A mui antiga e nobre Casa dos



– A mui antiga e nobre Casa dos Black.

– Toujours Pur. – Sirius resmungou, rindo consigo mesmo.

– O que disse, Sirius? – Lily perguntou pousando o livro aberto no colo e virando-se para Sirius.
– Toujours Pur. – Sirius repetiu em voz alta – O lema da família…
– O que significa? – Alice perguntou curiosa.
– Sempre puro. – Sirius disse com uma risada sarcástica – Com a quantidade de traidores do sangue que minha família produziu ao longo dos anos, faz sentido eles tentarem a todo custo reiterar esse lema…

A Sra. Weasley acompanhou-os ao andar de cima de cara amarrada.
— Todos direto para a cama, nada de conversas — disse quando alcançaram o primeiro patamar — vamos ter um dia cheio amanhã. Imagino que Gina esteja dormindo — acrescentou para Hermione — portanto, trate de não acordá-la.
— Dormindo, claro — disse Fred num murmúrio, depois que Hermione desejou a todos boa-noite e eles já subiam para o segundo andar. — Quero ser verme se a Gina não estiver acordada esperando Hermione para contar tudo que foi dito lá embaixo...

– Eu realmente estava esperando acordada. – Gina disse com um sorrisinho saudoso – Mas Hermione se recusou a me contar tudo o que aconteceu na cozinha…

– Eu não podia contar na época… – Hermione encolheu os ombros – Você realmente era muito nova…
– Claro… – Gina revirou os olhos – Era quase três anos mais velha do que Harry quando entrou na câmara secreta…
Harry e Gina trocaram um olhar de compreensão antes dela continuar.
– Mas dessa vez eu não estou reclamando. – ela suspirou resignada – Harry realmente tem um talento especial para se meter em problemas… E tem um conjunto de regras especialmente feito para ele…
– Pessoas que salvam o mundo bruxo tem regras especiais. – Sirius disse com uma risadinha – Todo mundo sabe disso…

— Muito bem, Rony, Harry — disse a Sra. Weasley no segundo patamar, apontando para o quarto dos garotos. — Para a cama os dois.
— Boa noite — disseram Harry e Rony aos gêmeos.
— Durmam bem — despediu-se Fred com uma piscadela.
A Sra. Weasley esperou Harry passar e fechou a porta com uma batida seca. O quarto parecia, se é que isto era possível, ainda mais úmido, frio, desagradável e sombrio do que parecera à primeira vista. O quadro vazio na parede agora respirava lenta e profundamente, como se seu ocupante invisível estivesse adormecido.

– Fineus Nigellus nunca passa tanto tempo em seu quadro de casa… – Sirius disse pensativo – Dumbledore deve realmente ter colocado ele para vigiar Harry…

– Claro que colocou. – Tiago revirou os olhos para o livro – Ele não acha que Harry é capaz de passar muito tempo sem arrumar problemas… E deve querer saber imediatamente se Harry tiver algum daqueles sonhos…
– Espero que não tenha. – Lily suspirou, cansada – Cada um daqueles sonhos me dá arrepios…
– E sempre precedem coisas ruins. – Remo disse concordando com Lily enfaticamente.
– Infelizmente, – Tiago disse, observando Severo de soslaio – se Snape está certo e a ligação é de mão dupla, então agora que Voldemort recuperou o corpo…
– Isso vai acontecer cada vez mais. – Severo murmurou completando o pensamento de Tiago na sala silenciosa.

Harry vestiu o pijama, tirou os óculos e entrou na cama gelada, enquanto Rony atirava petiscos às corujas no alto do armário para acalmar Edwiges e Píchi, que estavam fazendo um estardalhaço e sacudiam as asas, inquietas.
— Não podemos soltá-las toda noite para caçar — explicou Rony, vestindo o pijama marrom. — Dumbledore não quer muitas corujas voando pelo largo, acha que vai parecer suspeito. Ah, sim... ia me esquecendo.

– Claro. – Sirius revirou os olhos – Porque várias pessoas aparecendo e desaparecendo na rua ao entrar em uma casa invisível não chama atenção alguma…

– Os trouxas não veem essas coisas muito bem… – Remo deu de ombros – Se algum trouxa viu alguém desaparecendo nos limites do feitiço fidelius no meio da noite, devem ter pensado que viram apenas uma sombra…
– Eles sempre encontram maneiras de explicar o que eles viram. – Frank disse balançando a cabeça – Por isso alguns trouxas acreditam em fantasmas e outras criaturas mágicas que eles nem deveriam enxergar.
– Quando eu descobri que tudo o que os contos de fadas dizem é real eu fiquei chocada. – Lily disse com um meio sorriso – Os trouxas sempre pensaram que essas coisas eram apenas fantasia… E a maioria das bruxas dos contos de fadas são malvadas.
– Provavelmente porque na época em que os trouxas tinham conhecimento sobre o nosso mundo, os bruxos os tratavam de maneiras muito depreciativas. – Tiago disse pensativo – Vários bruxos usavam trouxas para praticar feitiços e azarações…
– E a mentalidade da minha família não mudou muito. – Sirius disse balançando a cabeça.
– Pensando assim não é surpreendente que os trouxas achem que os bruxos são malvados. – Alice disse espantada.

Ele foi até a porta e trancou-a.
— Para que está fazendo isso?
— Monstro — respondeu Rony apagando a luz. — Na noite que cheguei, ele entrou pelo quarto às três da manhã. Confie em mim, você não vai querer acordar e dar de cara com ele andando pelo quarto. Em todo o caso... — Rony entrou na cama, ajeitou-se sob as cobertas e se virou de frente para encarar Harry no escuro; Harry via o contorno do amigo à claridade do luar que se filtrava pela janela suja — que é que você achou?
Harry não precisou perguntar o que o amigo Rony queria saber.
— Bom, não nos contaram muita coisa que não pudéssemos ter adivinhado sozinhos, não é mesmo? — comentou, repassando mentalmente tudo que fora discutido na cozinha. — Quero dizer, só o que realmente nos disseram foi que a Ordem está tentando impedir as pessoas de se reunirem a Vol...
Rony prendeu bruscamente a respiração.
—... demort — disse Harry com firmeza.

– E mesmo isso dava para adivinhar sem a ajuda deles. – Frank comentou – É uma coisa bem óbvia, impedir que Voldemort se fortaleça…

– A única coisa realmente interessante foi o que o Sirius do futuro disse sobre eles estarem tentando impedir Voldemort de adquirir uma arma que ele não tem na nossa época. – Remo disse pensativo – Mas ainda não consigo imaginar que tipo de arma pode ser…
– Poderia ser literalmente qualquer coisa. – Sirius deu de ombros – Como Snape disse, qualquer coisa nas mãos erradas pode ser usada como arma. – completou observando Severo de soslaio.
Severo apenas acenou com a cabeça, relutante em ter que concordar com Sirius.

— Quando é que você vai começar a usar o nome dele? Sirius e Lupin usam.
Rony fingiu não ter ouvido o comentário.
— É, você tem razão, já sabíamos quase tudo que nos contaram, usando as Orelhas Extensíveis. A única novidade foi...
Craque.
— AI!
— Fale baixo Rony ou mamãe volta já, já.
— Vocês dois aparataram em cima dos meus joelhos!
— Ah, bom, é que é mais difícil no escuro.
Harry percebeu os vultos de Fred e Jorge saltando da cama de Rony. As molas gemeram e o colchão de Harry afundou alguns centímetros quando Jorge se sentou nos pés da cama.
— Então, já chegaram lá? — perguntou Jorge ansioso.
— Na arma que Sirius mencionou? — disse Harry.
— Deixou escapar, é mais provável — disse Fred com prazer, agora sentado ao lado de Rony. — Não escutamos nada sobre isso com as Orelhas, não foi?

– Ou as pessoas da Ordem se referem a essa arma usando algum tipo de código, ou eles apenas falam dela com a sala imperturbável. – Remo ponderou.

– Ou eles falam da arma pelo nome e vocês simplesmente não estão associando uma coisa a outra. – Tiago concordou pensativo.
– Pode ser… – Sirius disse – Vocês contaram a Harry, quando chegou, que eles estavam sempre falando em vigiar alguma coisa, mas vocês pensaram que estavam falando de vigiar Harry…
– Podiam estar falando em montar guarda a essa arma. – Frank disse interessado – Faz sentido…
– Mas isso significa que a Ordem tem a arma… Não é? – Alice perguntou ansiosa – Ou eles não teriam como vigiá-la…
– Talvez a Ordem apenas saiba onde ela está. – Remo deu de ombros – E pelo que o Sirius do futuro disse, Voldemort também não tem essa arma…
– Então a Ordem não tem interesse em pegar essa arma para si… – Tiago disse franzindo a testa, pensativo – Apenas quer impedir que Voldemort a tenha…
– Isso se a arma for física. – Severo disse chamando a atenção de todos – Se for alguma informação, a Ordem já pode ter acesso a essa informação e estão guardando a fonte.
– Faz sentido. – Remo concordou lentamente.

— Que é que vocês acham que é? — perguntou Harry.
— Pode ser qualquer coisa — respondeu Fred.
— Mas não pode haver nada pior do que a Maldição Avada Kedavra, pode? — perguntou Rony. — Que é que pode ser pior do que a morte?

– Consigo pensar em muitas coisas piores que a morte… – Sirius disse soturno – O tipo de coisa que eu já li na biblioteca da minha família… Deixaria qualquer um apavorado…

– Vários tipos de tortura podem ser piores que a morte. – Alice concordou lentamente, com os olhos baixos – Dependendo do que mais faz a pessoa sofrer…
– Apenas os tolos pensam que a morte é o pior que pode acontecer. – Tiago finalizou com um suspirou sóbrio.

— Talvez seja alguma coisa que pode matar muita gente de uma vez — sugeriu Jorge.
— Talvez seja algum modo bem doloroso de matar gente — disse Rony, assustado.
— Ele já tem a Maldição Cruciatus para causar dor — disse Harry — e não precisa de nada mais eficiente.
Fez-se uma pausa e o garoto percebeu que os outros, como ele, estavam imaginando os horrores que a tal arma poderia perpetrar.

– Não sei no que meus irmãos estavam pensando, mas eu não estava pensando nisso. – Rony disse encarando Harry seriamente – Estava pensando em como você já havia passado por tudo isso, pela Cruciatus, pela Avada Kedavra… E ainda assim você estava ali… E em como você soou quando falou da Cruciatus…

– Que quer dizer com como eu soei? – Harry perguntou virando a cabeça para Rony, interessado.
– Você soou anos mais velho do que eu, e do que meus irmãos… Muito mais maduro e vivido que qualquer um de nós… – Rony suspirou – Ás vezes eu tinha ciúmes de você… Você sabe disso… Mas nessa hora… Senti que você já tinha passado por coisas demais.
– E tinha mesmo. – Lily disse apertando a mão de Harry com força – Ninguém com a idade que você tinha devia saber qual a sensação da Maldição Cruciatus… Ninguém com sua idade deveria ter passado por tudo o que você passou…
– E talvez, se fizermos tudo da maneira correta, possamos mudar isso também. – Tiago murmurou acarinhando a mão que Lily usava para segurar o livro em seu colo – No que depender de mim, não vou deixar que nada disso aconteça com Harry.

— Então quem é que vocês acham que já tem a arma? — perguntou Jorge.
— Espero que seja o nosso lado — disse Rony, com a voz ligeiramente nervosa.
— Se for, provavelmente está sob a guarda de Dumbledore — disse Fred.
— Onde? — perguntou Rony depressa. — Hogwarts?
— Aposto que sim — arriscou Jorge. — Foi onde ele escondeu a Pedra Filosofal.

– Se estivesse em Hogwarts a Ordem não precisaria montar guarda à arma, não é? – Alice perguntou encolhendo os ombros.

