Hora de despertar



Olá! 



Estou curiosa para saber o que está pensando você, leitor, que começou a acompanhar a fic agora. 



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Para ouvir antes, durante ou depois da leitura do capítulo:



Time After Time



(Cindy Lauper)



http://bit.ly/2b9z00r



 



"Eu amo tudo o que foi,

Tudo o que já não é,

A dor que já me não dói,

A antiga e errónea fé,

O ontem que dor deixou,

O que deixou alegria

Só porque foi, e voou

E hoje é já outro dia".



(Fernando Pessoa)



 



 



 



 



Depois de tomar o café da manhã, Hermione seguiu para a sala de aula. Teria uma manhã cheia, graças a Deus. E, com a mente ocupada, não sobraria muito tempo para pensar naquele sonho, ou melhor, no pesadelo recorrente que vinha tendo nas últimas noites.



Sonhar com Ron não era novidade para ela. Tinha sonhos belíssimos, dos quais se recusava a acordar, e pesadelos terríveis. Mas o enredo mudava a cada noite e agora, ao contrário, era sempre igual. Se alguém podia ajudá-la a decifrar aquele enigma, essa pessoa era Isobel Fielding. Decidiu que, ao término das aulas da manhã, procuraria pela experiente bruxa.



O tempo passa rápido quando temos uma meta a cumprir. Mais depressa que Hermione imaginava, o sinal soou avisando que a terceira e última aula daquela manhã chegara ao fim. A jovem bruxa lecionava História da Magia e, como qualquer um que a conhecesse podia imaginar, era muito dedicada, uma excelente professora. Preferiria estar à frente da disciplina Legislação Mágica, mas sabia que ainda lhe faltava experiência para isso.



Enquanto terminava de recolher o seu material da mesa, ouviu o murmurinho dos alunos deixando a sala apressados. Também para eles aquela era a última aula da manhã. Imaginou que estava sozinha quando reparou que uma de suas alunas permanecera sentada e a olhava fixamente, com um sorriso nos lábios.



— Bárbara! Tudo bem? Quer falar comigo? - ela aproximou-se da aluna que acabara de completar 15 anos.



— Sim. Se a senhora tiver um tempo... - a menina começou.



— Não me chame de senhora, por favor. Não sou casada e ainda tenho 22 anos. Além do mais, isso leva a um distanciamento que não gosto de ter com meus alunos. Prefiro que me chame de você - Hermione pediu.



— A senhora... quer dizer, você não tem namorado tem? - perguntou sem dar tempo para Hermione responder - Não precisa me contar sobre isso se não quiser. Eu não sou fofoqueira. Não é isso. Nem fico ouvindo conversa atrás da porta. Mas outro dia... Bem, fui ao banheiro das professoras porque ficava mais perto. Como estava aberto e vazio, imaginei que não tinha problema. Mas você chegou com outra pessoa. Acho que era a professora Isobel. Ao menos pareceu pela voz. Como ela é muito rigorosa com essas questões de regras, fiquei com vergonha de sair e levar uma bronca por ter usado o banheiro das professoras. Não foi minha intenção, mas acabei escutando a conversa de vocês. Desde aquele dia eu fico pensando... Bem, eu gosto muito de histórias românticas e o jeito que falou daquele seu ex-namorado... Ronald. Acho que esse é o nome dele. E fiquei pensando... Acho que a senhora, ou melhor, você ainda gosta dele. E se isso for verdade, deveria procurá-lo.



— Agradeço por sua preocupação e seu conselho. Mas tenho as minhas razões para não voltar a procurar Ron... esse ex-namorado, quero dizer - tentou mostrar indiferença e cortar logo aquele assunto.



— Minha avó costuma preparar muitas poções para quem sofre dos males de amor, sabe? Nunca usa Amortentia, que fique bem claro. Ela é contra. Conversamos muito sobre esse assunto e... Bem, na verdade minha avó é o que chamamos de conselheira dos assuntos do coração. Aconselha muitos bruxos, juntos ou individualmente, prescreve poções. Vovó sempre me fala muito sobre os sentimentos. E me disse que, quando o coração de um bruxo se apaixona, é para sempre. Ela acha que eu também tenho talento para isso e me ensinou a identificar alguns sinais, até pela voz, de um amor verdadeiro. Claro que sei muito pouco ainda, mas aprendi algumas coisas. E a sua voz, a forma como falou daquele ex-namorado... Desculpe-me, professora, se estou sendo intrometida. Pensei muito antes de falar. Mas acho que a senhora não pode aceitar perder um amor assim - a menina disparou sem dar espaço para Hermione sequer raciocinar.



