Capitulo I —



Capitulo I - A volta aos Dursley 



        



         Harry Potter suspirou pesadamente quando finalmente desistiu de procurar um compartimento vazio, coisa que parecia inexistente naquela viagem de trem. Apoiou a pesada mala no chão da locomotiva, não aguentando mais segurar seu peso. Deu mais uma espiada no corredor, mesmo tendo passado por ali umas duas vezes.



        Jurando para si mesmo que nunca mais deixaria a arrumação da mala para última hora, Harry olhou melancolicamente para o chão, lugar onde estava pensando em acomodar-se. Entretanto o barulho de uma porta de compartimento abrindo-se fez-se presente atrás dele, e Harry virou-se apenas para ver o rosto aborrecido e bronzeado de Blaise Zabini olhando para os dois lados do corredor.



        Seu olhar pousou em Harry e, depois de ver o emblema da Sonserina em suas vestes, substituiu a carranca por um sorriso que ele deveria pensar ser simpático.



       — Ah, então é você que está fazendo essa barulheira toda, Potter. - acusou Zabini, sem dar nenhuma outra saudação.



       Harry, que tinha certeza de que não estava fazendo barulheira alguma, balançou a cabeça em concordância, achando melhor não discutir.



        — É, é. Desculpe se incomodei. - pediu ele cortês.



        — Não, não atrapalhou. - disse Zabini distraído, olhando para Harry como se o visse com uma luz totalmente nova. - Ei, Potter... Por que você não se senta com a gente? 



        Harry olhou surpreso para Zabini. Não tinha amigos em geral, mas Zabini e sua patota nunca haviam dado nenhum sinal de simpatia a Harry, apesar de cursarem o mesmo ano e estarem na mesma Casa. 



          — Ahn... Bem... - disse Harry, enquanto analisava o convite. - Se não for incomodar...



          — Ah, ótimo! Entre! - exclamou Zabini antes que Harry pudesse terminar.



         Ele empurrou Harry para dentro de sua cabine, dando ao garoto tempo suficiente para apenas agarrar sua mala e puxa-lá junto consigo. A cabine estava cheia; Draco Malfoy estava sentado de um dos lados, com sua adoradora, Pansy Parkison, agarrada ao seu braço. Os grandalhões, Crabbe e Goyle, ocupavam as extremidades do outro banco, e Harry foi espremido no meio deles, enquanto Zabini acomodava-se do assento vago ao lado de Malfoy.



         Nenhum dos outros ocupantes da cabine fez nenhum comentário sobre a chegada inesperada de Harry, nem mesmo quando ele murmurou um feitiço de levitação em sua mala, que flutuou graçiosamente até o bagageiro. Levou vários minutos até que alguém dissesse alguma coisa.



        — Você é Harry Potter, não é mesmo? - indagou Malfoy, com sua voz arrastada.



        — Sim, sou. - confirmou Harry. - E você é Draco Malfoy.                    



        — É. Nós competimos para a mesma vaga de apanhador no segundo ano, lembra? E você perdeu. - recordou Malfoy.



        Harry, que ainda sentia o sangue ferver com a lembrança desse incidente, fez o seu melhor para abrir um sorriso envergonhado, embora tivesse fortes suspeitas que ele saira mais como uma careta. Era verdade, ele e Malfoy haviam competido para a posição de apanhador no time da Sonserina no segundo ano e, mesmo que Harry fora quem saíra-se melhor nos testes, Malfoy conseguira a vaga de apanhador, graças a uma pequena ajuda do Sr. Lúcio Malfoy, que subornara toda a equipe. 



        Outros vários minutos de silêncio seguiram-se, e Harry não estava nem um pouco interessado em quebrá-lo, mas, aparentemente, Malfoy tinha outros planos.



         — E então, Potter. O que acha sobre tudo isso? - questionou o menino loiro, provavelmente fazendo uma tentativa de parecer displicente.  



        E então, finalmente Harry descobriu a verdadeira razão de ter sido convidado para sentar-se com a turma mais popular e ao mesmo tempo mais desprezível da Sonserina. Sentiu-se muito tolo por não ter feito essa suposição antes. Estava claro que Zabini só o convidará para juntar-se a ele e seus amigos para saber a opinião e posição de Harry em relação aos últimos acontecimentos. 



