Há algo no trem



- Nada de mais - respondeu Thiago. Ele virou a cabeça e viu os doces, todos espalhados nos bancos - Só vim pegar uns doces - e esticou a mão para pegar uma bananinha adocicada.
- O que é isso ? - perguntou Sirius, com a testa ligeiramente franzida.
- É uma banana adocicada. Minha mãe que fez. Pode pegar se quiser. - respondeu Suki. Agatha, que estava com a boca aberta, prestes a responder a pergunta de Sirius, fechou-a imediatamente. Thiago pôs a banana na boca e mastigou.
- É boa. - ele disse, sorrindo. - Ei, Suki. Está pronta para ganhar a Taça de Quadribol esse ano ? - ele perguntou, virando-se para a garota.
- É claro. Ano passado perdemos porque aquele mimado do Daniel Flint roubou o pomo de você no último minuto. Mas esse ano você vence ele, Thiago, ah vence. Lélio vai estar mais empolgado do que nunca.
- Ele não roubou o pomo de mim. Ele me deu uma cotovelada no olho ! - protestou Thiago, apontando para o olho direito.
- É, cara, mas não deixou de roubar. - disse Sirius, com um certo ar sarcástico. Sirius tinha o dom de falar sarcasticamente em várias horas. - Aliás, Pontas, cadê o Rabicho ?
- Não sei, deve ter se tran...
- Deve ter ido pegar mais doces !!! - disse Sirius, quase berrando.
- Ah ! É ! - disse Thiago também quase berrando, com os olhos arregalados. Lilian franziu a testa e suas amigas pareceram achar que aquilo era engraçado, pois riram.
- Ah... é que não queremos que Rabicho pegue mais doces. Ele está engordando. - falou Thiago para Lilian, que mantinha a testa franzida. Sirius afirmou com a cabeça. As meninas nunca poderiam saber o que Thiago ia realmente dizer. A esse ponto alguém bateu na porta. Remo.
- Olá, todos. - disse ele, entrando na cabine, sentando-se ao lado de Thiago. Este pôde perceber que Suki havia sentado ereta.
- Oi, Aluado. - disseram os meninos.
- Oi, Remo. - disseram as meninas. Remo, por incrível que pareça, era o que se dava melhor com as meninas. Ele parecia não ligar muito para isso. Thiago vivia dizendo "como você pode falar tão bem com a Evans ? Se ela fala com você por que não fala comigo ?".
- Como sabia que estávamos aqui ? - perguntou Sirius.
- Não é uma pergunta óbvia demais, Almofadinhas ? - retrucou Remo.
- Ah... claro. - disse Sirius, sorrindo maliciosamente e olhando de esguelha para Thiago. Suki, que tinha a mesma paixão que Remo por livros, disse, num tom que pareceu meio tímido a Thiago:
- Ei, Remo, que livro você está lendo agora ?
- Transfigurações Avançadas. E você ? - ele disse, no mesmo tom que ela.
Nem Sirius, nem Thiago falaram nada. Eles sabiam que Remo já havia terminado de ler o livro de Defesa Contra as Artes das Trevas.
- Manual dos Goleiros parte 2. Muito legal. - a menina respondeu.
Depois de algum tempo, quando já podiam ver o castelo de Hogwarts, o trem parou subitamente.
- Já chegamos ? - perguntou Agatha.
- Não. O castelo está longe demais para termos chegado. - respondeu Lilian, olhando através da janela. - Ei, tem alguma coisa lá fora. - ela continou. De repente, o lado de fora do trem começou a escurecer e todos viram o vidro da janela virar algo que parecia com...
- Gelo ? - exclamou Suki. Houve um barulho muito alto e as luzes do trem se apagaram. A porta abriu de súbito e todos berraram. Puderam ver a silhueta magra de Pedro entrar e fechar a porta.
- O que está acontecendo ? - perguntou ele, andando devagar.
- Senta aí, Rabicho ! - disse Sirius, puxando o amigo. Pedro acabou sentando-se entre Sirius e Suki. - Será que alguém lá fora sabe de alguma coisa ? - continuou Sirius, levantando-se.
- Não. Fique aqui. - disse Thiago num tom particularmente sério, puxando o amigo. Houve uma exclamação e um barulho de alguém caindo. - Opa, desculpe, Almofadinhas.
- Há algo no trem. - falou Remo, pausadamente. Estava mais sombrio do que nunca.
O trem ficou em silêncio absoluto. Estava muito escuro, mas dava ver as silhuetas de cada um com a mísera luz que vinha do lado de fora do trem. Os 7 garotos respiravam profunda e longamente. De repente, algo escuro passou pela janelinha da porta da cabine. E parou. Ninguém se atreveu a dizer nada e as respirações ficaram mais baixas e rápidas. A porta começou a abrir e algo que lembrava uma mão saiu por ela. A porta abriu-se por completo. Apesar de quererem berrar e gritar, ninguém disse nem fez nada. Algo com uma capa preta e longa estava parado ali, em frente a eles. As mãos eram brancas e finas e aquilo tinha um ar aterrorizador.
A coisa pareceu olhar para todos e parou em Remo, que era o que estava mais perto da porta. Todos olharam para ele e viram, com horror, Remo começar a ficar muitíssimo branco e perceberam que algo passava dele para o ser de capa preta. Thiago, então, quebrou o silêncio e berrou chamando Remo, apesar da fraqueza estranha que sentia.
