Aniversário de Casamento



As malas de Alvo, Lily e Tiago já haviam sido levadas para a sala, descansavam perto da maleta da mãe, encostada no sofá. O menino agora pusera-se ao lado da irmã no piano, enquanto a garotinha ruiva tocava uma música rápida e simpática, que fazia Alvo ter vontade de balançar as pernas no compasso. O menino pediu o piano para a irmã, arriscando algumas notas. Porém, a única coisa que conseguiu foi o esganiçar de um quadro que ficava em cima do piano:


– Pare! PARE! PARE! – a mulher da pintura desapareceu para o lado da moldura, cobrindo os ouvidos com as mãos, tresloucada.


A mãe e a vó dos garotos vieram da cozinha, conversando, absortas, nos detalhes da festa. A senhora Weasley estava excitada com a perspectiva dos enfeites, das pompas e das glórias da festa de arrasa quarteirão. A senhorita Potter mostrava-se visivelmente temerosa com o exagero da mãe. Seu desejo era apenas reencontrar alguns amigos em uma confraternização casual, simples, normal...


Gina Potter e Harry Potter faziam hoje, dia 11 de Agosto, exatamente 15 anos de casado, que coincidia com o aniversário da senhora Potter. Após muita insistência da avó Weasley, o casal resolveu dar uma festa para comemorar o tempo juntos e chamar alguns amigos que sentiam saudades e gostariam de rever.


A senhora Weasley se comprometeu com os comes e bebes, mas sua filha insistira em preparar um pernil e a torta de doce de caramelo, os pratos sabidamente prediletos de seu marido. Agora, derrotada e mais consciente de seus desastrosos dotes culinários, agradeceu aos céus pela visita de sua mãe. Ambos os pratos ficaram bons, o que seria uma prova cabal para Harry de que a mulher havia trapaceado de alguma maneira.


Por isso - quando a mãe não estava vendo - deixou o fundo da torta com alguns leves focos pretinhos de tostamento e adicionou uma colherada a mais de sal no molho da carne. Nada que comprometesse demais o sabor de ambos: mais para adicionar um toque de veracidade. Harry ficaria lisonjeado com a tentativa da esposa e consideraria o pernil deveras salgado e a torta queimada uma obra prima inspiradora, levando em consideração o peru do Natal passado com o fatídico episódio do acesso de vômito do pai de Gina ao comê-lo. A comida que da mulher agora estava guardada inocentemente dentro de algumas vasilhas de plástico, acima das malas.


– E Harry? – a senhora Weasley indagou repentinamente – demorará muito para chegar?


Gina moveu-se incomodamente. Olhou para a porta, depois disse.


– Ele vai direto do Ministério, mamãe. Vai ficar lá até de tarde... Mas ele vem. - acrescentou rapidamente quando viu a mãe empertigar-se como um gato.


– Claro que ele vem... Mas Sharcklebolt poderia muito bem dar uma trégua para Harry! Que coisa! É o dia do seu aniversário de casamento!


– Eu sei, eu sei... Ele vem, só vai demorar um pouco mais. É o trabalho dele... – explicou Gina.


– Uma falta de respeito, é o que digo. Sendo o chefe dos Aurores, Harry deveria ter no mínimo algumas regalias, penso eu. Está se apoiando demais em Harry! Da próxima vez que encontrar Quin irei dizer...


A senhora Weasley continuou a reclamar e reclamar. Quando Tiago descia das escadas com uma vassoura elegante e lustrosa na mão e a mala na outra, a avó ainda falava.


– ... Totalmente desgostosa com a situação.


A voz de Gina então se sobrepôs à da mãe:


– Todos prontos?


– Vamos aparatar? – arriscou, ansioso, Tiago.


– A gente pode? – quis saber Alvo.


– Não, não vocês não têm idade para isso. É perigoso. Vamos pela...


– Chave de portal? – Tiago interrompeu-a com uma segunda tentativa de adivinhação.


– Mas a gente tem permissão para...


– Não, vamos pela lareira – a avó Molly interrompeu Alvo. “Que chato!” Tiago resmungava enquanto Alvo se sentia ignorado – Me ajudem a juntar as malas, sim? Vamos empurra-las primeiro pela Lareira... Depois vocês vão.


A senhora pegou um punhado generoso de um pó dentro de um vaso de porcelana em cima de uma mesinha que flanqueava da Lareira. Ela era muito grande e espaçosa. Tinha desenhos de serpentes rodeando os tijolos enegrecidos. Depois que todas as Malas estavam divididas em dois montinhos, a avó dos garotos balançou a varinha e murmurou “incendio! “, então um fogo alegre e crepitante surgiu no fundo da lareira. Em seguida, ela atirou o punhado do pó e a chama se assanhou, assumindo uma tonalidade verde ácido, queimando avidamente por todo o espaço da lareira.


Molly falou “A segunda toca” e foi com mala e tudo para a lareira: o fogo as consumiu com ímpeto e a senhora segundos depois havia sumido. A mãe dos garotos empurrou também o resto das malas repetindo as palavras da mãe, então só restavam Alvo e Tiago na sala. O irmão de Alvo deu um sorriso (A segunda Toca!) e se jogou com a sua vassoura para dentro da lareira e sumiu entre as chamas.


Alvo estava irritado. Ninguém ligava para o que ele falava! Pensou em falar “Beco Diagonal” e se esconder em alguma loja. Provavelmente levariam horas para notar que o garoto havia desaparecido.


– A segunda Toca... – porém, foi o que ele disse. Entrando na Lareira. O fogo não era quente, mas fazia cocegas. De repente o garoto foi sugado e rodopiou em um espaço de luz confuso. Via algumas lareiras a distância enquanto girava no espaço do éter, mas foi trazido magneticamente até uma especificadamente...


Alvo agora estava adentrando por outra lareira em uma sala grande. O primeiro passo de Alvo fez um barulho de “splash”, porque Tiago havia posto uma bacia de água no chão (era a piada preferida de Fred e Tiago). Xingando baixinho, o garoto tirou o sapato e se sentou em uma poltrona.


A mobília era a mesma da última vez: apesar do enorme espaço, seus avós conseguiram lotar um lugar grande. A parede cheia de Quadros bucólicos. Mas, envidradas como em uma exposição, havia coisas como uma furadeira enferrujada, um quadro contendo uma coleção de tomadas e um tapete de parede inteiramente formado por cartões de créditos. Ao lado dele um relógio com todos os membros da família Weasley no lugar dos ponteiros e as horas foram substituídas por “Trabalho, casa, Perigo mortal, Voltando para casa”. Alvo Reparou que a foto do Pai marcava “Trabalho”.


Na sala, mesas e escrivaninhas espalhadas, decoradas de flores alegres que suspiravam desejosas para o sol que vinha de uma janela ao lado da Lareira. Em cima das mesas também haviam muitos retratos dos membros da família: Gina muito mais jovem, vestindo uma beca vermelha com detalhes dourados e com um distintivo dizendo “chefa dos monitores” ao lado de uma vó Molly ainda ruiva, com um vestido elegante e cheia de si. Gina segurava um pergaminho indicando sua formatura na Escola de Magia e Bruxaria em Hogwarts e sorria, enquanto a mãe batia palmas excitadíssima.


Havia um quadro com seu tio Percy, abraçado com o avô Arthur em um escritório. Um aviãozinho de papel voava e começava a bater na cabeça do tio e ele dava uns tapas nele e voltava a sorrir para a foto, para uma outra vez o avião bicar a cabeça do homem insistentemente. Em uma mesa isolada, um porta-retrato grande continha a foto do seu Tio Jorge, porém muito mais novo. Devia ter uns 18 ou 19 nos. Mas haviam muitas flores próximas dessa foto... Então devia ser o gêmeo do tio, que tinha morrido a muito tempo atrás, era isso... Ele sorria em frente à insipiente loja das Geminialidades Weasley, que atualmente estava triplamente maior e tinha muitas outras filiais. Outros quadros com membros da família separados em casais, com seus filhos... E, emoldurado, uma foto enorme de todo os membros da família. Alvo estava ali, mirrado e zangado. Lembrava que no dia da foto ele tinha caído da vassoura e se machucado bastante.


O garoto ainda estava retirando o acumulo de água do sapato quando alguém falou em suas costas.


– Obra do Tiago, imagino?


– Rosa!