A jovem professora estava perplexa. Principalmente com a própria passividade em ouvir todo discurso daquela menina loura, de olhos verdes e delicadas sardas, que, com tão pouca idade, nada sabia do amor. Mas ao mesmo tempo, não entendia porque, aquelas palavras passavam tanta verdade para ela.



— Qual é o nome da sua avó, Bárbara? - foi tudo que conseguiu dizer.



— Constance Murdock. Ela é escocesa, mas estudou em Beauxbatons e morou na França. Mudou-se para o Canadá há muito tempo. Minha mãe e todos os meus tios nasceram aqui - respondeu a sorridente menina.



— Ótimo, Bárbara. Se eu precisar de uma conselheira sentimental, já sei quem vou procurar. Agradeço a sua preocupação, mas, por favor, não volte a esse assunto. Não falo de minha vida particular em sala de aula e, se soubesse que você estava no banheiro das professoras, com certeza o tema da minha conversa não seria aquele. Você é muito jovem para entender. Mas existem motivações que ultrapassam o sentimento e nos levam a tomar certas decisões - Hermione falou antes de se encaminhar para a porta.



A aluna levantou logo atrás dela, apressando o passo para acompanhá-la. "Professora, a senhora, quer dizer, você ficou chateada comigo?", perguntou. Hermione envolveu a jovem com o braço e falou, tentando tranquilizá-la: "Não. Sei que falou tudo isso porque deseja o meu bem".



 



 



* * * * * * * * * *



 



 



Quando a porta se abriu, Hermione respirou o perfume saboroso que saía do caldeirão. Tudo naquela casa era velho, de cores sombrias, mas ainda assim ela se sentia muito bem ali. Na verdade, esse era um dos poucos lugares que frequentava no Canadá além da escola de bruxaria.



— Sente-se, minha querida. Chegou em boa hora. Estou acabando de preparar uma sopa para nós duas - a bruxa de olhos bondosos, cabelos grisalhos e voz estridente falou.



— Você sabia que eu vinha? - a jovem perguntou.



— Sempre sei quando você vem me visitar - ela balançou a cabeça. - Teve aquele sonho novamente?



— Sim. Todos os dias. Há uma semana - Hermione contou apertando as mãos em gesto tenso.



— Sei. Ainda assim você não quer procurar por ele? - questionou com a voz em tom calmo, quase sussurrado.



— Eu... Eu não posso, Isobel. Simplesmente não posso - ela respondeu levantando-se da cadeira.



— Sente-se, por favor - tentou acalmá-la. - Você não quer mesmo consultar aquela amiga minha? Ela tem grande experiência em identificar e curar magias que afetam o coração.



— Magias que afetam o coração? Como assim, Isobel? O que acontece comigo com relação a Ron é... Bem, é realmente muito estranho. Quando estou longe, morro de saudade, penso nele quase todos os instantes. Mas durante o tempo que namorávamos... Não sei explicar. Ficava tão impaciente, brigava demais, tudo que ele fazia me irritava. Isso em alguns momentos. Porque em outros sentia tristeza, aflição, achando que Ron corria um grande risco ao meu lado... - ela esforçou-se para explicar.



— Você não percebe, Hermione? Existe algo, uma força, uma energia, impedindo vocês de permanecerem juntos. Conseguem até se aproximar, namorar por algum tempo. Mas logo essa força, que acredito vir de uma magia muito forte, afasta vocês um do outro. Demorei a entender isso, mas, aos poucos, com seus relatos, as peças do quebra-cabeça foram se juntando - ponderou Isobel.



— Eu não sei... Quem lançaria uma magia dessas? Não consigo imaginar alguém com motivos fortes o suficiente para querer nos afastar um do outro - a menina pensou em voz alta.



— Também não sei. Mas tenho certeza que essa minha amiga pode lhe ajudar a descobrir - a bruxa reforçou com a voz em tom agudo.