- Aluado ! - e começou a puxar o amigo para perto de si. Parecia não adiantar, pois Remo estava cada vez mais branco e imóvel. Sirius, que também estava branco, de repente, jogou-se para frente e começou a puxar o amigo também. Suki levantou-se com muita dificuldade, ofegando. Passou por Pedro, muito encolhido e assustado e ergueu a varinha, falando algo. Uma luz prateada saiu da ponta de sua varinha e o ser recuou. Sirius e Thiago, ajudados por Lilian, caíram no banco, cada um segurando Remo em pontos diferentes das vestes deste. Suki berrou algo e uma nova e maior luz prateada se formou na ponta de sua varinha. O ser afastou-se e desapareceu pelo corredor. Todos ficaram imóveis. Após os 5 minutos mais longos das vidas de todos eles, as luzes acenderam-se novamente. O vidro da janela estava voltando ao normal. Sirius, meio que acordando, olhou para Remo, que estava com os olhos semi fechados e respirava com um pouco de dificuldade.
- Aluado ! Aluado, você tá legal ?
- Remo Lupin ! - berrou Thiago. Remo, que estava muito fraco e pálido, abriu completamente os olhos.
- Chocolate - ele disse. Sua voz estava rouca como nunca e muito baixa.
- O que ?
- Chocolate. Tome - falou Lilian, depressa, entregando um bom pedaço de chocolate trouxa para Remo. Este pegou o doce e deu uma grande dentada.
- O que houve aqui ? - perguntou Agatha, finalmente. O trem recomeçou a andar.
- Um dementador. Um dementador. - respondeu Suki, muito pálida também, com um pedaço grande de chocolate nas mãos, que estavam tremendo. Ela partiu o doce e entregou um pedaço a cada um que estava ali. - Comam. - ela ordenou. Agatha, Lilian e Pedro comeram o chocolate, mas Sirius e Thiago permaneceram imóveis. - Comam. - ela ordenou, mais uma vez. Eles morderam o doce.
- Mas... o que um dementador estava fazendo aqui ? - perguntou Agatha, confusa. Pedro, de repente, fez um barulho, estava claro que ele estava quase paralisado.
- Voldemort. - respondeu Thiago. Agatha deu um gritinho abafado, Suki prendeu a respiração e Pedro fez outro barulho estranho. - Estavam a procura de algum rastro de Voldemort. Como é possível acharem que um ser como ele estaria aqui, entre alunos ?
- Não acho que estavam a procura de Voldemort. - respondeu Lilian, sombriamente. Agatha e Pedro deram berros abafados.
- Como assim ? - perguntou Sirius.
- Há mais coisas nesse mundo que os dementadores procurariam além dele. - respondeu Remo, ainda fraco, sentando-se com dificuldade. Sirius e Thiago se endireitaram também.
- Obrigado. - falou Remo para os amigos e para Lilian, sorrindo. Os amigos sorriram também.
A porta se abriu de repente. Todos olharam, alguns temerosos de outro dementador. Mas estava longe de um dementador. Uma mulher, de uns 30 anos, parou e olhou para todos. Tinha uma aparência conservada e olhos muito cinzas e vivos. Os cabelos, pretos, estavam ligeiramente despenteados. Vestia uma capa preta e tinha um ar meio sinistro.
- Está tudo bem aqui ? - ela falou. Tinha um tom de voz confortador e muito controlado.
- Era um dementador, de fato, não era ? - perguntou Lilian.
- Sim. Sim, era. - respondeu a mulher. Parecia impressionada que alguém soubesse o que acabara de atacá-los. Ela entrou na cabine e fechou a porta. Sentou-se ao lado de Remo. A cabine estava um pouco apertada agora. - Como sabem que aquilo era um dementador ? - ela perguntou, interessada.
- Suki sabia. - respondeu Agatha, apontando para a amiga. - Ela conjurou um Patrono na mesma hora.
- Bem, mas não era a única. Thiago sabia também. - a menina falou. E, realmente, Thiago sabia que era um dementador. - E Lilian e Remo. - continou Suki. A mulher apertou um pouco os olhos e olhou todos.
- Me desculpem, garantimos que não acontecerá de novo. Mas, me digam, sabiam disso porque já haviam enfrentado um dementador antes ? - falou a mulher, mais interessada ainda.
- Não. - responderam Suki, Thiago e Lilian, em coro. Como haviam respondido em coro, ninguém - além de Sirius - percebeu que Remo não havia respondido.
- Livros. - respondeu Suki.
- Ah... livros também. - mentiu Remo.
- Boatos e livros. - respondeu Lilian. Todos olharam para Thiago, esperando ouvir como ele sabia o que havia se passado ali. Ele franziu a testa e olhou para o chão, piscando.
- Não sei como eu sabia que era um dementador. - ele falou, pausadamente e olhou para todos. Todos franziram muito a testa, menos a mulher.
- Muito bem, comam quantos chocolates vocês tiverem. Ajuda. - falou a mulher, reparando que havia uma grande quantidade de doces ali. Ela já ia embora, quando Suki falou:
- Me desculpe, mas... quem é a senhora ?
A mulher se virou.
- Hanna Dawson. Creio que sou a nova professora de Defesa Contra as Artes das Trevas de vocês. - respondeu ela, educadamente. Não pareceu falar num tom de professor para aluno.
- Ah, prazer. - falou Lilian.
- O prazer é todo meu. - disse Dawson, olhando para cada um deles. Olhou, por último, Thiago. Ela virou-se e saiu.

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