Capítulo Cinco – O País Descon

Capítulo Cinco – O País Descon



Capítulo Cinco – O País Desconhecido


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Por um segundo, Hermione achou que o feitiço não havia funcionado. Então, ela ouviu o baque quando Rabicho caiu no chão, aterrissando pesadamente sobre sua perna esquerda. Revoltada, ela sacudiu a perna violentamente para o lado, ainda com a varinha na mão, e ficou em pé com alguma dificuldade. Deu um passo para frente, e seu pé bateu em algo muito sólido e pesado – o corpo de Rabicho.

Sentindo náuseas, ela deu um passo cambaleante para trás, com as mãos esticadas atrás de si até que atingiu a parede. Começou a se guiar pelo tato na parede, os olhos bem fechados atrás da venda de olhos e os dedos tateando a pedra rústica. Seus ouvidos estavam alerta para qualquer som vindo de Rabicho, mas o aposento estava completamente silencioso.

Seus dedos acharam a madeira – bem mais macia – da porta, escorregaram por ela, e acharam a maçaneta. Ela tentou abrir, mas foi inútil. Desesperada, ela sentiu o cadeado, agarrou-o, mas era impossível para seus dedos trêmulos entenderem a complexa configuração do metal sem vê-lo de fato. Por fim, ela desamarrou a venda, Não vou olhar para trás, não vou, viu o cadeado, torceu-o abruptamente e abriu a porta.

E viu Draco, espantado, do outro lado.

**

Do mesmo jeito que Draco estava espantado de ver Hermione, ele estava mais espantado ainda com o olhar em seu rosto. Ela parecia tão horrorizada como se tivesse visto um fantasma, e não qualquer fantasma. O fantasma de alguém que ela amasse.

“Hermione?” ele disse. “Você... você está bem?”

Ela olhou pra ele, ainda com a mesma expressão terrível, vazia. “Ah, não” ela disse. “Você não”.

***

Draco olhou pra ela.

“Eu suponho que você está aqui pra me resgatar” ela disse enfaticamente, parecendo que ia começar a chorar.

“Eu... bem, sim” ele respondeu sentindo-se derrubado. “Eu devo voltar num horário mais conveniente?”

“Por que não foi o Harry?” ela disse, ainda olhando distraidamente pra ele. ‘Está tudo bem com ele? Por que ele não está aqui?”

Draco olhou abismado pra ela. Ele não havia esperado uma festa de boas vindas, mas isso era ridículo. “Tinham essas veelas...” ele começou, sentindo-se estranho. “E Harry está bem, ele está esperando lá fora. E… meu Deus, Hermione! O que você fez com Rabicho?” ele disse, olhando por cima do ombro dela.

Hermione virou-se, seguindo o olhar dele e viu o corpo de Rabicho esparramado no chão, em cima da palha, de barriga pra cima. Aparentemente, quando ela o chutou, acabou atingindo-o no rosto. A palha ao redor da cabeça dele estava manchada de sangue. “Eu bati nele” ela disse brevemente.

“Eu diria que você bateu mesmo” concordou Draco, parecendo um tanto impressionado. Aí, ele chacoalhou a cabeça, como se estivesse se livrando das teias de aranha. “Era ele quem estava te mantendo presa aqui?” ele exigiu.

Hermione balançou a cabeça apaticamente. “Não”.

“Então existe mais alguém aqui, alguém mais perverso, mais poderoso?”

Hermione afirmou com a cabeça.

“Tudo bem” disse Draco e a pegou pelo braço. “A gente tem que sair daqui”. Hermione não pareceu querer se mexer, então Draco começou a arrastá-la atrás dele até o final do corredor. Ela seguiu contra a vontade, olhando pra trás a cada momento, como se esperasse que eles estivessem sendo seguidos.

“Você sabe como sair daqui?” ele perguntou a ela, ofegando um pouco enquanto puxava seu braço. “E você poderia se apressar?”

“Não, eu não sei como sair daqui” ela respondeu em um tom pesado. “Eu não acho que haja uma saída, e eu acho que ele está em algum lugar por aqui, ele não vai simplesmente nos deixar sair...”

“Quem é ele? Voldemort?”

Ela riu de um jeito sinistro. “Voldemort? Não”.

Eles alcançaram o topo de uma escadaria bem larga, esculpida em pedra, que levava para o que parecia ser algo que um dia tinha sido um hall de entrada. Draco podia ver o fraco contorno de pilares quebrados e um chão de mármore quebrado. Ele se virou e olhou para Hermione, que ainda tinha um olhar vazio, incrédulo e triste. “Você consegue descer as escadas?”

“Eu estou perfeitamente bem” ela disse, em uma voz presa.

“Okay...” Ele olhou pra ela transtornado, balançou a cabeça, e começou a descer as escadas. Ela o seguiu, caminhando vagarosamente. Ele teve que resistir à vontade de apressá-la a sua frente. Eu não sei pelo que ela tem passado, ele lembrou a si mesmo. Qualquer coisa pode ter acontecido, qualquer coisa. Ele olhou-a pelo canto dos olhos. Ela parecia bem: cansada, claro, e com os olhos inchados, o que significa que ela esteve chorando. Tinha um corte no lábio dela, como se ela mesma tivesse mordido, mas, além disso, ela parecia inteira. “Hermione” ele disse de repente, virando-se pra ela. “Olhe, você não precisa conversar comigo, mas me diga pelo menos se você está bem. Pode só mexer a cabeça, tudo bem?”

“Tanta preocupação” disse uma voz atrás deles. “É tão comovente”.

Os dois viraram; Draco rapidamente, Hermione mais devagar, como se ela temesse o que ela pudesse ver.

Era Salazar Slytherin que estava no fim das escadas.

***

Lupin olhou pra cima ao ouvir uma batida em sua porta.

“Só um segundo!” ele disse, enquanto olhou a sua volta apressadamente. Ele não tinha tido tempo pra arrumar sua sala desde que ele a achou destroçada no dia anterior. Ele tinha varrido a maioria dos cacos de Adamantina para um canto e passado algum tempo separando seus papéis em duas pilhas: “arruinados” e “não arruinados”. Alguns encantamentos tinham consertado as janelas e retornado o globo com a ninfa-que-se-parecia-com-Lílian a algo que se parecia com a sua forma original (apesar de que agora a neve de dentro do globo tinha uma tendência a parecer um pouco azul).

Lupin esticou sua mão e puxou uma cópia do Profeta Diário em sua direção, cobrindo as páginas de um livro que ele estava lendo, ou tentando ler. Era o livro que o centauro tinha dado a ele na Floresta Proibida e até agora ele não tinha tido nenhuma sorte para decifrar em qual língua ele foi escrito. Ele já tinha tentado Troliano, Serêiaco, Gigantês, e até Élfico, mas sem nenhum sucesso.

“Entre” ele chamou.

Era Fleur. Ela entrou sorrindo, a luz refletindo em seu cabelo prateado, tornando-o mais vistoso. “Olá, Prrrofessor! Você querrria me verrr?”

“Fleur” ele respondeu com precaução. “Sim. Eu queria te perguntar uma coisa”.

Ela sorriu pra ele. “Sim?”

“Você sabe onde estão Harry Potter e Draco Malfoy?”

O sorriso dela desapareceu, para ser substituído por um beiço. “Não, eu não sei” ela disse. “Por que eu deveria saber?”

“Certo”. Lupin esfregou os olhos, cansado. Ele estava quase certo que podia sentir o início de uma dor de cabeça vindo. “Eu mencionei que eu sei perfeitamente bem que eles te mandaram aqui no outro dia pra me distrair e me tirar da minha sala? Pareceu possível pra mim que eles teriam te contado o resto do plano deles”.

“Talvez” disse Fleur, piscando os olhos. “Era só porque eu gosto de você”.

Lupin suspirou. “Fleur”, ele disse. “Eu já te disse. Eu sou um lobisomem. Essas táticas de veela não funcionam comigo. Além disso, eu tenho o dobro da sua idade e eu sou seu professor”.

“Eu poderia fazer uma aula diferente”, Fleur sugeriu.

“Eu ainda seria um professor aqui nessa escola”, disse Lupin. Agora ele tinha certeza de que estava tendo uma dor de cabeça.

“Um bom no que faz, na verdade”, disse uma voz que vinha do canto.

Tanto Lupin quanto Fleur se viraram. Era Sirius, claro, sua cabeça e ombros estavam visíveis na lareira. “Eu preciso falar com você, Remo”, ele disse.

Aliviado, Lupin virou-se para Fleur. “Você pode nos dar licença?”

Fleur deu um olhar apreciativo para Lupin. Então, ela deu o mesmo olhar para Sirius. Seja lá o que ela estava pensando, isso a fez sorrir de orelha a orelha. Ela se virou, sacudiu os ombros e saiu, fechando a porta atrás de si.

“Garota bonita”, disse Sirius.

“Muito”, disse Lupin em um tom que sugeria que esse caminho da conversa estava acabado. “Você está de volta em casa, Sirius?”

“Eu estou na mansão com Narcisa”, disse Sirius, que parecia cansado. “Nós voltamos ontem à noite. Já mandei os Aurores empacotarem as malas agora e caírem fora, eu estive acordado a noite inteira. Eu mandei uma coruja para Dumbledore...”

“Eu também”.

“E eu também mandei uma coruja para os amigos de Harry. Eu mandei uma mensagem para Rony Weasley ontem à noite, uma vez que ele é o melhor amigo de Harry e eu acho que ele deve fazer alguma idéia de onde ele deve ter ido”.

“O que Dumbledore disse?

“Ele acha que Harry está bem”, disse Sirius. “Ele não está preocupado”.

“Bom”, disse Lupin, tentando soar mais otimista do que ele realmente estava.

“Você foi até a Floresta Proibida?”

“Fui”, disse Lupin. Ele pegou o livro e o levou até o fogo, onde ele o mostrou a Sirius e explicou o que o centauro havia lhe dito. Sirius olhou para o livro e balançou a cabeça. “Nunca vi nada igual a isso”, ele disse. “Nem mesmo durante o meu treinamento de Auror. Tem certeza que isso é uma língua? Parecem ser só rabiscos”.

“Ah, é uma língua sim”, disse Lupin. “Existem padrões reconhecíveis. Mas eu juro que nunca vi nada como isso antes. E considerando que eu só tenho metade dos meus livros aqui, e metade dessa metade foi arruinada...”

“Falando de livros”, interrompeu Sirius. “Olhe, eu estive falando com o Ministério sobre você...”

“Sobre mim?” disse Lupin, surpreso.

“Eu queria muito que você viesse e ficasse conosco aqui na Mansão”.

Lupin só olhou. “O que isso tem a ver com o Ministério?”

Sirius suspirou. “Os Aurores passaram um pente fino por aqui, eles levaram os papéis de Lúcio e todos os itens de Magia Negra que ele colecionava. Mas eles nem tocaram na biblioteca. Existem milhares de livros na biblioteca daqui, e muitos deles são as únicas edições existentes. Levaria meses para separar e catalogar, e muitos dos Aurores admitiram que nunca viram metade das línguas representadas aqui. Então eu pensei em você. O Ministério está disposto a pagar você para ajudar a catalogar a biblioteca de Lúcio...”

“Eu não sou um Auror”, protestou Lupin.

“Nós não precisamos de um Auror”, disse Sirius. “Nós precisamos de alguém que é especialista em estudos sobre Arte das Trevas. Alguém que lecione. Alguém como você”.

“Eu tenho um emprego aqui, Sirius. Eu não posso simplesmente sair”.

“Esse emprego paga melhor”, disse Sirius. “E Dumbledore está feliz em te deixar ir. Ele disse que ele está pronto para encontrar um substituto disposto a pegar as suas aulas”.

“Quem?” disse Lupin curioso.

“Snape”, disse Sirius, sorrindo mais do que nunca.

Dessa vez, Lupin sorriu de volta. “Eu posso até ver Fleur tentando tira-lo da sala...”

“O quê?”

“Nada”.

“Então você vem?”

“Claro que eu vou”.

*****

“Essa é uma mudança de planos interessante”, disse Slytherin em sua voz cruel e perturbadora. Ele estava em pé calmamente ao pé das escadas, parecendo pálido e mortal. Ele estava com vestes diferentes das que ele havia vestido mais cedo, estes eram de um verde muito mais vivo e caía em pregas pesadas até a barra, a qual era contornada em ouro. Eu imagino se ele se arrumou todo pra me impressionar, Hermione pensou, sentindo-se nauseada.

Ela olhou rapidamente para Draco, esperando vê-lo horrorizado, chocado ou simplesmente surpreso. Mas ele não parecia estar tendo nenhuma dessas reações. Havia um olhar em seu rosto que se parecia estranhamente com... reconhecimento. Como se ele tivesse trombado com alguém que ele conhecesse, alguém que ele não tinha esperado ver nunca mais.

“Você”, ele disse, olhando para Slytherin. “Eu te conheço. Mas... você está morto. E você é baixinho”.

Slytherin deu a ele um sorriso frio.

“Ah, claro”, disse Draco, em um tom de quem está lembrando de algo. “Botas plataformas, certo?”

“Draco”, sussurrou Hermione, avisando-o. “Não faça isso”.

“Então”, disse Draco, que parecia estar gostando da conversa. “Como essa história de vender a sua alma pro Diabo funciona pra você no final das contas? Porque eu posso te dizer que, aqui de fora, isso não pareceu ser uma jogada muito brilhante”.

“Você”, disse Sytherin, não se movendo, “você sabe quem eu sou, então?”

“Você é meu ancestral”, disse Draco. Ele colocou as mãos atrás de si e tirou a espada de sua bainha, segurando-a em sua frente. “E eu acho que isso seja seu”.

“É sua”, disse Slytherin. “Você tem meu sangue em você, garoto. E agora você tem os meus sonhos e memórias. Logo você se tornará eu”.

Draco sacudiu a cabeça. “Eu realmente não consigo ver isso acontecendo”, ele disse, ainda segurando a espada na sua frente. Apesar de seu horror, Hermione estava impressionada. Ele realmente segurava-a como se soubesse como usá-la.

Slytherin sorriu novamente, ainda mais friamente. “Você é uma criança”, ele disse. “Você não consegue reconhecer como o destino funciona. Você pensa que foi o acaso que trouxe essa espada até você? Ou que te trouxe até aqui? Ou que te trouxe pra ela?” ele disse, olhando para Hermione. “Eu tinha pensado que ela me amaria. Mas que ela viria a te amar, isso é até melhor. A História se repete, do jeito que deveria ser”.

“Okay, tem algo que não funciona nisso tudo”, disse Draco, olhando para Slytherin. “Você é um lunático estrondoso”.

Slytherin continuou a sorrir.

“Hermione não me ama”, disse Draco. “Ou ama?” ele disse, virando-se e olhando pra ela.

Hermione não disse uma palavra.

“Considere isso como um presente”, disse Slytherin, olhando pra Draco. “De mim pra você. Só um pequeno exemplo do que eu posso te dar”.

“Hermione?” disse Draco novamente, parecendo chocado. Ele deu um passo em direção a ela, ao mesmo tempo que ela se virou em direção a ele e o cabo da espada colidiu com o braço dela.

Ela gritou e deu um pulo pra trás, segurando seu pulso, onde uma faixa vermelha estava aparecendo.

“Rowena”, latiu Slytherin, no que quase soou como um aviso.

Ele começou a subir as escadas, parecendo agitado.

“Volte”, sussurrou Hermione, olhando pra ele com repulsa. Ela deu um passo pra trás, levando com seu braço ileso a manga de Draco, quase o colocando atrás dela, como se ela estivesse tentando colocar-se entre ele e Slytherin. “Só volte”.

Slytherin parou, olhando pra ambos com olhos negros e vazios. Então, ele pegou algo de dentro de sua manga volumosa e tirou o objeto que brilhava sobriamente na meia-luz. Ele segurou-o firmemente por um momento, olhando pra Draco. Então ele disse, “Pegue isso, garoto”. E jogou-o rapidamente, diretamente no rosto de Draco.

Automaticamente, Draco levantou a mão que não estava segurando a espada e pegou o objeto do ar. Aí, ele sobressaltou-se assim que sentiu um puxão inesperado por trás de seu abdômen. O mundo se repartiu de repente pelo centro e sua visão foi inundada com uma mistura de cores. Chave de portal, ele pensou vagamente, sentindo-se tonto. Ele estava consciente que Hermione estava ao lado dele, ainda agarrando sua manga. Aí, o chão atingiu os seus pés e ele caiu de joelhos, quase não conseguindo evitar ser despedaçado na lâmina da espada enquanto caía pra frente.

