rosto para secar as lágrimas. Quando abriu os olhos novamente, Aslam tinha desaparecido.

- É sempre assim, não é? – A ruiva perguntou para o nada e abriu um sorriso.

De alguma forma, aquela conversa com Aslam a tinha enchido de coragem e esperança. Deu uma risada baixinha. Devia ter ficado assustada ou preocupada por saber o tamanho de sua responsabilidade, mas Aslam sabia como tranqüilizá-la. Falava de perdas, sacrifícios e guerra como quem comentava sobre o tempo.

- Obrigada. – Lily murmurou antes de correr pra alcançar os irmãos Pevensie.




James, Sirius e Peter estavam pasmos com a história que tinham acabado de ouvir de Remus.

Por vários minutos Remus falou sem ser interrompido, o maroto tinha o tempo todo os olhos cheios de lágrimas.

- Porque nunca nos contou? – Perguntou James.

Remus ficou um tempo em silencio.

- Porque dói muito lembrar disso tudo. Eu odeio aqueles malditos trestrálios por causa disso.
- Você está bravo com a Lucy? – Perguntou Sirius. – Por ela ter entrado numa lembrança tão triste sua?
- Impossível. Pelo que vocês me contaram, ela se arriscou muito fazendo o que fez. Quando todos estavam paralisados de medo por me verem transformado, ela tentou me ajudar.
- Não sei se a acho mais doida ou mais corajosa. – Comentou James.
- Maluca. Com certeza. – Opinou Rabicho. – Não me leve a mal, Remus, mas ela devia ter feito o mais sensato, que era te estuporar.

Remus sorriu enviesado.

- Você tem razão, Peter. Mas a Lucy geralmente não faz o que é mais sensato, não é?

Sirius sorriu vagamente do comentário de Remus. Pegou-se pensando onde é que aquela maluca tinha se metido com Lily e se elas estavam bem.

- Será que é por isso que ela não veio me ver? Por achar que eu estou bravo por ela ter visto aquilo tudo?

James se apressou em responder antes que Rabicho pudesse soltar novamente algum comentário infeliz.

- Só faltava te contar isso. É que depois que você tentou atacar a Lucy, ela e Lily correram pra dentro da floresta negra.

Remus contraiu a expressão preocupado.

- E porque vocês não usam o Mapa do Maroto pra ir atrás delas?
- Porque elas simplesmente desapareceram do mapa. Não há sinal delas em canto algum dos limites de Hogwarts. – Explicou Sirius.

Remus fechou os olhos ainda mais preocupado.

- E em Hogsmead? Vocês já foram até lá?
- Não adianta, Remus. Se elas fossem parar em Hogsmead, já teriam voltado para o castelo, elas conhecem muito bem o caminho até aqui.
- Então, James, vocês vão sair daqui e procurar McGonagall ou Dumbledore e contar tudo a eles. Inclusive sobre Gwenda, Alice, Frank e Edgar que descobriram sobre o meu segredo.
- Eu acho que deveríamos esperar mais um pouco. – Falou Peter.
- Hoje em dia Rabicho a gente não pode mais se dar ao luxo de esperar alguma coisa. Há Comensais da Morte por toda a parte, inclusive aqui em Hogwarts. Remus está certo, precisamos de ajuda pra encontrar aquelas duas antes que aconteça o pior.

Peter abriu um sorriso forçado e deu um passo para trás. Precisava contar aquelas novidades para alguém e já sabia muito bem quem procurar.

Com a desculpa de que estava com muita fome, saiu da enfermaria direto para as masmorras, iria falar com a prima amada de Sirius: Bellatrix Black.




Daquela vez, finalmente, Peter tinha razão. Demoraram pouco mais de uma hora para chegar ao acampamento e Lily se surpreendeu com a quantidade de animais falantes que integravam o 'exército' de Nárnia.

Nenhum dos irmãos comentou sobre a conversa de Lily com Aslam e ela se sentia feliz com a discrição deles, seu coração voltava a bater acelerado de preocupação com Lucy e sentia que não era hora de explicar para quem quer que fosse sobre Voldemort, a guerra no mundo bruxo e sua missão.

