Xeque-Mate



Snape fechou os punhos, enterrando as unhas na palma da mão. Como aquele auror intrometido ousava dizer aquelas coisas a Tonks? Pretender saber o que era melhor para ela? Ele sibilou uma praga por entre os dentes cerrados. Severus Snape mostraria a ele o quanto estava enganado, mostraria qual era a melhor opção para Tonks, oh sim... ele mostraria a todos esses metidos a sabe-tudo. A idéia passara a noite toda fermentando dentro dele e agora estava finalmente pronta. Já havia perdido um tempo enorme sendo tão ciumento e tolo; era hora de consertar as coisas. O lábio superior tremeu de desdém quando Snape atravessou a porta e tomou a mesma direção das vozes. Caminhou apressado pelo corredor deserto, pelo Saguão de Entrada e assim que atravessou as portas de carvalho, os enxergou. A figura alta e imponente de Shacklebolt e a menor e esguia de Tonks encontravam-se a meio caminho até o portão de entrada, parecendo muito entretidos em uma discussão. Pois bem, ele esperaria. Tentando ignorar a visível cumplicidade entre os dois, Snape se acomodou nas sombras, cruzou os braços e pôs-se a pensar mais uma vez sobre o que havia visto na mente dela. Como ela queimava por dentro por causa dele, exatamente da mesma forma que ele. Como a vida dela se tornaria incompleta sem a presença dele; e como Tonks temia cada vez mais que isso acontecesse... e novamente, Snape sabia qual era a sensação. Então, houve a grande revelação: Remus Lupin possuía, sim, uma parte do coração e dos sentimentos dela, que ficariam eternamente como se trancados em uma arca. Mas, ao mesmo tempo, sempre que ele, Severus Snape, estava com ela, Tonks possuía olhos, pensamentos e emoções apenas para ele. Era como se jamais houvesse havido um Remus Lupin. E, ele odiava admitir, era realmente como Tonks havia lhe dito: nem ele nem Lupin eram perfeitos e talvez ele, Snape, jamais chegasse a completá-la onde Remus havia chegado. Talvez fossem as velhas desconfianças; talvez, um lapso de comunicação entre ele e ela; talvez, uma idéia pré-concebida que não admitia uma outra verdade... o fato é que ele jamais havia entendido muito bem como funcionavam as coisas dentro dela até a noite passada. Mas agora... ele sabia onde estava pisando e se sentia muito seguro. E tudo o que ele teria de fazer seria passar o máximo de tempo possível com ela, se fazer se sobrepor em seus pensamentos, tornar-se inesquecível.

Snape estreitou os olhos quando Tonks e o auror se abraçaram no portão, despedindo-se. Manteve o olhar fixo até ela dar meia-volta e retornar para o castelo, inteiramente tingida de laranja pelo sol que se punha. Então ele suspirou. Havia ainda uma última memória a ser analisada... seria impossível ignorá-la, pois era como se esta "gritasse" na mente de Tonks: ela apenas se sentiria segura com ele quando ouvisse... "aquilo". E ele devia a ela; e era por isso que estava ali. Snape engoliu em seco; será que finalmente conseguiria? Havia anos de hábitos contra os quais lutar... a própria personalidade... Tonks retornou rápido demais e, ao dar de cara com Severus ali parado, os braços cruzados, o rosto de pedra, postou-se muito séria à frente dele, fazendo uma imitação quase perfeita da expressão que ele trazia.

_ Tonks _ ele a censurou, revirando os olhos e relaxando um pouco.

Em resposta, ela sorriu, suspirou e então, olhou para ele com olhos suplicantes, tudo isso em menos de três segundos. Depois, sem dizer uma palavra, virou-se a fim de entrar no castelo.

_ Espere _ ele pediu; e ela se virou ao sentir os dedos muito compridos segurando-lhe os pulsos.

_ O quê?

_ Tonks, eu... _ Snape limpou a garganta e então, emudeceu. Os dedos afrouxaram a pressão no pulso dela e escorregaram lentamente, como se desejassem aproveitar cada mínimo instante daquele contato. Tonks esperava, braços cruzados, a sobrancelha erguida _ Quero lhe dizer...

_ Que... _ ela o incentivou, trazendo no rosto uma expressão levemente divertida. Agora que havia reparado melhor, Snape parecia menos hostil e rancoroso do que nos últimos dias, apesar de bem mais confuso e perturbado. Oh, Merlin, o que estaria se passando na cabeça desse homem agora? Estupefata, ela o assistiu meneando a cabeça, como se lutasse contra si mesmo.

