As tribulações da Sra. Weasley



– As tribulações da Sra. Weasley.



 



– Já não gostei do nome desse capítulo. – Lily suspirou balançando a cabeça descontente – Esse devia ser um capítulo de comemorações!



– Acho que com tudo o que está acontecendo no mundo bruxo eles não tem muito tempo para comemorar antes de algo desagradável acontecer. – Alice disse pesarosa – Espero que não seja nada muito ruim…



– Espero que não seja com algum dos seus irmãos. – Lily concordou observando Gina e Rony apreensiva.



– Realmente não podemos falar. – Gina disse encolhendo os ombros – Mas sinceramente, eu nem sei a que o nome desse capítulo pode estar se referindo…



– Gina! – Hermione a repreendeu – Falar que não sabe está incluído nas coisas que não podemos falar!



– Por que nos faz ver que você não estava presente e não tomou conhecimento do que quer que tenha atormentado a sua mãe. – Tiago disse pensativo – Então não deve ter sido nada muito grave…



– Vocês não deviam tirar conclusões assim. – Hermione disse cruzando os braços sobre o peito frustrada.



– Não fique irritada, Mione. – Rony disse, apertando o ombro dela com carinho – Não é como se realmente fizesse muito diferença nesse caso. Eles apenas descobriram que Gina não sabe sobre o que atormentou mamãe…



– E você não vai falar mais nada. – Hermione disse categórica antes de fazer sinal para Neville começar o capítulo.



 



A inesperada partida de Dumbledore pegou Harry completamente de surpresa. O garoto continuou sentado na cadeira equipada com correntes, debatendo-se com os seus sentimentos, que mesclavam choque e alívio. Os juízes foram se levantando, conversando entre si, recolhendo seus documentos e guardando-os. Harry ficou em pé. Ninguém parecia estar lhe prestando a mínima atenção, a não ser a bruxa bufonídea à direita de Fudge, que agora passara a contemplá-lo em vez de a Dumbledore.



 



– É muito cedo para não gostar dessa mulher? – Remo perguntou, remexendo-se desconfortável – Não sei se é o modo como ela é descrita no livro…



– Ou o fato dela ter votado contra Harry… – Sirius o interrompeu.



– Ou o fato de Neville ter deixado escapar que a conhece também… – Tiago concordou enfaticamente.



– Mas alguma coisa nela me passa uma péssima impressão. – Remo concluiu virando-se para Gina em tom de interrogação.



– Não vou deixar mais nada escapar. – Gina disse encolhendo os ombros – Acho que se eu abrir a boca de novo Hermione vai fechá-la com um feitiço adesivo permanente…



– Vou mesmo. – Hermione bufou – E vocês não deviam ficar tentando tirar informações de Gina.



– Mas ela, Neville e Rony sempre acabam deixando alguma coisa escapar se nós perguntarmos do jeito certo. – Tiago disse com uma expressão de inocência simulada.



    Hermione apenas bufou mais uma vez antes de indicar que Neville devia continuar lendo.



 



Sem lhe fazer caso, o garoto tentou chamar a atenção de Fudge ou de Madame Bones, querendo perguntar se estava dispensado, mas Fudge parecia muito decidido a não ligar para Harry, e Madame Bones estava ocupada com sua maleta, então ele deu alguns passos hesitantes em direção à saída e, ao ver que ninguém o mandava voltar, começou a andar bem depressa.



 



– A audiência acabou, é claro que você pode ir embora! – Tiago disse revirando os olhos – E se Dumbledore tivesse o mínimo de consideração por tudo o que você passou, ele teria pelo menos te acompanhado para fora da Corte…



– Então você está de volta no seu humor contra Dumbledore? – Lily murmurou para Tiago com carinho – É difícil de acompanhar quando parece que você muda de opinião em relação ao diretor toda hora…



– Não mudo de opinião. – Tiago murmurou de volta – Apenas não gosto de algumas atitudes dele…



– E admira outras. – Lily murmurou com um sorriso condescendente.



– Ele é humano, tem lados bons e ruins… – Tiago deu de ombros – Todo mundo tem.



 



Deu os últimos passos quase correndo, abriu a porta com violência e quase colidiu com o Sr. Weasley, que estava parado ali, com o rosto pálido e apreensivo.



— Dumbledore não disse...



— Inocente — disse Harry puxando a porta atrás de si — de todas as acusações!



Abrindo um largo sorriso, o Sr. Weasley agarrou-o pelos ombros.



— Harry, é maravilhoso! Bom, é claro que eles não poderiam ter considerado você culpado, não com as provas que tinham, mas, mesmo assim, não posso fingir que não me senti...



 



– É claro que ele se sentiu apreensivo. – Remo disse acenando com a cabeça compreensivo – Do jeito que o ministério está decadente…



– Fudge realmente conseguiu levar o nosso governo para o fundo do poço. – Sirius disse balançando a cabeça em desagrado – O ministério sempre foi corrupto, mas acho que nunca chegamos tão longe nesse sentido… Uma audiência disciplinar transformada em um julgamento na Suprema Corte onde um ministro da magia está perseguindo e maldizendo um garoto de 15 anos que antes ele considerava um herói…



– Patético. – Tiago concordou revirando os olhos.



 



Mas o Sr. Weasley parou de falar, porque a porta do tribunal se abriu. Os juízes começaram a sair.



— Pelas barbas de Merlim! — exclamou, admirado, puxando Harry de lado para deixar os juízes passarem. — Você foi julgado por um tribunal completo?



— Acho que sim — disse Harry em voz baixa.



Um ou dois bruxos cumprimentaram Harry, com a cabeça, ao passar e alguns, inclusive Madame Bones, disseram “Bom dia, Arthur”, mas a maioria desviou o olhar.



 



– Da para ver claramente que Fudge não conseguiu intoxicar todo o ministério com sua campanha anti-Harry. – Tiago disse satisfeito – É bom saber que ainda há pessoas que usam a cabeça no nosso governo…



– É uma pena que não possamos dizer que nosso ministro é uma dessas pessoas. – Frank disse irônico.



– Fudge nunca foi conhecido por usar a cabeça, não é? – Sirius disse com uma risadinha maldosa – Ele sempre achou que a cabeça era apenas um lugar conveniente para apoiar aquele chapéu ridículo que ele usa!



 



Cornélio Fudge e a bruxa bufonídea foram quase os últimos a deixar a masmorra. Fudge agiu como se o Sr. Weasley e Harry fizessem parte da parede, mas outra vez a bruxa, ao passar, encarou o garoto quase como se o avaliasse. O último a sair foi Percy. A exemplo de Fudge, ele ignorou completamente o pai e Harry; passou direto, sobraçando um grande rolo de pergaminho e um punhado de penas sobressalentes, as costas empertigadas e o nariz empinado.



 



– É muita petulância dele ignorar o papai desse jeito! – Gina exclamou exaltada recebendo violentos acenos de concordância de Rony – Ele devia estar se sentindo muito importante fazendo parte dessa audiência ridícula e seguindo o chefe ridículo dele!



– Ele vai se arrepender. – Sirius disse categórico – E muito.



– Tenho certeza de que mais cedo ou mais tarde Voldemort vai dar as caras, – Tiago disse – E quando isso acontecer Fudge e todos que acreditaram nele vão ver quão idiotas eles foram.



– Especialmente Percy, que não ouviu a própria família. – Alice não conseguiu deixar de concordar.



 



As linhas ao redor da boca do Sr. Weasley se contraíram ligeiramente, mas ele não deu nenhuma outra mostra de ter visto seu terceiro filho.



— Vou levá-lo direto para casa, assim, você pode contar aos outros as boas notícias — disse ele, fazendo sinal a Harry para prosseguirem no momento em que os calcanhares de Percy desapareceram na escada para o nível nove. — Vou acompanhá-lo, a caminho daquele banheiro público em Bethnal Green. Vamos...



— Então, que é que o senhor vai ter de fazer com relação àquele banheiro? — perguntou Harry, sorrindo.



De repente tudo lhe parecia cinco vezes mais engraçado do que o normal. Começava a penetrar na sua cabeça a ideia de que fora inocentado, ia voltar a Hogwarts.



— Ah, é um antifeitiço bastante simples — disse o Sr. Weasley ao subirem as escadas — mas não é tanto o problema de consertar o estrago, é mais a atitude que está por trás desse vandalismo. Alguns bruxos podem achar engraçado armar arapucas para trouxas, mas isso é uma manifestação de algo mais profundo e perverso, e na minha opinião...



 



– Bruxos que acham esse tipo de atitude engraçada são os mesmo bruxos que acham divertido torturar uma família de trouxas na frente de todo mundo. – Lily disse lembrando-se com desagrado da Copa Mundial de Quadribol no livro anterior – São pessoas realmente doentes…



– Deviam existir mais leis para punir as pessoas que agem desse modo e tratam os trouxas como animais de circo. – Tiago disse concordando enfaticamente – Mas pessoas com bolsos fundos sempre conseguem fazer o ministério descartar essas leis.



– Poder e influência são o que move o mundo. – Sirius disse resignado – E meu pai sempre diz que dinheiro é o modo mais simples de poder.



– Isso é repugnante! – Lily exclamou irritada – Só porque os puro-sangue tem dinheiro e influência dentro do ministério as leis de proteção aos trouxas não são levadas a sério!



– Infelizmente é como nosso mundo funciona. – Tiago suspirou conformado – As coisas não vão mudar até que um ministro honesto e que realmente se importe com a causa seja eleito… E pelo visto isso não vai acontecer tão cedo.



– E você vai apenas se conformar com isso? – Lily perguntou cruzando os braços sobre o peito autoritária.



– Claro que não! – Tiago disse levantando os braços em sinal de rendição – Mas por hora não há nada que possamos fazer…



– Tiago não se conforma com nada, sabe? – Sirius disse chamando a atenção de Lily – Quando descobrimos sobre o probleminha peludo de Remo, Tiago foi o primeiro a dizer que precisávamos fazer alguma coisa para ajudá-lo. – completou trocando um sorriso com Tiago e Remo.



– Apenas não conseguia ver meu amigo sofrendo tanto. – Tiago encolheu os ombros com humildade.



 



O bruxo não continuou a frase. Tinham acabado de chegar ao corredor do nível nove, e Cornélio Fudge estava parado a uma pequena distância, conversando em voz baixa com um homem alto de cabelos louros e lisos, e um rosto pontudo e pálido.



O segundo homem se virou ao som dos passos dos recém-chegados. Também interrompeu o que ia dizendo, seus frios olhos cinzentos se estreitaram e se fixaram no rosto de Harry.



— Ora, ora, ora... o Potter Patrono — exclamou Lúcio Malfoy com frieza.



 



– O chefe dele deve ter mandado ele até a Corte para saber como a audiência de Harry foi. – Sirius disse balançando a cabeça – Duvido muito que ele tenha tempo para assuntos pessoais agora que Voldemort voltou à ativa.



Quem quer que mandou os dementadores atrás de Harry teria ajudado muito à causa se Harry tivesse sido expulso. – Remo disse pensativo – Seria mesmo muito mais fácil para Voldemort capturar Harry…



– Que bom que não temos que nos preocupar com isso. – Lily suspirou balançando a cabeça.



– Depois do que aconteceu no final do ano anterior? – Tiago perguntou levantando as sobrancelhas para Lily – Se Voldemort conseguiu quando nem ao menos tinha um corpo, o que o impede de conseguir agora?



– Agora Dumbledore sabe que Voldemort voltou, ele está mais preparado… Não é? – Lily perguntou insegura.



– Dumbledore sabia que alguém estava tentando pegar Harry no ano anterior. – Sirius disse duvidoso – E isso não mudou nada…



 



Harry se sentiu sem fôlego, como se tivesse acabado de penetrar em uma coisa sólida. A última vez que vira aqueles olhos cinzentos e frios fora pelas fendas do capuz de um Comensal da Morte, e a última vez que ouvira a voz daquele homem ele fazia caçoadas em um cemitério escuro enquanto Lord Voldemort o torturava. Harry não conseguia acreditar que Lúcio Malfoy tivesse coragem de encará-lo; não conseguia acreditar que estivesse ali no Ministério da Magia, ou que Cornélio Fudge estivesse conversando com ele, pois Harry contara ao ministro havia poucas semanas que Malfoy era um Comensal da Morte.



 



– Lúcio tem coragem de encará-lo porque isso é o que ele faz de melhor, – Sirius deu de ombros – enganar as pessoas, convencê-las de que ele é uma pessoa completamente diferente de quem ele realmente é…



– Por isso os Malfoy são tão influentes. – Tiago disse, acenando em concordância – Eles aprendem a ludibriar e manipular os outros desde pequenos.



– Quanto a Fudge, – Remo disse virando-se para Harry – ele está convencido de que tudo o que sai da sua boca é mentira… Ele é tão cego por poder que acabou cego para o resto do mundo também… Digno de pena.



– Eu não tenho pena nenhuma. – Frank disse resoluto – Se ele é estúpido a ponto de pensar que Dumbledore e Harry fariam tudo isso apenas para ludibriá-lo, ele não merece nossa pena.



 



— O ministro estava justamente me contando a sorte que você teve, Potter — disse o Sr. Malfoy com sua voz arrastada. — É surpreendente como você consegue se livrar de apertos tão extremos... na verdade, parece até um ofídio.



O Sr. Weasley apertou o ombro de Harry, alertando-o.



— É — disse Harry — sou bom em fugas.



 



– O impressionante é que, mesmo com você e Lúcio fazendo referências óbvias ao último encontro de vocês, tenho certeza de que Fudge não vai perceber nada de estranho… – Sirius disse balançando a cabeça resignado – Ele é mesmo um tapado.



 



Lúcio Malfoy ergueu os olhos para o rosto do Sr. Weasley.



— E Arthur Weasley também! Que é que você está fazendo aqui, Arthur?



— Trabalho aqui — respondeu ele secamente.



— Não aqui, com certeza? — admirou-se o Sr. Malfoy, erguendo as sobrancelhas e olhando em direção à porta, por cima do ombro do Sr. Weasley. — Pensei que sua sala fosse no segundo andar... você não faz alguma coisa que envolve furtar artefatos de trouxas e enfeitiçá-los?



 



    Rony e Gina grunhiram em uníssono.



 



— Não — retorquiu o Sr. Weasley, os dedos agora furando o ombro de Harry.



— Mas o que é que o senhor está fazendo aqui, afinal? — perguntou Harry a Lúcio Malfoy.



— Acho que os meus assuntos particulares com o ministro não são da sua conta, Potter — disse Malfoy alisando a frente das vestes. Harry ouviu distintamente o tilintar suave como o de um bolso cheio de ouro.



