O Fantástico Juperus



Ao fim das compras, Harry e os outros adultos levaram Al, Tiago e os primos para almoçarem em um restaurante novo que havia sido inaugurado semana passada em um espaço do Beco Diagonal, segundo a tia Audrey. O restaurante Videira servia uma ótima comida, além de ser um ótimo ambiente para a família. Harry revelara o presente que tinha dado a Alvo um jogo de penas muito bonito. Além disso, no fim do almoço, todos os primeiranistas da mesa foram presenteados com um bolo em homenagem as suas entradas em Hogwarts.


No entanto, o pai de Alvo talvez tenha ficado um pouco magoado, sem, contudo demonstrar muito além de sugerir que todos já deviam ir para casa. O motivo fora o bocejo deveras extravagante que Alvo dera. O pai pode ter pensado que fora uma demonstração de pouco caso, porém só Tiago e Fred sabiam o quão pouco eles tinham dormido e o sono que estavam sentindo naquele momento.


Quando todos voltaram para Mansão dos Weasley (A toca), a primeira coisa que o garoto fez foi correr para a primeira cama que vira e desmaiar nela. Durante o sono profundo, ele não sentiu o beijinho que sua mãe viera lhe dar nem a visita de seu pai para lhe acariciar o cabelo cuinha. Na verdade Alvo nunca teve muita noção do quanto era amado pelos seus pais.


O menino acordou com a sensação de que tinha dormido muito tempo, como se tivesse virado duas noites e estava na madrugada do segundo dia. Uma madrugada escura, silenciosa e vazia. Demorou um tempinho para entender quem era e onde estava. Quando desceu as escadas e viu todos os primos brincando de Snaps explosivos, comendo os muitos doces que Fred tinha conseguido com o pai, notou que não deveria ter passado das oito horas da noite daquele mesmo dia.


Mas Alvo lembrava claramente por que havia descido e não continuava a dormir aquele sono gostoso na cama morna e confortável do segundo andar. Ele estava completamente acordado pois tinha que falar com a prima Rosa. Ela estava na vanguarda do jogo quando a chamou. Mas a menina foi com ele imediatamente deixando sua torre de cartas cair e explodir diretamente na cara de uma Dominique descabelada.


Ele e Rosa foram dar uma volta no jardim da Toca, que já tinha voltado ao normal - provavelmente os adultos tiraram todos os enfeites da festa naquela tarde, enquanto Alvo dormia. Ambos iam passando pelos Relvados altos e os Carvalhos mais no fundo.


Alvo contou tudo o que poderia contar para a prima. Sobre a visita ao Antiquário, a conversa com o quadro do Fineus Black... Discorreu sobre a conversa do Pai com a mãe e o pai de Rosa e descreveu com muita exatidão a perseguição ao Vice-diretor Ravus naquela manhã. A prima não falou nada enquanto o menino falava. Eles já tinham dado umas três voltas ao redor do Coreto e já regressavam para o jardim mais perto da casa.


– ...E aí um Vogelweide apareceu, dando insinuações sobre o papai. Depois a tal Aillen brigou com ele... Ela é legal, ajudou a gente não contando pro papai nada do...


– Como você disse que ela se chamava? – foi a primeira vez que Rosa falou.


– Aileen, é, o cara chamou ela de Professora Aileen.


– Completo, qual o nome completo dela?


– Ãnm – Alvo pensou um pouco. Tentava lembrar, mas por que Rosa queria saber o nome completo? Para saber mais dos professores? Aí Alvo lembrou-se: - Adhara, é, Adhara Aileen.


– Eu já ouvi esse nome em algum lugar, não lembro de onde... – Rosa olhou para o céu noturno do vilarejo Ottery St. Catchpole. Estava muito estrelado, sem lua, sem nuvens, só estrelas. Alvo esperou, também olhando para o céu. Até que... – Onde você disse que ela trabalhava antes mesmo?


– Ela falou que tentou entrar nas Harpias de Holyhead, disputou vaga com a mamãe... Também foi aurora...


– Foi em algum livro. Eu li sobre ela... – perdeu-se em desvaneios por um segundo – Vou lembrar depois. Então...


– Então foi isso que aconteceu esses dias. Desculpe por não falar logo pra você, é que foi tudo tão rápido...


– Não esquenta, Al – ela olhou para o primo e então desviou o olhar. Um tempo passou até ela falar novamente – Até por que tem uma coisa que tá acontecendo comigo faz um tempão... E eu não contei. Então, estamos quites.


Alvo achou aquele comportamento estranho. Ele conhecia a prima desde sempre e a considerava uma garota introspectiva, sim, mas sempre calma, assim, serena. Nunca falara sobre seus problemas, mas sempre apoiara Alvo... No entanto... Agora isso... Ele admitiu que estava estranha ultimamente.


– O que foi? Me conta, pode me contar...


Rosa continuou a fitar o céu por um tempinho.


– Promete que não conta pra ninguém.


– Prometo.


– Mesmo que você ache estranho.


– Eu prometo, Ro-


– Mesmo que aconteça de novo, se bem que eu acho...


– O.K – Al a imterrompeu – eu prometo, mas me conta. Ta me deixando preocupado... O que você fez?


A menina olhou para baixo. Sentou-se em um banquinho do jardim. Alvo também o fez.


– Não fiz nada. Acontece que eu vi uma coisa. Olha eu vou te contar, até por que meio que você está envolvido com isso. Seguinte:


Alvo calou-se para ouvir a prima, como sempre ela fazia.


