...Sonhos ruins...



E novamente, o mesmo sonho: morte, sangue e terror. Ele deitava na lama num campo de batalha, e em volta dele, havia cenas de um pesadelo: duendes com espadas afiadas corriam perto dele, carregando cabeças decapitadas de bruxos em seus punhos. Gigantes, gritando, arrancavam cada membro dos homens com apenas a força de seus braços, e jogavam essas partes de corpo pelo campo como se fossem confetes cadavéricos. Por todo canto havia gritos dos que morriam e dos que estavam mortos. E sangue, muito sangue, ele estava coberto por sangue.

Um cavalo negro empinou-se sobre ele, tocando o céu com suas patas. Não havia cavaleiro ou amazona sobre ele, mas havia um emblema: um dragão prateado sobre o fundo negro. Ele cobriu seu rosto com seus braços, e as patas desceram lancinantes...

Draco acordou bruscamente, suando frio, e se sentindo nauseado. Ele rolou pela cama e apoiou sua cabeça sobre seus braços. Não era a primeira vez que ele tinha um pesadelo do gênero; eles haviam se tornado cada vez mais freqüentes desde que ele deixara Hogwarts e fora para a escola de Magid. Ele sentou-se na cama, deixando a gelada luz do luar tocar seu rosto. Se ao menos houvesse alguém com quem ele pudesse falar, a quem ele pudesse contar...

Harry? Não. Não Harry. Sua mãe? Ela estava saindo de férias com Sirius, isso só a iria preocupar. Sirius? Draco considerou a idéia por um instante. Sirius estava sempre cheio de conselhos e era difícil ele ficar chateado. Mas ele poderia contar à Narcisa.

E então havia Hermione.

Draco sentou-se e procurou sua varinha, que estava na mesa de cabeceira da cama.

- Lumos - ele sussurrou, e uma brecha de luz brotou da ponta da varinha.

Ele poderia, logicamente, ter conseguido luz sem o uso da varinha, mas Magids sem treino não deveriam executar feitiços sem varinha, ou assim ele havia sido avisado.

Ele pegou um pedaço de papel e uma caneta, e equilibrou-o em seus joelhos, pensativo. Escreveu o nome dela, Hermione, e então, parou. E se ela contasse a Harry? Não. Ela não faria isso. Mas o que ele poderia contar a ela? Hermione, eu estou tendo pesadelos, o mesmo sonho todas as noites, eu não sei por quê. Ela pensaria que ele estava ficando louco, e talvez estivesse mesmo. Como seu pai lhe havia dito, havia loucos na família. E, considerando que o seu pai era um paciente do Centro de Tratamento St. Mungo's para Criminosos Insanos, Draco não estava muito longe disso.

Draco permaneceu sentado por bastante tempo, encarando a folha de papel em branco, incapaz de pensar em nada para escrever. Finalmente, ele amassou o papel e o jogou pela janela. E então, deitou ainda acordado, olhando para o teto até o amanhecer.


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Querida Hermione,
Obrigado por me escrever tão rápido... foi ótimo ter uma carta esperando por mim quando eu cheguei, e diga à Sra. Weasley que eu adorei a suéter que ela me mandou, mesmo estando um calor infernal aqui, e o chocolate também, mesmo Draco tendo o comido sem permissão. Eu mencionei que ele e eu dividimos o mesmo quarto? Nós somos os únicos garotos ingleses aqui para o programa, então, nos enfiaram juntos. Eu disse a eles que eu preferiria ficar no quarto de um garoto da Transilvânia, que sequer fala inglês, e que não sai à luz do dia, mas não teve jeito.

A escola é bastante parecida com Hogwarts, em alguns aspectos: fica num castelo, na verdade, um forte que pertencia a Godric Gryffindor. Eu aposto que Godric tinha muitos inimigos e não se importava que soubessem disso: os canhões estão posicionados para todos os lados, e também há um fosso, e alguns caldeirões bem grandes, que ele provavelmente usava para jogar óleo quente nas forças inimigas.

Até agora, nós só tivemos uma aula, e ninguém disse nada sobre nos ensinar a usar nossos poderes, eles só falam em controle, em controlar as nossas emoções para não acabarmos destruindo um quarteirão inteiro... ou transformá-lo em neve azul... mas, em todo caso, Draco já sabe como controlar suas emoções, então eu não sei o que ele acha que vai aprender aqui. Eu acho que ele só não queria ficar zanzando pela Mansão o verão todo, e a casa dele está cheia de Aurores, de todo jeito. Sirius e Narcisa disseram que ele poderia viajar com eles para a Grécia, mas eu acho que ele também não queria isso. Não posso culpá-lo por isso, até porque eu também não iria querer vê-los se agarrar pelas Ilhas Gregas. Eu acho que eu simplesmente vou ter que aceitar o fato de que uma vida sem Draco é provavelmente impossível, especialmente já que vamos ser parentes logo, e vamos ter que nos ver em casamentos e funerais pelo resto de nossas vidas. Falando nisso, Narcisa e Sirius marcaram a data para o dia 15 de Agosto, então comece a se programar para estar lá, porque vai ser a primeira vez que eu vou te ver em quase dois meses. Eu mal posso esperar, eu sinto sua falta o tempo todo.

Adivinhe quem também está aqui dando aulas? O professor Lupin! Eu acho que não é tão estranho, já que é o Dumbledore quem dirige essa escola, e ele é um dos únicos diretores do mundo que daria um emprego ao Lupin. Contudo, é ótimo tê-lo aqui; eu estou, de fato, esperando ansioso as aulas começarem, agora. A única outra pessoa aqui que você deve conhecer é Fleur Delacour. Aparentemente, ela começou a manifestar seus poderes meio tarde: ela já tinha dezoito anos,e agora tem dezenove, então é o primeiro ano dela aqui. Eu acho que essa coisa de Magid é mais comum entre pessoas com ascendência veela, o que explica Draco estar aqui, também.

Eu espero que você esteja se divertindo na Toca, enquanto os seus pais estão viajando. Dê minhas melhores estimas aos Weasley, e pergunte ao Rony se a vassoura nova que eu dei a ele está funcionando bem, era pra ser uma das boas. Gina já voltou da França? Diga a ela que eu lhe mandei um oi.

Me responda logo.

Com todo o meu amor,

Harry

Hermione sorriu para si mesma, dobrou a carta de Harry, e a colocou em seu bolso, para ler novamente mais tarde.

Gina olhou para ela, curiosa, e perguntou:

- E então? Alguma notícia interessante?

Pitchinho, que estava piando loucamente pela sala toda, desde que havia entregado corretamente as cartas de Harry, pulou no pires de Gina, espalhando café por toda a mesa bem lavada dos Weasley.

- Píchi, não! Sai daqui!

