Capítulo 9



CAPITULO 9

- O que faz ela aqui? – Perguntou Hermione num tom que se esforçava por ser casual e ligeiro e onde tentava não trair o que sentia no seu íntimo: insegurança, ciúmes e nervosismo. Cho estava irritantemente bonita, em forma, irradiando um brilho de saúde e de vitalidade – ou seja, tudo aquilo que dissera adeus a Hermione uns anos atrás. E o cabelo era, de facto muito bonito.
Estavam na festa de despedida (do antigo emprego) do Victor, apenas alguns copos com uns amigos, alguns que trabalhavam com ele havia já cinco anos, para lhe desejarem sorte para a nova carreira.
- Ela é uma das minhas alunas, não te lembras de te dizer? – Perguntou Krum, bebendo cerveja directamente da garrafa.
Não, de facto não.
- Não me parece. Ou podes ter dito, não me lembro – respondeu Hermione, para quem Cho parecia daquelas que não tinha tempo para dança. Parecia ser mais do tipo aeróbica ou melhor andar o dia todo a fazer compras.
- Ela é mesmo muito, muito boa a dançar. E foi meu par durante uns tempos, depois de deixares de cá vir.
- Ai, sim? – Um relâmpago sujo, feito de um ciúme pouco habitual, feriu-a no estômago. Continua esfuziante e a sorrir, Hermione, não mostres que estás com ciúmes.
- Não gostas dela, pois não? – Perguntou Victor inesperadamente.
- Bem, quer dizer, eu não a conheço. Ela só não me parece ser uma rapariga muito simpática, é só isso. Não faz realmente o meu género acho que não passaria no teste do Pub.
Krum conhecia o teste do Pub de Hermione: era a maneira de ela avaliar se uma determinada rapariga era ou não o seu género. Primeiro começava por se imaginar num pub com a rapariga em questão. Se pudesse, depois, vê-la, no seu espírito, a beber cerveja, a petiscar umas coisinhas salgadas e a conversar sobre coisas sem importância, a rapariga passava no teste; se não, era alegremente relegada para o monte das que não-são-o-meu-género.
- É, eu também não gosto muito dela.
Muito bem!
- Ai, sim! Eu pensava que tu eras de opinião de que ela era porreira…
- Não, tinhas razão, Mione. É uma vaca egoísta. Nem sequer fui eu que a convidei para cá vir hoje. Acho que foi uma das outras miúdas.
- E de que é que não gostas dela? – A curiosidade de Hermione acendera-se. Não estava habituada a ver Victor ter opiniões tão firmes sobre uma pessoa e recorrer a pequenas vinganças como não a convidar para a festa e chamar-lhe «vaca egoísta».
- Não sei. Concordo contigo, é só. Há qualquer coisa de que eu não gosto dela. Mas não consigo dizer o quê – Na realidade, Victor estava furioso. Tinha dito àquela cabra que não aparecesse lá na festa e ela tinha prometido que não ia.
- Porque havia eu de ir tomar umas pobres de umas bebidas com esses tristes todos? Não te preocupes. Leva a tua namorada gordinha, que eu prometo-te que ela estará em segurança – Respondera Cho.
E, no entanto, ali estava ela, arranjada a preconceito, com um vestido de algodão preto, justíssimo ao corpo, de costas ao léu. E a beber cerveja por um copo enquanto namoriscava com o pobre Joe Thomas, o empregado bancário, que suava permanentemente e que naquele momento estava prestes a morrer devido à mal disfarçada excitação que o dominava.
Victor não conseguia lembrar-se de quem tinhas aquela trapalhada toda. Obviamente que ele reparara em Cho – aliás, qualquer homem repararia. Mas o certo é que a vida estava cheia de mulheres em que se reparava e nunca ninguém chegaria a lado nenhum se começasse a ter casos, condenados à partida, com todas elas. Engatar mulheres não era, aliás, o estilo dele. Portanto, a culpa devia ter sido de Cho.
Cho e ele tinham esbarrado um com outro na porta da frente, quando ela estava á procura da chave. Ele tinha acabado de chega de uma aula de dança. Quando Krum lhe falou que dava aulas de dança, Cho disse que também dançava, tendo tido formação como bailarina até aos 20 anos. E foi nessa altura que Krum a convidou para as suas aulas de dança. E ela foi. Olhando para trás, conhecendo agora melhor o tipo de mulher que ela era, Krum achou que provavelmente, ela estaria já a namoriscá-lo, enviando-lhe frenéticos sinais sexuais que ele – com toda a sinceridade – não tinha percebido.