“Ontem, quando o quadro do seu pai caiu no chão, lembra? Aconteceu uma coisa comigo. A primeira vez que senti isso foi a uns três anos. Só que, como tinha parado, eu pensei que não ia mais acontecer. Só que ontem se repetiu. Eu já li em livros, mas parece que é diferente com cada uma, então não tem como ter certeza. Eu vejo coisas... E essas coisas acontecem de verdade.”


– Pera – Alvo não conseguiu se segurar – você ta dizendo que é uma vidente?


– Tudo indica que sim – disse uma rosa parecendo muito mais leve. Parece que contar aquilo tirou um peso enorme de suas costas. A menina continuou a falar descontrolada. Alvo Nunca tinha visto Rosa falar tanto.


“É... Eu tenho visões. Sei que tive uma visão em transe quando tenho lapso de memória, como os livros dizem. Mas outras foram meio que conscientes... Desencadeadas por coisas externas, entende?... Uma vez eu soube que a gente ia pra Copa na Patagônia, alguns meses antes dos nossos pais contarem. Eu olhei pro seu irmão voando na vassoura naquele feriado de páscoa, aí eu... Eu vi na minha cabeça uns caras de verde e amarelo... Vi um de vermelho voando, com algo dourado. Foi aí que eu soube... No futuro ver a final da Bulgária contra o Brasil. Não é uma visão muito nítida. A imagem é sempre meio desfocada... Na maioria das vezes eu mais sinto do que vejo.”


– Peraí – Alvo lembrou-se de repente – foi por isso que você ganhou o bolão de apostas naquele dia! Na época todo mundo achou estranho... Você acertou exatamente o Resultado da partida.


– É, a mamãe pensou que eu tinha usado um vira-tempo, só que ela sabe que era impossível eu ter um sem permissão escrita do ministério. Ou então eu teria que invadir o Laboratório do Departamento de Mistérios pra conseguir um...


– Rosa – riu-se Alvo – Não acredito que você trapaceou assim tão descaradamente!


– A gente usa o que tem, Al – riu-se Rosa - Mas o fato é que depois aconteceu de novo e não foi nada legal. Eu sabia que o senhor Fauntleroy ia se acidentar. E ver a cena foi horrível. Fiquei muito tempo mal... Não podia contar, até por que era inevitável. E se eu contasse, ninguém ia dar bola... E a mamãe ia pirar. Ela não suporta adivinhação... Vive me falando que essa matéria não serve pra nada. Conta sobre uma professora de Adivinhação e o quanto charlatona ela era...


– Mas o que foi que você viu ontem quando o quadro do papai caiu? – Alvo retornou ao assunto inicial.


Rosa ficou um pouco mais séria. Demorou um tempo para falar, finalmente:


– Quando o quadro do seu pai se quebrou, eu vi fogo e senti pânico. Eu vi o seu pai no meio de um lugar que pegava fogo... Fiquei muito assustada, pensei em avisar você, mas...


– Mas isso aconteceu. É... Meu pai ficou no meio do fogo.


– Exato. Hoje, na loja do senhor Gorgento, quando a varinha se descontrolou... A visão se realizou... Em parte.


– O que quer dizer com isso? Como assim em parte? – quis saber Alvo.


– É que uma coisa que eu vi não aconteceu. Na visão o seu pai estava rodeado de fogo e usava um feitiço chamado “Abaffiato Maxima”. E ele não usou isso hoje. Ele só usou o Ignis Exumai. E tem mais... Eu procurei horas na Enciclopédia oficial dos feitiços e não encontrei nenhum chamado Abaffiato, muito menos um máxima.


– Você poderia testar – sugeriu o primo.


– Não podemos fazer magia fora da escola, Al. Além do mais, é muita idiotice testar um feitiço sem saber o que ele faz. A visão acabou antes de eu ver o que o feitiço fazia, então...


– É, tem razão. Mas, tipo, tem tanto problema as visões não saírem exatas?


– Nos livros não diz nada... E eu não sou uma especialista. Quer dizer, aconteceu só cinco vezes comigo. Pode ter acontecido mais enquanto eu durmo, só que em transe eu não tenho como saber, já que, segundo o livro, “o vidente em transe não se lembra de nenhuma palavra que disse durando o episódio”


Alvo olhou admirado para a prima. Vidente?


– Sério, Rosa? Vidente?


– É... Dá pra acreditar? Mas eu não quero que você conte para ninguém. Isso é hiper raro de acontecer, então eu não espero que se torne um problemão...


– Mas eu acho que sua mãe devia saber... tia Hermione ia entender...


– Não, Al. Por favor, não conta pra ela. Jura que não conta.


– Tá eu não...


– Jura?


– O.K, juro.


– Jura o que? - A voz do tio Rony apareceu do nada.


O pai de Rosa tinha acabado de abrir a porta da casa, encontrando os garotos sentados no banco do jardim. Os garotos ficaram calados, em choque. Alvo teve que acionar todos os neurônios para dar uma desculpa aceitável, pois Rosa parecia estar petrificada de susto.


– Eu juro... Juro que entraremos juntos na Grifinória!


– É... Tá vendo, filha? Corvinal não... O lugar dos Weasley é na Grifinória! – sorriu largamente o tio Rony – Agora entrem. A janta está pronta e a avó de vocês está muito preocupada com você, Alvo. Ela acha que você Hibernou hoje a tarde e precisa recuperar as energias o quanto antes...


O verão estava em seu clímax, mas de alguma forma o clima era ameno, talvez pelos ventos confortáveis. O céu em tom azul turquesa era claro, sem nuvens, com um sol alegre e convidativo... Era de fato um verão muito bonito. Os Potter passaram alguns dias a mais na Toca. Podia-se ver Tiago, Fred e Ted voando pelos céus, em disputas acirradas de corridas, ou torneios de arremesso de goles. Ted levava a melhor no quesito reflexos e manobras, fazendo-o um grande goleiro, mas Tiago era sem dúvida o mais rápido, conseguindo pegar as goles que eram lançadas até o infinito pelo deveras forte Fred. Os priminhos menores assistiam-os, batendo palmas entusiásticas aos loops e desenhos complicados que Tiago descrevia com maestria no céu límpido.