Rony pegou Pichinho com a mão.

- Não é pra pular no café, Píchi! – ele disse, sorrindo para a corujinha alvoroçada - A Gina não gosta disso!

- Enquanto isso, você ama essa sua coruja sabor café. - disse Gina, fazendo uma careta para Rony. Então, ela virou-se para Hermione, que estava com o queixo apoiado nas mãos e olhava sonhadoramente para o nada - O que Harry diz, Hermione? Está tudo bem?

- Claro que está tudo bem, ele está bem. - falou Hermione - E ele disse oi para você.

Gina ruborizou ligeiramente. Ela ainda mantinha vestígios da sua queda excessiva por Harry, embora estivesse genuinamente feliz por Hermione. Essa era Gina, pensou Hermione, ela era uma pessoa tão legal que seria impossível não gostar dela, apesar das duas garotas nunca terem sido próximas. Para Hermione, Gina parecia ser uma garota feminina - mais interessada em roupas e garotos do que ela própria podia se imaginar sendo, mesmo que o ano de intercâmbio em Beauxbatons tenha dado à Gina uma gravidade.

- Bem, então diga oi a ele por mim quando você for escrever de volta. - disse Gina, ficando de repente muito interessada em limpar o café que Pichinho tinha derramado.

Rony estava examinando sua própria carta de Harry.

- Ele diz que Fleur é estudante lá. - ele falou - Eu acho que, na verdade, Gui já havia me contado algo sobre isso. Eu havia esquecido.

- Ela e Gui ainda estão juntos?- perguntou Hermione.

Rony deu de ombros, e falou:

- Sei lá. Eles estão juntos, momentos depois se separam, é difícil dizer. Mas eu acho que eles estão separados agora.

Hermione franziu a testa. Ela não gostava da idéia de haver uma Fleur livre e desimpedida a menos de 20 quilômetros de Harry. Ou de Draco. Se bem que Draco era parte veela e podia evitá-la melhor que Harry. E também, não era da conta dela o que Draco fazia ou deixava de fazer, ela pensou com seus botões, mas na verdade... ele podia conseguir alguém melhor que a Fleur, ela simplesmente sabia que ele podia.

Dando de ombros mentalmente, ela pegou a segunda carta que Pichinho havia lhe trazido. Estava amarrada com uma fita de veludo preto e seu nome estava escrito numa letra inclinada e quase familiar. Porém, enquanto ela lia o conteúdo, seu queixo caiu de surpresa.

- Nossa, que estranho!- ela exclamou.

- O que é estranho?- perguntou Gina.

- É de Vítor Krum.- respondeu Hermione

Dessa vez, Rony olhou para ela.

- Ele está em Londres. - continuou Hermione - Ele quer se encontrar comigo para tomar um café no Caldeirão Furado. Ele vai ficar lá por alguns dias. Ele diz que tem algo importante para me dizer.

- Oh, o Harry vai amar saber disso!- disse Rony, rindo.

- Não seja bobo, Rony.- disse Hermione, largando a carta e franzindo as sobrancelhas - Eu não o vejo faz dois anos. E, pelo que eu ouvi, ele tem uma namorada.

- Você tem certeza de que ele não quer te encontrar para dizer que te ama novamente?- brincou Rony .

- Certeza absoluta. - disse Hermione, ainda carrancuda - Bem, eu não irei me importar de ver Vítor... e Gina, você não disse que queria fazer compras em Londres? Nós podíamos ir juntas.

- Claro. - concordou Gina

E Rony adicionou rapidamente:

- De todo modo, eu tenho que ir ao Beco Diagonal para comprar um estojo de manutenção para a minha vassoura nova. Nós todos podemos ir.

- Certo. - concordou Hermione - Deixa só eu escrever uma carta rápida.

Ela subiu as escadas correndo, e entrou no quarto de hóspedes que estava ocupando. Embora os Weasleys não tenham se mudado depois que a loja de brincadeiras de Fred e Jorge se tornou um sucesso, eles adicionaram um número de quartos extras. Do lado de fora, a casa parecia mais do que nunca como um bolo de aniversário inclinado. O quarto de Hermione era um dos novos, e ela gostava bastante dele: era circular, com uma janela ornamental de vidro tingido - a pintura era de uma doninha dormindo sobre uma rocha sob o sol.

Ela sentou-se à mesa, pegou um pedaço de papel, e começou a escrever Querido Harry... e parou. Ela não era muito boa em escrever cartas de amor, mas ela queria escrever algo um pouco mais afetuoso que "querido". Especialmente se ele estivesse andando com Fleur. Não faria mal em fazê-lo lembrar exatamente de quem ele era. Ela tentou Amado Harry, mas ficava muito idiota. Então, ela tentou Harry, meu amor, mas ficava horrível, e ela amassou a carta, transformando-a numa bola, e a jogou no chão. Ela tentou novamente, com um novo pedaço de papel, Queridíssimo Harry...

Bem, isso parecia ter ficado legal. Ela escreveu o resto da carta rapidamente, escreveu um bilhete rápido para Draco, e correu para fora do quarto, quase colidindo com Rony na escada.

- Hermione! Olhe por onde anda!

- Rony, posso pegar o Píchi emprestado? - ela perguntou rapidamente - Me desculpe ter pisado no seu pé. - ela adicionou, numa reflexão posterior.

- Eu acabei de mandar uma carta para o Fred e para o Jorge usando o Píchi. Mas você pode pegar a coruja da mamãe emprestada. Ei, Hermione, o que é isso?

- O que é o quê?

- Isso. - disse Rony, colocando sua mão sobre o pescoço de Hermione, onde terminava a gola da camisa dela. Demorou um pouco para ela perceber que ele estava tocando no fino cordão de ouro em volta de sua garganta - Você não costuma usar jóias.

- Oh! - ela disse – Isto – e puxou o pingente que estava pendurado no final do cordão - É o Feitiço Essencial de Draco. - ela disse, um pouco confiante - Ele deu para mim.

Rony arregalou seus olhos.

- Isso não é um pouco esquisito? - ele perguntou - Quero dizer, e se você derrubar isso, ou esquecer em algum lugar, ou...

- Rony! - Hermione olhou penetrantemente para ele - Como se eu fosse fazer isso! De todo modo, Dumbledore enfeitiçou isto aqui, então ele não pode ser perdido ou confiado em mãos erradas ou danificado. Eu mesma não posso tirá-lo, e ninguém pode tirá-lo de mim exceto Dumbledore ou o próprio Draco.

- Eu acho que você deveria apenas ter entregado isso a Dumbledore. - disse Rony, olhando o feitiço, desconfiado – ou Draco deveria ter ficado com isso. Ele não pode carregar com ele seus próprios pequenos objetos nojentos e letais?

