Capítulo I- O feitiço



Capitulo 1- O feitiço 



      



      Na Escola de Magia e Bruxaria de Hogwarts, Hermione Granger corria rápida e freneticamente. Sua respiração entrecortada e seus batimentos descompassados, além da confusão no seu cabelo castanho cheio, mostravam o quanto ela não estava acostumada a corridas daquele tipo.



        Hermione derrapou em frente à um comprido corredor, que estava quase completamente vazio. Entretanto, no final do corredor, sentado molemente em um banco, estava a figura ruiva de Ronald Weasley. Ele estava olhando fixamente para a parede em frente ao banco, e parecia alheio a tudo ao seu redor. Rony tinha um grande curativo em cima da sobrancelha esquerda, que estava manchado de sangue, mas ele não parecia muito preocupado com aquilo. Ela continuou andando rapidamente até o Weasley, e desatou a perguntar, assim que chegou em uma distância que sabia que Rony a ouviria:



      -O que aconteceu? Vocês estão bem? Quando foi que aconteceu?



     Rony desgrudou os olhos da parede com aparente dificuldade, e virou-se desolado para ela.



     Vendo seu olhar ferido, o coração de Hermione amoleceu. Ela sentou-se calmamente ao lado dele e segurou sua mão com carinho. Ele virou os olhos para ela, com surpresa.



       -Ron, o que aconteceu?-perguntou Hermione, gentilmente



       -Eu não sei.-sussurrou Rony com a voz trêmula.-Eu não vi.



       Hermione apertou um pouco mais a mão de Rony, tentando se obrigar a ficar calma. Naquele dia, houve um passeio a Hogsmead, mas Hermione ficara na biblioteca estudando para as provas, embora Rony insistisse que não havia necessidade de estudar tanto, sendo que faltava meses para os exames. Ele e Harry seguiram para Hogsmead, mas horas depois, um esbaforido Neville aparecera na porta da biblioteca, dizendo inteligivelmente que algo havia acontecido com Harry e Rony.



       Hermione partira em disparada para a enfermaria, deixando um cansado Neville para trás, mas ela não se importava. Seus dois melhores amigos haviam sido atacados, ou coisa pior, que importava as regras de educação naquele momento?



         -Rony?-chamou Hermione, de forma calma e paciente. Não sabia o que tinha acontecido, mas para Rony estar assim, deveria ter sido algo horrível.-Rony, você vai ter que me contar o que aconteceu.



         Rony hesitou, então olhou para ela, seu rosto mais pálido do que Hermione jamais o vira, exceto, talvez, a vez em que ele quebrara a perna no terceiro ano.



         O garoto Weasley olhou tristemente para a porta da enfermaria, antes de suspirar e começar a falar, parecendo estar dividido entre a relutância e o alívio de contar aquilo para alguém:



         -Eu e Harry estávamos voltando da Dedos de Mel. Estava tudo normal, estávamos conversando, só que um feitiço me atingiu nas costas.



         Hermione levou a mão a boca.



         -Foi assim que você se cortou?-murmurou ela, se aproximando para analisar o machucado.



       -Foi.-respondeu Rony.-Cai de frente. Eu não estava inconsciente, só petrificado, ou algo do tipo. Ouvi o Harry chamar meu nome, e começar a duelar com quem quer que estivesse lá. A rua estava vazia, quase ninguém veio para esse passeio, e nós tínhamos ido por uma rua atras da loja, então...



       Rony molhou os lábios, recuperando fôlego para continuar.



      -Eles estavam em vantagem, pelo menos uns três pelo o que eu ouvi. O Harry lutou, é claro, mas acho que usaram a Cruciatos nele, porque teve uma hora que ele começou a gritar, e eu não...-a voz de Rony falhou, mas ele obrigou-se a prosseguir.-Depois de um tempo, acho que o feitiço que eles lançaram em mim perdeu o efeito, porque comecei a poder me mexer, não tinha ninguém lá, só o Harry... ele estava desacordado, e eu achei que não era nada demais, mas quando eu fui chamar ele... ele não s-se mexeu, e também não estava respirando.