Uma menina ruivinha e com o cabelo muito volumoso prestes a estourar em um rabo de cavalo apareceu apoiando-se no espelho da poltrona que Alvo se sentava. A menina deu a volta e sentou-se em um sofá fofo em frente do garoto. Rosa sorriu-se brevemente.


– Papai e o Tio Jorge estão lá na cozinha, conversando com a vovó e a sua mãe. Parece quem nem querem ser incomodados...


Alvo nem se impressionou. Sabia que todos estavam cheios de segredinhos.


– E o Tiago?


– Voando com o Fred lá fora. Hugo e sua maninha estão lá também, na sombra deles... Antes eles que eu.


Alvo pensou em ir atrás de Tiago, ver os vôos, talvez pegar emprestada a Firebolt de Tiago, ou a Silver-arrow de Fred, ambas eram ótimas vassouras... Mas, como Rosa dissera, não ia sersombra do irmão. Então lembrou-se de Hogwarts e perguntou animado:


– Rosa, seus pais vão dormir aqui?


– Sim, Mamãe vai vir. Tá resolvendo alguma coisa no Ministério...


– E vão ficar outros dias aqui, hum?


– Vamos. E sim – Rosa antecipou a resposta para a próxima pergunta de Alvo – Tudo indica que a gente vai fazer as compras juntos pra escola.


– Ainda bem... – Alvo felicitou-se – Não queria ir sozinho... Quer dizer, os meus pais vão, mas...


CRASH


Uma bola do tamanho de uma maçã atravessou o vidro da sala e atingiu em cheio o quadro do Pai de Alvo, quebrando-o impiedosamente em mil pedaços. Alvo levantou-se irritadíssimo para abrir inutilmente a janela com um arrombo enorme e gritar:


– TIAGO! VOCÊ-QUEBROU-O-RETRATO-DO-PAPAI! – E jogou a bola com força, atingindo o irmão em cheio, apesar da distancia impressionante.


“AI! Foi mal!” Ouviu-se a voz despreocupada e distante de Tiago, que imediatamente voltou a voar alto em loops, seguido por outro vulto ruivo.


Irou-se por um segundo depois engoliu em seco. Tiago era assim mesmo: Irresponsável, egoísta, insensato, infantil... Resolveu catar os restos do retrato logo antes que alguém chegue e o acuse do delito.


– O que foi? Ouvi um barulho... - Um homem alto e com os cabelos ruivos, mas ralos e um tanto esbranquiçados entrou pela sala – Rosa? Minha filha, você está bem?


A menina estava pálida, séria... Fitando a foto rasgada que Alvo recolhia agora do chão. O Menino achou-a estranha. Parecia ter o olhar desfocado, por um segundo pensou se não estava hipnotizada ou algo do tipo... Mas a menina rapidamente recompôs-se e disse para o pai:


– Me assustei...


O tio de Alvo, Rony Weasley, aproximou-se para ver o que Alvo tinha em mãos.


– Ah não... Harry adorava esse quadro. Foi quando ele se tornou Auror... Coloca o vidro de volta pro chão, vou dar um jeito – o Tio Rony apontou a varinha e murmurou – Reparo – e os vidros começaram a se reunir e em um segundo a moldura estava intacta, mas a foto continuava rasgada.


“Acho melhor vocês brincarem lá fora... A avó de vocês vai ficar uma fera quando descobrir...”. Alvo tentou dizer “Mas não fui...” Porém, o tio Rony já tinha rumado ao corredor.


– Você ta bem, Rosa? – Alvo tinha notado que algo havia acontecido com a menina.


– To bem. Quer ir ver o pessoal jogar lá fora?


– Nah...


– Vamos jogar de Xadrez de bruxo?


– Não tem graça, a gente sempre empata...


– Hum, então que tal uma partida de snaps explosivos?


– Não to afim...


Rosa fitou Alvo com significância.


– Já sei. Quer ver os livros de Hogwarts que a mamãe me emprestou?


– Pode ser!


Os garotos saíram da sala e subiram uns 3 lances de escada até entrarem no último quarto do corredor. Lá, havia muitas coisas amontoadas: roupas espalhadas, sacolas, uma bota apoiada em um cata-vento estranho. Havia algumas malas abertas no chão, as quais os meninos foram saltando para chegar até a cama de casal. Rosa pegou uma pequena pilha de livros e espalhou pela cama.


– São todos antigos... Mamãe disse que estão ultrapassados, que tem muita coisa nova e por isso são desatualizados... Por exemplo: esse aqui – Pegou um livro intitulado “Livro padrão de feitiços: volume 1” – não vai ser usado. Vamos ter um novo professor de feitiços e a carta ainda não chegou... Mesmo assim, dei uma lida nesses aqui – e apontou displicentemente para uma pilha em especial - As coisas não podem ter mudado taaanto...


Alvo olhou para a menina boquiaberto.


– Você já leu todos esses livros?


– Não todos... Estou no 4º capitulo do “Mil ervas mágicas e fungos”... E estou achando um tédio esse de Aritimancia. Mas não fale isso para minha mãe, ela adora e vai ficar magoada...


De repente Alvo se sentiu burro. Havia apenas folheado alguns livros de defesa contra arte das trevas de seu pai. Mas Rosa estava muito na frente. Claro. Ela que tinha razão. Seria um pesadelo chegar em Hogwarts sem saber nem balançar a varinha. Como iria começar a estudar sem ter estudado tudo com antecedência? Como iria ser o melhor aluno, se nem sabia o que era “Aritimancia”? Todo mundo ia esperar grandes coisas de Rosa. Afinal, ela era filha de Hermione Weasley, a bruxa que chefia o Departamento de Regulamento de feitiços, considerada pela Revista “Personalidades mágicas” uma das 10 bruxas da Conselho de Morgana. A mulher era agraciada pelo título “Ordem de Merlin” (primeira classe) e ainda por cima, a tia do garoto tinha uma cadeira na Confederação internacional dos bruxos. O pai de Rosa também era um bruxo importante, rico, famoso. Ordem de merlim (primeira classe) e Auror Sênior, aposentara-se para gerir a milionária rede Weasley de comércio de logros, juntamente com seu irmão, o tio Jorge.


Mas Alvo era filho de Harry Potter. Também da Ordem de Merlim (obviamente do mais alto grau), o pai do garoto era nada mais nada menos que o Chefe dos aurores; chamado de “O eleito”, grande herói do povo bruxo, por derrotar O bruxo das trevas mais poderoso que ouviu falar: Lord Voldemort. Mas não parava por aí: Harry colecionava mandados de prisão para qualquer bruxo ruim que brotava por aí, tornando-se “A mão que captura” ou “O Martelo dos Bruxos” do ministério da Magia. Por essas e outras Harry tinha lugar no conselho mundial dos mágicos e era praticamente venerado por todos os bruxos. Sua mãe era a queridinha das Harpias de Holly-head, o venerado time de quadribol formado apenas por mulheres. Ganhadora 4 vezes consecutivas do prêmio de melhor artilheira do ano e fora condecorada ano passado com o prêmio de “pesquisadora quintano”, junto a Senhora Lovegood ao provar as propriedades do Uruyandir na proteção contra ferimentos causados por criaturas mágicas venenosas.


Se fosse pensar bem, sua família carregava um peso enorme. Todos eram verdadeiras celebridades. No último campeonato de Quadribol na Patagônia, ele e seus familiares causaram um alvoroço tremendo. A simples presença dos Potter e Weasley fez com que uma multidão quase invadisse o camarote do qual viam o jogo. Alvo lia os jornais e sempre encontrava aqui e acolá assuntos particulares de sua família destrinchados pelos ácidos escritores do Profeta diário, o jornal dos bruxos... “Os filhos de Harry Potter” eram citados com grande pompa. Todo mundo esperava que Alvo, Tiago e Lily demonstrassem grande poder mágico, que fossem autores de façanhas inacreditáveis, que solassem aventuras indizíveis. Alvo sentia que todos estavam um tanto decepcionados que Tiago não tenha encontrado dois lordes das trevas para derrotar assim que pisou em Hogwarts.


Mas tornou-se de conhecimento geral dos bruxos ingleses de que Tiago era um geniozinho peralta. O primogênito de Harry Potter era pintado nas páginas dos jornais como “O garoto prodígio, príncipe dos bruxos”, o que fazia, se é possível, Tiago adquirir prepotência em dobro. O garoto ia bem em praticamente todas as matérias da escola e ainda tinha tempo para estrelar as traquinagens mais clássicas em Hogwarts. Todos achavam que o garoto era espantosamente inteligente, famoso e carismático...