Ele olhou a sua volta, viu grama verde crescendo entre as fendas na rocha, viu uma parede em ruínas que lhe era familiar, viu a linha de árvores que demarcavam o começo da floresta. E acima da parede, ele viu a mesma torre da qual eles tinham acabado de sair. Slytherin os tinha enviado pra fora dos muros.

***

Hermione olhou em volta, confusa. Ela podia dizer que agora eles estavam fora das paredes da torre, mas por quê? Ela olhou para Draco, que tinha derrubado a espada na grama e estava olhando a sua volta, parecendo estar furioso.

“Maldição!” ele gritou de repente. “Eu não acredito que eu caí nessa! ‘Olhe, pegue!’ Esse é o truque mais velho do livro, da mesma época do ‘Olhe, atrás de você!’ ”

“Aquela coisa que ele jogou pra você”, ela disse, atordoada. “Aquilo era uma chave de portal?”

“Deve ter sido”, ele disse, olhando pro objeto que estava segurando na sua mão. Ele vagarosamente abriu os dedos e observou. Era um pedaço de prata desgastada, no formato do que parecia ser um X, meio torto e de lado. Um anel no topo mostrava onde uma corrente poderia ser colocada. “Parece ser uma peça de bijuteria barata”.

“Eu não consigo acreditar que ele só nos deixou ir”, ela disse de repente.

Draco olhou pra ela, franzindo a testa. “Hermione, ele é mais louco que... bem, eu não consigo pensar em nada no momento, mas ele é mais maluco que alguém bem, bem maluco. Ele é completamente e totalmente pirado. Provavelmente por ter estado morto por tanto tempo”.

“Ele é louco”, ela disse calmamente. “Mas ele também é muito determinado”.

Draco se levantou, chacoalhando a grama das suas roupas, e ofereceu uma mão para ajuda-la a se levantar também. Ela aceitou.

Foi como um choque elétrico. Ela sentiu uma descarga correr por ela quando a sua mão tocou a dele, sentiu a poção no seu sangue responder com uma onda de calor e uma explosão repentina e incontrolável de desejo.

Ela se levantou lentamente, olhando fixamente para ele. Ela podia sentir a confusão, preocupação e irritação dele; de fato, ela sentia que cada centímetro do corpo dela estava sensível ao que ele devia estar sentindo. O choque esmagador que ela tinha sentido ao ver que tinha sido ele a ir resgatá-la estava começando a desaparecer, para ser substituído por um peso terrível, doloroso e insuportável. E uma voz fraca e fria no funda da mente dela estava dizendo pra ela que esse peso iria embora se ela simplesmente fosse até ele e...

Não.

Ela tirou sua mão bruscamente. “Não me toque”.

Ele olhou pra ela, surpreso e com uma fúria crescente nos olhos. “O que tem de errado com você, Hermione?”

“O que tem de errado comigo?”ela repetiu, com uma gargalhada sem divertimento. “EU te amo, é isso que está errado comigo”.

Draco olhou pra ela, parecendo que ele achava que não tinha escutado corretamente. “Você o que?”

“Eu te amo”.

Ele balançou a cabeça. “Eu não...”

“Eu estou apaixonada por você”, ela disse.

Ele ficou pálido, assustadoramente branco. Parecia mais que ela tinha batido nele ao invés de ter dito que o amava. Ela se sentiu tão culpada como se tivesse batido nele.

“Não”, ele disse. “Você está apaixonada pelo Harry”.

“Isso é verdade”, ela disse, fechando os dedos das mãos em punhos de tanta ansiedade. “É verdade, mas... Você não ouviu o que Slytherin disse, lá nas escadas?”

“Eu pensei que nós tínhamos entrado em acordo que ele tinha bebido uma meia dúzia de drinques a mais”, disse Draco. “E francamente, eu estou começando a duvidar de você também, então eu acho melhor você se explicar. Rápido”.

“Slytherin me deu uma poção do amor”, ela disse, sem nenhum tom na voz. “Ele tinha a intenção de que eu me apaixonasse por ele. Essa poção faz você se apaixonar pela primeira pessoa que você vê depois de beber. Acontece que a primeira pessoa que eu vi”, ela respirou fundo, “foi você”.

Ele olhou pra ela, parecendo completamente incrédulo. “Uma poção do amor”, ele repetiu, incerto.

Ela concordou. “Sim”.

“E agora você está apaixonada por mim? Por causa de uma poção?”

“Sim”, ela disse novamente.

“Mas você não me amava antes”, ele disse, e agora havia um tom melancólico adicionado à voz dele que ela nunca tinha ouvido antes. “Você não me amava... antes da poção?

Hermione balançou a cabeça vagarosamente. “Não desse jeito”.

“Oh”, ele disse simplesmente, e depois, “Quanto tempo isso supostamente deve durar, Hermione?”

“Eu acho”, ela disse, “que foi feita para ser permanente”.

“Oh”, ele disse novamente. Ele ainda parecia incrédulo.

Incerta, ela foi até ele e pegou seu braço levemente. O couro de pele de dragão era tão áspero quanto areia sob os dedos dela. Ela olhou para o rosto dele, e seu coração virou de ponta cabeça. Era como olhar para Harry, o mesmo sentimento de desejo tão intenso que tinha uma forma e uma cor própria. Ela nunca achou que se sentiria dessa forma ao olhar para um par de olhos que fossem de qualquer cor menos verde, ao olhar para qualquer rosto, que não o de Harry. “Eu vou arranjar um contra-feitiço para isso”, ela disse desesperadamente. “Eu sei que existe um jeito. Mas nós não podemos contar pro Harry...”

Draco pareceu inquieto. “Hermione, nós temos que contar pra ele”, ele disse e ela se afastou.

“O quê?”

“Você realmente espera que ele não note?”disse Draco com uma voz forçada. “Hermione, ele te ama. Ele nota tudo que você faz. Você acha que ele não vai notar isso?”

“Notar o quê?”disse Hermione teimosamente. “Não há nada pra ser notado. Nada vai acontecer, exceto que eu vou ter que sofrer esse... esse terrível engano... até que nós cheguemos em casa e eu possa descobrir o contra-feitiço”.

“Terrível engano?”disse Draco, com um sorriso fraco e insincero. “Ai”.

“Tudo bem, talvez eu não tivesse que ter dito ‘horrível’. Talvez só ‘engano’ ”.

“Ainda não fez nada pra melhorar o meu ego, mas eu vou deixar essa passar. Hermione, eu sei que você não quer magoá-lo, mas ele entenderia que isso é temporário e que não é sua culpa...”

“Ela vai ficar nervoso comigo”, disse Hermione. “Mas eu não ligo. Eu estava pensando em você”.

“Em mim?”

“Eu não quero que Harry o odeie. Porque ele precisa de você”.

“Harry não precisa de mim”.

“Sim”, ela disse. “Ele precisa”.

“Hermione…” Draco esfregou os olhos e suspirou. “Minha nossa, como você é teimosa”.

“Ele precisa de você”, ela repetiu, sua voz se alterando para um tom quase histérico. “Você sabe que isso o magoaria, e o fato de ser você torna tudo muito pior... tudo já está tão frágil, e com isso...”

“Harry não é frágil desse jeito”, ele disse.

“Bem, nem eu”, disse Hermione. “E eu posso lutar contra isso. E eu vou lutar”.

“Você acha que pode lutar contra isso?”disse Draco, e agora ele parecia furioso. “Você acha que pode lutar contra o que você sente, cada segundo de cada dia, e fingir que tudo está bem, e isso vai ser fácil?”

“Não é pra sempre”, ela disse. “É só até que eu possa reverter o feitiço”.

“E se ele não for reversível?”

“Todo feitiço pode ser revertido”, ela disse.

“Avada Kedavra não pode”, ele disse, e ela teve um calafrio.

“Isso aí é morte”, ela disse. “Isso aqui é só uma poção do amor”.

Ele foi até ela e colocou uma mão no queixo dela, levantando-o para forçá-la a olhar pra ele. Ele tinha quase a mesma altura de Harry, ela tinha que olhar pra cima, mas não tão pra cima, para ver os olhos dele.

“Como isso te faz sentir?” ele disse.

“Como o que me faz sentir?”ela perguntou, embora ela soubesse o que ele quis dizer.

“O feitiço”, ele disse.

Ela ouviu a própria voz, como se viesse de muito longe. “Quando eu olho pra você, eu quero morrer”.

Ele ainda estava segurando o rosto dela em suas mãos, e quando ele olhou pra ela, ela viu os olhos dele se tornarem mais calmos, o prata se tornando cinza. “Não olhe pra mim”, ele disse. Sua voz era calma também, uma voz que ele não usava com ninguém a não ser ela. “Não olhe pra mim, não fale comigo, nem se aproxime de mim. E eu não me aproximarei de você. É o único jeito”.

“Tudo bem”, Hermione disse tristemente. Ele estava certo; ela não via nada mais que poderia ser feito.

Ele se afastou dela, e ela deu um passo pra trás, afastando-se mais dele.

“Vamos”, ele disse.

*****



Enquanto eles contornaram o lado da torre, Hermione viu Harry e Rony na frente do muro, olhando ansiosamente para cima dele, como se esperassem que ela ou Draco aparecessem em seu topo a qualquer momento. Rony estava dizendo alguma coisa para Harry, e Harry estava sacudindo a cabeça, não veementemente, mas ela podia dizer mesmo à distância que ele estava discordando firmemente – e ela parou por um momento, apenas olhando para eles – seus dois melhores amigos no mundo, os quais ela havia temido nunca mais ver de novo. Até a visão dos dois discutindo entre si pareceu completamente amável.



Ela olhou para Draco, que estava observando ela com uma expressão indecifrável. Ele capturou o olhar dela e depois apontou seu queixo na direção de Rony e Harry, obviamente indicando que ela deveria mostrar sua presença a eles. Ela franziu as sobrancelhas, e se virou na direção dos dois garotos.



“Rony!” ela chamou, e depois, mais alto, “Harry!”



Rony se virou primeiro, e a viu, e seus olhos azuis se arregalaram. E depois Harry se virou, e ela viu seu rosto; e subitamente uma felicidade selvagem refletiu pelo rosto dele quando ele a viu, as pernas dela cederam e ela sentou forte no chão.



Ela viu Harry se lançar a correr, e depois ele se jogou ao seu lado e estava ajoelhado na grama. Ela o viu através de olhos desfocalizados – uma sombra com o formato de Harry, com uma mancha de cabelo despenteado – e então os braços dele estavam em volta dela, e ele estava apertando-a tão junto a ele que ela não conseguia respirar. Ela jogou seus braços em volta dos ombros dele, sentindo-o tremer, e percebeu – com uma mistura de admiração e horror – que ele estava chorando. Harry, que nunca havia chorado, nem mesmo quando ele tinha onze anos, nem mesmo em situações que fariam a maior parte das crianças berrarem como bebês.



“Harry”, ela murmurou.



“Eu pensei que você estava morta”,ele disse, dentro do cabelo dela. “Eu estava certo disso.”



“Não... Harry, eu estou bem... Eu estou perfeitamente bem”.



Ele se afastou dela, longe o bastante para tocar o seu rosto com a mão, correndo seu dedo pelo seu rosto, descendo até a boca dela. “Você não sabe como isso foi –”



“Shh,” ela disse, puxou a cabeça dele para baixo, e o beijou ardentemente. “Eu estou bem.”



Em resposta, ele a segurou mais apertada, correndo suas mãos em círculos pelas suas costas, e a beijando, com grande entusiasmo e pontaria irregular, por todo o rosto dela e pescoço e mãos. Ela o apertou de volta, sentindo um pouco do medo venenoso que pareceu ter vazado no seu sistema com a poção se enfraquecendo. A familiaridade do abraço do Harry era completamente confortante, porque, ela pensou, quão poderosa poderia ser uma poção do amor quando você já estava apaixonado por alguém? E o amor dela por Harry não havia diminuído nem um pouco; ela sabia disso sem nem mesmo pensar sobre isso. Ele era tão parte dela como sempre havia sido. Ela levantou seu rosto para ser beijada, segurando-o apertado enquanto o fazia, e pensou, Eu posso agüentar isso. Isso vai ser fácil.



***



“Oh, isso é revoltante”, disse Rony, que estava com Draco perto do muro. Eles haviam virado as costas, então não teriam mais que olhar Harry e Hermione, mas podiam ainda ouvi-los, e nenhum dos dois estava muito feliz por isso.



“Amor é uma coisa bonita, Weasley”, falou Draco, fitando o céu.



“Não quando são os seus dois melhores amigos”, disse Rony. “Eca, eu consigo ouvir o barulho dos beijos”.



“Tente pensar em outras coisas”



“Ah, eu tenho várias coisas para pensar a respeito”, disse Rony, e agora havia uma margem para sua voz. “Como você, e por que você não voltou pra nos buscar, como Harry te pediu”.



“Não havia tempo” disse Draco, brevemente.



“Eu não acredito nisso”, disse Rony.



“Eu não me importo”, disse Draco.



“Não pôde se preocupar em voltar pra nos buscar, pôde, Malfoy?” disse Rony. “Não pôde resistir à oportunidade de tocar sua própria trombeta”.



“Pelo menos eu tenho uma trombeta”, disse Draco, “Ao contrário de certas pessoas”.



Rony pareceu irritado, mas antes que tivesse a oportunidade de dizer alguma coisa, houve um suave *pop* e Carlinhos Weasley aparatou na clareira.



“Oi, Carlinhos”, disse Rony sombrio.



Draco estava alarmado. “Não foi tanto tempo assim, foi?”



“Não,” disse Carlinhos, que estava segurando alguma coisa em sua mão. Uma carta, Draco viu. Pareceu que Carlinhos já a havia aberto e lido. “Mas isso chegou pra você, Rony.”



“Correio coruja?” disse Rony, apanhando a carta com curiosidade.



“É de Sirius Black”, disse Carlinhos, parecendo levemente exasperado. “Ele estava procurando por Harry. Ele não imaginava para onde todos vocês haviam partido, claro. Eu finalmente espremi algumas informações de Gina e escrevi uma longa carta de volta, mas eu ainda prefiro que Harry escrevesse por ele mesmo. De qualquer forma, onde está Harry ... Meu Deus!” exclamou Carlinhos, avistando Harry e Hermione por sobre o ombro do Rony. “Essa é...”



“Hermione”, disse Rony monotonamente.



Carlinhos ainda estava olhando fixamente, atônito “Eu sabia que vocês vieram aqui procurando por ela, mas eu não sabia que Harry e Hermione eram...” Ele piscou. “Harry e Hermione?”



“Eu presumo que você deixou sua assinatura do Semanário das Bruxas expirar”, disse Draco. “Ou você já saberia disso”



“Há quanto tempo isso está acontecendo?”



“Séculos”,disse Rony, revirando os olhos.



“Mais ou menos quinze minutos”, disse Draco



“Não o ãnh... beijo. Eu digo, o relacionamento. Quer saber, deixa pra lá. Eu realmente não preciso saber. Apesar disso, eu tenho que dizer”, ele falou, um fraco sorriso estremecendo no canto da boca, “Eu não acho que eu tenha beijado alguém assim quando tinha dezesseis. Eu não tenho certeza nem que sabia que você podia beijar alguém assim quando eu tinha dezesseis”.



“Pelo menos eles só estão se beijando”, disse Rony. “Eu estava começando a ficar preocupado”.



“Nós realmente deveríamos voltar ao acampamento”, disse Draco.



“Certo”, disse Carlinhos



Ninguém se mexeu.



“Você vai lá, então”, disse Rony, sorrindo maliciosamente para Carlinhos. “Você é o in loco parentis por aqui”.



“Não pode ser mais assustador que um monte de dragões raivosos”, Draco adicionou.



“Não sei, não”, disse Carlinhos. “Eu prefiro negociar com um monte de dragões raivosos a ter que separar dois adolescentes cheios de hormônios à solta”. Ele olhou para Rony. “Eles são os seus melhores amigos, você vai lá separá-los”.



“É verdade, Weasley”, disse Draco. “Você está com medo de quê?”



“Nada”, disse Rony. “Bem, de aranhas, mas...”



Ele se calou. Eles se entreolharam. Então, Carlinhos se virou, e, assim como Rony e Draco, não estava mais encarando o casal. “Vamos esperar só mais um pouco”, ele disse.



“Nós vamos ficar aqui por um loooongo tempo, não vamos?” disse Draco, com um tom de renúncia.