       Pareceu um esforço enorme para Rony dizer a última parte, e Hermione engasgou de horror.



      -Mas o coração dele ainda estava batendo.-continuou Rony, tremendo.-E-eu trouxe ele até a escola, já faz algum tempo que Madame Pomfrei levou ele. 



      Os dois ficaram em silêncio por um momento, ambos imaginando o que havia acontecido com seu melhor amigo.



      -Você acha que foram Comensais da Morte?-perguntou Hermione em um sussurro, algum tempo depois.



      Rony sacudiu a cabeça.



      -Você-Sabe-Quem não iria pessoalmente a Hogsmead.-disse ele, parecendo nervoso.-E se fossem Comensais teriam levado o Harry...



       Sua voz se quebrou, e ele voltou ao seu gesto anterior de encarar a parede. Depois de alguns segundos observando o nada, Hermione juntou-se a ele. O silêncio era intenso, e prolongou-se por vários minutos, que pareceram anos para Hermione.



       -Não foi culpa sua.-disse ela, por fim. Rony encarou-a.-Harry não  vai culpar você.



       Rony riu sem humor.



       -Quando o Harry já culpou alguém?-perguntou ele retoricamente, voltando a encarar a parede.



       Hermione mordeu os lábios, nervosamente e, depois de um vacilo, atirou-se nos barços de Rony.



      -H-Hermione!-exclamou Rony, parecendo desconfortavelmente surpreso.



      Hermione soltou um soluço baixinho, o que fez Rony passa os braços ao redor dela vagarosamente, como se temesse que ela revidasse e lhe desse um tapa.



      -Vai ficar tudo bem, Hermione.-disse Rony, com uma voz tranquilizadora.-É o Harry, vai ficar bem.



      Ele parecia estar querendo tranquilizar a si mesmo. Com o tempo, Hermione parou de chorar, mas os dois ficaram lá, abraçados, temendo pela vida de Harry, encontrado o consolo nos braços um do outro.



        O tempo pareceu desacelerar, sendo que, quando a porta da enfermaria abriu-se, revelando a imagem de uma cansada Madame Pomfrei, Hermione sentiu como se ela estivesse acampada ali naquele banquinho a dias. 



       Rony e Hermione desgrudaram-se do abraço, e sua preocupação com Harry era tão grande, que os dois esqueceram-se de ficar no mínimo encabulados por serem pegos abraçado-se.



       -Como ele está?-perguntou Hermione, com a voz rouca.



       Madame Pomfrei sorriu com fadiga, e respondeu:



       -Ele está bem. Está descansando agora, mas vocês podem ir vê-lo.



       Rony e Hermione pularam para fora do banco e adiantaram-se rapidamente para dentro da enfermaria, onde o único ocupante era Harry, que estava deitado aconchegado por cima dos lençóis de linho da primeira cama. Nenhum dos dois se surpreendeu ao ver que Harry não estava dormindo, afinal o amigo nunca seguia as malditas regras de descanso.



       -Hey.-cumprimentou Harry, suavemente. Ele estava um pouco pálido e suado, mas parecia estar bem.



       -Harry!-guinchou Hermione precipitando-se para o amigo e dando um grande abraço nele.



        -E aí, cara?-disse Rony, sentando no pé da cama de Harry, enquanto Hermione acomodava-se no banquinho ao lado desta.-Está bem?



       -Estou ótimo.-respondeu Harry sorrindo.-Poderia sair daqui agora, mas Madame Pomfrei quer que eu passe a noite.-concluiu ele revirando os olhos.



      -Harry!-exclamou Hermione, de modo repreendedor.-Você foi atingido por um feitiço grave, e lutou contra três bruxos adultos sozinho, e ainda quer sair no mesmo dia?



       Rony remexeu-se desconfortável no lugar, e perguntou, tentado parecer natural:



       -Você viu quem eram os caras, Harry?



      O menino negou com a cabeça, afastando distraidamente a franja negra de seus olhos verdes, e deixando a mostra a cicatriz em forma de raio.