Lucy Pevensie não perdeu tempo em puxar Lily pela mão e apresentar para ela várias criaturinhas, todas tão simpáticas quanto o amável Ripchip, que inclusive estava andando de um lado para o outro com ar de grande importância.

Quando Ripchip viu os reis de Nárnia, correu até eles o mais rápido que suas curtas perninhas permitiram.

- Grande rei Peter. Tomei conta de tudo por aqui enquanto vocês estiveram fora. Nossas negociações com os calormanos estão num estágio avançado. Querem falar o mais rápido possível com vossa majestade.
- Mande que o líder deles venha até mim, Ripchip. – Peter respirou fundo – Vamos tentar acabar logo com isso.
- Vou agora mesmo avisar que vossa majestade concede o direito de uma entrevista.
- Faça isso, por favor Ripchip.

O ratinho fez uma continência e saiu rapidamente da presença dos reis de Nárnia.

- O que está acontecendo? – Perguntou Lily – Qual o motivo dessa guerra?
- Oh, não é exatamente uma guerra, Lily. – Explicou Peter. – É apenas mais uma disputa de terras. Os calormanos querem expandir o território deles e para isso, tentaram invadir uma parte de Nárnia.
- Nós queremos evitar um embate físico, por isso estamos tentando negociar há dias. – Falou Edmund.
- E eles resolveram negociar hoje?
- Parece que sim, Lily. Acho que você nos trouxe sorte. – Rei Peter falou arrancando um sorriso da ruiva.

Ao falar isso, lembrou que Lucy continuava perdida. Chamou alguns animais falantes e pediu que a procurassem por toda a região.

- Te tranqüiliza acompanhar as buscas, Lily? – Peter perguntou amavelmente.

A ruiva pensou por um tempo. Tentaria fazer o que Aslam lhe pedira.

- Sim, quero procurá-la. Não agüentaria de ansiedade ficar aqui esperando que alguém chegasse com notícias.
- Foi o que eu imaginei. – Peter falou gentilmente. – Eu mesmo iria junto com você se não tivesse que me encontrar com o líder desses malucos gananciosos.

Lily sorriu compreensiva.

Peter ficou encarando a ruiva por um tempo em silêncio antes de se virar para o lado contrário e formar três equipes para procurar Lucy. Explicou como era garota e incluiu Lily e Susan na mesma equipe.

Lucy Pevensie ficaria junto no acampamento para o caso de Peter precisar de alguma coisa. Mas principalmente porque já estava cansada de ficar andando para um lado e para o outro.

Peter não teve que esperar muito pela chegada do líder dos calormanos. Foi com grande surpresa que reconheceu Afriesh Littar, um poderoso vizir da Calormânia.

Peter já tinha oferecido alguns jantares em Nárnia com a presença de Littar.

- Decidiram parar com essa bobagem toda, Littar?
- Rei Peter. É um prazer lhe reencontrar.
- É uma pena que, em virtude das circunstâncias atuais, eu não possa lhe dizer o mesmo. A Calormânia já tem terras demais, pra que invadir o solo narniano?
- Nossa terra não é tão fértil quanto essas aqui. E o que vocês vão fazer nessa área? Já tem animais demais aqui em Nárnia, podemos usar essas terras para coisas muito mais produtivas.

Peter balançou a cabeça descrente no que acabara de ouvir. O que ele não sabia era que os calormanos pretendiam apenas ficar mais próximos do poder de Nárnia e assim, poder em alguns anos derrubar os reis de Nárnia e dominar toda a região.

- Sabe que eu não vou recuar, Littar. Por que insiste?

O vizir abriu um sorriso malicioso.

- Vocês têm as terras que nós queremos e nós temos algo que vocês querem. Eu te desafio para um duelo de espadas, que vença o melhor.
- O que vocês podem ter que eu queira Afriesh?

O outro sustentou o sorriso e estalou os dedos.

Seus guardas pessoais saíram e em menos de dois minutos voltaram trazendo um enorme saco vermelho que jogaram no chão.

Peter arqueou uma sobrancelha.

- Abram. – Ordenou Afriesh.

Os dois homens obedeceram e para a satisfação de Littar, a expressão de Peter se contraiu ao reconhecer Lucy Eyelesbarrow, desacordada e com as mãos e pés amarrados.

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