Alvo, Rosa, Roxanne e Dominique passavam os dias debaixo de um Carvalho lendo sobre os feitiços mais variados no “Feitiços: um guia preliminar para a expressão mais pura da magia”; as azarações mais engraçadas em “Varinha risonha” e as poções mais complexas do “Poções muy potentes”. A tentação corria solta entre os primos, todos mortos de vontade de pegar a varinha e lançar só um feitiçozinho que estava no livro... Mas resistiram bravamente, contentando-se com a promessa de que, quando chegassem em Hogwarts, azarariam o maior número de sonserinos que ousassem chatear algum deles.


Antes de se preparar para irem para o Largo Grimmauld, Alvo conseguiu convencer os primos a irem todos juntos ao Juperos, o circo dos bruxos. O pai de Alvo concordara em leva-lo, pois achava que o garoto merecia uma distração antes do primeiro de setembro, pois começara a se preocupar quando notou que os pesadelos oriundos de ataque de ansiedade tinham alcançado decibéis acima do nível permitido para uma madrugada tranquila.


Os dias, como de costume, se arrastaram no largo Grimmauld. Alvo achara que ia morrer de tédio. Passava a maioria do tempo lendo o livro de feitiços. Ele conseguiu identificar alguns que tinha visto sendo usados no incêndio que Isobel causara na loja. Wingardium Leviosa, Finite Incantatem. Não encontrara no livro o feitiço que seu pai usara para dar fim às chamas, o Ignis Exumai... Devia ser deveras avançado para o Guia preliminar de Feitiços de Daliléia Sandermoore. Lia também alguns ingredientes das poções. Estava familiarizado com a pedra de estômago da cabra, a qual chamavam de Benzoar. Mas estranhava os efeitos da Uruyandir.


De fato, achava interessante os fatos históricos, as guerras e revoltas contidas no História da Magia, porém tinha coisas na cabeça para apreender 100% do conteúdo lido, de maneira que sentia certa culpa por ler um parágrafo e esquecer completamente dele ao ler o próximo.


O olhar de Alvo sempre escapava para o quadro vazio que jazia na parede de seu quarto. De vez em quando vencia o orgulho e chamava pelo habitante dele, Fineus Black. Porém o quadro continuava silencioso e indubitavelmente vazio. Ele queria conversar com alguém sobre o pai, sobre o tal roubo... Suas suspeitas que envolviam o Vice-diretor Ravus e o Professor Vogelweide. Deveria ele contar para seu pai o que tinha presenciado? Mas se contasse, teria que delatar a grande amiga de Harry, a Professora Aileen. E ela fora tão legal dando os convites para o show do Juperos...


O garoto se tranquilizava com o pensamento de que seu pai era inocente e que o fato dos adultos irem ao Ministério no dia do Beco significava que estavam trabalhando para resolver tudo. Mas Alvo estava decidido em ajudar, mesmo que em segredo. Não estava brincando quando disse que iria investigar Ravus. O garoto era covarde, verdade, mas tinha certeza que podia descobrir alguma coisa, caso se esforçasse na missão de espionar os professores envolvidos. É, ele primeiro tinha que investigar para depois acusar... Do contrário, podia piorar as coisas.


Pensava também na revelação de sua prima Rosa, sobre sua vidência. Isso ainda lhe soava surreal. Alvo tinha nascido em uma família bruxa, logo, estava familiarizado com muitos ramos da magia. Porém adivinhação sempre lhe soou algo cômico, distante e difícil de palpar. O máximo que conhecia sobre eram as previsões climáticas e alguns signos do zodíaco...


Na noite anterior ao dia que iriam para o circo, Al soltou Lude da gaiola. A coruja era reservada, mas era, ao todo, uma companhia para Alvo. Dentro de seu quarto com ela, o menino se sentia menos só, porém tinha noção de que a gaiola deveria fazer o animal se sentir tão tedioso quanto Al, então seria deveras egoísta da parte de Alvo mantê-la presa só para o garoto ter com quem conversar. Então a soltava sempre à noite, vendo-a desaparecer no horizonte do céu noturno...


Ele sentia que a coruja entendia as suas atribulações e teorias ditas em voz alta, pois Lude o fitava, concentrado, com aqueles olhos âmbar-avermelhados e, de vez em quando, até piava, demonstrando interesse. Ele já tinha se apegado a coruja, por isso ficou um tanto apreensivo quando ela não voltou pela manhã para dormir no quarto de Alvo, como sempre fazia quando o garoto a soltava para caçar à noite.


Mas a coruja parda-avermelhada de Tiago, Pepp, havia chegado na hora do café da manhã do dia 29 de agosto, com a resposta dos primos, confirmando de que iriam se encontrar antes do crepúsculo, às cinco, quando o circo abriria as portas. Todos iriam ver o show juntos. Isso realmente animara o garoto.


Alvo vestiu sua melhor roupa para ir ao Juperos. O espetáculo atraía bruxos de muitas partes, pois era a primeira parte da turnê pela Europa do famosíssimo circo, então o garoto deveria estar apresentável. Os pais tinham convites especiais, pois Aileen era um membro do corpo organizacional.