 



– Então ele apenas dá dinheiro para o ministro e tem todos os seus desejos atendidos? – Lily perguntou com aversão – É tão simples assim?



– Se você souber como agir e como apresentar a oferta, sim. – Sirius respondeu sem pestanejar – Minha família vem aperfeiçoando a técnica de compra de ministros há anos…



– Quando eu descobri que era uma bruxa eu fiquei tão feliz… – Lily suspirou pesadamente – Achei que o mundo mágico era um lugar perfeito onde todos viveríamos felizes para sempre como nos contos de fadas…



– Sinto muito. – Tiago disse encolhendo os ombros sem jeito – Nenhuma sociedade é perfeita. Nenhum governo é isento de corrupção…



– Eu sei… – Lily murmurou – Descobri que o mundo mágico não era perfeito assim que me chamaram de sangue-ruim pela primeira vez… – completou olhando de soslaio para Severo.



 



— Francamente, só porque você é o garoto favorito de Dumbledore, não deve esperar a mesma indulgência dos demais... vamos à sua sala, então, ministro?



— Certamente — respondeu Fudge, dando as costas para Harry e o Sr. Weasley. — Por aqui, Lúcio.



Eles se afastaram juntos, falando em voz baixa. O Sr. Weasley não soltou o ombro de Harry até que os bruxos tivessem entrado no elevador.



— Por que é que ele não estava esperando à porta do escritório de Fudge, se tinham negócios a resolver? — explodiu Harry furioso. — Que é que ele estava fazendo aqui embaixo?



— Tentando entrar no tribunal sem ser visto, se quer minha opinião — respondeu o Sr. Weasley, parecendo extremamente agitado e espiando por cima do ombro como se quisesse se certificar de que ninguém o ouvia. — Tentando descobrir se você tinha ou não sido expulso. Vou deixar um bilhete para Dumbledore quando passarmos em casa; ele precisa saber que Malfoy esteve conversando com Fudge outra vez.



 



– Pelo visto esse é um evento recorrente. – Remo disse pensativo – Fudge deve estar tendo muitas reuniões de negócios com Lúcio… Voldemort deve estar tentando conseguir alguma coisa do ministério.



– Talvez ele esteja tentando comprar a tal da arma. – Sirius disse de repente – Se a arma realmente está no ministério como nós pensamos que está… Voldemort deve ter mandado Lúcio para tentar comprá-la do ministro de alguma forma… Ou pelo menos comprar o acesso a ela.



– É possível. – Tiago disse coçando a cabeça interessado – Se é uma informação, como Snape sugeriu, eles podem estar tentando convencer o ministro monetariamente… Muito mais simples do que invadir o ministério de algum jeito… E não estragaria o plano de Voldemort de continuar escondido.



– Sabemos que os Malfoy tem dinheiro o bastante para isso. – Sirius afirmou – Resta saber se é o tipo de coisa que o ministro consegue dar a ele ou não. Existem partes do ministério onde nem o ministro consegue entrar…



– Que partes? – Alice perguntou espantada – Achei que o ministro era quem mandava em tudo.



– Quase tudo. – Tiago disse com um aceno displicente – Os inomináveis, por exemplo, não atendem ao ministro… Nem mesmo o ministro pode entrar em algumas partes do departamento de mistérios.



– Mas você não acha que a tal arma pode estar no departamento de mistérios, não é? – Lily perguntou apreensiva.



– Talvez seja algo que eles estão estudando ou desenvolvendo. – Tiago deu de ombros – Mas eu concordo com Snape, o mais provável é que seja algum tipo de informação…



– Essa arma ainda vai nos dar muita dor de cabeça. – Sirius bufou resignado.



 



— Que negócios particulares eles podem ter a tratar?



— Ouro, imagino — respondeu o Sr. Weasley, zangado. — Malfoy há anos faz doações generosas para todo tipo de coisa... ajuda-o a travar amizade com as pessoas certas... depois pode pedir favores... atrasar leis que não quer que sejam aprovadas... ah, ele é muito bem relacionado, esse Lúcio Malfoy.



 



– Ser bem relacionado e influente é a profissão dele. – Sirius murmurou.



 



O elevador chegou; estava vazio, exceto por um bando de memorandos que esvoaçaram em volta da cabeça do Sr. Weasley quando ele apertou o botão para o Átrio e as portas se fecharam. Ele afastou-os, irritado.



— Sr. Weasley — disse Harry lentamente — se Fudge está se encontrando com Comensais da Morte como Malfoy, se está conversando com eles a sós, como vamos saber se não lançaram a Maldição Imperius sobre o ministro?



— Não pense que isso não tenha nos ocorrido, Harry — disse o Sr. Weasley em voz baixa. — Mas Dumbledore acha que, no momento, Fudge está agindo por conta própria, o que, como diz Dumbledore, não é muito consolo. É melhor não falarmos mais nisso, por enquanto.



 



– No caso de Fudge, estar sob a Maldição Imperius sob o comando de Voldemort, seria praticamente uma evolução em seu nível de inteligência. – Frank disse maldosamente.



– Se fosse o caso ele não teria ficado tão perturbado durante a audiência… – Tiago disse depois de rir das palavras de Frank – Não teria cometido tantos erros idiotas.



 



As portas se abriram e eles desembarcaram no Átrio quase deserto. Érico, o bruxo-segurança, estava outra vez escondido atrás do Profeta Diário. Já haviam passado direto pela fonte de ouro quando Harry se lembrou.



— Espere... — pediu ao Sr. Weasley e, tirando a bolsa de dinheiro do bolso, voltou à fonte.



Ergueu os olhos para o rosto bonito do bruxo, mas, assim de perto, Harry achou-o fraco e tolo. O sorriso da bruxa era insosso como o de uma candidata a miss, e, pelo que o garoto conhecia de duendes e centauros, era pouco provável que fossem surpreendidos olhando tão idiotamente para um ser humano. Somente a atitude de abjeto servilismo do elfo doméstico lhe pareceu convincente. Sorrindo, ao pensar no que Hermione diria se visse a estátua do elfo, Harry virou a bolsa de dinheiro de boca para baixo e despejou não apenas dez galeões, mas todo o seu conteúdo na fonte.



 



– A fonte inteira é ridícula. – Hermione afirmou categórica – Nem vou falar da parte em que a atitude do duende e do centauro são completamente fora da realidade… Mas colocar o bruxo como superior à bruxa também é altamente ofensivo…



– Agora você vai defender as bruxas também? – Rony perguntou – Você não acha que tem causas demais nas mãos?



– Boas causas nunca são causas demais. – Hermione garantiu a ele – Na verdade o mundo bruxo é muito menos machista que o mundo trouxa… É só essa fonte que é completamente provinciana.



– É como nós dissemos, – Sirius deu de ombros – a fonte é a mesma há anos… E o único com o poder de mudá-la é o ministro, com o objetivo de refletir sua filosofia de governo.



– Foi Bagnold quem assumiu o governo depois de Minchum, não é? – Tiago perguntou a Hermione – Apareceu em um dos últimos capítulos que lemos…



– Isso mesmo. – Hermione confirmou desconfiada.



– E ela continuou no governo depois… – Tiago hesitou – Depois que Voldemort foi derrotado pela primeira vez?



– Ela ficou dez anos no poder. – Hermione respondeu – Ela se aposentou um ano antes de entrarmos em Hogwarts.



– Então não consigo entender porque ela não mudou essa fonte estúpida… – Tiago disse balançando a cabeça.



– Porque ela estava ocupada festejando e comemorando a queda de Voldemort. – Gina afirmou – Segundo papai Bagnold foi a ministra que promoveu mais festas e eventos beneficentes no ministério…



– Minha avó diz que no início ela participava desses eventos. – Neville disse concordando com Gina – Porque o ministério sempre dizia que estava angariando fundos para as vítimas da guerra e tudo mais… Mas quando as coisas continuaram exatamente as mesmas para… Para vocês… – Neville disse virando a cabeça de Frank para Alice – Ela parou de ir nessas festas e começou a me dizer que era tudo enganação…



    Frank e Alice trocaram um olhar triste com Neville antes dele respirar fundo e voltar a ler.



 



— Eu sabia! — berrou Rony dando socos no ar. — Você sempre consegue se safar!



— Eles tinham de inocentar você — disse Hermione, que parecera que ia desmaiar de ansiedade quando Harry entrou na cozinha, e agora levava a mão trêmula aos olhos — não tinham um caso contra você, nenhum.



— Mas vocês todos parecem bem aliviados, considerando que já sabiam que eu ia me livrar das acusações — disse Harry sorrindo.



 



– Não podemos realmente culpá-los… – Remo disse com um sorriso carinhoso para Gina, Rony e Hermione – Apesar de saberem que você é inocente e tudo mais, eles também ouviram as injustiças que foram cometidas contra Dumbledore…



– Do mesmo jeito que Dumbledore foi expulso da Suprema Corte dos Bruxos sem motivos, eles poderiam dar um jeito de te expulsar sem motivos. – Hermione justificou – Nós sabíamos que eles não tinham base legal para isso… Mas eles não estavam realmente agindo corretamente.



– A sorte de Harry foi Fudge não ter conseguido contaminar a Suprema Corte inteira. – Tiago disse concordando com Hermione enfaticamente – Algumas pessoas ainda tem capacidade de pensar por elas mesmas… Enquanto for assim, nosso mundo tem salvação.



 



A Sra. Weasley enxugou o rosto no avental, e Fred, Jorge e Gina executaram uma espécie de dança de guerra, cantando: “Ele conseguiu, ele conseguiu, ele conseguiu...”



 



– Precisávamos comemorar! – Gina disse com um meio sorriso – E antes de Harry voltar estavamos afogados em tensão…



– Mamãe não parava quieta. – Rony disse acenando em concordância – Ela parecia querer fazer tudo e ao mesmo tempo não conseguia fazer nada…



– E vocês dois, – Hermione disse indicando Remo e Sirius com a cabeça – passaram o tempo todo sentados na mesa da cozinha, em silêncio, trocando olhares misteriosos…



– Vocês dois não estavam muito melhor. – Gina afirmou indicando Rony e Hermione – Rony não parava de comer, e Hermione não parava de reclamar que Rony não parava de comer…



– Cada um de nós tem um jeito diferente de lidar com a tensão. – Rony disse corando.



– Fred, Jorge e eu lidamos com a tensão sendo ainda mais expansivos do que o normal. – Gina deu de ombros.



– Na verdade essa é a forma como vocês agiram depois da tensão. – Hermione disse pensativa – Enquanto estavamos esperando Fred e Jorge estavam no quarto deles e você estava sentada na cozinha tentando se distrair brincando com Bichento… Vocês só ficaram mais efusivos depois que Harry voltou.



 



— Chega! Sosseguem! — gritou o Sr. Weasley, embora sorrisse. — Escute aqui, Sirius, Lúcio Malfoy estava no Ministério.



— Quê? — exclamou Sirius ríspido.



“Ele conseguiu, ele conseguiu, ele conseguiu...”



— Quietos, vocês três! Nós o vimos conversando com Fudge no nível nove, depois foram juntos para a sala de Fudge. Dumbledore precisa saber disso.



— Com certeza. Vamos contar a ele, não se preocupe.



— Bem, é melhor eu ir andando, tem um vaso sanitário vomitando em Bethnal Green à minha espera. Molly, vou chegar tarde, precisarei cobrir a ausência de Tonks, mas o Kingsley talvez venha jantar…



“Ele conseguiu, ele conseguiu, ele conseguiu...”



— Agora chega... Fred... Jorge... Gina — disse a Sra. Weasley, quando o marido deixou a cozinha. — Harry, querido, venha se sentar, almoce alguma coisa, você quase não comeu no café da manhã.



Rony e Hermione se sentaram à frente do amigo, parecendo mais felizes do que nos dias que sucederam à chegada dele ao largo Grimmauld, e o alívio eufórico que Harry sentira, um pouco afetado pelo encontro com Lúcio Malfoy, tornou a crescer. A casa sombria parecia de repente mais calorosa e mais hospitaleira; até Monstro pareceu menos feio quando meteu seu nariz trombudo na cozinha para investigar a razão de todo aquele barulho.



 



– É claro que estávamos mais felizes! – Hermione disse categórica – No dia em que você chegou, não sabíamos se você iria para a escola conosco… Ou se algo ainda pior poderia acontecer… Estávamos aliviados.



 



— É claro que uma vez que Dumbledore apareceu em sua defesa, não havia jeito de condenarem você — disse Rony, feliz, agora servindo enormes colheradas de purê de batatas nos pratos de todos.



— É, ele virou a corte a meu favor — disse Harry. Achou, porém, que ia parecer muita ingratidão, para não dizer infantilidade, comentar: “Mas eu gostaria que ele tivesse falado comigo. Ou pelo menos olhado para mim.”



 



– Não é ingratidão da sua parte pensar isso. – Lily afirmou apertando a mão de Harry com carinho – Dumbledore realmente está agindo de forma distante e fria… Não combina em nada com como ele te tratou nos anos anteriores…



– E ele pode até ter as razões dele para manter a distância, – Tiago concordou lentamente – mas ele está lidando com tudo isso de uma maneira um bocado desconsiderável… Ele podia pelo menos explicar o que está acontecendo e os motivos dele!



– Ele pode estar com medo de explicar para o Harry e acabar explicando qualquer coisa para Voldemort também. – Frank disse de repente – Se ele realmente não quer se aproximar do Harry por medo da ligação ser de mão dupla…



– Talvez valesse o risco. – Tiago disse, jogando os braços para cima exasperado – Garantir que Harry saiba que existe essa possibilidade é mais importante do que manter Voldemort no escuro sobre essa possibilidade… Porque se Harry souber o que está acontecendo, ele pode pelo menos tentar se proteger!



– Mas como ele poderia se proteger de uma coisa dessas? – Alice perguntou descrente.



– Oclumência, obviamente. – Severo respondeu sem paciência – Ele devia estar aprendendo oclumência desde a primeira ocorrência de conexão mental involuntária.



– Exatamente! – Tiago concordou enfático, espantando Severo um pouco – Dumbledore devia ter começado a ensinar oclumência para Harry desde o início! Desde a primeira vez em que ele desconfiou sobre a conexão!



 



Ao pensar nisso, sua cicatriz ardeu com tanta intensidade que ele levou depressa a mão à testa.



— Que foi? — perguntou Hermione, assustada.



— Cicatriz — murmurou Harry. — Mas não é nada... acontece o tempo todo agora...



