De Histórias e Contratempos

De Histórias e Contratempos



Adeus ou Tchau




Capítulo Um – De histórias e contratempos



Ronald e Hermione Weasley freqüentaram a Escola de Magia e Bruxaria de Hogwarts por volta da década de 90. Ambos pertenceram à Grifinória e diversas vezes se destacaram por seus diferentes talentos. Eram sempre vistos ao lado de Harry Potter, melhor amigo de todos e lendário bruxo, responsável pela derrota de Lord Voldemort, o maior bruxo das trevas que houve em toda a História. Eram o trio de ouro, e marcaram talvez o período mais fantástico da História bruxa...

Mas tudo isso nós já sabemos, não é verdade? E se ainda não temos certeza, podemos sempre imaginar. Mas um dos techos mais fantásticos dos contos sobre a derrocada de Voldemort trata-se de um romance comum – tão comum que poderia acontecer com qualquer um, pode até mesmo estar acontecendo com você. Rony e Hermione, juntos, são muito mais do que o estereótipo de melhores amigos que se apaixonam.

Entretanto... Exatamente em quê momento eles deixaram de ser amigos? Porque isso realmente aconteceu nalguma hora, nós sabemos. Mesmo assim... Não deixa de ser curioso.









Hermione notou primeiro, e isso não é nenhuma surpresa para quem a conhece. Havia grandes diferenças entre seus dois melhores amigos. Harry era mais centrado, mais maduro, e na maioria das vezes agia de maneira razoável, embora fosse capaz de ser extremamente idiota quando se arriscava a interpretar a profecia que lhe cabia. Sim... Ele era um sujeito problemático para si próprio, ainda que tivesse seus momentos de lucidez.

Em um monte de lençóis amassados estava enrolada confortavelmente uma mulher, esta de quem eu falo, Hermione. Acordara com uma febre preguiçosa e simplesmente se recusara a sair. E como durante a noite sonhara com seus tempos de escola, estava se lembrando ali no escuro de momentos que, na verdade, nunca haviam desaparecido de sua memória. Naqueles tempos, ela era apenas uma garota que vivia de cara enfiada nos livros, que se convencia de que sabia tudo que era possível saber como forma de defesa das críticas que fora obrigada a ouvir na escola trouxa, e mesmo depois de ingressar em Hogwarts e na Grifinória. Aqueles cabelos fofos, que nunca a abandonaram, mesmo na vida adulta, e aquele porte meio curvado a tornavam invisível para muita gente, mesmo para a maioria das colegas.

Ela detestava ficar perto de Lilá Brown e Parvati Patil, por exemplo; toda aquela fascinação maluca por Adivinhação a fazia sentir pena. Outras tantas, como a famosa Cho Chang, tinham sua vida em função de arrumar namorados e de se manterem bonitas para eles. Às vezes, Hermione Granger desejava ardentemente ser como elas; apenas fechar os olhos e não ver assuntos maiores do que aqueles. Mas ela não conseguia.

Harry e Rony eram as pessoas em Hogwarts que mais a aceitaram do jeito que era; certo que Rony a princípio dissera que ela era insuportável, maluca e tudo o mais, mas Hermione também o achara um pateta retardado desde o princípio. Hermione conteve um sorriso que ninguém veria, sob as cobertas. Ele era tão bobo que achara, sinceramente, que era capaz de mudar a cor de um rato sem nem mesmo ter estudado um ano!

Ainda assim, ela tratou Harry e Rony de maneira diferente desde o começo. Entre ela e Rony não havia tempos de paz, e sim tempos de trégua; tudo até que o próximo motivo aparecesse. O ruivo não tinha nada a ver com ela, e como haveria? Ele não era filho único de trouxas, não tinha crescido numa escola primária trouxa nem fora educado para ser sempre o melhor em tudo que pudesse. Mesmo assim, Hermione foi obrigada a admitir para si mesma, Rony tinha seus próprios demônios para vencer.