       -Nem ideia.-respondeu Harry.-Estavam usando máscaras.



       -Bem, e você sabe qual feitiço que te acertou?-perguntou Hermione, ansiosamente.



       -Não.-negou Harry.-Madame Pomfrei está quase me colocando de quarentena, tentando descobrir o feitiço, mas já que ela não achou nenhum vestígio de magia, então ela vai ter que me liberar amanhã.



       -Nem sei para que você está tão ansioso para ser liberado.-comentou Rony.-Amanhã temos aula com o Snape. Ele anda mais parecido do que nunca com um morcego desde que a Grifinória ganhou da Sonserina no último jogo.



       Hermione deu um peteleco em Rony, mas Harry riu, ao mesmo  tempo em que a porta da enfermaria era escancarada e preocupados Fred, Jorge e Gina Weasley corriam até os três amigos.



       -Acabamos de saber o que houve.-ofegou Fred, se apoiando na cabeceira da cama de Harry para tomar ar.-Neville acabou de nos contar.



       -Como vocês estão?-perguntou Gina, os olhos carregados de preocupação.



       -Ótimos.-responderam os dois garotos juntos.



       -Ah, se vocês estão ótimos não devíamos ter vindo correndo. Neville fez parecer como se vocês estivessem quase morrendo!-disse Jorge, aborrecido.



       -O Harry quase estava.-disse Hermione, sua voz pesada.



       Gina, Fred e Jorge arregalaram os olhos na direção de Harry, que mudou de posição, parecendo envergonhado.



       -Que?!-exclamaram os três Weasley recém-chegados.



       -Ele não estava respirado.-contou Rony, sentindo um ligeiro calafrio.



       -Deus, Harry você está bem?-sussurrou Gina, preocupadíssima aproximando-se da cama de Harry, e pondo a mão em sua testa. Depois, parecendo perceber o que estava fazendo, Gina pigarreou e se afastou concluindo:-É! Não está com febre.



        Harry corou e sorriu para Gina, que também estava de um tom forte de vermelho. Fred e Jorge encararam os dois desconfiados, mas Rony mal notou o que acontecia. Hermione sorriu de canto, sendo a única que sabia do namoro secreto dos dois, que ainda estavam esperando para contar a alguém sobre o pequeno envolvimento romântico.



        -Mas o que é que vocês dois estão fazendo aqui?-perguntou Hermione, olhando para Fred e Jorge.



        Jorge sorriu levemente.



        -Ah, minha cara Hermione, estávamos fazendo negócios ultra secretos.-disse ele, misteriosamente



        -E potencialmente perigosos.-acrescentou Fred.



        -E potencialmente perigosos.-concordou Jorge com o irmão.



        Hermione apertou os olhos na direção dos dois, mas não disse mais nada.



       Gina, Fred e Jorge sentaram-se, e logo os seis começaram uma conversa. Cerca de uma hora depois, os gêmeos despediram-se, dizendo que tinha assuntos importantíssimos a tratar com Lino Jordan antes de partirem, e um par de horas mais tarde, Rony, Gina e Hermione também deixaram a enfermaria.



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      Rony acordou no dia seguinte com pequenos raios de sol batendo em seu rosto, filtrados pelo grosso cortinado de sua cama de sua cama de dossel. Sonolento, Rony sentou-se na cama, e encarou a da frente, que estava vazia e intocada. Simas, já vestido, estava escorado no pilar da cama de Dino, que terminava de se arrumar. Neville por sua vez, parecia estar procurando sua lição de casa, que pelo visto havia perdido.



     Decidindo que encontraria Harry depois do café da manhã, Rony foi para o banheiro se vestir. 



     Meia hora depois, ele encontrou com Hermione e Gina conversavam aos sussurros nos puff's da Sala Comunal. Caminhou até elas, e as duas pararam de conversar instantaneamente assim que ele aproximou-se.



      -Bom dia, Ron!-disse Hermione em uma voz esganiçada.



      -Bom dia.-respondeu Ron, desconfiado.-Sobre o que vocês estavam falando?