Nenhum dos outros reparara em nada; todos agora se serviam e se regozijavam que Harry tivesse escapado por um triz; Fred, Jorge e Gina ainda cantavam, Hermione demonstrava uma certa ansiedade, mas, antes que pudesse dizer alguma coisa, Rony falou alegremente:



— Aposto como Dumbledore vai aparecer hoje à noite para festejar com a gente, sabe?



— Não acho que ele vá poder, Rony — disse a Sra. Weasley, pousando uma enorme travessa de galinha assada à frente de Harry. — Ele está realmente muito ocupado no momento.



“ELE CONSEGUIU, ELE CONSEGUIU, ELE CONSEGUIU...”



— CALEM A BOCA! — berrou a Sra. Weasley.



 



– Sim, muito ocupado. – Sirius bufou – Fazendo tudo o possível para evitar Harry!



 



Nos dias que se seguiram Harry não pôde deixar de reparar que havia uma pessoa no largo Grimmauld, número doze, que não parecia muito feliz com a sua volta a Hogwarts. Sirius encenara uma grande demonstração de felicidade logo que recebeu a notícia, apertou a mão de Harry e deu grandes sorrisos como todos os outros. Mas, não demorou muito, foi ficando mais triste e mais carrancudo do que antes, falando menos com as pessoas, até mesmo com Harry, e passando cada vez mais tempo trancado no quarto da mãe com Bicuço.



 



– Não acho que realmente tenha a ver com você voltar para Hogwarts sabe, – Tiago disse trocando um olhar significativo com Sirius – é a casa...



– Harry vai poder ir para Hogwarts, eu vou ficar preso naquela casa... – Sirius disse com um suspiro pesado.



– Tenho certeza de que tudo o que o Sirius do futuro gostaria era poder sair da casa e ir para Hogwarts também... – Tiago continuou baixando os ombros resignado – Aquele lugar faz muito mal a ele...



– Viver em uma caverna em Hogsmead comendo ratos me parece uma opção muito mais agradável! – Sirius disse confirmando as palavras de Tiago.



 



— Pare de se sentir culpado! — disse Hermione com severidade, depois que Harry desabafou seus sentimentos com ela e Rony enquanto faxinavam um armário mofado no terceiro andar, alguns dias mais tarde. — O seu lugar é em Hogwarts, e Sirius sabe disso. Na minha opinião, ele está sendo egoísta.



 



– Ele não está sendo egoísta! – Tiago disse para Hermione de modo ligeiramente agressivo – Você não tem ideia do que ele passou naquela casa! Ninguém devia ser obrigado a viver num lugar que faz tão mal!



– Eu sei... – Hermione disse, levantando as mãos em rendição – Eu não sabia... Mas agora eu sei. Desculpa! – completou virando-se para Sirius.



– Você não tinha como saber. – Sirius disse com um aceno de mão displicente.



– Ninguém entende como aquele lugar te faz mal... – Tiago bufou – E ficar preso se sentindo inútil não deve estar ajudando nada… Além disso, Sirius nunca iria querer Harry fora de Hogwarts! É mais fácil Sirius querer ir para Hogwarts junto com Harry para fugir do mausoléu!



 



— Você está sendo um pouco dura, Hermione — disse Rony, franzindo a testa enquanto tentava retirar um pouco do mofo agarrado em seu dedo — você não gostaria de ficar presa nesta casa sem ter companhia.



— Ele vai ter muita companhia! — disse Hermione. — Aqui é a sede da Ordem da Fênix, não é? Ele é que andou aumentando esperanças de que Harry viesse morar aqui.



 



– E pela primeira vez nós vemos Rony sendo uma pessoa muito mais sensível que Hermione. – Remo disse, balançando a cabeça descrente – Estou impressionado.



– Harry viver na casa dos Black com Sirius não faria tanta diferença assim. – Tiago disse revirando os olhos – O lugar é tóxico. A presença de Harry alegraria Sirius de alguma forma, tenho certeza, mas ele continuaria sentindo o mesmo.



– Eu jurei que nunca voltaria àquele lugar. – Sirius suspirou profundamente – Eu jurei a mim mesmo que nunca deixaria que alguém me prendesse novamente naquela casa...



– Eu sinto muito. – Hermione murmurou ligeiramente envergonhada – Eu não tinha ideia...



– Não precisa se desculpar comigo, – Sirius dispensou as palavras dela com um aceno de mão displicente – você não falou essas coisas sobre mim, porque nada disso aconteceu na minha vida...



– E se depender de mim não vai acontecer. – Tiago disse categórico.



 



— Não acho que seja verdade — disse Harry, torcendo o pano de limpeza. — Ele não quis me dar uma resposta direta quando perguntei se podia.



— Ele não queria era aumentar ainda mais as esperanças dele — respondeu Hermione sensatamente. — E é provável que se sentisse um pouco culpado, porque acho que em parte estava realmente desejando que você fosse expulso. Então os dois seriam marginalizados juntos.



— Ah, para com isso! — exclamaram Harry e Rony ao mesmo tempo, mas Hermione meramente encolheu os ombros.



— Como quiserem. Mas às vezes acho que a mãe de Rony está certa, e Sirius se confunde, sem saber se você é você mesmo ou seu pai, Harry.



 



– E eu aqui pensando que você era uma pessoa sensata! Eu esperava mais de você! – Remo disse, revirando os olhos para Hermione – Será que você não percebe? A questão não é Sirius achar que Harry é Tiago! Sirius é o padrinho de Harry, quer cuidar dele, protegê-lo, mantê-lo por perto!



– Todo mundo parece se esquecer desse pequeno detalhe. – Tiago concordou entredentes.



– E eu tenho bastante certeza de que eu tenho plena consciência de que meu melhor amigo, meu irmão, não está mais por perto... – Sirius disse obviamente descontente – Mesmo Harry sendo muito parecido com Tiago… Um nunca poderia substituir o outro.



 



— Então você acha que ele está meio biruta? — indagou Harry, inflamado.



— Não, só acho que passou muito tempo sozinho — respondeu Hermione com simplicidade.



Neste ponto da conversa, a Sra. Weasley entrou no quarto por trás dos meninos.



— Ainda não acabaram? — perguntou, metendo a cabeça no armário.



— Pensei que a senhora estivesse aqui para mandar a gente fazer uma pausa! — disse Rony com amargura. — Sabe quanto mofo nós limpamos desde que chegamos aqui?



— Vocês estavam tão dispostos a ajudar a Ordem — respondeu a Sra. Weasley — que tal fazerem a sua parte, deixando a sede decente para podermos viver nela?



 



– Como se isso fosse possível. – Sirius resmungou com amargura.



 



— Estou me sentindo um elfo doméstico — resmungou Rony.



— Bem, agora que você conhece a vida horrível que eles levam, quem sabe vai querer participar mais ativamente do F.A.L.E.! — disse Hermione esperançosa, quando a Sra. Weasley saiu e os deixou continuar. — Sabe, talvez não fosse má ideia mostrar às pessoas o horror que é viver limpando as coisas, poderíamos promover o patrocínio de uma faxina da sala comunal da Grifinória, em que toda a renda revertesse para o F.A.L.E.; isso ampliaria a consciência e os fundos do movimento.



 



– Você realmente acredita que conseguiria convencer alguém a pagar para fazer faxina? – Alice perguntou encarando Hermione com pena.



– Não custaria nada tentar. – Hermione deu de ombros.



 



— Vou patrocinar é o seu silêncio a respeito do F.A.L.E. — resmungou Rony irritado, mas somente Harry pôde ouvi-lo.



 



    Hermione virou-se para Rony para encará-lo, irritada.



 



Harry viu-se devaneando cada vez mais sobre Hogwarts à medida que o fim das férias se aproximava; mal podia esperar para rever Hagrid, jogar Quadribol e até andar pelas hortas a caminho da estufa de Herbologia; já seria uma festa e tanto deixar essa casa poeirenta e mofada, onde metade dos armários continuava trancada e Monstro chiava desaforos, escondido nas sombras quando alguém passava, embora Harry tivesse o cuidado de não comentar nada disso onde Sirius pudesse ouvi-lo.



 



– Por que não? – Sirius riu amargamente – Não é como se eu não soubesse quão ruim essa casa é… E você nem citou as piores partes!



 



O fato era que morar na sede do movimento anti-Voldemort não era nem de longe interessante ou excitante como Harry teria esperado que fosse antes de experimentar. Embora os membros da Ordem entrassem e saíssem regularmente, por vezes ficassem para comer, e outras vezes gastassem apenas uns minutinhos conversando aos cochichos, a Sra. Weasley tomava providências para que Harry e os outros estivessem bem longe para não ouvir (fosse com os ouvidos desarmados, fosse armados com as Orelhas Extensíveis) e ninguém, nem mesmo Sirius, parecia achar que Harry precisasse saber nada além do que já ouvira na noite da chegada.



 



– Eu duvido que alguém além de Dumbledore desconfie que a ligação entre Voldemort e Harry é de mão dupla… – Remo ponderou.



– Gosto de pensar que se meu eu-futuro soubesse disso, ele estaria tentando contar a Harry em todas as oportunidades que eu tivesse… – Sirius afirmou trocando um olhar com Tiago – Harry merece saber, para poder se proteger… Eu não acho que eu pensaria diferente em vinte anos…



 



No último dia de férias, Harry estava retirando a titica de Edwiges do topo do armário quando Rony entrou no quarto trazendo uns envelopes.



— Chegaram as listas de material — anunciou, atirando um dos envelopes para Harry, que estava em cima de uma cadeira.



 



– No último dia de férias? – Alice perguntou franzindo a testa – Mas isso é muito em cima da hora…



– Será que o de todas as pessoas teve esse atraso? – Remo perguntou confuso – Imagine como seria confuso para as famílias trouxas das crianças do primeiro ano terem que se acostumar com a ideia do mundo bruxo existindo e terem que deixar seus filhos virem para Hogwarts em apenas um dia?



– Fora as compras. – Lily concordou – Se meus pais tivessem ficado sabendo que sou uma bruxa na véspera do primeiro dia, eles não teriam me deixado vir… É muito difícil para as famílias trouxas deixarem os filhos irem para um lugar desconhecido… Seria pior sem ter tempo para se acostumar.



– Meus pais demoraram um mês inteiro para se acostumar com a ideia de me mandar para uma escola em outro país onde eles nem poderiam ir. – Hermione afirmou acenando com a cabeça – Eu já estava matriculada em outra escola… Já tinha até comprado o material e começado a estudar.



– Você já tinha decorado todos os livros da outra escola? – Rony perguntou com um meio sorriso carinhoso.



– Eles não eram tão interessantes quanto os de Hogwarts. – Hermione disse com um aceno de mão displicente, e depois completou com um murmúrio – Mas já tinha lido todos.



 



— Já não era sem tempo, pensei que tivessem esquecido, em geral mandam as listas muito mais cedo...



Harry varreu a última titica para dentro de um saco de lixo e atirou-o, por cima da cabeça de Rony, na lixeira a um canto, que o engoliu e soltou um sonoro arroto. Abriu então sua carta. Continha duas folhas de pergaminho: uma era o aviso habitual de que o trimestre começaria em primeiro de setembro; a outra listava os livros de que iria precisar durante o ano letivo.



— Somente dois livros novos — comentou ele passando os olhos na lista. — O livro padrão de feitiços, 5ª série, de Miranda Goshawk, e Teoria da defesa em magia, de Wilberto Slinkhard.



Craque.



Fred e Jorge aparataram bem ao seu lado. O garoto agora já estava tão acostumado com esse hábito dos gêmeos que nem ao menos caiu da cadeira.



— Estávamos justamente imaginando quem teria escolhido o livro de Slinkhard — disse Fred em tom de conversa.



— Porque isto significa que Dumbledore arranjou um novo professor de Defesa Contra as Artes das Trevas — disse Jorge.



 



– Me pergunto como Dumbledore ainda encontra professores dispostos a ocupar o cargo. – Sirius disse balançando a cabeça – É óbvio que o cargo é amaldiçoado!



– Isso é ridículo! – Lily bufou – Tenho certeza de que não é amaldiçoado! Hagrid já conhecia Quirrell como professor antes do ano começar, então ele deve ter sido professor por mais de um ano…



– Ele foi professor de Estudo dos Trouxas por alguns anos, depois ele tirou um ano para viajar ao redor do mundo e ganhar experiência em Defesa Contra as Artes das Trevas. Quando ele voltou Dumbledore deu a ele o cargo de professor de Defesa, já que ele já tinha contratado a professora Burbage para o cargo de Estudo dos Trouxas. – Hermione explicou pacientemente – E ele voltou da viagem no ano em que entramos em Hogwarts, então ficou apenas um ano no cargo…



– E nós nunca tivemos um professor que durou mais do que um ano. – Remo disse depois de alguns segundos – Em algum momento da história os professores de Defesa duravam mais do que isso… Mas atualmente…



– Mas isso é possível? Amaldiçoar um cargo? Sempre achei apenas fosse possível amaldiçoar objetos e pessoas. Coisas físicas. – Alice perguntou interessada.



– Nunca realmente estudamos sobre isso... – Tiago deu de ombros – Mas eu apostaria que é possível.



– É possível amaldiçoar qualquer coisa que você pode nomear. – Severo afirmou chamando a atenção de todos – Você pode nomear um cargo, portanto você pode amaldiçoá-lo.



 



— E já não era sem tempo — comentou Fred.



— Como assim? — perguntou Harry, saltando da cadeira para o lado deles.



— Bom, ouvimos, com as Orelhas, mamãe e papai conversando há umas semanas — explicou Fred a Harry — e, pelo que diziam, Dumbledore estava tendo muita dificuldade de encontrar alguém para o cargo este ano.



— O que não é nenhuma surpresa, quando a gente se lembra do que aconteceu com os últimos quatro — disse Jorge.



— Um foi despedido, um morreu, um teve a memória apagada e um passou nove meses trancado em um malão — disse Harry, contando nos dedos. — É, dá para entender o que você quer dizer.



 



– Eu pedi demissão, – Remo disse, levantando um braço para chamar a atenção de todos – muito diferente de ser demitido, muito mais digno.



– E você não deveria ter pedido demissão… Você não devia perder seu emprego só porque certas pessoas são rancorosas demais para manter a própria palavra. – Sirius disse olhando para Severo diretamente, com grande desagrado.



– Mas como o cargo é amaldiçoado, foi melhor eu pedir demissão do que ficar e acabar perdendo o cargo de outra forma… – Remo deu de ombros – Pelo menos a decisão foi minha.



– Uma decisão que você nunca deveria ter sido posto em posição de tomar. – Tiago disse, balançando a cabeça frustrado – Te expor daquela maneira… – Tiago trincou os dentes e desviou os olhos de Severo para tentar não se irritar com ele.