Mas Alvo ainda era uma incógnita para a imprensa. O garoto sentia que todas as penas dos escritores de todos os jornais estavam a postos, e quando o menino pisasse na escola iam disparar furiosamente a descrever com detalhes tão minuciosos que Alvo não surpreenderia ao chegar a ler na manhã seguinte a notícia sobre a cor da cueca que usou ao chegar em Hogwarts.


Ele ficou um bom tempo perguntando coisas para Rosa, pedindo conselhos sobre quais matérias deveria dar mais valor, consultando livros e pedindo emprestado alguns. Alvo estava decidido a recuperar o tempo perdido. Afinal, ele estava falando sério quando dizia para si mesmo que iria ser o número um de Hogwarts.


Quando Rosa estava mostrando um livro intitulado “Poções muy potentes” para um Alvo ansioso, um garotinho muito ruivo e sarnento entrou no quarto, parecendo ofegante (era provável que tinha subido os degraus de cinco em cinco).


– Mana... Vovó mandou chamar vocês pra ajudar lá em baixo... – Considerando o recado dado, Hugo desapareceu de vista o mais rápido que pôde.


Alvo olhou pela janela ampla e pode notar que estavam já no meio da tarde. Passaram bastante tempo olhando os livros que esqueceram das arrumações. Os garotos desceram pela escadaria da mansão dos Weasley.


A sala, antes vazia e cálida, agora estava tão movimentada quanto o cruzamento trouxa que viram de manhã. Parentes e gente desconhecida iam e voltavam, cadeiras, vasos e caixotes flutuando para lá e para cá. Em meio aquele mar de pessoas, uma menina de pele morena e cabelos muito encaracolados da idade de Alvo e Rosa foi desviando até o pé da escada e encontrou os garotos.


– Ei, Al, Rosa! Tudo beleza? Tia Fleur quer que a gente ajude a ela a fazer os arranjos de flores...


– Papai já chegou? – quis saber Alvo.


– Olha, Acho que não.... Só vi sua mãe falando com a vovó... Não parece muito contente – disse Roxanne guiando os três para fora de casa – A Tia Gina ta achando isso tudo um exagero. Mas a vovó e a tia Fleur estão querendo fazer uma festa de arromba...


O jardim dos Weasley normalmente era um espaçoso recanto elegante de árvores frutíferas que enfeitavam os caminhos verdes e vivos, junto às moitas floridas e podadas de maneira arquitetônica. Agora o local estava mais aberto, recheado de mesas, onde toalhas brancas iam sendo postas e cadeiras iam chegando flutuando e postavam para rodeá-las.


A vó Molly ia gerindo a arrumação de uma enorme tenda bege elegante que ia flutuando sob a varinha dos tios Rony, Fred e Gui. Agora posta e montada, ela cobria parte de uma área grande de ladrilhos circular do jardim, onde no mínimo umas vinte mesas estavam já prontas. Alvo notou que fios com algumas bolinhas aperoladas iam sendo penduradas pelo fundo do teto da lona, mais à frente um pequeno palco havia sido montado.


Gina olhava para tudo pasma, numa mescla de aborrecimento e incredulidade. Alguns homens apareceram com pranchetas, pedindo para a mulher assinar a chegada de caixas que, quando ela abriu, descobriu uma coleção de brindezinhos de 14 anos de casados: duas vassouras Firebolt cruzadas de onde coraçõezinhos intrépidos saiam do ramo espocando em bolinhas de amor.


– Mamãe! Acho que isso passou dos limites!


– Eu também acho isso – uma mulher alta, loira platinada e lindíssima (uma verdadeira modelo que qualquer um daria 25, apesar de indicar ter 30, mas na verdade ter 35) aproximou-se dos entregadores, dirigindo-se a eles com um trejeito austero – Os souvenires deveriam ter chego no mínimo três horas atrás? Um Ab-sur-do! - Os homens não pareceram sequer ouvir uma palavra dela, mas concordavam energicamente; um fiozinho de baba vinha descendo de suas bocas idiotamente entreabertas - Ah! – Exclamou Fleur ao ver Rosa, Roxanne e Alvo observando a cena de uma distância segura – Vocês, venham!"


A tia Fleur explicou que deveria ser um trabalho manual a preparação do arranjo de flores (Nenhuma varinha faz arranjos melhor que as mãos...) que deveriam ficar sob as mesas como um enfeite “superbe”. Margaridas, tulipas, rosas de todas as cores, violetas, orquídeas, girassóis, delicados copos-de-leite, todas as flores deveriam ser postas nos vasos de porcelana fina em um número, ordem e padrão especifico, exatamente como a tia havia informado.


– Tia Fleur, onde tá a Dominique, a Victoria e o Louisinho?


– Ah. Eles voltam hoje de viagem. Estão em Brasili com seu tio Carlos... Mas à noite devem estar aqui, hm?


Fleur se retirou graciosamente com os cabelos platinados esvoaçantes, para agora criticar a maneira que algumas guirlandas de Goivos iam sendo postas na entrada da casa enquanto a vó Molly comandava emocionada a colocação de um arco de ramos primoroso à frente ao local em que os convidados deveriam chegar. Gui comentava animado com Fred o poder que as festas tinham sob a mãe Molly e a sua esposa Fleur: normalmente as duas tinham discordâncias clássicas, mas era unidas e gêmeas no quesito comemorações. Gina parecia que ia desfalecer quando viu uma carruagem pousar com uma quantidade exorbitante de bebidas para serem guardadas a feitiço resfriante até a hora da festa.


A medida que Lily, Rosa e Roxanne iam terminando os arranjos, Tiago, Fred, Alvo e Hugo iam levando-os para as mesas dentro e fora da lona. Tiago reclamava por que eles não podiam simplesmente fazer os vasos flutuarem até as mesas, ao invés de fazer trabalho de trouxa. Rosa ponderava que os adultos estavam ocupados com outras coisas e que não se podia fazer feitiços fora de Hogwarts.


Algumas mesas longas foram postas próxima ao fundo da tenda, onde provavelmente os comes e bebes seriam servidos. Os garotos resolveram voltar para a casa, desviando-se das dezenas de véus que iam sendo levantados, cortando a enorme lona de um lado a outro.


Já eram por volta das 3 horas da tarde quando um homem muito alto e tão ruivo quanto os demais tios Weasley, apareceu acompanhado por três garotos loiros platinados. A mais velha tinha dezessete e era tão bela e magra quanto a mãe. E o casal de crianças pareciam atores mirins e geminares (o menino um pouco mais novo que a menina), com os cabelos ainda mais brilhantes e os olhos tão azuis quanto uma lagoa particularmente límpida. Victorie, Louis e Dominique foram beijar as bochechas de Fleur e beijar também o pai (não ligavam para algumas cicatrizes que ele tinha no rosto). Gui acompanhou Carlinhos para a cozinha, onde os adultos estavam.


Os primos Potter-Weasley se juntaram numa sala espaçosa, onde havia uma grande mesa de madeira lustrosa e estantes tomando toda a pared. Via-se livros de culinária: “Mágica na cozinha – Anabeth Yoringal”, “Pouco tempo muita fome – Palomo Dowell”; também livros de auto-ajuda e autores consagrados: “Meu Eu Mágico Esquecido e Relembrado – Gilderoy Lockhart” e “Aposentadoria: Tempo de sobra e pouca obra? – Malevilia O’Jhonson” e "Ascenção, Queda, Nova ascensão e Nova queda da Magia Negra - Deirdre Bagshot.


Outros livros mais peculiares (que nunca seriam encontrados em qualquer outra casa de bruxo a não ser a do avô Arthur) avolumavam-se sobre os demais: “Licença para motoristas – Departamento De Trânsito”, “Biologia para alunos da primeira série – Coltron & Albert”, “Mecânica dos automóveis – Renard & Yuri”, “Guinnessbook: O Livro dos recordes” (uma dúzia de edições atualizadas ocupava um andar inteiro de estante), “Fundamentos epistemológicos da linguística – Orlando Trovsk”. Aberto sobre a mesa, jazia um ainda com marca páginas “Brocas: um estudo aprofundado”. Imediatamente ao lado deste, uma furadeira totalmente desmontada, com todas as engrenagens e sistemas elétricos à mostra. A broca da máquina girava preguiçosamente na banda exposta, apesar da furadeira não estar ligada na tomada.