Na hora marcada, todos entraram na lareira, dizendo “Juperos!”. O departamento de transporte mágico permitiu as ligações das lareiras com o espaço do circo. Muitos outros bruxos chegaram no local aparatando. Os Potter se viram em uma catacumba cavernosa e espaçada, iluminada por archotes, cujo quais iluminavam os desenhos rupestres nas paredes. Os bruxos iam saindo de uma lareira improvisada (Um buraco alto na parede, delimitado por pedras em um arco rústico. Vários estalidos que ecoavam na caverna, marcavam as desaparatações. E todos os bruxos, uma grande maioria com seus filhos, iam atravessando a saída da catacumba.


Estavam em uma floresta muito fechada. Mas uma marca luminosa púrpura do céu ainda podia ser vista entre as frestas das árvores, ela mostrava o caminho para o local onde o circo deveria estar. Após caminharem um pouco, Alvo, Tiago e seus pais atravessaram os limites da floresta. A frente, havia um campo largo com grama bem cortada. E bem no meio...


O local delimitado por muros com cortinados vermelhos. Eram altos e o espaço que ele cobria era enorme (talvez dentro dele coubesse uns trinta jardins da Toca com folga). Tais cortinados eram todos desenhados por figuras de criaturas estranhas, olhos enormes e símbolos esquisitos. A entrada majestosa da cortina aberta era sobescrita por Três arcos delimitados por perolas cintilantes. Nele, um texto de letras que brilhavam em uma Luz que mudava de cor a todo momento:


“Marvelous Cirque Du YUPERUS


Incantatem Nunquam finitus est


Magica Nunquam tu oblivius est”


Acima das letras, Um desenho emplacado de uma Cartola com uma estrela, dentro olho amarelo (que piscava para os transeuntes). Do fundo da cartola saíam um par de braços finos, cujas mãos aracnodátilas apoiavam-se no arco, digiteando de uma forma que lembravam horrivelmente o andar de aranhas. Alvo ouviu uma menina perguntar assustada:


– Mãe, o que é aquilo em cima das letras?


– É um Mímico. Mas não é o monstro de verdade, não se preocupe, é só um desenho...


Alvo não sabia o que eram Mímicos, mas teve a certeza de que preferia se manter a distância daquele movimento de dedo repulsivo e o olhar amarelo focado da cartola. Não entendia o porquê de colocarem aquela imagem como símbolo do espetáculo. Queriam apavorar as pessoas?


As luzes púrpuras eram como holofotes múltiplos, que disparavam alto até as nuvens e mesmo a tarde estando ainda clara, elas eram fortes o bastantes para serem vistas da floresta.


– Eles devem ter feito um feitiço anti-trouxa muito poderoso – disse a mãe de Alvo, observando as luz púrpuras cortarem do chão ao céu.


– Eu gostaria de conhecer o bruxo que lançou esse feitiço – comentou o pai - Não vejo nada parecido desde Hogwarts. Dá até para sentir a redoma de energia do Feitiço... Isso não é trabalho de um bruxo comum.


Os Potter juntaram-se a multidão que ia em direção a entrada. Atravessaram o portal, com uma curiosidade cada vez mais crescente. Alvo já achara a fachada do Circo muito intrigante, mal podia esperar para ver como era o Fantástico Juperos por dentro.


A primeira sensação que Alvo teve ao adentrar os terrenos de Juperos foi de que ele era um grãozinho de areia em um deserto. A multidão atravessava o chão ladrilhado de pedrinhas de brilhantes. Todos seguindo um fluxo enorme, emparedados por aquelas enormidades....


Eram figuras púrpuras de Tigres dentes de sabre... Na verdade eram balões inflados que deveriam ter no mínimo seis metros. Todos sentados, observando os transeuntes. Eles olhavam para o céu e emitiam raios púrpuras até as nuvens. Então eram deles que vinham as luzes...


Alvo deixou as fileiras de Tigres de lado para notar as barracas de vendas que estavam sob o pé das criaturas. As barracas eram de todas as cores, com lonas listradas sob balaústres enfeitados de estrelas luminosas. Elas vendiam Nugás ectoplasmicos, lesmas gelatinosas, varinhas de alcaçuz, acidinhas, chocolates de formas de dragões, que cuspiam labaredas de fogo rósea, além das Torres de Batidas de leite com morango e creme com nozes-picadas, as quais turbilhoavam em cima do chafariz alto com a bebida que escapava do telhado da barraca...


Crianças saindo equilibrando no palito o algodão doce verde-limão, que tinha praticamente metade do tamanho delas. Outras olhavam desejosas para os sorvetes inderretíveis, com sete bolas ou mais. Havia uma piscina com Vapts de Alcaçuz, cujos quais saltitavam e eram pegos e postos em um saco por um vendedor de cabelo azul, dando para um pai um tanto receoso.


Harry, apesar de ter colocado o chapéu fedora, fora descoberto por umas três pessoas. Mas o pai de Alvo conseguiu dar assinaturas em tempo recorde e sair dali com a família, antes que mais alguém o notasse. Continuaram seguindo a multidão, que desviava das figuras estranhas que passavam por eles.


Alguns palhaços vestidos de macacões amarelo-canário andavam sob pernas de paus que esticavam até alturas inacreditáveis, voltando como sanfonas ao tamanho de metro normal para alguém avistar. Outros sobrevoavam a multidão sentados (deveras apertados, para não dizer verdadeiramente entalados) em triciclos infantis, fazendo manobras de fazer o estômago despencar, e o coração ameaçar escapar da garganta. Mas os circenses descabelados gritavam “Uiiiipiiii”, se divertindo nas alturas, rodeando os tigres púrpuras e seguindo as luzes que eles disparavam com os olhos para o céu.