- Eu tentei entregá-lo a Dumbledore, mas ele disse que Draco era quem decidiria com quem ficaria o feitiço. E eu não acho que Draco queria ficar com isso, pois, provavelmente, lembra-o de coisas horrendas, como do pai dele. - ela estremeceu.

Rony tirou sua mão do pescoço dela, e começou a descer as escadas.

- Eu já te falei hoje o quão extremamente feliz eu fiquei por você não ter terminado namorando o Malfoy?

- Só umas seis zilhões de vezes. - respondeu Hermione, atrás dele - Sinceramente, eu acho que você está mais feliz do que o próprio Harry.

- Eu tenho os meus motivos. - disse Rony, e, antes que Hermione pudesse pedir maiores explicações, ele gritou para Gina se apressar e não esquecer de trazer o pó de Flú porque já era hora de partir.


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A coruja-de-igreja castanha entrou subitamente pela janela aberta e pousou, piando, sobre a mesa ao lado de Harry, que estava sentado no Salão de Estudantes, almoçando. A coruja tinha duas cartas amarradas em sua pata esquerda, ambas foram enroladas, e viraram dois tubos caprichados, e amarrados com fitas de cores diferentes.
Harry olhou rapidamente para a mesa e para Draco, que estava distraído conversando com Fleur Delacour.

- Cartas, Malfoy. – Harry disse.

Draco olhou para ele e sorriu.

- Joga para mim a minha!

Harry desafivelou uma das cartas e a atirou para Draco. Ambos sabiam quem era o remetente das cartas; mesmo sem que alguém lhes tivesse contado. Hermione era uma garota eminentemente justa. Quando ela escrevia, ela escrevia sempre para ambos: uma carta para Harry, e outra para Draco. A carta de Harry era amarrada com uma fita vermelha, e a de Draco, com uma prateada. Às vezes, Harry desejava que ela lhe mandasse duas cartas para cada uma que ela enviava a Draco, só para que pudesse ter vantagem, mas isso não era da natureza de Hermione. Ela era uma pessoa com escrupulosos.

Harry observou Draco abrir sua carta, lê-la, e metê-la no bolso, tudo sem sequer mudar de expressão. Harry teria dado um saco cheio de galeões para ver o que havia escrito naquela carta, mas ele preferiria morrer antes de admitir isso. Afinal de contas, ele confiava em Hermione. Ela era a sua namorada. Ela o amava. Certo?

Fleur olhou de Harry para Draco com cintilantes olhos azuis. Harry sabia que ela estava provavelmente quase tão interessada quanto ele em ver o que Hermione havia escrito para Draco. Ela grudara em Draco desde o primeiro dia que chegaram à escola. Vendo-o perto de Harry, ela correu até eles, gritando:

- Ola, Arry! Você não vai me apresentar o seu amigo?

Harry fez as apresentações, e Draco apertou a mão de Fleur enquanto ela sorria exultantemente para ele, e jogava os seus cabelos louros platinados.

- Malfoy - Fleur havia dito - Eu conheço esse nome, é francês. A sua família é francesa?

Draco confirmou, provavelmente era.

- Você é parte veela, não é? - Fleur continuou – Eu também sou. Tenho certeza de que somos parentes, eu tenho irmãos que se parecem muito com você. Eu vi você pela primeira vez, agora, no corredor, e pensei comigo mesma: "Esse garoto é lindo, ele deve ser meu parente!".

Fleur disse isso sem nenhum traço de humildade. Ela era tão convencida quanto Draco, o que, na opinião de Harry, deixava bastante credibilidade de que eles fossem da mesma família.

- Eu acho que ela gosta de você. - Harry disse a Draco, logo que Fleur se foi, mas Draco balançou a cabeça.

- Nós dois somos parte veela, somos imunes aos feitiços um do outro. - disse Draco - Ela só gosta de mim porque eu me pareço com ela.

Se eles gostavam um do outro ou não, pensou Harry, olhando para eles, eles formavam uma efetiva sociedade de admiração mútua. Draco raramente ia a qualquer lugar, nesses dias, sem Fleur no seu pé. Era quase engraçado, Harry pensou, afinal de contas, ele tinha a mesma idade de Draco, e não foi há muito tempo que Fleur o considerou um garoto muito "novinho" para ser levado a sério...

A coruja piou novamente, fazendo Harry voltar à realidade. Ele deu à coruja um nuque, pegou sua carta de fita vermelha, e a abriu ansiosamente.

Queridíssimo Harry,

Eu não posso escrever muita coisa porque eu estou correndo para ir a Londres, mas eu vou te enviar outra carta mais tarde, pelo Píchi. O Rony e os Weasleys estão bem. O senhor e a senhora Weasley foram ao litoral para uma viagem romântica, e Fred e Jorge estão em Hogsmeade na loja de brincadeiras, então, só estamos eu, o Rony e claro, a Gina, que está de volta da França e manda lembranças.

Adivinhe quem me mandou uma carta do nada? Vítor Krum, de todas as pessoas imagináveis! Eu tinha pensado que ele andava muito ocupado para escrever para qualquer pessoamas ele está em Londres agora, então eu vou dar uma passada lá no Caldeirão Furado para vê-lo. Eu direi a ele que você disse oi. E, por favor, mande um oi ao Professor Lupin por mim.

Não posso esperar para te ver no casamento de Sirius e Narcisa. Estou contente que Sirius será feliz, pois ninguém merece isso mais que ele.

Com todo o meu amor,

Hermione

Harry dobrou a carta, sentindo-se desconfortável. Quando ele olhou para cima, ele viu Fleur e Draco o observando.

- Qual é o problema, Arry? - perguntou Fleur, com uma alegre interesse - A sua namorada te trocou por outro? Ela está grávida?

A carta voou da mão de Harry.

- O quê? - ele perguntou atabalhoadamente - Isso é ridículo. Como ela estaria grávida?

Fleur e Draco sorriram maliciosamente para ele.

- Talvez seja a hora de ter aquela conversa sobre as leis da vida, Potter... - disse Draco, ainda sorrindo.

Droga, pensou Harry, eu caí nessa de bobeira.

- Cale a boca, Malfoy! – Ele disse – Eu já sei tudo sobre sexo, obrigado.

Fleur estava rindo compulsivamente atrás de sua mão.

- Me tranqüiliza ouvir isso. - disse uma voz atrás de Harry.

Harry virou-se e viu o Professor Lupin atrás dele, sorrindo fracamente.

- Olá, Harry. - ele disse.