    Hermione acenou freneticamente para Neville voltar a ler, antes que os ânimos saíssem de controle.



 



— Que é que há com você, Rony? — indagou Fred.



Rony não respondeu. Harry virou a cabeça. Seu amigo estava muito quieto, com a boca meio aberta, olhando para a carta de Hogwarts.



— Qual é o problema? — perguntou Fred impaciente, dando a volta para espiar o pergaminho por cima do ombro do irmão.



A boca de Fred escancarou-se também.



— Monitor? — exclamou, olhando incrédulo para a carta. — Monitor?



Jorge deu um pulo à frente, puxou a carta da mão de Rony e virou-a de cabeça para baixo. Harry viu uma coisa vermelha e dourada cair na palma da mão de Jorge.



— Nem pensar — disse Jorge em voz baixa.



— Houve um engano — disse Fred, arrebatando a carta da mão de Rony e segurando-a contra a luz, como se procurasse a marca-d'água. — Ninguém com o juízo perfeito nomearia Rony monitor.



 



– Nunca imaginei que um de vocês dois se tornaria monitor... – Sirius disse olhando de Rony para Harry com atenção – Hermione, é claro, mas não um de vocês!



– Eu esperava que Neville recebesse... – Alice suspirou virando-se para Neville e encolhendo um ombro.



– Ninguém me obedeceria. – Neville deu de ombros sem se importar muito – Eu não saberia impor autoridade.



– E Rony saberia? – Gina perguntou com uma risadinha irônica.



– Não diga isso. – Harry disse encarando Gina – Rony se saiu muito bem como monitor. – completou sentindo-se mal pelo que sabia que estava por vir.



– Harry! – Hermione exclamou exaltada – Você não pode falar isso!



– Não é como se eu revelasse alguma coisa! – Harry respondeu exasperado – Só disse que meu amigo foi um bom monitor, nada revelador, não é?



– Sem saber o que aconteceu durante o ano não posso supor nada. – Tiago concordou com Harry sem esconder uma risada.



– Talvez tenha sido algo parecido com o que aconteceu comigo. – Remo disse rindo – Virei monitor porque Dumbledore e McGonagall pensavam que eu conseguiria controlar meus amigos...



– E é claro que você falhou miseravelmente. – Sirius disse com um grande sorriso.



– Acho que o que eles estão tentando dizer é: parabéns Rony! – Lily disse com um sorriso carinhoso.



 



As cabeças dos gêmeos se viraram ao mesmo tempo, e juntos encararam Harry.



— Achamos que só poderia ser você! — disse Fred num tom que sugeria que Harry os havia enganado.



— Achamos que Dumbledore teria de escolher você! — exclamou Jorge indignado.



— Depois de vencer o Tribruxo e tudo o mais — disse Fred.



— Suponho que toda essa história de loucura deve ter contado pontos contra ele — comentou Jorge para Fred.



— É — concordou Fred lentamente. — É, você criou muita confusão, cara. Bem, pelo menos um de vocês entendeu as prioridades deles corretamente.



E, aproximando-se de Harry, deu-lhe uma palmada nas costas, ao mesmo tempo que lançava a Rony um olhar fulminante.



 



– McGonagall nunca daria o distintivo para Harry! – Tiago disse com um aceno de mão displicente – Harry vem burlando regras desde o primeiro ano!



– Com Rony e Hermione. – Sirius disse, encarando os três com atenção – É claro que Hermione compensa isso sendo a melhor aluna da turma, mas Rony e Harry nem ao menos se esforçam para compensar as transgressões!



– Nós só transgredimos regras para salvar todo mundo de Voldemort! – Rony disse em tom de justificativa.



– E todo mundo acha que vocês poderiam obter os mesmos resultados de outras maneiras... Ou que vocês poderiam deixar isso para os adultos. – Remo deu de ombros.



– Nós tentamos isso. – Harry afirmou – Várias vezes… Mas não obtivemos resultados…



 



— Monitor... Roniquinho, o Monitor.



— Ah, mamãe vai dar náuseas — gemeu Jorge, atirando o distintivo de volta a Rony como se quisesse evitar contaminação.



Rony, que ainda não dissera uma palavra, apanhou o distintivo, contemplou-o por um momento, então estendeu-o, calado, para Harry, como se pedisse uma confirmação de que era autêntico.



 



– Eu acho que estava esperando sua aprovação… – Rony disse trocando um olhar significativo com Harry – Você não tinha dito nada até aquele momento… E eu não sabia o que pensar… Se você pensaria como Fred e Jorge…



    Harry não respondeu, estava constrangido pelo que sabia que havia pensado na época, que com certeza apareceria no livro em seguida. Saber que Rony precisava tanto de sua aprovação só piorava as coisas.



 



Harry o recebeu. Havia um grande “M” sobreposto ao leão de Grifinória. Vira um distintivo exatamente igual no peito de Percy em seu primeiro dia de Hogwarts.



A porta se abriu com estrondo. Hermione entrou correndo no quarto, as bochechas vermelhas e os cabelos esvoaçando. Trazia um envelope na mão.



— Você... você recebeu...?



Ela viu o distintivo na mão de Harry e soltou um grito agudo.



— Eu sabia! — exclamou, excitada, brandindo a carta na mão. — Eu também, Harry, eu também!



— Não — apressou-se Harry a dizer, devolvendo o distintivo a Rony. — Foi o Rony e não eu.



— É... o quê?



— Rony é o monitor e não eu — explicou Harry



— Rony? — admirou-se Hermione, de queixo caído. — Mas... você tem certeza? Quero dizer...



 



– Acho que ninguém se surpreendeu por você ter sido escolhida monitora. – Remo disse virando-se para Hermione – Era simplesmente a escolha mais óbvia.



    Hermione olhou para Rony e corou.



– Isso não foi nada agradável na época. – Rony disse balançando a cabeça lentamente.



– Eu não quis te subestimar… – Hermione justificou constrangida – Mas o distintivo estava na mão de Harry… E depois de tudo o que aconteceu, pensei que Dumbledore faria de Harry monitor para mostrar para todo mundo que confia nele e tudo mais…



– É uma teoria interessante. – Remo disse levantando a sobrancelha para Hermione – Mas ainda assim, não acho que Dumbledore colocaria tantas responsabilidades em cima de Harry nesse momento…



– Eu gostaria que Harry fosse monitor, mas também acho que Harry já passou por muitas coisas ao longo dos anos e merecia um ano um pouco mais calmo, ainda mais com os N.O.M.’s… – Lily disse observando Harry de soslaio.



 



A garota ficou muito vermelha quando Rony se virou para ela com uma expressão de desafio no rosto.



— É o meu nome que está na carta.



— Eu... — começou Hermione totalmente perplexa. — Eu... bem... uau! Parabéns, Rony. É realmente...



— Inesperado — concluiu Jorge, confirmando com a cabeça.



— Não — disse Hermione, ficando mais vermelha que nunca — não, não é que... Rony fez montes de... ele realmente...



A porta às costas dos garotos se abriu um pouco mais e a Sra. Weasley entrou de marcha a ré no quarto, trazendo uma pilha de vestes recém-lavadas.



 



– Mamãe te salvou de ter que completar o que estava dizendo… – Gina disse, rindo do constrangimento de Hermione.



– Eu ia dizer que Rony quebrou muitas regras… – Hermione bufou cruzando os braços sobre os peito.



– Tantas quanto você. – Rony respondeu categórico – Um pouco menos que Harry… Por que é tão estranho assim que tenham me escolhido? Por que todo mundo acha que deveria ser Harry?



– Eu não acho! – Sirius e Tiago afirmaram ao mesmo tempo.



– Harry não precisa da chateação que é ser monitor. – Remo confirmou – E eu digo isso por experiência própria.



– Eu gostei de ser monitora... – Lily confessou – Mas também acho que são coisas demais para fazer… Ainda mais com tudo o que está acontecendo.



 



— Gina me disse que as listas de material afinal chegaram — disse ela, vendo todos aqueles envelopes ao se dirigir à cama onde começou a separar as vestes em duas pilhas. — Se vocês me entregarem as listas, irei até o Beco Diagonal hoje à tarde e comprarei tudo, enquanto vocês fazem as malas. Rony, terei de comprar mais pijamas para você, estes estão no mínimo quinze centímetros mais curtos do que deveriam. Não consigo acreditar como você está crescendo tão depressa... que cor você gostaria?



— Compre vermelho e dourado para combinar com o distintivo — disse Jorge, rindo.



— Combinar com o quê? — perguntou a Sra. Weasley, distraída, enrolando um par de meias castanho-avermelhadas e depositando-as na pilha de Rony.



— O distintivo dele — repetiu Fred, com ar de quem quer acabar depressa com a pior parte. — O novo, belo e reluzente distintivo de monitor dele.



A preocupação com os pijamas impediu que a Sra. Weasley entendesse imediatamente as palavras de Fred.



— Dele... mas... Rony, você não é...?



Rony mostrou o distintivo.



A Sra. Weasley soltou um grito agudo igual ao de Hermione.



— Eu não acredito! Eu não acredito! Ah, Rony, que maravilha! Monitor! Como todos na família!



— Que é que Fred e eu somos, filhos do vizinho? — perguntou Jorge indignado, enquanto a mãe o empurrava para o lado e abria os braços para apertar o filho mais novo.



 



– Fred e Jorge sempre se sentiram meio rejeitados quando mamãe fazia essas coisas… – Gina disse mordendo o lábio, nervosa – Mamãe é ótima, mas às vezes ela esquece que cada um de nós é diferente dos outros… Está sempre nos comparando e isso pode ser bem irritante…



– É. – Rony concordou – Eu tinha acabado de virar monitor, e ela já estava me lembrando que aquilo não era novidade nenhuma…



– Fred e Jorge sempre se esforçaram para ser o mais diferente dos nossos outros irmãos o possível… – Gina disse com um meio sorriso triste – Eu sempre quis ser igual aos meus irmãos, justamente por mamãe me tratar de forma diferente.



– Deve ser muito difícil ter que crescer com tantos irmãos ao mesmo tempo. – Lily disse virando-se de Gina para Rony com atenção.



– Não é ruim. – Gina admitiu – Você sempre tem alguém para cuidar de você quando está precisando. – acrescentou trocando um olhar com Rony – Papai é melhor em nos tratar como indivíduos do que mamãe…



– Ela sempre parece querer padronizar vocês. – Sirius disse pensativo – Cortar os cabelos de Gui, impedir Fred e Jorge de trabalhar com logros…



– Mas ela melhorou com o tempo. – Rony admitiu encolhendo os ombros – Depois que Voldemort voltou e a guerra recomeçou, acho que mamãe começou a dar valor para as coisas certas…



 



— Espere só até o seu pai saber! Rony, estou tão orgulhosa de você, que notícia maravilhosa, você pode acabar monitor-chefe como Gui e Percy, esse é o primeiro passo. Ah, que coisa para acontecer no meio de toda essa preocupação, estou encantada, ah, Roninho...



 



– Mas você não precisa ser monitor para se tornar monitor-chefe… – Sirius disse acenando com cabeça na direção de Tiago.



    Tiago soltou um grunhido de desagrado e acenou para Neville continuar lendo.



 



Fred e Jorge estavam fingindo grandes ânsias de vômito às costas da mãe, mas a Sra. Weasley nem reparou: os braços apertados em torno do pescoço de Rony, ela o beijava por todo o rosto, que se tornara vermelho mais intenso do que o distintivo.



— Mamãe... não... mamãe, se controla... — murmurava ele, tentando afastá-la.



Ela o soltou, e disse ofegante:



— Bom, então o que vai ser? Demos a Percy uma coruja, mas naturalmente você já tem uma.



— Q-que é que você quer dizer? — perguntou o garoto, com cara de quem não ousa acreditar no que está ouvindo.



 



– Eu nunca ganhava coisas novas. – Rony explicou constrangido – A única coisa que eu tinha que não era de segunda mão era minha varinha… E isso só porque eu quebrei a varinha que era de Carlinhos no segundo ano.



– E antes da varinha ser de Carlinhos ela era de nosso tio Fabio. – Gina lembrou de repente – Mamãe guardou várias coisas dos irmãos… E nos deu ao longo dos anos.



 



— Você tem de ganhar uma recompensa por isso! — disse a Sra. Weasley carinhosamente. — Que tal um belo conjunto de vestes a rigor?



— Já compramos isso para ele — disse Fred com amargura, parecendo sinceramente arrependido de sua generosidade.



— Ou um caldeirão novo, o velho caldeirão de Carlinhos está todo enferrujado, ou um rato novo, você sempre gostou do Perebas...



 



– Acho que depois de descobrir que Perebas era na verdade um animago, que traiu os pais do meu melhor amigo, eu adquiri um certo trauma de ratos… – Rony disse franzindo a testa em desagrado.



– Quem não se traumatizaria? – Alice perguntou acenando com a cabeça em concordância.



 



— Mamãe — pediu Rony esperançoso — posso ganhar uma vassoura nova?



 



– Uma vassoura? – Tiago perguntou interessado – Você está pensando em tentar uma vaga no time?



– Ele não pode responder. – Hermione disse antes que Rony tivesse a oportunidade de abrir a boca.



– Mas só pode ser isso! – Tiago disse empolgado – Porque outro motivo Rony poderia querer uma vassoura nova? Especialmente nesse momento? Vocês nem estão morando na Toca onde você teria espaço para usar a vassoura…



– Talvez ele queira para voar com Harry em Hogwarts. – Lily deu de ombros – Ou para jogar nos fins de semana…



– Não… – Tiago disse com um aceno de mão displicente – Rony vai tentar uma vaga no time, e para realmente ter chance de entrar ele precisa de uma boa vassoura… Wood se formou no ano anterior, a posição de goleiro está vaga… Assim como a de capitão. Fico imaginando quem vai ser o novo capitão. Já sabemos que não foi um dos gêmeos… Só pode ser uma das meninas e…



    Lily colocou a mão na boca de Tiago para impedi-lo de continuar.



– Se você não parar vamos ter que te silenciar de novo. – ela cochichou no ouvido dele.



 



A Sra. Weasley pareceu ligeiramente desapontada; vassouras eram caras.



— Não precisa ser uma realmente boa! — Rony se apressou a acrescentar. — Só... só nova para variar...



A Sra. Weasley hesitou, em seguida sorriu.



— Claro que pode... bem, então é melhor eu ir andando se tenho de comprar uma vassoura também. Vejo vocês mais tarde... meu Roniquinho, monitor! E não se esqueça de fazer suas malas... monitor... ah, estou vibrando!