      -Não é da sua conta.-disse Gina com aspereza, levantando-se.-Bom, é melhor eu ir indo se quero tomar café. Ainda não terminei meu trabalho de Feitiços, e eu pretendo passar nesse N.O.M.



      Dando um último aceno a Rony e Hermione, a Weasley caçula afastou-se e saiu pelo buraco de retrato.



      -Vamos?-convidou Hermione.



      Rony assentiu. Sua irmã e Hermione poderiam estar tramando alguma coisa, mas no momento, seu estômago estava implorando demais por comida, para que ele pudesse fazer um interrogatório á Hermione.



      Ao chegarem no Salão Principal, os dois surpreenderam-se ao ver Harry já lá sentado e servindo-se de torradas ao lado de Dino e Simas.



      -Oi. Bom dia.-disse Harry animado, ao notar a presença deles.



      -Bom dia.-disse Hermione, sentando-se junto aos outros. Alguns poderiam não saber, mas Rony tinha certeza que a amiga só sentara-se em frente à Harry em uma estratégia para analisar o amigo.



      Rony riu internamente. Hermione poderia ser mais protetora e controladora do que Madame Pomfrei quando queria.



      -A Gina já passou por aqui?-perguntou Rony colocando mingau de aveia em sua tijela.



      -Aham.-confirmou Harry, reforçando sua afirmação com desnecessários acenos da cabeça.-Acabou de sair.



      -Hermione e ela estão tramando alguma coisa.-contou Rony ao amigo, sem preocupar-se com o fato de Hermione estar sentada ao seu lado.



      -Mesmo?-sussurrou Harry arregalando os olhos, como se isso fosse a coisa mais suspeita do mundo.-Tramando o que?



      -Não estamos tramando nada, Harry.-Hermione disse, suave e desconfiadamente.-O que você achou que fosse?



       -Não sei.-Harry deu de ombros, olhado interessado para sua torrada.-Talvez uma festa de aniversário secreta.



       -Para quem?-indagou Rony, surpreso.



      Harry deu de ombros novamente, e começou a beber seu suco de abóbora, casualmente. Hermione encarava-o desconfiada.



      Algum tempo depois, os lotes habituais de corujas adentaram no Salão, e por um segundo Harry arregalou os olhos de surpresa, mas depois sacudiu a cabeça, parecendo um tanto confuso.



      -Algum problema, Harry?-questionou Hermione, que não tirava os olhos do amigo.



      Então Harry parecendo perceber naquele momento que Hermione e Rony observavam-no, sorriu descontraído para eles.



     -Nenhum.-respondeu ele.



     -Olhem aqui, gente.-disse Dino, com o jornal aberto. Na capa, era possível ver uma casa de campo trouxa, que expelia fumaça acinzentada, e parecia pegar fogo. Os que Ron supunha que chamavam-se "bombeleiros" trouxas, estavam em frente da casa, jorrando água de suas grandes mangueiras que ficavam ligadas ao caminhão.



       -"Ontem as sete e vinte da noite -Dino começou a citar, lendo a página do jornal.-, Comensais da Morte atacaram uma casa de campo trouxa, onde estavam presentes um casal com seus dois filhos (Michel O'Mail, 48, Susana O'Mail, 43, Meggie O'Mail, 15, Roland O'Mail, 9). Os seguidores de Aquele-Que-Não-Deve-Ser-Nomeado atearam fogo na casa, depois de arrombarem a porta e torturarem os trouxas por mais de uma hora... 



       -Seu nome é Dino, não é?-interrompeu Harry.



       Dino, Simas, Ron e Hermione olharam confusos para Harry.



       -Que pergunta é essa, Harry?-disse Dino olhando para o garoto em incredulidade divertida.-Você sabe que o meu nome é Dino: dividimos dormitório a seis anos!



       -Eu sei, desculpe.-pediu Harry, apressadamente.-É que me deu um branco.



       -Sei...-disse Hermione, suspeitada.