E foi só quando dançou com ela pela primeira vez que Krum a apreciou de um ponto de vista que já não era puramente estético. Cho era simplesmente a melhor parceira com quem ele dançara até aquela altura. A formação clássica de Cho emprestava beleza e graça aos movimentos mais básicos da dança e ela parecia uma boneca, leve como uma pena e não fazendo nenhum esforço para o acompanhar. Krum deixara-se arrastar. E deixara-se arrastar de tal modo que nem sequer falou no caso a Hermione quando voltou a casa nessa noite – não por se sentir culpado, mas porque sabia que iria corar violentamente. Mas com o tempo a relação de Krum e Cho começou-se a tornar numa coisa mais carnal. Victor ficara completamente em choque quando Cho o beijou pela primeira vez. Aquilo era uma hipótese que já lhe tinha passado pela cabeça, algumas semanas antes, mas, afinal, a vida está cheia de hipóteses imaginárias e muito agradáveis.
- Deixa-me convidar-te para tomarmos uma cerveja – tinha dito ela numa noite. E depois acabara-se a cerveja e chegara a hora de regressarem. – Por acaso, apetecia-me outra bebida. Deixa-me oferecer-te uma tequila… - dissera então Cho. Que insistira ainda depois da primeira tequila acabar. – Vá, vamos tomar outra. – Ela tivera de persuadi-lo alegremente, mas ele, no fim, até estivera de acordo. Ao cabo da terceira tequila estavam os dois a rir-se, muito mais descontraídos, e Cho tinha girado em torno dele no banco do balcão, as pernas suavemente cruzadas, o corpo a ocupar o espaço entre eles e, antes que pudesse surgir algum embaraço, ela cravara os olhos nos dele e beijara-o. Muito gentilmente de inicio, á espera de não ser ela a ter que fazer o trabalho todo e de ele reagir ao roçar sensual dos seus lábios e a beijasse. Depois olhou de novo para ele. – Adoro homens que dançam - disse, os olhos a moverem-se dos lábios para os olhos dele e de novo para os lábios. Ele voltou a roçar-lhe os lábios com os dela, aumentando um pouco mais a pressão. Foi então que ele a beijou e que uma onda de triunfo envolveu Cho.
Os beijos tinham-se tornado mais prolongados e fortes e a língua dele começou a explorar-lhe a boca. Victor aproximou o peito do peito dela, agarrou lhe as costas e produziu um breve gemido.
- Vamos para o escritório – gemeu, procurando a chave nos bolsos. Depois entraram, quase a cambalear, na pequena divisão.
Cho deixou o vestido deslizar para o chão, um procedimento que praticara adequadamente, e sorriu ao olhar a cara de Victor, percebendo o impacto que lhe provocara ao vê-la pela primeira vez totalmente nua, descarada e muito suave. Ele movimentou-se de modo desastrado, sem saber o que fazer ás roupas e a tentar arranjar um espaço adequado, sem conseguir tirar os olhos dela.
- Meus Deus, como és bonita – disse, enquanto a colocava encima da secretaria e possuía-a. Em cinco minutos estava tudo despachado, intensa, rápida e desconfortavelmente. Victor ficou a suar em profusão, com as calças pelos tornozelos.
- Oh, Deus – dizia quando se apercebeu do que fazia – Oh Deus.
E depois puxou as calças para cima.
- Merda, está quente aqui dentro – disse, apanhado o vestido e entregando ao Cho.
As coisas deviam, de facto, ter ficado por ali. Mas parecia, no que dizia respeito a Cho, que ainda não tinham acabado. E não tinha acabado porque, apesar de ela o ter seduzido e excitado ele não parecia suficientemente agradecido. E ela queria que ele lhe estivesse agradecido.
O problema é que ele não estava. E nunca pedia mais do aquilo que Cho lhe oferecia. Quase teve de arrasta-lo para o seu próprio apartamento num fim-de-semana em que ele lhe revelara que Hermione estaria fora. Limpou a casa de alto abaixo, fez uma refeição romântica e pôs Frank Sinatra, que sabia ser o favorito dele. Havia lençóis lavados, roupa interior nova, flores. Mas isso não tornava as coisas diferentes. O que se passara fora mais prolongado, mais confortável e menos suado, mas, mesmo assim, ainda inteiramente superficial, com Victor a devorar o jantar em seguida e a regressar á sua própria casa para ir ver televisão sozinho.
No que a ele dizia respeito, Victor não sabia bem porque arrastara aquilo durante tanto tempo. De certa forma, e ele não conseguia explicá-lo Cho assustava-o. O vazio e a frieza dela metiam-lhe medo e ele também não conseguia deixar de sentir que, se saísse daquela embrulhada, poderia vir a ter que pagar pelo que fizera e de forma muito dolorosa. Ela mostrara-se tão determinada em possui-lo e em fazer que ele a quisesse que ele não ousara contrariá-la. E, para ser sincero consigo próprio, havia algo de afrodisíaco nessa intensidade e no se próprio medo – era patético, mas era verdade que o excitava.