– Ou eles podem simplesmente não estar montando guarda à arma. – Sirius disse entortando a cabeça, frustrado – Realmente não temos como saber quais das nossas suposições são fatos…
– Parece que nesse livro vamos ter ainda mais dificuldade de saber ao certo quais das nossas suposições estão corretas. – Remo suspirou cansado – Ainda mais com Dumbledore evitando Harry do jeito que parece estar…

— Mas a arma vai ser bem maior que a pedra! — disse Rony.
— Não vejo por que — retrucou Fred.
— É, tamanho não é garantia de potência — disse Jorge. — Olhe só a Gina.
— Como assim? — perguntou Harry.
— Ela nunca lançou em você a azaração que usa para rebater bicho-papão?

– Nem queiram saber. – Gina disse com uma piscadela.

– Você tem estilo! – Sirius disse rindo para Gina e retribuindo a piscadela.
– Apenas torçam para nunca ficar do lado errado quando Gina está irritada demais. – Rony disse com óbvia sabedoria de causa.

— Psss! — fez Fred, erguendo-se um pouco da cama. — Ouçam!
Todos se calaram. Havia passos subindo a escada.
— Mamãe — disse Jorge e, sem mais demora, ouviu-se um forte craque e Harry sentiu um peso sumir dos pés de sua cama. Segundos depois, os garotos ouviram as tábuas do soalho rangerem do lado de fora da porta; sem disfarces, a Sra. Weasley estava escutando à porta para verificar se conversavam. Edwiges e Píchi piaram tristemente. As tábuas tornaram a ranger e os dois meninos a ouviram subir mais um andar, para verificar Fred e Jorge.
— Ela não confia nadinha na gente, sabe — lamentou Rony.

– E o que ela poderia fazer? – Sirius revirou os olhos irritado – Cortar as línguas de vocês por estarem conversando?

– Ela é nossa mãe… Não é como se nós gostássemos de desobedecer na cara dela. – Rony deu de ombros.
– Claro, vocês esperam ela virar as costas para desobedecer. – Remo disse com uma risada – Não é nada inteligente da parte dela querer impedir vocês de conversarem sobre o que descobriram… Mas se for pensar assim, também não é inteligente deixar vocês no escuro sobre tudo o que acontece… – concluiu dando de ombros.
– Acho que eles só vão perceber isso quando for tarde demais. – Lily disse com um suspiro triste antes de voltar a ler.

Harry estava certo de que não conseguiria adormecer; a noite fora tão cheia de informações sobre as quais refletir que ele não duvidava de que iria passar horas acordado tentando digeri-las. Queria continuar a conversar com Rony, mas a Sra. Weasley fez as escadas rangerem na descida, e depois dela Harry ouviu distintamente outros virem subindo... na realidade, criaturas de muitas pernas galopavam para cima e para baixo do lado externo da porta, e Hagrid, o professor de Trato das Criaturas Mágicas, ia dizendo “Umas lindezas, não são? Este semestre vamos estudar armas...”, e Harry viu que as criaturas tinham canhões em lugar de cabeças e estavam manobrando para enfrentá-lo... ele se abaixou…

– Quando seus sonhos não são terríveis eles são até engraçados. – Gina disse trocando um meio sorriso com Harry.


A próxima coisa de que teve consciência foi que estava enrolado como uma bola, aquecido sob as cobertas, e a voz forte de Jorge enchia o quarto.
— Mamãe falou para vocês se levantarem, que o café da manhã está na cozinha, e que depois ela precisa de todos nós na sala de visitas, tem um número muito maior de fadas mordentes do que ela imaginou, e que encontrou um ninho de pufosos mortos embaixo do sofá.

– Que maneira agradável de passar o dia… – Sirius bufou – Eu poderia apostar que vou ter as mesmas funções…


Meia hora depois, Harry e Rony, que se vestiram e tomaram café, apressados, chegaram à sala de visitas no primeiro andar, um aposento comprido de teto alto, com paredes verde-oliva cobertas por tapeçarias sujas. O tapete soltava nuvenzinhas de poeira cada vez que alguém pisava nele, e as longas cortinas de veludo verde-musgo zumbiam como se nelas houvesse enxames de abelhas invisíveis. A Sra. Weasley, Hermione, Gina, Fred e Jorge estavam agrupados, todos com caras estranhas, pois usavam um pano amarrado sobre o nariz e a boca. Cada um deles segurava um garrafão de líquido preto com um esguicho no bocal.
— Protejam o rosto e apanhem um borrifador — disse a Sra. Weasley a Harry e Rony no instante em que os viu, apontando para mais dois garrafões cheios de um líquido preto, em cima de uma mesa de pernas finas. — É Fadicida. Nunca vi uma infestação tão séria: o que será que o elfo doméstico desta casa andou fazendo nos últimos dez anos...?
O rosto de Hermione estava semioculto por uma toalha, mas Harry notou perfeitamente o olhar de censura que ela lançou à Sra. Weasley.

– Você devia ter dado a ela olhares de censura na noite anterior quando ela insinuou claramente que eu fui preso e não pude cuidar de Harry por ser um irresponsável. – Sirius disse com um sorriso irônico – Quanto a Monstro… Ele realmente não deve ter cuidado muito bem da casa nesses dez anos… Não que eu me importe muito.

– Pois eu penso que você se importa mais do que você gosta de admitir. – Remo murmurou para que apenas Sirius escutasse. Sirius apenas deu de ombros.

— O Monstro está muito velho e provavelmente não pôde...
— Você ficaria surpresa com o que o Monstro pode fazer quando quer, Hermione — disse Sirius, que acabara de entrar na sala trazendo uma saca ensanguentada que parecia conter ratos mortos. — Estive alimentando o Bicuço — acrescentou em resposta ao olhar indagador de Harry. — Guardo-o lá em cima no quarto da minha mãe. Em todo o caso... essa escrivaninha...

Sirius soltou uma gargalhada semelhante a um latido que contagiou a vários dos presente.

– Minha mãe adoraria saber que resolvi usar a suíte principal da casa como curral para o meu hipogrifo! – ele disse entre risadas.

Ele largou a saca de ratos em uma poltrona, depois se curvou para examinar o armário trancado, o qual Harry reparava pela primeira vez que estava vibrando.
— Bom, Molly tenho certeza de que isso é um bicho-papão — disse Sirius, espiando pelo buraco da fechadura — mas talvez fosse bom o Olho-Tonto dar uma espiada antes que o soltemos: conhecendo minha mãe, pode ser coisa muito pior.
— Você tem razão, Sirius — disse a Sra. Weasley.
Ambos se falavam em um tom intencionalmente leve e educado, que deixou muito claro a Harry que nenhum dos dois esquecera o desentendimento da noite anterior.

– É claro que não esqueceram. – Lily estalou a língua com irritação – A mãe de vocês foi extremamente rude com Sirius… Nunca pensei que ela poderia ser tão insensível!

– E nós sabemos que ela não queria magoar ninguém. – Sirius disse levantando a mão antes que Gina tivesse a oportunidade de falar – Mesmo assim, foi insensível.

Uma campainha forte e ressonante tocou no térreo, seguida imediatamente pela cacofonia de berros e guinchos que na noite anterior haviam sido provocados por Tonks ao derrubar o porta-guarda-chuvas.
— Vivo dizendo a eles para não tocarem a campainha! — exclamou Sirius exasperado e saiu correndo da sala.
Ouviram-no descer com estrondo as escadas, ao mesmo tempo que os guinchos da Sra. Black ecoavam mais uma vez por toda a casa.
“Símbolos da desonra, mestiços sórdidos, traidores do próprio sangue, filhos da imundície...”
— Por favor, feche a porta, Harry — pediu a Sra. Weasley.
Harry demorou o máximo que ousou para fechar a porta da sala de visitas; queria ouvir o que estava acontecendo lá embaixo.

– Sinceramente, – Tiago disse virando-se para Harry – se eu estivesse no seu lugar não permitiria que me deixassem no escuro e me tratassem como criança dessa maneira…

– E o que você faria? – Harry perguntou com um sorriso de canto de boca, curioso.
– Para começar, eu teria invadido a reunião da Ordem em que o Dumbledore estava no dia anterior e exigido um pouco de respeito e confiança… Depois de tudo o que você fez… – Tiago disse entortando a boca irritado.
– Não há garantia alguma de que Dumbledore te diria alguma coisa, é claro. – Sirius disse com uma risadinha irônica – Mas pelo menos você teria mostrado a todos eles que você não tem medo de Dumbledore do mesmo jeito que não tem medo de Voldemort…
– Ou eles pensariam que você é infantil e te tratariam ainda mais como criança… – Lily disse balançando a cabeça para Tiago e Sirius.
– De qualquer jeito, – Tiago disse sem dar importância ao comentário de Lily – de uma forma ou de outra você mostraria a que veio.

Sirius obviamente conseguira fechar as cortinas que cobriam o retrato da mãe, porque ela parara de berrar. O garoto ouviu os passos do padrinho no corredor, depois o tinido da corrente da porta de entrada e, por fim, a voz grave que ele reconheceu pertencer a Kingsley Shacklebolt:
— Héstia acabou de me substituir, a capa de Moody ficou com ela, mas eu gostaria de deixar um relatório para o Dumbledore...

– Eu diria que isso significa que eles ainda estão vigiando alguma coisa… – Remo disse acenando com a cabeça pensativo.

– Creio que sim. – Tiago concordou lentamente – A capa de Moody a que ele se refere só pode ser uma capa de invisibilidade… Ideal para manter vigília.
– Então a tal arma não deve estar em Hogwarts mesmo. – Alice disse interessada – E a Ordem tem acesso, mas não deve estar em posse da Ordem…
– Faz sentido. – Frank disse balançando a cabeça para Alice enfaticamente – Se estivesse em posse da Ordem eles não teriam tanto trabalho para montar guarda, não precisariam de uma capa de invisibilidade…
– Mas ainda assim, a Ordem tem acesso a o que quer que seja. – Sirius disse balançando as pernas ansioso – Onde essa arma poderia estar?
– No ministério. – Severo murmurou fazendo todos virarem-se para ele – É o que faz mais sentido. Eles tem acesso, mas não posse.
– E os comensais da morte também não tem posse… – Tiago concordou tamborilando com os dedos no braço do sofá ansioso – Mas eles também tem acesso… Ainda mais com o ministério se recusando a reconhecer o perigo…
– Então a arma, o que quer que seja ela, está no ministério… – Remo disse nervoso – Como se as coisas já não fossem ruins o bastante.

Sentindo o olhar da Sra. Weasley em sua nuca, Harry, penalizado, fechou cuidadosamente a porta da sala e tornou a se juntar ao grupo de limpeza.
A Sra. Weasley curvou-se para consultar a página sobre as fadas mordentes no Guia de pragas domésticas de Gilderoy Lockhart, aberto sobre o sofá.

– E depois de tudo o que aconteceu no segundo livro, a mãe de vocês ainda acredita em Lockhart? – Alice perguntou confusa.

– O guia de pragas domésticas é bem útil na verdade. – Hermione deu de ombros – Sabemos que não foi ele quem realmente escreveu, e sim uma pessoa mais competente, então…
– E o que aconteceu com ele afinal? – Frank perguntou curioso – Ele recuperou a memória? As pessoas continuam achando que foi ele quem fez tudo o que os livros dizem?
– Não podemos falar. – Neville disse antes que Hermione tivesse a oportunidade.
– Então ele vai aparecer de novo? – Alice perguntou interessada.
– Realmente não podemos falar. – Neville repetiu acenando enfaticamente para Lily voltar a ler.

