Capítulo 12



Capítulo 12

Gina sempre achara que os homens se apaixonavam muito depressa. A declaração de amor, feita com todos os matadores, era-lhe geralmente apresentada na primeira semana, às vezes até mais cedo. Quando ela era mais nova, costumava sentir-se de tal modo chocada com essa revelação que se limitava, em resposta, a fazer a mesma declaração, já muito repetitiva, para acabar com o que achava ser um momento embaraçoso. E, claro, depois de isso ser dito uma vez, tinha de ser repetido, todas as vezes que lhe era oferecido um presente desesperado, pela alma doente do amor. Cedo Gina aprendeu a descobrir quando o momento do «amo-te» estava eminente e também que, quando a declaração era contrariada com um firme, mas afectuoso «Não sejas tolo, claro que não me amas», a situação ficava pior e o doente se tornava mais desesperadamente apaixonado e devotado.
Por isso é que, mesmo que já andasse a sair com Harry há dois meses, não se sentia nada preocupada por ele ainda não ter dito aquelas palavras: que a amava. Mas também não era necessário. Gina sabia que ele a amava, mesmo que nenhuma palavra lhe saísse dos lábios. Para ela, esse era mais um sinal de que Harry era o Escolhido. Era tudo tão fácil, tão simples. E Harry não era exigente e não a pressionava.

Gina achou refrescante que ele não a perseguisse com gestos românticos e declarações, prendas e actos enjoativos destinados a fazer a prova do seu amor. Ele não insistia na beleza dela nem lhe dizia que ela era a mais espantosa mulher que conhecera nem que ela era muito sexy; muito maravilhosa, muito especial. Ela também já tivera que chegasse para a vida inteira e sabia que essa devoção trazia, normalmente, uma etiqueta com o preço: os ciúmes e os sentimentos de posse típicos de um homem inseguro.

Gina sabia que todas as mulheres desejavam que um homem lhes dissesse que eram bonitas, que as tocassem e que as acariciassem.

Mas Gina não era assim. Essas ideias todas davam-lhe volta ao estômago e faziam-na querer vomitar.

Ela adorara a primeira vez que aquilo tinha acontecido, claro, especialmente por aparecer no final de uma adolescência odiosamente estranha e quando já se convencera que ia ficar para sempre sem ser amada nem penetrada.

O nome no rapaz era Nick. Era um tipo de aspecto confortável, com um sorriso meigo. Ele também deixara para trás uma adolescência estranha e aos 19 anos também estava a resignar-se com uma vida inteira de virgindade quando Gina lhe apareceu.

Foi um clássico romance de verão com piqueniques, idas ao cinema, noite de embriaguez em jardins de cerveja e horas de movimentos desajeitados de mãos, no banco da frente do carro da mãe dele, onde Gina descobrira – depois de ter passado anos a tentar manter as mãos dos rapazes fora das suas calcinhas – que ela estava desesperadamente empenhada em meter as mãos dela nos boxers dele.
Nesse Verão livraram-se finalmente das suas prolongadas virgindades, do dia seguinte ao do 18º aniversário de Gina, e, por comparação com as historias que Gina escutara mais tarde às suas amigas, o evento fora verdadeiramente mágico e correspondera totalmente às expectativas de ambos. E eles estavam, loucamente apaixonados.

Portanto, era tudo perfeito e Gina sentia-se feliz.

Até uma noite, semanas depois. Ela já ia na sua terceira cerveja numa noite só de raparigas, quando Nick apareceu, e envolveu-a num abraço desesperado.

- Tinha saudades tuas – disse – e os meus amigos estavam a ser uns chatos. Só queria estar contigo. – E abraçou-a ainda com mais força.

Gina tinha até tinha tentado sorrir e corresponder à intensidade do sentimento dele e à força da paixão, mas falhara miseravelmente, sentindo-se, em vez disso, sufocada, ameaçada e comprometida. Nick passou a parecer-lhe uma pessoa diferente depois dessa noite. Já não eram iguais e por mais que tentasse, Gina já não conseguia fazer reviver o amor quente, sólido e fácil que sentira por ele.

No fim do Verão, ela foi para a universidade, em Londres, e ele para um universidade de Newscastle e, apesar de as coisas pareceram estar bem de início, cedo os fins-de-semana em conjunto começaram a ser cada vez mais cheios de tensão. Ele passava horas a perguntar a Gina, sobre os novos amigos do sexo masculino que ela fazia em Londres, sobre cada movimento e cada acção dela e, depois, fazer-lhe perguntas pormenorizadas sobre os rapazes que ela tinha beijado antes de se conhecerem. E, por fim, começava a chorar com uma frequência alarmante.

- Só fui para Newscastle para provar a mim próprio que podia viver sem ti…e não posso! Não posso viver sem ti, Gina! – Gritava.

E, quando ele começou a falar em transferir-se para ir estudar na mesma universidade, em Londres, Gina decidiu que chegara a hora. Já bastava o que bastava.

Foi uma das coisas que mais lhe custara fazer e ele reagiu muito mal ao telefonema dela.

O Michael não acreditava que Gina o amasse e, durante meses, exigia-lhe declarações e amor.

Dino insistira que ela deixasse de falar com os seus amigos, agora que o tinha encontrado a ele.

John tinha querido casar com ela ao cabo de seis semanas e, quando ela disse «não», ele entrou numa depressão profunda.

Muita coisa Gina tinha aprendido em relação aos homens.

Mas Harry não era assim: ele era perfeito. Era feliz por Gina fazer o que queria, era generoso e simpático, e era afectuoso como Gina nunca vira homem nenhum. Nunca a deixava em paz, estava sempre a beijá-la na cabeça, a apertar-lhe as mãos, a tocar-lhe no pescoço. E Gina sabia porquê. Ele confidenciara-lhe, na primeira conversa que tiveram, que se mantivera cinco anos sem uma mulher. Cinco anos! Durante cinco anos nunca tivera qualquer contacto com uma mulher. Era outro sinal. Tinha de ser mais do que uma simples coincidência. E ela ficaria feliz por ele se pudesse compensá-lo do tempo perdido.

Além disso, ele cheirava bem, tinha bom aspecto, vestia-se maravilhosamente e era encantador. Não a perseguia com as suas emoções, dava-lhe espaço. Ele gostava dos amigos dela e ela dos amigos dele. E o facto de ele ter dinheiro para pagar as refeições e os táxis quando regressavam a casa, sem Gina sentir qualquer sentimento de culpa.

Gina nem se importou muito que Harry tivesse esquecido de dar-lhe os parabéns pelo aniversário relativo ao primeiro mês e, depois do aniversário dos dois meses. Era até refrescante. E também não lhe importava que ele nunca fizesse elogios ou que nem notasse uma mudança de penteado ou um vestido novo. Para ela era uma felicidade que ele passasse tanto tempo no emprego e que não desperdiçasse nenhuma parte da sua vida só para arranjar espaço para ela. Isso era algo que ela queria que não acontecesse. Não queria as atenções, as exigências e as necessidades. Durante tempo de mais, Gina estivera a ser observada através da lupa do amor inseguro. Agora, a única coisa que ela queria era ter Harry.

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