Um homem bigodudo cortava esse mesmo céu com uma carruagem sem cavalos, tocando uma música sanfonada, que Alvo não sabia dizer se era feliz ou macabra. Talvez os dois ao mesmo tempo. Um carrinho encaixado em uma bicicleta de apenas uma roda levava uma mulher sentada no capô. Ela costurava a multidão, espalhando por ela bolinhas de sabão que tomavam formas de castelos, mãos, cachorrinhos, corujas...


Muitos outros gigantes vestidos de roupa a rigor faziam malabarismo com enormes pinos iluminantes. Diabretes da Cornualha totalmente domesticados voavam balançando tiras de cetins azul-elétrico assim como suas peles. Eles faziam um belo espetáculo com as tiras, balançando-as com acrobacias bem ensaiadas.


Outros balões enormes flutuavam. Eram como enormes bolas de praias que chegavam até a quase eclipsar o sol (já se encaminhando ao horizonte do oeste). As nuvens já eram atingidas pelos raios de sol oblíquos já avermelhados.


– Precisamos encontrar com sua Tia Hermione, Rony, Fleur e seu tio Jorge... – disse a mãe de Alvo – Eles precisam pegar cadeiras próximas às nossas... Al?


O garoto estava hipnotizado olhando para a gigante toda maquiada, vestida de camponesa russa, que carregava algumas crianças para a entrada dos brinquedos mais à frente do festival. Quando encontrasse os primos, iria pedir para a mãe leva-los para dar uma volta no carrossel de Pégaso (as crianças montavam em cavalos alados de verdade, voando em círculos nos bichos selados em um Mastro enorme). Ou talvez eles poderiam ir no Navio fantasma, o qual simulava os movimentos de uma maré violenta, com direito ao circense capitão (barbudo e acabado) gritando “Abandonar o Navio!” quando ele dava uma volta de 360 graus no ar.


Os pais encontraram os tios Rony, e Fred conversando em frente a uma loja que disparava fogos de artifícios de dragonetes de purpurinas (Alvo olhou para Tiago, que confirmou o que o menino estava pensando através de uma piscadela). Os fogos multicoloridos voavam pelas cabeças das pessoas, zunindo nos ouvidos. Iam disparados, comprimidos em rastros purpurinados, até subirem em uníssolo e explodirem em uma supernova de cores. As dragonetes voavam, vermelhas e azuis, até se unirem e explodirem em lilás, formando a palavra YUPERUS no céu.


Rosa, Roxanne, Dominique caminhavam com Alvo pelo festival, apontando para os fogos do tio Jorge, mascando chicles que não estouravam, tentando pescar flores galopantes em uma areninha, apontando varinhas de mentirinha. Ted seguia um tanto distante, junto a uma Victória sorridente, que comia uma maçã do amor de tripla camada: chocolate, caramelo e glacê.


Louis, Lily e Hugo pediram para ir no trem em formato de minhoca gigante, que perfurava o chão, seguindo os trilhos até uma certa parte, depois abandonava-os e continuava a flutuar em loops por todo o festival. Gina acompanhou Alvo no Carrossel de Pégaso. Tia Fleur acompanhou Dominique, assim como a tia Angelina dividiu um cavalo com a filha Roxanne. Tia Hermione fora também, mas com certa relutância, acompanhar Rosa. Todos viram que era uma má ideia quando a mãe da menina pediu para os cavalos alados pararem, tocando no chão com um suspiro de alívio. Alvo pôde ouvir a mulher dizer “Nunca mais...Desde o Bicuço... Eu sabia... Eu nunca mais”, quando foi correndo para o banheiro mais próximo.


Já Fred e Tiago preferiram apostar um jogo de Tiro ao Alvo, onde eles apontavam o dedo indicador fazendo uma pistola imaginária, que, pela mágica do jogo, atirava de verdade em plaquinhas de patos cada vez mais assustados com os tiros. Alvo perguntara a Rosa e as outras se elas não gostariam de tentar capturar um Vapt de Alcaçuz, mas a prima balançou a cabeça e apontou para o céu meio azul marinho, meio lilás, com o sol já disparando seus últimos raios oblíquos através de um horizonte distante, perfurando as nuvens enegrecidas pelo contraste.


– Já tá quase na hora do Espetáculo. Se a gente for muito tarde, as pessoas vão encher o saco dos nossos pais.


Alvo concordou. É verdade, a o Show principal. O menino tinha se esquecido, porque o festival já era maravilhoso em si. O espetáculo provavelmente seria maravilhoso! O garoto lembrou-se de olhar para o fundo do festival. Agora que notara... Via-se um pedaço da enorme tenda do circo se sobressaindo sob o céu do oeste. Na ponta da lona uma bandeira ruflava lentamente, com uma certa elegância. Ela era amarela e tinha o desenho do mesmo olho sob a Estrela.


Todos foram seguindo até poder verem completamente a tenda. Ela era majestosa. Dourado brilhante. A noite já havia caído, mas a lona reluzia como ouro sob as luzes do festival. Ela se estendia e prendia-se nos oito pontos cardeais. Tinha uns quatro andares e outras torrezinhas feitas de lonas vermelho-carmim. Todas as torrezinhas tinham a mesma bandeira com a estrela e o olho.


Um homem com a metade da face coberta por uma máscara pediu os ingressos quando os Potter-Weasley chegaram à porta acortinada da tenda, seguidos por uma fila de pessoas.


– Entrada vip – o homem olhou para Gina e sorriu-lhe com os dentes podres – a esquerda,Mademoiselle Potter... Subindo as escadas, o primeiro andar no camarote.


“A esquerda também, Monsieur Derwent. Primeiro andar, naturalmente...”


