O sonho



Uma melodia trouxa tocava lindamente, vinda de uma pequena vitrolinha encantada. Ao som do Jazz, Gina estava com seus olhos fechados apreciando a música, encostada em uma das grandes árvores de Carvalho-Branco que ficava de frente ao lago Negro.


A ruiva estava envolta pelos seus pensamentos. Sendo eles o acontecimento de ontem á tarde, a conversa com o menino chamado Castiel, e um pouco sobre a aula que ela estava faltando agora. Gina não era nenhuma delinquente que matava aula para badernar, apenas hoje, ela não estava com muita cabeça para tentar entender aquelas dificílimas poções do Professor Seboso (um apelido “gentil” que Draco dera ao Professor Snape) ela sorriu ao lembrar-se disso.


Nesta tarde não caia neve alguma, o sol estava sorridente lá no alto acompanhado apenas por algumas nuvens. Sentindo o calor dos raios de sol em seu rosto, a menina sentiu-se sonolenta e letárgica, quase adormeceu se não fosse pelo barulho de passos pesados, alertando-a de que alguém estava se aproximando.


–Ora, ora, se não é a Weasley – disse uma voz insolente, muito familiar a ela. – Pensei que você não tivesse tanta audácia assim para matar aula. Mas vejo que me enganei.


Uma monotonia foi sentida naquele momento por Gina, pois era sempre a mesma história com Draco. Bastava ele ver ela que já começava as implicâncias. E agora, ele estava ali encostado em uma árvore de braços cruzados, rindo sarcasticamente esperando que, como sempre, Gina respondesse enraivecida a ele e que os dois começassem uma discussão.


Ela sabia que ele se divertia com isso, ainda mais por saber que Gina nunca ficava quieta para Draco. Porém hoje, Gina sentia-se diferente. Quem sabe, pelo estado letárgico que ela se encontrava, mas só o que sabia, é que neste momento, ela não queria brigar com ninguém. Dando um leve sorriso preguiçoso a ele, a ruiva perguntou:


– E você Malfoy, o que faz por aqui então?


O sorriso de canto foi desfeito na hora. Hoje não teria diversão para Draco, pensou divertida.


– Humpf! Eu apenas estava procurando por você - contestou.


– Que fofo Malfoy. Não precisava se dar ao trabalho – brincou Gina.


– Ah! Não diga bobagens, os outros também estão procurando você. Eu apenas dei sorte de encontrar você – Respondeu tempestuoso. Encarando Gina com seus olhos cinzentos afiados.


– Sei sei – respondeu sorrindo. Ainda em seu estimado bom-humor. – Mas o que o fez pensar que eu estaria aqui?


Gina não teve tempo de reparar, pois na hora Draco havia olhado rapidamente para o chão. No entanto parecia por um momento que ele havia corado.


– Eu..hum. Sei lá, só vim para cá – gaguejou, ainda olhando para o chão.


Desconfiada pela sua reação, Gina somente concordou e nada mais disse. Mal ela sabia que ás vezes o menino a observava ir para esse local, foi assim que ele soube onde ela estava, e foi por esse motivo que ficou embaraçado com a pergunta dela.


– Está ficando frio aqui, vamos para dentro antes que seu irmão enlouqueça – exclamou depois de alguns minutos.


Gina se divertia muito por ver Draco nessa situação, então pensou em não deixar esse momento estranhamente agradável acabar, pois foram poucas as vezes em que Gina pode ter alguma conversa com Draco, sem que ela saísse explodindo de raiva dele.


– Não. Espera um pouco. Sente-se aqui e veja uma coisa – disse ela dando palmadinhas no lugar ao seu lado, indicando para ele se sentar.


Gina esperou ele berrar dizendo que nunca sentaria com ela, mesmo assim ela arriscou. E teve como resposta somente um Draco extremamente desconfiado indo devagar sentar-se ao lado dela. Uma tensão estranha se apossou do lugar por um tempo, mas logo, quando Gina ligou novamente a vitrolinha, a tensão foi se esvaindo e imediatamente ela estava na agradável calmaria de antes.


Ele olhou por um momento para a ruiva, e Gina pode observar o quanto Draco ficava mais lindo tendo seu rosto calmo, sem nenhuma expressão de arrogância. Seus olhos estavam mais vividos de encontro aos poucos raios de sol que ainda continha. A cabeleira loira prateada estava um pouco bagunçada, fazendo alguns fios caírem sobre seus olhos, deixando-o com uma beleza mais espontânea. Gina imaginou como seria se Draco fosse mais gentil, ou como seria se ele mantivesse a boca fechada sem dizer bobagens a todo o momento. Com certeza seria mais fácil de se conviver com ele.