       -"Os quatro residentes não sofreram danos físicos graves, e estão se recuperando na ala de danos acusados por magia do hospital mágico St. Mungus.-continuou Dino.-Os atacantes não foram identificados, mas nossos repórteres do Profeta Diário, entrevistaram alguns bruxos abortados que moravam na região e viram tudo acontecer...



        -Meu primo tem um dinossauro chamado Dino.-disse Harry estupidamente.



        Os outros quatro voltaram a encara-lo, agora definitivamente assustados.



        -Que é que deu em você hoje, Harry?-indagou Simas.



        -Como assim?-retrucou Harry, olhando atônito para o colega de dormitório.-Eu só comentei que o meu primo tem um dinossauro chamado Dino. Bem, ele tinha pelo menos, porque ele o quebrou, sentando no Dino quando tinha nove anos. Aí a tia Petúnia disse que eu podia ficar com ele. Mas eu preferi chamar o dinossauro de Rex. 



        Harry concluiu a história de uma maneira mais estúpida do que quando a começara. Rony olhou o amigo com a mandíbula escancarada de incredulidade. Hermione parecia profundamente preocupada, Simas estava completamente sem reação, e Dino parecia não saber se ria ou não.



         -Que foi?-perguntou Harry, não parecendo entender a confusão dos quatro amigos



          -N-nada.-respondeu Simas, parando de encarar Harry e abrindo sua própria edição do Profeta Diário, de forma a esconder seu rosto.



          -Eu acho que vou... lá.-disse Dino apontando para um ponto atras dele, que Rony tinha certeza que ele não iria se Harry não tivesse dito que seu primo batizara um dinossauro com seu nome. Mas mesmo assim o menino levantou-se e seguiu para a mesa da Lufa-Lufa.



         -Err... estamos atrasado apara Defesa Contra as Artes das Trevas.-mentiu Hermione, levantando-se.-É melhor nós irmos, não concorda Ron?



       Ron assentiu vigorosamente e Harry pôs-se de pé também, e os três dirigiram-se para fora do Salão Principal. Harry estava tão aéreo, que mal notou os olhares de preocupação que Ron e Hermione não paravam de lançar-lhe.



        -Harry?-chamou Ron, hesitante. O amigo encarou-o, e Ron achava que os olhos de Harry nunca haviam transmitido maior tranquilidade. Suspirado, Ron inventou:-Melhor nós andarmos mais rápido, ou vamos perder a aula de Defesa.



        Harry sorriu e disse:



        -Então quem chegar por último é o maior boboca de todos os tempos! Até mais, Mione, Ross!



        E então, saiu em disparada pelo corredor, soltando gostosas risadas.



        Hermione e Ron ficaram observando-o se afastar por algum tempo, os dois incrédulo demais para falar. Então, depois que Harry já tinha virado o corredor, Ron conseguiu proferir lentamente:



        -Ele acabou de falar "boboca"?



        Hermione encarou-o.



        -Ele acabou de te chamar de Ross?



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        Aquele dia, fora com absoluta certeza o dia mais estanho que Hermione já tivera em Hogwarts, e aquilo incluía o dia que fora petrificada por uma cobra gigante, e o dia que voltara no tempo para ajudar um assassino procurado a fugir montado em um hipogrifo.



        Harry estava tendo algum tipo de surtos de infantilidade e lapsos de memória, que surgiam aleatoriamente. Por exemplo, quando os três amigos voltavam da aula de Transfiguração, e Harry conversava com Hermione sobre a difícil matéria sobre a qual estavam começando a estudar, e de repente uma primeiranista gritara aos amigos que estava dando chocolate de graça, e Harry somente correra para apanhar um, dizendo que sua tia nunca o dava doces.



        Ou então, quando Demelza Robins o questionou, se na próxima segunda-feira teria treino de Quadribol, e Harry perguntou, espantado, se ele era o capitão. Então, depois que Demelza afastou-se, bastante aturdida, Ron confrontara Harry sobre isso, e Harry respondera simplesmente que seu primo nunca o deixava ser o capitão em nada.



