Obliviate



A sala era escura e muito fria. Umas poucas velas iluminavam o local e lhe davam uma aparência sombria. O clima no ambiente não melhorava nada ao reparar-se nas pessoas que lá estavam. Numa única cadeira, colocada bem no centro do aposento, um homem desacordado tinha seus pés e mãos atados e a cabeça tombada sobre o peito. Ao seu redor, oito homens encapuzados e cobertos por vestes pretas o observavam em silêncio.

- Quem é esse miserável? - a voz era de McNair.

- Um auror. Ele nos viu, não podemos deixá-lo viver. - respondeu Lúcio Malfoy.

- E o que estamos esperando?

- Vamos deixar que ele acorde. Pode nos ser útil, com informações do Ministério. Até onde eles sabem da volta do Lorde das Trevas.

- Não sabem de nada, Lúcio. Fudge faz questão de alardear que Harry Potter é louco e Dumbledore está senil. Ele não quer nem acreditar na volta do Lorde das Trevas.

McNair mal acabou de falar e foi atingido por um feitiço da varinha de Lúcio. Caiu no chão.

- Imbecil! Por que foi falar meu nome? Estamos na presença de um inimigo! Cuidado, seu idiota, se você deixar isso escapar durante uma missão mais importante, é o meu pescoço em perigo! E eu não quero morrer... Muito menos, ir para Azkaban.

McNair balbuciou uma desculpa e, com muita dificuldade, conseguiu levantar-se. Os outros homens tinham assistido à cena sedentos por um combate. Por baixo de seus capuzes, sorriam de ansiedade pela luta. Apenas Severo Snape permanecia impassível, olhando atentamente o homem desacordado no centro da roda.

'Um auror. Podia ser Tonks...' - pensou. E essa idéia afligiu-o profundamente. 'Aquele incompetente Lupin jamais seria capaz de protegê-la de uma situação dessas.' - e sentiu-se orgulhosamente superior ao seu rival.

O homem ao centro começou a despertar. Todos olharam atentamente e Snape, encoberto por suas vestes, sorriu.

Lúcio, que tinha dado um passo à frente e se encontrava muito próximo do prisioneiro, pareceu confuso ao observar sua movimentação. Ele parecia... Parecia estar tentando puxar sua varinha. Mas não era possível, Lúcio pensava, ele mesmo tinha desarmado o auror e jogado sua varinha a um canto da sala . Olhou para o tal canto. Recuou de repente.

Snape sorriu mais uma vez.

O homem ao centro conseguiu murmurar um feitiço para desamarrar as cordas e, aproveitando-se de os comensais estarem ainda sem reação com aquela surpresa, lançou sobre si mesmo um feitiço de proteção.

- Mas que diabos! Peguem esse homem! - berrou Lúcio, ele mesmo dando um passo atrás para não ficar na mira da varinha inimiga.

Todos os comensais avançaram furiosamente para cima do auror. Snape, satisfeito com o rumo que a situação estava tomando, aproximou-se de Lúcio. Precisava garantir também sua proteção, o auror não teria como saber que ele havia lhe restituído sua varinha e nem deveria. Seria o fim do seu disfarce. Ele também não podia atacar o homem que acabara de salvar, por isso, preferiu manter-se à distância.

Mas aquela medida não foi suficiente. Depois de conseguir desviar-se de alguns feitiços, o auror abriu caminho para fora do grupo que o cercava diretamente na direção de Lúcio. Este puxou a varinha do cabo de sua bengala e tentou lançar-lhe um feitiço que, pelo começo de suas palavras, todos puderam perceber que seria 'Avada Kedavra'. Se não tivesse sido atingido imediatamente por um 'Estupefaça'.

Lúcio caiu no chão, desacordado. O homem preparou-se, então, para atacar Snape. Em uma fração de segundos, o professor decidiu-se. Atingiu-o com um simples 'Expeliarmus' e, em seguida, ordenou que todos que ainda encontravam-se em pé saíssem à procura de mais ajuda. Quando ficaram na sala só ele, o auror e os comensais desacordados, Snape não hesitou em lançar 'Obliviate', apagando, assim, a memória do prisioneiro.

'Lá se vai mais uma chance de o Ministério acreditar na volta do Lorde das Trevas.' - pensou.

Virando-se para o auror, que tentava levantar-se e entender onde estava, sussurrou:

- Corra para a sala ao lado, de lá é possível aparatar.
Devolveu a varinha a ele que, ainda abobado, fez exatamente o que o professor disse. Snape esperou que ele estivesse longe da sala para acordar os outros comensais.

Dirigiu-se para o local onde Lúcio estava caído e devolveu-lhe os sentidos. Profundamente irritado, Malfoy levantou e cuidou de ajeitar suas vestes, que haviam sido rasgadas na queda. O seu rosto estava descoberto e um rasgo na capa deixava à vista uma parte de seu peito. Reluzindo, uma pequena corrente estava em seu pescoço, pela primeira vez à mostra. Nela, havia pendurada uma gota, que pareceu a Snape, por um instante, uma verdadeira gota de lágrima.

- É um cristal. - disse Lúcio inexpressivamente. - Chama-se pingente de Afrodite.

- E o que ele faz? - perguntou Snape, ainda sem preocupar-se em acordar o resto dos comensais. Ele achava que se tratava de algo referente a Voldemort, algo novo que ele poderia revelar para a Ordem. E mostrar seus serviços. E superar Lupin.

- Narcisa me deu pouco antes de nos casarmos. - foi a resposta. Snape perdeu o interesse no objeto e começou a caminhar na direção dos homens desacordados. - É uma tradição na família Black. - Lúcio continuou.

Snape parou e voltou-se. Informações sobre a família Black sempre chamavam a sua atenção, por mais que dificilmente relacionasse esse assunto com Tonks. Na verdade, gostava de esmiuçar o passado de Sirius.

- Todas as mulheres Black têm um. Elas entregam ao homem de sua escolha. Como se Narcisa já não soubesse que se casaria comigo, a escolha não foi dela, foi das nossas famílias. - acrescentou, com desprezo. - É uma tradição idiota. Sentimentalismo mais adequado a mulheres trouxas ou mestiças, que escolhem quem bem entendem para casar.

Snape balançou a cabeça concordando. Acordou os outros comensais e decidiu que era hora de encarar Voldemort e tornar válida sua mentira: diria que usou o 'Obliviate' no auror, o que eles poderiam facilmente checar se quisessem descobrir o último feitiço desferido por sua varinha, e que, depois, mandou-o de volta para o Ministério fazendo-o acreditar que estivera totalmente bêbado num bar, isso ele não iria querer revelar no trabalho. Na verdade, Snape pouco ligava para o que o pobre homem iria pensar do tempo que esteve entre os comensais já que, com pressa, não lhe contou nenhuma história para suprir sua memória perdida. E, se o Lorde quisesse saber por que não o matou como Lúcio quase fez, ele diria que não queria causar a morte de um auror e, com isso, levantar suspeitas sobre a atuação de bruxos das trevas.

- Severo.

- Sim, Crabbe. - Snape virou-se e olhou para o homem que ele tinha acabado de ajudar a recompor-se.

- Você deixou cair isso do seu bolso quando me ajudou. - e passou para a mão dele uma pequena caixa. A caixa que Tonks havia lhe entregado.

Ele não tivera coragem de abrir... Nem de separar-se dela. Por isso, a carregava no bolso ainda. Guardou-a de volta e saiu da sala.

Lúcio tinha uma expressão de espanto depois de ter observado o que o mestre de poções tinha colocado em seu bolso.

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