Tiago e Fred pegaram em um armário no fundo da sala um tabuleiro de xadrez e puseram-se a jogar num ponto da mesa, com as pecinhas que se moviam sozinhas, travando batalhas um tanto violentas. Do lado oposto da sala, Louis mostrava para Hugo e Lily um Cocar verde amarelado que conseguira no Brasil: toda a vez que ele o colocava na cabeça o chapéu se tornava um Papagaio escandaloso, que ficava repetindo esganiçado “QUERO CAFÉ CAFÉ CAFÉ CAFÉ...” e parecia que não tinha limite para fôlego nem enjoava-se de pedir café.


Alvo, Rosa, Roxanne e sentaram-se em outra área da mesa com Dominique, ouvindo a menina falar entusiasmada:


“Visitamos uma cidade chamada “Sant Paulo” e nos mostraram algumas Academias de Magia! Lá tem muitas escolas pequenas... A maior é a que fica no interior nos arredores da capital, chamam de CBB – Colegiado de Bruxaria do Brasil... Mas na Amazônia tem um centro de pesquisaenorme. Eles estudam muito mesmo sobre Hebologia e Zoomagia... Vocês não têm ideia dos animais que vimos... Acreditam que ainda tem Entes por lá? E Tem uma serpente dracônica que eles chamam de Boiúna... Enorme! Até o tio Carlinhos ficou com um pouco de receio de chegar perto...”


Eram por volta de cinco horas da tarde quando a senhora Weasley entrou na sala, falando consigo mesmo, parecendo distraída. Quando avistou os garotos, desesperou-se.


–O-que-estão-fazendo-que-ainda-não-estão-vestidos?


Todos os primos subiram rapidamente para se trocarem. Os garotos desceram pela escada algum tempinho depois, trajando roupas elegantes, mas um tanto esportivas. As garotas voltaram horas mais tarde, com vestidos bonitos. Todos os mais jovens já reunidos na sala do Hall; Os familiares passavam para lá e para cá. De vez em quando sobressaltavam-se com os sons de “cracs” que vinham da cozinha.


Quando os garotos já se sentiam monótonos, viram a lareira incendiar-se e de lá sair um pequeno grupo. Os garotos receberam um homem ruivo e esguio, com óculos quadrados encarapitados na ponta do nariz. Ele vestia um terno avermelhado de camurça e tinha sua esposa nos braços, guiando-a como quem traz a rainha aos súditos. A mulher era branquíssima ao ponto da porcelana (tinha uma pintinha pitoresca na maçã do rosto) e com a cabeça formada por caprichosos cachos...Vinha de vestido de gala, com ares austeros (talvez pensasse que iria em uma cerimônia de coroação, não em uma Boda). Atrás deles, os dois filhos Molly e Lucia. Tio Percy cumprimentou os sobrinhos com certa pompa e logo após quis saber onde estava o Pai de Alvo. Depois de receber a vaga informação de Thiago que o Harry deveria chegar logo, ele e a esposa saíram para o jardim, para se juntar com os demais adultos.


Molly, uma menina ruivinha e muito sarnenta da idade de Tiago se juntou ao grupo dos de idade intermediária, enquanto Lucia, uma moça que se parecia muito mais com a mãe foi se juntar a Victoria, as quais já em poucos minutos estavam absortas em conversas e risinhos.


Os garotos foram chamados para fora pelo Tio Gui, que já tinha uma taça de vinho branco nas mãos, um tantinho sorridente demais. Quando cruzaram a porta d’A Segunda Toca, encontraram o Jardim totalmente mudado. Vários lampiões flutuavam magicamente como balões pálidos à uns 4 metros de altura. O noctívago clima das seis horas e meia (um céu púrpuro indeciso entre seguir anoitecendo ou retornar ao dia que ia morrendo no oeste) ficava mais misterioso e bonito com os reflexos das luzes sob o a calçada ladrilhada. Os lampiões se enfileiravam em par, formando um caminho que dava na enorme entrada da tenda de tecido branco fluorescente, com outras aberturas periódicas, nas quais alguns convidados já eram vistos sob a lona, conversando em mesas brancas, cada uma com um vaso de enfeite que os primos haviam preparado sob as ordens da tia Fleur.


Algumas mesas pontuais ficavam do lado de fora da tenda enorme, mas eram totalmente iluminadas pelos lampiões que maninham-se vigilantes metros acima delas. Alvo seguiu o grupo de primos pelo ladrilho dos lampiões, adentrando a tenda.


Identificou a mãe sentada junto aos tios de alvo. O garoto identificou uma cabeça branca e muito barbuda se sobressaindo aos demais em alutra: era seu padrinho Hagrid, conversando, emocionado, com os tios Rony e Hermione. O avô e a avó Weasley estavam ali também. Todos muito elegantes, rindo e conversando despreocupadamente com outros senhores de idade. A maioria das mesas estavam desocupadas, com exceção de dois ou três com pessoas que o menino nunca tinha visto. Absortos em seus assuntos, bebericando coisas leves antes da festa começar de fato. Mas algo incomodava Alvo. E ninguém parecia notar! Sua mãe agora estava rindo de uma piada que o tio Jorge tinha acabado de contar, como se nada estivesse acontecendo! Os primos já começaram a falar entre si, assuntos tediosos e pachorras. Mas será que eles não sentiram falta de ninguém? Será que eles não percebiam? Como eles não poderiam notar que Harry Potter não estava por ali?


Isso tudo era muito estranho. Afinal, era aniversário de 15 anos de casados! Como sua mãe poderia estar tão bem com o fato do marido ainda não ter chegado, sendo que o relógio já ameaçava marcar as oito horas? Uma musiquinha antipática tocava no fundo... Mais e mais desconhecidos chegavam, procurando seus lugares... Mas Alvo não queria saber deles. “Onde está o meu pai?”


– Eu preciso... Eu vou ali.


Alvo levantou-se e foi para um pequeno coreto que ficava mais para o fundo do Jardim. O lugar tinha uma mesinha onde seu pai costumava sentar para observar a copa das árvores se unir ao horizonte. Sentou-se e fitou o céu. Ele estava de um tom azul marinho, salpicado de muitas estrelas. Um céu sem lua.


– É certeza que aconteceu um roubo no Ministério... – afirmou o garoto para si mesmo – O quadro disse que encontrou meu pai por lá, parecendo ocupado. Claro. Ele é o chefe dos aurores, ele tem que estar lá.


Alvo agora levantou-se e começou a andar em círculos no coreto fracamente iluminado.


– Tia Hermione também ainda não chegou... – ponderou – ela é a chefa do departamento do uso indevido de feitiços... – agora Alvo estava sentado novamente, com a mão na cabeça – mas o que isso tem a ver com o papai? Por que ele tá lá o dia inteiro? Ele poderia deixar alguém por ele... Sei lá...


Não era normal ele se sentir assim. Parece que a noite tinha trazido toda a preocupação que o dia não lhe inspirava. Ele estava demorando demais... Será que alguma coisa tinha acontecido? Não. O pai de Alvo era bom demais. Ele era o melhor auror. Não tinha como. Mas por que ele se sentia estranho, com algo preso na garganta? Toda a história do Professor Ravus, do Elfo Tatcher, do quadro... A mãe estava precisamente preocupada naquela manhã. Ele tinha notado isso. Mas agora ria de piadas, enquanto seu marido ainda estava em algum lugar resolvendo problemas de um roubo de sei lá o que...


“Crack”.


Um ruído seco ecoou pela escuridão. Alvo estacou. Ele conhecia esse som. Alguém havia acabado de aparatar ali. Quem era? Sentiu medo.


O garoto abaixou-se lentamente, procurando não fazer ruído algum. Deitou-se no chão do coreto para observar entre as frestas do corrimão, tentando localizar quem estava andando ali, no meio da noite...


Os passos iam em direção ao coreto. O coração do garoto tamborilava, mas Alvo procurava não respirar, com o rosto no chão áspero e gelado. À porta do coreto, os passos pararam. Deveria gritar socorro agora?


– Hominius revelius. Lumus.