– Olhe para lá agora – disse Gina deixando os olhos do menino e apontando para o horizonte.


Onde apenas alguns vestígios do sol estavam presentes, os escassos raios de luz refletiam na água do lago, dando a eles uma linda visão do pôr-do-sol.


– É realmente bonito – Disse o menino, hipnotizado pela beleza da natureza.


– Esse é o motivo desse lugar ser o meu favorito. – anunciou - Você tem algum lugar favorito Draco? – quis saber.


– Não sei - respondeu brevemente – Nunca parei para pensar nisso, eu sempre ando em vários lugares, sem muita repetição.


Claro, deveria ser bem óbvio para ela. O pai de Draco era um dos homens mais ricos do mundo Bruxo, provavelmente eles sempre estão viajando quando Draco não está em Hogwarts.


– Draco – chamou, com uma voz arrastada, depois de mais alguns minutos em silêncio.


– Sim... – perguntou a olhando.


– Porque você não pode ser assim o tempo todo?


– Como, assim?


– Sem ser irritante – esclareceu, dando um meio sorriso.


Mas Draco pareceu não gostar do comentário, ele fechou a cara para ela e seu semblante arrogante retornou ao seu rosto.


– Oras! E porque você não pode parar de ser uma desajustada? – vociferou Draco.


– Desajustada? Eu não sou isso! – exclamou Gina.


– É sim, e também é muito idiota, por ficar perambulando sozinha, por aí – rebateu Draco. Levantando-se.


Estava demorando muito para a paz de Gina acabar, sempre soube que não deveria ter esperanças alguma com o Malfoy, ele nunca seria gentil com ela. E mesmo sendo por uma coisa completamente boba, Draco teve que se exaltar, típico de um Malfoy mimado.


– Eu não pedi que viesse atrás de mim. E como pode ver, eu vou para onde eu quiser na hora que eu quiser! – bradou. Ao mesmo tempo levantando-se carrancuda. Pegou sua vitrolinha, pondo-a no bolso. Arrumou sua capa para em instantes partir dali, pisoteando o chão intensamente, sentido toda a sua tranquilidade se esvair.


– Isso vá logo! –Gritou ele logo atrás.


Maldito Malfoy! Pensou Gina. - Gina!


***


– Finalmente achamos você! – disse Harry aliviado, pois já estava começando a se preocupar com a menina.


Assim como Rony, Gina era como sua irmãzinha e isso o fazia se preocupar muito com a garota. Depois de Ron ter dito a eles que não sabia o paradeiro da irmã, o grupo ficou inquieto. Mas quando Gina não compareceu as aulas, eles começaram a se preocupar. E foi nesse momento que todos passaram a procurar. Até que quando Harry se juntou a Hermione e Ron, no salão da Grifinória – todos ainda sem saber do paradeiro dela. Que Gina chegou fazendo barulho com seus pés. Parecia momentaneamente irritada, mas logo seu semblante se transformou em vergonha, suas bochechas rubras demonstravam isso.


– M-me desculpem por fazerem vocês me procurarem – disse sem graça.


– Não é isso, apenas ficamos preocupados – agora havia sido Rony que respondera. Prontamente indo se colocar ao lado da irmã.


– Gina, o que é que deu em você? Nunca a vi faltar aula! – exclamou Hermione mandona.


– Bem... – hesitou Gina, lembrando-se do real motivo de ter faltado às aulas. Castiel.


Por um bom tempo, enquanto estava com Draco, ela havia esquecido a história, um tanto esquisita, que Castiel lhe contou sobre ele. E agora, Gina percebeu que era o momento de contar ao grupo sobre tudo. E foi isso que ela fez no momento seguinte.


(minutos depois)


O grupo encarava Gina com diferentes emoções. Hermione a olhava espantada, Harry a olhava surpreso e Ron a olhava curioso.


– Esse menino é mais misterioso do que eu pensei. Mas senti pena dele, ele deve estar muito conturbado agora – Hermione foi a primeira a falar.


Gina concordou, Castiel ficou muito aborrecido depois que começou a contar para ela, que ele não lembrava nada de sua vida.


A garota olhou para as vibrantes labaredas de fogo, que a lareira ali perto mostrava, esperando os próximos comentários. Agora que estava beirando a noite, o tempo ficava mais frio. Seu corpo confirmou isso ao se arrepiar por um instante.


–Eu percebi que você disse que o menino lhe confundiu com alguém. Por que será? –perguntou Rony a todos.


– Isso ficou na minha cabeça também. Alguma chance de vocês terem pelo menos se visto, algum tempo atrás? – refletiu Harry, dirigindo a pergunta a Gina.