Então, sem dizer uma única palavra, ele novamente a segurou pelo pulso e a arrastou para dentro do castelo.

*

_ Então, você me arrasta até aqui embaixo pra uma... partida de xadrez? _ ela perguntou, incrédula e divertida.

Snape tamborilou os dedos sobre um ombro, encarando a parede.

_ Pensei que você gostasse _ ele respondeu, parecendo entediado.

_ Adoro. Só não entendo por que tanto stress pra uma simples partida, quando a gente já fez isso milhares de vezes! A não ser...

_ Não discuta _ ele ordenou secamente _ Sente-se.

Tonks revirou os olhos; e obedeceu. Ele sentou-se na poltrona em frente, trouxe o tabuleiro com um aceno de varinha e, com outro breve movimento, acendeu a lareira. O silênciou dominou a sala enquanto ela examinava o tabuleiro e tentava entender o que tudo aquilo significava.

_ O que foi? _ ela perguntou, erguendo os olhos de repente. Havia sentido o olhar dele a perfurando.

_ Nada _ ele mentiu. Tinha a garganta seca, os pensamentos num redemoinho e em algum momento daquela partida ele teria de dizer a ela, era uma promessa. Desviando os olhos, ordenou a um peão negro que se deslocasse para a esquerda.

*

Snape jamais havia jogado tão mal em toda a sua vida. Porque não conseguia deixar de pensar, de tirar os olhos dela, pensar mais um pouco e então, dar mais umas olhadas disfarçadas. A tensão dentro dele só fazia crescer. Suspirando, ele se recostou contra o encosto da poltrona, mais uma vez tomando coragem. Tonks estava absolutamente adorável mordendo o lábio e franzindo a testa enquanto estudava uma jogada. Oh, Slytheryn... como era possível resistir? Porque se poupar de viver todo aquele... sentimento em sua totalidade? O coração martelava no seu peito quando ele se inclinou para a frente e esticou os braços, até encontrar as mãos dela. Os dedos deslizaram sobre os dela; e Tonks ergueu os olhos com o susto do toque repentino. Então, Severus se inclinou mais um pouquinho para a frente... e capturou os lábios dela em um beijo. Como sempre, ela suspirou e então, entreabriu os lábios; Snape já conhecia cada movimento, sabia como ela suspirava e fingia, podia prever quando a língua dela invadiria sua boca... mas nunca ficava cansativo ou repetitivo. E, de qualquer forma, fazia já umas boas semanas em que ele não a beijava assim, sem nada na cabeça que não fosse prazer e satisfação. Segurando firme os pulsos dela, a puxou para mais perto e, de repente, se fizeram ouvir resmungos e palminhas. Franzindo a testa, eles se separaram, e olharam em volta à procura do som. Vinha de baixo; das peças do jogo: as brancas aplaudiam, entusiasmadas; e as negras resmungavam. Carrancudo, Snape ficou de pé e a puxou pela mão enquanto, com a varinha, fazia as pecinhas se recolherem de volta a uma caixa.

Então, decidiu. Seria agora. Sem mais delongas.

_ Tonks... _ e então, suspirou.

_ O quê? _ e, ao ver que ele voltara a lutar contra si mesmo, não resistiu _ Snape, você tá tão estranho hoje. Me diz, o que é que tá havendo? Não agiu como você mesmo por um único minuto! Eu até poderia suspeitar que fosse a Imperius, mas dadas as circunstâncias... bem, não teria como, não é? _ Tonks franziu a testa _ Olha, eu juro que...

_ Tonks.

_ O queeê?

_ Cale-se _ ele disse; e a beijou uma vez mais, lentamente, para reforçar as palavras. Então, a aconchegou junto a si, envolvendo-a num abraço muito apertado; e suspirou, fechou os olhos e disse num jato de palavras _ Bem. Resolvi que não a quero mais longe de mim.

Tonks piscou. Teria mesmo ouvido aquilo? Ooh, havia sido um avanço e tanto em se tratando de Snape! Ele, que nunca admitia sentir coisa alguma, que adorava passar a idéia de que fosse feito de pedra e aço, e possuía um coração negro... não que ela realmente pensasse que era assim, mas, pela primeira vez, ele reconhecia o que sentia. E não era apenas um "quero você", mas algo muito mais duradouro. Ela se aconchegou mais junto a ele, feliz.