        Naquela hora, Hermione estava acomodada no chão perto da lareira, da Sala Comunal da Grifinória, terminando um trabalho exaustivo de Artimancia, esperando seus dois amigos voltarem do treino de Quadribol. O buraco do retrato girou, e Ron e Harry entraram, indo sentar-se junto a ela.



        -Oi.-cumprimentou Harry, alegre.



        Hermione sorriu para ele, mas notou que Ron parecia bastante nervoso, e não parava de lançar olhadelas furtivas a Harry, enquanto retirava pergaminho e pena da mochila.



        A garota olhou-o indagadora, pois sabia muito bem que Ron não tinha nenhum dever de casa naquele dia. Abriu a boca para perguntar o que ele pretendia fazer com aquelas coisas, mas o olhar de alerta do Weasley a fez fecha-la novamente. Curiosamente, Ron sentou-se bem ao lado de Hermione, coisa que nunca fazia, preferindo sentar-se em sua frente ou em algum lugar mais afastado.



        O garoto ruivo lançou outra espreitadela nervosa em direção à Harry, mas este estava cantarolando e olhado distraidamente para o teto do Salão Comunal. Então, Ron molhou a pena com tinta, e começou a escrever no pergaminho rapidamente. Hermione apenas o encarava.



       Depois de um tempo impressionantemente rápido, Ron passou o pergaminho para Hermione, que o encarou questionadora. Ron apenas balançou a cabeça em direção ao pergaminho, então Hermione abaixou a cabeça, de forma a escondê-lo com os cabelos volumosos e começou a lê-lo.



      Não havia muita coisa escrita, apenas um garrancho onde lia-se:



      "Precisamos conversar. O Harry está estranho, e pelo visto achando que seu nome é Helena. Aja naturalmente, porque ele vai sair em dez minutos para ir para a sala do Dumbledore. Não tente impedi-lo dizendo que ele não está bem, eu já tentei."



       Hermione levantou os olhos do bilhete e olhou para Ron. Seus olhos encontraram-se, e os dois concordaram silenciosamente em falar sobre isso assim que Harry saísse da sala. A bruxa nunca pensou que dez minutos poderiam demorar tanto tempo para passar.



       O silêncio prolongou-se por quase todo momento, exceto pelas cantaroladas de Harry, e o barulho da pena de Hermione desenhando runas em seu pergaminho. Então finalmente (um finalmente muito demorado), Harry ergueu-se e disse aos amigos que iria para suas aulas com Dumbledore.



        E então o amigo saiu pelo buraco do retrato, logo após perguntar onde ficava mesmo o escritório do diretor. Depois de ver o quadro da Mulher Gorda fechar-se novamente, Hermione abandonou a pena e virou-se para Ron, que começou a falar sussurrando:



        -Tem algo errado com o Harry, sei que tem. Ele está estranho, está aéreo, durante o dia todo. Você tinha que ver no treino de Quadribol!



        -O Harry jogou errado?-perguntou Hermione, pensando que se Harry estivesse jogando mal Quadribol, ela iria buscá-lo e levá-lo no St. Mungus naquele exato momento.



        Mas para seu alívio, Ron negou com a cabeça.



        -Não, ele chamou todo mundo pelos nomes errados. Até eu e a Gina! 



        -Até a Gina?-sussurrou Hermione, levando as mãos a boca.



        -Pois é! E ele nos conhece a muito mais tempo que o resto... você tinha que ver, ficava me chamando de Ross e a Gina de Gwen.



         Hermione desviou os olhos de Ron por um momento, encarando nervosa as chamas crepitarem na lareira. Ela tinha certeza que o comportamento estranho de Harry estava ligado de alguma forma ao feitiço que havia o atingido no dia anterior, mas como provar isso? Para começar, ela precisaria da cooperação de Harry, e era mais fácil fazer Draco Malfoy beijar Canino do que Harry admitir que havia algo errado com ele.



        -Sei o que está pensando.-disse Ron, e Hermione olhou-o, percebendo que o garoto a encarava.-Que o Harry está agindo assim por causa do feitiço.



