Embarque solitário



 



Ao preparar-se para levar a filha até o Expresso de Hogwarts, Hermione lembra da viagem solitária que fez em sua volta à escola, após o fim da Segunda Guerra Bruxa. Pela primeira vez, ela embarcaria sem a companhia de Harry Potter e Ronald Weasley.



 



 



Hermione lembrou-se da última vez que estivera naquela plataforma. Embarcaria de volta a Hogwarts depois de ficar um ano sem estudar. A pausa tinha sido por um bom propósito. Participara da missão em busca das horcruxes ao lado de Ron e Harry. Tanta coisa havia mudado naquele período. Pela primeira vez viajaria sem os dois para a escola de bruxaria.



Tinha consciência de que os sofrimentos e dificuldades vivenciados na missão a fizeram amadurecer. Restavam também doces lembranças dos longos e demorados encontros com um par de olhos azuis. Os dois haviam se aproximado muito durante aquela jornada. Até mesmo a fuga de Ron do acampamento contribuira para isso.



Ainda não havia superado algumas feridas deixadas pela Segunda Guerra Bruxa, mas, tinha que reconhecer, no momento experimentava também paz e felicidade. E o principal responsável por isso era Ronald Billius Wealsey. O ruivo, que tanto sofrimento já lhe causara, agora era seu namorado e a enchia de amor e palavras carinhosas.



Ele insistia em levá-la até a plataforma, mas Hermione não queria a companhia do ruivo. “Meus pais vão comigo até lá, como sempre fizeram. Vou encontrar com Gina e Luna no embarque, você não precisa ir”, ela argumentava.



— Eu faço questão. E não adianta tentar me convencer do contrário. Agora sou o seu namorado e quero ficar com você o máximo possível – ele era teimoso.



— Ron, não quero que você vá. Não insista, por favor. Eu nunca embarquei naquele trem sem você e Harry. Se for até lá, vai tornar tudo ainda mais difícil - ela pediu quase chorando.



— Por que não posso ir? Harry vai levar Gina e... – ele tentou argumentar, mas foi cortado pela garota.



— Harry não é meu namorado! – ela elevou a voz e, diante do ar de perplexidade do ruivo, continuou: - Sentirei falta dele, que é meu melhor amigo. Mas vou superar.



— Ah! Quer dizer que vai sentir falta dele, mas de mim não! – ele cruzou os braços.



— Deixa de ser lesado, Ron! Eu disse que vou superar a falta dele. Mas não a sua... – a garota não costumava se abrir tanto assim, mas sentia o coração partido ao pensar que ficaria distante do namorado.



— Repete isso? – ele abriu um sorriso triunfante. – Quer dizer que você não consegue ficar longe desse lindo bruxo aqui?



— Claro que consigo ficar longe de você! Eu amo estudar. Não tem nada que amo mais na minha vida do que estudar. E Hogwarts é minha casa, lá eu me sinto muito bem. Não tenho porque sentir falta de um bruxo preguiçoso, rabugento, implicante...



— E lindo! Fala a verdade. Você vai morrer de saudades de mim – ele deu um sorriso torto e olhou de um jeito sedutor para a garota antes de enlaçá-la pela cintura.



— Não, não vou morrer de saudades não – Hermione, que detestava quando Ron ficava assim convencido, se desvencilhou dos braços do rapaz. – Nem você vai morrer com essa distância. Aliás, foi uma escolha sua não voltar para Hogwarts.



— Já aprendi tudo que precisava. Você também. Só devia voltar lá para dar aulas – Ron se impacientava sempre que ela falava daquele assunto.



— Você ainda tem muito que aprender. E sabe disso. Mas sempre foi relapso nos estudos – ela o encarou de um jeito sério.



— Hei. Qual é, Mione? Achei que receberia muitos beijos e abraços no último dia que ficamos juntos antes de você embarcar para Hogwarts. Vai ficar só me criticando? – ele bufou.



— Quem começou com isso foi você! – ela impacientou-se ainda mais.



— Eu?! Mas só falei que queria ir com você até a Plataforma 9 ¾ amanhã! – o olhar dele denunciava que não era fácil entender Hermione.



— Mas já disse que não quero a sua companhia – foi a vez dela bufar.



— Não quer? Tudo bem. Eu não vou. Mas desde que me apresente um motivo convincente para dispensar a minha companhia – ele a olhou de um jeito inquisidor.



— Eu tenho um motivo convincente. Mas só vou dizer qual é se você prometer que não vai ficar se vangloriando por isso – a garota o encarou desafiante.