Claro. Rony muitas vezes era tratado apenas como sendo mais um Weasley. Um dia, quando o encontrara encarando furiosamente a lareira da sala comunal, depois de uma derrota horrível para a Corvinal no quadribol – devia ser o sexto ou o começo do sétimo ano... Hermione tinha a memória tão fraca para quadribol -, ele estava excepcionalmente auto depreciativo.

-Eu sei que eu sou um idiota tapado, Mione, não preciso que você repita isso. – retrucou furioso, quando ela se aproximou e se sentou de frente para ele, a seu lado direito.

Ela não gostara nem um pouco da reação.

-Eu não vim aqui te dizer que você é um tapado idiota. – ela cortou, com as sobrancelhas cerradas. – Vim pra te dizer que este jogo pode ter sido ruim, mas que não teve a menor importância.

Para mim, ela continuou em pensamento, você ainda é o melhor goleiro que a Grifinória já teve, mesmo que tome vinte gols seguidos no mesmo aro.

-Não teve importância? – Rony repetiu, com um olhar amargo para ela. – E o quê tem importância? O relatório de dois metros que o Binns pediu pra semana que vem? Diferente de você, Hermione, eu estou me ferrando se uma droga de uma notinha vai manchar o meu currículo!

Hermione se encolheu. De novo, ele estava entendendo tudo errado. Mas ao mesmo tempo, ela estava sendo insultada. E do mesmo modo que não deixara que ele insultasse Hermione Jane Granger nos anos anteriores, não deixaria naquele momento, por mais ferido que ele pudesse estar. O orgulho sempre vinha antes para ela.

-Realmente, Ronald Weasley, você se importa mais se uma bola de couro atravessa ou não um aro de metal batido do que com a iminência da morte de todos nós! Às vezes você não passa de um irresponsável, Rony, que não é capaz de entender que podemos ser destruídos a qualquer momento, e que precisamos nos preparar para enfrentar a guerra quando ela chegar!

Sentiu seu rosto ir ficando afogueado então, e as orelhas dele também ficavam progressivamente avermelhadas.

-Sim, eu sou um irresponsável. – concordou Rony carrancudo, mergulhado em auto piedade. – Sou um inútil pobretão, que não tem nem a metade da inteligência da brilhante Hermione Granger, que não tem a bravura do poderoso Harry Potter, que só sabe se preocupar se foi humilhado diante da escola inteira por um trio de artilheiros medíocres!

Caíram os dois em silêncio. Saltara aos olhos de Hermione como o ruivo vivia insatisfeito consigo mesmo.

-Até mesmo o Chapéu Seletor sabe que eu sou só mais um Weasley. Mais um Weasley a ser jogado na Grifinória para ser protegido por seus irmãos inteligentes ou engraçados. E quando eu penso que conseguiria sobreviver sozinho, o que acontece? – Rony estava trêmulo; Hermione sentiu vontade de acalmá-lo, mas precisava ficar furiosa com ele. – Eu arrumo amigos que me protegem o tempo todo, como se eu fosse um trasgo incapaz.

-Sou só mais um Weasley. – ele revelou, escondendo o rosto.









Uma capacidade notável e assustadora para se diminuir, era o que ele tinha. Pessoas têm problemas, Hermione sabia, mas Rony tinha grandes oscilações de humor devido àquela frustração de si mesmo. Coisa parecida acontecera quando o ruivo beijara uma garota pela primeira vez.

Acontecera mais ou menos da mesma forma que com Harry. No sexto ano, Annie Simmons, da Lufa-Lufa, tropeçou nele. Hermione franzira o cenho logo de cara; aquela era a tática mais manjada que existia! Ela mesma nunca se prestaria àquilo. Que demonstração de fraqueza incrível! Rony a segurara com certa pressa e garota tratou de se apresentar, afobada, e disse que estava atrasada para Feitiços. Pois sim... Então o que ela estava fazendo no corredor de Transformações?

Naquela ocasião, não dissera nada. Mas Simmons não se contentara com um tropeção mais do que proposital. Duas semanas depois, ela ouviu Harry e Rony cochichando na mesa do almoço; ela estivera inocentemente em sua aula de Aritmancia.