***



Harry, Hermione, Carlinhos, Rony e Draco sentaram-se em volta da pequena mesa de cozinha da barraca de Carlinhos. O próprio Carlinhos estava num silêncio completo enquanto os quatro contavam a ele tudo o que havia acontecido. Harry e Hermione sentaram juntos em um dos finais da mesa, suas mãos entrelaçadas sobre o braço da cadeira de Hermione. Rony estava no lado oposto ao deles, e Draco havia empurrado sua cadeira para trás, para longe da mesa, virou-a e dobrou os braços sobre as costas da cadeira. Ele parecia despreocupado, mas Hermione havia percebido que até agora ele não tinha olhado para ela nenhuma vez. Então ele estava cumprindo com a sua parte do acordo, ela pensou. Mesmo que ela não estivesse. Não completamente.



“Salazar Slytherin”, disse Carlinhos, sacudindo sua cabeça em surpresa. Ele olhou para Draco. “Bem, eu suponho que de agora em diante você pode dizer que derrotou o maior bruxo das trevas da história”.



“Suponho que sim”, disse Draco, parecendo mais animado. “Isso se você dizer ‘derrotar’ no sentido de ‘ter conhecido’ ”.



“Ele nos deixou ir”, disse Hermione, num tom desanimado. “Nós não o derrotamos”.



“Apesar de que eu ter feito um monte de observações sarcásticas, e eu estou certo que magoei seus sentimentos profundamente,” Draco ressaltou.



“Ah, sim,” disse Harry. “O ‘blá-blá-blá’ chegou para duelar.”



“Deixou vocês irem?” disse Rony, parecendo confuso. “Por que diabos ele os deixaria ir?”



“Não faço idéia”, disse Draco.



Hermione olhou para ele, e rapidamente desviou o olhar. Até agora, eles não haviam mencionado a poção do amor, ela havia deixado isso inteiramente fora de sua versão dos fatos, contudo ela tinha contado a eles todo o resto. Isso pesou nela; na verdade, ela sentiu como se ela estivesse carregando um enorme tijolo com as palavras VOCÊ ESTÁ MENTINDO PARA HARRY escritas. Mas ela não viu o que mais ela poderia fazer. “Talvez ele percebeu que eu não seria uma boa Fonte, finalmente”, ela falou fracamente.



“Talvez ele não gostou da aparência dessa espada”, disse Harry, apontando com o queixo para Draco. “Lembra o que Lupin disse, essa espada pode matar qualquer coisa, até os ressuscitados”.



Hermione deu de ombros.



“Talvez”, disse Rony calmamente, “Malfoy o convenceu a deixá-los ir.”



Todos eles olharam-no atônitos.



“Você esteve sozinho lá por muito tempo, não esteve, Malfoy?” disse Rony, na mesma voz tranqüila. “Você fez algum tipo de pacto com ele?”



Até Draco pareceu chocado. “Pacto?” ele disse, vagamente.



“Bem, você não voltou para nos buscar”, disse Rony, ainda olhando para Draco “Você deve ter feito alguma coisa nesse tempo todo”.



“Rony,” disse Harry. “Se Malfoy não voltou para nos pegar, tenho certeza que ele teve uma boa razão”. Harry olhou diretamente para Draco. “Não teve?”



Hermione viu Draco pelo canto do olho enquanto toda a cor escoava do rosto dele. “Eu não pude”, disse ele pausadamente. “As veelas...”



“Certo”, disse Harry, sem rancor. “Isso não tem importância mesmo, tem?” ele emendou, olhando para Rony, “Se Hermione está bem?”



Em resposta, Rony empurrou sua cadeira para longe da mesa e saiu do aposento.



Harry o assistiu ir, mordendo o lábio. “Ele está agindo tão estranho” disse ele de repente, aflito. “Alguma coisa está incomodando-o”.



“Deixe-me adivinhar,” disse Carlinhos. “Ele está mau-humorado, irritável, bravo com todo mundo, e passa muito tempo olhando raivosamente para o espaço.”



“Sim”, disse Harry. “O que ele tem?”



Carlinhos encolheu os ombros. “Ele tem dezesseis”, disse.



“Eu também tenho dezesseis”, disse Harry. “E Malfoy também”.



“Sim, bem, nenhum de vocês é exatamente normal, é?” ressaltou Carlinhos.



“Touché, Carlinhos”,disse Draco, com um meio-sorriso.



“Ah, vocês sabem. O famoso Harry Potter, e Malfoy, você também está tão famoso nesses dias, ainda mais com os recentes acontecimentos. Eu posso ter deixado a minha assinatura do Semanário das Bruxas expirar, mas eu leio o Profeta Diário. Vocês dois freqüentando a escola de Magids foi notícia de primeira página”.



Hermione olhou para Harry, e viu que ele estava sorrindo. “O quê?” disse ela, curiosa. “Isso é engraçado?”



“Não”, disse Harry, “é só que...” ele parou, e olhou para a mesa. Ela teve a sensação que ele estava relutante em dizer o que queria com Draco ali, mas pareceu determinado em seguir em frente de qualquer jeito. “Quando nós percebemos que alguém havia seqüestrado você”, ele disse a Hermione, sem realmente olhar para ela, “Eu supus que fosse pra me atingir.”



“Não teve nada a ver com você, Harry”, disse ela rapidamente.



“Eu sei” disse ele. “É por isso que eu estava sorrindo. Eu sei que pode parecer estranho, mas é um alívio para mim saber que quando você estava em perigo, não foi por minha causa, ou por causa de quem eu sou.”



“Aham”, disse Carlinhos, parecendo embaraçado. “Talvez eu devesse deixar vocês dois falarem a sós?”



Hermione olhou rapidamente, e viu, com uma pontada de choque que Draco havia ido, havia deixado o aposento tão silenciosamente que nenhum deles havia percebido sua saída.



“Tudo bem, Carlinhos,” ela disse. “É sua cozinha, não é? Além do que, eu estou tão cansada, tudo o que eu quero fazer é ir dormir”.



Carlinhos afastou sua cadeira. “Certo. Eu vou te levar para a sua barraca, então.”



***



Quando Rony entrou na sala de estar de Carlinhos, encontrou Gina curvada no sofá lendo um exemplar da Bruxa Semanal Teen que ela havia pegado debaixo do sofá de Carlinhos. Ela havia se recusado a sentar na cozinha com o resto deles; ela ainda estava furiosa por ter sido deixada de fora da expedição.



“Oi, Gina” disse Rony.



Gina olhou para a sua revista com os olhos estreitos e escuros. “Você é um grande idiota, Rony”, ela disse sem olhar para cima. “E eu te odeio”.



“Gina... eu te falei que eu sentia muito. Carlinhos disse que teríamos que ir sem você”.



“Bem, não foi tão ruim”.O rosto de Gina, antes carrancudo, se abriu num sorriso relutante. “Eu fui alimentar os dragões”.



“Sozinha?”



“Não, com dois amigos de Carlinhos. Lindos bruxos jovens em calças de couro. Digamos que não foi o pior dia que eu já tive”.



Rony revirou os olhos. “Estou feliz por você ter estado longe de confusão .”



A expressão alegre de Gina se enfraqueceu ao franzir as sobrancelhas, e ela olhou para a cozinha. Carlinhos parecia estar muito sério, Harry apenas um pouco menos. Hermione simplesmente parecia exausta . “É verdade, sobre Salazar Slytherin ter voltado?” disse Gina a Rony, quase num murmúrio. “Eu estava ouvindo, mas eu não tinha certeza se eu escutei direito”.



“Isso é o que Hermione diz”, disse Rony. “E ela não é de exagerar. E Malfoy a apóia”, ele deu de ombros, “não que isso signifique nada, realmente, já que ele mente com a mesma freqüência que a maioria das pessoas respiram. Mas eu não vejo nenhuma razão para ele estar mentindo agora”.



Gina encolheu os ombros. “Eu me lembro da estátua de Slytherin da Câmara Secreta... ele tinha uma cara tão cruel, horrível”.



Rony olhou para longe dela, em direção ao espelho prateado na parede que lhe devolveu o seu próprio reflexo: cansado, pálido e preocupado.



“Meu Deus, você é alto”, disse o espelho, numa voz ronronante. “Você sabe o que dizem sobre homens altos”.



Rony pulou apressado para trás, fora da linha de alcance do espelho. Quando ele fez isso, Draco saiu da cozinha, deu a Rony um olhar desagradável, e ostentosamente se inclinou sobre as costas do sofá para ver o que Gina estava lendo. “Aquele Garoto Lindo da Aula de Poções – Sete Feitiços Simples Para Fazê-lo te Enxergar,” ele leu, e ergueu uma sobrancelha para ela.



Gina corou. “Feitiços de amor são um mito, de qualquer forma,” ela disse.



“São?” disse Draco, e retirou a revista cuidadosamente das mãos dela. “Não haveria nada nisso aí sobre como reverter feitiços de amor, haveria?”



Gina bufou. “Por que alguém iria querer fazer isso?”



“Boa pergunta”, disse Draco. “Obrigado pela revista”, ele emendou, agitou a revista para ela e saiu da barraca.



Gina olhou para Rony. “Ele pegou minha revista”, ela disse, surpresa.



“Certo”, disse Rony. “Eu vou espancá-lo até ele devolver, então”, e saiu da barraca atrás de Draco, os gritos de Gina de “Rony, Eu só estava brincando!” seguindo atrás dele.



Era quase o pôr-do-sol, e o céu sobre o acampamento estava começando a escurecer com linhas pálidas como marcas dentro de uma concha. Draco estava andando tão rapidamente para longe da barraca que Rony, cujas longas pernas o permitiam andar mais rápido que qualquer um, demorou muito para alcançá-lo.



“Malfoy”, ele disse. “Espere”.



Draco continuou andando.



“Malfoy,” disse Rony, mais fortemente, alcançou-o e colocou a mão no braço de Draco.



Draco desviou dele. O seu rosto estava sem expressão, contudo se Rony o conhecesse tão bem quanto Harry ou Hermione, teria visto pelos seus olhos que ele estava querendo uma briga.



“Por que você está fingindo que não consegue me escutar?” provocou Rony.



“Talvez porque você sempre diz meu nome como se significasse ‘dê o fora daqui’ ”, sugeriu Draco.



Rony ignorou isso. “Eu quero uma palavra com você, Malfoy”.



“Depende”, disse Draco. “Você vai falar algo útil, ou só vai olhar para mim e ficar todo misterioso?”



“Na floresta”, disse Rony. “Eu estava prestando atenção em você.”



Agora o coração de Draco deu um pulo engraçado. Será que Rony queria dizer que o tinha visto com Hermione?



“Me assistindo fazer o quê?”



“Eu estava te observando quando você estava no jardim”, disse Rony. “Vi você falando com as veelas. Depois você foi embora. Você foi embora”, ele repetiu, sua voz aumentando. “Você deveria ter voltado pra buscar Harry e eu. Pelo menos pelo Harry”.



Draco sorriu. Com o humor que ele estava, a idéia de brigar com Rony deu a ele um entusiasmo para humor negro. “Não é da sua conta o que eu faço, Weasley”, ele disse. “Certo?”



“É da minha conta”, disse Rony. “É dos meus amigos que estamos falando. E talvez você possa enganar Hermione, ela tem uma venda maciça nos olhos em tudo que diz respeito a você, e você pode enganar Harry, porque ele confia em todo mundo, e você pode até enganar Carlinhos com seus dragões estúpidos, mas você não consegue me enganar. Malfoy. Eu sei o que você é”.



“E eu sei o que você é”, disse Draco. “Um triste, ridículo idiota com um complexo de inferioridade do tamanho de Brighton. Me conte, quando você vai admitir que tudo isso é porque você está com ciúmes?”



Rony ficou branco. “Eu estou com ciúmes? Você é que está apaixonado por Hermione. Eu aposto que quase te matou o fato dela ter escolhido Harry, não foi? E você mal pôde esperar pela primeira oportunidade que apareceu para tirá-lo do caminho...”



“Eu disse que você tinha um complexo de inferioridade?” interrompeu Draco. “O que eu quis dizer é que você é simplesmente inferior. Vamos lá, Weasley, você não é nada melhor em guerra psicológica do que em planos engenhosos. Eu sugiro que você saia daqui antes que se machuque”.



“O que você vai fazer?” zombou Rony. “Me bater com o seu exemplar enrolado da Bruxa Semanal?”



“Oh, eu não vou bater em você,” disse Draco, a voz dele animada com ameaça. Ele estava olhando para Rony com uma expressão que Rony não via no rosto de Draco há algum tempo. “Eu não perderia tempo batendo em você. Nenhum de nós pode perder tempo com você, não notou? Você pensa que ver Harry e Hermione está me matando? Eu acho que isso está matando você. Você nunca importou pra ninguém, durante toda a sua vida você nunca importou pra ninguém; a única coisa que sempre importou sobre você é Harry. Se alguém na escola sabe o seu nome, é por causa de Harry. Se alguma vez você ganhou pontos para a sua casa, é por causa de Harry. Se você já passou em alguma matéria, é porque Hermione te ajudou. A única coisa que já foi especial ao seu respeito, Weasley, são os seus amigos. E agora eles têm um ao outro e não precisam mais de você, nem te querem por perto...”



“Cale a boca!” gritou Rony, cerrando suas mãos em punhos aos seus lados. “Só cale a boca, Malfoy, ou eu juro, eu vou destroçar a sua garganta!”



“Certo”, disse Draco. “Bem, eu vou te dar notas melhores por isso, Weasley. Destroçando a garganta, isso é um visual forte, não é misterioso”.



Houve um barulho atrás deles. Os dois viraram, para ver Gina, parecendo muito pálida na escuridão, se aproximando deles. “O que está acontecendo?” ela disse. “Sobre o que diabos vocês estão gritando?”



Rony a ignorou. “Um dia desses”, ele disse para Draco, “Todos eles irão perceber como você realmente é; Harry, Hermione, até Sirius. E eu estarei lá para assistir”.



“Rony”, disse Gina, chocada. “Não...”



Mas Draco a interrompeu. “Está tudo bem, Gina”, ele disse, ainda olhando para Rony.



Ele virou nos calcanhares e foi embora, desaparecendo rapidamente de vista assim que o preto de suas roupas se misturou na escuridão das sombras ao seu redor.



Rony estava olhando para Gina. “Não vá atrás dele, Gina...”



Mas ela já havia ido.



Rony suspirou e cruzou os braços sobre o peito, assistindo-a ir.



***



“Narcisa!”



Sirius veio derrapando pela esquina do hall para encontrar Narcisa, o cabelo dela em tranças, com vestes remendadas e uma expressão determinada, apontando sua varinha a um dos enormes retratos em moldura de ouro que forravam o corredor. Quando ela o avistou, seus olhos se arregalaram em surpresa.



“Sirius! O quê?”



Sirius parou na frente dela e apoiou as mãos nos joelhos, recuperando a respiração. “Essa casa é definitivamente muito grande”, ele reclamou. “Eu acho que ela cruza um meridiano. Quando são três horas na sala de desenho, são seis horas na biblioteca”.



“Harry e Draco estão bem”, disse Narcisa, imediatamente.



Ele se endireitou. “Como você adivinhou?”



“Porque de outro modo você não estaria fazendo piadas. Você recebeu notícias deles?”



“De Carlinhos Weasley”, disse ele, entregando uma carta a ela. “Eles estão com ele no acampamento de dragões. Não tão longe daqui, aliás. Ele diz que todos estão perfeitamente bem. E segue um pouco mais detalhado, na verdade... leia”.



Ele assistiu algumas das linhas de tensão desaparecendo do rosto dela enquanto ela lia a carta. Quando ela tinha terminado, entregou a carta de volta para ele e sorriu. “Bem, tchau”, ela disse.



Sirius piscou os olhos. “Tchau?” ele repetiu. “O que você quer dizer?”



“Bem, você está indo correndo atrás do Harry, não está? Para ter certeza de que ele está bem. Está certo. Você deve ir”.



“Não”, disse Sirius. “Eu não vou”.



Narcisa piscou os olhos. “Não vai?”



“Não”, disse Sirius. “Certo”, ele admitiu, “Eu queria muito, muito ir. Mas não irei”.



“Por que não? Não há mal nenhum em ser protetor”.



Sirius suspirou e apoiou as costas na parede. “Eu sei”, ele disse. “E a maior parte de mim quer ir correndo para lá, arrastá-lo para cá, e trancá-lo em seu quarto até que ele tenha 30 anos de idade. Mas o único efeito disso é que ele teria muito tempo de prática para usar as suas habilidades Magid para sair de lá. Eu tenho que mostrar que confio nele, Narcisa”.



“Ele não acabou de trair essa confiança?” ela perguntou, parecendo curiosa.