Ela deu mais um beijo na bochecha de Rony, fungou alto e saiu apressada do quarto.



Fred e Jorge se entreolharam.



— Você não se incomoda se a gente não beijar você, não é, Rony? — perguntou Fred, num tom de fingida ansiedade.



— Podemos fazer uma reverência, se você quiser — sugeriu Jorge.



— Ah, calem a boca — disse Rony, amarrando a cara para os irmãos.



— Se não? — disse Fred, com um sorriso maligno se espalhando pelo rosto. — Vai nos tascar uma detenção?



— Eu adoraria que ele tentasse — debochou Jorge.



 



– Se Rony for como eu, ele nunca vai conseguir dar detenções para os amigos, ou para os irmãos. – Remo disse trocando um olhar cúmplice com Rony – Ninguém gosta de ser o estraga prazeres… E ser colocado na posição de monitor quando se tem amigos como os nossos…



 



— E ele pode, se vocês não se cuidarem! — disse Hermione aborrecida.



Os gêmeos caíram na gargalhada, e Rony murmurou:



— Deixa pra lá, Mione.



— Vamos ter de tomar cuidado com o que fizermos, Jorge — disse Fred, fingindo tremer — com esses dois atrás da gente...



— É, parece que os nossos dias de desrespeito à lei finalmente terminaram — disse Jorge, sacudindo a cabeça.



E, com mais um barulhento craque, os gêmeos desaparataram.



— Esse dois — exclamou Hermione furiosa, olhando para o teto, pelo qual eles agora ouviam Fred e Jorge rir às gargalhadas no quarto de cima. — Não ligue para eles, Rony, só estão com ciúmes!



 



– Eu duvido muito que estivessem com ciúmes. – Gina disse balançando a cabeça – Fred e Jorge nunca quiseram ser monitores, eles sempre tiveram horror a qualquer coisa que os colocasse em uma posição em que eles teriam que ter mais obrigações do que diversão.



– Eu entendo eles completamente. – Sirius afirmou e recebeu acenos enfáticos de concordância de Tiago.



 



— Não acho que estejam — disse Rony em dúvida, olhando para o teto. — Eles sempre disseram que só babacas viram monitores... ainda assim — acrescentou mais alegre — eles nunca tiveram vassouras novas! Eu gostaria de ir com mamãe escolher... ela nunca terá dinheiro para uma Nimbus, mas saiu uma Cleansweep que seria ótima... é, acho que vou dizer a ela que gostaria de ganhar uma Cleansweep, só para ela saber...



E saiu correndo do quarto, deixando Harry e Hermione sozinhos.



Por alguma razão, Harry achou que não queria olhar para a amiga. Virou-se para sua cama, apanhou a pilha de vestes limpas que a Sra. Weasley tinha deixado ali e levou-as para o outro lado do quarto onde estava o seu malão.



 



    Vários pares de olhos viraram-se para Harry ao mesmo tempo em dúvida. Mas Harry manteve o olhar baixo e não quis encarar nenhum deles.



 



— Harry? — chamou Hermione hesitante.



— Parabéns, Mione — disse ele, tão efusivamente que nem parecia sua voz, e ainda sem olhar — genial. Monitora. Legal.



— Obrigada — disse a garota. — Hum... Harry... posso pedir a Edwiges emprestada para mandar dizer à mamãe a ao papai? Eles vão ficar realmente satisfeitos... quero dizer, monitor é uma coisa que eles conseguem entender.



— Pode, sem problema — respondeu, ainda com aquela horrível cordialidade na voz que não era sua. — Pode levar!



 



– Eu realmente achei que você não estava normal… – Hermione murmurou, mas ainda assim Harry não levantou os olhos para ela.



 



Harry se inclinou para o malão, depositou as vestes no fundo e fingiu estar procurando alguma coisa, enquanto Hermione ia até o armário e pedia a Edwiges para descer. Alguns minutos se passaram; Harry ouviu a porta fechar, mas continuou curvado, escutando; os únicos sons que ouvia eram os do retrato vazio na parede dando risadinhas e a cesta de lixo no canto regurgitando a titica de coruja.



Ele se endireitou e olhou para trás. Hermione saíra e levara com ela Edwiges. Harry voltou vagarosamente até sua cama e se largou nela, fixando o olhar, sem ver, na parte inferior do armário.



Esquecera completamente que os monitores eram escolhidos no quinto ano. Estivera demasiado ansioso com a possibilidade de ser expulso para sequer pensar que os distintivos deviam estar sendo enviados para certas pessoas. Mas se ele tivesse lembrado... tivesse pensado... que teria esperado?



 



– Se eu tivesse parado para pensar nisso, teria cogitado que Dino seria escolhido. – Tiago disse pensativo.



– Dino pareceria uma boa escolha. – Sirius concordou – Ele não se mete em confusões como vocês dois…



– E não acho que Simas daria um bom monitor. – Remo disse acenando com a cabeça.



– Mas nunca pensaria em um de vocês três. – Tiago completou virando-se de Harry, ainda de cabeça baixo, para Rony e depois para Neville – Só o fato de vocês estarem aqui prova que  vocês são grandes quebradores de regras!



– Neville não é um quebrador de regras. – Alice disse defensiva – As poucas vezes em que ele quebrou regras foi completamente acidental.



– Ainda assim, ele quebrou. – Sirius afirmou encolhendo os ombros.



 



Não isso, disse uma vozinha sincera dentro de sua cabeça.



Harry amarrou a cara e enterrou-a nas mãos. Não podia mentir para si mesmo; se tivesse sabido que o distintivo de monitor estava a caminho, teria esperado que viesse para ele e não para Rony. Será que isto o fazia tão arrogante quanto Draco Malfoy? Será que se achava superior a todos? Será que realmente acreditava que era melhor do que Rony?



 



    Rony virou-se para Harry com ansiedade, mas Harry não levantou os olhos para encará-lo.



– Mas você queria ser monitor? – Tiago perguntou a Harry franzindo a testa ligeiramente confuso – Por que?



– Algumas pessoas acham que é uma honra, sabe? – Lily disse colocando as mãos na cintura parecendo um pouco ofendida.



– É uma carga enorme de responsabilidades e pouquíssimas recompensas. – Tiago deu de ombros – Harry vai poder entrar no banheiro dos monitores assim que ele se tornar capitão do time de quadribol, e todo mundo sabe que ele vai ser. Fora isso, para que Harry ia querer acompanhar alunos do primeiro ano por aí, fazer rondas nos corredores e ter que punir pessoas por fazerem exatamente o mesmo que ele vem feito há anos?



– É claro que Remo ser monitor nos deu algumas vantagens. – Sirius disse trocando um olhar com Tiago e Remo – Conseguimos nos livrar de várias coisas... Mas os professores aprenderam bem rápido a não colocar a responsabilidade de nos controlar em Remo.



– Ou seja, – Remo disse rindo – os professores se arrependeram bem rápido de ter me feito monitor... Deve ser por isso que Dumbledore escolheu Tiago como monitor-chefe.



– E eu continuo achando que são responsabilidades demais para poucas recompensas. – Tiago bufou com uma expressão de desgosto – Ainda mais contando o fato de que sou capitão do time de quadribol!



– Acho que Dumbledore pensou que se conseguir te ocupar o bastante você não vai ter tempo de causar problemas. – Sirius disse com uma risada irônica – É óbvio que Dumbledore não tem ideia da sua capacidade! Ou dos nossos planos para o último ano!



– Que tipo de planos? – Lily perguntou entre curiosa e assustada.



– Espere e verá. – Sirius disse com um meio sorriso maroto.



– Enfim, – Tiago voltou a falar encarando Harry – ser monitor, não é tão bom assim. E para mim, não vale a pena!



    Harry deixou escapar um sorrisinho de canto de boca, mas ainda assim não levantou os olhos, estava constrangido pelo modo como se comportou.



 



Não, disse a vozinha desafiando-o.



— Seria verdade? — Harry se perguntou, sondando ansiosamente os próprios sentimentos.



SOU melhor em Quadribol, disse a voz. Mas não sou melhor em mais nada. O que decididamente era verdade, pensou Harry; não era melhor que Rony nas aulas. Mas e nas aulas externas? E naquelas aventuras que ele, Rony e Hermione viviam juntos desde que entraram para Hogwarts, muitas vezes correndo riscos maiores que a expulsão?



Bom, Rony e Hermione estiveram comigo na maior parte do tempo, disse a voz na cabeça de Harry.



Mas não o tempo todo, argumentou Harry. Eles não lutaram contra Quirrell. Eles não enfrentaram o Riddle nem o basilisco. Eles não se livraram dos dementadores na noite em que Sirius fugiu. Eles não estiveram no cemitério, na noite em que Voldemort voltou…



E o mesmo sentimento de estar sendo usado, que o invadira na noite em que chegara, tornou a despertar. Decididamente eu fiz mais, pensou indignado. Fiz mais do que qualquer um deles!



 



– Esse é um caminho muito perigoso para seguir. – Remo disse observando Harry, preocupado – Eles podem até não ter ido até o final com você, mas se eles não tivessem estado lá, você não chegaria ao final…



– Eu sei. – Harry murmurou constrangido – Eu sei… – repetiu levantando os olhos para Rony, que parecia desolado – Eu não queria… Eu estava confuso…



– Tudo bem. – Rony disse, mas Harry sabia que não estava tudo bem – Eu senti inveja de você várias vezes por vários motivos, é bom saber que você sentiu inveja de mim algumas vezes também… Coloca nós dois no mesmo nível…



– Mas eu não deveria ter… – Harry disse, nervoso.



– Não se preocupe com isso. – Rony disse levantando a mão e impedindo Harry de continuar falando – Nós já passamos por coisas demais juntos para você ficar se preocupando com isso. Vamos dizer que estamos quites e seguir em frente.



 



Mas talvez, disse a vozinha com imparcialidade, talvez Dumbledore não escolha os monitores porque eles vivam se metendo em situações perigosas... talvez ele os escolha por outras razões... Rony deve ter alguma coisa que você não tem...



Harry abriu os olhos e fixou, por entre os dedos, os pés de garra do armário, lembrando-se do que Fred dissera: “Ninguém com o juízo perfeito nomearia Rony monitor...”



Harry soltou uma risada abafada. Um segundo depois sentiu nojo de si mesmo.



Rony não pedira a Dumbledore para lhe dar o distintivo de monitor. Não era culpa de Rony. Será que ele, Harry, o melhor amigo de Rony no mundo, ia ficar emburrado porque não ganhara um distintivo, ia rir com os gêmeos às costas do amigo, estragar, para Rony, este momento em que, pela primeira vez, ele levava a melhor sobre Harry em alguma coisa?



 



– Não é a primeira vez, sabe? – Harry disse para Rony – Essa não foi a primeira vez que eu senti um pouco de inveja de você… Eu sentia inveja o tempo todo por você ter uma família… Mãe, pai, irmãos…



– E eu sentia inveja de você por vários outros motivos. – Rony respondeu encolhendo os ombros – Mas estamos aqui para mudar algumas dessas coisas… Eu não me importo que você tenha sentido inveja, desde que você também não se importe por eu ter sentido por anos… Não é isso que vai mudar nossa amizade.



    Harry acenou com a cabeça encarando Rony intensamente, Rony respondeu ao aceno com confiança.



 



Neste ponto, ele ouviu os passos de Rony subindo a escada. Ficou em pé, ajeitou os óculos e engrenou um sorriso quando Rony embarafustou pela porta.



— Apanhei-a bem em tempo! — disse feliz. — Ela disse que vai comprar a Cleansweep, se puder.



— Legal — exclamou Harry, e sentiu alívio ao perceber que sua voz perdera a falsa cordialidade. — Escute aqui... Rony... parabéns, cara.



O sorriso desapareceu do rosto de Rony.



— Eu nunca pensei que seria eu! — disse, sacudindo a cabeça. — Pensei que seria você!



— Nah, eu criei muitos problemas — disse Harry, fazendo coro a Fred.



— É, é, suponho... bom, é melhor a gente fazer as malas, não acha?



 



– Eu não tinha ideia de que você tinha ficado chateado. – Rony admitiu – Você escondeu bem… Obrigado. – completou com sinceridade – Acho que eu não lidaria bem com isso na época…



 



Era estranho como os pertences dos dois pareciam ter-se espalhado desde que haviam chegado ali. Levaram quase a tarde inteira para reunir os livros e outras coisas largadas pela casa e guardá-las de volta nos malões de escola.



Harry reparou que o amigo não parava de mexer no distintivo, primeiro colocou-o sobre a mesa-de-cabeceira, depois guardou-o no bolso da jeans, por fim tirou-o e ajeitou-o sobre as vestes dobradas, como se quisesse ver o efeito do vermelho sobre o negro. Somente quando Fred e Jorge apareceram e se ofereceram para prendê-lo à testa dele com um Feitiço Adesivo Permanente, é que ele o embrulhou carinhosamente nas meias castanhas e trancou-o no malão.



 



– Eu estava agindo exatamente como Percy! – Rony admitiu chocado.



– Que bom que agora você é capaz de admitir isso! – Gina respondeu com uma risada.



 



A Sra. Weasley voltou do Beco Diagonal por volta de seis horas, carregada de livros e mais um embrulho comprido, de papel pardo grosso, que Rony tirou das mãos dela com um gemido de desejo.



— Não precisa desembrulhar agora, as pessoas estão chegando para o jantar, quero todos lá embaixo — disse a mãe; mas, no instante em que ela desapareceu de vista, o garoto rasgou o papel num frenesi e examinou cada centímetro da vassoura nova, com uma expressão de êxtase no rosto.



 



– Sua mãe te pediu para não abrir a vassoura como se ela não tivesse outros cinco filhos fanáticos por quadribol. – Tiago disse balançando a cabeça – É impossível não desembrulhar uma vassoura nova!



 



Embaixo, no porão, a Sra. Weasley pendurou uma flâmula vermelha sobre a mesa de jantar coberta de iguarias, em que se lia:



PARABÉNS



RONY E HERMIONE



OS NOVOS MONITORES



Ela parecia muito mais animada do que Harry a vira durante todo o período das férias.



— Pensei em fazer uma festinha e não um jantar à mesa — disse a Harry, Rony, Hermione, Fred, Jorge e Gina quando eles entraram no aposento. — Seu pai e Gui estão a caminho, Rony. Despachei corujas para os dois, e eles ficaram entusiasmados — acrescentou sorridente.



Fred girou os olhos para o teto.



Sirius, Lupin, Tonks e Kingsley Shacklebolt já estavam ali, e Olho-Tonto Moody chegou, batendo a perna de pau, logo depois de Harry se servir de uma cerveja amanteigada.