— Certo, meninos, vocês precisam ter cuidado, porque as fadas mordentes mordem e os dentes delas são venenosos. Tenho um vidro de antídoto aqui, mas preferiria que ninguém precisasse usá-lo.
Ela endireitou o corpo, tomou posição bem diante das cortinas e fez sinal para os garotos avançarem.
— Quando eu mandar, comecem a borrifar imediatamente. Elas vão voar pra cima de nós, imagino, mas segundo as instruções do Fadicida, uma boa esguichada pode paralisá-las. Quando isto acontecer é só atirá-las neste balde. A Sra. Weasley saiu cuidadosamente da linha de fogo dos garotos e ergueu o próprio garrafão.
— Muito bem — agora!
Harry estava borrifando havia alguns segundos quando uma fada mordente adulta saiu voando da dobra da cortina, vibrando as asas reluzentes como as de um besouro, os dentinhos afiados à mostra, o corpo coberto de espessos pelos pretos e os quatro punhos miúdos apertados com fúria. Harry acertou o Fadicida em cheio na cara da fada. Ela parou no ar e caiu sobre o tapete puído que cobria o chão, com um baque surpreendentemente forte. Harry recolheu-a e atirou-a no balde.
— Fred, que é que você está fazendo? — perguntou a Sra. Weasley com aspereza. — Borrife logo e jogue essa coisa fora.
Harry se virou para olhar. Fred segurava entre o indicador e o polegar uma fada que se debatia.
— Certo — respondeu Fred animado, borrifando depressa a cara da fada para fazê-la desmaiar, mas, no instante em que a Sra. Weasley virou as costas, ele a enfiou no bolso com uma piscadela.
— Queremos testar o veneno das fadas mordentes para o nosso kit Mata-Aula — murmurou Jorge para Harry.

– Kit Mata-Aula… – Sirius disse interessado – Nome sugestivo… Obviamente alguma coisa para ajudar os alunos a fugirem das aulas… Mas como? – perguntou retoricamente.

– É bom saber que eles estão desenvolvendo novos produtos com o dinheiro do prêmio. – Tiago disse trocando um sorriso com Harry – Já sabemos de pelo menos dois novos produtos… Aposto que eles vão ser maiores que a Zonko’s. – Tiago completou estendendo a mão para Sirius.
– Boa tentativa. – Sirius disse desdenhando da mão de Tiago – Eu tenho certeza de que eles serão melhores que a Zonko’s, a Zonko’s perdeu o espírito há alguns anos… Os produtos são muito repetitivos.

Borrifando com perícia duas fadas que voavam para o seu nariz, Harry se aproximou de Jorge e cochichou pelo canto da boca:
— Que é um kit Mata-Aula?
— Um kit com docinhos para deixar o aluno doente — sussurrou Jorge, mantendo um olho preocupado nas costas da Sra. Weasley. — Não é doente para valer, entenda, só o suficiente para o cara sair da sala de aula na hora que quiser. Fred e eu estivemos fazendo experiências nessas férias. São de mastigar e têm extremidades de cores diferentes. Se o cara come a metade laranja da Vomitilha, ele vomita. Na hora em que for levado depressa para a ala hospitalar, ele engole a metade roxa...
—... que “restaura o seu bem-estar e lhe permite curtir a atividade que escolher durante aquela hora que, do contrário, seria ocupada por um tédio inútil”. Pelo menos é como estamos anunciando — cochichou Fred, que havia se aproximado para fugir da linha de visão da Sra. Weasley e agora ia varrendo algumas fadas dispersas e guardando-as no bolso. — Mas ainda é preciso um pouco de pesquisa. No momento, os nossos provadores ainda têm achado meio difícil parar de vomitar o tempo suficiente para comer a parte roxa.
— Provadores?
— Nós — explicou Fred. — Nós nos revezamos. Jorge provou as Fantasias Debilitantes, nós dois experimentamos o Nugá Sangra-Nariz...

– Geniais! – Remo exclamou impressionado – Eles tem que ser extremamente bons em poções para isso…

– E as pessoas achando que eles eram apenas os bagunceiros da família. – Lily concordou enfaticamente – Eles precisam ser muito mais inteligentes do que qualquer um imaginava para isso…
– E não é apenas em poções. – Tiago disse com um grande sorriso – Para várias das coisas que nós já vimos, eles precisaram misturar mais de um ramo da magia… E é impossível fazer isso sem uma boa noção de aritmancia.
– Ou seja, – Sirius disse sorrindo para Rony e Gina – seus irmãos são gênios.
– Sempre soube. – Gina disse confiante.

— Mamãe pensou que a gente tivesse andado duelando — disse Jorge.
— A Loja de Logros e Brincadeiras ainda está valendo, então? — murmurou Harry, fingindo ajustar o esguicho do borrifador.
— Bom, ainda não tivemos chance de arranjar um local — disse Fred, baixando ainda mais a voz, enquanto a Sra. Weasley enxugava a testa com a echarpe para voltar ao ataque — por isso estamos operando na base de remessas postais, por enquanto. Pusemos anúncios no Profeta Diário na semana passada.
— Tudo graças a você, cara — disse Jorge. — Mas não se preocupe... mamãe não tem a menor ideia. Ela não lê mais o Profeta Diário porque anda contando mentiras sobre você e Dumbledore.

– Mas para mim, a pessoa mais inteligente dessa história toda é o Harry. – Sirius disse categórico – Ele viu o potencial e fez um investimento certeiro… Se uma poção de cabelos quadruplicou a fortuna dos Potter, não imagino o que Harry pode fazer investindo nos lugares certos…

– É uma pena que Harry nem pense em sacar o lucros. – Tiago disse balançando a cabeça com falsa repreensão.
– Ainda não é o momento certo para retirar os lucros. – Sirius deu de ombros – Talvez depois que a loja estiver estabelecida…
– Mas Harry nem ao menos tem um contrato de sociedade. – Tiago disse jogando os braços para o alto falsamente exasperado.
– Ainda há tempo. – Remo disse fingindo-se de pensativo, batendo com os dedos no queixo – Harry pode fazê-los assinar um recibo antes da loja se estabelecer… E depois forjar o contrato de sociedade.
– As ideias de negócios e investimentos de vocês são todas muito divertidas, – Lily disse balançando a cabeça condescendente – mas nós temos um livro para ler. – completou levantando o livro que estava pousado em seu colo e retomando a leitura.

Harry riu. Obrigara os gêmeos Weasley a aceitarem o seu prêmio de mil galeões pela vitória no Torneio Tribruxo, para ajudá-los a realizar a ambição de abrir uma loja de logros e brincadeiras, mas continuava satisfeito que a Sra. Weasley não soubesse de sua contribuição para incentivar os planos dos gêmeos. Ela achava que dirigir uma loja de logros e brincadeiras não era uma carreira digna para os dois filhos.

– Ela realmente deveria rever isso… – Lily suspirou levantando os olhos do livro – Ainda mais depois da maneira como o ministério está agindo com Harry…

– Mesmo antes disso, – Remo disse categórico – os filhos dela são inteligentes demais para passarem a vida sentados em cadeiras do ministério. Eles são inventores…
– Não há nada de errado em trabalhar para o ministério. – Tiago disse balançando a cabeça – Mas nesse caso, eles tem criatividade demais para o ministério… Eles tem várias ideias, e sabem como realizá-las…

A desfadização das cortinas ocupou a maior parte da manhã. Já passava de meio-dia quando a Sra. Weasley finalmente tirou a echarpe que a protegia, deixou-se cair em uma poltrona com as molas afundadas e de repente levantou-se outra vez, soltando um grito de nojo, pois se sentara em cima da saca de ratos mortos.

Sirius não resistiu a soltar uma risadinha pelo nariz, que logo fez a maior parte da sala cair na risada.


As cortinas haviam parado de zumbir; pendiam moles e úmidas com o intenso borrifamento. No balde aos pés deles, jaziam amontoadas as fadas mordentes paralisadas, ao lado de uma bacia com seus ovos negros; Bichento agora os farejava e Fred e Jorge lançavam olhares de cobiça.
— Acho que vamos cuidar daqueles depois do almoço.
A Sra. Weasley apontou para os armários de portas de vidro empoeiradas a cada lado do console da lareira. Estavam abarrotados com uma estranha variedade de objetos: uma coleção de adagas enferrujadas, garras, uma pele de cobra enrolada, algumas caixas de prata oxidada com inscrições em línguas que Harry não reconheceu e, o mais desagradável de todos, uma garrafa de cristal lapidado com uma grande opala engastada na rolha, contendo o que Harry tinha certeza que era sangue.

– É sangue. – Sirius disse com um olhar sombrio.

– E o que uma garrafa de sangue faz em um armário da sala da casa da sua família? – Lily perguntou encolhendo-se, enojada.
– Segundo meu pai, é o sangue de Sirius Black I. Ele era o irmão mais velho de Fineus Nigellus, mas morreu aos 8 anos misteriosamente… – Sirius disse esforçando-se para lembrar da história de sua família – Algumas pessoas da minha família acreditam que é necessário sempre manter o sangue-puro de um Black em casa para que a casa não seja poluída. E o sangue de Sirius Black I foi guardado nessa garrafa para isso… – Sirius deu de ombros.
– Isso é macabro. – Alice disse franzindo a testa em desagrado.
– Minha família. – Sirius disse com um sorriso sombrio – Esse armário guarda relíquias de família desde a época de Cygnus Black I pai de Fineus Nigellus e Sirius Black I… Acho que nem minha mãe teve coragem de mexer na maioria das coisas do armário.
– E esse é o lugar que a Sra. Weasley resolveu limpar? – Lily perguntou franzindo a testa desconfortável.
– Tenho certeza de que alguém deve ter usado um feitiço de detecção de artes das trevas antes disso. – Sirius disse acenando com a mão desdenhosamente.
Rony, Hermione e Harry trocaram um olhar desconfortável que não passou despercebido a Remo e Tiago.

A campainha barulhenta da porta tornou a soar. Todos olharam para a Sra. Weasley.
— Fiquem aqui — disse ela com firmeza, agarrando a saca de ratos na hora em que recomeçavam os gritos da Sra. Black no andar de baixo. — Vou trazer uns sanduíches.
Saiu da sala, fechando cuidadosamente a porta ao passar. Na mesma hora, todos correram à janela para espiar a entrada. Viram o cocuruto de alguém de cabelos ruivos e malcuidados e uma pilha de caldeirões precariamente equilibrados.
— Mundungo! — exclamou Hermione. — Para que será que ele trouxe todos aqueles caldeirões?
— Provavelmente está procurando um lugar seguro para guardá-los — disse Harry. — Não era isso que estava fazendo na noite em que devia estar me seguindo? Apanhando caldeirões suspeitos?

– Imagino que a mãe de vocês não vai gostar nada disso. – Remo comentou com uma risadinha pelo nariz.


— É, você tem razão! — disse Fred, quando a porta de entrada foi aberta; Mundungo entrou com o carregamento de caldeirões e desapareceu de vista.
— Caramba, mamãe não vai gostar disso...
Ele e Jorge foram até a porta e pararam para escutar. Os berros da Sra. Black haviam parado.
— Mundungo está conversando com o Sirius e o Kingsley — murmurou Fred, franzindo a testa concentrado. — Não consigo ouvir direito... Vocês acham que podíamos arriscar as Orelhas Extensíveis?
— Talvez valha a pena — disse Jorge. — Eu podia ir escondido até lá em cima e apanhar um par...
Mas naquele exato momento ouviram tal explosão sonora no térreo que as Orelhas Extensíveis se tornaram dispensáveis. Todos puderam ouvir exatamente o que a Sra. Weasley estava berrando a plenos pulmões.
— NÃO ESTAMOS OPERANDO UM ESCONDERIJO PARA OBJETOS ROUBADOS!

– Claro que não! – Sirius disse fingindo-se ultrajado – Apenas para foragidos da justiça e pessoas que conspiram contra o ministério!

– Tem razão! – Remo disse entre as risadas dos outros – Objetos roubados entram em uma categoria completamente diferente de transgressão à lei!