Uma luz ofuscante se espalhou por todo o local, deixando alvo cego por alguns segundos. Alvo ficou ali no chão, com a mão no rosto para se proteger da luz que ardia nas suas pupilas.


– O que você está fazendo aí? – A mão forte do homem ajudou o garoto a se levantar. Alvo corou.


– Eu caí.


– Por que você caiu?


– Eu não caí por que quis!


– Boa resposta... – o homem dobrou os joelhos para ficar no mesmo nível de olhar com Alvo. A varinha dele tinha um globo de luz na ponta, que iluminava os dois pares de olhos verdíssimos que se encaravam em meio ao resto todo breu fora do coreto. Ele sorria. Alvo sorriu de volta e o abraçou.


– Eu vim aqui ver o senhor. Sabia que viria para cá...


Harry segurou na mão do filho e ambos foram rumo ao jardim.


A medida que se aproximaram das luminárias, a luz da varinha foi se tornando inútil, então o pai de Alvo balanço-a e murmurou – Nox – agora apenas as luminárias eram brilhantes.


– Você deveria estar com os convidados e sua mãe, Al...


– Eu estava preocupado com o senhor...


– Estou bem – Harry tranquilizou o garoto – só tive uns contratempos...


Alvo foi tomado pela vontade de falar tudo o que ouvira, de contar tudo o que descobrira hoje de manhã, mas por alguma razão pensou que não deveria, então fechou a boca. Depois se arrependera um pouco, porque seria difícil ficar a sós dali em diante com seu pai. O garoto sempre sentira que podia falar qualquer coisa para o pai. Ele era uma espécie de porto seguro. Próximo dele, parecia que tudo iria ficar bem... Talvez por isso que ele não tenha falado nada... Talvez por isso que ele agora se sentia mais animado com a perspectiva de uma noite de festa. Alvo não precisava se preocupar mais. Seu pai estava ali.


O garoto notou assim que virou o murinho de sebe que a festa agora tinha tomado um outro patamar: Muitas, muitas pessoas mesmo agora espalhavam-se pelo jardim e pelas mesas. A voz de mulher cantava uma música extravagante e estrondosa (Alvo teve certeza que aquilo era obra da avó Weasley). Quando os convidados notaram a presença de Harry que (Alvo percebera agora) vestia-se muito bem com um terno negro com gravata branca, com o filho em sua mão... Foi um estardalhaço. Muitos convidados levantaram, batendo palmas, dando vivas (um grupo especialmente animado assoviou e gritou em coro “Aeee Harry!”).


Seu pai era tão popular que foi aplaudido até entrar na tenda, quando os convidados de dentro já lhe encheram de ovação e parabéns entusiasmados. Ele ainda tinha Alvo nas mãos, que sorria para todas aquelas pessoas, se sentindo muito satisfeito de estar onde estava. Seu pai era um homem incrível. Alvo sentia um orgulho retumbante. E Harry não largou a mão do filho até chegar próximo a mesa que a família e Gina se encontravam. Harry tomou-a e a beijou longamente, como se não notasse os milhares de pessoas ao seu redor. Alvo percebeu que a mãe falou alguma coisa para o pai, mas ele respondeu “Esquece isso, vamos aproveitar a festa...” com a voz um tanto tremula. Parecendo ter notado efeito teatral do beijo (que levou todos os convidados à loucura), ele sentou-se no lugar que Gina estava guardando para o marido. Harry recolheu-se parecendo corar, tentando passar a partir daí despercebido, mas, claro que isso não foi possível.


– Senhor e Senhora Potter, porfavor, porfavor! – A voz ressoante da cantora ecoou magicamente por toda a festa. Era uma mulher alta, negra, com um penteado extravagante de torre e um vestido azul piscina tintilhado de pedrinhas. Harry fechou os olhos, como rezando para que não, enquanto a senhora Weasley aplaudia efusivamente junto com os outros convidados. A mulher agarrou a mão de Harry, como que lhe dando força e ambos se levantaram e subiram o palco: Gina, sorria elegantemente e Harry também tentara um sorriso mas apenas conseguira a expressão de quem havia batido o cóccix e ria não de alegria, mas de dor.


– Olá – Harry falou, mas sua voz não estava aumentada, então os convidados ainda continuaram olhando para ele sem entender, deixando-o ainda mais desconcertado. Gina, notando o nervosismo do marido, tomou a frente, pegou a varinha, apontou para a própria garganta e disse “sonorus”.


– Boa noite à todos – a voz da mulher fez-se ouvir por cada convidado, como se ela tivesse um microfone invisível acoplado à roupa.


“Nós fizemos essa festinha íntima e simples (os convidados gargalharam com a ironia) com a desculpa de comemorar os nossos 15 anos de casados e o meu aniversário. Mas o que tínhamos em mente mesmo, eu e o Harry, era rever vocês, pessoas maravilhosas que... (a multidão interrompeu Gina com um “ooooh” tocada pelo elogio). Pessoas maravilhosas que são grandes responsáveis pela nossa felicidade. Então... (uma garrafa de champanhe apareceu na mão de Harry e duas taças vazia na de Gina. Harry notando a deixa, apontou sua varinha para a tampa da garrafa, que estourou fazendo o liquido se atirar pelo céu de forma auspiciosa e elegante) eu queria fazer um brinde (Harry encheu as duas taças e pegou uma delas) à todos vocês, nossos amigos... À amizade!


Mas ninguém chegou a beber da taça. Harry havia apontado a varinha para a própria garganta e agora dispunha-se à frente.


– É... Olá, amigos, parentes... Eu... Eu gostaria de falar algumas palavrinhas para todos vocês.


A multidão bateu palmas e assoviou para Harry. Alvo notou a expressão um tanto receosa da mãe. O menino havia notado que a esposa do tio Rony, tia Hermione (uma mulher de cabelos crespos, amarrados em um coque, vestida com um traje executivo cinza) havia acabado de chegar. O garoto percebeu também que seu pai olhava fixamente para Hermione e Rony.


“Na verdade eu queria reforçaras palavras de minha esposa. À muitos de vocês eu devo a minha vida. Tanto direta quando indiretamente, vocês sempre estiveram perto quando eu precisei e me apoiaram quando eu necessitei disso. E eu... Eu nunca... Eu penso que vocês sempre souberam que eu acredito em vocês, do mesmo modo que vocês podem acreditar em mim sempre”


Algumas pessoas pareciam estar confusas, não entendendo o tom solene de Harry e onde ele queria chegar com isso. Mas concordaram com as palavras do homem, acompanhando gradativamente as palmas que tia Hermione tinha puxado, por que ninguém tinha percebido que o discurso tinha acabado ali mesmo. Em seguida as pessoas bateram os parabéns para Gina, que, cortando o bolo enorme, deu o primeiro pedaço para sua mãe, Molly Weasley.


Alvo olhou para Rosa, que estava sentada entre Alvo e a tia Hermione, perguntando mudamente o que significava aquilo, por que alguma coisa significava. Mas Rosa apenas encolheu os ombros, dizendo baixinho no ouvido dele:


– Achei estranho também, mas não faço a mínima idéia do que seu pai está falando.


No lugar da cantora, alguns violinistas posicionaram-se e dispuseram-se a tocar uma canção animada, no mesmo momento que tia Fleur do outro lado da mesa da família exclamou “Finalmant música boa!”. Harry e Gina voltaram a se sentar ao lado de Alvo. Gina falava algo novamente no ouvido de Harry e este respondia também ao pé do ouvido da mulher. Alguns homens vestidos de ternos brancos começaram a distribuir cardápios pelas mesas, entregando um para cada pessoa. Fleur reclamou da gravata borboleta preta de um, que estava torta. Pegou o cardápio e apontou com o dedo para o menu:


– Gostaria desse Faisan ao molho d’ouro. Parece ótimo – então o prato pedido pela tia surgiu em sua frente, a talher devidamente posicionada aos lados.


– Esse foi o prato que você fez, meu amor? – perguntou Harry à Gina, que concordou nervosamente. A mulher tinha esperanças de que o marido se esquecesse que prometera fazer o prato e a torta de caramelo. Harry comeu todo o faisão corajosamente e forçou um “está ótimo meu bem”, em seguida pediu com uma certa urgência um copo de água ao menu quando viu Gina olhar para o outro lado da mesa, para ouvir Fleur disse de lá:


– Deus meu, alguém traga um rio parra tirar essa pedra de sal de minha garganta?