“Não exatamente”. Sirius pareceu pensativo. “Ele tem agido de acordo com sua natureza. A impressão que eu tenho é que ele pensou que sua amiga estavam em encrenca. Não só sua amiga, mas sua namorada. Ele nunca aprendeu a procurar os adultos para pedir ajuda, e eu penso que a essa altura, ele está velho demais para aprender isso. Ele não é só um garoto, ele é Harry Potter. Ele pode ser uma criança, mas ele tem problemas de adultos, ele sempre teve, e até agora ele lidou com esses problemas sozinho. E lidou bem. Tudo o que eu realmente posso dar a ele é apoio, e talvez um pouco de disciplina. Ele nunca vai ter uma vida normal; não há propósito em tratá-lo como um adolescente normal”.



“Não é fácil”, disse Narcisa, compreensivamente, “ser padrinho de um herói, não é?”



“Não”, disse Sirius. “Eu preferia muito mais que ele fosse algum tipo nerd intelectual que nunca saísse da biblioteca”.



Narcisa riu, “Sirius! Você odiaria isso!”



Sirius sorriu. “Sim, eu odiaria”. Ele olhou-a com curiosidade. “Eu tinha a intenção de perguntar antes”, ele disse. “O que você está fazendo?”



“Eu estava marcando os objetos que eu quero vender”, disse ela calmamente, e tocou a ponta de sua varinha numa pintura de um homem aparentemente severo e pálido com uma longa capa preta. Imediatamente, a moldura começou a brilhar numa cor azul tênue. “Tome isso, tio Vlad.”



“Você está vendendo as pinturas? Por quê?” perguntou Sirius. Era em ocasiões como essa que ele era lembrado fortemente que realmente não conhecia Narcisa tão bem assim. Contudo, ela parecia decidida com seu cabelo em tranças.



“Eu te disse antes”, disse Narcisa, indo até o fim do hall e marcando outro retrato. “O patrimônio Malfoy vale uma grande quantia, mas a maioria desse valor está investida em objetos. Pinturas, mobília, ouro... Eu quero ter algum capital líquido para Draco usar.”



“Quando ele entra em posse de tudo isso?” perguntou Sirius, parecendo ao redor, curioso.



“Metade quando ele tiver dezoito, o resto quando ele tiver vinte e um”.



“Dezoito?” Sirius assobiou. “Isso é bem jovem para merecer...”



“Setenta e cinco milhões de galeões”, disse Narcisa.



Sirius engasgou. “Setenta e cinco milhões?”



“Isso contando com o valor dos bens na Transilvânia e Turcomenistão, é claro”, ela disse calmamente.



“Meu Deus”, disse Sirius, e se apoiou de novo na parede. “Você acha que tem alguma coisa que podemos fazer para protegê-lo de virar um completo esnobe?”



Narcisa pôs as mãos nos quadris. “Meu filho não é um esnobe”, ela disse.



“Ainda não”, disse Sirius. “Mas todo esse dinheiro e poder...”



“Nem começam a compensar por todas as coisas que ele não teve!” disse Narcisa, sua expressão tempestuosa.



“Você está se sentindo culpada”, disse Sirius.



Narcisa olhou para ele por um momento, depois suspirou e correu as costas da mão pela testa. “Eu sei que estou”.



“Está tudo bem”, disse Sirius. “Eu me sinto tão culpado quanto você sobre todas as coisas que Harry não teve”.



“Mas você estava na prisão...”



“E você também”, disse Sirius.



Narcisa encolheu os ombros. “Suponho que isso seja verdade”.



“Eles dois”, disse Sirius lentamente, “são garotos realmente maravilhosos. E se nós podemos protegê-los de se matar...”



“Ou matarem um ao outro”, incluiu Narcisa.



“Então, eles irão se criar sozinhos”.



Eles se entreolharam. Sirius foi o primeiro a sorrir, e Narcisa sorriu de volta. “Estamos em grandes apuros, não estamos?” ele disse.



“Sim”, ela concordou. “Quando eles virão pra casa?”



“Amanhã de manhã. E eles estarão com seus amigos. O garoto Weasley, a irmã dele e Hermione, é claro. Isso não será um problema, será?”



“Essa casa tem trinta e sete quartos”, disse Narcisa. “Não há problema algum”.



***



Gina finalmente encontrou Draco esparramado no topo de uma grande pedra plana um pouco longe das barracas. Ele estava deitado de barriga e aparentava estar calmamente lendo o exemplar dela da revista Feitiço!. Ela sabia que ele a tinha visto, contudo como ela sabia disso ela não conseguiria dizer.





Ela escalou o topo da pedra e sentou perto dele, olhando para o topo da cabeça loira-prateada dele, que estava apoiada em suas mãos.



“Então”, ela disse. “Aprendeu alguma coisa dessa revista?”



“A não usar listras horizontais”, ele disse. “Elas me farão parecer mais gordo.”



“Por favor, você não poderia nunca parecer gordo. Você é... ah, deixe para lá, você não estava falando sério, estava?”





“Não, mas eu estou muito sério sobre fazer esse Teste Semanal de Personalidade. O tópico dessa semana: Você é Sexy, Sensual, e Sem Medo de Mostrar Isso?”



“Quanto você marcou?”



“Bem”, disse Draco gravemente, “aparentemente eu sou completamente brega”.



Gina espiou sobre o ombro dele e sorriu. “Bem, você não deveria ter marcado que acha que calcinhas pretas de seda e um sutiã tomara-que-caia fazem um vestuário apropriado para uma noite na cidade”.



“Ah, mas eu acho. Mais garotas deveriam se vestir assim de noite. De dia também.” Ele fez uma careta. “Você percebe que essa revista é um perfeito trapo, certo? Olhe para as coisas que você pode encomendar atrás. ‘Por favor, enviem-me o meu Feitiço de Melhoria 24 Horas. Somente 12 galeões e dura o dia inteiro. Por favor, assine na linha pontilhada para confirmar que você é maior de dezoito, mesmo que seu QI não seja’ ”.



Gina explodiu em gargalhadas.



Draco olhou de lado para ela. “Viu só”, ele disse. “Eu te disse que se eu alguma vez tentasse ser engraçado, você estaria rolando no chão rindo”.



“Eu não estou rolando”, disse Gina, tentando se compor.



“E eu não estou realmente tentando”, disse Draco, fechou a revista, e sentou-se, esticando as pernas na sua frente. Ele olhou para ela, e, ainda que ele não mudasse sua expressão, ela de repente se sentiu sóbria.



“Rony estava sendo um idiota antes”, ela disse. “Me desculpe”.



Draco não respondeu. Ela olhou para ele e viu que ele estava fitando vagamente a linha escurecida de árvores na distância.



“No que você está pensando?” ela perguntou.



“Eu estava meditando sobre as palavras imortais de Júlio César quando ele disse ‘Brutus! Você me apunhalou pelas costas, seu bastardo’ ”.



“Eu não acho que me lembro disso na minha edição de Shakespeare,” disse Gina, segurando um sorriso.



“Eu estou adaptando”.



“Harry não acha que você fez nada errado”, disse Gina. “Não deixe Rony te persuadir a se sentir culpado”.



“Eu não me sinto culpado”, disse Draco, numa voz muito abafada.



“Eu tenho seis irmãos mais velhos”, disse Gina, com aspereza. “Eu sei como os garotos são quando estão se sentindo culpados. Eles rastejam para longe e se curvam em miseráveis bolinhas e insistem que querem ser deixados sozinhos... que é o que você está fazendo”.



“Eu não te falei para me deixar sozinho”, disse Draco.



Gina o olhou de lado. Imperialmente falando, ele era mais bonito que Harry, ela pensou, contudo, no rosto dele faltava a ‘transparência-de-quebrar-o-coração’ do rosto de Harry: era impossível falar o que Draco estava pensando, impossível de dizer se ele estava se divertindo, chateado, ou magoado. Ou talvez seria só porque o rosto dele era novo para ela, e ela já havia memorizado o de Harry. Comparações são bobas, ela disse a si mesma severamente. Pare com isso.



“Você parece cansado”, ela disse.



“Sim”, ele disse. “Eu estou cansado”.



“Você ainda está tendo pesadelos?” ela perguntou, numa voz pequena.



Quando ele falou de novo, foi num tom vazio, e ela soube imediatamente que ele estava mentindo. “Só o sonho ‘aprenda-por-experiência-própria’ ”, ele disse. “Fracasso Acadêmico. De repente se dando conta que eu fui para a escola sem roupa e eu tenho que andar pelos corredores completamente pelado. Eu tenho esse sonho o tempo todo”.



“Eu também”, disse Gina, sob sua respiração.



Draco olhou para ela curiosamente. “O quê?”



“Oh”, disse Gina, abanando a mão. “Nada”.



Draco suspirou. “Tudo bem”, ele disse. “Eu só estou tendo um daqueles momentos que você tem quando percebe que não há esperança da sua vida seguir de acordo com o plano”.



“Nós somos jovens para termos a vida planejada”, disse Gina gentilmente. “Quer dizer, você faz idéia do que quer fazer depois da escola? Bem, eu suponho que você nunca vai ter que trabalhar para pagar contas...”



“Não”, ele disse. “Eu nunca terei que trabalhar para subsistência”. Ele ainda estava olhando na direção das árvores. “Vejamos. Eu planejo ser jovem e selvagem, e depois eu planejo ser da meia-idade e rico, e depois eu quero ser velho e incomodar todo mundo fingindo que eu sou surdo. É mais ou menos isso. Eu quero ter um monte de vassouras rápidas, boas roupas, e possivelmente um dragão de estimação”.



Gina riu. Ele a olhou de esguelha, um sorriso no canto da boca. “Você tem uma boa risada”, ele disse.



“Obrigada”, disse Gina, sentindo de repente uma agitação no fundo do estômago. Ela sorriu para ele. “Você não tem nenhum dizer eficaz ou citações úteis do seu pai que seriam de ajuda agora?”



“Por alguma razão, o único dos dizeres do meu pai que parece estar pregado na minha cabeça agora é quando ele me falou: ‘Sempre há uma luz no fim do túnel. É claro, geralmente é um trem vindo que vai te deixar achatado’ ”.



“Isso não é muito encorajador”, disse Gina duvidosamente.



“Não”, Draco concordou. “Não, realmente não é”.



*****



Hermione foi para dentro da barraca que iria dividir com Gina, e olhou em volta cansadamente. Dentro, era um confortável e pequeno aposento com duas camas pequenas, e uma escrivaninha num canto, com um rachado, mas limpo espelho circular pendurado sobre a mesma. Movendo-se vagarosamente, cada osso no corpo dela doendo com cansaço, ela andou até a escrivaninha e se sentou. Ela podia ver seu reflexo no espelho, embora não muito bem. Uma longa rachadura no meio do espelho dividia seu rosto em duas partes desiguais. Sou eu. Ela pensou desanimada. Dividida ao meio.



Ela tirou uma das gavetas de dentro da escrivaninha e encontrou o que estava procurando: um pergaminho, um frasco de tinta e penas. Ela os dispôs na escrivaninha e olhou fixamente para eles. De alguma maneira, a visão era confortante; sempre foi de grande ajuda ter algo concreto para ocupar suas mãos e mente. Ela apanhou a pena, mergulhou-a no tinteiro e começou a escrever.



Ela estava em sua terceira folha de pergaminho quando a porta da barraca se abriu e ela se virou vagarosamente, esperando ver Gina.



Era Harry.



Ela o olhou fixamente, o vendo realmente, ela pensou, pela primeira vez naquele dia.Quando ela havia o visto anteriormente, estava muito confusa com o choque de vê-lo novamente para realmente absorver alguma coisa sobre ele, e na cabana de Carlinhos ela estava se concentrando muito em não olhar para Draco. Mas Draco não estava aqui agora; ninguém estava aqui agora. E pela primeira vez em três semanas, ela estava sozinha com Harry.



Ela deveria estar contente, ela pensou. Mas em vez disso, ela estava... apavorada. Não ajuda, ela pensou ressentida, o fato de que ele aparentava ter ficado mais alto nessas semanas que passaram, se isso era possível. Ele atravessou o aposento até ela e se apoiou nas costas da cadeira, olhando por sobre o ombro dela, para o reflexo deles no espelho. Ela podia ver o rosto dele refletido, e pensou que ele até parecia um pouco mais velho. Menos com ele mesmo, e mais como uma fotografia dele mesmo, ou uma fotografia de Thiago.



Ele a viu olhando para ele no espelho e sorriu. “O quê?”



“Você está mais alto”, ela disse, sem pensar. “Como você pode ter ficado mais alto em apenas duas semanas?”



“Esforço concentrado”.



“E você está tão bronzeado”, ela disse. “E você tem sardas no seu nariz”.



“Eu sei”, ele disse, parecendo abatido. “Elas são horríveis?”



“Não. Eu gosto delas. Mas você parece tão cansado”.



“Três dias de tristeza insuportável e tormento fazem isso”, ele disse, franziu as sobrancelhas e se inclinou para cima. “Eu acho que tenho um cabelo branco, na verdade. Eu ia dar o seu nome pra ele”.



“Oh, muito engraçado”, disse Hermione. Ela se virou na cadeira e olhou para cima para vê-lo. “Eu sinto muito que você esteve preocupado”, ela disse, mais seriamente. “Eu passei os últimos seis anos me preocupando com você, então eu sei como é isso”.



Harry não parecia ter escutado ela. “Eu me livrei de Carlinhos por alguns minutos porque eu queria te dizer uma coisa”, ele disse. “Na verdade, eu queria te mostrar uma coisa”.



Ela sorriu para ele. Ela esperou que não aparentasse ser um sorriso de nervoso. “E eu aposto que você diz isso para todas as garotas”.



Harry não sorriu. Aparentemente ele não estava no humor para isso. Ele tinha a expressão que ele sempre tinha quando estava tentando juntar coragem para falar algo sério. Não, ela rezou. Agora não. Algo sério não. Agora não.



Ele colocou uma mão no bolso de sua jaqueta e tirou um pedaço de papel dobrado, que ele entregou a ela. O papel estava enrugado e amassado de tanto ter sido lido e relido. Hermione pegou-o curiosamente, desdobrou-o, e piscou.



Era a carta que ela tinha escrito sob a Maldição Imperius, contando a Harry que ela o estava deixando por Vítor. Ela não tinha lembranças de escrever as palavras, e viu sua própria caligrafia trêmula com curiosidade: eu vi Vítor Krum nessa tarde, e percebi que eu realmente o amei por todos esses anos... Você sempre será um querido amigo meu... Por favor, não tente entrar em contato comigo.



“Harry!” Ela exclamou, olhando para cima, para ele com horror. “Você não pode me dizer que acreditou em uma palavra disso por nem mesmo um minuto!”



“Bem, é exatamente isso”, disse Harry. “Eu acreditei”.



Hermione estava espantada. “Você acreditou?”



“Primeiramente eu estava apenas chocado. Eu não queria acreditar nisso, mas todo o tempo eu dizia a mim mesmo que era impossível. Eu comecei a temer que eu estava ponderando. Sendo arrogante. Fazendo suposições sobre você, como eu costumava... supondo que você se sentia de uma certa forma, quando realmente...”



“Mas o Espelho, Harry...”



“Sim, mas não estávamos falando daquela ocasião, estávamos?” Ele disse simplesmente. “E eu pensei, talvez você me vendo no Espelho apenas significasse que você queria a amizade de volta do jeito que era, e não... algo mais”.



“E depois o quê?” Disse Hermione, exasperada. “Eu estava apenas muito embaraçada para corrigir sua impressão errada que eu te amava, então eu continuei com isso?”



“Bem”, disse Harry, aparentando como se ele se sentisse bem menor, “Sim”.



“Harry, se você pensou isso, você é completamente estúpido”, disse Hermione, firmemente. “Deixe-me adivinhar. Rony te convenceu que você estava sendo um idiota”.



“Na verdade, foi Malfoy”.



“Draco?” disse Hermione fracamente. Oh, por que Harry tinha que traze-lo à tona? De todas as coisas que ela não queria falar.



“Sim. Ele estava... por alguma razão... completamente positivo que você não estava agindo livremente. Ele me chamou de um monte de nomes... me chutou um pouco por aí... bem, você sabe como ele é. Mas eu acho que era só o que eu precisava. Eu estava...”



“Sendo completamente ridículo?” disse Hermione, com um sorriso abatido.



“Assustado”, disse Harry. Ele respirou fundo, e disse apressadamente, “Eu estive aprendendo muito sobre mim mesmo, Hermione, para saber o que realmente me dá medo. E essa é só uma das coisas. A idéia de perder minha família... novamente. E são Rony, e Sirius... e você. Vocês são a minha família, Hermione. Vocês são tudo para mim”.



