O início



A noite caíra trazendo consigo, a chuva, o vento e o frio do Inverno.
Sobre as planícies desertas, oculta pelo breu da noite e pelo negrume das suas paredes calcárias, nascia uma mansão imponente.

Foi na porta desta, que alguém bateu.
_Quem és tu? – perguntou um sujeito encarapuçado que abrira a porta.

_O meu nome é Orion Zaidan. Peço abrigo por uma noite.

O encarapuçado mostrou-se relutante, a sua escassa inteligência não era suficiente para arranjar uma desculpa que a enxotasse dali para fora.

_O teu mestre está? – perguntou antes que ele se lembrasse de algo – poderia falar-lhe? Tenho a certeza de que teria uma boa oferta, por uma noite…

_O mestre está ocupado. – respondeu-lhe o outro.

_Ah! Então eu espero no hall até que ele me possa receber. – e sem aguardar resposta passou por baixo do braço do homem, esgueirando-se para o interior da casa.

_Menina! Psst! Menina! – Orion ignorava os chamamentos do homem, e sem se limitar a esperar no hall, partiu corredor dentro, em direcção às salas adiante. – Não pode estar ai! Vai meter-me em sarilhos… menina, pare!

O homem deu um paço de corrida, agarrando-lhe o braço com força.

_Ponha-se daqui para fora! – gritou virando-a para ele, quando a viu bisbilhotar por uma porta semi-fechada.

Ela cambaleou com o empurrão, parando depois para olha-lo nos olhos que brilhavam por baixo da capa.

_Eu estou na minha casa. – proferiu num tom cordial e realístico.

O homem soltou-a lentamente, parecendo estupidamente pasmado e por outro lado, completamente convencido.

_A menina está na sua casa. – repetiu enfeitiçado.

_Tu vais voltar para o teu posto sem comentar que me viste.

O homem parou por segundos, como se o seu cérebro analisasse lentamente a informação que recebera, e então, mais uma vez repetiu as palavras dela.

_Eu vou voltar para o meu posto sem comentar que a vi.

_Óptimo. Agora vai.

Ele voltou-lhe costas, voltando para o hall, silenciosamente.

Ela tomou a direcção oposta, infiltrando-se pelo interior da mansão, oculta na penumbra. Pensando que enfeitiçar aqueles devoradores da morte era tão fácil como tirar um doce a uma criança…

Aproximou-se lentamente da porta semi-fechada e abriu-a implorando para que as dobradiças não chiassem… não chiaram. O seu interior tratava-se de uma sala rectangular, iluminada pelas labaredas vibrantes da lareira ao canto, e cuja mobília existente não passava de um cadeirão em couro vermelho e uma mesinha redonda, na qual, uma chávena fumegava emanando um aroma adocicado a baunilha e mel.

Numa outra parede havia um pequeno armário camuflado na sombra instável proporcionada pela lareira, e no qual, Orion, sentiu uma tentação.

Quem quer que fosse o dono daquela bebida, devia estar prestes a voltar, e se ela queria espiar um pouco, teria de se esconder no único esconderijo possível. Era agora ou nunca.

Fazendo um esforço para que as tábuas do soalho não lhe rangessem debaixo dos pés, avançou em direcção ao armário, onde se enfiou num movimento rápido.

Não esperou muito até que o dono da chávena aparecesse.

Era um homem alto, forte e moreno, segurando no rosto um sorriso orgulhoso.
Conheceu-o de imediato. Rodolphus Lestrange…
Afinal aquele quartel era importante, ao contrário do que dissera o olho-louco, afinal era ali, naquele fim de mundo, que se escondiam os principais apoiantes do lorde das trevas, quem sabe até, o próprio Voldemort.

Sorriu para si própria, imaginando o rosto do seu chefe quando lhe metesse na secretária o paradeiro de um dos mais procurados devoradores da morte! Abafou uma pequena gargalhada, vendo na sua mente, olho mágico dele girando de excitação.

Para sua surpresa, por trás de Rodolphus surgiu a sua esposa, e igualmente procurada, Bellatrix Lestrange. Esta abraçou o marido, passando-lhe os braços no peito, e beijando-lhe o pescoço.

_O mestre? – perguntou ele baixinho.

_Está lá em cima, ficou a banhar-se na poção rejuvenescedora… daqui a alguns minutos voltará a ser o jovem e poderoso Lord de sempre! – exclamou a mulher.