-O que estão cochichando? – ela fez a pergunta, quase como um teste.


-Nada demais. – apressou-se Rony a falar.

-Ele vai com Annie Simmons para Hogsmeade neste fim de semana. – Harry corrigiu, com um olhar brilhante e, Hermione poderia jurar, especulativo.

Ela planejara um passeio para os três assim que Rony e ela fizessem uma ronda pelo vilarejo, e estivera mais ansiosa do que deveria para esta mesma ronda. Não sabia mais como agir perto do ruivo, e recusava-se a enxergar a resposta. Mas se ele ia com Annie Simmons, era melhor deixar de lado. Hermione sentou-se, sentindo o rosto queimar e vendo sua mão apertar com força demais o tampo da mesa, quando se sentoou.

-E ele queria que você o liberasse da ronda – Harry acrescentou de forma sádica.

Hermione começou a encher seu prato com tudo que encontrava na frente, esforçando-se ao máximo para não olhar para Rony e para deixar no rosto a expressão mais neutra deste mundo.

-Bem, Rony, você terá que pedir ao Monitor Chefe – disse ela. – Eu poderia fazer a ronda sozinha, mas realmente espero que os terceiranistas não comecem outra guerra de Bubobombas.

Bubobombas: última diversão mais do que masoquista, inventada pelos gêmeos Weasley. Feitas de pus de bubotúberas diluído. Mesmo com toda a água, ainda causava estragos nada bonitos.

-Não tente me chantagear com isso como se eu tivesse inventado essa maluquice. – Rony falou decentemente pela primeira vez. – Afinal, eu só vou dar uma volta com a menina. Nada demais. – mas seu rubor denunciou que ele sabia que as coisas não eram exatamente assim.

Harry soltou um risinho. Hermione bufou e voltou a atenção para sua comida.

-Faça o que fizer – aconselhou o moreno. – Mas não deixe que ela te leve até o Madame Puddifoot.

Depois de um fim de semana horrível e entendiante, no qual Hermione apenas separou briguinhas entre terceiranistas (e sentiu falta de Rony espalhando os “pirralhos” e comentando que eles definitivamente não eram tão violentos na idade deles) e tomou uns goles de cerveja amanteigada com Harry, Gina encontrou-a nos portões da escola, assim que se despediu de Goldstein.

-Hermione – confidenciou ela. – você viu o Rony com aquela Simmons?

-Claro que vi – Mione deixou escapar o comentário rancoroso, que fez a ruiva erguer as sobrancelhas. – Quero dizer, eu soube, afinal eu e Padma Patil tivemos que acalmar sozinhas aquela confusão na frente da Zonko’s.

Gina virou os olhos.

E a coisa não parara por aí. Definitivamente a pior parte de toda a fábula era quando Rony sofria interrogatório de Harry, na sala comunal, mais uma vez. Afinal, o Weasley revoltou-se contra as perguntas:

-Você devia parar de tentar viver nas experiências dos outros, sabia. – desabafou, com um olhar de relance para Hermione. Esta tentou voltar a atenção para a tarefa de Herbologia.

-Não estou vivendo na sua experiência. – Harry fingiu uma expressão inocente. – Só quero saber se vocês pretendem continuar andando juntos – fez uma breve pausa então, - porque Mione não reclamou de outra coisa o dia inteiro.

-Eu o QUÊ? – a garota se eriçou toda. Rony ergueu a cabeça num átimo, e ela baixou o livro, furiosa. – Não seja ridículo, Harry! Eu estava brava porque Padma e eu tivemos que cuidar de tudo! Todos os outros monitores conseguiram ser irresponsáveis o suficiente para...

-Eu pensei que tinha agido perfeitamente falando com o Monitor Chefe. – cortou Rony, já na defensiva.