Quando Harry acabou de comer a torta de amora de Gina (com a impressionante maestria de separar os pedaços levemente tostados dos decididamente queimados), Alvo notou que muitos convidados também haviam terminado suas sobremesas e agora alguns se levantavam para caminhar e conversar pelo jardim.


A primeira pessoa a chegar à mesa de Harry foi Hagrid, o padrinho de Tiago. “Harry! E Gina... Meus parabéns” ele abraçou o casal (talvez um pouquinho forte demais, pois Harry massageava sua costela). Logo após, um homem truncado, com um jeito vivo e entusiasmado apareceu:


– Simas! – exclamou Gina e Harry virou-se da conversa com Rony e Hermione para também falar com o homem.


– Quanto tempo! Chama o Fred, a Hermione e o Rony pra se sentarem com a gente um pouco! A armada toda reunida novamente! – O tal Simas olhou para Thiago e disparou – Você cresceu demais cara...! Da última vez que te vi, batia no meu joelho!


– Senhor Finnigan, não é? Eu lembro do senhor... Seu filho é do clube de quadribol... Ele está aí?


– Sim, o Victor está ali, na mesa com os filhos dos Scamander, os Rajish também. Vão lá! Podem ir lá falar com eles! E essa princesinha linda deve ser a Lily, hein? Alvo não é? Seus primos podem ir conhecer eles também, sentem-se lá, podem ir!


Alvo, Thiago, Lily e a maioria da primarada Weasley Potter foram para a mesa dos filhos dos membros da “Armada” que o pai se referia alguma vezes.


A mesa estava cheia de jovens. Os primos arranjaram lugares com relativa facilidade... Arrastando algumas mesas, carregando outras cadeiras. Thiago falou um pouco com Victor Finnigan, um garotinho cuinha, da idade de Lily. Em seguida, Thiago Fred se acomodaram junto a um garoto de cabelos morenos em cachinhos, com um jeito pacífico e amável e uma outra garota de mesma idade, com uma camisa preta larga com o símbolo da banda “The Papise” (uma boca de mulher lambendo uma varinha). Ela balançava os cabelos loiros, como se estivesse tendo algum acesso, enquanto ouvia uma música que saia de um tipo de concha marinha pequenininha e negra, plugada a orelha. A menina provavelmente ouvia algum som que com certeza ia de contra a moral e os bons costumes do mundo bruxo.


O garoto era Caerulleu Longbotton, Alvo o conhecia vagamente: ele não tinha perfume nem odor. A garota Leticia Reznor: ele tinha uma amarga lembrança dela, que envolvia cascudos e obrigação de ouvir músicas altas demais para a saúde auditiva de Alvo. Juntos, Thiago, Fred, Caerulleu e Leticia, eles pareciam ser o quarteto mais perfeito de amigos: riam, se divertiam, contavam segredos no ouvido de um, que ria e ia contando para o próximo e o próximo (Leticia tirou os fones com certa relutância, porém riu mais alto que qualquer um).


Alvo, como de praxe, se manteve calado, observando todos ao seu redor. Notou gêmeos mais velho que ele e estes também o notaram, por que ambos, ao mesmo tempo, mostraram a mão para cumprimentar o menino.


– Lissandro Scamander – um dos idênticos, de cabelos escorridos e negríssimos apresentou-se em detrimento do irmão, que veio logo em seguida.


– Lorcan – apresentou-se o outro idêntico.


– Pera, vocês são os monitores! – exclamou Thiago – e vocês foram lá em casa ano passado... Lembra, Al.


Alvo concordou. Eles eram filhos de Luna Scamander, uma das melhores amigas do pai de Alvo. A mulher estava na mesa mais adiante, onde os amigos de longa data dos pais de Alvo se reuniam e conversavam.


O garoto conhecia a maioria dos que estavam rodeando seu pai. Luna era a loira com brincos de raízes e tiara de safiras, com rindo horrores de Jorge e o tio Lino (um dono de uma loja de artigos de esportes, melhor amigo do tio), que contavam uma anedota (Alvo pode ouvir vagamente) que envolvia um cliente cabisbaixo, sua mulher controladora e um tacho de urtigas causadoras de escoriações traseiras. O homem um tanto taciturno era o marido de luna: um homem jovem, de cabelos pretos escorridos, do qual os filhos tinham herdado a aparência em grande parte (exceto pelos olhos cinzas saltados que os gêmeos compartilhavam da mãe). Ele era Rolf Scamander, um zoomágo que fazia par na profissão com sua mulher: Luna era uma pesquisadora de Magia natural, ramo da feitiçaria que procurava fontes de poder nas plantas e animais mágicos. Ambos eram famosíssimos. Alvo lembrara da mãe ter citado Luna ao se referir um trabalho cientifico envolvendo plantas animalescas ou algo do tipo.


Ainda na mesa, Alvo identificou Cátia Bell, uma das jogadoras de quadribol do time em que a mãe de Alvo participara a alguns anos atrás (Harpias de Holyhead) conversando com uma mulher chinesa muito bonita, que tinha nas mãos um homem parecendo um tanto nervoso. Ele olhava para as pessoas ao redor, fitava estupefato os lampiões flutuantes e para as fadinhas que iam iluminando para lá e para cá. O garoto se tocou que o homem era um trouxa e podia perceber que toda aquela magia escancarada o deixava um tanto em pânico.


Dino, um Auror alto que o garoto tinha visto algumas vezes quando foi com o Pai visitar o ministério, estava falando animadamente com tio Olívio (muito conhecido de Alvo da sede dos Esportes mágicos no ministério. Ele conseguira as entradas vips do último campeonato de quadribol da temporada em Washington). Próximo, um famoso cantor de Rock, Guliver Reznor, pai de Leticia (que deixara agora o fone de ouvido para prestar melhor atenção na narrativa da aventura do Antiquario que Thiago protagonizara hoje de manhã). O rockeiro conversava com um cara chamado David Ruffeil... Era o dono do sorriso mais canalha que Alvo já tinha visto na vida inteira.


Justino conversava aos cochichos com a tia Hermione. Ele era o subsecretário dela e parecia participar dos esquemas e segredinhos que os adultos estavam escondendo o dia inteiro. O tio Rony tinha sua mão lida por Padma, uma exotérica famosa por desvendar todos os segredos de clima da Inglaterra para o profeta diário. E muitas outras pessoas desconhecidas faziam parte da mesa de Harry, que parecia estar muito mais interessante do que a que Alvo se encontrava.


Um tempinho se passou e Lily, Louis e Hugo e mais Viktor resolveram, como de praxe, correr pelos jardins e fazer zoeiras naturalmente conhecidas. O quarteto Thiago, Caerulleu, Fred e Letty também foram para um canto. Molly, Dominique e Roxanne acompanharam Rosa para esta mostrar a elas os livros de Hogwarts (as três primas também eram calouras). Lorcan, Lissandro restaram na mesa conversando - e discordando entre si - com Victoria, mas essa logo foi resgatada por Ted Lupin que acabara de chegar. O garoto tinha os cabelos verde-ácido e os azul-aroxeado. Era quase um Potter de tanto que vivia na casa do padrinho, Harry. Victoria e Ted se distanciavam em direção ao coreto... Lissandro e Lorcan resolveram sair da mesa para fazer sabe-se lá o que... De modo que Alvo viu-se só na mesa.


Nesse momento, um velho pançudo, bigodudo, com o pescoço perdido num terno azul turquesa se aproximou da mesa de Harry.


– Harry! – exclamou em alto tom o velho – finalmente posso falar com o anfitrião da festa!


– Professor Slugorn! – espantosamente o pai se levantou e abraçou o velho, como se fossem grandíssimos amigos.


– E Gina! – o ancião abraçou a mãe de Alvo também – Hermione... – o velho reverenciou-a e a beijou as mãos... – Me emociono ao ver os antigos membros do meu velho clube Juntos aqui... Meus mais brilhantes alunos! – Slugorn falou para todos da mesa, com orgulho retumbante.


Hermione e Gina levantaram-se para cumprimentar o velho Slugorn.


– Professor, sente-se conosco!


Então o velho sentou-se. Parecia ser uma figura muito querida por praticamente toda a mesa. Parvati ofereceu-lhe um drink (Ora, muito obrigado, obrigado senhorita Patil...) e o Professor pôs-se a falar com cada um com intimidade espantosa.