— Adoro ouvir mamãe gritando com os outros — disse Fred, com um sorriso de satisfação no rosto, abrindo uma fresta na porta para permitir que a voz da Sra. Weasley entrasse melhor pela sala — é muito bom para variar!
—... COMPLETAMENTE IRRESPONSÁVEL, COMO SE NÃO TIVÉSSEMOS O BASTANTE PARA NOS PREOCUPAR SEM VOCÊ TRAZER CALDEIRÕES ROUBADOS PARA DENTRO DA CASA...
— Os idiotas estão deixando ela ganhar impulso — comentou Jorge, sacudindo a cabeça. — É preciso cortar logo o papo dela, senão vai se enchendo de vapor e não para mais. E anda doida para ter uma chance de desancar o Mundungo, desde que ele saiu escondido quando devia estar seguindo você, Harry... e lá vai a mãe do Sirius outra vez.

– Estou surpresa que ela tenha demorado tanto. – Alice comentou recebendo acenos de concordância de vários dos presentes.


A voz da Sra. Weasley foi abafada pelos novos guinchos e gritos dos retratos no corredor.
Jorge fez menção de fechar a porta para abafar o barulho, mas, antes que pudesse fazê-lo, um elfo doméstico esgueirou-se para dentro.
Exceto pelo trapo imundo amarrado como uma tanga nos quadris, ele estava completamente nu. Parecia muito velho. Sua pele dava a impressão de ser maior do que o corpo e, embora fosse careca, como todos os elfos domésticos, uma boa quantidade de pelos brancos saía de suas orelhas enormes como as de um morcego. Seus olhos injetados eram de um cinzento aquoso e seu nariz, bulboso, grande e meio trombudo.
O elfo não prestou a menor atenção em Harry nem nos demais. Agindo como se não pudesse vê-los, avançou arrastando os pés, o corpo curvado, mas lenta e decididamente, para o fundo do aposento, resmungando baixinho numa voz rouca e sonora como a de uma rã-touro.
—... cheira a esgoto e ainda por cima criminoso, mas ela não é melhor, traidora perversa do próprio sangue com esses pirralhos que emporcalham a casa da minha senhora, ah, minha pobre senhora, se ela soubesse, se soubesse a ralé que deixaram entrar em sua casa, que é que ela diria ao velho Monstro, ah, que vergonha, sangues ruins e lobisomens e traidores e ladrões, coitado do velho Monstro, que é que ele pode fazer...

– E você ainda acha que eu deveria tratar Monstro melhor… – Sirius disse para Tiago, com uma risadinha sarcástica.

– Mas isso é horrível. – Lily disse encarando o livro horrorizada – Nunca vi um elfo assim… Ele enlouqueceu com o tempo… Não é? Ele parece muito velho.
– Ele sempre concordou com minha mãe em tudo… E nunca se esforçou muito para esconder. – Sirius deu de ombros – Não acho que ele tenha mudado tanto assim… E não se iluda, não é porque está velho que ele fala assim.
Harry e Hermione trocaram um olhar preocupado enquanto Lily voltava a ler.

— Olá, Monstro — disse Fred em voz muito alta, fechando a porta com um estalo.
O elfo doméstico ficou imóvel, parou de resmungar, e encenou um sobressalto muito forte e pouco convincente.

– Eu disse. – Sirius disse categórico – Ele sabia muito bem que eles estavam na sala… E falou de proposito, para provocar.

– Você não pode sinceramente achar que ele fala coisas para provocar as pessoas… – Tiago disse franzindo a testa para Sirius.
– Você não sabe como ele é. – Sirius bufou – Ele é tão cruel quanto minha mãe… E sempre ajudava quando ela me castigava… E não queiram saber que tipos de castigo minha mãe me dava…
A maioria dos presentes encarou Sirius com receio. Mas Tiago e Remo trocaram um olhar de conhecimento, os dois já tinham ouvido de Sirius algumas coisas sobre a forma como seus pais o tratavam, e sabiam que era um assunto delicado. Tiago cutucou Lily com cuidado para que ela voltasse a ler.

— Monstro não viu o jovem senhor — disse, virando-se e fazendo uma reverência para Fred. Ainda com os olhos no tapete, acrescentou, em tom perfeitamente audível: — É um pirralho desagradável e traidor do próprio sangue, sim.
— Desculpe? — disse Jorge. — Não entendi essa última parte.
— Monstro não disse nada — repetiu o elfo, com uma segunda reverência, e acrescentou em um claro murmúrio: — e aqui temos os gêmeos, ferinhas desnaturadas que são.
Harry não sabia se ria ou não. O elfo se endireitou, olhando-os malignamente e, pelo jeito, convencido de que os garotos não podiam ouvi-lo continuou a resmungar.
—... e olhem a sangue ruim, parada ali insolente, ah, se a minha senhora soubesse, ah, como iria chorar, e tem um garoto novo, Monstro não sabe o nome dele. Que é que ele está fazendo aqui? Monstro não sabe...

– Não se deixem enganar. – Sirius resmungou com amargura – Ele sabe exatamente o que está fazendo.


— Este é o Harry, Monstro — disse Hermione, hesitante. — Harry Potter.
Os olhos claros de Monstro se arregalaram e ele resmungou mais depressa e mais furioso que nunca.
— A sangue ruim está falando com Monstro como se fosse minha amiga, se a senhora de Monstro o visse em tal companhia, ah, o que iria dizer...
— Não chame Hermione de sangue ruim! — disseram ao mesmo tempo Rony e Gina, muito zangados.
— Não tem importância — sussurrou a garota — ele não bate bem da cabeça, não sabe o que está...
— Não se engane, Hermione, ele sabe exatamente o que está dizendo — falou Fred, encarando Monstro com grande aversão.

– Eu já achava os gêmeos inteligentes antes… – Sirius disse concordando enfáticamente com Fred.


Monstro continuava resmungando, com os olhos fixos em Harry.
— É verdade? Esse é o Harry Potter? Monstro está vendo a cicatriz, deve ser verdade, foi o garoto que deteve o Lorde das Trevas, Monstro queria saber como foi que ele fez...
— E não queremos todos, Monstro? — falou Fred.
— Afinal que é que você está querendo? — perguntou Jorge.
Os enormes olhos de Monstro voltaram-se depressa para Jorge.
— Monstro está limpando — respondeu, fugindo à pergunta.
— Dá mesmo para acreditar! — disse uma voz atrás de Harry.
Sirius voltara; da porta, olhava aborrecido para o elfo. O barulho no corredor diminuíra; talvez a Sra. Weasley e Mundungo tivessem transferido a discussão para a cozinha. Ao ver Sirius, Monstro mergulhou em uma reverência ridiculamente profunda que achatou o seu nariz trombudo no chão.
— Fique em pé direito — disse Sirius impaciente. — Agora, que é que você está aprontando?
— Monstro está limpando — repetiu o elfo. — Monstro vive para servir a nobre casa dos Black...
— Que está ficando cada dia mais preta, está imunda.
— Meu senhor sempre gostou de brincar — disse Monstro, curvando-se outra vez, e continuando a murmurar. — O senhor sempre foi um porco mau e ingrato que partiu o coração de sua mãe...

– Nunca vi um elfo desrespeitar seu mestre dessa forma! – Tiago disse espantado – Você tem certeza de que ele não enlouqueceu com o tempo?

– Eu tenho certeza de que ele pensa assim atualmente, – Sirius deu de ombros – talvez o tempo tenha apenas tirado dele o discernimento de não falar essas coisas na frente do mestre dele.
– Ou ele ficou louco, e simplesmente pensa que não está falando essas coisas em voz alta. – Remo sugeriu.
– Pode ser. – Sirius disse desdenhosamente – Mas isso não faz dele um elfo melhor.

— Minha mãe não tinha coração, Monstro — retorquiu Sirius. — Sobrevivia de puro rancor.
Monstro tornou a se curvar e falou:
— O que o senhor disser — resmungou furiosamente. — O senhor não é digno de limpar a lama das botas de sua mãe, ah, minha pobre senhora, que diria se visse Monstro servindo esse filho, que odiava tanto, que desapontamento teve com ele...
— Perguntei o que estava aprontando — falou Sirius com a voz cortante. — Todas as vezes que você aparece fingindo que está limpando, esconde alguma coisa no seu quarto para não podermos jogá-la fora.
— Monstro nunca tiraria nada do seu lugar na casa do senhor — disse o elfo, e então murmurou depressa: — A senhora jamais perdoaria Monstro se a tapeçaria fosse jogada fora, faz sete séculos que está na família, Monstro precisa salvá-la, Monstro não vai deixar que o senhor e os traidores do próprio sangue e seus pirralhos a destruam...

– A tapeçaria. – Sirius disse com uma risadinha pelo nariz.

– O que tem nessa tapeçaria? – Alice perguntou com curiosidade.
– A árvore genealógica da família Black. – Sirius disse desdenhosamente – 700 anos de história da minha família.
– E da história do povo bruxo, do Reino Unido, em si. – Tiago disse balançando a cabeça – Os Black são parte da lista dos sagrados 28 e tem ligações com todas as outras famílias da lista.
– Sagrados 28? – Lily perguntou confusa.
– É uma lista das famílias que ainda são verdadeiramente puras no Reino Unido. – Tiago explicou – São 28 desde 1930, antes eram 29, mas minha família conseguiu ser retirada da lista porque meu avô Henry Potter, conhecido como Harry pelos amigos mais íntimos, – completou olhando para Harry de soslaio – defendeu os interesses dos trouxas e nascidos-trouxas durante seu tempo na Suprema Corte dos Bruxos.
– Então é dai que veio o nome do Harry? – Lily perguntou com um sorriso amoroso, encantada – Seu avô que defendia nascidos-trouxas?
– Eu nunca soube disso. – Harry disse encarando Tiago impressionado – Nunca soube de onde meu nome veio…
– Agora você sabe. – Tiago disse sorrindo para Harry com carinho – E vai saber a história toda, assim que nós tivermos tempo para conversar sobre alguma coisa que não seja o nosso futuro.
– Eu sabia sobre os sagrados 28, mas não sabia que os Potter estavam na lista antes de 1930 e nem da história de Henry Potter. – Hermione disse trocando um sorriso com Harry por ver o amigo tão contente – Na verdade os Weasley também são parte dos sagrados 28…
– O que é impressionante se for considerar que nós defendemos os trouxas veementemente. – Gina deu de ombros.
– Por isso somos traidores do sangue tão famosos. – Rony disse com orgulho óbvio.
– Os Longbottom também estão na lista. – Frank comentou sem muito interesse no título – Assim como os Abbott. – completou olhando de soslaio para Neville, que corou.
– Essa lista… – Lily disse observando Tiago com interesse – É considerada importante? É relevante?
– Para algumas pessoas sim. – Tiago deu de ombros – Especialmente para os puro-sangue tradicionalistas que estão na lista… Eles se consideram realmente sagrados… Mas pessoas normais não dão importância a lista.
– Minha família obviamente dá. – Sirius disse com desdem – Todos os casamentos mais recentes da minha família foram feitos dentro dos sagrados 28. Bellatrix com Lestrange, Narcisa com Malfoy… Era para Andromeda se casar com Nott. Era para eu me casar com Nott ou Rosier. Acho que já arranjaram uma noiva para Régulo, acho que é uma Bulstrode…
– Todas essas família estão nos sagrados 28? – Lily perguntou franzindo a testa.
– E mais algumas que conhecemos. – Tiago disse com um aceno de mão displicente – Não é realmente importante. – completou fazendo sinal para Lily voltar a ler.