Harry sorriu para Lupin, quem, ele pensou, estava com uma aparência bem melhor do que há três anos. Ele parecia ter menos linhas no rosto, embora isso pudesse se dever ao fato de que ele estava bronzeado pelo sol de verão. Todos estavam ficando bronzeados, até mesmo Draco, o que, na opinião de Harry, era contra todas as leis da natureza. Certamente não era possível ter um cabelo tão louro, e olhos tão claros e ainda não se bronzear ao sol? Mas, ainda assim, Fleur era igualzinha. Ela e Draco estavam agora muito bronzeados, com cabelo da cor de açúcar refinado. O próprio Harry havia ficado mais moreno, e havia revelado uma série de sardas pelo seu nariz, que ele mesmo não sabia que tinha. Ele esperava que elas não fossem muito esquisitas. Hermione tinha sardas no nariz, e ele as achava adoráveis, mas isso podia ser diferente com garotos.

- Professor Lupin, - disse Harry, tirando de sua cabeça o tópico Hermione e seu nariz - Que bom te ver! Você quer se sentar? Já almoçou?

- Na verdade já. - disse Lupin - Eu estava procurando por você, Harry. E o seu companheiro de quarto.

Ele inclinou sua cabeça para Draco, que levantou uma sobrancelha, surpreso.

- Procurando por mim? Por quê?

- Algo que Dumbledore me contou. - respondeu Lupin, soando um tanto quanto evasivo - Eu estava pensando se podíamos ir ao quarto de vocês por um momento? Eu gostaria de perguntar algo a vocês dois.

Harry e Draco se entreolharam, deram de ombros, e se levantaram.

- Claro. - disse Harry - Por que não?

- Te vejo mais tarde. - disse Draco a Fleur, que estava brandamente indignada por estar sendo abandonada.

Lupin andou na frente deles nos corredores e na escadaria de pedra que levava até o dormitório dos garotos.

- Hermione te contou que ela vai encontrar Vítor Krum em Londres? - Harry perguntou a Draco, e foi recompensado ao vê-lo fazer pouco caso.

- Enorme idiota búlgaro crescido. - disse Draco - O que ela vê nele?

- Ele não é tão ruim. - falou Harry, sentindo-se repentinamente magnânimo perto de Krum. Provavelmente devido ao fato de que ele sabia algo de Hermione que Draco não sabia. - Professor Lupin! - ele gritou, apertando o passo - O nosso quarto é esse daqui!

Draco abriu a porta e eles entraram. Era um espaçoso quarto de pedra, grande o suficiente para abrigar seis ou sete garotos, embora Harry e Draco fossem seus únicos ocupantes. Havia duas lareiras, uma em cada lado do aposento, uma larga janela de sacada com um assento feito de rocha, e duas camas com tapeçarias de veludo. O malão de Harry estava no pé de sua cama, e o de Draco, ao pé da dele.

Lupin sentou-se em uma cadeira, enquanto Harry e Draco sentaram-se na ponta de suas respectivas camas. Lupin, Harry pensou, estava estranhamente constrangido, embora tenha sorrido para Harry quando o avistou olhando para ele.

- É bom revê-lo, Harry. - ele disse, sorrindo - Eu não sei se já te disse isso.

- Eu estou ansioso para ter aulas com você durante toda a semana. - disse Harry, sorrindo de volta para Lupin - Até agora, só tivemos aulas com o Professor Emble, e ele diz a mesma coisa toda hora.

- Existem três palavras que todo Magid deve levar a sério - falou Draco, imitando o Professor Emble - Controle, controle e controle. - ele sorriu para Lupin - Eu disse a ele que era a mesma palavra repetida três vezes, mas ele não deu a mínima.

- Controle é importante. - disse Lupin gentilmente.

- Sim, eu sei. - disse Draco, impenitente – Mas eu já sou bom nisso, então...

- O que me faz lembrar - Lupin falou - Draco, o professor Dumbledore escreveu para mim dizendo que você tinha posse da espada de Salazar Slytherin. Ele me pediu para dar uma olhada nela.

Draco deu de ombros.

- Se você quiser. - ele fechou a cara - Mas as suas mãos...

- A espada queima humanos que não sejam Magids. - disse Lupin calmamente - Sendo um lobisomem, eu posso tocá-la.

- Ah é, você é lobisomem. – disse Draco com um interesse cândido – Isso realmente deve ser uma merda.

- DRACO! - disse Harry num tom de cautela.

Mas Lupin, surpreendentemente, estava sorrindo ao olhar para Draco.

- Você me lembra muito Sirius quando ele era mais jovem. Isso é realmente estranho.

- Ele também era lindo e charmoso? - perguntou Draco.

- Sirius me contou que quando ele estava na escola, ele era detestável. - disse Harry.

- Ele era tudo o que já foi dito. - disse Lupin, ainda sorrindo. Harry tinha de admitir que era bom ver Lupin contente. Isso iluminava todo o seu rosto e fazia seus estranhos olhos verde-dourados brilharem - Agora, Draco...

- Certo. - disse Draco, saltando para fora da cama, e andando até seu malão, que ele logo abriu.

Ele tirou a espada, e a segurou por um momento para observá-la. De certo modo, era um objeto muito bonito; a luz do sol, que vinha da janela, deslizava na lâmina como água, e as três jóias verdes do cabo de ferro faiscavam.

- Aqui está. - disse Draco, andando pelo aposento e entregando a espada a Lupin.

Lupin a pegou e a girou, tocando a lâmina suavemente com a mão.

- Isso é um objeto mágico muito poderoso. – disse Lupin.

Draco parecia satisfeito.

- Você se importa de eu fazer uma experiência na espada?- perguntou Lupin, girando a espada, e examinando-a.

Draco deu de ombros.

- Contanto que você não a quebre.

Lupin virou a lâmina, tocando-a com seus dedos magros e flexíveis. Então, ele disse:

- Indicio!

Harry e Draco se inclinaram para ver melhor quando escritos começaram a aparecer sobre a lâmina, gravada no metal. Estava escurecido com a idade, e parecia estar lá desde sempre. "Descensus averno facilis est."

- O que isso quer dizer? - perguntou Draco, curioso.

Lupin parecia também não entender completamente.

- Está em latim. - ele falou - Significa: Fácil é o declínio para o inferno.

- Que animador! - disse Harry.

- Você tem certeza de que isso não significa: "tenha um bom dia"? - perguntou Draco, esperançoso - Ou "essa espada vale muito dinheiro”?

- Ou "isso pertence a um completo idiota"? - sugeriu Harry.

- Não. - respondeu Lupin - Significa o que eu disse que significa.

Harry e Draco pareciam embaraçados.

- Eu não sei a que isso se refere. - disse Draco – Mas soa ser algo ruim.

- Salazar Slytherin não era um cara legal. - disse Lupin, levantando-se - Com a sua permissão, Draco, eu gostaria de levar essa espada até a minha sala e examiná-la mais atentamente.