— Como é mesmo o nome dessa sua amiga? - Hermione perguntou.



— Todos a chamam de Madame Murdock. Mas o primeiro nome dela é Constance - Isobel respondeu enquanto, sentada à mesa, com um toque da varinha, conduzia a colher que mexia vagarosamente o caldeirão.



— Constance Murdock?!! Então ela é avó de Bárbara, minha aluna do quinto ano - espantou-se Hermione.



— Sim, ela mesma. Aliás, elogiou muito Bárbara. Disse que, entre todos os seus filhos e netos, Bárbara é a única que herdou o seu talento - Isobel continuou, apagando o fogo com um floreio da varinha e usando a magia para fazer a concha de cabo comprido mergulhar no caldeirão e pegar a sopa.



Os pratos já servidos voaram até a mesa. Hermione saboreava a sopa, que estava em uma temperatura perfeita, quando voltou ao assunto. "Por enquanto prefiro não falar com sua amiga. Quem sabe depois. Ron parece bem. Não me procurou mais. Já deve ter me esquecido. Faz quase dois anos que terminamos pela última vez. Não tenho mais notícias dele", tentou convencer a si mesma.



— Uma hora ele tinha que desistir mesmo, não é? Foi até bem perseverante. Quanto tempo vocês namoraram mesmo? - a velha bruxa repetiu a pergunta que sempre fazia.



— Ao todo, ficamos juntos por quase dois anos, mas não foi um período contínuo, como já expliquei. Namoramos em três momentos distintos. Começamos no final de maio de 1998, logo assim que voltei da Austrália depois de recuperar a memória dos meus pais. Terminamos em fevereiro e só voltamos em junho, no meu baile de formatura. Durou ainda menos. Em janeiro já estávamos separados. A última vez que namoramos foi entre março e julho de 2000. Ele ainda tentou retomar, mas não aceitei. Não suportava mais as dores do coração, sabe? - recontou a história da forma mais resumida que conseguiu.



— Bem, Hermione, eu já lhe dei alguns conselhos equivocados. Incentivei você a ter outros namorados... - Isobel retomou a conversa.



— E se dependesse de você eu estaria com outro namorado agora - ela deu uma gargalhada. - Ou melhor, com certeza já teria terminado. O professor Jeremy Williams não era exatamente o meu tipo.



— É, eu realmente me enganei. Ele mostrou-se um conquistador sem sentimentos. Mal você recusou namorá-lo, já começou a flertar com a professora Anne Harrison - Isobel reconheceu.



— Os dois parecem muito bem juntos. Sorte deles - Mione falou.



A bruxa, que andava com certa dificuldade, fez um movimento para erguer a varinha e retirar os pratos. Hermione foi mais rápida. "Esse aqui é o meu trabalho. A sopa estava uma delícia", afirmou enquanto, usando a varinha, levou a louça para a pia e começou a ensaboá-la.



— Pelo menos desse você se livrou. Os dois outros namoros que teve depois que chegou ao Canadá não foram muito positivos, não é mesmo? - ela insistiu no assunto, já que, como confidente da menina, sentia-se culpada por aqueles relacionamentos fracassados.



— Não foram tão ruins assim. Ao menos serviram para eu ter certeza que só vou iniciar um novo relacionamento quando gostar de verdade da pessoa. Essa história de começar a namorar na expectativa de passar a gostar não dá certo. Pelo menos para mim - a jovem garantiu.



Dois namorados em menos de dois anos pareciam muito para uma menina reservada como ela. Antes desses relacionamentos, Ron havia sido seu único namorado. Gostaria, na verdade, que tivesse sido o único. Mas, na tentativa desesperada de esquecê-lo e com o incentivo da sua nova amiga, a professora Isobel Fielding, decidiu aceitar conhecer outros rapazes.



Proprietário de uma livraria trouxa, localizada no Centro da cidade, Mark Douglas era um cara tranquilo, simpático e, como ela, apaixonado pela leitura. Seu pai sempre a aconselhava a namorar "um rapaz sem poderes mágicos" e Hermione achou que não podia perder aquela oportunidade perfeita de "sepultar" o sentimento forte que ainda tinha por Ron.