Alvo olharia para trás para ver quem também tinha entradas vips para o circo, mas assim que entraram na tenda, ficaram em breu durante algum tempo. Mas os pais continuaram seguindo, sabe-se lá deus para onde. Alvo ouviu tiu Rony sussurrar enquanto andava “Lumus”. Uma luz efêmera surgiu da ponta de uma varinha na frente de Alvo, pois ela sumiu logo em seguida, como se alguém tivesse soprado um fogo. Tio Rony insistiu: “Lumus! Lumus! Mas que droga, por que não está funcionando?”


“Aurora Setentria” recitou tia Hermione. Uma onda de luz emanou por um segundo da mulher, porém logo se dissipou, assim como o Lumos do marido. “Feitiço Noctem. Engole luzes. É o mesmo princípio do Apagueiro do Dumbledore. É Harry, eu tenho que concordar com você. O bruxo que enfeitiçou o circo sabe fazer umas mágicas bem poderosas”


Eles continuaram seguindo. Pareciam estar em um corredor, por que Alvo sentiu lonas de seus dois lados. Ouviu a voz de um garotinho: “Deby, você pisou no meu pé!”. “Então vai mais rápido, Nelsinho!” a tal Deby respondeu. Apóis um tempinho, eles viram os degraus da escada, pois eles brilhavam em luz verde, que não se dissipava. Subiram e encontraram o camarote exclusivo.


Era espaçoso e bem localizado. Podiam ver o palco do show de uma posição ótima. Podiam também ver as centenas de pessoas que já iam se sentando cadeiras, se ajeitando para o espetáculo. Dava para ver também os outros camarotes ao lado.


À direita, Alvo identificou a professora Aileen, com o cabelo dessa vez lilás e as roupas pretas de banda de rock. Ela estava com um óculos de grau verde que brilhava. Isso caía muito bem nela. Abraçado a ela, um jovem alto e loiro, com jeito de esportista. Deveria ser o namorado dela. Quando ela notou que Alvo a fitava, deu um “oi” balançando a mão. Harry respondeu, mas Gina fingiu que não tinha visto. A mulher sorriu para Alvo e depois voltou a falar com o loiro.


Alvo então olhou para o camarote da esquerda. Tinha um homem bem pálido e de cabelos lisos e negros. Ele usava um casaco branco e uma gravata preta. Tinha o jeito de alguém muito culto e importante. Ao lado dele estava o filho. Alvo pode afirmar isso, por que o garotinho branquelo de cabelo espetadinho era a cópia cuspida e escarrada do homem, só que deveria ter a idade de Alvo. Ao lado dele, uma menina de cabelo cacheado cheio conversava concentradamente com uma outra menina maior (da idade da prima Molly), ela tinha o cabelo lisérrimo e preto, com uma partinha antiquada. Alvo seguiu olhando e tomou um susto.


Isobel estava lá também, ao lado da menina de partinha. Ela mirava o palco, parecendo bem entediada, mas concentrada. Alvo imediatamente afastou-se da sacada da arquibancada. Ele puxou Rosa e falou baixinho:


– Rosa! Rosa! A Isobel, a menina da loja de varinhas, que tacou fogo em tudo! Ela ta aqui do lado!


Rosa foi lá espiar um pouco e voltou até Alvo.


– Al, aquele homem é o professor Vogelweide que você me falou?


– Não... O cara dos ingressos chamou ele de Monsier Derwent...


– Derwent... Dilys Derwent foi uma das diretoras de Hogwarts. Ela também foi curandeira chefe do St. Mungus, o hospital dos bruxos. Esse cara desse ser descendente dela. Mas se o prof Ravus nem o Vogelweide estão aí, então não tem pra que...


– Eu sei – precipitou-se Alvo. Ele pensou consigo “Só é estranho eu me encontrar com essa menina de novo”.


– Então relaxa e curte o show – disse uma Rosa sensata.


Alvo mirou o palco coberto por uma grande cortina amarela.


Foi de repente que elas se abriram, revelando nada além da mesma negritude que invadia todo o local. Então algo brilhou no teto da tenda. Todas as pessoas olhavam para ele, então não havia mais teto, mas sim um céu tão estrelado, com as marcas embranquecidas de galáxias cortando o espaço. E de repente uma chuva de meteoros se iniciou... Uma tempestade de estrelas caindo em direção ao público. Por um segundo Alvo assustou-se com uma estrela cadente que vinha em sua direção, porém quando a luz se aproximou o bastante, o garoto notou que se tratava de fadinhas. Elas se reuniram em um enxame de luz e se concentraram no palco, brilhando mais forte, a ponto de cegar...


A luz dissipou-se... E então lá estava o picadeiro, iluminado por uma luz de holofote, porém sem holofote. E em cima de um palquinho no centro dele, um homem velho, muito velho (ele tinha surgido do nada!) com a coluna mais torta que o garoto já tinha visto. Ele curvava-se para frente, vestindo aquele conjunto de maestro vermelho vivo, aquelas luvas brancas com dedos movendo-se como se segurassem um tecido invisível, a outra mão uma varinha longa e reta. Ele tinha os cabelos prateados deveras desgrenhados e a face pintada de branco, com as sobrancelhas marcadas numa expressão de dúvida eterna, os olhos eram apenas um traço, puxadinhos... E o sorriso, de batom vermelho que nunca se desfazia.


– Senhoras e Senhores – começou ele, com aquela voz profunda, rouca e misteriosíssima que ecoou por todo o circo – Rapazes e senhoritas, jovens, meninos e meninas, ora, sim, ora pois! Todos, todos aqui presentes! – disse isso tudo mito rápido e deu uma gargalhada lunática – Bem-vindos ao Fantástico Juperos! Aqui as mágicas são eternas, e nunca são esquecidas...


Ele soltou mais uma gargalhada e sumiu-se novamente.