- Vá em frente. - disse Draco, que estava olhando agora para a espada com suspeitas - Mas não corra no corredor! - ele disse, quando Lupin virou as costas para sair - Esse troço é afiado!


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Quando estavam perto do Caldeirão Furado, Gina consultou seu relógio. Ela e Hermione prometeram a Rony que estariam de volta na Floreios & Borrões às três horas da tarde, e já eram duas horas, o que não deixava à Hermione muito tempo para tomar café com Krum.
Gina olhou obliquamente para Hermione, que estava muito bonita e parecia bastante inteligente num casaco vermelho curto. Ela parecia ligeiramente nervosa, assim como Gina supôs que também estaria se fosse encontrar com alguém que não via tinha dois anos, e que já esteve perdidamente apaixonado por ela, e, como todos sabiam, ainda podia estar. Mas é claro, até onde Gina sabia, ninguém nunca esteve perdidamente apaixonado por ela. Nem Harry, a quem ela ainda amava... nem ninguém.

- Chegamos. - disse Hermione, parando em frente à placa do Caldeirão Furado - Você vem comigo, não vem?- ela adicionou, olhando para Gina esperançosa.

- Claro!- disse Gina, e começou a subir as escadas junto com Hermione.

Elas entraram no salão principal do Caldeirão Furado, que estava quase vazio. Gina estava olhando furtivamente em volta, seus olhos se ajustando vagarosamente à escassez de luz, quando uma figura enorme repentinamente surgiu da escuridão.

- Her-my-own-ninny!- disse uma voz grave.

Hermione segurou a mão de Gina e a apertou nervosamente.

- Vítor!- ela cumprimentou - Que bom te ver!

O decorrer de três anos não mudou muito a aparência sombria e obscura de Vítor Krum. O máximo que pode-se dizer é que o tempo deixou seus traços mais marcados. Ele andou até as duas garotas, com um olhar ameaçador sob suas grossas sobrancelhas negras.

- Her-my-own-ninny! - ele disse de novo - Eu gostaria de falar com você. - ele olhou significantemente para Gina - A sós.

Ela olhou para Hermione, que olhou de volta para ela, surpresa.

- Eu não vou sair e deixar Hermione sozinha aqui! - disse Gina, indignada - Ela não vai saber voltar sozinha!

Mas Vítor ainda estava olhando para Hermione.

- Por favor - ele disse - Só cinco minutos. Lá. - ele espichou a cabeça para o lado, indicando um aposento menor que o principal.

Hermione olhou para Gina, e então, deu de ombros.

- Está bem. Cinco minutos. - ela falou - Gina, se você não se incomodar de esperar aqui...

Gina balançou a cabeça, e respondeu:

- Claro que não me importo.

Ela observou quando o gigantesco Krum conduziu a minúscula figura de Hermione pela saída distante e fechou a porta atrás dele. Gina balançou sua cabeça. Ela não sabia o que Krum queria falar para Hermione, mas, pela expressão dele, dificilmente seriam boas notícias. Na sua opinião, Hermione jamais deveria ter aceito se encontrar com ele, ele não parecia confiável, e Harry devia ser levado em consideração. Se Harry fosse o seu namorado, Gina achava que jamais... não, ela disse a si mesma, tire essa idéia da cabeça! Isso nunca aconteceria.

A porta do aposento, no qual Hermione e Krum estavam, abriu-se, e de lá saiu Hermione, parecendo bastante perturbada. Ela caminhou até Gina e segurou suas mãos. Gina quase gritou; as mãos de Hermione estavam muito geladas.

- Gina - Hermione disse - Eu preciso ficar aqui e falar com o Vítor. Vá na frente e encontre o Rony. O Vítor pode me deixar na Toca mais tarde.

Espantada, Gina arregalou os olhos, e perguntou:

- Você tem certeza?

- Tenho. - disse Hermione, firmemente.

- Mas Hermione... - começou Gina, abaixando o tom de voz - Eu não me sinto bem te largando aqui. Será que ele... não pode ir conosco até a Toca e falar com você lá?

Hermione balançou sua cabeça, e respondeu:

- Você entenderá mais tarde, Gina. - ela disse, e como Gina parecia estar incerta, adicionou, irritada - Eu sei o que estou fazendo, está bem?

Gina fitou Hermione quando ela virou-se, caminhou, e desapareceu novamente no aposento onde Vítor estava, fechando a porta atrás de si. Sentindo-se ligeiramente aturdida, Gina saiu do Caldeirão Furado e encontrou a luz do dia no Beco Diagonal.


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Saindo de um sonho repleto de sangue e fogo, Draco acordou, encontrando-se sendo sacudido fortemente, pelos ombros. Ele piscou os olhos, tentando enxergar na escuridão.
- Potter? - ele grasnou - Ei! O que você está fazendo...?

E parou no meio da frase. Os olhos que o observavam na escuridão não eram verdes, mas vermelho-escuros com veias amarelas.

Draco berrou. E se jogou para o lado da cama, caindo no chão. Ele caiu ao lado de seu malão, e se ajoelhou. A escuridão do quarto era quase da cor de piche, mas ele podia ver o vulto encurvado de algo, algo do tamanho de um cachorro, agachado no pé de sua cama, olhando para ele com ferozes olhos vermelhos.

Na outra cama, Harry acordou e pôs seus óculos.

- Malfoy, o que...?

Ele parou a frase no meio. Draco não tinha certeza de que Harry tivesse visto o vulto escuro, e de fato, não se importava muito com isso. Ainda ajoelhado, ele remexeu na tampa de seu malão, e o abriu. Ele enfiou sua mão lá dentro, e então lembrou-se, com um cambaleio revoltante em seu estômago, que ele havia deixado Lupin levar a espada naquela tarde. Sua varinha, onde estava a sua varinha...

- Lumos. – disse Harry

Uma luz brotou da ponta da varinha que Harry estava segurando, e iluminou o quarto com um brilho azulado. A luz iluminou Harry, sentado em sua cama, Draco, agachado no chão, e a criatura, seja lá o que fosse que deu um grito estridente e afastou-se da luz.

- Não me machuque! - a criatura berrou, num inglês perfeitamente compreensível, embora sua voz parecesse mais com estalidos de fogueira que com voz humana - Por favor, não me machuque!

Harry olhou para Draco. Draco retribuiu o olhar. Nenhum dos dois disse uma só palavra, mas ambos estavam pensando obviamente na mesma coisa: não poderia ser um monstro tão horrível assim se estava com medo de dois garotos de pijama.

- O que é isso? - perguntou Draco, olhando espantado para Harry.

- Não faço idéia. - respondeu Harry, levantando-se.

Draco também se levantou, e ficou ao lado de Harry, os dois observando o monstro, Harry com sua varinha em punho.