_ Isso é ótimo, porque não tenho planos de te deixar em paz pelos próximos vinte anos.

_ Vai ser duro, mas vou sobreviver _ ele disse, e beijou-a levemente na testa. Mas ainda havia mais. Na verdade, muito mais. Eram tantas as coisas que Snape queria lhe dizer; como a simples presença dela a seu lado o fazia se sentir menos sujo por dentro; se sentir até mesmo uma nova pessoa, porque ela não se importava com seu passado, seus erros, as atrocidades que havia cometido. Tonks era tão melhor que ele... e, pela primeira vez, Snape pôde compreender como Remus se sentia em relação a ela. Mas ele não era Remus. Ele a queria, ele a teria. E que se danasse a nobreza de espírito. Então, Snape tomou fôlego mais uma vez.

_ E... bem... eu... eu amo você _ ele concluiu, num murmúrio quase inaudível.

Ela se sentiu derretendo e, no instante seguinte, chorando. Droga. Enxugou rápido as lágrimas com as costas da mão e então, ficando na ponta dos pés, colou os lábios aos dele, num beijo que durou minutos e deixou Snape completamente sem fôlego.

_ Já estava na hora. Até pensei que a Mad... bom, deixa pra lá. Preciso dizer que te eu também te amo?

_ Ora, você não vai escapar.

Tonks suspirou. E então...

_ Eu te amo, Severus Snape.

E o beijou outra vez. Bem, e era aquilo. Agora, poderiam finalmente aprender a conviver um com o outro, ver se aquele relacionamento sobreviveria "na vida real" e, quem sabe, mais pra frente... Não estaria "tudo" bem entre eles; na verdade, aquele jamais seria um relacionamento calmo. Ele, por exemplo, nunca se acostumaria com o cabelo rosa que ela voltara a usar; nem com aquele jeito extremamente aberto e extrovertido, da mesma forma que sempre guardaria alguns segredos dela. Mas as coisas estavam, sem dúvida, da melhor forma que poderiam estar. E agora, que estava tudo resolvido no plano sentimental, ele começou a se lembrar do quanto havia sido intensa e deliciosa aquela única noite em que haviam feito amor. Mmmm. Então, uma outra parte de seu corpo começou a achar a idéia bem interessante, também. Apoiando as mãos nos ombros dela, Snape a empurrou sobre a colcha de lã de um verde bem escuro. Tonks arregalou os olhos e protestava enquanto caía, então, agarrou as vestes dele; e Snape caiu por cima dela.

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e lá vem a lady com mais uma explicação furada, hahaha. quer dizer, pra mim, minhas explicações fazem todo o sentido do mundo; mas eu sei que nem todo mundo interpreta as coisas como eu ;)

blah. eu achei as pecinhas aplaudindo o beijo uma coisa altamente disney, daquelas de dar vergonha *mesmo*; mas não deu pra evitar. e eu *jurava* que xeque-mate era com "ch", foi um choque olhar no dicionário e ver que é com "x", fica tão feio, yucky.

ah... como dizer? esse foi o último capítulo. é, foi meio de repente, eu sei; e tinha até prometido encompridar a fic; mas, além de estar cada vez mais sem tempo (e eu simplesmente odeio deixar as coisas sem terminar), também resolvi usar a idéia nova pra uma continuação, uma parte 2, porque tem um tom totalmente diferente desta fic aqui (vai ser uma... comédia. é, eu vou escrever uma comédia romântica, ai que horror! o lado bom vai ser que vai dar pra explorar mais as cenas quentes; eu andava meio travada, confesso, pra escrever esse tipo de coisa mas agora voltei a pegar o jeito, uhu). bom, na verdade, ainda tem o epílogo, que vai mais servir como uma ponte pra próxima fic. devo postar no máximo até o próximo finde. depois... bom, eu conto mais nas notas finais ;)

então. miguel, morgana, heloísa, vinola, camis, hanna... já to me sentindo à beira daquelas despedidas meg-lacrimosas, sabem? foram semanas ótimas com vocês, e ... *sniff* eu vou sentir falta. enfim. mas tem mais um capítulo. enquanto isso, obrigada, MESMO, por todo o incentivo que me deram.

=)

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