         — Bem, eu suponho que seja tudo verdade. - respondeu Harry, entrando no jogo de "fingir displicência". - Afinal, quem mais teria matado Diggory? A única opção seria Longbotton, e o idiota não faria nem mesmo um feitiço de levitação decente se não fosse aquela sabe-tudo da Granger.



           Malfoy encarou Harry com os olhos brilhando de algo que o outro não podia distinguir. Harry imaginou que fora provavelmente o pai de Malfoy que o mandara ter essa conversa, não só com ele, mas com todos os seus colegas da Sonserina. Afinal, desde que Neville Longbotton, o menino-que-sobreviveu, havia voltado, machucado e ensanguentado, da Terceira Tarefa do Torneio Tribuxo, carregando o corpo morto do lufano, Cedrico Diggory, e alegando que o Lorde das Trevas havia retornado, os filhos de Comensais da Morte começaram a receber cada vez mais corujas de casa, e essas cartas tornavam-se a cada dia mais confidenciais. 



            — Bem, e como você se sente sabendo que o Lorde das Trevas está de volta? - perguntou Zabini, com repentina curiosidade. - Eu soube que ele assassinou seus pais.



            — Na verdade, meus pais foram assassinados por um Comensal da Morte, que atualmente já está morto. - corrigiu Harry. - E, respondendo à sua pergunta, ainda não sei como eu me sinto, mas não estou muito preocupado com isso. Estamos apenas acabando nosso quarto ano em Hogwarts, terei muito tempo para decidir de que lado vou lutar.



           Suas palavras foram recebidas por mais uma rodada de silêncio. Malfoy não tirava os olhos dele, e Harry podia sentir os bafejos de Crabbe e Goyle de ambos os seus lados; sentia como se estivesse sentado entre um par de búfalos nervosos.



         — Muito bem, então, Potter. - pronunciou-se Malfoy finalmente. - Só espero que você escolha o lado certo. O lado que você sabe que será o ganhador. 



        — E, se quiser um conselho - acrescentou Zabini pressuroso. -, é melhor manter os olhos abertos. Seus pais eram grifinórios, aurores, e eu ouvi falar que o Senhor das Trevas em pessoa os detestava. Isso pode significar um grande problema para você.



         Harry assentiu; sabia disso a séculos.



         — Acabou, Draco? - indagou Parkison, impaciente. - Não aguento mais essas suas pequenas reuniões. Podemos, por favor, fazer outra coisa agora?



          Malfoy olhou friamente para ela, mas resmungou em resposta um "Vamos, vamos", e assim os dois deixaram o compartimento, Parkison sorrindo satisfeita, e Malfoy com o rosto enfeitado com uma profunda carranca. 



           — Bem, se o Draco vai... - suspirou Zabini, levantando-se também. Crabbe e Goyle imitaram seu gesto simultaneamente, e os três rapazes dirigiram-se até a cabine e, antes de sair, Zabini disse, com um ligeiro aceno da cabeça: - Nós nos vemos por aí, Potter.



            Harry devolveu o aceno, e observou como a porta bateu, e Zabini, Crabbe e Goyle desapareceram no corredor, deixando-o sozinho com seus pensamentos. 



           A viagem durou mais umas boas horas e, mesmo de sua cabine, Harry pode ouvir os gritos de feitiços que vinham do corredor, e não precisava ser nenhum gênio para saber que isso era Malfoy, juntamente com seus dois asseclas, arrumando briga com o Trio Maravilha de Dumbledore: Hermione Sabe-Tudo Granger, Neville Cicatriz Longbotton, e Rony Estupido Weasley. 



            Quando o Expresso de Hogwarts parou na estação King's Cross, Harry já estava na porta do trem, não querendo encontrar seus companheiros de Casa, que certamente voltariam para buscar as bagagens esquecidas no compartimento que dividiram por alguns minutos. Desceu e atravessou a barreira mágica que levava ao mundo dos trouxas, não demorando quase nada para achar os Dursley. 



              Tio Valter com sua pança enorme e seu bigode ridiculamente peludo, e tia Petunia, com seu pescoço de girafa e rosto equino, eram reconhecíveis até mesmo na mais lotada das multidões. 



               Harry deu um profundo suspiro. Aquele iria ser um longo verão.



 


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