O o-que-quer-que-fosse era do tamanho de um cachorro, com pele cinza escamosa, e uma cabeça perfeitamente redonda e sem orelhas. A criatura também não tinha nariz, e sua boca era um longo corte. Estava com as duas mãos cinzas e com longos-dedos para cima.

- Está tudo bem. - disse Harry, olhando a criatura – Nós não vamos te machucar. Só... se acalme.

- Uma ova que não vamos machucá-lo! - falou Draco, que ainda estava trêmulo - O que você queria pulando em cima de mim no meio da noite desse jeito? O que você quer?

A criatura respondeu, na mesma voz de estalido de fogueira:

- Me machuque, se quiser. Eu só vim aqui buscar o que é meu.

Harry e Draco se entreolharam, confusos.

- Repita, por favor. - pediu Harry educadamente.

- Eu vim buscar o que é meu. - repetiu a criatura – A minha outra metade! - a criatura soluçou secamente e olhou desprezivelmente para Harry e Draco - Por muitos anos, minha metade esteve escondida de mim. E então, eu comecei a sentir que ela havia retornado ao mundo. Eu a procurei por mares, céus e terras. E a achei aqui. É minha! - berrou a criatura – E estava perdida há mil anos!

- O que é exatamente essa sua outra metade? - perguntou Draco - Quero dizer, você parece totalmente completo para mim, sem faltar nenhuma parte, a menos que o fato de você não ter orelhas conte. Você está procurando por suas orelhas?

A criatura olhou para ele com desprezo, e falou:

- Você é um garoto mortal muito idiota! E se eu tivesse comigo agora a minha outra metade, e meus poderes todos, eu te devoraria!

Draco parecia furioso. Harry o conteve com uma mão sobre o seu ombro.

- Ninguém vai comer ninguém aqui. - disse Harry – Você poderia nos contar mais sobre essa... hã... outra metade que você esqueceu onde guardou?

A criatura estava encolerizada.

- Eu não esqueci de nada! Minha outra metade foi tirada de mim a força por um bruxo maligno, e escondida de mim. Eu procurei por todos os lugares, e ela está AQUI!

Harry estava olhando para a criatura com sua cabeça inclinada para um lado, pensativo.

- Você é um demônio, não é?

A criatura parecia desonesta.

- Eu não sou um demônio! – ela falou.

- Ah, você é sim!- falou Harry, ganhando mais convicção - Nós estudamos demônios no ano passado, em Defesa Contra as Artes das Trevas. Eu também sei como bani-los. - ele apontou sua varinha para a criatura - Dispelle...

- Nãããããão! - o demônio berrou, batendo seus punhos contra o travesseiro de Draco, como uma criança raivosa, e Harry interrompeu o feitiço - Eu te conto, é minha! Vocês não têm o direito de mantê-la longe de mim! Eu procurei por milhares de anos...

- Você procurou debaixo do sofá do INFERNO? - gritou Draco, que parecia estar farto daquela ladainha.

O demônio fez um rosnado fúnebre:

- Eu não procuro as coisas como os mortais. Eu sinto o que é meu. Tudo o que é meu chama por mim, e eu escuto. Por mil anos, minha outra metade se manteve em silêncio. Há pouco, eu ouviu o chamado, e fui atraído até aqui. E agora... - ele olhou em volta, impaciente - Agora está em silêncio novamente. Mas estava aqui! Tenho certeza disso!

Harry olhou obliquamente para Draco, e sussurrou:

- Você sabe pelo que ele está procurando, não sabe? Por aquela espada...

- Shhh!- disse Draco, advertindo, e virando-se para o demônio - Não há nenhum objeto demoníaco ou do outro mundo aqui nesse quarto. - ele falou, sem mentir - A menos que você esteja contando com o Potter, eu sempre tive as minhas suspeitas sobre ele, e você pode levá-lo a vontade, se quiser.

O demônio olhou para Harry, sem muito interesse.

- O garoto Potter não me interessa.

- Ei! - gritou Harry, que estava acostumado a ser o centro das atenções, e se sentiu menosprezado – Olhe - ele disse ao demônio - vá em frente, se você não acredita no que o Draco disse sobre não termos nenhum... hã...objeto demoníaco aqui. Você não tem nenhum, tem? - ele sibilou no ouvido de Draco.

Draco revirou seus olhos.

Mas o demônio, sem esperar por ademais permissões, começou a arrancar tudo do quarto, a virar cadeiras, a revirar as cinzas da lareira, a escancarar as mochilas dos dois garotos antes de virar de cabeça para baixo o malão de Harry. Harry observou chocado seus pertences voarem para todos os lados. Draco abaixou-se rapidamente quando as roupas de Harry voaram sobre a sua cabeça e atingiram a parede oposta.

Não achando nada no malão de Harry, o demônio dedicou sua atenção ao de Draco. Os dois garotos observaram, resignados, o demônio esparramar todas as roupas e livros de Draco pelo chão.

- Sabe - disse Draco a Harry num sussurro - eu sempre imaginei demônios mais violentos, severos e assassinos. Esse se enfiando no meio de nossas coisas... é meio... brega!

- Eu realmente concordo. - falou Harry.

- Você pode expulsá-lo. - disse Draco, esperançoso.

- Eu acho que é melhor convencê-lo de que não temos o que ele quer, senão, ele vai voltar. - disse Harry - Ele não parece ainda poder sentir onde está a sua "outra metade". Eu espero. - ele adicionou, pensando em Lupin.

- Certo. - falou Draco - Mas se esse bicho rasgar uma de minhas roupas, ele está fora daqui.


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- É tudo culpa sua! - disse Rony, olhando para Gina severamente. Seus olhos azuis estavam incendiando, e seu cabelo ruivo estava arrepiado em vários topetes esquisitos, exatamente como o de Harry - Como você pôde abandoná-la no Caldeirão Furado com aquele... aquele...
- Isso não é justo! - Gina gritou, seus olhos relampejando - Você não a ouviu, Rony! Você não estava lá! Ela não teria me deixado ficar lá, ela mesma me mandou ir embora e deixá-la sozinha!

- Já é meia-noite! - disse Rony, que estava tão zangado quanto preocupado - Onde ela está?

- Eu sei - disse Gina, sentando-se, desgostosa a mesa da cozinha - Eu sei, mas, Rony... tente ser mais perspectivo. Talvez eles só estejam conversando e perderam a hora.

- Ela teria enviado uma coruja, ou alguma coisa. Hermione não é assim, ela...

- Não sou assim como? - perguntou Hermione, entrando pela porta da cozinha e olhando os dois curiosamente.

Rony e Gina ficaram embasbacados.

- Hermione! - ofegou Rony, aliviado - Você está bem!

- Eu te disse que ela estava bem! - disse Gina, que estava extremamente aliviada por ver Hermione. Ela virou-se para a amiga - Você está bem, não está?