Victor acreditara, com grande dose de certeza, que nunca, mas nunca, seria infiel a Hermione. Isso era mais do que impensável, era ridículo. E também, com toda a certeza, nunca pensara que pudesse vir a ter um caso tórrido com uma “bimba” – que era o que melhor definia Cho: uma oriental que dançava como um anjo, com pernas que nunca mais acabavam e mamas maravilhosas.
Além disso, Victor sabia que, para Cho, ele não representava nada de especial. Mas também lhe era difícil imaginar que alguém pudesse representar alguma coisa especial para Cho. As relações sexuais entre eles tinham sido, pura e simplesmente, uma extensão da dança. Dançavam tão bem juntos, era óbvio que podiam também foder muito bem os dois juntos.
E tinha sido muito mais fácil do que Victor alguma vez poderia ter imaginado: mentir a Hermione, enfrentá-la com o suor do coito ainda a secar-lhe na nuca. Era engraçado como ele conseguia nem sequer corar ao pensar nisso, já que aquela era a altura de ele sentir-se de facto culpado. Passara toda a vida a corar nos momentos mais inoportunos. Não lhe tinham ocorrido, no entanto, que mulheres como Cho podiam engravidar. ela era de tal modo desprovida de alma, tão fria, tão vazia e tão sem emoções, tão diferente do que ele esperava de uma verdadeira mulher, que não tinha pensado, por um instante, que ela, poderia possuir um útero. Cho era uma mulher em que todos reparavam, não uma mãe. O pensamento de um bebé a chupar aqueles mamilos de um cor-de-rosa perfeito era ridículo, tal como era de rir as gargalhadas a ideia de Cho a empurrar um carrinho de bebé ou a puxar um carrinho.
Já Hermione era o que Victor imaginava como devendo ser uma mãe. Era real, tinha vida própria, tinha uma coração tão grande que podia ser mãe do país inteiro e ainda guardar um lugar para o resto do mundo. Victor nunca fora amado por ninguém da forma que Hermione o amara, com um amor muito limpo, muito fácil e muito sincero, e não com o amor possessivo, peganhento e inseguro, que muitas vezes pessoas tomavam, por engano, pelo amor verdadeiro. Nunca o tentara fazer mudar em nada. Gostava dele da maneira que ele era e Victor achava que não podia pedir mais. Excepto, por alguma razão, sexo cheio de paixão com mulheres inadequadas e desagradáveis…
E Victor estava a sentir-se incrivelmente desconfortável naquele momento, com Cho e Hermione a partilharem o mesmo espaço.
- Olá – irradiou a Cho. – Olá, é a Hermione, não é? Não a vejo à que séculos. Não tem saído muito ultimamente, pois não? – Cho estendeu a mão bronzeada para dar um aperto de mão a Hermione. Victor sentiu-se enjoado ao ver as mãos das duas mulheres a tocarem-se. – Vou ter muitas saudades do seu namorado.
- Ai, sim? – Replicou Hermione, amigavelmente.
- Sim, as noites de terça-feira nunca mais serão as mesmas – respondeu Cho a olhar para o Victor.
Victor sentiu-se pregado ao chão, a garrafa de cerveja instantaneamente congelada, a meio caminho entre a mesa e a boca, a observar a cena que se desenrolava em frente aos seus olhos.
- Deve estar muito orgulhosa. Quando é que o programa vai para o ar, Victor?
Victor compôs-se, conscientemente dos pequenos rios de suor que lhe escorriam pelas têmporas.
- Aah, a partir da outra segunda-feira, não é, Mione? – Respondeu, devolvendo a conversa ás duas mulheres.
- Sim, é isso. Ela vai estar na rádio já durante a próxima semana. – Respondeu Hermione com uma risada.
- Bem, Victor, muita boa sorte. De qualquer maneira, eu já devia deixado de vir ás aulas a muito tempo. Olha – e estendeu a mão esquerda, a palma voltada para baixo -, vou casar-me.
- Oh, que anel tão bonito – Hermione pegou gentilmente nas pontas dos dedos de Cho, enquanto examinava o anel, voltando-o contra a luz.
- É verdade, pertenceu à mãe do meu noivo. Era uma das mulheres mais bonitas que já vi.
- O seu noivo é aquele tipo alto e loiro? – Perguntou Hermione.