As pessoas ficaram procurando o velho na escuridão além do picadeiro, até ele aparecer planando lentamente do espaço até o centro do picadeiro, com um guarda-chuva vermelho até pousar no palquinho novamente. Continuou o discurso:


– Meu nome é Yi Jun. E eu serei o capitão de vocês para essa viagem onde realidade é ilusão – do escuro, vários circenses foram surgindo das trevas até o picadeiro, vestidos de peixes e maquiados de azul-mar. Eles rodearam o velho, fechando o círculo para cobri-lo e depois aumentaram novamente a roda. O velho tinha desaparecido. No lugar do palquinho, havia uma fonte. Um jato de água ia saindo dela, um jato abundando que logo fez o picadeiro virar um laguinho. Então transbordou...


O jato de água explodiu e tudo ficou escuro... Alvo queria ver o que estava acontecendo agora com a piscina do picadeiro. Mas quando a luz voltou, viu na sua frente um golfinho lilás nadando.


Todo o circo tinha se tornado um grande aquário. E as pessoas estavam mergulhadas em água! Alvo notou que seu cabelo balançava ao movimento da água, porém ele não se sentia molhado, nem teve que prender a respiração. E sua visão não estava turva pela água, mas podia ver as bolinhas saindo de seu nariz. A cortina do picadeiro balançava lentamente, também não parecia estar molhada. Que tipo de mágica era essa? Tentou falar para Rosa, mas bolhas saíram de sua boca. A menina apontou para Alvo olhar para o picadeiro.


Os circenses maquiados com colam de escamas nadavam, junto aos golfinhos lilases, às Ramoras, e às peixes Reques espinhosas, fazendo acrobacias sob uma luz fantasmagórica que brilhava verde não se sabe de onde. Eles tinham uma sincronia incrível... Subiam, nadavam graciosamente, faziam abertura, giravam e desciam novamente, pegando carona com um golfinho.


De repente, vozes invadiram os ouvidos de Alvo. Eram vozes lindas, cantando em uma língua que lhe era estranha, mas com certeza falava sobre uma magia muito antiga e indecifrável. O garoto identificou de onde vinham as vozes. Sereianos com olhares focados e cruéis. Os seres iam cantando, uma dúzia deles, todos montados em Hipocampos, belos cavalos com cauda ruões azuis brilhantes.


A apresentação era mito bela, artística. No fim dela os circenses estavam sentados em uma raia gigante, que desapareceu no além-escuro. A luz novamente apagou-se e quando voltou, não havia sinal de água, de golfinhos, circenses nadadores, nem sereianos nem nada. Só o picadeiro focado pela luz. Alvo olhou para Rosa, que também sorria abobalhada.


– Acho que eles lançaram um feitiço de ilusão em massa – disse a Tia Hermione – isso pode ser muito difícil e perigoso, porque...


– Mione, para de ser estraga prazeres e aproveita o espetáculo – disse um tio Rony, que sorria também, procurando pistas de onde vinha o próximo número do circo.


Foi de uma fumaça estranha que se concentrou no palco do picadeiro de onde saíram a mulher de olhos puxadíssimos, maquiada de branco e os cabelos de trança até a cintura. Ela vestia uma roupa muito colada azul e prateada. Ela acenou para o público. Fez uma estrela, depois deu um mortal para sair de cima do palco. Então, uma projeção luminosa gigante repetiu os movimentos da mulher. Era como uma marca espiritual gigante acima dela, que a imitava no escuro. Ela fez outros movimentos complexos e acrobáticos, e sua projeção os repetiu, fazendo um espetáculo lindo de rastros de luzes no teto espacial da tenda. Alvo ouviu tia Fleur exclamar: “Superbe!”


Ela fez uma pose que lembrava um ser equino. Então sua projeção se tornou um centauro, como o da constelação. Ele saiu galopando conforme os movimentos da mulher. Ela fez outra pose, imitando a cabeça de um cão, fazendo o animal surgir na projeção de luz enorme bem acima. A imagem ladrava e logo libertou-se correndo por toda a extensão do circo, de acordo com a vontade da acrobata. Logo em seguida ela fez a pose da serpente e uma naja arrastou-se pelo céu, enrolando-se em uma dança estranha e hipnotizante.


A última pose da mulher foi a de um falcão, que desprendeu-se da projeção e saiu voando. A acrobata de repente abriu os braços e penas luminosas surgiram. Ela as balançou e voou junto com o pássaro de luz, ambos fazendo movimentos de vôo gêmeos. Então ela finalmente pousou, curvando-se para o público para agradecer as palmas.


A outra apresentação foi ainda mais impressionante. Ao apagar e ascender das luzes, surgiu uma caixa preta realmente enorme. Um grunido feroz vinha de dentro dela; sons de garras arranhando e o balançar ameaçador da caixa. Alguma coisa bem grande, irritada e selvagem estava ali dentro.


Meia dúzia de artistas de circo começaram a desprender os cadeados da caixa (“Alohomora!”). Quando faltava apenas a parte da frente para destrancar, fez-se um silêncio sepulcral. O público observava petrificado. Ouvia-se uma respiração áspera e agourenta vindo da caixa. Aquilo que estava dentro dela havia se aquietado, esperando... Os circenses se afastaram e de longe, um deles lançou um último “Alohomora”. Alvo engoliu em seco.


Um forte estrondo e a caixa quebrou em mil pedaços. Um enorme dragão adulto saiu da caixa, grunhindo para os circenses, mostrando aqueles dentes enormes para o público, que entrou em pânico naquele momento. Um dragão de verdade no meio do picadeiro.