— Achei que talvez fosse isso — respondeu Sirius, lançando um olhar desdenhoso à parede oposta. — Ela deve ter posto mais um Feitiço Adesivo Permanente atrás da peça, não duvido nada, mas se houver um jeito com certeza vou me livrar dela. Agora, vá embora, Monstro.
Aparentemente Monstro não ousava desobedecer a uma ordem direta, contudo o olhar que lançou ao passar por Sirius arrastando os pés era do mais profundo desprezo, e ele saiu resmungando sem parar.
—... volta de Azkaban dando ordens a Monstro, ah, minha pobre senhora, que diria se visse a casa agora, habitada por uma ralé, tesouros atirados no lixo, minha senhora jurou que ele não era mais seu filho, mas ele voltou, dizem que também é assassino...
— Continue a resmungar e vou virar mesmo assassino! — disse Sirius irritado, batendo a porta na cara do elfo.
— Sirius, ele não está com o juízo perfeito — Hermione defendeu-o. — Acho que não tem consciência de que podemos ouvi-lo.
— Ele passou tempo demais sozinho — disse Sirius — recebendo ordens malucas do retrato de minha mãe e sem ter com quem falar, mas sempre foi safado...
— E se você o libertasse — sugeriu Hermione esperançosa — quem sabe...

– Monstro morreria se fosse libertado. – Sirius disse com uma risadinha sombria – Ele idolatra os Black… E de qualquer forma, acho que se ele fosse libertado teria coisas demais para falar por ai…

– Como o fato dele ter sido libertado por um foragido da justiça e suposto assassino. – Tiago disse concordando veementemente – Fora que ele provavelmente procuraria o que restou dos Black…
– Ou seja, Narcisa. – Sirius retomou a palavra – Esposa de um conhecido comensal da morte…
– Eu entendi. – Hermione os interrompeu levantando uma mão – Não é uma boa ideia libertar Monstro, e talvez libertar os elfos não seja o melhor para todos eles…
– Achei que nunca fosse te ouvir admitindo isso. – Rony disse com uma risadinha recebendo acenos enfáticos de concordância de Harry, Gina e Neville.

— Não podemos libertá-lo, ele sabe demais sobre a Ordem — disse Sirius secamente. — De qualquer modo, o choque o mataria. Proponha a ele ir embora dessa casa, e veja a reação.
Sirius atravessou a sala até onde estava pendurada a tapeçaria que Monstro tentara proteger, ocupando toda a parede. Harry e os outros o seguiram. A tapeçaria parecia imensamente velha; desbotada e, pelo aspecto, as fadas mordentes a haviam roído em alguns pontos. Mesmo assim, o fio de ouro com que fora bordada conservava brilho suficiente para mostrar uma enorme árvore genealógica que remontava (até onde Harry pôde ver) à Idade Média. Bem no alto da tapeçaria, lia-se em grandes letras:
A Mui Antiga e Nobre Casa dos Black
“Toujours pur”
— Você não está aí! — admirou-se Harry, depois de examinar a parte inferior da árvore.

– Claro que não estou. – Sirius disse com uma risada irônica – Devo ter sido queimado pela minha querida mãezinha quando me recusei a aceitar o noivado que ela arranjou e fugi de casa…


— Costumava estar aqui — respondeu Sirius, apontando para um buraquinho redondo e carbonizado na tapeçaria, que lembrava uma queimadura de cigarro. — Minha meiga e querida mãe me detonou depois que fugi de casa – Monstro gosta muito de resmungar essa história.
— Você fugiu de casa?
— Quando tinha uns dezesseis anos. Já estava cheio.
— Aonde você foi? — perguntou Harry, mirando o padrinho.
— Para a casa do seu pai — respondeu Sirius. — Seus avós foram muito compreensivos; meio que me adotaram como um segundo filho. É, eu acampava na casa do seu pai durante as férias escolares, e quando fiz dezessete anos montei casa própria. Meu tio Alphard me deixara um bom dinheiro, ele também foi removido da tapeçaria, provavelmente por essa razão, em todo o caso, a partir daí cuidei de mim mesmo. Mas eu era sempre bem-vindo na casa dos Potter para o almoço de domingo.

– E com acampava na casa de Tiago, Sirius quis dizer que tinha o próprio quarto. – Remo disse com uma gargalhada.

– Mas ainda assim ele passa mais tempo no meu. – Tiago disse com um aceno de mão displicente – Assim como Remo durante as luas cheias e Pedro… – Tiago parou de falar de repente e sua expressão mudou completamente de displicente para receoso, a mesma expressão surgiu nos rostos de Remo e Sirius. Lily achou melhor voltar a ler.

— Mas... por que você...?
— Saí de casa? — Sirius sorriu com amargura e passou os dedos pelos cabelos longos e maltratados. — Porque odiava todos eles: meus pais, com a mania de puro-sangue, convencidos de que ser um Black tornava a pessoa praticamente regia... meu irmão idiota, frouxo suficiente para acreditar neles... olhe ele ali.
Sirius enfiou um dedo bem na base da árvore, indicando “Régulo Black”. Uma data de falecimento (há uns quinze anos) seguia-se à do nascimento.

– Então Régulo morreu antes de… De vocês? – Sirius balbuciou triste – Como? Ele é muito novo…

– Acho que vamos descobrir agora. – Lily disse indicando o livro em seu colo, receosa.
– E vocês vão ver como estão errados. – Sirius suspirou encarando Lily e Tiago – Régulo não seguiu o mesmo caminho que eu… Ele não teria tido tempo para mudar de ideia… Ele vai morrer em uns dois anos…
– Dois anos é tempo o bastante para aprender a verdade e mudar de ideia. – Remo disse dando um tapinha no ombro de Sirius, tentando consolá-lo.
– Você sabe que isso é improvável. – Sirius disse com um aceno de mão desdenhoso – Régulo morreu enquanto Voldemort ainda estava no topo… Antes de tudo o que aconteceu com Tiago e Lily…
Remo tentou falar mais alguma coisa, mas Tiago balançou a cabeça para ele e indicou que Lily continuasse lendo.

— Ele era mais novo e um filho muito melhor do que eu, meus pais não se cansavam de me lembrar.
— Mas ele morreu — disse Harry.
— Morreu. Um idiota... juntou-se aos Comensais da Morte.

Sirius apenas soltou um suspiro resignado, ninguém teve coragem de tentar consolá-lo. Tiago e Remo sabiam que, apesar de tudo, Sirius se importava de verdade com Régulo e estava preocupado com o destino dele desde o inicio dos livros.


— Você está brincando!
— Ora vamos, Harry, você já não viu o suficiente nesta casa para saber que tipo de bruxos era a minha família? — disse Sirius irritado.
— Eles eram... os seus pais, Comensais da Morte também?
— Não, não, mas pode acreditar, eles achavam que Voldemort estava certo, eram totalmente a favor de purificar a raça bruxa, de nos livrar dos nascidos trouxas e entregar o comando aos puros-sangues. E não estavam sozinhos, havia muita gente antes de Voldemort mostrar sua verdadeira cara, que acreditava nele... se acovardaram quando viram a que extremos ele estava disposto a ir para assumir o poder. Mas aposto que meus pais achavam que Régulo era o perfeito heroizinho quando se alistou logo no começo.
— Ele foi morto por um auror? — perguntou Harry tentando adivinhar.
— Oh, não. Ele foi morto por Voldemort. Ou por ordens de Voldemort, o que é mais provável; duvido que Régulo tenha se tornado bastante importante para ser morto por Voldemort em pessoa. Pelo que descobri depois de sua morte, ele acompanhou o movimento até certo ponto, então entrou em pânico com o que lhe pediam para fazer e tentou recuar. Bem, ninguém simplesmente entrega um pedido de demissão a Voldemort. É um serviço para a vida toda.

– Ele tentou sair. – Alice disse com a voz fraca em tom de consolo – Ele pode ter tomado uma decisão errada, mas ele não devia ser cruel como os outros…

– Alice tem razão. – Tiago disse sorrindo para Alice em agradecimento – Régulo no fundo não é uma pessoa ruim… Ou ele não teria problemas com as funções que são esperadas de um comensal da morte…
– Do que adianta? – Sirius perguntou irritado – Ele foi para o lado ruim mesmo eu tendo passado anos falando as coisas para ele. E ele morreu por ser burro a ponto de se alistar!
– Ele se arrependeu! – Lily disse com veemência – Pelo menos ele se arrependeu no final…
Sirius desdenhou do argumento de Lily com um aceno de mão. Tiago suspirou resignado e indicou que Lily devia voltar a ler.

— Almoço — anunciou a voz da Sra. Weasley.
Ela vinha empunhando a varinha bem no alto, equilibrando na ponta uma enorme bandeja carregada de sanduíches e bolos. Estava com a cara muito vermelha e ainda parecia zangada. Os outros se aproximaram, ansiosos para comer, mas Harry continuou em companhia de Sirius, que se curvou para a tapeçaria.
— Faz anos que não olho isso. Veja o Fineus Nigellus, meu tetravô... o diretor menos querido que Hogwarts já teve... e Araminta Melíflua... prima de minha mãe... tentou aprovar à força uma lei ministerial que tornava legal a caça aos trouxas... e a querida tia Eladora... deu início à tradição familiar de decapitar os elfos domésticos quando ficavam velhos demais para carregar as bandejas de chá... é claro que sempre que a família gerava alguém razoavelmente decente, ele era repudiado. Estou vendo que Tonks não está aqui. Talvez seja por isso que Monstro não recebe ordens dela: a obrigação dele é atender a tudo que alguém da família pedir...

– Sua família é… – Alice disse virando-se para Sirius que ainda estava mal-humorado – Assustadora…

– Eu avisei. – Sirius murmurou irritado – E Tonks não deve estar na tapeçaria porque Andromeda foi deserdada… Antes mesmo de eu fugir de casa Andromeda já tinha sido queimada.

— Você e Tonks são parentes? — perguntou Harry surpreso.
— Ah, claro, a mãe dela, Andrômeda, era minha prima favorita — disse, examinando a tapeçaria com cuidado. — Não, Andrômeda também não está aqui, olhe...
E apontou para mais uma queimadurazinha redonda entre dois nomes, Bellatrix e Narcisa.
— As irmãs de Andrômeda continuam aí porque fizeram casamentos belos e respeitáveis com puros-sangues, mas Andrômeda se casou com Ted Tonks que nasceu trouxa, então...
Sirius encenou o detonar da tapeçaria com a varinha e riu amargamente. Harry, porém, não achou graça; estava ocupado demais examinando os nomes à direita da queimadura de Andrômeda. Uma linha dupla de ouro ligava o nome de Narcisa Black com Lúcio Malfoy e uma única linha vertical que saía dos seus nomes ao nome de Draco.
— Você é parente dos Malfoy!
— As famílias de puro-sangue são todas entrelaçadas — declarou Sirius. — Se alguém deixar os filhos e filhas casarem apenas com puros-sangues, a escolha fica muito reduzida; sobram muito poucos. Molly e eu somos primos por casamento e Arthur parece que é um primo em segundo grau. Mas não adianta procurá-los aqui: se um dia houve uma família de traidores do próprio sangue foram os Weasley.

– Então é por isso que vocês sabiam que sua avó Cedrella foi queimada da tapeçaria… – Sirius disse de repente virando-se para Gina – Você comentou alguns capítulos atrás que ela tinha sido retirada…

– Sim. – Gina deu de ombros – Nós descobrimos que ela não estava na árvore nesse dia… Papai já tinha nos contado sobre como nossa avó cortou relações com a família para se casar com nosso avô… Porque mesmo nosso avô sendo puro-sangue e tudo mais, ele já era considerado um traidor do sangue…
– Foi nosso avô Septimus que fez nosso pai se apaixonar por tudo o que vem dos trouxas. – Rony disse concordando com Gina enfaticamente – Papai diz que nosso avô defendia tanto os direitos dos trouxas em casa que ele ficou curioso para aprender mais… Por isso ele fez estudo dos trouxas em Hogwarts e ficou ainda mais fascinado.

Mas Harry agora estava lendo o nome à esquerda da queimadura de Andrômeda: Bellatrix Black, que era ligada por uma linha dupla a Rodolfo Lestrange.
— Lestrange... — disse Harry em voz alta.
O nome despertara alguma coisa em sua memória; ele o conhecia de algum lugar, mas por um instante não conseguiu lembrar de onde, embora tenha tido uma sensação estranha e sorrateira no fundo do estômago.