Hermione caiu em lágrimas.



Harry parecia completamente pálido. “Hermione... ”



Hermione sacudiu sua cabeça violentamente. Ela estava temporariamente incapaz de falar, o que, pensando bem, provavelmente não era algo ruim. Desajeitadamente, Harry colocou a mão no cabelo dela e no lado do rosto, e ela rapidamente quis saber por que Harry estava desajeitado com ela, mesmo agora, quando Draco nunca esteve, nunca fez um único movimento que não parecia proposital e significativo, ou um único gesto hesitante, e por que ela tinha que pensar nele logo agora quando ela deveria estar pensando em nada além de Harry?



“Me desculpe”, ele disse gentilmente. “Depois de tudo que você passou, e eu estou tagarelando sobre cartas, e Malfoy e nada muito importante...”



“Eu não quero falar sobre Malfoy”, interrompeu Hermione chorosa, ficou de pé, e beijou-o. Ela sentiu as mãos dele deslizando para cima dos seus braços, a pressão familiar enquanto ele colocava as mãos nas costas da cabeça dela, erguendo a mão para empurrar os hachis do cabelo dela e os pondo de lado, deixando o cabelo dela cair ao redor deles. Ele ainda era Harry, tão familiarmente Harry naquele modo que arrasava o seu coração; o tato dele sendo o mesmo, os ossos finos das mãos dele e pulsos e rosto, o cabelo desarrumado que tocava as mãos dela como seda. Ela deslizou seus dedos pela superfície das maçãs do rosto dele, cruzando suas têmporas, descendo para seus ombros, seus braços, correndo expostamente pelas suas costas e o sentiu se arrepiando junto a ela. Não importa o quão familiar tudo sobre Harry era para ela, beijá-lo ainda parecia novo: estando perto dele o bastante para sentir o seu coração batendo ainda era novo, que ela poderia fazê-lo se arrepiar ao correr suas mãos pelas costas dele... isso era novo, também...



Ela fechou seus olhos firmemente, pressionando as palmas de suas mãos estendidas contra as costas dele. Se eles pudessem apenas ficar assim para sempre... Se ela nunca tivesse que deixar a barraca, nunca tivesse que ver Draco, nunca tivesse que sentir aqueles sentimentos de novo... mas então, a idéia de não vê-lo também não era agradável...



Isso é pior que a Maldição Cruciatus, Hermione pensou miseravelmente. Isso é terrível.



“Hermione”, disse Harry suavemente, se afastando dela.



“O quê?”



“Você está chorando”.



“Me desculpe...”



“Não. Não se desculpe”. Ele a puxou mais perto dele, enroscando suas mãos no cabelo dela, e beijou seus olhos e a ponta de seu nariz. “Está tudo bem”, ele disse. “Eu nunca mais vou desconfiar de você novamente”.



Mas não está tudo bem, Harry, ela pensou miseravelmente. Isso é não é ‘nada bem’.



Eles dois ouviram a porta sendo aberta ao mesmo tempo, e viraram suas cabeças para verem Carlinhos entrar, carregando o que parecia uma pilha de roupas. Ele olhou-os, e disse resignadamente, “Nisso de novo, não estamos?”



“Nós não estamos ‘nisso’ ”, disse Harry, com dignidade, contudo ele deu um passo para longe de Hermione. “Nós estávamos apenas conversando”.



“Claro”, disse Carlinhos, com um sorriso largo. “Vocês apenas ficaram conversando, repentinamente tropeçaram e caíram nos lábios um do outro. Acontece o tempo todo”. Ele jogou a pilha de roupas na cama, e disse, “Hermione, eu trouxe para você e para Gina algumas camisetas velhas para dormir. Me desculpe se elas são um pouco grandes, mas é tudo o que eu tenho. Harry, acabe logo com isso. De volta à barraca dos garotos.”



“Boa noite, Harry”, disse Hermione, um pouco rápido demais. Ela sentiu, mais do que viu, Harry olhá-la com uma expressão confusa no rosto, mas ela não retribuiu o seu olhar.



Ele se baixou e a beijou na têmpora. “Durma bem”, ele disse.



***



Remo Lupin nunca havia estado na Mansão Malfoy antes, mas se ele estivesse, ficaria atônito ao chegar lá, com sua mala de couro gasto nas mãos, de ver o quanto havia mudado.



As aranhas gigantes haviam sumido, assim como os ataques dos enfeites de jardim ferozes, a porta levadiça espinhosa, as minas-terrestres mágicas e o Quebra-cabeça Enfeitiçado. O Abismo Sem Fundo ainda estava lá, contudo Aurores do Ministério da Magia haviam cercado-o com sinais brilhantes onde se lia: ‘Perigo: Não Se Aproxime’. Os Mosqueiros de Vênus e a cerca-viva negra com flores aparentemente malignas haviam sido repostas com bordas de arbustos que iriam algum dia brotar margaridas, se dependesse de Narcisa.



Quando Lupin aparatou na sala de desenho, ele encontrou Sirius esperando por ele lá, vestido com uma camisa branca, calças pretas, e um sorriso de orelha a orelha. “Harry está bem!” ele anunciou, como uma saudação. “E Draco também.”



“Eles estão bem?” ecoou Lupin, atônito e aliviado “Como você soube disso?”



“Eu mandei uma coruja para Rony Weasley ontem”, disse Sirius, pegando a mala de Lupin e indicando que o amigo deveria seguí-lo para o andar de cima. “Eu imaginei que se alguém deveria saber onde Harry estava, seu melhor amigo saberia. De qualquer forma, eu recebi uma resposta de Carlinhos Weasley nessa manhã, eles estavam com ele no acampamento de dragões que ele trabalha. Eu mandei uma coruja de volta para ele, e ele está mandando-os para casa amanhã de manhã. Ele diz que estão todos perfeitamente bem”.



“Eles foram procurar por Hermione”, Lupin disse, sentindo-se aliviado e inquieto. “Não foram?”



“Sim, e ela está com eles agora”, disse Sirius, virando uma esquina. Enquanto eles passavam pelos corredores da Mansão, Lupin notou suspeitosamente quadrados mais claros que manchavam as paredes onde vários retratos haviam sido retirados. “E de acordo com Carlinhos, eles estão todos em saúde perfeita. É claro, quando Harry chegar aqui amanhã, eu vou mata-lo, então a questão é debatível”.



Apesar de seu sentimento de ansiedade, Lupin riu.



“Que foi?” disse Sirius.



“Você”, disse Lupin. “Sendo um disciplinador”.



“Eu sei”, disse Sirius melancólico, parando na frente de uma grande porta de carvalho e puxando um molho de chaves do seu bolso. “O que eu posso dizer a ele? ‘Quando eu tinha a sua idade, eu nunca teria sonhado em fugir da escola no meio da noite e sem contar a ninguém onde eu estava indo.’ Ha!”



“Você devia deixar a parte do ‘ha!’ de fora,” disse Lupin. “Isso enfraquece o seu argumento”.



“E também tem Draco”, Sirius continuou, ainda mais melancólico. Ele encontrou a chave correta e a colocou na fechadura. A porta se abriu. “Eu não tenho a mínima idéia do que dizer a ele, e Narcisa não será de muita ajuda. Ela se sente tão culpada sobre Lúcio e tudo o que aconteceu que ela não diria nada nem se ele colocasse fogo na casa inteira.”



Lupin assobiou enquanto eles andavam para dentro do aposento pela porta. Era a livraria de Lúcio Malfoy; um enorme aposento hexagonal com um teto que desaparecia na escuridão e partículas de pó que não acabavam mais. Imensas prateleiras de livros contornavam as paredes, tão altas sobre suas cabeças que as prateleiras mais altas só poderiam ser alcançadas subindo-se pelas escadas esculpidas de mogno, mantidas em pé por mágica, que estavam espalhadas pelo aposento em intervalos. Lupin podia dizer somente olhando os lados dos livros que muitos deles eram incrivelmente antigos e raros.



“Os Aurores têm fuçado esse lugar”, Sirius observou, seguindo o olhar de Lupin. “Levaram a maioria dos papéis de Lúcio, seus brinquedos de Artes das Trevas, todos os tipos de aparelhos nojentos de tortura. Mas Dumbledore os convenceu a deixar os livros aqui”.



Lupin olhou para ele. “Por quê?”



“Eu acho que ele esperava que você fosse encontrar algo aqui que ajudasse a explicar o que tem acontecido ultimamente”, disse Sirius calmamente. “Você sabe como ele é; ele não vai falar nada diretamente. Mas eu sei que ele acha que todos esses acontecimentos recentes estão relacionados: o desaparecimento dos dementadores, os tumultos na Floresta Proibida, e agora tudo isso sobre Salazar Slytherin retornando...”



“Você tem aquele livro com você?” interrompeu Sirius, parecendo repentinamente curioso.



Lupin tirou o livro da mala e o entregou a Sirius, que o pegou e atravessou o aposento até uma das longas janelas de vitral (verde e azul, elas mostravam um complexo desenho de letras “M”). Ele o abriu e franziu as sobrancelhas para as páginas. “Você estava certo”, ele disse. “Eu nunca vi algo assim antes”. Ele olhou para cima. “Firenze disse que isso iria ajudar a explicar as coisas?”



“Sim”,disse Lupin, hesitante, lembrando das verdadeiras palavras do centauro com um arrepio de presságio. Nada vai ajudar vocês agora. “Embora ele não parecesse extremamente otimista...”



“Não, eles raramente são”, disse Sirius, fechando o livro e pondo-o na escrivaninha. “Eles são um bando desanimador, mas muito sinceros em relação a restituir favores. O que me lembra”, ele emendou, sentando-se na escrivaninha e colocando seu queixo em sua mão. Ele olhou pensativo para Lupin. “Eu estava pensando em dar uma festa de aniversário para Harry”.



“O quê?” disse Lupin, espantado com a súbita mudança de assunto.



“Até onde eu sei, ele nunca teve uma festa de aniversário, nunca nem teve o seu aniversário reconhecido antes. E ele vai completar dezessete. É uma idade um bocado importante...”



“Bem, então dê a festa”, disse Lupin. “O que isso tem a ver comigo?”



“Bem, você lecionou em Hogwarts, eu pensei, se você pudesse recordar quem eram qualquer um de seus amigos...”



Lupin bufou. “Não tente me envolver no planejamento da festa, Sirius”, ele disse. “A última festa em que eu estive foi à despedida de solteiro de Thiago, e isso foi a vinte anos atrás.”



“E eu ainda lembro como se fosse ontem”, disse Sirius, com um sorriso.



Lupin ergueu uma sobrancelha. “Eu estaria chocado se você se lembrasse de qualquer coisa. Na minha memória, você se embebedou completamente, ficou de ponta-cabeça no jardim da frente, e cantou dezoito versos de uma música intitulada ‘Eu Devo Ser Um Minúsculo Limpador de Chaminé Mas Eu Tenho Uma Enorme Vassoura’. Depois, nós tivemos que te carregar para casa.”



“Aquela música”, disse Sirius com dignidade, “tem apenas quinze versos”.



“Então você inventou os três últimos”.



“Eles rimaram?”



“Sirius...”



“Você que trouxe isso à tona”, disse Sirius, e fez uma careta. “Veja, é disso que eu estou falando. Como eu posso dar supostamente qualquer espécie de exemplo moral para Harry? Eu nunca tive um exemplo moral quando eu tinha a idade dele, com exceção talvez de Thiago, e o que eu posso dizer sobre isso? ‘Seja como o seu pai’?”



“Ele poderia fazer bem pior”, disse Lupin.



“Eu sei”, disse Sirius. “Mas ele nunca conheceu o pai, então isso vai realmente significar algo para ele?” Ele suspirou. “Eu quero que ele seja feliz aqui, Remo, mas eu não sei. Eu até pensei em colocar um campo de Quadribol no jardim de trás. Há lugar suficiente”.



“Eu nunca pensei que você fosse muito fã de Quadribol”, disse Lupin.



“Não, mas eu pensei que era algo que Draco e Harry gostariam de ter,” disse Sirius.



“Meu Deus, eles irão morar aqui juntos, não vão?” disse Lupin, parecendo que esse conceito tivesse somente ocorrido à ele agora. “Vai ser preciso mais que um campo de Quadribol para manter a paz entre aqueles dois. Eu suponho que a extensão de oito campos de Quadribol farão isso, mas só se Harry estiver em uma ponta e Draco na outra”.



Sirius sorriu para ele. “Você realmente não acredita que eles sejam amigos agora, acredita?”



Lupin deu de ombros. “Não é a mim que você tem de convencer”, ele disse. “É a eles”.





***Draco dormindo***



Ele andou através dos jardins da torre da floresta, só que agora ela estava inteira e não em ruínas e os jardins estavam vivos com flores. Nada disso parecia ser estranho para ele, apenas completamente familiar, como se ele estivesse revisitando um lugar que ele tinha estado várias vezes.



Ele estava ansioso para entrar, o porquê ele não tinha certeza. Ele andou rapidamente através dos jardins, subiu os degraus que da última vez foram vistos por ele rachados e quebrados, e entrou pelas portas duplas abertas da torre para dentro de uma ante-sala forrada com tapetes e que irradiava com a luz das velas.



Hermione estava esperando por ele lá. Ele sabia que era Hermione, embora ela parecesse muito diferente. Seu cabelo estava com tranças no topo da cabeça dela, com mantos esmeralda-cintilante bem grossos, e ela vestia um longo vestido verde de seda ornado com ouro. Ela parecia quase completamente, embora não inteiramente, diferente. Ela se levantou nas pontas dos pés e beijou-o, como se isso fosse a coisa mais natural do mundo, como se ela o beijasse todos os dias.



“Olá, amor”, ele se ouviu dizer. Não era isso o que ele planejava dizer. Ele queria perguntá-la por que ela estava toda arrumada, será que eles estavam indo a algum lugar? Mas não foi isso que saiu quando ele abriu a boca. “Você sentiu a minha falta?”



“Eu sempre sinto a sua falta quando você não está”, ela disse, retrocedeu um pouco, e fez uma careta. “Mas olhe – você está coberto de sangue”.



“Sim”, ele se ouviu dizer. “Isso não quer sair de forma alguma”.



Ela levantou sua mão e tocou o rosto dele, e ao fez isso, ele viu que havia uma cicatriz na parte de dentro de seu pulso. Ele tentou se inclinar mais perto para ver, mas seu ‘eu-do-sonho’ não estava cooperando. “As coisas estão melhor agora”, ele se ouviu dizer. “Não estão?”



“Você quer dizer, desde que matou ele?” disse Hermione, parecendo alegre. “Ah, sim. As coisas estão bem melhores agora”.



Ele pulou para longe dela. “O quê? Quem eu matei?” ele perguntou, e não era mais o seu eu-do-sonho falando, era ele mesmo agora. Ele viu os olhos dela arregalados em surpresa, e depois ela se virou para longe dele, desaparecendo junto com a escadaria ricamente decorada, as paredes, e o resto do sonho.



Ele abriu os olhos. Ele estava fitando o céu negro da noite forrado com estrelas. Quando ele se virou, viu que estava deitado no chão na base da pedra em que ele esteve sentado com Gina, mais cedo. Ele não se lembrava de ter adormecido ali, não se lembrava do fato de ter nem mesmo adormecido. Um de seus braços estava embaixo de sua cabeça, o outro, esticado perto dele, agarrado ao punho da espada de Slytherin.



Ele se sentou devagar, consciente de que estava ensopado de tanto suar frio. Ele olhou para a espada. “Eu pensei que tínhamos acabado com toda essa coisa de pesadelo”, ele falou à espada. “Será que eu vou conseguir outra noite de sono pacífica enquanto eu tiver você?” As pedras preciosas verdes no punho resplandeceram para ele como olhos piscando.



“Quem eu matei?” ele perguntou à espada. “Quem eu matei?”



Mas ele sabia.

*****

Não muito tempo depois de Harry e Carlinhos ter partido, Gina entrou na barraca, assoviando levemente e flutuando. Hermione, que já tinha vestido um dos suéteres de Carlinhos e estava deitada na cama, virou-se de lado e olhou pra Gina curiosamente. “Você parece terrivelmente feliz, Gina”, ela disse.

Gina deitou-se na cama oposta a ela e tirou os seus sapatos. “Eu estou, um pouquinho”, ela confessou. “De fato, tem algo que eu queria te dizer”. Ela parou, e parecia se sentir culpada. “Apesar de você ser a pessoa que devia estar falando”, ela disse apressadamente. “Digo, foi você que passou por tudo isso...”

“Não”, disse Hermione, automaticamente. “Não, eu realmente não quero falar sobre isso”.