— Está prometido. Agora me diz logo o que é - Ron não conseguia conter a curiosidade.



— Acho que vou chorar muito quando o trem partir e você ficar na plataforma – ela olhou para o namorado de um jeito hesitante.



— Eu sabia! – ele levantou o braço direito num gesto de triunfo. – Você me ama. Não consegue ficar longe de mim. Vai morrer de saudade.



— Ron, você tinha prometido que não faria isso! – Hermione se queixou.



— Desculpe. Foi mais forte que eu – o ruivo abriu um sorriso antes de puxar a garota pela cintura para um abraço apertado.



No dia seguinte, antes das 9 horas, Ron já estava sentado na sala dos Granger aguardando Hermione. Não foi fácil levar o malão dela até o carro sem usar magia. Ele e a namorada ocuparam o banco de trás do veículo, que era conduzido pelo pai da garota.



O rapaz sentou bem próximo de Hermione e pensava em trocar alguns beijos com ela durante a viagem até a Estação King's Cross. Mas bastava encostar os seus lábios aos da namorada que o Sr. Granger os interrompia, seja com um pigarro, uma tosse mais forte ou puxando algum assunto.



— Por que você não vai voltar para concluir o curso, Ronald? Achei que os diplomas também eram importantes no mundo bruxo - o pai de Hermione questionou.



— Meu irmão Jorge tem um comércio, Sr. Granger. Com a morte do Fred, ficou sozinho para tocar o negócio. Estou ajudando ele – Ron já repetira aquela fala algumas vezes.



— Pai, eu gosto muito de estudar, como você já sabe. Mas no mundo bruxo os diplomas valem menos que o conhecimento – o ruivo jamais imaginara que ela seria capaz de reconhecer isso e a olhava com estranhamento.



— Hermione já me explicou sobre isso, querido. Os bruxos não conseguem trabalho por conta dos diplomas, mas sim do domínio da magia que possuem – foi a vez da mãe da garota sair em defesa de Ron.



Na Plataforma 9 ¾, enquanto aguardavam a chegada do trem, Ron e Hermione conseguiram trocar alguns beijos. Todos muito mais rápidos do que desejavam, afinal, o Sr. Granger não parava de observar os dois.



— Mione? Seu pai também é bruxo? No carro, toda vez que eu tentava te beijar, ele nos interrompia. Era alguma magia? – o ruivo estava intrigado.



— Ele não precisa de magia. Pelo retrovisor, aquele espelhinho que tem no carro, consegue observar tudo que acontece não apenas no trânsito atrás do veículo, mas também no banco do carona - a garota explicou.



Chegou a hora do embarque. Um beijo tímido selou a despedida dos dois namorados. “Ron, você vai responder as minhas cartas, não vai?”, ela perguntou enquanto embarcava. “Vou sim. Posso demorar um pouquinho, mas vou responder”, ele garantiu.



Ao entrar no trem, Hermione ocupou um banco próximo à janela, dividindo o vagão com Gina. A ruiva, que se despedia dos pais e de Harry, não reparou muito na amiga e no irmão. Hermione, por sua vez, não conseguia desprender seus olhos dos orbes azuis de Ron.



O bruxo esboçou um sorriso triste. Colou as mãos no vidro na tentativa inútil de tocar na garota, que posicionou suas mãos do outro lado. O calor que sentiam quando seus dedos se enlaçavam foi substituído pelo frio daquela superfície lisa. Como ela sentiria saudade do ruivo! Dos beijos apaixonados, dos abraços apertados e até mesmo daquele jeito implicante dele.



Hermione nem tentou conter as lágrimas mornas que começaram a molhar seu rosto. Era tão sofrido voltar para Hogwarts sem a companhia de Ron. Com surpresa, observou que ele também chorava. Compulsivamente. Aquilo cortou ainda mais o coração da garota. Os dois soluçavam quando o trem em movimento foi os distanciando até que não se alcançarem mais com a visão.



Toda a dor daquela separação fez a menina ter um lampejo. Já pertenciam um ao outro. Não seria a distância física que os separaria. Ron também estava decidido. Trabalharia como nunca nas Gemialidades Wesley. Não era ambicioso, mas queria juntar uns bons galeões para poder ter a sua casa. Já encontrara a garota com quem queria formar uma família.



 



 



* * * * * * * * * *



 



Para quem ama Romione, esse flashback não podia faltar, não é mesmo?  Gostaria de saber o que acharam. Até o próximo e último capítulo!



 


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