"Se você de fato não gosta desse Ronald, por que não preenche o seu coração com um novo amor?", aconselhou Isobel que, apesar de viúva, permanecia apaixonada pelo marido. "O verdadeiro amor não morre", garantia. "Como posso saber quando amo de verdade alguém?", Hermione a questionou. "Você vai experimentar paz e uma grande alegria sempre que estiver com essa pessoa", a bruxa explicou.



A primeira tentativa de esquecer Ron não deu certo. O namoro durou apenas dois meses.



Mark era bonito, inteligente e educado. Mas todas essas qualidades não eram suficientes para Hermione. Ele não tinha bom humor, não fazia piadas, não sabia falar de forma apaixonada sobre qualquer assunto e, o pior, não fazia o coração da jovem bruxa bater mais forte. Sem contar que, muito provavelmente, jamais assimilaria bem o fato dela ser uma feiticeira. E o mundo mágico era indispensável para Hermione.



Pouco tempo depois, ela conheceu Robert Veronese. De origem italiana, o rapaz louro e de belo sorriso era consultor de empresas bruxas. Morava em Paris e atendia muitas instituições de magia em toda a Europa.



Robert viera ao Canadá a convite de Silvana Baumgard, diretora da na Escola de Bruxaria de Westminster, onde Hermione lecionava, para dar uma palestra para os professores sobre Mundo Bruxo e Empreendedorismo.



Crítica e questionadora como era, Hermione discordou de vários pontos da palestra. Levantou a mão, deu as suas opiniões. Ficou surpresa que, mesmo se contrariava os argumentos do especialista, ele se mostrou paciente. Dizia que ela podia ter razão e enfatizava que os diferentes pontos de vista merecem ser respeitados. Ao final, o bruxo fez questão de procurá-la e convidá-la para jantar.



Hermione aceitou já que jamais fugia de uma boa discussão. Foi o primeiro de alguns encontros. Ainda assim, o pedido de namoro a surpreendeu. Ela recusou. O rapaz mostrou que nesse aspecto era parecido com Ron e insistiu. A garota, depois de ser incentivada a investir em um novo relacionamento por Isobel, acabou aceitando.



O namoro foi à distância, já que Robert precisou voltar para a Europa. Encontraram-se poucas vezes, sempre que ele tinha algum tempo disponível para visitá-la no Canadá. Mas não foi preciso mais de três meses para Hermione perceber que jamais se apaixonaria por ele. Apesar de falante, inteligente, galanteador, Robert era convencido e vaidoso. Além disso, tinha que reconhecer, os seus beijos eram completamente sem graça.



— Isobel, muito obrigada pela sopa e por sua acolhida de sempre. Preciso voltar para a escola. Tenho que dar mais aulas no período da tarde - explicou.



A jovem despediu-se de Isobel com um abraço apertado. Os quase sessenta anos que as separavam, as diferenças culturais e de temperamento não foram empecilhos para serem amigas. A professora de Poções que se aposentaria ao fim daquele semestre tornara-se a sua grande companheira e confidente. Era ela que lhe dava força de permanecer no presente quando o passado a assombrava.



 



 



* * * * * * * * * * 



 



O que estão achando dos novos personagens? Aos poucos, outros vão aparecer na trama :)



Nesse capítulos nos centramos apenas no presente, mas no próximo teremos mais flashback. 



 



 



 


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Comentários (2)

  • Morgana Lisbeth

    Oi, Beth! Amo quando um leitor começa a acompanhar uma fic já adiantada (ou concluída) e deixa seus comentários! Espero que continuo lendo e curtindo! Sempre que puder, deixe um comentário também *_*

    2016-09-14
  • Beth Lovegood

    Estou começando a acompanhar e estou gostando bastante! Essa Bárbara, mesmo se bem novinha, é esperta mesmo! "E a sua voz, a forma como falou daquele ex-namorado... Desculpe-me, professora, se estou sendo intrometida. Pensei muito antes de falar. Mas acho que a senhora não pode aceitar perder um amor assim". Nossa, que complicada a vida sentimental de Mione! Desmanchou três vezes com Ron, os dois estão quase dois anos separados e ela namorou outros dois caras dos quais, pelo visto, não gostou! Volta logo para o ruivo, miga! Toma posse do que te pertence!

    2016-09-12
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