_Então esta noite… temos um motivo para comemorar…

Ele soltou-lhe um sorriso maroto, agarrando-a pela cintura e atirando-a para cima da mesa, colocando-se entre as pernas dela.

_Aqui não… alguém pode entrar.

_Porque não?! – Rodolphus agarrou-lhe o cabelo, fazendo-a inclinar a cabeça para trás, e beijou-lhe o pescoço ardentemente.

_Vamos para o quarto.

_Não! – Rodolphus começou lentamente a abrir-lhe a blusa.

No interior do armário bolorento, Orion desviou o olhar… não pagara para ver uma cena daquelas!

Felizmente Bellatrix parecia resistir aos avanços do marido, abotoando cada botão que ele desabotoava, e aproveitando um momento em que ele aliviou a força que impunha contra ela, para se afastar dele.

_Aposto que se fosse o Lord não ias fugir assim! – rugiu com ciúme.

_Fugiria sim…

_Ele já tentou agarrar-te assim?!

_Não.

_De certeza?

_Claro que não! E se agarrasse eu fugiria dele… é de ti que eu gosto.

_Prova-o…

Ela aproximou-se dele, num passo, cochichando algo no seu ouvido.
Trocaram um olhar maroto, e saíram rapidamente deixando a sala imersa no silêncio.

Saltou do seu armário, ainda chocada com a cena que acabara de assistir, e abandonou a sala.

Se ouvira bem… Voldemort estaria algures nos andares superiores.

Era a sua oportunidade! Se conseguisse aproximar-se bastante para lançar-lhe um feitiço de paralisação, talvez conseguir-se materializar-se com ele, directamente no coração do ministério.

Riu do seu próprio plano. Ela nunca conseguiria aproximar-se sem que ele desse pela sua presença… um feiticeiro do gradiente de Voldemort seria capaz de sentir uma cabra num rebanho de dez mil ovelhas!

Mas se conseguisse vê-lo… ter a certeza, de que se encontrava ali… traria consigo reforços e tornaria aquela velha mansão poeirenta num campo de batalha!

O hall encontrava-se deserto, à excepção do devorador que enganara, este encontrava-se parado diante da porta com ar de quem deixara o cérebro em casa, mas ela suponha que o cérebro dele nunca tivesse existido!

Os andares superiores, ao contrário dos outros onde estivera, eram muito mais acolhedores e asseados. Talvez pertencessem aos seguidores mais fieis e inteligentes, o que por mera precaução, fez

Orion tornar-se mais atenta… Todas as portas, fechadas e iguais, e todos os corredores, paralelos e perpendiculares, que nasciam magicamente em cada esquina, tornavam aquele andar um verdadeiro labirinto.

Uma porta chamou-lhe a atenção, algo no seu instinto de Auror mandava-a entrar no interior da divisão. Seguiu o seu instinto.

A porta abria para uma divisão imersa na escuridão, que era afinal, um armário de vassouras.

_Bolas… - suspirou depois de tropeçar numa pá e acabando por enfiar um pé num balde.

Libertou-se dos obstáculos e aproveitou a ocasião para consultar a sua varinha.

_Que direcção devo tomar? – perguntou.

A varinha começou no entanto, a girar com toda a velocidade, sem parar.

Ela urrou, percebendo naquele momento o que Alastor queria dizer quando afirmava que ela não estava preparada para enfrentar uma batalha sozinha.

Apesar de todos os avisos do patrão, ela desobedecera-lhe e viera atrás de uma pista sozinha, uma pista que afinal se tornara mais perigosa do que ela alguma vez pensara…

Deu um passo em direcção à porta, mas esquecera-se por completo que tinha um balde enfiado no pé, e que este de ferro polido escorregava como manteiga no chão encerado.

Pummm!

Com um enorme alarido, derrubou todas as vassouras e tomou banho de um produto de limpeza que se encontrava num frasco na prateleira sobre si.

Cheirando a musgo, e vendo espuma escorrer-lhe pelo cabelo, ouviu passos de alguém lá fora.

Agarrou a varinha tentando pensar numa solução, mas esta escorregou-lhe por entre os dedos, indo rolar por baixo da porta…

_Porra! – murmurou colocando a mão por baixo da porta tentando alcançar o seu instrumento.
Sentiu-a com a ponta dos dedos, e tentou agarra-la, mas mais uma vez ela fugiu dos seus dedos.

Lá fora os passos estavam cada vez mais próximos, e conseguia já distinguir uma ou duas vozes… se não agarrasse a varinha depressa, seria descoberta, e provavelmente morta.