-Ehm, bem, pode ser, mas os outros não fizeram nada! E além do mais, Rony, francamente, eu acho que você deveria levar mais a sério suas obrigações como monitor... Deixando suas obrigações de lado simplesmente para ter um encontro qualquer com uma menininha desesperada é simplesmente...

-Ei, espere aí – o ruivo cortou-a, levantando-se da poltrona; Harry puxou o livro de Hermione discretamente e atrás dele escondeu o rosto. – Está dizendo que Annie estava desesperada? Como assim? Quer dizer que ela só quis sair comigo porque não conseguia arrumar nenhum outro, não é?

Hermione gaguejou. Do que seria capaz um desabafo mal formulado, perguntou-se.

-Eu... Não estou falando disso. – ela tentou consertar. – Estou me explodindo para que tipo de pessoa é essa Simmons. Mas você poderia muito bem arrumar uma hora vaga para...

Rony deu dois passos para frente, de cenho franzido.

-Você não acha que uma garota possa gostar de mim, não é? – disse ele acusadoramente. – Acha que só porque eu não sou tão inteligente quanto você, ninguém nunca se interessaria por mim. Confesse.









Mas Hermione, naquela noite, apenas bufara, tomara o livro da mão de Harry e subira as escadas para o seu dormitório batendo o pé. Ela também subestimava Rony, e não queria admitir.

Mas sobre ter ciúmes... Aquilo fora simplesmente ridículo! Claro que ela não estava enciumada. E afinal de contas, como se Rony pudesse reclamar de qualquer coisa! A cada carta de Vítor que chegava, era invariavelmente o mesmo drama. A mesma cena; Rony cuspia o que quer que estivesse mastigando, Harry ria, e Hermione esperava que o ruivo esclarecesse o susto, embora sempre soubesse a resposta.

E vejam bem que ela nem mesmo chegou a beijar Vítor. Não que Rony ou Harry soubessem disso. De acordo com as observações de Hermione, o ruivo não perguntara porque simplesmente mal conseguia falar com a mandíbula trancada de raiva, e Harry... Bem, ele tinha seus próprios problemas, sempre teve.

Certo, nem todos os sete anos de Hogwarts de Hermione haviam passado em brigas e desentendimentos com Rony. Havia acontecido muito mais, claro – quantas vezes eles não tinham escapado de grandes apuros, juntos! E ele, inclusive, sabia ser legal de vez em quando. Só acabou sendo um problema para Hermione quando Rony resolveu ser legal justamente na véspera da prova de Poções do sétimo ano – depois de tanto esforço para entrar para a classe avançada, ele conseguia criar um novo método de torná-la incapaz de se concentrar nos ingredientes e no sentido horário de mexer a mistura.

-Eu preciso mesmo rever isso, Rony. – reclamou ela, quando ele estava extremamente ativo e querendo jogar Snap Explosivo – Inclusive, você precisa muito mais do que eu. – acrescentou, com um olhar severo.


-Se eu olhar mais uma vez para essas drogas de livros vou pirar – replicou Rony, sentado na poltrona diante dela. – E aposto como você também não agüenta mais isso.

Hermione tirou os olhos do texto sobre os usos da essência de murtisco e encarou-o.

-O que deu em você?

-Eu não sei – ele respondeu, com um sorriso. Hermione desviou o olhar depressa. – Mas não vou deixar você estudar hoje, nem que eu tenha que enfeitiçar o seu livro.

-Ahhh, você não faria isso – Hermione falou, com um olhar estreito. – porque eu seria obrigada a te perseguir por todo o castelo até me vingar satisfatoriamente.

Os olhos azuis de Rony faiscaram perigosamente.

-Vai querer arriscar? Você é a Monitora Chefe, não eu. – ameaçou.


A garota virou os olhos; certo, ela já tinha revisado aquilo mesmo... Deveria haver um motivo razoável para que ele estivesse tão inquieto.

-Certo. – rendeu-se, fechando o livro e empurrando para o lado suas anotações. – Qual é a sua idéia de passatempo?

Rony puxou Hermione pela mão e ela ficou de pé.