         Hermione assentiu, e Ron afundou o rosto nas mãos, suspirando.



         -Se eu não tivesse...-começou ele, levantando a cabeça e observando-a, cheio de culpa.



        -Não, Ron.-cortou-o Hermione.-A culpa não foi sua, você não tinha como saber que aquele feitiço ia te atingir. Agora, vamos apenas focar no problema atual.



         Ron assentiu, mas não parecia convencido de que a culpa não fosse dele.



         -A Gina também acha que o Harry está assim por causa do feitiço.-comentou o garoto.-Ela disse que era impossível ele esquecer o nome dela. Não entendi porque, mas ela parecia estar querendo rir de mim naquela hora. Sabe, ficava sorrindo estranho...



         Hermione sorriu levemente, imaginando o porquê de Gina estar quase rindo da cara de Ron. 



         -Mas o problema é: como fazemos o Harry ver que está precisando ir na Ala Hospitalar?-disse Ron, atordoado.-Ele só vai lá quando está quase morrendo.



         Hermione sabia que aquilo era um exagero, mas não pode deixar de rir, ao mesmo tempo que o buraco do retrato girava, liberando a imagem preocupada de Gina Weasley, que avançou decidida até eles. Hermione não pode evitar de encolher-se um pouco ao ver a varinha na mão da amiga.



       -Cadê o Harry?-perguntou a menina ruiva, sem rodeios.-Eu estou aqui para arrasta-lo para a Ala Hospitalar, nem que precise estupora-lo para isso.



       -O Harry não está aqui.-disse Rony.-Está em uma aula com o Dumbledore.



       -E vocês deixaram ele ir?-perguntou Gina, indignada, sentando-se em frente aos dois.-Que é que deu em vocês dois?



        -Eu tentei impedir ele!-defendeu-se Rony, aborrecido.-Mas que é que você acha que ele disse? "Oh, não Ron, eu estou ótimo! Não se preocupe, se eu estiver em risco de morte, talvez eu de uma passadinha lá na Ala Hospitalar."



        Rony fizera uma patética e cômica imitação da voz de Harry, o que causou sorrisos em Gina e Hermione.



       Menos de dez minutos depois, uma nova pessoa surgiu no Salão Comunal. Neville Longbotton sentou-se junto aos três, parecendo ao mesmo tempo confuso e surpreso.



       -Hey, Neville.-cumprimentou Ron, suavemente.



       -Acabei de topar com o Harry.-disse Neville, desconcertado.-E ele me perguntou se eu tinha doces, porque ele queria pegar as figurinhas. Ele ainda me chamou de Noah.



       Gina, Hermione e Rony suspiraram.



       -É, ele está estranho assim durante o dia inteiro.-contou Hermione.-Não sabemos exatamente o qu...



       Mas, pela quarta vez naquela noite, o buraco do retrato girou, revelando a figura velha de Alvo Dumbledore. Ele trajava uma longa capa roxa berrante, e um chapéu cônico lilás. Seus longos cabelos prateados, encontravam com as barbas da mesma cor, e os olhos azuis, que curiosamente não brilhavam, estavam escondidos por trás de seu óculos de meia-lua.



        O Salão Comunal, antes recheado com o barulho de penas arrastando-se no pergaminho, conversas paralelas, risadas e algumas cantorias, ficou repentinamente silencioso, com todos os olhares virados para o homem recém-chegado. O diretor Dumbledore nunca visitara um Salão Comunal antes. Caso houvesse algum aviso muito importante, ou alguma coisa séria acontecendo, era responsabilidade da diretora da casa informar aos alunos, não do diretor da escola.



      -Olá, meus caros alunos.-disse Dumbledore suavemente.-Eu gostaria de informa-lhes que...



        Mas o barulho de um tropeço e passos no buraco do retrato, que encontrava-se aberto, fez o diretor, assim como todos os outros estudantes, virarem-se para ver quem entrava. 