— Ah, Alastor, que bom que você está aqui — cumprimentou a Sra. Weasley animada, quando Olho-Tonto sacudiu do corpo a capa de viagem. — Há séculos que andamos querendo pedir a você: será que podia dar uma olhada na escrivaninha da sala de visitas e nos dizer o que é que tem lá dentro? Não quisemos abri-la, porque pode ser alguma coisa realmente ruim.



— Pode deixar comigo, Molly...



O olho azul elétrico de Moody girou para o alto e fixou-se no teto da cozinha, transpassando-o.



— Sala de visitas... — rosnou à medida que sua pupila se contraía. — Escrivaninha no canto? É, estou vendo... é, é um bicho-papão... quer que eu suba e me livre dele, Molly?



 



– Se Moody pode ver o bicho-papão, sem o bicho papão vê-lo, será que Moody enxerga a forma verdadeira do bicho-papão ou o bicho-papão de alguma forma sabe no que se transformar? – Remo perguntou coçando a cabeça confuso – Ninguém conhece a forma verdadeira de um bicho-papão afinal, mas se Moody consegue vê-lo…



– Acho que Moody consegue ver sua forma original. – Sirius deu de ombros – Mas nunca ouvimos falar nada sobre isso porque o olho de Moody é algo que nunca vimos na vida.



– O olho dele também vê por baixo de capas de invisibilidade… – Tiago disse acenando com a cabeça – Me pergunto de onde veio o olho, e como ele consegue atravessar tantas coisas…



– É uma ótima pergunta. – Hermione admitiu – E eu não tenho ideia da resposta…



– Então os livros não vão revelar nada sobre o olho de Moody. – Tiago disse ligeiramente decepcionado – Se tudo der certo vou tentar descobrir de onde ele tirou o olho…



 



— Não, não, eu mesma farei isso mais tarde — sorriu a Sra. Weasley — tome a sua bebida. Na verdade estamos fazendo uma pequena comemoração... — disse, indicando a flâmula vermelha. — O quarto monitor na família! — disse com carinho, arrepiando os cabelos de Rony.



 



– Não sabia que Carlinhos também tinha sido monitor... – Remo disse, virando-se de Rony para Gina interessado.



– Carlinhos não foi realmente um bom monitor. – Gina disse com um aceno de mão displicente – Ele estava sempre mais interessado em andar atrás de Hagrid, aprendendo sobre criaturas mágicas, e em jogar quadribol.



– Sua família é praticamente uma fábrica de monitores para Hogwarts... Me pergunto se você vai ser monitora também… – Frank perguntou encarando Gina com interesse.



Gina deu uma gargalhada, mas não respondeu.



– Suponho que você não possa contar. – Sirius disse rindo – Mas desconfio que Gina tenha seguido o caminho de Fred e George. Um caminho muito mais interessante se quer saber a minha opinião.



 



— Monitor, é? — resmungou Moody, seu olho normal fixando-se em Rony e o mágico girando para olhar um lado da própria cabeça.



Harry teve a sensação muito desagradável de que ele o observava, e afastou-se em direção a Sirius e Lupin.



— Bem, então meus parabéns — disse Moody, ainda olhando para Rony com o olho normal — figuras de autoridade sempre atraem problemas, mas suponho que Dumbledore o considere capaz de resistir à maioria das principais azarações, ou não o teria nomeado...



 



– Acho que Moody é o único que poderia encarar as coisas por esse lado. – Sirius disse com uma gargalhada canina – Paranóico do jeito que ele é…



– Prevenido. – Tiago corrigiu automaticamente – Mas ele não deixa de ter razão… Nesse momento pelo menos… Os monitores seriam os responsáveis por cuidar dos alunos mais novos em caso de ataque à escola. E com Voldemort de volta, isso é uma possibilidade.



– Eu realmente espero que vocês não tenham tido que cuidar dos alunos durante um ataque. – Lily disse encarando Hermione e Rony com apreensão.



 



Rony pareceu bastante espantado com esta opinião, mas não foi preciso responder graças à chegada do pai e do irmão mais velho. A Sra. Weasley estava de tão bom humor que sequer reclamou de terem trazido Mundungo com eles; o bruxo usava um casaco longo que parecia estranhamente volumoso em lugares improváveis, e não aceitou o oferecimento de tirá-lo e guardá-lo junto à capa de viagem de Moody.



 



– Um pouco mais de contrabando, eu suponho. – Sirius disse rindo.



 



— Bom, acho que a ocasião pede um brinde — disse o Sr. Weasley, depois que todos se serviram de bebidas. Ele ergueu o cálice. — A Rony e Hermione, os novos monitores da Grifinória!



Os dois garotos sorriram enquanto todos brindavam e em seguida os aplaudiam.



— Eu nunca fui monitora — disse Tonks animada, às costas de Harry, quando os convidados se aproximaram da mesa para se servir. Seus cabelos hoje estavam vermelho-tomate e batiam na cintura; ela parecia irmã mais velha de Gina. — A diretora da minha Casa disse que me faltavam certas qualidades necessárias.



— Quais, por exemplo? — perguntou Gina, que estava escolhendo uma batata assada.



— A capacidade de me comportar — disse Tonks.



 



– Bom saber que minha prima tem as prioridades no lugar certo. – Sirius disse em meio às gargalhadas dos outros.



– Ela é realmente divertida. – Remo concordou rindo.



 



Gina riu; Hermione parecia não saber se ria ou não e escolheu um meio-termo, servindo-se de um gole exagerado de cerveja amanteigada e se engasgando.



— E você, Sirius? — perguntou Gina, batendo nas costas de Hermione.



Sirius, que estava bem ao lado de Harry, soltou a risada de sempre, que lembrava um latido.



— Ninguém teria me nomeado monitor, eu passava tempo demais detido com Tiago. Lupin era o garoto bem-comportado, ele ganhou o distintivo.



— Acho que Dumbledore talvez tivesse esperanças de que eu fosse capaz de exercer algum controle sobre os meus melhores amigos — disse Lupin. — Não preciso dizer que falhei miseravelmente.



 



– Eu, monitor… – Sirius riu balançando a cabeça descrente – Parece até uma piada de mau gosto.



 



O estado de ânimo de Harry subitamente melhorou. Seu pai também não fora monitor. De repente, a festa pareceu muito mais divertida; encheu seu prato, sentindo gostar duas vezes mais de todos que estavam presentes.



 



– Mesmo com o mapa, o Sirius e tudo o que você descobriu sobre mim, você pensou que eu seria monitor? – Tiago perguntou com uma risada.



– Você é monitor-chefe. – Harry disse categórico.



– Dumbledore está fazendo uma tentativa desesperada de me manter sob controle. – Tiago respondeu com um aceno de mão displicente – Do jeito que eu sempre me meti em confusões, ninguém me faria monitor!



– Mas eu sou monitora. – Lily murmurou um pouco chateada, sentia que Harry nunca se importava com ela, ou com o que ela havia feito na escola, pelo menos não da forma como se importava com as opiniões de Tiago.



    Harry virou-se para Lily e apertou sua mão com carinho, mas não respondeu.



 



Rony elogiava com entusiasmo as qualidades de sua vassoura nova para quem quisesse ouvi-lo.



—... de zero a cem quilômetros em dez segundos, nada mal, hein? Quando se pensa que a Comet 290 só atingia noventa e cinco, e isso com um bom vento de cauda, segundo o Qual Vassoura?.



Hermione estava conversando muito séria com Lupin sobre suas ideias a respeito dos direitos dos elfos.



— Quero dizer, é o mesmo tipo de absurdo que a segregação de lobisomens, não é? Tudo isso parece nascer dessa horrível maneira dos bruxos se acharem superiores aos outros seres...



 



– E não apenas superiores a outros seres, – Tiago disse a Hermione – mas também superiores a outros bruxos, como nascidos-trouxas e até mestiços… Os bruxos de puro-sangue pensam que são os seres mais importantes do mundo.



– Não todos. – Sirius afirmou acenando com a cabeça em direção a Tiago – E é claro que com isso eu não tenho intenção alguma de me livrar da culpa… – completou levantando os braços em sinal de rendição – Mas conheço alguns bruxos de puro-sangue que se esforçam mais pelo igualdade do que alguns mestiços…



 



A Sra. Weasley e Gui requentavam a mesma discussão de sempre sobre o cabelo do rapaz.



—... está realmente passando dos limites, e você é tão bonito, ficaria muito melhor se os cortasse mais curtos, você não acha, Harry?



— Ah... não sei... — disse Harry, ligeiramente assustado por perguntarem sua opinião; afastou-se discretamente e foi em direção a Fred e Jorge, que estavam agrupados em um canto com Mundungo.



O bruxo parou de falar quando avistou Harry, mas Fred deu uma piscadela e fez sinal para o garoto se aproximar.



— Tudo bem — disse ele a Mundungo — podemos confiar no Harry, é ele quem nos dá suporte financeiro.



— Olha só o que o Dunga arranjou para nós — disse Jorge, estendendo a mão para Harry.



Estava cheia de alguma coisa que lembrava vagens murchas. Produziam um barulhinho abafado de chocalho, embora estivessem completamente paradas.



— Sementes de tentáculos venenosos — esclareceu Jorge. — Precisamos delas para o kit Mata-Aula, mas são substâncias não-comerciáveis classe C, por isso estamos tendo dificuldade para comprá-las.



 



– Pelo menos a presença dos gêmeos na sede da Ordem está ajudando nos negócios. – Sirius disse satisfeito.



– E eles deixaram bem claro que não vão esquecer quem deu o suporte financeiro! – Tiago disse acenando enfaticamente.



– Mas eles não deviam estar se envolvendo com contrabando… – Lily disse balançando a cabeça preocupada.



– Eles também não deviam estar se envolvendo com criminosos condenados, lobisomens e conspirações contra o ministério. – Sirius disse levantando os braços com irônia – Não é realmente como se eles estivessem querendo fazer algo ruim com os tentáculos…



– Mas eles são substâncias não-comerciáveis por um motivo! – Hermione exclamou – Pode ser perigoso!



– E eu tenho certeza de que eles sabem disso, ou não conseguiriam fazer várias das coisas que já fizeram. – Tiago disse com um aceno de mão displicente, encerrando o assunto.



 



— Dez galeões a partida então, Dunga? — perguntou Fred.



— Com todo o trabalho que tive para conseguir essas? — exclamou Mundungo, seus olhos empapuçados e vermelhos se arregalando ainda mais. — Lamento, rapazes, mas não estou aceitando nem um nuque menos de vinte.



— Dunga gosta de fazer piadinhas — disse Fred a Harry.



— É, a melhor até agora foi pedir seis sicles por um saco de espinhos de ouriço — disse Jorge.



— Cuidado — alertou-os Harry em voz baixa.



— Quê? — admirou-se Fred. — Mamãe está ocupada, arrulhando em volta do monitor Rony, estamos seguros.



— Mas Moody pode estar de olho em vocês — lembrou Harry.



Mundungo espiou nervoso por cima do ombro.



— Bem lembrado — resmungou. — Tudo bem, rapazes, dez então, se levarem tudo depressa.



— Valeu, Harry! — exclamou Fred, encantado, enquanto Mundungo esvaziou os bolsos nas mãos estendidas dos gêmeos e saía rápido em direção à comida.



— É melhor levarmos isso para cima...



 



– Não acho que você tivesse intenção de ajudar nas negociações, mas foi uma ótima tática. – Sirius disse rindo – Tenho certeza de que Mundungo não se sente nem um pouco confortável na presença de Moody.



– Com o olho o desconforto deve ser ainda maior. – Tiago acenou em concordância.



 



Harry observou os garotos se afastarem, sentindo-se ligeiramente apreensivo.



Acabara de lhe ocorrer que o Sr. e a Sra. Weasley iam querer saber como é que Fred e Jorge estavam financiando os artigos para sua loja quando finalmente descobrissem – o que era inevitável – que a loja já estava funcionando. Doar aos gêmeos o prêmio do Tribruxo parecera a Harry, na época, uma coisa simples, mas e se isso acabasse provocando outra briga de família e um rompimento como o de Percy? Será que a Sra. Weasley ainda consideraria Harry como um filho se descobrisse que ele possibilitara a Fred e Jorge iniciar uma carreira que ela achava inadequada?



 



– Você não devia se preocupar com isso. – Gina afirmou categórica – Se tem alguém que precisa rever seus conceitos em relação a o que é uma carreira adequada, é mamãe. Você apenas ajudou meus irmãos a seguirem seus próprios sonhos…



– Você foi ótimo Harry, não devia se sentir culpado. – Sirius disse concordando com Gina enfaticamente.



– Se você não tivesse ajudado, eles iriam arrumar outro jeito de seguirem os sonhos deles. – Rony afirmou – E conhecendo os dois, eles poderiam fazer coisas um bocado arriscadas para isso.



 



Parado onde os gêmeos o haviam deixado, tendo por companhia apenas a culpa que lhe pesava na boca do estômago, Harry ouviu alguém dizer seu nome. A voz grave e ressonante de Kingsley Shacklebolt era audível mesmo no meio de toda a conversa.



—... por que Dumbledore não promoveu Potter a monitor? — indagava Kingsley.



— Deve ter tido suas razões — respondeu Lupin.



— Mas teria demonstrado sua confiança nele. É o que eu teria feito — insistiu Kingsley — principalmente com o Profeta Diário a atacá-lo com tanta frequência...



Harry não virou a cabeça; não queria que Lupin nem Kingsley soubessem que entreouvira. Embora não sentisse a menor fome, acompanhou Mundungo de volta à mesa. Seu prazer na festa se evaporara com a mesma velocidade com que surgiu; ele desejou estar deitado em seu quarto.



 



– Apesar de eu não concordar com as atitudes de Dumbledore em relação a um monte de coisas, – Tiago disse virando-se para Harry – tenho que admitir que ele te conhece bem o bastante e que conhece seus pontos fortes e fracos. Eu concordo com ele que te tornar monitor não seria uma boa ideia…



– Kingsley não sabe tudo pelo que você teve que passar ao longo dos anos. – Sirius concordou – E não sabe como você lida com as coisas… Sua atitude não condiz com o que é esperado de monitores… E isso é um elogio!



 



Olho-Tonto Moody cheirava uma coxa de galinha com o que lhe sobrara do nariz; evidentemente não conseguiu perceber vestígio algum de veneno, porque em seguida arrancou um naco com uma dentada.



—... o punho é feito de carvalho americano com um verniz anti-azaração e tem controle anti-vibração embutido — dizia Rony a Tonks.



A Sra. Weasley deu um grande bocejo.