-Tenho algo que eu quero te mostrar. – disse ele.

Hermione olhou, muito acanhada, para a mão que segurava a sua. O que diabos ele estava fazendo?

-Rony, o que...?

-Espere aqui – cortou ele, correndo até sua mochila, que estava jogada perto da lareira. Hermione observou-o revirar tudo ansiosamente, ainda com aquele brilho animado – e tão raro – no olhar. Afinal, ele pegou qualquer coisa e a escondeu atrás das costas. Quando voltou até onde ela estava, mudara completamente.

Estava acanhado e evitava o olhar de Hermione, cada vez mais confusa – e intrigada.

-Então? – exigiu ela.

Lentamente, com a maior lentidão que ele poderia demonstrar, Rony trouxe a mão detrás das costas. E ali ele segurava uma flor - mas não era qualquer flor... Tratava-se de uma yara, uma flor raríssima de pétalas azuis, em nuances delicados, longa, fina, com as pétalas abertas, exibindo contornos arroxeados...

Hermione abriu a boca, pasma, e observou a flor nas mãos do ruivo.

-Onde... – ela gaguejou. – Onde você achou isso?

Não notou as orelhas que queimavam nem o alívio dele em ver a satisfação estampada no rosto dela. Para sorte de Rony, que, muito mais tranqüilo, murmurou:

-Eu achei depois do treino de quadribol... – confessou. – Você leu sobre essa flor, certo, e eu pensei que gostaria se eu te trouxesse... Além do mais, eu... Se não me engano, você... Você disse que servem para fazer poções de cura, eu acho... E é bonita, pelo menos eu acho, quando murchar você poderá usar para...

Mas o que disse depois Hermione não conseguiu entender, pois mudara o foco da atenção para ele e isso o fizera gaguejar até desistir. A mão permaneceu estendida no ar com o presente.

-Rony, isso foi tão... – ela começou, sem saber que palavra usar. Aliás, estava ocupada tentando ler a expressão insegura dele. – Foi fantástico... – tentou, com os olhos brilhantes e admirados.

Pegou então a yara das mãos dele, notando sem conter um sorriso que ele estava um pouquinho trêmulo. Os dedos se tocaram e então Hermione observou a flor em suas mãos, admirada, surpresa... e derretida, claro.

Se Hermione pudesse escolher um momento para ter em mente quando estivesse prestes a morrer, seria aquele. Ele tinha sido tão carinhoso, tão sincero... Ela nunca mais encontrara em vida alguém que agisse daquele modo com ela.







Desde quando Rony estaria apaixonado por ela? Ele mesmo não sabia. E desejava por tudo esquecer. Ele sempre fora uma sombra. Não importava que se ele fora fantástico. Continuava sendo uma sombra que Hermione não queria como companhia. Se quisesse, nunca teria dito aquela palavra.

Ela certa vez se esforçara tanto para fazê-lo pensar que ele era uma ótima pessoa, que não importava como vivera até aquele dia, como agira no passado, que naquele instante ele era maravilhoso, mas ele sabia. Ele sabia que Krum era mais famoso, sabia que Harry era mais corajoso... Sabia que ele era apenas o cara ali do lado. Que não era digno da aluna mais brilhante que já pisou em Hogwarts.

Se era para ser jogado e esquecido, se aquilo era uma despedida eterna, por que antes ela agira como se não fosse? Por que o tratara como se ele fosse gente?

Depois da guerra Hermione quase morrera; amaldiçoada, passou noites e noites ali, naquele leito da escola que já concluíra, às vezes se debatendo, às vezes adormecida, mas nunca desperta, nunca viva... Harry tentara levar Rony dali apenas uma vez, quando ele próprio se recuperara. Vá pra casa, Rony, durma um pouco, ela vai melhorar... Não, Harry, obrigado, eu não vou conseguir dormir, ele respondera de cabeça baixa.

Sempre o bom guardião, sempre ao lado dela, como um servo lambe botas, agindo como um criado que serve sua princesa... Se essa era a verdade, por que ela o tratara como ele fosse tão nobre quanto ela?