Finalmente conseguira! Agarrou a varinha e transfigurou-se mesmo a tempo, numa esguia e gasta vassoura, deixando-se cair ao lado das outras que havia derrubado.

A porta abriu-se.


Uma feiticeira de longos cabelos negros, oleosos e despenteados, arregalou os olhos perante a confusão.

_Malditos elfos domésticos! – exclamou – Já nem arrumar as coisas sabem! Se fosse no tempo da minha mãe, já tinham rolado cabeças.

Com um feitiço arrumou tudo (Orion inclusive), e fechou a porta com estrondo.

Quando tinha a certeza de que a feiticeira não voltaria, voltou à sua forma original, agradecendo o facto da mulher não ter percebido o erro da sua transfiguração, sendo que ao contrário das restantes vassouras, não tinha cabeça de palhas, mas sim os seus próprios cabelos, crespos e castanhos.

Deu mais uma vez razão ao seu chefe… era de longe a Auror mais azelha que ele conhecia.

De facto passara à rasca em quase todos os exames, tirando o de debate e engano, onde devido ao seu dom de nascença, conseguia enganar os feiticeiros de mente mais fraca, com um simples olhar.

Ela era encantadora, era um dom muito raro na Europa, sendo que a maior parte dos encantadores encontravam-se na índia encantando cobras para entretenimento dos muggles.

Um pouco mais à frente decidiu arriscar outra porta, mas para sua desilusão encontrava-se trancada. Arriscaria um feitiço ali?

Tentou pensar no que o Moody faria… de certeza que ele usaria o seu olho mágico, mas ela não tinha nenhum olho mágico…

Lançou um alohamora baixinho, que destrancou a porta com um estalido.

O seu interior, não era estava escuro, mas sim quente e acolhedor.

Ela uma sala circular, com uma mesa no centro e várias cadeiras acolchoadas.

No chão, a alcatifa encobria os seus passos, e felizmente, nas paredes todos os retratos se encontravam adormecidos.

A sala tinha duas portas, uma aberta, para uma divisão iluminada cujas paredes pareciam de uma sala de banho, e na qual se ouviam sons de água corrente, alguém estava a tomar banho… a outra estava fechada, mas sendo ali uma casa de banho, ela deduziu que por trás da porta cerrada se encontrasse um quarto.

Decidiu sair dali, antes que o ocupante desse pela sua presença.

Mas… tarde demais.

Antes que pudesse dar meia volta, uma voz vinda da sala de banho resmungou:

_Quantas vezes já pedi para vocês, elfos domésticos, não aparecerem no meu quarto quando a porta está trancada?! – a sua voz era grossa e bruta, fria não transmitindo qualquer espécie de sentimento.

Ela não sabia se haveria de responder, ou simplesmente sair dali… aquela voz dava-lhe arrepios.

Teve uma ideia parva, cujo o grau de parvoíce só reparou depois de a ter posto em prática:

_Desculpe senhor… - guinchou imitando a voz do seu próprio elfo doméstico, Grimpy – Mim não querer incomodar, ir sair daqui agora…

_Mas que raio?... – ouviu murmurar no interior da sala de banho, enquanto reparava assustada que o som da água havia cessado.

Tentou chegar à porta, mas esta fechou-se na sua cara. Uma presença negra fixada na sua nuca, fez um forte arrepio percorre-la, sentindo que o seu fim estava próximo.

_Quem és tu?! – rugiu a voz por trás dela, igualmente fria e sem sentimento.

Não se voltou, sentindo as suas pernas tremerem. Era ele… Lord

Voldemort em pessoa… por trás dela.

Voltou a cabeça, observando o homem musculado e forte que reconheceu como sendo Tom Riddle (tinham alguma fotos suas em aluno na sede dos Aurors, uma das quais, a dela, tinha bigode e óculos redondos rabiscados). Observou pelo canto do olho, para ter certeza de que era mesmo ele, e deixou-se cair de joelhos diante da porta, ainda de costas, com as mãos levantadas para o tecto em cor carmim, gritando:
_Por Merlin! Por Merlin! Estas coisas só me acontecem a mim… com tanta porta nesta maldita mansão tinha de abrir a que abriga um homem musculado… - olhou mais uma vez pelo canto do olho para a figura que agora a observava perplexa – E moreno… e… bonito… e já referi musculado?

_Quem diabo és tu?! – repetiu segurando a toalha que arrolara no tronco e que por meros instantes estivera à beira de cair.

_Er…

_Responde, raios! – gritou dando um passo na direcção dela.