Gina engatinhou para debaixo dos cobertores com roupas e tudo, parecendo duvidar. “Tem certeza?” ela perguntou.

“Tenho certeza absoluta”, Hermione disse. “Na verdade, se você tem algo bom pra me contar, eu adoraria ouvir. Eu preciso de algo pra me animar um pouquinho”.

“Okay”, disse Gina, e adicionou rapidamente, “Eu acho que estou começando a ter uma queda pelo Malfoy”.

“O quê?” Hermione quase caiu da cama. “Como? Por quê? Tem certeza?”

Gina ficou tão vermelha quanto seu cabelo. “Eu sei, é meio esquisito”, ela admitiu.

“Esquisito?” disse Hermione, consciente de que sua voz estava ficando com um tom mais alto do que pretendia. “Gina, ele é... Quer dizer, ele não é... Bem, ele não é muito legal, não é?”

“Eu sei, eu sei. Ele é desagradável, cruel, sarcástico, durão e meio estranho. Mas eu realmente acho que gosto dele”.

“Oh”, disse Hermione simplesmente. “Tem certeza de que não é só a roupa de couro?” ela elaborou, esperançosa.

“Não, eu gostava dele antes disso”, disse Gina, e contou a Hermione sobre como ela tinha chegado no quarto dele lá na Toca quando ele tinha tido um pesadelo, e como ele tinha pedido a ela para ficar lá com ele. “Eu não sei, tinha algo diferente no modo que ele me pediu pra ficar. Foi a primeira vez que eu senti... simpatia por ele”.

“Oh”, Hermione disse de novo. Ela estava consciente que estava lutando contra a vontade de gritar. “Bem”, ela disse, vagarosamente, “Você acha... você acha que ele tem uma queda por você?”

Gina mordeu o lábio. “Eu realmente não sei”, ela disse. “Às vezes eu acho que lê pode até ter. Ele com certeza está disposto a conversar comigo, o que diz muito, se tratando dele. Mas aí, ontem...” E ela repetiu para Hermione o que Draco tinha dito a respeito de não precisar de amor ou de querer ser consertado, especialmente por ela. “Então, isso foi meio desencorajador”.

Hermione podia sentir seu estômago dando um nó de ansiedade. Pare com isso, ela disse furiosamente a si mesma. Não é da sua conta. “Na verdade, não é desencorajador”, ela disse, meio que contra a vontade. “Isso significa que ele gosta de você o bastante pra não querer que você tenha expectativas não-reais a respeito dele. Você tem que entender, ele não vai mentir. Não pelo menos a respeito de como ele se sente. Ele é sempre”, ela engasgou-se um pouco nas palavras, “dolorosamente honesto”.

“Com ênfase no ‘dolorosamente’ ”, disse Gina, com uma risada.

“Gina... você tem certeza? Quer dizer, ele é terrivelmente... complicado”, Hermione disse, pausadamente.

“Eu tenho certeza”, disse Gina, com sono. “Digo, eu posso dizer isso agora, uma vez que eu não me sinto da mesma forma... mas depois de todos esses anos tendo uma queda pelo Harry... Eu sinto muito Mione, mas, quer dizer, você já sabia disso... É um alívio ter esses sentimentos em relação à outra pessoa, só pra variar. Alguém que não tenha”, e agora Gina bocejou abertamente, “uma namorada...”

“Certo”, disse Hermione, olhando com os olhos arregalados para o teto da barraca. Ela sentou-se, de repente, sentindo seu coração batendo forte contra suas costelas, e colocou as pernas no lado da cama.

Gina piscou os olhos, sonolenta. “Você vai se levantar, Mione?”

“Eu me esqueci”, disse Hermione rapidamente. “Eu pretendia mandar uma coruja… eu volto já”.

“Você quer que eu vá com você?

“Não… não, tudo bem”.

Gina não respondeu. Ela caiu no sono, pensou Hermione, aliviada. Bom. Ela levantou-se e cruzou o aposento nas pontas dos pés até a cadeira, onde ela havia deixado suas roupas dobradas cuidadosamente. Ela tirou a camiseta de Carlinhos e colocou o vestido vermelho que ela tinha usado nos últimos dias. Ela nem se preocupou em encontrar seus sapatos, e saiu descalça em direção à porta e passou por esta, fechando-a cuidadosamente atrás de si.

Estava fresco lá fora, mas não estava frio; o ar estava tão claro que parecia transparente. O acampamento estava banhado na luz branca do luar; ela podia ver os contornos fracos da barraca de Carlinhos, e além dela, a linha irregular de árvores à distância.

Carlinhos tinha avisado a ela mais cedo onde as corujas eram mantidas quando ele levou-a a sua barraca. Ela encontrou a pequena barraca redonda sem muito esforço, achou uma pequena coruja marrom, e deu a ela a carta que ela havia escrito, endereçada a Sirius Black na Mansão Malfoy. Ela saiu, assistindo à coruja à medida que ela voava para distante floresta, um pequeno ponto branco desaparecendo na escuridão.

E então, ao olhar tristemente em direção a floresta escura, um reflexo prateado captou seu olhar.

Ela andou em direção a ele, nem pensando realmente no que estava fazendo ou porque estava fazendo isso, porque ela sabia que não tinha nenhum bom motivo para estar ali fora. Ela andou pelo silêncio, pelas tendas escurecidas, passou a tenda de Carlinhos onde Harry estava dormindo, passou a arena onde os dragões esperavam, acordados, com seus olhos dourados brilhando como mini-sóis contra o céu negro. Isso poderia, dentro das circunstâncias, tê-la assustado como uma visão lúgubre e tenebrosa, mas ela mal os viu. Ela estava indo a algum lugar, ela estava decidida, ela estava procurando por...

Draco. Ele estava na mesma clareira onde Gina o havia achado mais cedo, apesar de que Hermione não poderia saber disso. Ele tinha tirado sua jaqueta e estava em pé, de costas para a pedra. Ele parecia estar engajado em arremessar violentamente a espada de Slytherin contra o tronco de uma árvore, vê-la enfiar-se no tronco, retomá-la e repetir o processo. Ele nem olhou em direção a ela quando Hermione entrou na clareira, mas ela viu que os ombros dele ficaram mais tensos e sabia que ele tinha escutado sua aproximação.

“Quem está aí?” ele chamou, sem se virar. “Você de novo, Weasley? Voltou pra outro round de nomes feios e palavras rudes? Nossa, eu venho aqui pra ficar sozinho e é como se tivesse um grande concerto de rock”.

“Você andou brigando com Rony?” Hermione perguntou. “Por quê?”

Draco se virou, um olhar de surpresa passando pelo rosto dele ao vê-la. “Oh”, ele disse. “Você”. Ele olhou para a espada, enfiada em ângulos retos no tronco da árvore, e suspirou. “Sim, eu andei brigando com Rony”, ele disse. “O que há de novo nisso? Os Weasleys e os Malfoys têm sido inimigos mortais desde 1325, quando um Malfoy pegou um Weasley nas suas terras e arrancou a cabeça dele com um machado. Bem sensíveis esse bando de Weasleys. Desde lá, tem sido brigas de escola, xingamento profissional e ódio geral por todo lado”.

“Carlinhos não te odeia”, disse Hermione. “E Gina certamente não te odeia”.

Draco deu um olhar desconfiado a ela. “Ela te disse isso?”

Hermione olhou para o chão. “Ela pode ter comentado algo comigo”.

Draco olhou-a mais desconfiado ainda. “Você está com ciúmes”, ele disse.

Hermione levantou a cabeça e olhou para ele. “Não estou, não!”

“Ah, está sim”, ele disse brevemente. “O que é muito engraçado, na verdade. Você está competindo em que, Hermione? Grande Prêmio da loteria de Ironia do Destino?”

“Eu não estou com ciúmes”, repetiu Hermione, furiosamente.

Ele deu alguns passos pra trás e de apoiou contra o lado da pedra, cruzando os braços sobre o peito. “Então por que você está aqui?”

Hermione abriu a boca, e fechou logo em seguida. Então, ela disse, fracamente, “Eu estava preocupada com você. Gina me disse que você tem tido pesadelos”.

“Então você se levantou pra vir aqui me checar?”

“Ela me disse sobre o sangue”, Hermione continuou. Você sabe, sangramento descorpóreo... isso pode significar um monte de coisas... Magia Negra, possessão...”

Ele olhou para ela, e ela sentiu seus joelhos enfraquecerem, do mesmo jeito que eles ficavam quando Harry olhava pra ela, só que era diferente, mais essencialmente físico e, de algum modo, fora de controle. Isso não é real, ela disse a si mesma, nervosa.

“Então você veio checar se eu estou ou não possuído? Me parece bastante desnecessário”.

“Por que você está tão nervoso?”ela exigiu.

Ele parecia exasperado. “Por que eu estou nervoso? Porque, durante o dia todo eu tenho tido que fingir que não há nada de errado. Ao que, francamente, eu estou acostumado. Mas isso está sendo demais pra mim. Eu tenho me concentrado tanto em não olhar pa você que eu acho q se eu me concentrar um pouco mais, eu vou começar a sangrar pelas orelhas”.

“Bem, eu estou grata”, ela disse firmemente.

“Ah”, ele respondeu. “Gratidão. Exatamente o sentimento pelo qual eu esperava”.

“O que você quer que eu faça?” ela disse furiosamente.

“O que eu quero que você faça? Bem, que tal – e na verdade eu estou me chutando violentamente por dizer isso, mesmo que você não possa ver – ser honesta com Harry?”

“Eu te disse o porque eu não...”

“Certo”, ele interrompeu. “Esqueça. Vá pra cama, Hermione. Você não deveria estar aqui”.

“Não”, ela disse, teimosamente.

Ele piscou os olhos. “Bem, ou você vai embora ou vem pra cá”, ele disse. “Eu não vou ficar gritando pela clareira com você”.

Firmemente, ela cruzou o espaço que os separava e se apoiou na pedra perto dele. Essa é uma má idéia, disse uma fraca voz na cabeça dela.

Ela ignorou a voz.

“Eu queria te fazer uma pergunta”, ela disse.

“E eu, é claro, não tenho nada melhor para fazer do que respondê-la”.

“Por que você me ama?”

Ele se engasgou. “O quê?”

“Por que você me ama? Eu quero saber”.

Por um momento, ele ficou sem palavras, uma rara circunstância para Draco. “Eu não sei, Hermione”, ele disse finalmente. “É como perguntar porque eu sou canhoto. Algumas coisas não têm motivo”.

Ela mordeu o lábio. “Você está certo. Me desculpe. Eu não deveria ter perguntado”.

Ela olhou para ele de soslaio. A luz prateada do luar caía sobre o seu rosto virado, seu cabelo, tornava seus olhos prateados, as sombras sob eles mais escuras. Ele estava franzindo as sobrancelhas ao dizer, “Por que você me perguntou isso?”

Ela balançou a cabeça. “Eu não sei”.

“Eu sei”, ele disse. Ele se virou em direção a ela, apoiando o braço direito na pedra, e colocou a sua mão debaixo do queixo dela como ele havia feito antes, levantando sua cabeça e forçando-a a olhar pra ele. “Você queria me ouvir dizer que eu te amo”.

“Eu só queria saber o porque...”

“Bem, eu te amo”, ele disse. “Agora, volte para a sua cama”.

Ela não se moveu.

“Não é tão fácil, é?”ele disse, com um triunfo amargo. “Eu te disse que isso não seria fácil”.

Foi como num sonho, Hermione pensou. Uma vez atrás da outra, ela se imaginou se afastando, andando para longe dele e da clareira cheia da luz prateada da lua, andando de volta para a barraca; aí a realidade voltaria e ela estava de pé aqui, se encostando à pedra com as mãos nas costas, porque se elas não estivessem nas costas, ela já as teria colocado ao redor dele e...

“Eu tenho que ir”, ela disse.



“Então vá”, ele disse.

Ela ouviu sua própria voz, como se viesse de muito longe, ela se ouviu dizendo, “Como você pode apenas me deixar ir?”

Ele olhou para ela. E pensou: isso não é real, mas parecia uma espécie de pensamento distante e insignificante, não tão imediato quanto a sensação da pele dela, não tão real quanto o som da voz dela. Ele tinha um enorme autocontrole, mais do que a maioria dos garotos com 16 anos de idade, mais do que a maioria dos adultos com o dobro da idade dele. Mas todos têm um limite. Até mesmo os Malfoy.

“Eu não posso”, ele disse, e a beijou.

Ele a pegou pelos ombros e virou-a em direção a ele, levando sua boca à dela, suavemente de início, depois com força suficiente para machucar os lábios dela, mas ela não parecia se importar. Ele sentiu o corpo tenso dela tremendo, e então suas mãos se entrelaçaram atrás do pescoço dele, seus dedos se enroscando no cabelo dele, e eles começaram a andar para trás. Hermione enroscou seu calcanhar na raiz de uma árvore e eles meio que caíram, aterrissando no chão com força suficiente para tirar o ar dos pulmões de Hermione.

Mas ela não ligou. Ela sentiu o peso dele por todo o seu corpo, pressionando-a contra o chão. Sentiu-se sendo esmagada, e isso doía, e as pedras cravando nas suas costas doíam, e as mãos dele nos ombros dela tão fortes que doíam, mas ela dificilmente sentiu alguma dor. Ela só sentiu os choques elétricos que passavam pelos seus nervos à medida que ele a tocava, tudo isso alimentado pela mágica da poção e do alívio de não lutar mais contra o que não podia ser lutada. Era quase a mesma sensação tonta que ela tinha sentido sob a Maldição Imperius, só que aquela tinha sido uma espécie de alegria fria, e essa... queimava. A dor e a intensidade foram se acumulando como uma tempestade dentro dela; ela ouviu um chiado nos seus ouvidos, a circulação do sangue no seu corpo, sentiu-se queimada, esmagada, aniquilada, e ela queria isso, queria desaparecer completamente dentro dessa sensação e esquecer de tudo que existia.

Ela ouviu a voz dele no seu ouvido, ou talvez fosse na sua cabeça. “Estou te machucando?”

“Sim”, ela disse. “Não pare”.

“Aqui”. Ele deslizou um braço por baixo do pescoço dela, apoiando sua cabeça. “Isso ajuda?”

“Não fale também”, ela disse, colocou as mãos ao redor do pescoço dele, puxando-o pra baixo e cobrindo sua boca com a dela.

Ele já tinha sido beijado antes, mas não desse jeito; ele já tinha beijado ela antes, mas nada como isso. Antes, os sentimentos dela nunca tinham sido os mesmos que os dele, tinha sido sempre ele beijando ela. Mesmo durante o último beijo deles, debaixo da árvore perto do lago, na escola, ele tinha sentido a relutância dela, seu desejo de voltar para o castelo e para Harry. Mas agora, seu entusiasmo era o mesmo que o dele, todo o seu desejo, esperança, ardor e confusão refletidos nela; foi o braço dela que estava no pescoço dele trazendo-o para junto dela para que ele se deitasse em cima dela, as pernas dela que se enlaçaram atrás dos joelhos dele, as mãos dela que se agarravam no tecido da camisa dele, tirando-a tão violentamente que alguns botões foram arrancados. “Hei”, ele disse num protesto suave, e ele a sentiu sorrindo contra a boca dele. Ela deslizou suas mãos dentro da camisa aberta e ele sentiu seus dedos pequenos, frios e delicados correndo pra cima e pra baixo pela sua espinha e sua cintura, as unhas dela arranhando levemente sua pele. O coração dele estava batendo de um modo que parecia querer escapar de dentro dele e ele não conseguia ar suficiente, mas isso não importava. Tudo que importava era ela, a sensação do toque dela e o sabor da boca dela; ela estava beijando ele tão fortemente que ele podia sentir o gosto de sangue também, mas aquilo não importava também.

E então, uma voz forte e inconveniente no fundo da mente dele falou. Você não deveria estar fazendo isso. Isso não é certo.

Draco estava furioso. Não é certo?

Você deveria parar.

Eu não vou parar. Isso é um milagre, isso sim, uma chance em um milhão, e você quer que eu simplesmente desista?

A voz pequena e fria na sua cabeça soava arrogante agora. É o que Harry faria.

Eu não sou Harry! Eu não quero ser Harry!

Por um momento, a voz fria foi silenciada, e ele apertou seu abraço ao redor de Hermione. Ele beijou sua boca, beijou seus olhos, beijou seu pescoço e o pulso falho que havia ali. Ele podia, na verdade, ouvir o coração dela batendo, ele nunca havia estado perto dela o suficiente para escutar como agora. Nunca havia estado perto de ninguém o suficiente para escutar o coração de alguém como agora.