         No entanto, ao colocarem os olhos no novo ser que entrava na sala comunal, todos engasgaram de susto. Parado ali, estava um garoto com altura para, no máximo, quatro anos de idade, com cabelos muito negros e que pareciam ter acabado de enfrentar um vendaval. Tinha chamativos olhos verde-esmeralda, e óculos de armação redonda. Ele trajava apenas uma blusa de Hogwarts, para alguém com, no mínimo, o triplo do seu tamanho.



         O Salão Comunal estava em um silêncio mortificado. Todos em choque, incapazes de falar ou se mexer. 



         -Harry.-disse Dumbledore, brandamente.-Não lhe disse para me esperar lá fora?



         A miniatura de Harry Potter corou e respondeu meio assustado, meio envergonhado:



         -Sinto muito, senhor. É-é que um dos quadros, senhor, ele falou comigo!



         Dumbledore sorriu, condescente.



         -Ah, sim, os quadros falantes.-disse ele, baixinho.-Entendo. É, podem assustar qualquer um.



         Passou-se exatos cinco segundos de silêncio, até Ronny quebrá-lo.



          -Harry?-gritou ele, atraindo todos os olhares do Salão para si. Parecia só conseguir raciocinar naquele momento.-Harry! Harry... Oh, Deus... Harry.-então ele virou-se para o pequeno Harry.-Você é o Harry. Você é meu melhor amigo. Você é Harry Potter, meu melhor amigo e está batendo nos meus joelhos... ótimo!-Rony soltou uma risada alta, como um maníaco, e Hermione não pode culpar Harry por encolher-se com os olhos arregalados.



         -M-me desculpe, senhor...?-disse Harry, trêmulo, esperando que Rony dissesse como chamá-lo.



         -Senhor Weasley, Harry.-respondeu Dumbledore, calmamente.



         -Você é o Harry.-foi tudo que Hermione conseguiu dizer. 



         Ela não sabia o que pensar. Ali estava seu melhor amigo, do tamanho de uma criancinha, e pelo visto esquecido-se de tudo. O pensamento racional parecia ter travado, e ela só conseguia pensar no que havia acontecido a Harry.



          Hermione ouviu um baque surdo ao seu lado, e constatou que Gina acabara de desmaiar. Algumas garotas do ano dela adiantaram-se para ajudá-la, assim como Neville.



          -Meu namorado está com quatro anos.-disse ela fracamente, enquanto Neville e uma menina morena que dividia dormitório com a pequena Weasley ajudavam-na a sentar-se.



          Rony parou de andar de um lado para o outro imediatamente.



         -Seu... seu o que?-indagou ele com a voz alterada.-Namorado? Harry é seu... você e ele estão... como é?



          -Depois, Sr. Weasley.-pediu Dumbledore, serenamente. Então, dirigiu-se a Harry.-Harry, por favor, você pode acompanhar a Srta. Weasley até a Ala Hospitalar? Caso ela não tenha condições de guiar vocês, peça a um dos quadros.



          Dumbledore piscou para Harry, e este sorriu amoravelmente. Ele adiantou-se até Gina, que agora levantava-se trêmula.



          -Ahn... com licença, senhorita?-chamou Harry, de mansinho. Gina encarou-o.-E-eu preciso ir com você até o hospital. Tudo bem se você vir comigo?



         Então, Gina olhou dentro dos olhos de Harry, e repentinamente, a cor voltou ao seu rosto pálido. Ela sorriu amigável, e disse calma:



         -Tudo, está tudo ótimo se eu ir com você.



        Ela deu uma longa e inesperada risada, e depois deu um grande suspiro cansado. Harry sorriu para a Weasley e disse:



         -Eu me chamo Harry Potter. Qual é o seu nome?



         -Gina Weasley.-respondeu Gina, sorrindo, mas ainda um pouco trêmula, pegando a mão e Harry e saindo com ele pelo buraco do retrato.



          -Sr. Weasley? Srta. Granger?-chamou Dumbledore, depois que o quadro da Mulher Gorda girou, fechando.-Posso dar uma palavrinha com vocês lá fora?



         Hermione e Rony assentiram, seguindo Dumbledore para fora do Salão Comunal.


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