- Oh, não, aquele é o Martin. Meu Deus. Eu nunca casaria com ele. Não, é o Giles, conheço-o desde os 19 anos. É muito rico e tem um lugar muito importante na sociedade. Tem uma casa na Austrália e um apartamento aqui em Londres.
- Onde é que vais morar? Vai sair de Almanac Road?
- Não, acho que vou manter a casa como um pieds-à-terre. Temos que ter um espaço só nosso, não temos? – Atirou o cabelo para trás dos ombros e riu-se. – De qualquer modo, espero que vocês dois não se importem, mas vou-me embora gora. Tenho um dia muito longo pela frente, a ver vestidos, e tenho de decidir onde é que vai ser a recepção.
Victor e Hermione murmuraram ambos que não estavam nada desapontados que a decisão.
- Victor, o meu casaco está no escritório. Importar-te-ias de me ir abrir a porta?
- Aaah, porque não levas tu as chaves?... – Perguntou, a mexer nos bolsos.
- Oh, sabes como aquela fechadura é esquisita. Nunca consigo entender-me com ela. Importas-te muito? – Cho tinha um sorriso enjoativo.
Victor agarrou a mão de Hermione:
- Não demora um segundo. Ficas bem?
- Sim, claro – respondeu Hermione, com voz fraca interrogando-se porque é que a ideia de eles irem juntos ao escritório a incomodava tanto.
Victor regressou alguns minutos depois, muito corado e agitado:
- Importaste que nos vamos embora?
Hermione escondeu o seu alívio:
- Não, claro que não. O que se passa?
- Nada. Estou farto, só – disse Victor com um ar distraído.
Estava tão zangado que até lhe custava respirar. A cabra, a mudar de homem para homem. O que ela ia fazer ao coitado desse Giles?
E toda gente parecia deixar que ela se safasse, continuando a oferecer-lhes coisas e mais coisas, sem esperar nada em troca. Mas ele era diferente, ele queria alguma coisa. Não ia deixá-la ir embora assim, a caminho de uma vida muito cómoda com um ricaço que lhe oferecia tudo aquilo de que ela necessitasse para o resto da vida.
- Mione – disse, mais, tarde ao chegarem a casa -, vamos ter um bebé! – Ele não tinha planeado dizer aquilo e a frase limitou-se a sair. Mas o momento, percebeu ele, tinha sido o momento exacto. Era aquilo que ele queria, mais do que tudo.
- Oh, Victor, mas tu sabes… - começou Hermione, tristemente.
- Sim, sim. Eu sei. Vai ser difícil e vai ser duro. Especialmente para ti. Mas vamos tentar. Da aneira mais própria. Podemos pagar tudo isso agora… os tratamentos e essas coisas. Mione, por favor eu queria mesmo que tivéssemos um bebé.
E, de repente, ele estava d joelhos, agarrado à mão da Hermione.
- Por favor… - disse, pondo a cabeça no colo dela.
Hermione ainda estava um pouco incomodada pelo incidente no clube e esta era a ultima coisa de que ela estava a espera. Aliás, acreditava que já tivessem posto a ideia completamente de parte, anos atrás, quando o médico lhe dissera que uma infecção nos ovários a fizera estéril. Foi por isso que arranjaram a cadela. Não tinha pensado que o assunto pudesse regressar. Filosoficamente, estava resolvido e fechado.
- E se isso não dá resultado? Pode demorar anos e anos e eu já estou na casa dos 30. Talvez seja demasiado velha e eles não gostem de lidar com mães mais velhas porque isso acarreta mais riscos. Eu vi os documentários… é uma coisa que pode afastar-nos e tu e eu somos mais importantes do que um bebé. Eu não poderia suportar isso tudo todas essas decepções e o estar a espera…
- Por favor, Mione, por favor…
Hermione olhou para a massa de cabelo negro que estava no colo dela, para o pescoço sólido, para a curvatura dos ombros largos. As pernas dele estavam dobradas e Victor, ali aos seus pés, parecia muito vulnerável. Meu deus, ela amava-o. Tudo o que ela queria era fazer que o Victor se sentisse feliz. Era tudo o que ela sempre tinha querido, desde o dia em que o conhecera.
- Está bem, vamos ver – acedeu.
Victor agarrou-a com força e enterrou a cabeça nas carnes quentes dela.
- Obrigado, obrigado, obrigado – ouviu-o Hermione respirar. – Obrigado.
Ela acariciou-lhe a cabeça, sentindo-se um pouco assustada.




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Mil milhões de desculpas pelo atraso de tantos meses

Mas agora eu já voltei, e tenho ideias que nunca mais acabam !!!

Beijos leiam e comentem!!!



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