A voz falou novamente, e agora era muito mais fria. Quando eles tirarem o feitiço dela, ela vai te odiar por isso. Ela vai te odiar pra sempre.

Ele congelou. Hermione olhou para ele, afastando o cabelo de seus olhos. “Draco, está tudo bem?”

“Não”, ele disse, e rolou de cima dela, aterrissando de costas na grama. “Nós não devíamos estar fazendo isso”.

Ele ouviu a respiração aguda dela. “O quê? Por quê?”

“Você sabe porque”, ele disse, olhando fixamente para o céu. Ele tinha a sensação de que se ele se virasse e olhasse para ela, nem que fosse uma só vez, sua convicção desapareceria como fumaça. “Isso não é real”, ele disse pausadamente. “Essa não é você”.

“Isso dói”, ela disse.

“Eu sei”, ele disse, com uma faísca de fúria, “Você acha que eu não sei? A diferença entre o que você sente e o que eu sinto...”

“É qual?” ela exigiu.

“É que você pode dizer pra si mesma que o que você está sentindo não é real, e você pode se livrar disso com um feitiço. E eu não. Agora, dê o fora daqui, Hermione. Eu falo sério. Caia fora daqui”.

Ele ouviu a respiração aguda dela, ouviu ela se levantar e ficar de pé. “Você está certo” ela disse em uma voz abafada. “Eu sinto muito”.

“Não se desculpe”, ele disse. “Apenas vá”.

Ela não disse mais nada depois disso. Ele se virou e enterrou seu rosto nos braços, escutando pelo chão os ecos dos passos dela à medida que se afastava, ficando mais e mais fracos e finalmente desaparecendo de uma vez dentro do silêncio.

***

Lupin tirou seus óculos e esfregou as costas das mãos contra os olhos. Ele se sentiu meio-cego com a exaustão, mas ao mesmo tempo completamente incapaz de dormir. O luar brilhante fluiu pelas janelas, colorido de verde-pálido e azul-pálido pelo vitral, lançando blocos de cor sobre suas mãos conforme ele virava as páginas de livro após livro.



Ele estava sentado atrás da escrivaninha onde uma vez havia sido a biblioteca de Lúcio Malfoy, empenhado no que parecia mais e mais uma pesquisa infrutífera por alguma forma de traduzir o livro do centauro. Guias para linguagens mortas espalhavam-se pela escrivaninha e pelo chão, mas nenhum deles forneceu algum tipo de Rosetta Stone que poderia permiti-lo entender o sentido dos rabiscos inexpressivos.



Foi uma cãibra no ombro dele que finalmente o incitou a se mover. Ele ficou de pé, esticando seus braços, e ao fazer isso, derrubou o livro do centauro no chão. Suspirando, ele se abaixou para apanhá-lo. Enquanto ele levantava o livro, este se abriu na última página do texto. Só que não era apenas texto. Havia também uma ilustração.



Lupin se sentou abruptamente, fitando o livro aberto em completa incredulidade.



Ele não tinha idéia de quanto tempo ele deve ter ficado sentado ali, olhando fixo. Seu espanto fascinado foi finalmente interrompido pelo som da porta da biblioteca sendo aberta.



Era Sirius, em pijamas pretos de seda, piscando sonolentamente. “Aluado, que infernos você está fazendo acordado?” ele disse, sendo direto. “É o meio da noite”.



Lupin não respondeu.Ele ainda estava fitando, atônito, o livro na frente dele.



“Eu sei que você é uma criatura da noite”, continuou Sirius, com um sorriso cansado. “Mas você realmente deveria dormir um pouco”.



Lupin limpou sua garganta, tentando forçar sua voz para funcionar. “Você está acordado”, ele argumentou.



“Porque eu recebi uma coruja”, disse Sirius. “Pousou na minha cabeça. Me acordou”.



“De Harry?”



“Não. Hermione Granger", disse Sirius, “É uma bela duma carta.” Ele mostrou a Lupin. “Cinco folhas de pergaminho.”



“O que ela tinha a dizer?” perguntou Lupin, que teve uma estranha sensação de que já sabia.



“O que ela tinha a dizer?” disse Sirius. “Ela queria me contar o que aconteceu.Ela diz que foi seqüestrada por um bruxo alegando ser Salazar Slytherin. Rabicho estava trabalhando para ele. Ele a arrastou para umas ruínas na floresta e Harry e Draco a encontraram lá.”



“Um bruxo dizendo ser Slytherin?” repetiu Lupin, sobrancelhas levantadas.



“Bem, qualquer um pode alegar ser Slytherin,” disse Sirius defensivamente. “Você iria ficar surpreso. Eu perdi a conta, na época quando eu era Auror, de quantos vampiros de aparência insignificante eu despachei que andavam por aí chamando a si mesmos de Drácula.”



“Indo mais à questão,” disse Lupin, “O que esse bruxo quis com Hermione?”



“É onde isso fica interessante,” disse Sirius. “Aparentemente ele tagarelou sobre essa mitologia bastante barroca, envolvendo Slytherin, Rowena Ravenclaw, Godric Gryffindor, vários demônios...”



“Ela está contando a verdade, Sirius,” disse Lupin, em poucas palavras.



“Bem, claro que ela está. Hermione não mentiria. Eu estou apenas dizendo que homens crescidos que seqüestram garotas adolescentes e as arrastam para florestas escondidas geralmente têm uma coisa em suas mentes. Talvez ele pensou que dizer a ela que era Salazar Slytherin iria impressiona-la.”



“E talvez ele realmente fosse Salazar Slytherin,” disse Lupin. “A profecia disse que ele voltaria. Os centauros dizem que ele está de volta. De um-em-um, as criaturas que ele trouxe à existência – os dementadores, as veelas, os vampiros – estão desaparecendo. E nós sabemos que Pedro – que Rabicho sempre se esquiva para a sombra do bruxo mais poderoso.E qual outro bruxo poderia ser mais poderoso que Voldemort?”



Sirius pareceu duvidoso.



“Afinal, por que ela está te contando tudo isso, Sirius?” Lupin continuou.



Sirius pareceu mais duvidoso. “Eu não estou exatamente certo,” ele disse. “Ela parece estar convencida que Slytherin tem algum tipo de conexão com...”



“Com Draco?” disse Lupin.



“Sim,” disse Sirius. “Ela está convencida de que ele está em algum tipo de perigo, mas ela não quer que eu conte a ele que ela acha isso.Ela diz que quando eles confrontaram Slytherin, Draco o cumprimentou como... como se ele soubesse quem era.”



“Talvez ele soubesse,” disse Lupin. “Ele é um descendente de Slytherin, não é? E eu te disse sobre a profecia, que Slytherin iria se levantar e com a ajuda de seu descendente, iria causar destruição e terror no mundo mágico?”



“Você não vai me dizer que você pensa que Draco vai sair por aí causando destruição e terror no mundo mágico,” disse Sirius duvidosamente. “Ele só tem dezesseis.”



“Eu não disse isso,” disse Lupin. “Mas as coisas estão começando a se encaixar.”



Sirius olhou para ele indeciso. “Por favor, me diga que esse lugar é perto daqui,” ele disse. “Porque eu não vou te seguir.”



Lupin olhou de volta para o livro que ele estava segurando e disse, “Sirius, você já viu alguma vez um retrato dos Quatro Fundadores?”



“Bem, eu já vi imagens, estátuas e coisas assim.”



“Mas nunca uma imagem deles quando jovens.”



Sirius fitou-o. “Onde você quer chegar?”



“Venha aqui,” disse Lupin, e chamou-o com a mão. Sirius ficou de pé e mudou de direção para ficar atrás da cadeira de Lupin. Ele seguiu o olhar do amigo sobre a escrivaninha, onde o livro que os centauros haviam lhe entregado estava apoiado, aberto na última página. Metade da página estava tomada por mais rabiscos ilegíveis. Na metade de baixo da página estava uma ilustração. Amarelado com o tempo, o pergaminho parecia tão velho que certamente teria se destacado se não tivesse sido mantido com feitiços. Mas foi, e a ilustração, feita com nítidos traços de tinta, continuava plana e clara.



Era um retrato em grupo de quatro pessoas – quatro crianças. Dois garotos e duas garotas.Vestidos com simples vestes pretas, eles foram instantaneamente reconhecidos, “Harry,” disse Sirius vagamente. “Draco – e Hermione.”



“E Gina Weasley,” disse Lupin. “Só que não é Gina Weasley, claro. Esses são Helga Hufflepuff, Godric Gryffindor, Rowena Ravenclaw, e Salazar Slytherin.”





Sirius olhou fixamente.Quem fosse o artista desconhecido do retrato, havia capturado não só a aparência, mas o espírito dos quatro. Salazar com o queixo levantado, parecendo arrogante; Rowena parecia pensativa; Helga agitada, e Godric encarava o observador com um olhar direto e desafiador.



“O que isso significa?” disse Sirius.



“Quer saber?” disse Lupin. “Eu não faço a mínima idéia.”



***



Quando Hermione voltou para a barraca e se sentou na cama, descobriu que estava tremendo como reação, quase como se ela tivesse acabado de passar por alguma experiência terrível. Ela ainda podia sentir a poção correndo pelo seu corpo como veneno, dando nós no seu estômago com confusão e ansiedade. Ela se inclinou para frente e pôs o seu rosto em suas mãos.



“Hermione?” disse a voz de Gina.



Hermione tirou depressa as mãos do rosto e se levantou. “Me desculpe. Eu te acordei?”



“Não,” disse Gina. “Eu estava acordada. Na verdade, eu estava preocupada com você, então eu fui te procurar.”



Houve um curto silêncio.



Hermione disse, “Bom, eu estou bem.”



“Sim”, disse Gina. “Eu certamente acho que você esteja.”



Foi como se uma mão fechada tivesse apertado seu coração. Ela sabia. “Gina...”



“Se você me disser,” disse Gina, numa voz muito fria, “que não era o que parecia ser, eu mato você.”



Hermione engoliu as palavras que chegavam aos seus lábios, e ao invés disso, sussurrou, “Eu gostaria de explicar.”



“Eu não quero uma explicação,” disse Gina. “Eu quero esquecer de vez que vi alguma coisa.”



“Me desculpe,” disse Hermione, num sussurro.



“Não é a mim que você deve pedir desculpas,” disse Gina. “É a Harry.”



“Eu não posso,” disse Hermione.”Você não entende.”



“Cale a boca, Hermione. Vá dormir. Eu não quero falar com você. Agora, ou de novo na minha vida.”



***



Pela manhã, Harry, Rony, Hermione e Gina se encontraram na frente da barraca de Carlinhos com suas vassouras. Eles eram um grupo abatido e silencioso, Rony parecendo zangado e Gina e Hermione evitando o olhar uma da outra. Harry olhou em volta preocupadamente.





“Onde está o Malfoy? Ele deve ter acordado antes de nós, porque ele não estava na barraca nesta manhã. Ele sabe que devemos partir agora.”



Gina olhou para Hermione, que estava parecendo branca e doente, e olhou fixamente para a outra direção.



“Eu não sei,” disse Rony, azedo. “Eu voto para que o deixemos aqui e ele pode nos alcançar depois.”



“Nós não podemos encontrar a Mansão sem ele,” disse Harry rabugentamente. “É imapeável.”



Gina suspirou. “Eu acho que sei onde ele está,” ela disse, derrubando sua vassoura no chão. Todos eles olharam para ela, Rony com uma pergunta nos olhos, Harry com curiosidade, e Hermione com um tipo angustiado de olhar suplicante, o qual Gina ignorou. “Eu vou buscá-lo,” ela disse. “Eu volto já.”



Ela estava ciente dos olhos de Rony seguindo-a enquanto ela ia embora, e se sentiu amargamente ressentida. Ele não tem motivos para suspeitar de mim, ela pensou. Se ele ao menos soubesse...



Ela apareceu na clareira em que ela viu Draco e Hermione na noite anterior. Ela viu a espada primeiro, suas pedras preciosas verdes cintilando na luz da manhã, presa pela lâmina numa árvore de carvalho. Depois ela olhou para baixo e viu Draco, curvado no chão, a cabeça dele em seus braços, aparentemente adormecido. Ela se aproximou dele vagarosamente. Ele havia tirado sua jaqueta e usado-a como travesseiro, o cabelo dele parecia muito branco contra o material preto. Os olhos dele estavam fechados, ela podia ver as sombras azul-escuras embaixo deles, como se ele estivesse exausto. Ele parecia patético, mas ao todo muito amável.



“Certo”, disse Gina, levantou seu pé e o chutou com força nas costelas.



Ele gritou e se revirou, dobrando-se ao meio. “Ai!” ele ofegou, olhando para ela. “Gina! Por que você fez isso...?”



“Levante-se”, ela disse com selvageria. “Estamos todos esperando por você”.



Ele piscou os olhos, e se sentou, apoiando-se em suas mãos.



“Oh, pelo amor de Deus”, ela disse, olhando para ele.



“O quê?” ele disse, ainda piscando cansadamente.



“Você tem marcas de mordidas por todo o seu pescoço”, ela disse, num tom gelado. “O que vocês dois estavam fazendo na noite passada, mastigando um ao outro? Esqueça, não responda isso.”



Draco pôs sua mão em seu pescoço, rapidamente. “Você acreditaria em mim se eu dissesse que eu fui atacado por um esquilo furioso?” ele perguntou.



“Esse seria o mesmo esquilo que comeu os botões da sua camisa?” respondeu Gina acidamente.



Draco olhou para si mesmo. “Maldição,” ele disse. Ele olhou para Gina. “Todos sabem... sobre ontem à noite?”



“Ninguém, além de mim,” disse Gina, com repugnância. “E eu gostaria de não saber. Eu não vou contar a Harry,” ela continuou, antecipando a pergunta dele. “Não para o seu beneficio, mas porque ele merece melhores amigos que você.”



Draco não disse nada, apenas se levantou e tirou a sujeira de sua camisa. Depois, enquanto Gina assistia, ele correu sua mão esquerda pela frente de sua camisa.Quando ele a tirou, uma fileira perfeita de botões manteve a frente unida. Ele olhou para ela.



“Você sabe algo de magia medicinal,” ele disse. “Não sabe?”



“Sim,” disse Gina, sabendo o que estava por vir.



“Você pode tratar do meu pescoço,” ele disse. “Você vai?”



Gina sentiu seus dentes rangendo de raiva. “Malfoy...”



“Eu não consigo fazer isso em mim mesmo,” ele disse, ainda olhando para ela calmamente.



Gina fechou sua mão em torno da varinha em seu bolso, respirou fundo, e disse. “Tudo bem. Não se mexa.” Ele obedeceu à ela enquanto ela se aproximava dele e puxava o colarinho de sua camisa para o lado. Ela inclinou a cabeça dele para o lado, pegou a varinha e deslizou-a pelo pescoço dele, e as marcas na pele sumiram. Ela deu um passo para trás e examinou seu trabalho.



“Você parece bem,” ela disse.



“Obrigado,” ele disse, se abaixando para pegar sua espada do chão. Ele se endireitou para encontrá-la olhando para ele, os braços dela cruzados sobre o peito.



“Só para você saber, eu não estou fazendo isso por você,” ela disse. “Eu estou fazendo isso porque eu não quero ver Harry magoado.”



“Sério?” Draco olhou para ela com uma expressão que ela não conseguia bem ler... Raiva? Divertimento? Culpa? Absolutamente nada? “Melhor investir em algumas vendas para olhos, então,” ele disse, e de afastou dela, na direção de onde os outros estavam esperando com suas vassouras.



***



A tentativa de Sirius de ser rigoroso e disciplinar foi sumariamente arruinada pelo fato de que quando Draco, Harry, Hermione, Rony e Gina entraram na ante-sala da Mansão Malfoy, segurando suas vassouras e parecendo precavidos, Sirius explodiu em gargalhadas. “Draco!” ele exclamou. “O que você está vestindo?”



Draco olhou para baixo vagamente, e depois para cima de novo. “Roupas do Carlinhos,” ele disse.



“Há!” disse Sirius, ou alguma coisa muito parecida com isso, e continuou a rir.



“Eu acho que ele está uma doçura.” disse Narcisa, que estava ao lado de Sirius na escada com seus braços dobrados. Incapaz de conter um sorriso, ela descruzou-os, desceu as escadas, jogou os braços ao redor de Draco, e o beijou na testa.



“Mãe!” ele exclamou, parecendo apenas menos horrorizado do que quando ele confrontou Salazar Slytherin.



“Essas calças não devem ser confortáveis”, ela disse. “Elas são tão...”



“Elas estão ótimas,” disse ele, por entre os dentes.