Harry trocou um olhar com Neville, que suspirou profundamente quando Frank e Alice seguraram suas mãos ao mesmo tempo.


— Estão em Azkaban — disse Sirius brevemente.
Harry mirou-o com curiosidade.
— Bellatrix e o marido Rodolfo foram junto com Bartô Crouch júnior — esclareceu Sirius, no mesmo tom brusco. — O irmão de Rodolfo, Rabastan, também.
Então, Harry se lembrou. Vira Bellatrix na Penseira de Dumbledore, o estranho objeto em que era possível guardar pensamentos e lembranças: uma mulher alta e morena de pálpebras caídas, que se levantara no julgamento e declarara sua lealdade inabalável a Lord Voldemort, o orgulho que sentira em procurá-lo depois de sua queda e sua convicção de que um dia seria recompensada por essa lealdade.

– E provavelmente vai ser. – Tiago disse encarando Frank resignado – Voldemort vai libertar seus seguidores fiéis de Azkaban… Ainda mais tendo tão poucos comensais da morte à disposição…

– E então todas as declarações de Bellatrix no dia em que foi julgada se tornarão realidade. – Sirius bufou – Ela disse que ele voltaria… Ela disse que ela seria recompensada por sua fidelidade…
– Ainda me pergunto como é possível que ela soubesse que ele voltaria, quando ninguém mais tinha certeza do que havia acontecido. – Tiago disse coçando a cabeça pensativo – Ela tem que saber mais do que as outras pessoas sobre os planos de imortalidade de Voldemort…
– Talvez saiba. – Sirius disse com um suspiro cansado – Ela sempre se orgulhou em dizer que conquistou seu lugar no círculo íntimo de Voldemort…

— Você nunca disse que ela era sua...
— Faz diferença se é minha prima? — retrucou Sirius. — No que me diz respeito, nenhum deles é minha família. E ela menos de todos. Não a vejo desde que tinha sua idade, a não ser que se conte a visão de relance quando chegou a Azkaban. Você acha que tenho orgulho de ter uma parenta como ela?

– Então acho que não vou ver Bellatrix por algum tempo. – Sirius bufou irritado – Pelo menos alguma coisa boa tinha que acontecer na minha vida, não é?

Ninguém tinha uma resposta para aquilo.

— Desculpe — disse Harry depressa. — Eu não quis... fiquei surpreso, foi só...
— Não faz mal, não precisa se desculpar — disse o padrinho num murmúrio. Afastou-se então da tapeçaria, as mãos enterradas nos bolsos. — Não gosto de ter voltado — disse olhando pela sala. — Nunca pensei que voltaria a ficar preso nesta casa.
Harry entendeu perfeitamente. Sabia como iria se sentir quando crescesse e achasse que tinha se livrado da casa dos Dursley para sempre e precisasse voltar a viver na Rua dos Alfeneiros número quatro.

Harry e Sirius trocaram um olhar de compreensão. Ambos sabiam como era não se sentir bem na própria casa.


— Naturalmente é perfeita para uma sede — continuou Sirius. — Meu pai instalou nela todas as medidas de segurança conhecidas na bruxidade, quando morávamos aqui. Não é localizável, por isso os trouxas nunca podem aparecer para visitar, como se algum dia tivessem querido fazer isso, e agora que Dumbledore acrescentou novas medidas de proteção, seria difícil encontrar uma casa mais segura no mundo. Dumbledore é o Fiel do Segredo da Ordem, sabe, ninguém pode encontrar a sede a não ser que ele diga pessoalmente como fazer; aquele bilhete que Moody lhe mostrou, ontem à noite, era de Dumbledore... — Sirius deu uma risadinha curta. — Se meus pais vissem para que está servindo a casa deles agora... bom, o quadro da minha mãe já pode dar a vocês uma ideia...
Ele amarrou a cara por um momento, em seguida suspirou.
— Eu não me importaria se pudesse ao menos sair de vez em quando para fazer alguma coisa útil. Já perguntei a Dumbledore se posso acompanhar você à audiência, como cachorro, é claro, para poder lhe dar algum apoio moral, que é que você acha?

– É ridículo um homem adulto precisar de permissão para poder acompanhar o próprio afilhado. – Sirius disse entredentes – E eu tenho certeza de que Dumbledore não vai permitir… Meu eu-futuro estava muito melhor na caverna… Pelo menos estava livre.


Harry sentiu o estômago despencar e atravessar o tapete empoeirado. Não pensava na audiência desde o jantar da noite anterior; com a excitação de estar outra vez com as pessoas de quem mais gostava, de receber informações sobre tudo que estava acontecendo, a audiência fugira completamente de sua lembrança. Ao ouvir as palavras de Sirius, porém, a sensação esmagadora de pavor tornou a invadi-lo. Olhou para Hermione e os Weasley, todos devorando sanduíches, e pensou o que sentiria se voltassem a Hogwarts sem ele.
— Não se preocupe — disse Sirius. Harry levantou a cabeça e percebeu que Sirius estivera observando-o. — Tenho certeza de que vão inocentá-lo, decididamente há alguma coisa no Estatuto Internacional de Sigilo em Magia que prevê o uso da magia para salvar a própria vida.

– E seria uma lei bastante idiota se não tivesse. – Remo disse balançando a cabeça lentamente.


— Mas e se eles me expulsarem? — perguntou Harry em voz baixa. — Posso voltar para cá e morar com você?
Sirius sorriu com tristeza.
— Veremos.
— Eu me sentiria muito melhor sobre a audiência se soubesse que não precisaria voltar para a casa dos Dursley — Harry pressionou o padrinho.
— Lá deve ser bem ruim para você preferir este lugar — disse o padrinho sombriamente.
— Andem logo, vocês dois, ou não vai sobrar comida — chamou a Sra. Weasley.
Sirius deu mais um grande suspiro, lançou um olhar mal-humorado à tapeçaria, então ele e Harry foram se juntar aos outros.

– Pelo menos no Largo Grimmauld eu estaria com você… E em contato com o mundo bruxo… – Harry disse a Sirius encolhendo os ombros – E a casa dos Dursley só é um lugar ruim para mim…

– Como a casa dos meus pais só é ruim para mim. – Sirius acenou compreensivo.

O garoto fez o possível para não pensar na audiência, enquanto esvaziavam os armários de portas de vidro naquela tarde. Felizmente para ele, era uma tarefa que exigia concentração, porque um grande número de objetos ali dentro parecia muito relutante em deixar as prateleiras empoeiradas. Sirius aguentou uma mordida séria de uma caixa de rapé de prata; em poucos segundos sua mão se cobrira de uma crosta desagradável que lembrava uma grossa luva marrom.
— Tudo bem — falou, examinando a mão com interesse antes de lhe dar um toque de varinha e restaurar a pele ao normal — deve ter pó de fura-frunco aí dentro.
Atirou a caixa no saco em que estavam depositando os escombros dos armários; pouco depois, Harry viu Jorge enrolar a mão com todo o cuidado e esconder a caixa no bolso, já cheio de fadas mordentes.

– Pelo menos tudo isso vai servir para ajudar os gêmeos a desenvolver novos produtos. – Remo disse sorrindo para Sirius – Não imagino outro lugar onde eles teriam acesso fácil a esses materiais…

– Claro que não. – Sirius riu irônico – A sujeira da minha família é a melhor fonte de matéria-prima que os gêmeos poderiam encontrar!

Eles encontraram um instrumento de prata de aparência desagradável, algo semelhante a uma pinça de muitas pernas, que subiu como uma aranha pelo braço de Harry e, quando o garoto quis apanhá-la, tentou furar sua pele. Sirius agarrou-a e a esmagou com um livro pesado intitulado A nobreza natural: uma genealogia dos bruxos.

– É um livro muito mais interessante do que o Diretório de Puros-sangue. – Tiago disse balançando a cabeça – Pelo menos esse conta a história de todas as famílias bruxas e não apenas das consideradas completamente puras.

– Que livro é esse? Diretório de Puros-sangue? – Lily perguntou com curiosidade.
– É onde está a lista dos sagrados 28. – Frank respondeu com um aceno de mão displicente – Temos ele em casa. Minha mãe diz que todas as famílias dos sagrados 28 receberam o livro de presente quando foi publicado.
– Se nossa família recebeu uma cópia ela deve ter ido parar no lixo ao longo dos anos. – Rony disse e riu quando Hermione arfou e levou a mão à boca.
– Nunca jogue livros no lixo! – Hermione disse ultrajada.
– Alguns livros merecem o lixo. – Tiago disse categórico.
– Mesmo assim… – Hermione murmurou – Sempre uma boa fonte de pesquisa…
– Não se preocupe, Mione, se quiser te empresto a cópia que ainda está na casa da minha avó. – Neville disse com um sorriso.
– E é claro que se você quiser se aventurar pela biblioteca da casa dos meus pais, você vai encontrar um também. – Sirius deu de ombros.

Havia uma caixa musical que emitiu uma toada tilintante ligeiramente sinistra quando lhe deram corda, e eles logo descobriram que estavam ficando curiosamente fracos e sonolentos, até que Gina teve o bom senso de bater a tampa da caixa;

– Alguém tinha que usar a cabeça, não é? – Gina revirou os olhos – E é sempre a pessoa que é nova demais para saber ou entender qualquer coisa…


um medalhão pesado que ninguém conseguiu abrir;

– Inacreditável. – Rony murmurou consigo mesmo – Estava logo ali…

– O que disse? – Frank, que era quem estava mais perto de Rony, perguntou.
– Nada. – Rony respondeu espantado – Não disse nada… Só estava me lembrando de como foi uma limpeza desagradável…
Sirius, Remo e Tiago trocaram olhares, desconfiados.

vários selos antigos e, em uma caixa coberta de pó, uma Ordem de Merlim, primeira classe, que fora concedida ao avô de Sirius por “serviços prestados ao Ministério”.
— O que significa que deve ter doado a eles um carregamento de ouro — disse Sirius com desprezo, atirando a medalha no saco de lixo.
Várias vezes Monstro entrou timidamente na sala e tentou contrabandear alguma coisa sob a tanga, murmurando maldições terríveis sempre que alguém o surpreendia no ato. Quando Sirius tirou à força da mão dele um grande anel de ouro com o brasão dos Black, Monstro chegou a debulhar-se num choro furioso e abandonou a sala soluçando baixinho e xingando Sirius de nomes que Harry nunca ouvira.
— Pertenceu ao meu pai — disse Sirius atirando o anel no saco. — Monstro não era tão dedicado a ele quanto à minha mãe, mas ainda assim eu o apanhei abraçando uma calça velha do meu pai na semana passada.

– Monstro está alcançando novos níveis de loucura. – Sirius murmurou balançando a cabeça descrente.


A Sra. Weasley os fez trabalhar muito pesado durante os dias seguintes. A sala de visitas levou três dias para ser descontaminada. Por fim, as únicas coisas indesejáveis que restaram foram a tapeçaria com a árvore da família Black, que resistiu a todas as tentativas de baixá-la da parede, e a escrivaninha desconjuntada. Moody ainda não aparecera na sede, para se certificarem do que havia lá dentro.
Eles passaram da sala de visitas para uma sala de jantar no andar térreo, onde encontraram aranhas do tamanho de pires escondidas no armário (Rony saiu da sala apressado para fazer uma xícara de chá e só voltou uma hora e meia depois).

– Você tinha entrado na floresta para encontrar uma acromântula e não podia ficar na sala de jantar? – Alice perguntou com um sorriso condescendente.

– Entrei na floresta para tentar salvar as pessoas que estavam sendo petrificadas. – Rony deu de ombros e olhou de soslaio para Hermione – Limpar a sala de jantar não ia salvar a vida de ninguém…
Hermione sorriu para Rony carinhosamente sob o olhar atento de todos os presentes.