Ele tinha vários espinhos ameaçadores, como cristas saindo de sua costa, além das enormes asas, as quais o bicho balançava, demostrando odiar toda a movimentação de pessoas que acabaram de se levantar, cair uma por cima das outras, fugindo do bicho. Eis então que uma voz ecoou por todos.


– Não temam! – era a voz de Jun – esse dragão não é nada em comparação aos meus poderes – as pessoas viraram-se para ver onde estava o louco dono do circo. Assim que descobriram, soltaram uma exclamação, totalmente impressionadas. Alvo também achou aquilo totalmente assombroso.


Jun encontrava-se sentado na cabeça do enorme dragão, acariciando-lhe o chifre. E o dragão fechou o olho, como que gostando do carinho. As pessoas explodiram em palmas, lentamente voltando aos seus lugares, algumas sem óculos, com os cabelos desarrumados e as roupas viradas pela pressa da fuga.


– Um Dragão Dorso-Cristado Norueguês... Raro e legítimo, que se encontra sob meu poder. Adestrei-o, ele responde aos meus comandos.


O homem apontou para o alto e ordenou “Fogo!” e o dragão, obediente, cuspiu labaredas de fogo às alturas, fazendo um rastro de luz com as chamas. O Rastro ia se mantendo, formando a palavra YUPERUS no ar. O dragão parou e recolheu a asa direita e baixou a cabeça, num claro gesto de reverência. Maravilhado, Alvo aplaudia tanto que já sentia a palma da mão dormente.


Antes de se retirar, o Dragão Norueguês grunhiu para o público, mostrando os dentes, e bateu as asas causando uma lufada de vento poderosa. As pessoas continuaram aplaudindo quando as luzes apagaram e reacenderam.


Alvo sentiu uma brisa violenta assoviando. De repente sentiu um frio cortante e viu a neve se acumular sob o palco por completo. Os circenses vestidos de branco, com detalhes vermelhos, faziam uma dança em meio a neve, escalando uma montanha de gelo que aparecera no fundo do picadeiro. E no topo da montanha...


Um bicho enorme, com talvez oito metros de comprimento e uns quatro de largura. Lembrava uma baleia cachalote, flutuando sob os circenses... Sim, era uma baleia voadora, peluda, fofa, branca como a neve que se acumulava em suas costas. E ela expulsava o acumulo da cabeça com uma lufada de vento que saia do buraco de sua cabeça (como se estivesse espirrando). Os circenses alcançaram a baleia e montaram nela, parecendo minúsculos nas costas do bicho, pegando carona no flutuar lento da Cachalote peluda, pulando no jato de ar pressurizado que saia da cabeça da baleia, e voando no topo do lufar, dando mortais no ar e formando danças sincronizadas sob os flocos de neve que caiam do teto da lona que imitava o espaço sideral... Então novamente as luzes apagaram.


Dessa vez elas ficaram apagadas por mais tempo. Mas o silêncio ansioso foi cortado pelo soar de uma melodia. Uma melodia estranha, misteriosa, que fez o coração de Alvo apertar. Ela era muitíssima bela, era o canto de algum pássaro. Um canto que ecoava dentro da cabeça de Alvo, um tom enigmático, singular. Alvo sentiu uma vontade indefinível. Era como se quisesse, quisesse muito, por favor... Ele queria demais que já não se aguentava, mas não sabia o que queria. Alvo ficou ouvindo aquele canto, até conseguir identificar o seu pai falando ao lado “Não pode ser...”


Mas o que não poderia ser, provavelmente era, porque quando as luzes ascenderam com um brilho flamejante, Harry disse “Fawkes!”.


No centro do picadeiro, apoiada a um poleiro de ouro, lá estava ela... Linda... Uma magnífica fênix adulta, com as penugens douradas, avermelhadas, brilhando, cada pena, fazendo todos se sentirem em uma alvorada particularmente mágica. Ela continuava a cantar, continuava a brilhar... Um canto cada vez mais profundo e particular, um brilho cada vez mais quente e avermelhado...


Então ao redor do poleiro da fênix, surgiu um círculo de fogo. O fogo era forte e rebelde. Dançava, fazendo sombras estranhas... A fênix parou de cantar e começou a bater as asas, sem sair do lugar. Batia as asas... O fogo aumentava... Ela parecia não poder sair do lugar... O fogo já estava se alastrando por todo o picadeiro... Ela queria sair dali, Alvo podia sentir o desespero da fênix...


O fogo tomou conta da cortina, subindo em flamulas cruéis, comendo sem limites o tecido. Ele tomou o fundo da lona do circo, e logo já estava no teto. O céu de estrelas desapareceu, Via-se a lua do verdadeiro céu escuro lá fora, para onde a fumaça subia voluptuosa...


As pessoas olhavam um tanto assustadas para o fogo que já tinha escondido a fênix por completo. Mas não fizeram nada, pois aquilo fazia parte do espetáculo. Um tanto assustador, é verdade, mas deveria ser apenas mais uma ilusão...


Mas Alvo já começara a tossir com a fumaça e se incomodar com o calor de brasa que já estava atingindo os camarotes. As chamas começaram a cortejar o lado das cadeiras. Mestre Jun, junto com dúzias de circenses lançaram feitiços de água nas chamas, porém elas não apagavam... Eram famintas e irredutíveis.


O primeiro grito de horror surgiu quando três dos circenses foram engolidos pelo fogo maligno, tornando-se imediatamente rastros pretos de cinzas e pó no chão: as primeiras vítimas do fogo insaciável que já queimava os assentos da primeira fila do público e deslocava-se em direção às arquibancadas... Aquilo definitivamente não fazia parte do espetáculo.

Compartilhe!

anúncio

Comentários (0)

Não há comentários. Seja o primeiro!
Você precisa estar logado para comentar. Faça Login.