Ao mesmo tempo, Harry estava olhando para Sirius atônito. Ele raramente havia visto Sirius rir tão intensamente. Sirius apanhou seu olhar, e viu a surpresa e a ansiedade contidas nele. Ele parou de rir, desceu as escadas, e ficou olhando para Harry por um momento, notando de repente que Harry agora estava quase tão alto quanto ele.



“Olá, Sirius,” disse Harry, parecendo nervoso.



Sirius ficou parado, olhando para o seu afilhado, vendo os olhos verdes de Harry arregalados com ansiedade por trás de seus óculos. Depois ele se inclinou para frente, e como Narcisa fez com seu filho, beijou Harry na testa. “Bem-vindo ao lar, Harry,” ele disse.



***



Levou muitas horas onde todos falavam em vozes empolgadas e altas, para Sirius e Lupin começarem a entender a história que esteve acontecendo.



Todos eles estavam na biblioteca (com exceção de Narcisa, que havia permanecido no andar de baixo para falar com os Aurores que haviam vindo para pegar o resto da coleção de Artes das Trevas de Lúcio.) Era o começo da tarde agora, e as janelas de vitral jogavam porções vacilantes de luz colorida sobre todos enquanto Hermione, a última e mais relutante em falar, contou a eles o que ela conseguia lembrar do que acontecera a ela. Lupin estava de pé com suas mãos agarradas ao lado da escrivaninha enquanto Sirius escutava com seus olhos apertados e dedos dobrados sob o seu queixo.



Quando Hermione terminou, Sirius abaixou suas mãos até a mesa e sacudiu a cabeça. “Bem,” ele disse “Vocês todos passaram por um bocado. E vocês todos têm,” ele continuou, “sido muito corajosos, se não impetuosos demais. Mas eu acho que vocês também sabem que toda essa – situação – vai muito além de vocês. É muito, muito sério.”



Hermione fechou os olhos. Uma terrível dor de cabeça martelante havia começado logo atrás de sua testa. Vagamente, ela ouviu Sirius falar,



“A real questão, claro, é se efetivamente era Salazar Slytherin, e então se...”



“É claro que era Slytherin,” disse Draco, numa voz comprimida. “Quem mais seria?”



“Essa é a questão,” disse Sirius. “Nós não podemos descartar que isso poderia ser algum plano de Voldemort. Ele poderia pensar que o nome de Slytherin fosse imprimir tanto medo no...”



“Aquele não era Voldemort,” interrompeu Draco, novamente. “Voldemort teria nos matado se ele nos tivesse tão perto. Ele não nos deixaria partir.”



“O Lord das Trevas não iria querer você,” interferiu Rony, meio inesperadamente. “Ele iria querer Harry. Talvez foi por isso que ele os deixou ir. Se ele seqüestrou Hermione, ele iria esperar que Harry aparecesse. Não,” ele continuou, com desgosto, “você.”



“Certo,” disse Hermione, irritadamente. “Porque Voldemort lê a revista Feitiço e sabe tudo sobre a minha vida amorosa.”



“Além disso, eu já encontrei Voldemort,” continuou Draco, numa voz um pouco tensa. “E aquele não era ele.”



“Algumas vezes,” disse Rony, se inclinando para frente e olhando para Draco zombadamente, “você sabe, vilões, na verdade se disfarçam. Para dizer a verdade, eles são conhecidos por isso.”



“Era Salazar Slytherin!” gritou Draco com repentina e inesperada violência. “Duvide o quanto você quiser, ele vai te fazer se arrepender disso...”



Ele parou.



Todos estavam olhando para ele.



Harry foi o primeiro a quebrar o silêncio. “Malfoy,” ele disse. “Você está se sentindo bem?”



“Eu estou bem.” Disse Draco, contudo ele pareceu alarmado.



“Você tem certeza?” disse Sirius, olhando para ele com preocupação.



“É melhor você contar a eles, Sirius,” disse Lupin, repentinamente. Ele havia ficado muito quieto até aquele momento e estava parecendo apreensivo.



Sirius olhou para Lupin, e depois de volta a Harry e os outros. “Amanhã, Professor Dumbledore e Cornélio Fudge virão aqui para falar com vocês,” ele disse, para todos eles. “Como eu disse anteriormente, essa é uma situação séria. Talvez possamos deixar de especular até que...”



“Me desculpe,” disse Hermione repentinamente, e ficou de pé. “Eu não estou me sentindo bem. Ela estava consciente de Harry olhando para ela, e da sala balançando em volta dela numa mancha cintilante de cores, mas na maior parte ela estava ciente da dor na sua cabeça. Ela sentia como se dois dedos vermelhos e quentes fossem pressionados contra seu globo ocular. “É a minha cabeça.”



Ela estava vagamente a par do murmúrio de vozes, e da voz de Harry em particular. Ela se ouviu dizendo a ele que estava bem, apenas cansada. Ela ouviu Lupin dizer alguma coisa num tom preocupado sobre choque e stress, e ela ouviu Sirius dizer que ela deveria se deitar. Depois ela estava ciente de uma mão no seu braço, e que a mão parecia ser ligada a Draco. “Eu vou mostrá-la onde fica um dos quartos,” ele disse. Ela pensou em protestar, mas a cabeça dela doía demais. Ela ouviu Harry puxar sua cadeira para trás, e depois ouviu Sirius dizer, “Harry, espere só um minuto,” e estava agradecida, mesmo com culpa, de que Harry não pôde segui-la.



Draco virou para ela na direção da porta. A visão dela clareou um pouco enquanto eles atravessavam o aposento. Enquanto eles passavam por Lupin, ela o viu retroceder rapidamente para longe de Draco. Ela piscou em surpresa, olhando de volta por cima do ombro. Agora por que ele faria isso? Ela pensou, enquanto a porta da biblioteca se fechava atrás deles.



***



“Harry, quer parar de se remexer por apenas um segundo?” disse Sirius exasperado.



Harry fez um esforço enorme para ficar quieto. Ele estava preocupado com Hermione, ela havia parecido muito pálida e doente agora mesmo. E, é claro, mandando-a com Malfoy para procurar quartos também não parecia cair tão bem para ele.



Sirius olhou para Rony e Gina. “Eu mandei uma coruja para seus pais nessa manhã,” ele disse.



Rony e Gina deixaram escapar idênticas lamentações de horror. “Sirius!” disse Rony, parecendo traído. “Como você pôde?”



Sem querer, Harry sentiu um pequeno sorriso se formar lentamente na sua boca. Rony não estava acostumado com o novo, mais paterno Sirius; ele era acostumado ao Sirius correndo das autoridades, um Sirius que vivia em uma caverna, comia ratos, e nunca, jamais, havia mandado uma coruja aos pais de alguém.



“Bem, eu não recebi resposta ainda,” disse Sirius.



“Talvez a coruja se perdeu,” disse Rony, esperançosamente. “Talvez não consiga encontrá-los nos feriados.”



“Rony, correio-coruja não se perde,” disse Gina, irritada.



“Mas até lá, você pode sonhar,” ressaltou Sirius.



“E nós deveríamos te contar, Harry,” disse Lupin, andando ao redor da mesa e olhando para Harry com seus braços cruzados, “que você foi expulso da escola de Magids.”



Harry fez um tipo de barulho de abafamento. “Expulso?”



“Bem,” Lupin apontou gentilmente. “você quebrou cerca de trinta regras escolares, fugiu enquanto as aulas estavam acontecendo, e destruiu pertences da escola.”



“Expulso,” Harry repetiu, perecendo horrorizado. Depois ele olhou para Lupin, e perguntou, “Malfoy está expulso também?”



“Er, sim,” disse Lupin, piscando em surpresa.



“Ótimo,” disse Harry, com imensa satisfação.



“Realmente, Harry, isso é tudo com que você se importa?” disse Sirius, parecendo entretido.



“Bem,” disse Harry. “Na verdade, sim.”



Sirius olhou para ele e disse, “Harry. Se você realmente o odeia, você não precisa morar aqui com ele, você sabe.”



Houve um silêncio curto e agudo. Rony e Gina olharam para longe, assim como Lupin.E Harry parecia meramente atônito. Finalmente ele disse, num tipo surpreso de vos, “Eu não o odeio.” Ele olhou em volta, um pouco defensivamente, e deu de ombros. “Não mesmo.”



Sirius olhou para Lupin, incapaz de esconder um sorriso levemente triunfante. Rony pareceu duvidoso. E Gina repentinamente saiu às pressas, anunciando num tom de voz reprimido que queria ver Hermione, e deixou o aposento.



***



Logo que a porta da biblioteca se fechou atrás deles, Hermione arrancou seu braço do aperto de Draco e olhou para ele.



“O que você está fazendo?” ela sibilou.



“Levando você ao seu quarto,” ele disse, e começou a andar pelo corredor.



Ela o seguiu, carrancuda. “Você sabe que não devemos ficar juntos sozinhos.”



“Correção. Você não pode ficar sozinha comigo. Eu posso me controlar perfeitamente bem perto de você.”



“Oh, então aquilo foi apenas eu na noite passada,” ela começou irritavelmente, percebeu como ela soava, e parou. “Esqueça. Não é sua culpa, eu sei que você não escolheu isso.”



“Exatamente o que Freud teria dito, apenas possivelmente sem esse ar sabe-tudo.”



Hermione estava aliviada em notar que a poção do amor não a prevenia de ficar muito, muito irada. “Qual o seu problema?” ela falou rispidamente. “Como se nós não tivéssemos o suficiente para lidar.”



“Nós?” ele ecoou, e parou de repente, olhando para ela. “Isso não é problema meu. Isso é problema seu. Esses são seus amigos. Essas são suas mentiras. Você,” ele disse, e agora sua voz falou rispidamente com raiva, “tem que perceber, Hermione, que existem repercussões. Existem conseqüências para seus atos. Existem-”



“De que raios você está falando?”



Ele jogou suas mãos para cima em exasperação. “Esqueça isso,” ele disse. “Eu estou de partida,de qualquer modo.”



“De partida?”



“De partida,” ele disse, e começou a se retirar do corredor, para longe dela. “Eu tenho uma tarefa a fazer.”



Ela fitou-o. “Você não pode apenas ir,” ela protestou. “Sirius-”



Draco deu de ombros. “Então me dê cobertura.”



“O quê?”



“Me dê cobertura. Eu tenho te acobertado desde ontem. Agora você me dá cobertura. Eu volto mais tarde, talvez essa noite. Apenas... distraia-os se perguntarem por mim.”



“Pra onde eu supostamente tenho que dizer que você foi?”



“Você é esperta,” disse Draco. “Você vai pensar em algo.”



Ele virou-se e começou a andar para longe dela, pelo corredor.



“Eu não vou inventar mentiras para você!” ela chamou por ele, sua voz quebrando um pouco.



Ele olhou de volta para ela por cima do ombro, e deu de ombros. “Sério?” ele disse, com um imenso

desdém. “E eu que pensei que você me amava.”



Dobrando suas mãos em punhos de raiva, ela o assistiu ir sem mais uma palavra. Depois ela se virou, e percebeu,para o seu horror, que ela estava completamente perdida. Ela olhou a sua volta. Ela estava em um hall contornado por retratos, muito parecido com as outras dúzias de halls na Mansão. E ela estava tão ocupada com sua discussão com Draco que ela não se lembrava se tinha vindo da esquerda, ou da direita. Dando de ombros mentalmente, ela virou à direita e andou pelo estreito corredor, tentando lembrar se algum dos retratos parecia familiar. Era difícil de dizer – retrato depois de retrato de Malfoys pálidos, loiros, aparentemente arrogantes olhavam de volta para ela. E todos eles, ela pensou sem esperanças, pareciam muito uns com os outros.



Ela virou num canto, e depois em outro, e deu em um hall que ela tinha certeza que nunca havia visto. E lá, no meio do corredor, estava Gina.



Gina olhou para cima e a viu, e seus olhos escureceram. Ela começou a virar para ir embora, mas Hermione, que estava começando a sentir como se todos tivessem começado a odiá-la, pegou-a pela mão. “Gina, não.”



“Deixe pra lá, Hermione. Eu não quero falar com você.”



“Você não entende. Realmente não era o que parecia ser.”



Agora Gina parecia ansiosa. “Essa não é bem a hora para...”



“Bem, então quando é?” Hermione falou rispidamente, sua voz levantando. A dor na cabeça dela fez a sua própria voz parecer aguda aos ouvidos. “Eu tenho que te explicar, ou então eu vou entrar em pânico, temendo todo o tempo que você vá contar a Harry. E você não pode contar ao Harry, você tem que me prometer...”



“Hermione, não,” Gina interrompeu, balançando a cabeça para Hermione, mas Hermione a ignorou.



“Gina, eu te prometo, eu juro que isso é importante. Eu nunca havia mentido para ele antes, você acha que eu mentiria para ele sobre qualquer coisa?”



“Hermione! Cale a boca!” Gina explodiu, mas era tarde demais. A porta em que ela havia estado na frente se abriu, e com um choque que foi como se a boca de seu estômago houvesse caído, Hermione viu Rony parado ali, fitando as duas atônito. Atrás dele, ela pôde ver o aposento familiar, a escrivaninha, as prateleiras de livros, as janelas de vidro – de alguma forma ela havia andado em um círculo completo e voltado à biblioteca. E era bem evidente pela expressão no rosto de Rony que a biblioteca de Lúcio Malfoy não tinha isolamento acústico. “Sobre o que,” disse Rony, olhando de Hermione para sua irmã, “vocês duas estão gritando?”



“Eu,” disse Gina firmemente, “não estava gritando.”



Hermione limpou sua garganta. Ela estava começando a se sentir uma coisa que ela nunca havia sentido antes na vida.



Estúpida.



“Não é nada,” ela disse.



“Não é nada, uma ova”, disse Rony, e parou quando outra mão tomou conta da porta que ele estava segurando e a abriu por inteiro.



Harry.



Ela podia vagamente ver as formas de Lupin e Sirius atrás dele, e não podia decifrar suas expressões, e realmente não se importava com isso. Ela estava olhando para Harry, e vendo não apenas Harry, mas a destruição da frágil estrutura que ela esteve tentando tão empenhadamente em preservar.



Isso não pode estar acontecendo.



“Você está mentindo para mim?” Harry disse, olhando para ela surpreso e como se estivesse se sentindo estúpido. “Mentindo para mim sobre o quê?”



***

“Você tem certeza disso?” perguntou o bruxo guarda, olhando ansiosamente para o garoto na frente dele. O rosto dele lhe era familiar das fotos do Profeta Diário, e é claro, havia a semelhança evidente também. Mas as fotos não tinham mostrado uma expressão tão fria e fechada. Nem tinham mostrado o medo nos olhos do garoto. “Se você não se importa que eu diga, você não parece tão bem assim...”

“Eu estou perfeitamente bem”, disse o garoto, em um tom superior de alguém que está acostumado em conseguir as coisas do seu jeito. Apesar de ele estar enrolado em uma capa preta de viagem, e de não ser um dia muito frio, seus dentes estavam tremendo. “Eu sou autorizado, estou certo?”

“Bem, é claro que é, mas...”

“E você vai estar assistindo?”

“Sim”.

“Então me deixe entrar”.

“Tudo bem”, disse o guarda, e pegou sua varinha. A fechadura na pesada porta de ferro era menos uma fechadura e mais uma série de barreiras mágicas que requeriam uma seqüência de encantamentos para desarmar. O processo levou algum tempo, durante o qual o garoto ficou olhando pra ele, pálido e parecendo impaciente.

“Você já terminou?” ele exigiu.

“Sim”, disse o guarda, e empurrou a porta para abri-la. O garoto passou sem olhar para ele e a porta se fechou atrás dele. À medida que se fechava, se tornou transparente, para que o guarda pudesse assistir o que se passava na sala, apesar de seus ocupantes não conseguirem ver o lado de fora.

Levou algum tempo para que os olhos de Draco se ajustassem à meia-luz de dentro da cela. Não havia nenhuma janela, nem nenhuma lâmpada. A luz que havia lá parecia vir das paredes, fracamente azul e fluorescente. Por essa iluminação, ele percebeu a forma da sala pequena e quadrada, um colchão no chão, e uma mesa baixa encostada na parede. Um homem estava sentado à mesa, segurando um livro no seu colo. Ele havia levantado a cabeça quando a porta se abriu, e seus olhos caíram em Draco com um olhar frio e calculista, mas totalmente desprovido de surpresa.

“Eu sabia que você viria, cedo ou tarde”, ele disse.

Draco sentiu suas mãos se torcerem fortemente por debaixo da sua capa.

“Olá, Pai”, ele disse.

(Continua...)


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