_Porque te estás a aproximar?! – perguntou assustada –
Estamos tão bem assim os dois… tu desse lado e eu aqui… Dava para abrires a porta?! É que eu sou claustrofóbica e…

_QUEM ÉS TU?! – Ele estava a meio metro dela.

Ela estava de joelhos, levantou-se num salto… a ideia de estar de joelhos diante dele (refiro que ainda estava só de toalha) não era meramente agradável…

_Eu sou a Orion. – respondeu baixinho – E tu deves ser o Tom
Riddle! Muito prazer… é sem duvida um prazer conhecer-te. – estendeu-lhe a mão que ele não aceitou, mas mesmo assim ela fez questão de agarrar e abana-la depravadamente.

Ele soltou-se.

Soltou uma gargalhada fria, rindo da presença insignificante dela.

_Que estás aqui a fazer formiga?

_Formiga?! Eu?!

_Tens razão… formiga é demais! O que estás aqui a fazer, verme?!

_EI! Tu não me chamas verm… - esticou-lhe o dedo diante do nariz esquecendo-se por completo com que estava a falar, dedo que ele tentou morder.

_Eu chamo-te como quiser. – Agarrou-lhe o cabelo com a mão ainda húmida e afastou-a da porta em direcção à poltrona atrás de si.

E desapareceu por trás da porta fechada.

Ela maquinalmente levantou-se e tentou em vão abrir a porta da saída, que ele trancara tão bem que nem com alohamora cedeu…

_Estou feita… - murmurou deixando-se cair na poltrona, guardou a varinha do bolso do manto, convencida que se ele quisesse mata-la, matá-la-ia quer ela retaliasse ou não.

Voldemort voltou pouco depois, vestido.

Deu uma volta diante dela, sem sequer ligar ao facto dela poder estar armada.

_Então, gostas?

_Do quê?! – questionou ela grosseiramente, quando no fundo os seus olhos fintavam o seu traseiro perfeito.

_Ora, do meu corpo… recém-adquirido. Aquelas poções fazem milagres.

_Então a tua estava com certeza estragada. Cheiras a esterco.

Ele abriu um sorriso maldoso, ignorando por completo a ofensa.

_O teu também não está nada mal. – comentou.

_Vai-te fod*r! – se ia morrer, ao menos gozava o prato, poderia ao menos entrar no céu aclamando que ofendera Voldemort.

Novamente ele abriu um sorriso maldoso, mas desta vez não esqueceu a ofensa. Pegou na varinha e proferiu:

_Cruciu!

Ela gemeu escorregando da poltrona e contorcendo-se no chão, sem saber se aguentaria durante muito mais tempo aquela tortura. Ouvira dizer que a maldição Cruciatus era má… mas não sonhava que fosse tão dolorosa…

Ele parou agarrando-a pelos braços e disse-lhe ao ouvido.

_Essa tua ofensa deu-me uma ideia… existiam coisas que com o meu antigo corpo já não funcionavam devidamente.

_Solta-me porco! – gritou ofegante dando-lhe um murro nos abdominais, que de tão duros, magoaram-na mais a ela do que a ele.

Aproximou-a tentando beija-la à força, investidas que ela arduamente rejeitou, sabia o que ele queria… e não estava disposta a entregar-se assim para um monstro daqueles!

_Mestre! – alguém entrara no aposento por uma porta que ela não vira.

Voldemort atirou-a para o chão.

_Já não se bate?

O devorador parecia chocado com a cena que acabara de assistir, mas depressa voltou aos pensamentos.

_O grupo dez voltou agora da missão. Precisam trocar uma impressões consigo.

_Leva-o daqui para fora! – gritou Orion esparramada no chão.
Voldemort colocou-lhe um pé em cima da barriga, calcando com força para que ela se calasse.

_Tem mesmo de ser agora?

_Um líder disse-me que tiveram um pequeno encontro com o Potter…

_Viva ao Harry! POTTER POWER!!

Voldemort arfou furioso, retirando o pé de cima dela.

_A nossa “conversinha” fica para mais logo. – avisou ele levantando-a pelo braço, enquanto ela esperneava tentando pontapeá-lo – Entretando, tranca a miss… - esperou que ela completasse.

_Parvalhão! – gritou.

_Tranca a miss Parvalhão no aposento da ala dois.

Empurrou-a com força, fazendo-a embater no peito igualmente forte do devorador, que usando magia para a segurar, levou-a para um quarto caquéctico, que cheirava a humidade, algures no andar de baixo.

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