- É claro que estou bem! - falou Hermione calmamente - Agora, se vocês me dão licença, eu preciso ir lá para cima por uns minutinhos. Volto já.

Ela virou-se, ainda muito calma, e subiu as escadas. Rony e Gina a observaram partir, boquiabertos.

- Você acha que ela está perturbada por alguma coisa? - perguntou Gina, logo que pôde achar palavras.

- Acho que não. - respondeu Rony vagarosamente – Ela parece o oposto de perturbada. Estranhamente calma. Acho que talvez fosse melhor se você fosse lá em cima falar com ela. - ele adicionou, desgostoso - Conversa de garotas.

Gina balançou sua cabeça, e falou:

- Eu tenho certeza de que ela vai preferir falar com você.

- Acho que você tem razão. - Rony suspirou.

Então, ele se levantou, e subiu as escadas, onde ele parou no meio ao avistar Hermione, que estava vindo da direção oposta carregando sua pequena maleta de viagens. Ela passou por ele ao descer as escadas, e caminhou até a cozinha. Rony correu atrás dela.

- Hermione, - ele disse, lutando contra um crescente sentimento de alerta - Você tem certeza de que está bem?

- Estou bem. - disse Hermione, que estava andando pela cozinha, agora - Eu só decidi passar uns dias com o Vítor, só isso.

- Você o QUÊ?- exclamaram Rony e Gina juntos.

- Hermione, você não pode estar falando sério. – falou Gina.

Hermione virou-se e olhou para eles. Ela parecia pequena, pálida e determinada. Mechas de seu cabelo estavam para fora de seu coque e caindo em volta de seu rosto.

- Eu estou falando sério. - disse Hermione - Por que eu não iria? Por que eu não faria o que eu quero fazer?

- Você perdeu o juízo? - perguntou Rony.

- E Harry? - perguntou Gina.

Hermione deu de ombros.

- Ele vai entender.

- Ele decididamente NÃO vai entender - disse Rony - Hermione, sente-se, por favor. Você está brava com o Harry? Ele fez alguma coisa? Você está tentando dar o troco nele? Nesse caso, eu te imploro, faça outra coisa. Gina, me ajude aqui!

- Você podia ter um caso com o Rony. - sugeriu Gina, prestativa - Isso decididamente iria chatear o Harry.

- Obrigado, Gina. - falou Rony, olhando ameaçadoramente para a irmã.

Hermione balançou a cabeça, olhando para Rony com olhos castanhos arregalados.

- Isso não tem nada a ver com ele. Eu tenho que fazer algo importante. Vocês dois podem se acalmar? Eu volto em alguns dias.

- Alguns... dias? - repetiu Rony fracamente.

- Se vocês vão reagir assim, talvez eu não volte mais! - disse Hermione rispidamente, virou-se, e escancarou a porta, saindo por ela.

Rony e Gina se entreolharam, horrorizados, então, Rony levantou-se e seguiu Hermione pelo jardim.

- Hermione! - ele chamou.

Ela estava andando pela grama em direção a uma figura sombria e alta, sentada numa vassoura. Com um sentimento de intenso presságio, Rony começou a correr.

- Hermione! - ele chamou novamente.

Mas, sem ao menos olhar para trás, ela montou na vassoura, agarrou Krum pela cintura, Krum deu um impulso, e voaram, pairando bem acima da Toca. Rony olhou para cima, e observou-os diminuir até desaparecer pelos céus.

- Mas Hermione detesta voar! - disse Rony, entorpecido, ainda olhando para o ponto onde eles sumiram - Ela não voa nem com o Harry!

- Parece que ela mudou de idéia. - falou Gina secamente, atrás dele.

- Algo aqui está muito, muito errado. - disse Rony, virando-se para encarar sua irmã - Pegue o Píchinho! - ele pediu - Nós precisamos mandar umas cartas agora. Precisamos avisar papai e mamãe... e os pais de Hermione...

- Não podemos pegar o Pichinho. - disse Gina.

Rony a encarou.

- Por que não?

O rosto de Gina estava muito pálido sob o luar, e ela encarou de volta com olhos arregalados e desgostosos.

- O Pichinho não está aqui. - ela falou - Eu acho que Hermione acabou de mandá-lo entregar uma carta.

- Meu Deus! - disse Rony finalmente - Harry.


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- Eu não acho que devemos contar a ele. - disse Draco num sussurro sibilante.
Eram oito da manhã, e eles estavam do lado de fora da porta da sala de Lupin. Não tendo achado nada, o demônio deixou o dormitório deles às 3 da manhã, prometendo retornar para reaver sua "outra metade" em breve. Nem Harry nem Draco conseguiram voltar a dormir adequadamente mais tarde, e a conseqüência foi que, ambos estavam muito cansados e sobressaltados.

- Mas ele é um lobisomem, Malfoy! - protestou Harry, passando uma mão sobre o próprio cabelo, que estava arrepiado - Ele está acostumado com todo esse troço de Magia Negra!

- Pode ser. - disse Draco - Mas ainda assim, ele é um lobisomem adulto. Um lobisomem professor. Se nós contarmos a ele que há demônios em nosso quarto, ele vai se sentir moralmente obrigado a fazer alguma coisa sobre isso.

- Nem nós podemos contar a ele que há demônios em nosso quarto. - disse Harry - Podemos contar a ele que apareceu um demônio em nosso quarto. Só um.

- Eu acho que os professores devem considerar até mesmo um demônio no dormitório como um problema administrativo. - falou Draco - Quer apostar que ele vai direto para o Dumbledore?

- E se ele for, Malfoy? - perguntou rispidamente Harry. - Você só está com medo de que ele tome o seu brinquedinho... a sua espada de você.

- Nós não sabemos se era isso que ele estava procurando!

- E de que diabos você acha que ele estava atrás? Das suas meias? Da sua coleção de produtos para tratamento capilar? Ah, esqueci que ele não tem cabelo! Você quer saber por quê? Por que ele é um DEMÔNIO!

- Está bem, mas não grite no meu ouvido! - exclamou Draco, irritado - Você quer contar a ele? Muito bem! Vá em frente e conte a ele!

- Está bem. - disse Harry, sentindo-se estranhamente vazio - Eu vou contar!

E ele bateu à porta da sala de Lupin, que abriu-se. Os dois garotos entraram, Draco logo atrás de Harry. O Professor Lupin estava sentado a sua mesa, lendo o Profeta Diário. A fria luz do sol matinal, filtrada pela janela, fazia com que seu cabelo ficasse dourado escuro. Logo que os garotos entraram, ele os encarou, sorriu, ao mesmo tempo em que dobrava o jornal e o guardava na gaveta.

- Eu estava me perguntando se vocês estavam planejando entrar ou se iam só ficar parados na frente da porta, brigando um com o outro a manhã inteira.