— Bem, acho que vou dar um jeito naquele bicho-papão antes de ir dormir... Arthur, não quero esse pessoalzinho acordado até tarde, está bem? Boa-noite, Harry, querido.



Ela saiu da cozinha. Harry pousou o prato e se perguntou se conseguiria segui-la sem chamar atenção.



— Você está bem, Potter? — perguntou Moody.



— Tô, ótimo — mentiu Harry.



Moody tomou um gole do frasco de bolso, seu olho azul elétrico olhando de esguelha para o garoto.



— Vem cá, tenho uma coisa que talvez lhe interesse — disse.



De um bolso interno das vestes, Moody tirou uma velha foto-bruxa muito danificada.



— A Ordem da Fênix original — rosnou. — Encontrei-a à noite passada quando estava procurando a minha Capa da Invisibilidade sobressalente e, como Podmore ainda não teve a boa educação de devolver a minha boa, pensei que o pessoal talvez gostasse de ver isso.



 



– Ele quer dizer a Ordem da nossa época? – Lily perguntou encarando o livro de olhos ligeiramente arregalados – Com todos nós?



– Acho que sim. – Tiago respondeu ligeiramente apreensivo.



 



Harry apanhou a foto. Um pequeno grupo de bruxos, alguns acenando para ele, outros erguendo os copos, retribuindo seu olhar.



— Aquele sou eu — disse Moody, apontando a própria imagem sem necessidade. O Moody na foto era inconfundível, embora o cabelo estivesse um pouco menos grisalho e o nariz, intacto. — E ali é Dumbledore ao meu lado, Dédalo Diggle do outro lado... essa é Marlene McKinnon, foi morta duas semanas depois de tirarmos a foto, pegaram toda a família dela. Estes são Frank e Alice Longbottom...



O estômago de Harry, já meio embrulhado, contraiu-se ao olhar para Alice Longbottom; conhecia aquele rosto redondo e simpático muito bem, embora nunca a tivesse visto, porque era a cara do filho, Neville.



 



    Alice e Frank trocaram um sorriso triste, apesar de tudo, pelo menos se sentiam um pouco melhor em saber que estavam tentando fazer do mundo um lugar melhor.



 



—... coitados — resmungou Moody. — Melhor morrer do que passar pelo que passaram... e essa é Emmeline Vance, você já a conheceu, e aquele é Lupin, obviamente... Beijo Fenwick, ele também sofreu muito, só encontramos pedacinhos dele... cheguem para lá — acrescentou, metendo o dedo na foto, e as pessoas fotografadas se deslocaram para o lado, para que outras, que estavam parcialmente na sombra, pudessem passar ao primeiro plano.



— Esse é Edgar Bones... irmão de Amélia Bones, pegaram ele e a família também, era um grande bruxo... Estúrgio Podmore, pombas, como está jovem... Carátaco Dearborn desapareceu seis meses depois da foto, nunca encontramos seu corpo... Hagrid, naturalmente, parece exatamente o que é... Elifas Doge, você o conheceu, tinha me esquecido que usava esse chapéu idiota... Gideão Prewett, foram precisos cinco Comensais da Morte para matá-lo e matar o irmão Fábio, lutaram como heróis... mexam-se, mexam-se...



 



– Mamãe sempre nos disse que eles lutaram para nos dar a vida que tínhamos. – Gina disse trocando um olhar com Rony – E quando Dumbledore convocou ela e papai para a nova Ordem, ela disse que tinha que fazer isso, não só por todos nós, mas pelos irmãos, não podia deixar a vida deles ter acabado em vão.



 



As figurinhas na foto se misturaram, e as que estavam escondidas bem atrás apareceram à frente.



— Esse é o irmão de Dumbledore, Aberforth, a única vez que o vi, sujeito esquisito... essa é Dorcas Meadowes, Voldemort a matou pessoalmente... Sirius, quando ainda usava cabelos curtos... e... estão todos aí, achei que você se interessaria!



O coração de Harry deu uma cambalhota. Seu pai e sua mãe estavam sorrindo para ele, sentados um de cada lado de um homenzinho de olhos aguados que Harry reconheceu imediatamente como Rabicho, o que havia denunciado o paradeiro dos dois a Voldemort e com isso provocara a morte deles.



 



    Tiago e Lily suspiraram profundamente enquanto apertavam a mão um do outro, e a de Harry, com carinho.



 



— É? — exclamou Moody.



Harry ergueu os olhos para o rosto cheio de cicatrizes e marcas de Moody. Ele evidentemente tinha a impressão de que acabara de mostrar a Harry uma coisa boa.



— É — disse o garoto, mais uma vez tentando sorrir. — Hum... escute, acabei de me lembrar, ainda não guardei o meu...



Ele foi poupado do trabalho de inventar um objeto que ainda não tivesse guardado. Sirius acabara de dizer:



— Que é isso que você tem aí Olho-Tonto?



E Moody voltou sua atenção para Sirius. Harry atravessou a cozinha, saiu discretamente pela porta e subiu as escadas antes que alguém o chamasse de volta.



Não sabia dizer por que ficara tão chocado; afinal, já vira fotos dos seus pais antes e já conhecera Rabicho... mas o fato de alguém mostrá-los assim, de repente, quando menos esperava... ninguém gostaria disso, pensou enraivecido...



E ainda por cima, vê-los cercados por todas aquelas caras felizes... Beijo Fenwick, que fora encontrado em pedacinhos, e Gideão, que morrera como herói, e os Longbottom, que foram torturados até enlouquecer... todos acenando, felizes, na foto, para sempre, sem saber que estavam condenados... bom, Moody talvez achasse isso interessante... ele, Harry, achava perturbador...



 



– Não acho que Moody tivesse qualquer intenção de te perturbar… – Remo disse compreensivo – Acho que ele queria te mostrar porque todos eles lutam…



– Quantas vidas foram perdidas lutando pelos motivos certos. – Sirius concordou – Sem essas pessoas o mundo poderia estar ainda pior…



– São pessoas corajosas que nunca deixaram nada ficar entre eles e a coisa certa. – Remo disse encarando Frank e Alice, e depois virando-se para Tiago e Lily – Eles fizeram tudo o que podiam para te dar um mundo melhor, e agora, a Ordem precisa retomar esse trabalho, para que as vidas dos que se foram não tenham sido perdidas em vão.



– Acho que ele queria te motivar. – Tiago concordou trocando olhares com os dois melhores amigos – Te lembrar o porquê da luta… Moody não sabe se relacionar com pessoas muito bem, mas ele tem boas intenções.



 



O garoto subiu as escadas, pé ante pé, até o corredor, passou pelas cabeças empalhadas dos elfos, satisfeito de estar sozinho, mas, ao se aproximar do primeiro patamar, ouviu ruídos. Alguém estava soluçando na sala de visitas.



— Olá? — chamou.



Não houve resposta, mas os soluços continuaram. Harry subiu os degraus restantes, de dois em dois, cruzou o patamar e abriu a porta da sala de visitas.



Alguém estava encolhido contra a parede escura, a varinha na mão, todo o corpo sacudido por soluços. Esparramado no velho tapete empoeirado, em uma mancha de luar, visivelmente morto, encontrava-se Rony.



 



– Que? – Alice perguntou alarmada encarando Rony com preocupação.



– O bicho-papão. – Remo disse lamentoso – Sua mãe foi enfrentar o bicho-papão sozinha…



– Essas são as tribulações dela, como no nome do capítulo. – Lily entendeu com um certo alívio.



– Eu nunca soube disso. – Rony admitiu encarando Harry – Você nunca me falou que viu isso…



– Eu não queria expor a sua mãe… – Harry justificou – Ela ficou muito abalada, e quando eu vi aquilo, em um primeiro momento… Foi um grande choque…



– Eu imagino. – Hermione disse encarando Harry compreensiva – Deve ter sido realmente difícil ver Rony no chão… Parecendo morto… – a voz de Hermione tremeu ao completar.



 



Todo o ar pareceu fugir dos seus pulmões; Harry teve a sensação de que estava atravessando o chão; seu cérebro congelou – Rony morto, não, não era possível...



Mas, espere um momento, não podia ser – Rony estava lá embaixo...



— Sra. Weasley? — chamou Harry com a voz embargada.



— R-r-riddikulus! — soluçava a bruxa, apontando a varinha, trêmula, para o corpo do filho.



Craque.



O corpo de Rony se transformou no de Gui, de barriga para cima, braços e pernas abertos, olhos abertos e vidrados. A Sra. Weasley voltou a soluçar.



Craque.



O corpo do Sr. Weasley substituiu o de Gui, seus óculos tortos, um filete de sangue escorrendo pelo rosto.



— Não! — gemia a Sra. Weasley. — Não... Riddikulus! Riddikulus! RIDDIKULUS!



Craque. Gêmeos mortos. Craque. Percy morto. Craque. Harry morto...



 



– Ela não devia ter ido fazer isso sozinha… – Lily disse balançando a cabeça, abalada – Isso é perturbador demais… Especialmente para ela… Com tantos filhos na zona de perigo.



    Gina e Rony trocaram um olhar perturbado.



 



— Sra. Weasley, saia daqui! — gritou Harry, contemplando o próprio cadáver estirado no chão. — Deixe outra pessoa...



— Que está acontecendo?



Lupin subira correndo à sala, seguido de perto por Sirius e Moody, que fechava a fila, batendo a perna de pau. Lupin olhava da Sra. Weasley para o cadáver de Harry no chão, e pareceu compreender tudo no mesmo instante.



 



– Claro que entendeu. – Sirius disse trocando um olhar com Remo – Acho que bichos-papões podem ser bem apavorantes… – completou depois de alguns segundos.



– Meu medo parece um tanto bobo comparado com o da Sra. Weasley… – Remo disse balançando a cabeça.



– Seu medo não é bobo. – Tiago disse categórico – Você não tem medo da lua, é apenas a única forma como um bicho-papão consegue personificar seus medos… Seu medo é muito mais profundo que isso...



 



Puxando a varinha, disse, em tom muito claro e firme.



— Riddikulus!



O corpo de Harry desapareceu. Um globo de prata pairou no ar sobre o local em que estivera o cadáver. Lupin sacudiu a varinha mais uma vez e o globo desapareceu em uma baforada de fumaça.



— Ah... ah... ah! — engoliu a Sra. Weasley em seco e tornou a se desmanchar numa torrente de lágrimas com o rosto entre as mãos.



— Molly — disse Lupin desolado, aproximando-se dela. — Molly, não...



No segundo seguinte, ela soluçava de se acabar no ombro de Lupin.



— Molly, foi apenas um bicho-papão — disse ele consolando-a, dando-lhe palmadinhas na cabeça. — Apenas um bicho-papão idiota...



— Eu os vejo m-m-mortos o tempo todo! — gemeu a Sra. Weasley no ombro do bruxo. — Todo o t-t-tempo! T-t-tenho sonhos...



Sirius ficou olhando fixamente para o pedaço do tapete em que estivera deitado o bicho-papão fingindo ser Harry.



 



– Deve ter sido um grande choque para você. – Tiago disse trocando um olhar preocupado com Sirius – Tantos momentos para vocês chegarem, entraram logo no momento em que o bicho-papão fingia ser Harry…



– Harry ser tão parecido com você não deve ter ajudado muito. – Sirius admitiu – Eu posso até não confundir vocês, mas deve ter sido complicado ver de novo alguém que considero da família… Morto…



 



Moody olhava para o garoto, que evitou seu olhar. Tinha a estranha sensação de que o olho mágico de Moody o acompanhara desde a cozinha.



— Não d-d-diga a Arthur — pedia a Sra. Weasley, agora engolindo o choro e enxugando nervosamente os olhos com os punhos. — Não q-q-quero que ele saiba... fui boba...



Lupin lhe deu um lenço, e ela assoou o nariz.



— Harry, sinto muito. Que é que você vai pensar de mim? — perguntou trêmula. — Não consigo nem me livrar de um bicho-papão...



— Bobagem — disse Harry, tentando sorrir.



— Estou t-t-tão preocupada — disse ela, as lágrimas mais uma vez saltando-lhe dos olhos. — Metade da f-f-família está na Ordem, será uma b-b-bênção se todos sobreviverem... e P-P-Percy não está falando conosco... e se alguma coisa t-t-terrível acontecer antes de termos feito as p-p-pazes com ele? E o que vai acontecer se Arthur e eu morrermos, quem é que vai t-t-tomar conta de Rony e Gina?



 



    Rony e Gina trocaram mais um olhar de preocupação.



– Gui e Carlinhos não deixariam nada de ruim acontecer com a gente. – Gina afirmou com um suspiro profundo – Os dois já eram adultos e tinham empregos estáveis e…



– E nós já éramos bem grandinhos… Não é como Harry que… Tinha só um ano e realmente precisava que alguém cuidasse dele. – Rony disse desviando o olhar da irmã e virando-se para Harry.



– Mas nada de ruim vai acontecer com os pais de vocês. – Lily disse confiante – Tenho certeza de que não… Vai ficar tudo bem com os dois…



 



— Molly, chega — disse Lupin com firmeza. — Agora não é como da última vez. A Ordem está mais bem preparada, contamos com uma dianteira, sabemos o que Voldemort pretende...



A Sra. Weasley soltou um gritinho de medo ao ouvir esse nome.



— Ah, Molly, vamos, já é tempo de você se acostumar a ouvir o nome dele... escute, não posso prometer que ninguém vai sair ferido, ninguém pode prometer isso, mas estamos muito melhor do que estávamos da última vez. Você não fazia parte da Ordem naquele tempo, por isso não compreende. Da última vez havia vinte Comensais da Morte para cada um de nós, e eles foram nos matando um a um...



Harry lembrou-se da fotografia, dos seus pais sorridentes. Sabia que Moody ainda o observava.



— Não se preocupe com Percy — disse Sirius abruptamente. — Ele vai mudar de opinião. É apenas uma questão de tempo, e Voldemort vai sair das sombras; e quando isto acontecer, o Ministério inteiro vai nos pedir perdão. E não tenho muita certeza se vamos aceitar o pedido deles — acrescentou com amargura.



 



– Eu não aceitaria. – Sirius disse concordando com seu eu-futuro – Anos me perseguindo por coisas que eu não fiz… Condenado sem um julgamento… Perseguição do meu afilhado… O ministério não merece o meu perdão.



– Não mesmo. – Tiago concordou enfático.



 



— Agora, quanto a quem vai cuidar de Rony e Gina se você e Arthur morrerem — disse Lupin com um leve sorriso — que é que você acha que vamos fazer, deixá-los morrer de fome?



A Sra. Weasley deu um sorriso trêmulo.