Alvo estava assistindo toda aquela situação com certa discrição. Mas fora descoberto.


– E aquele garotinho ali? ...


Quando deu por si, Alvo já estava ao lado dos pais, sentado na mesa dos adultos, no centro da conversa. O velho Slugorn falava emocionado.


– Quando ele cresceu tanto? Era deste tamaninho quando eu conheci... Assim me sinto velho.


Alvo não sabia se sorria, mas talvez parecesse estar gozando com a cara do senhor. E se concordasse? Estaria chamando ele de velho. Se ficasse sério iriam entender que o menino estava mal-humorado. Então o menino resolveu apenas entortar a boca e levantar as sobrancelhas, o que resultou numa careta estranha que o professor não entendeu, mas pareceu não ligar também, por que continuou a falar.


– E onde estão os outros? Lily e Tiago?


– Lá dentro com os primos – Gina respondeu, dando um beijinho em Alvo. O menino já estava vermelho como um pimentão. Ele não havia treinado para isso. Tantas pessoas estavam olhando para ele, algumas mulheres com aquela cara de “que fofinho”.


– E quando ele será meu? Aluno, quero dizer. Quando ele irá para Hogwarts?


Quem respondeu foi Harry, por que Alvo estava agarrado a mãe, envergonhado demais para falar.


– Esse ano, não é Al? – o menino concordou com a cara enviesada.


– Tiago já está no terceiro ano. Muitíssimo inteligente, o seu filho – O professor Slugorn informou orgulhoso - Ainda não é o gênio das poções que você era na sua época (Nesse momento o pai de Alvo se moveu, reacomodando-se na cadeira) ... Mas tem o raciocínio fino e uma ótima memória... Mas daqui para sua idade, ele deve alcançar o seu brilhantismo, com toda a certeza... É um pouco traquinas, coisa da idade (Harry falou enviesado para Gina “Quem dera”).


“E esse rapazinho...? Pelas barbas de merlim... Ele tão parecido com você, Harry... “


– Idêntico ao nosso Harry! – Acrescentou o gigante Hagrid, emocionado.


Alvo sorriu-se, nervoso.


– E caladinho... Me lembra você Harry, quieto – Disse um Slugorn saudoso – mas o Harry sempre conseguia se meter onde não devia. Acho que foi Tiago que herdou isso de você, meu rapaz.


O pai de Alvo sorriu simpático.


– Já foram ao beco diagonal, fazer as compras? – perguntou Slugorn, interessado – o livro “Bebidas e poções mágicas” foi atualizado, já não era sem tempo, sabe, e quero que todos meus estudantes estudem com a melhor literatura disponível...


– A carta ainda não chegou – esclareceu Alvo, falando pela primeira vez – Ela ainda não chegou, então a gente ainda não foi...


Slugorn fitou Alvo e lembrou-se


– Ah, Verdade... Ora, mais é claro que não... Resolvemos o problema com a professora Talyshen só hoje... Aquela mulher é louca, você vai conhece-la, Alvo, e vai concordar comigo...


“E, de qualquer forma, cá entre nós, a coruja deve chegar amanhã pela manhã na casa dos estudantes.”


Alvo sorriu. Finalmente! Então, talvez, eles pudessem ir ao beco amanhã a tarde.


– Então vamos lá a tarde, pai?


– Hmm. Sim, pode ser. A gente vê isso melhor amanhã, Al.


– Isso mesmo. Amanhã, por que já é hora de criança ir para a cama! – A avó Weasley disse, com um tom definitivo – todos já foram para suas camas e eu estava procurando você Al. Suba, você pode ficar no quarto do fim do segundo andar...


Alvo foi sem discutir. Aliás, o garoto queria que o dia de amanhã chegasse o mais logo possível. Subiu as escadas, ignorando alguns primos que ainda continuavam – desobedientes – conversando na sala da mesa grande. Lá em cima, no quarto azul que tinha uma janela conveniente para ventos agradáveis, o menino aprontou-se com o pijama e deitou-se em uma das quatro camas, tentando vencer a ansiedade, observando uma fresta de luz vindo da porta entreaberta, invadindo o breu do quarto.


Poucos minutos depois, Tiago e Fred subiram reclamando. A avó Weasley deve ter expulsado o restante da sala.


A primeira meia hora foi um inferno. Alvo perdera a conta quantas vezes mandara o irmão e o primo Fred calarem a boca, por que ele queria dormir. Mas com o tempo o sono finalmente...


Alvo caminhava pela casa dos black, segurando uma lanterna de esqueleto, embaixo de um véu que o tornava invisível. Desceu as escadas até a cozinha. Lá, conversavam seu pai e o professor Ravus.


“Harry, seu filho andou me espionando. Ouvindo o que não deve. Fuçando onde não devia. Acho que vou ter que rasgar esta carta...”


O homenzinho ruivo rasgava a carta e seu pai nada fez! Assim era demais. Ele tirou a capa, dizendo


“Ei, para! A carta é minha! O senhor não tem o direito!”


Mas Ravus ria-se, dizendo:


“... Ninguém vai notar”


“Mas claro que eu vou notar”


“Não, ninguém vai notar...”


– O.K, mas se a coisa começar a feder, a gente vasa!


Tiago respondeu, baixinho:


– Então vem. E não faz barulho. Se o Al acorda, pode querer encher o saco...


Alvo acordara com a sensação de que não dormira sequer um segundo. Não lembrara com o que tinha sonhado, mas tinha certeza que ouvira a conversa dos primos e, apesar de ainda um tanto tonto, percebeu que eles estavam tramando alguma coisa. Então fingiu que continuava dormindo.


– Eu to com a Maçaneta. Pega as orelhas e o equalizador. Pera, o pó escurecedor só por precaução...


Os garotos levantaram-se sem fazer barulho e abriram a porta, fazendo um ruído de fresta sem óleo. Quando eles saíram do quarto, Alvo levantou-se rapidamente, mais acordado do que nunca e impediu que a porta se fecha-se totalmente, depois que os garotos saíram na ponta dos pés, apenas empurrando a porta sem olhar para trás.


Ele conseguiu passar pela porta sem fazê-la ranger. Seguiu os primos de perto, mas não tão perto. Os garotos desceram a escada, Alvo acompanhando, porém tomando mais cuidado para não pisar em degraus estaladores ou rangedores. De modo que, quando os garotos chegaram na porta fechada da sala grande, Alvo esperou-os montar o equipamento, pegar um fio com uma orelha de um lado e um cone do outro, encostarem em uma porta menorzinha (que estranhamente Alvo nunca tinha visto na parede da sala) e encaixarem o que devia ser o equalizador no cone.


– Oi.


Os garotos quase deixaram cair toda a tralha com o susto.


– Al...! – exclamou Tiago, aos sussurros.


– Que ta fazendo aqui? – sibilou irritado Fred.


– Vim ver o que vocês estão fazendo de errado dessa vez... Já não basta quebrar o quadro do papai?


– Ai, eu não acredito. Como pode ser tão chato?


Alvo ignorou o comentário do irmão e quis saber:


– Quem ta aí na sala?


– Não te interessa, vaza Alvo – sussurrou Fred, num tom urgente.


– Quer que eu grite? Aí eu vou saber quem tá aí...


– Só quero ver tentar...


Alvo de uma respirada funda, pretendendo gritar “Ô VOVÓ...”, mas antes disso Tiago pôs a mão na boca do irmão.


– Ssshhhhhhhhhhh! O.K!! Tá, Tá bom! O papai, o Papai, a tia Hermione e o Tio Rony... Eles desceram ainda agorinha. Acho que estão falando com alguém na lareira...


Alvo pensou um pouco. Será que ele iria descobrir finalmente o que estava acontecendo com o pai? O motivo dele se ausentar por tanto tempo de casa, em um dia de folga? Ele olhou para a orelha na mão de Fred e para o cone do outro lado do fio na mão de Tiago.


– Que é isso que vocês tem aí?


– Orelhas extensíveis. Dá pra ouvir uma conversa – explicou Fred - O equalizador melhora o áudio e ultrapassa feitiços de silêncio, os mais básicos.. Fui eu que inventei..


– Tá, coloca isso aí. Eu quero ouvir.


– Já quer dar ordens é? Ta pensando que é o Ministro? ­– sibilou Tiago


– A gente te dá uma chance... Mas só essa... Pra você ser menos malinha... – sussurrou Fred – A gente vai te dar essa chance única. Mas se a gente souber que você...