Sem a menor cerimônia, Sirius atirou a porcelana com o brasão e o lema dos Black no saco, e deu o mesmo destino a uma coleção de velhas fotos com molduras de prata oxidadas, cujos ocupantes soltaram guinchos agudos quando os vidros sobre as fotos se partiram.
Snape talvez se referisse ao trabalho deles como “uma limpeza”, mas, na opinião de Harry, o fato é que estavam travando uma guerra com a casa que resistia bravamente, ajudada e acobertada por Monstro. O elfo doméstico não parava de aparecer quando estavam todos reunidos, seus resmungos cada vez mais ofensivos quando tentava retirar o que pudesse dos sacos de lixo.

– Ele deve ter conseguido resgatar muito mais do que vocês imaginam… – Tiago disse apoiando o queixo na mão, pensativo – Elfos-domésticos costumam ser muito discretos, afinal a marca de um bom elfo-doméstico é não ser visto… Se vocês conseguiram interceptá-lo tantas vezes, imagino quantas vocês não conseguiram.


Sirius chegou até a ameaçá-lo com roupas, mas Monstro fixou-o com um olhar lacrimoso e disse: “O senhor deve fazer o que desejar”, antes de se afastar resmungando muito alto, “mas o senhor não vai mandar Monstro embora, não, porque Monstro sabe o que estão tramando, ah, se sabe, ele está conspirando contra o Lorde das Trevas, ah, sim, com esses sangues ruins e traidores e gentalha...”
Ao que Sirius, não se importando com os protestos de Hermione, agarrou Monstro pela tanga e atirou-o para fora da sala.

– E está ai a prova de que Monstro não pode ser libertado. – Tiago suspirou pesadamente.


A campainha da porta tocava várias vezes por dia, o que era a deixa para a mãe de Sirius começar a berrar, e para Harry e os outros tentarem entreouvir o que dizia o visitante, embora pouco descobrissem nos breves relances e fragmentos de conversa que conseguiam captar, antes que a Sra. Weasley os chamasse de volta ao trabalho. Snape entrava e saía da casa com mais frequência, embora, para alívio de Harry, os dois nunca se encontrassem cara a cara; o garoto também avistou a professora de Transfiguração McGonagall, com uma aparência muito estranha usando vestido e casaco de trouxa, e pelo jeito muito atarefada para se demorar.

Tiago sorriu consigo mesmo ao saber que sua professora favorita também era parte da Ordem.


Por vezes, no entanto, os visitantes ficavam para ajudar. Tonks se reuniu aos garotos para uma tarde memorável, em que encontraram um velho vampiro homicida escondido em um banheiro do segundo andar, e Lupin, que estava morando na casa com Sirius, mas saía por longos períodos para realizar misteriosos mandados para a Ordem, ajudou-os a consertar um relógio de carrilhão que desenvolvera o desagradável hábito de atirar parafusos pesados em quem passava.

– Pelo menos a velha casa dos Black serve para te dar um bom teto… – Sirius disse dando palmadinhas no ombro de Remo – Mas você tem a vantagem de não ser obrigado a ficar…

– Conhecendo Dumbledore ele deve ter me mandado para contatar os lobisomens… – Remo disse soturno – Eu preferiria fica na casa com vocês…
– Dumbledore não te mandaria para os lobisomens… Não é? – Alice perguntou espantada.
– Ele mandou Hagrid para os gigantes. – Tiago disse lembrando-se do final do livro anterior – Há várias colonias de lobisomens em todo o Reino Unido e Remo é a única pessoa que conhecemos que conseguiria se infiltrar…
– Mas é muito perigoso! – Lily disse nervosa – E se alguém descobrisse que Remo não vive como eles…
– Voldemort com certeza tem o apoio de alguns lobisomens. – Remo disse com um suspiro cansado – Desse jeito, pelo menos, tiraríamos alguns dos apoiadores dele.
– Eu achei que Voldemort estivesse atrás da pureza da raça bruxa. – Alice disse confusa – Mas lobisomens não são considerados puros, mesmo quando eram de famílias de puro-sangue… Não é?
– Não somos considerados nem humanos puros. – Remo disse com uma risada sombria – Voldemort é um grande hipócrita que usa a desculpa da pureza de sangue para conquistar os bruxos mais ricos e poderosos que são verdadeiros puristas.

Mundungo se redimiu um pouco aos olhos da Sra. Weasley ao salvar Rony de uma coleção antiga de vestes púrpura que tentaram estrangulá-lo, quando ele quis removê-las do guarda-roupa.
Embora ainda dormisse mal, e ainda tivesse sonhos com corredores e portas trancadas que faziam sua cicatriz formigar, Harry estava conseguindo se divertir pela primeira vez naquele verão.

– E essa é a prova de que você teve um péssimo verão. – Sirius disse categórico – Se fazer faxina no mausoléu da minha família foi o ponto alto…


Enquanto trabalhava, estava feliz; quando a atividade diminuía, porém, e ele baixava a guarda ou se deitava exausto na cama, observando sombras difusas correrem pelo teto, o pensamento na iminente audiência no Ministério voltava a assediá-lo. O medo agulhava suas entranhas, quando se punha a imaginar o que ia acontecer com ele se fosse expulso. A ideia era tão terrível que não ousava verbalizá-la, nem mesmo para Rony e Hermione, e embora Harry os visse cochichando e lançando olhares ansiosos em sua direção, os amigos seguiam o seu exemplo e não a mencionavam.

– Você obviamente não queria falar sobre isso… – Rony disse encolhendo os ombros.

– E a maior parte das vezes que você nos viu cochichando era porque alguma outra pessoa havia falado algo sobre o assunto e estávamos tentando criar planos de contenção… – Hermione disse concordando enfaticamente.
– Um dos planos de contenção consistiu em me jogar para dentro de um armário na sala de jantar. – Gina disse franzindo a testa para o irmão e Hermione – Vocês podiam ter apenas me cutucado e mandado eu calar a boca…
– Momentos desesperados pedem medidas desesperadas. – Hermione disse fazendo a maioria dos presentes cair na gargalhada.
– Quando mamãe falava alguma coisa vocês apenas a interrompiam. – Gina disse entre as risadas.
– Não acho que teríamos como nos safar se tivéssemos jogado mamãe em um armário! – Rony disse com um aceno de mão displicente fazendo os outros rirem ainda mais.
– Eu não percebi nada disso. – Harry disse sorrindo com carinho para Rony e Hermione.
– Harry, – Hermione disse com um sorriso amoroso – você não é muito atento na maior parte do tempo…
– É o estilo dele. – Tiago murmurou entre as risadas.

Às vezes, ele não conseguia impedir sua imaginação de produzir um funcionário do Ministério sem rosto que quebrava sua varinha e o mandava retornar à casa dos Dursley... mas ele não queria ir. Estava decidido. Voltaria ao largo Grimmauld para morar com Sirius.
Harry teve a sensação de que engolira um tijolo quando a Sra. Weasley se virou para ele durante o jantar de quarta-feira e disse em voz baixa:
— Passei as suas melhores roupas para amanhã, Harry, e quero que lave o cabelo hoje à noite também. Uma primeira impressão boa pode fazer milagres.
Rony, Hermione, Fred, Jorge e Gina, todos pararam de conversar e olharam para ele. Harry concordou com a cabeça e tentou continuar a comer a costeleta de porco, mas sua boca ficara tão seca que não conseguiu mastigar.

– Mamãe podia ter esperado você acabar de comer… – Rony disse em tom de arrependimento – As costeletas estavam maravilhosas, você merecia aproveitá-las até o final.

Harry sorriu para Rony enquanto os outros voltavam a rir.

— Como é que eu vou até lá? — perguntou à Sra. Weasley, tentando não demonstrar preocupação.
— Arthur vai levar você para o trabalho — respondeu com gentileza a Sra. Weasley, que sorriu, procurando animar Harry defronte a ela na mesa.
— Você pode esperar na minha sala até a hora da audiência — disse o Sr. Weasley.
Harry olhou para Sirius, mas, antes que pudesse fazer a pergunta, a Sra. Weasley a respondeu.
— O Prof. Dumbledore acha que não é uma boa ideia o Sirius ir com você, e devo dizer que...
—... acho que ele tem toda razão — respondeu Sirius entre os dentes.
A Sra. Weasley contraiu os lábios.

– Eu disse que ele não permitiria que um homem adulto acompanhasse o próprio afilhado. – Sirius disse com um rosnado que fez todos voltarem à seriedade exigida pela situação.


— Quando foi que Dumbledore lhe disse isso? — perguntou Harry, encarando Sirius.
— Ele veio a noite passada, quando você já estava deitado — disse a Sra. Weasley.
Sirius furou uma batata com o garfo, pensativo. Harry baixou os olhos para o próprio prato. O pensamento de que Dumbledore estivera na casa, na véspera da audiência, e não pedira para falar com ele fez com que o garoto se sentisse ainda pior, se é que isto era possível.

– Isso é ridículo! – Sirius rosnou – Além de não me deixar te acompanhar, ele ainda faz você se sentir pior…

– O modo como Dumbledore está te ignorando vai acabar trazendo ainda mais problemas. – Lily suspirou pousando o livro sobre a mesinha de centro.
– Realmente acho que nós não devíamos falar de Dumbledore. – Remo disse trocando um olhar com Tiago.
– Tem razão! – Rony disse chamando a atenção de todos – Nós devíamos comer alguma coisa!
Todos caíram na gargalhada, mas concordaram com Rony e se dirigiram à mesa. Quando terminaram de lanchar, Tiago foi ao quarto enquanto os outros conversavam à mesa, Harry e Lily o acompanharam.
– Todas as vezes que conversamos eu falo para você sobre minha mãe… – Tiago disse encarando Harry que estava sentado na cama ao lado, de frente para Tiago e Lily – E desde que começamos a ler o livro, antes mesmo de vocês chegarem, eu já sabia de onde o seu nome tinha vindo… Mas nunca pensei que você não soubesse, ou que iria querer saber.
– Conte mais para a gente. – Lily disse segurando a mão de Tiago e recebendo um aceno de concordância veemente de Harry.
– Sobre meu avô? – Tiago perguntou e quando recebeu acenos de ambos continuou – Eu não o conheci… Como vocês sabem meus pais já eram muito velhos quando nasci… Mas meu pai me contou que meu avô foi membro da Suprema Corte dos Bruxos de 1913 a 1921… E ele causou muita controvérsia ao discordar publicamente do ministro da época, Archer Evermonde… O ministro havia proibido a comunidade bruxa de ajudar os trouxas durante a primeira guerra mundial trouxa. E é claro que meu avô não concordava…
– E porque Evermonde não queria que os bruxos ajudassem os trouxas? – Harry perguntou interessado.
– Segundo ele porque acarretaria quebras do estatuto de sigilo em massa. – Tiago disse tentando se lembrar – Mas segundo meu avô ele apenas não gostava de trouxas e não queria ajudá-los… Não foi apenas meu avô que desafiou o ministério na época, a maioria do nosso povo ajudou os trouxas da melhor maneira que podiam…
– E como você sabe tanto sobre essas coisas? – Lily perguntou curiosa.
– Meu pai trabalha no ministério… – Tiago deu de ombros – E sempre me diz que precisamos conhecer nossa política e nossa história para não cometer os mesmos erros que nossos antepassados.
– Nesse caso nossos antepassados estavam certos. – Harry disse obviamente orgulhoso.
– Então nesse caso, devemos conhecer a história para cometer os mesmos acertos que nossos antepassados. – Tiago disse trocando um sorriso satisfeito com Harry.
– Vocês não vem? – Sirius perguntou enfiando a cabeça pela fresta deixada pela porta entreaberta – Todo mundo já está na sala esperando para ler o próximo capítulo.
Harry, Tiago e Lily voltaram para a sala, Harry pegou o livro que Lily havia deixado na mesinha de centro e o abriu no capítulo seguinte:
– Capítulo VII – O Ministério da Magia.