Quando ela despertou, ele estava ali; acompanhou cada piscadela daqueles olhos castanhos, que se abriram e o fitaram, para depois segurarem sua mão, que apertara a dela nas últimas três noites.

Rony voltou para buscá-la horas depois, quando uma exausta Madame Pomfrey a liberou; e então, de repente, ela estava abraçando-o, com força, com apego.

-Hermione... - ele se deixou murmurar desajeitado, passando uma mão pelo cabelo fofo dela. - Você está bem? - inquiriu, quando ela o encarou.

Ela assentiu, sorrindo.

-É tão bom ver você. - murmurou ela, com uma expressão iluminada. - Senti sua falta.

-Eu estive o tempo todo aqui. - ele respondeu, abaixando-se inconscientemente. Fitou os olhos alegres e felizes que estavam nele, e se permitiu chegar perto, mais perto...

O toque suave dos lábios de Hermione o mergulhou em algo indescritível. Quando ela o abraçou, sentiu-se leve. E pensar que deixara tanto tempo passar para se permitir àquilo...









Momentos de esquecimento, ele achava. Se tivesse se lembrado, nunca teria se permitido tal liberdade. Uma semana depois, na qual eles se encontraram poucas vezes, já que ele tivera que cobrir o tempo que perdera no Ministério, Harry veio lhe dizer que haviam chamado Mione para um conselho de bruxos na Rússia. Ela se tornara uma excelente diplomata e especialista em História da Magia, além de ter participado de movimentos um pouco mais importantes do que o F.A.L.E., protegendo animais mágicos que realmente precisavam. Agora, eles queriam a opinião de Hermione sobre os Yets, gigantes que habitavam a Sibéria e haviam desenvolvido resistência ao gelo, tornando parte de seus corpos feito dele mesmo. Quanto tempo duraria, não se sabia.

O mínimo que um sentido Rony podia fazer era ir com ela até a estação de Pó de Flu.

-Você não sabe quanto tempo isso vai levar? - ele perguntou, hesitante, com Harry a seu lado.

-Não, eu não sei.. - ela disse, atarefada com malas e com um cachecol vermelho no pescoço - presente da Sra. Weasley. - Mas acredito que não chegue a um mês... Seria demais...

-Ei, Mione, quer que eu leve isso até ali pra você? - ofereceu-se, Harry, vendo um olhar tímido no melhor amigo.

Ela assentiu nervosamente, com um olhar de relance para Rony.

-Erhm... - ele começou, sem saber o que dizer. - Pois é, Hermione, você é importante.

O rosto dela pareceu relaxar com o comentário.

-Não é surpreendente? - disse ela, falando com mais fluência. - Quero dizer, eu nunca pensei que fossem dar tanta importância para mim, afinal eu sou muito jovem...

-Você vai se dar bem - disse ele. Hermione sorriu.

-Obrigada. - replicou ela, suspirando. - Bem, Rony, eu tenho que ir...

Ficaram em silêncio por um momento. Rony recuou um passo.

-É, acho que isso é uma despedida - falou. - Divirta-se, Mione.

Ela sorriu com timidez.

-Adeus, Rony.

Enquanto ela lhe dava as costas e rumava para as lareiras, o ruivo ficou ali, parado, inerte, imóvel.

Adeus?



*-*-*-*-*-*-*



N/A – Finalmente... Certo, admitam, vocês pensaram que eu nunca conseguiria escrever uma RH. Essa é minha primeira tentativa séria – uma shortfic pra concurso, que nem o terceiro lugar levou, não conta. Espero que gostem, este primeiro capítulo serviu mais como um prólogo para um maior entendimento do resto da fic. Tentarei fazer o meu máximo com esta fic, espero mesmo que se divirtam. Ah, como curiosidade... Eu me inspirei na música “Creep”, do Radiohead, para escrever esta fic. Vocês conhecem? Talvez futuramente eu integre a música com a história. Por enquanto... Apenas esperanças!

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