– Ai, Fred, coloca logo esse negócio na portinha... – Tiago falou baixinho e sem paciência para discutir com seu irmão mais novo.


Quando o primo pregou a orelha na porta, os três aproximaram-se do cone e ouviram perfeitamente a conversa que se passava atrás dela.


“Tá, agora vocês podem por favor me informar o que está acontecendo? Pra que esse mistério todo?” disse a voz do tio Rony, parecendo chateado “Começando por você Mione, que saiu de casa dizendo que ia ajudar o Harry no ministério, pedindo pra eu ficar na festa, distraindo o pessoal... Sem nem se dar o trabalho de me explicar nadinha!”


“Desculpa... Meu amor, me desculpa mesmo” a tia Hermione falou, com a voz culpada “Mas é que não dava tempo de avisar, eu tive que sair imediatamente...”


“Ah, corta essa. Sempre é assim. Custa explicar antes de sair para uma missão ou sei lá o que?”


“Mas, O Harry...”


“Hermione, eu já to de saco cheio de...”


“Rony!” disse o pai de Alvo “Você quer saber o que aconteceu ou vai ficar fazendo discussão de relação às quatro da manhã?”


“É, Rony. Foco que a coisa é muito séria” disse uma tia Hermione sombria.


“Tá legal... Tá bem... Falem aí”


Alvo apurou os ouvidos, sentido a curiosidade tomar conta de todo o seu corpo.


“Aconteceu um furto no ministério da magia. No Departamento dos Mistérios...” Harry finalmente disse, mas Rony interrompeu o amigo:


“Como assim?” Rony parecia incrédulo “O lugar é um cofre! Quem entrou lá? O que tiraram?”


“Calma... O furto aconteceu no laboratório da Madame Waldorf. Acho que assim já dá uma noção do que roubaram...” Hermione informou.


“Ai minha nossa” Rony demonstrou muita preocupação “Mione, não vai me dizer que levaram o...”


“Isso mesmo” afirmou uma Hermione rouca.


“Ai minha nossa...” foi o que o marido conseguiu dizer... Após um tempinho: “Mas quem foi o louco que tentou fazer isso? Quer dizer, na frente da ‘Mão que Captura’?”


“Não” disse o pai de Alvo “Não peguei ninguém. Foi no meu turno, de baixo do meu nariz... E ele entrou e saiu sem ninguém notar”


“Isso é totalmente impossível! Qual é! O Ministério tem segurança máxima agora. Nem se você-sabe-quem voltasse dos mortos e sentisse saudade do hall e resolvesse tomar um banhinho na fonte do ministério, não conseguiria sem que eles notassem...”


“Acontece que eles notaram” informou Hermione, engolindo a seco “Notaram, mas aconteceu um engano”


“Bah, os Luduans erraram? Esses caras não erram”


“Eles sentiram a minha presença na cena do crime”


Ninguém falou nada por alguns segundos agoniantes. Alvo olhou para o irmão Tiago, ambos boquiabertos.


“Mas... Não... Isso não é poss... Não... Quer dizer, Harry não faria isso”


“Claro que não!” disse Harry ofendido.


“Mas, você não deu uma passada no laboratório da Waldorf esses dias, hein?”


“Ah, claro! Recebi um convite da Integra para o chá esses dias... Não, desde a última vez que a gente entrou no Departamento dos Mistérios, a segurança foi reforçada na época pelo Anubio Waldorf... Só os funcionários sabem entrar... Acho que alguém de lá deve ter...”


“Forjado provas para ferrar com você?” completou Rony.


“Eu também pensei nisso” disse Hermione, paciente “Mas... É como você disse, Ron... Eles não erram”


“Não erravam. Por que agora estão errados, confiem em mim...” Harry enfatizou as últimas palavras.


“A gente confia cara”


“É, o problema é que eles não perdoam ninguém, os Luduans. Nesse quesito, acho que eles são piores que os dementadores”


“Hermione, pode ter certeza que por um certo ângulo eles são bem piores que os dementadores. Trabalhar com Luduans é uma coisa. Ser investigado por eles já é outra coisa totalmente diferente... Eles pegam pesado”.


“Espera, mas o Quinn permitiu isso?” Quis saber um Rony indignado “Peraí, você foi interrogado?”


“Sim, hoje a tarde” a voz de Harry estava estranha.


“Que coisa ridícula! Quer dizer, você é o chefe da sessão dos aurores! Você é o Harry Potter, poxa! Quem vai duvidar de você, amigo?”


“Pensa um pouco que você já descobre” disse Hermione.


“Integra Waldorf” cortou Harry. Ele proferiu aquele nome com uma profunda nota de desgosto.


“Ah, é... Ela”


“Foi por isso que fiquei a tarde no Ministério” informou Hermione se dirigindo ao marido “Tentei dar uma minimizada na situação do Harry. Por que aquela mulher...”


“Ela quer a minha cabeça. Ela quer me ferrar de qualquer jeito. Sempre quis, isso não é novidade. Mas agora que tem uma desculpa, pois em cima de mim todos os Tigres azuis”


“E o Ministro. Harry, o ministro é o Quinn”


“ Ele está fazendo de tudo para abafar o caso...O problema é que quem tem o poder sob os Luduans é a Waldorf. E os Inomináveis são praticamente um grupo a parte do ministério, você sabe, Ron. Eles tem poder de perseguir, investigar, passar por cima até de algumas leis. A Waldorf adora deixar claro que pode passar por cima de mim, Chefa da sessão de execução das leis da Magia...”


“E dessa vez estão todos na minha cola. Eu não tiro a razão. Aquilo foi roubado. Ninguém sabe como entraram no laboratório. A únicas coisas que eles têm é o meu rastro que os Luduans sentiram” disse Harry, com um tom derrotado “E isso já é o bastante para marcarem uma audiência para daqui a 30 dias... O bastante para me pôr em uma situação complicada...”


Eles ficaram calados. Alvo, Tiago e Fred não sabiam nem o que falar. Estavam anestesiados com aquelas revelações tão bombásticas, uma atrás da outra.


“Aquela vaca” xingou Rony “Essa Integra sempre foi uma pedra no sapato... Um momentinho. E se talvez... É claro! Será que ela não pode ter mandado os Luduans...”


“Não dá. Sério. Os bichos são incorruptíveis. Eles nunca fariam nada fora das leis. Nem para seguir ordens da chefa do laboratório. De jeito nenhum”


“É... É verdade... Mas é que parece tão impossível. Mas, espera... E se a própria Waldorf...?”


“Isso não faz o menor sentido” sentenciou Hermione “Ela nunca mexeria aquilo do lugar. É toda uma vida de pesquisa... E ela sabe que o Harry já viu, conhece, sabe como funciona, na medida do possível, quer dizer, ninguém sabe do que aquela arma realmente é capaz... Mas pensa bem... Com aquilo à solta, só de pensar que aquilo pode estar nas mãos de gente errada... Seria uma tragédia. Quer dizer, é uma tragédia. Não a culpo por estar desesperada”


“Mas ela não pode culpar o Harry! Foi uma fatalidade, uma...”


“Com a ‘presença’ do Harry que os Luduans sentiram lá? Com o conhecimento que ele tem sobre aquele artefato...? Com ele estando na madrugada em que o crime aconteceu? Com a antipatia que ela sente pelo Harry, para não dizer ódio, depois do caso do Seth Waldorf? Ela não apenas acha como tem certeza que ele que furtou! Ela vai investigar até as ceroulas das gavetas em busca daquele artefato...”


“Mas ela nunca vai achar!” Exclamou Rony, incrédulo com aquela situação.


“Então ela não vai descansar até por o Harry....”


“Em Azkaban” Harry completou, com a voz trêmula.


“Nem vem... Você é o Harry, o Harry Potter!” Rony disse aquilo tentando animar, mas não surtira o mínimo efeito.


“Ela é a Integra Waldorf. A bruxa mais poderosa, influente e sombria que eu já conheci... E esposa do Seth Waldorf. Ela não quer só justiça... Ela quer vingança.”


Duas horas depois de ouvirem essa conversa, Alvo e Tiago viram o dia amanhecer. Eles não conseguiram pregar os olhos, pensando na possibilidade do pai, Harry Potter, o Chefe dos Aurores, ser mandado para a prisão dos bruxos”

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