~~X~~

 
Hey leitores mais queridos do FeB! As coisas andam muito difíceis por aqui, não tenho tido muito tempo para escrever e infelizmente chegamos ao triste momento onde tenho apenas um capítulo a frente pronto... Eu acredito que terei mais tempo para escrever na próxima semana, mas não há nenhuma garantia. Torçam por mim!


- Izabella Bella Black: Não tem problema ter deixado de comentar alguns capítulos, eu sei que você está sempre por aqui. Eu tenho muita dificuldade com esse livro, afinal Harry está passando por péssimos momentos desde o retorno de Voldemort e ninguém se importa o bastante com ele, ninguém da a ele a atenção que ele precisa, e além disso, boa parte do mundo bruxo está contra ele, e as pessoas que estão ao lado dele, nunca podem realmente ajudá-lo. Eu acho que a lei de restrição à pratica de magia por menores é importante porque impede que os bruxos menores façam magia do lado de fora de casa também. Se você for parar para pensar, dentro de casa para os puro-sangue e meio-sangue, não faz diferença nenhuma. Eu também sou meio parecida com a Tonks nesse sentido, sou muito desastrada para uma série de coisas. Eu acredito que Voldemort só se mudou para a mansão Malfoy depois que Lucius foi preso no final de OdF. Mas não tenho ideia de onde ele estava entre o final de CdF e o inicio de EdP. Para mim Dumbledore tinha que ter contado a verdade para Harry logo depois que Voldemort voltou. Pelo menos a profecia e a teoria dele de que a ligação servia para os dois lados (não a parte das horcruxes e de Harry ser uma horcrux, porque isso ele só contou porque ele estava morrendo e etc), porque com isso Harry estaria mais preparado para lidar com uma série de coisas, ele teria levado oclumencia a sério (e eu acho que Dumbledore devia ter ensinado oclumencia ao Harry pessoalmente) e Sirius não teria morrido. Eu nem quero começar a falar de tudo o que me irrita em relação a maneira como Dumbledore tratou o Sirius... Sim, foi o Remo quem voltou sem cueca, mas isso é tudo que vou falar sobre o assunto. Eu amo a Sra. Weasley, mas em vários momentos, como esse, ela me irrita.
- Julia Angelini: Você não comentava há muito tempo mesmo! Eu tenho uma dúzia de problemas com Dumbledore, especialmente nesse livro. Não cheguei a perdoar ele de verdade em EdP, mas fiquei triste com a morte dele, afinal, apesar de tudo, ele é um grande bruxo, um gênio... Ele é realmente um grande personagem. O Harry estava sofrendo muito mais do que todos os outros nesse livro (com a excessão de Sirius, é claro), as pessoas estavam duvidando dele, ele tinha acabado de passar por um grande trauma, e nenhuma das pessoas que acreditava nele se deu ao trabalho de verificar se ele estava psicologicamente bem. Além de tudo isso, ele tinha apenas 15 anos, e essa já é uma idade complicada sem todos esses traumas. Eu sei exatamente como é, eu sempre leio o capítulo inteiro antes de começar a escrever os comentários de todos, e durante minha primeira leitura consigo escutar todo mundo falando na minha cabeça... Agora não consigo me lembrar, você está no grupo?
- Samara Lima: Eu sei bem como esse site é complicado, imagino que pelo celular seja ainda pior! Eu sempre tive muitos problemas com Dumbledore, mas nesse livro ele passa de todos os limites. Eu acho que Harry tinha o direito de saber pelo menos sobre a profecia e sobre a ligação entre ele e Voldemort quando Voldemort voltou em CdF, entendo o Dumbledore não querer falar das horcruxes para o Harry com ele tão novo, mas o Harry já devia saber pelo menos o resto, para se preparar melhor, levar oclumencia a sério e etc. Que bom que meu modo de escrever te faz admitir tudo o que eu escrevo como canon, isso é muito importante para mim! O pessoal da sala vai ler o epílogo antes do Harry e todo mundo do futuro voltar para o próprio tempo para descobrir o resultado da leitura, mas é só isso, para mim The Cursed Child não existe (e eu me recuso a aceitar como canon), então também não vai existir na fic. Eu devo escrever mais um capítulo depois que eles voltarem para o próprio tempo contando o que aconteceu, mas não pretendo escrever uma fic inteira depois disso. E dependendo de como eu estiver até lá (porque sabemos que ainda vai demorar muito) vou começar a postar minhas outras fics, então espero te ver em alguma delas.
- Miisty: Fico muito feliz que você goste tanto do que eu escrevo! Seja muito bem-vinda! Eu realmente pretendo terminar essa fic. Eu nunca vi uma dessas fics que realmente foi até o final, pelo menos até onde pesquisei... Eu pensei muito antes de mandar o Harry e o pessoal do futuro para ler os livros com eles, mas no final decidi mandá-los porque eu realmente queria falar de algumas partes em que o Harry ou não estava presente, ou não estava prestando atenção a alguma coisa específica (como em CdF durante as provas do tribruxo, e quando Harry sumiu com o falso Moody). Gosto de mostrar o ponto de vista dos outros personagens, especialmente Rony e Hermione, e só conseguiria fazer isso com a presença deles... Agora que você está acompanhando espero te ver comentando sempre! Obrigada!
- MionGinnyLuna: Que bom que você está gostando! O problema do Remo não se pronunciar muito é mais culpa da JK do que minha, o Remo da fic até que começou a falar muito mais depois que todo mundo aceitou ele da forma como ele é... Feliz dia dos Potterhead atrasado para você!
- Gi Molly Weasley: Faz realmente muito tempo que você não comenta! Eu entendo bem como é estar cm o tempo apertado, mas ainda assim espero que volte a comentar sempre que puder! O fato de você continuar acompanhando significa muito para mim! Que bom que você entende todos os meus problemas com Dumbledore, as vezes sinto que ninguém compreende como é difícil para uma criança crescer sem amor e carinho e como na maioria das vezes isso prejudica a pessoa para o resto da vida. Eu cresci em um orfanato, minha avó era a cozinheira do orfanato e minha tia-avó a diretora, as crianças eram bem cuidadas na medida do possível, e ainda assim, sofriam muito, nem consigo imaginar como o Harry sofria! Eu nunca gostei do nome do filho do Harry, nenhuma das duas pessoas que ele homenageou mereceu essa homenagem... E eu ando muito chateada com a JK em geral, então é melhor nem falar sobre isso.
- Juhh Potter Malfoy: Eu amo a Molly por vários motivos, mas ela realmente me irrita ás vezes, o fato dela falar com Sirius como se ele tivesse alguma culpa pelo que aconteceu com ele, sempre me enraiveceu muito, ainda mais porque eu culpo Dumbledore, enquanto ela idolatra ele e faz tudo o que ele quer, inclusive deixar Harry sozinho com os trouxas depois do trauma que ele passou poucos meses antes. Eu gosto quando vocês sentem o mesmo que eu estava sentindo quando escrevi (nesse caso raiva da Molly) porque significa que eu consegui traduzir todos os meus sentimentos para a escrita, você estar mudando de opinião em relação a Dumbledore também é um reflexo disso, eu acho! Também fico feliz quando vocês percebem o amadurecimento dos personagens, sempre tento fazê-los amadurecer aos poucos, mas perceptivelmente, e isso é um grande desafio.


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Comentários (2)

  • Izabella Bella Black

    Oi Juh, primeiramente o capitulo esta perfeito. Em segundo eu vi o que você postou no grupo e sinto muito por tudo isso, espero que o que esteja acontecendo na sua vida pessoal de tudo certo, sobre essas postagens dessa pessoa riducula e infantil, para mim é pura falta de não ter o que fazer, imagino que é dificil ler esse tipo de coisa e eu espero que você não desista de suas coisas por causa de uma pessoa que é infantil a esse ponto. Sobre o capitulo sobre o lema da familia Black tenho que admitir que nunca tinha prestado a atenção nele, até que comecei a pesquisar sobre a familia para escrever uma fic sobre uma filha de Sirius e achei o lema e tenho que dizer adorei a falado do Sirius sobre o lema. Sobre o quadro nunca tinha pensado nisso, até por que Ordem da Fenix deve ser o livro que menos li de HP, só fui perceber isso quando li aqui. Sobre os sonhos do Harry fico imaginando a reação deles ao lerem sobre o sonho com o Sr. Weasley. Sobre a casa, eu sempre fiquei imaginando o por que que quando eles aparadavam não eram escondidos dos trouxas pelo feitiço, tipo o feitiço fidelius vai até a porta e da porta até a rua um outro feitiço mais fraco só para esconder as pessoas que desaparadam ali, espero que consiga entender o que eu quis dizer, pois sou pessima explicando alguma coisa. Sobre essa arma, a primeira vez que li tudo bem que eu sabia que era uma profecia, pois já tinha assisitido o filme, porem esqueci todo o filme e me concentrei somente no livro e fiquei o livro inteiro tentando juntar as pistas, na hora pensei na profecia, mais achei que podia ser outra coisa, fico imaginando a reação deles ao saber sobre a profecia. Acho que de todas as especulações sobre a arma a resposta de Snape foi a que mais chegou perto. Para mim a cruciatus sempre foi a pior, a maldição da morte é rapida e indolor, porem a cruciatus é dor e mais nada, nessas horas fico pensando no que Alice e Franck passaram. Eu sempre achei engraçado as pessoas terem medo da Gina por causa da azaração. Para mim a Molly nunca percebeu isso, ela só aceitou a situação depois que ela já ocorreu, mas os outros aprenderam da pior forma. Para mim apesar de tudo Sirius não gosta de ver tudo o que aconteceu com a familia dele e também com a casa, acho que deve ser horrivel você ver tudo o que representou sua familia um dia em ruinas. A Molly foi muito insensivel. Acho que eu teria feito algo parecido, nas primeiras vez eu até ficaria quieta mais depois, principalmente depois do sonho com o Sr.Weasley eu exigiria respostas e não me importaria se tivesse que azar o diretor para isso. Os gemeos sempre foram meus personagens favoridos, só perdendo para o Sirius e Tiago, afinal eles são estremamente inteligentes. Tudo bem que eles não sabem, mas eles não tem com o que se preocuparem, aifnal os gemeos nunca esqueceram que foi o Harry quem os ajudou. Eu acho que só tiraram os objetos que imaginaram que era perigoso a vista, mas uzarem um feitiço ou algo do tipo duvido, pois se não eles teriam encontrado o medalhão. Nem vou começar a falar de Monstro pois se não vou me enpolgar. Sobre Henry Potter eu não sabia, mas sobre os sagrados 28 sim. Fico imaginando a reação do Sirius quando ouvir a historia de Regulus no ultimo livro. Sobre Voldemort ele não poderia ter ficado nacasa de um outro comensal que não chamasse tanto a atenção ou ter permanecido na casa do pai dele? Foi o que eu imaginei, eu gosto de ler sobre como o Remo as vezes também agem como Sirius e tiago, pois pelo menos eu mutas vez não imagino ele como um maroto. Acho que é só.Beijos. 

    2016-08-23
  • MionGinnyLuna

    HEY JUUUUUAmazing cap, omg am I anxious for the reactions to teh audience, Sirius/Tiago/Remus are gonna loose their shit!(Ai a pessoa quer fazer a chique e comenta em inglês, kkk). De qualquer jeito, amei, mt bom! E eu sei, n é culpa sua, mas msm assimd a sdds do remo falando! JESUS PELAMOR EU VOU ACABAR COM A MINHA COTA DE ANSIEDADE ATÉ CHEGAR OS TRÊS ULTIMOS CÁPS DESSA FIC, PQ ELES SÃO MUITO TENSOS!  (Perdoe meu português de facebook). 

    2016-08-14
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