 



– Ainda acho que nós já tínhamos idade o bastante para dar um jeito… – Rony encolheu os ombros – E irmãos mais velho o bastante para nunca passar fome…



 



— Estou sendo boba — murmurou outra vez, enxugando os olhos.



Mas Harry, fechando a porta do quarto atrás de si uns dez minutos depois, não conseguiu achar que a Sra. Weasley fosse boba. Via seus pais sorrindo para ele na velha foto danificada, sem saber que suas vidas, como a de tantos outros à sua volta, estavam chegando ao fim. A imagem do bicho-papão se transformando no cadáver de cada membro da família da Sra. Weasley não parava de lampejar diante dos seus olhos.



 



– A culpa é de Voldemort… – Tiago disse categórico – E se eles não lutassem, as coisas seriam ainda piores… Não haveria ninguém para deter Voldemort, ele ganharia força e no final, todas as pessoas que não lutaram contra ele, pagariam o preço.



– É por isso que nós temos que lutar. – Lily concordou solenemente – Porque para alguns de nós, não há outra opção, – completou trocando um olhar com Hermione – porque nossas escolhas são entre lutar ou ser dizimados.



– Alguns de nós podem até ter outras opções. – Sirius afirmou – Mas não gostamos nada do que o mundo poderia se tornar se nós não lutarmos.



– É o que precisa ser feito. – Alice disse acenando com a cabeça lentamente e apertando a mão de Neville com força – Se queremos ter a chance de um mundo melhor… Onde ninguém precisa viver com medo.



 



Sem aviso, a cicatriz em sua testa queimou de dor e seu estômago revirou horrivelmente.



— Para com isso — disse com firmeza, esfregando a cicatriz à medida que a dor foi diminuindo.



— Primeiro sinal de loucura, falar com a própria cabeça — disse a voz sonsa do quadro vazio na parede.



Harry não lhe deu atenção. Sentiu-se mais velho do que jamais se sentira na vida e parecia-lhe extraordinário que há pouco menos de uma hora estivesse preocupado com uma loja de logros e com quem ganhara um distintivo de monitor.



 



    Neville pousou o livro sobre a mesinha de centro e bocejou.



– Esse capítulo foi muito maior do que imaginava. – Lily disse bocejando também – Devíamos comer e nos organizar para dormir…



    Todos seguiram para a mesa e comeram em relativo silêncio pensando em tudo o que haviam acabado de ler.



Tiago e Lily terminaram de comer um pouco antes dos outros e se sentaram de volta no sofá, Tiago pegou o livro que estavam lendo.



– Esse livro é muito maior que os outros. – Tiago disse enquanto pesava o livro nas mãos, observando Remo, que ainda comia à mesa, com preocupação.



– Qual o problema? – Lily perguntou confusa.



– Lua cheia. – Tiago murmurou – Faltam 7 noites para a lua cheia... E não sei se vamos conseguir concluir todos esses livros até lá...



– Tenho certeza de que Harry tem um plano. – Lily disse apreensiva – Mas talvez seja melhor perguntar a eles?



    Quando todos terminaram de comer Tiago acenou para Rony, Hermione e Harry voltarem à área dos sofás.



– Eu não acho que vamos terminar todos esses livros até a lua cheia. – Tiago disse encarando o trio preocupado – Queria saber se vocês tem algum plano…



– Temos. – Hermione afirmou – Iamos falar sobre isso com vocês antes de dormirmos. – completou acenando para os outros, que os observavam de longe, se aproximarem – A poção de Mata-cão tem duas partes, ambas muito complexas… A primeira tem um tempo de estoque grande e por isso eu trouxe ela pronta…



– Você vai me dar a poção? – Remo perguntou assustado.



– Temos que concluir a poção primeiro. – Hermione disse com um meio sorriso – A segunda parte da poção quando unida à base tem que ser consumida no mesmo dia, ou perde a validade. A poção tem que ser consumida nas sete noites antes da lua cheia para ter resultado… Então você tem que tomar hoje. Eu tenho a receita, e vamos pedir os ingredientes para os elfos…



– Eu quero ajudar. – Lily afirmou encarando Remo com carinho – Se isso vai fazer você se sentir melhor, eu quero ajudar.



– Nós não podemos dar a receita completa para vocês… – Hermione suspirou profundamente – Não podemos alterar essa parte do futuro, não podemos retirar o reconhecimento da pessoa que inventou a poção…



– E eu não pediria que fizessem isso. – Remo afirmou levantando uma mão para interromper Hermione – Se vocês tiverem um modo de lidar com a transformação em segurança, está bom o bastante para mim.



– Estavamos pensando que além da poção vocês talvez quisessem ficar juntos. – Harry perguntou a Sirius e Tiago.



– Nunca pensei em outra coisa. – Tiago disse categórico recebendo acenos de concordância enfáticos de Sirius.



    Em poucos minutos eles já tinham tudo organizado, Lily e Severo ajudariam Hermione com a poção, por serem os melhores no assunto. E quando chegasse a hora, Tiago e Sirius passariam a noite de lua cheia na sala com Remo enquanto os outros se trancariam no quarto.



    Pouco mais de uma hora se passou até que a poção estivesse completa. Enquanto os Hermione, Lily e Severo trabalhavam os outros jogavam xadrez e conversavam sobre quadribol, tentando aliviar todo o estresse dos livros.



– Está pronta. – Severo afirmou comparando a poção no caldeirão com as anotações de Hermione. Lily pegou um cálice, encheu-o de poção e entregou para Remo com apreensão.



    Remo engoliu tudo de uma vez, fazendo careta no final.



– Horrível. – afirmou.



– Mas útil. – Hermione disse trocando um sorriso com Rony e Harry – Agora deveríamos dormir, já está bem tarde.



    Na manhã seguinte todos ainda sonolentos se reuniram na área dos sofás, Frank pegou o livro de cima da mesa e o abriu no capítulo seguinte:



– Capítulo X – Luna Lovegood.





Hey leitores mais queridos do FeB! Como conversei com vocês no grupo, o FeB deu problemas de novo e não permitiu que eu postasse ontem. A moderação resolveu o meu problema de madrugada e hoje cedo consegui postar o capítulo! Mas eu não gosto nada disso, por isso continuarei repostando todas as fics no Ao3 onde sei que não vou ter esses problemas de um dia para o outro. O Ao3 é um site muito confiável e eu recomendo muito, tanto para leitura (acho ele mais agradável estáticamente) quanto para postagem (bem mais simples). Além disso, não é preciso estar logado no site para deixar comentários nos capítulos, e há um sistema de "kudos" (tipo o curti do facebook) que permite que você demonstre que gosta da história e deixa a história mais visivel para possiveis novos leitores. Então, para quem quiser acompanhar a fic por lá também: http://archiveofourown.org/series/567979 

- Gi Molly Weasley: Fico feliz que tenha gostado tanto do capítulo! Eu não sei se você faz parte do grupo do facebook, mas é bem mais fácil acompanhar por lá, porque eu sempre aviso antes de postar, então você não precisaria ficar entrando aqui toda semana! (Eu também aviso quando tenho problemas para postar como ontem). Se quiser entrar, saiba que é muito bem-vinda!

- Day Caracas: Eu realmente reparei que você sumiu! Mas fico feliz de verdade que não tenha parado de ler a fic! Estou para te perguntar há meses o que você achou do livro... Eu sei bem que pelo celular é mais difícil de ler e de comentar (o site novo onde estou repostando é mais fácil de ler pelo celular, não precisa de app). A raiva do Harry nesse livro é completamente justificável, se eu tivesse na situação dele estaria ainda mais irritada do que ele, e demonstraria mais do que ele! A morte de Sirius foi completamente culpa dos segredos, bastava Dumbledore contar a Harry a verdade sobre a ligação entre ele e Voldemort, e nada daquilo teria acontecido (porque Harry teria levado oclumência mais a sério), e se Dumbledore tivesse qualquer consciência ele não teria pedido para Snape ensinar oclumência para o Harry! Enfim, uma série de mentiras e segredos que tiraram a vida de uma pessoa que só sofreu, a vida toda... Com isso você pode ver que eu também culpo Dumbledore... Culpo ele por várias coisas. Eu tenho mais raiva de Percy do que de todos os outros que você falou, mas é mais por ter me decepcionado com Percy, eu já esperava que o ministério fosse idiota (vide Fudge sendo babaca desde CS), e Umbridge nunca me enganou, mas eu esperava mais de Percy, ele é um Weasley, conhece Harry há anos e etc. Eu tive dificuldade de perdoar ele, mesmo ele voltando para a batalha final. Eu já tenho a morte de Sirius rascunhada aqui, é uma das partes que escrevi há mais tempo, e posso te garantir que você tem toda razão, é mais difícil para os outros do que para Sirius. Eu gosto muito desse livro para ser sincera, justamente pelas coisas que você falou que gosta, eu adoro ver a evolução da Hermione, a AD, a Ordem, a casa dos Black, é tudo tão cheio de histórias interessantes! A teoria do vira-tempo é uma teoria que vi em uma página de HP no facebook e achei divertida o bastante para colocar na história... Não acho que o ministério pudesse interferir tanto em Hogwarts antes, por isso eles foram criando decretos educacionais novos no ministério. Eu estava animada para AFeOH, mas depois de the cursed child eu fiquei tão decepcionada que estou com medo de me animar demais e acabar me decepcionando de novo, sabe? 

- Izabella Bella Black: Estava estranhando mesmo o tempo que você passou sem comentar, mas que bom que você reapareceu! O pessoal do FeB me pediu para dizer a todos vocês que se tiverem com problemas nas contas no novo site precisam avisar a eles para eles corrigirem, tem dado muito bug em contas mais antigas (se quiser me chama no facebook que te passo o e-mail deles se você não tiver). Pelo menos nós sabemos que Fudge vai pagar muito caro por não ter acreditado em Harry e por ter sido tão babaca, ele vai perder a única coisa que ele ama, o poder. Eu acho que o ministério só conseguiu se reerguer de verdade depois da batalha de Hogwarts, entre Fudge ser um babaca e os comensais da morte tomarem o poder no último livro, devem ter destruido o ministério completamente. A questão nem é o fato de Fudge ser manipulado pelos comensais, é ele ser tão idiota e sedento por poder, se ele tivesse simplesmente acreditado em Dumbledore (que apesar de tudo, nunca deu ao ministério motivos para duvidar dele) tudo teria dado certo, mas ele não queria perder a posição... Também tenho muitos problemas com Percy, é como disse acima, ele me decepcionou muito, sempre soube que ele é diferente dos irmãos, mas não imaginava que fosse a esse ponto! Rony ama Harry como a um irmão, a gente sabe disso, mas as vezes acho que Harry precisa escutar para entender. Para mim a alteração do horário da audiência é uma mistura dos dois, tanto tentar fazer a audiência sem Dumbledore, quanto fazer Harry parecer irresponsável (e aposto que a ideia foi da sapa velha). Apesar dos meus sentimentos em relação a Dumbledore, eu tenho que reconhecer que ele "tem estilo". Tiago, Sirius e Frank fazem parte de famílias muito importantes e influêntes do mundo bruxo, como os Malfoy, eles tem dinheiro e influência, e não vão ter medo de atrapalhar ao máximo a credibilidade de Fudge. Muitas coisas sobre como os abortos são tratados ao longo dos livros me incomoda, para mim eles mereciam uma educação, afinal eles fazem parte do mundo bruxo, mesmo que não da mesma forma que os outros. Hermione é apaixonada por suas causas, eu entendo ela completamente (ninguém pode falar de HP na minha frente, por exemplo). Se Dumbledore tivesse falado a verdade a Harry teria impedido muitas coisas ruins de acontecerem.

- Elizabeth L. Malfoy: Fico feliz que sempre arranje um tempinho para ler, e quando tem um tempinho a mais comentar, significa muito para mim! Esse seu problema, de sempre imaginar o que eles achariam enquanto lê os livros, eu também tenho... Mas felizmente sempre que eu estou lendo os livros com os comentários deles na minha cabeça eu abro meu bloco de notas e coloco um monte de rascunhos de coisas que eles diriam! A parte da floresta quando ele vê todos os marotos e Lily é uma das partes que mais me deixa emocionada quando leio. Espero que eu consiga transmitir todos os meus sentimentos para os personagens, e para vocês, quando chegar a hora! Muito obrigada por todos os elogios! 



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Comentários (5)

  • Carolina Black

    Um dos capítulos mais difíceis do livro com certeza. Ver a Sra.Weasley daquele jeito machuca o coração. Ela que é sempre tão feliz e tenta deixar todos a sua volta o mais confortáveis o possível. Como sempre, um ótimo capítulo. Parabéns!! Mal posso esperar pelo próximo.

    2016-11-11
  • Juhh Potter Malfoy

    Cara, faz muito tempo que não comento, mas é pq sempre vou deixando pra depois e quando vejo já passou. Vi que você anda meio desanimada e também houveram muitos problemas, mas peço que não fique assim. Você é uma grande escritora e tem muitos leitores ao seu lado, mesmo que não comentem tenho certeza que eles acompanham, assim como eu. Você é a responsável por me dar outra visão sobre a historia do Harry e eu realmente agradeço muito por isso. Se for preciso demore o quanto necessário para que saia um capítulo, mas não desista da sua história. Quanto aos capítulos eles permanecem maravilhosos ao meu ponto de vista. Esse livro é muito mais pesado, os sentimentos estão à flor da pele, sei que vou chorar horrores. Ainda to esperando muito uma cena mais intensa mostrando os sentimentos entre a Lily e o Tiago, vou ser muito feliz quando você finalmente escrever isso kkk E adorei a ideia de postar em outro site, me da a oportunidade de reler a fic desde o inicio enquanto você escreve novos capítulos. Não esqueça, posso não comentar, mas estou sempre por aqui.

    2016-10-20
  • MatheusMD

    Sabe a sensação de querer que a história termine logo? Eu vou ser bem sincero eu já li a história completa de HP muitas vezes.. perdi as contas quando cheguei na 9ª vez cada livro ^^, fora as muitas fanfics que li é claro. Apesar disso estou eufórico querendo que eles acabem de ler todos os livros e que você possa compartilha a sua história (tanto do ponto de vista do pessoal do passado na reconstrução do novo futuro quanto da nova história de HP), continue, não demore (kkkkkkk) e lhe garanto que estarei sempre aqui de olho O.O ; )

    2016-10-19
  • evelyne

    amei! to curiosa psaber o que os marotos vao achar da luna. 

    2016-10-18
  • Flaa

    Obrigada por mais um capítulo Julia! Foi ótimo :)

    2016-10-18
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