Draco e Harry se entreolharam, com uma culpa melancólica.

- Ah, não se preocupem! - disse Lupin - Eu não escutei o que estavam conversando. - ele olhou para Draco - Eu estou feliz que tenha vindo porque, de fato, eu...

- Você já examinou a minha espada? - perguntou Draco rapidamente.

- Examinei. - respondeu Lupin.

Ele se levantou, caminhou pelo quarto até uma caixa de cristal que estava pendurado na parede. Harry viu que o Professor Lupin havia colocado a espada de Slytherin dentro dessa caixa. Lupin pegou o objeto da parede, e o carregou até sua mesa, onde ele o soltou, e o examinou calmamente.

- Draco - ele falou - Quando esta espada estava sob a posse de sua família, onde era guardada?

- Numa caixa de cristal na nossa sala de esgrima. - respondeu Draco prontamente.

- E alguém já a usou?

- Não. - respondeu Draco, após uns pensar um pouco - ela estava sempre na caixa. Ninguém jamais a abriu, que eu tenha visto.

- Dumbledore me disse que a caixa em que esta espada estava guardada foi despedaçada por um Feitiço Furacão produzido por algum tipo de objeto demoníaco. -disse Lupin, e Harry e Draco fizeram que sim com a cabeça - Uma estranha combinação de circunstâncias. Eu tenho certeza, embora não tenha provas, de que essa caixa na qual o seu pai guardava a espada, não era uma caixa qualquer. E essa espada também não é uma espada qualquer.

- Claro que não. - disse Harry - Dumbledore nos disse que essa é uma espada de Magid.

- Mais que isso. - disse Lupin - Essa espada é o que chamamos de lâmina demoníaca. Você pode matar absolutamente qualquer coisa usando ela: demônios, vampiros, monstros imortais, a até os mortos ressuscitados.

- Que legal! - exclamou Draco - Isso vai ser muito divertido em festas. "Oi, eu sou Draco Malfoy e eu posso matar absolutamente qualquer coisa, o que VOCÊ pode fazer?".

- Você não vai levar essa espada a festas. - disse Lupin severamente - Na verdade, você sequer a tocará novamente por um bom tempo.

Draco olhou para Harry como quem queria dizer Eu te disse.

- Mas é minha! - Draco protestou, virando-se para Lupin - Está na minha família desde sempre!

- Quando eu digo que é uma lâmina demoníaca, - explicou Lupin - Eu não quero dizer que é uma espada feita por um demônio ou para um demônio. Eu quero dizer que ela é um demônio. Esta espada está bem viva. E é também muito maligna.

Draco estava de braços cruzados olhando para Lupin.

- Como você sabe que essa espada é maligna?

- Eu não sei. - admitiu Lupin – Eu precisarei aprender mais sobre ela, fazer mais testes... – ele interrompeu – Sinto muito Draco. Eu precisarei mantê-la comigo pelo menos até eu terminar os testes.

- E é menos maligna se você mantê-la no seu escritório? – disse Draco, mordendo o lábio.

- Não é o fato de estar no meu escritório. – disse Lupin – E sim por estar guardada nessa caixa. Eu posso estar enganado, mas eu imagino que o seu pai a guardava numa caixa bem parecida com essa. - Draco e Harry olharam para a caixa, que parecia a ambos, feita de um vidro qualquer - Não é vidro. - disse Lupin, interpretando corretamente os olhares dos garotos para a caixa - É Adamantina. Um material que resiste a maior parte dos tipos de interferência mágica, e - ele adicionou, olhando para Draco - é quase inquebrável. Talvez outro forte Feitiço Furacão possa despedaçá-la, mas eu não recomendo tentar.

- Em outras palavras, sem chances de tentar pegá-la de volta. - falou Draco, com um sorriso gatuno – Nem se eu usasse um Feitiço de Atração?

- Sem chances. - respondeu Lupin animadamente – A espada não pode ser magicamente localizada enquanto estiver na caixa.

Draco e Harry se entreolharam. Não era de se espantar que o demônio não conseguisse achá-la.

- Você a terá de volta quando eu tiver certeza de que ela não é perigosa. - disse Lupin a Draco, e em seguida, virou-se para Harry - Você tinha alguma coisa a me dizer, Harry?

O olhar de Harry foi de Lupin, que estava demasiado investigativo, para Draco, que estava olhando pela janela, nervoso. Harry sabia que, se ele ao menos mencionasse que um demônio histérico apareceu em seu quarto na noite anterior, dizendo que estava procurando por sua "outra metade", que agora Harry não tinha duvidas de que era a espada de Slytherin, Draco nunca mais veria sua espada.

Harry fez que não com a cabeça.

- Não, Professor Lupin. Nada.


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- Oooh! - exclamou Draco quando eles deixaram a sala de Lupin e entraram num dos corredores - Você mentiu para um professor, Potter. E com a maior cara de santo! Logo, logo, você vai se transformar em mim.
- Já tinha feito isso antes. – disse Harry.

Draco sorriu para ele.

- Fala sério, você gostou de mentir! Admita...

Ele parou de falar porque uma corujinha voou rente a sua cabeça, alvoroçando-se toda.

- Ei! - exclamou Harry, esticando o pescoço para ver a ave - Pichinho! - ele esticou o braço, e Pichinho aterrissou nele, piando cansadamente - Pobre Píchi... - disse Harry - Indo e voltando da Irlanda duas vezes em dois dias. Você tem uma carta para mim?

Pichinho esticou sua pata, na qual estava um papel branco enrolado, amarrado com uma fita vermelha. Harry pegou a carta e soltou Píchi, que voou e pousou sobre o seu ombro.

Draco estava olhando para ele, curioso. Harry se perguntou se ele tinha ficado chateado por Hermione não ter lhe enviado uma carta também. Admitidamente, isso não tinha a cara de Hermione. Ela devia estar com a cabeça cheia de coisas. Harry abriu a carta, começou a ler, e ficou de repente muito pálido.

Draco olhou para ele, curioso.

- Está tudo bem, Potter?

- É... é de Hermione. - gaguejou Harry.

- Eu sei disso. - falou Draco, cujos olhos estavam revelando uma ponta de alerta - Aconteceu alguma coisa com ela?

- Ela está bem. - respondeu Harry, numa voz estranhamente reprimida - Ela está... bem.

- Então, qual é o problema?

- Ela foi embora para passar o verão com o Vítor Krum. - respondeu Harry, perplexo, ainda olhando para a carta - Na Bulgária. Ela está dizendo que se deu conta de que esteve apaixonada por ele por todos esses anos. - ele olhou para Draco com a expressão de quem acaba de entrar num pesadelo - Ela está... ela está rompendo comigo.

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