Enrolando uma das mechas rubras de seu cabelo, em um dos dedos, a menina pôs-se a pensar profundamente nisso.


– Não, eu teria lembrado. E mesmo assim, ele me chamou por outro nome – concluiu em um suspiro.


– Você está certa, não é possível – concordou Harry.


– Isso só nos faz ter muito mais perguntas agora – interferiu Hermione. Fechando um livro – que Gina não percebeu em que hora a morena havia pegado aquilo – o pondo em cima da mesinha marrom.


Todos assentiram ao comentário de Hermione. Agora, apenas os estalinhos da lareira podiam ser ouvidos. O grupo se calou, mas suas mentes estavam explodindo de ideias e comentários que eles guardavam para si.


***


O lugar estava escuro, dando uma sensação de sufocamento à Harry. Ele tentava por a mão na garganta para aliviar a sensação, mas nada acontecia o menino estava paralisado, isso fazia aumentar mais seu desconforto.


Em um súbito, a escuridão em parte foi embora, substituída por uma floresta iluminada somente pela enorme e inerte lua no céu sem estrelas. Harry avistou um lago a metros dali, e decidiu ir até lá, saindo do meio da floresta sem cor. Ao chegar ao lago Harry olhou para o espelho, que era a água, e ao notar seu reflexo percebeu que estava nu.


Sentindo-se envergonhado e ao mesmo tempo achando aquilo loucura, foi que Harry escutou o mais estridente urro de lobo que já ouvira na vida. Ele pensou em lobo, pois seria o único animal – além do lobisomem - que teria esse tipo de bramido. E sem demora, um enorme lobo negro se aproximou de Harry, mostrando seus olhos vermelho sangue e expondo seus enormes caninos.


Harry por algum motivo desconhecido, não sentiu medo algum quando o lobo se aproximou, em sua mente ele sabia que o certo era correr ao máximo que desse de perto do lobo. No entanto ele só se aproximava mais e mais do animal. O lobo virou sua cabeça para o norte, de volta a floresta. No mesmo instante Harry entendeu que o lobo, queria que ele o seguisse até lá. E sem nenhum temor Harry avançou com lobo, de volta a floresta.


Um tinido de espadas sendo usadas chegou aos ouvidos de Harry, no momento em que se aproximou da floresta com o lobo. E ao dar mais alguns passos, ele pode ver que duas espadas - sem nenhum homem controlando – estavam em flutuando magicamente, em uma luta furiosa.


Mas isso não era o mais sinistro daquele lugar, e sim, um enorme “homem”. Vestido de uma roupa vitoriana vermelha e dourada, Harry por algum motivo não conseguia ver seus rosto, somente via seus grandes cabelos emaranhados. O homem acompanhava a luta das espadas com bastante entusiasmo e euforia.


O lobo que acompanhava Harry correu em direção ao homem, ficando em seus pés. Diante do sujeito o lobo negro ficava do tamanho de um cachorro qualquer. Vendo que seu “cão” havia chegado, o homem tirou os olhos da luta e perguntou ao lobo:


–Trouxe ele? – perguntou o homem, com uma voz assustadoramente fantasmagórica, que Harry pensou; em seu estado normal a voz do homem teria feito seu corpo inteiro tremer de medo, por ora ele não se sentia assim.


–Humm... Muito bem - falou o homem com um tom analisador, olhando agora para Harry.


– Porque me trouxe até aqui? – Harry enfim perguntou.


– Logo saberá meu caro menino. Por ora somente quero que você admire esta espada que luta na esquerda. – Harry olhou para as duas espadas, mas analisou a da esquerda, assim como ele pediu.


Ela era toda prateada, com cabo em cruz, a lamina longa extremamente afiada na ponta continha encrustada uma pedra vermelha que produzia luz, quando refletida no brilho da lua. A espada lutava habilmente, enfim tomando total controle sobre a outra espada. E foi assim que a luta acabara. O homem que também observava, fez a lamina vencedora flutuar para sua mão.


–“Um homem sábio, escolhe bem sua arma antes da luta” – recitou o homem – Vejo que muitas batalhas estão guardadas para seu futuro, filho. E é de máxima importância que você saiba como as vencer. Aqui está uma ajudinha para você – disse o homem entregando a espada a Harry.


Harry olhou para ele espantado, mas aceitou a espada. Mesmo não gostando muito da parte em que “batalhas estão guardadas para seu futuro”.


– O tempo é curto então vou ser breve. Uma época sombria está se aproximando e junto dele uma profecia que irá mudar sua vida e de seus amigos drasticamente. Meu concelho é que se aproxime das ajudas desconhecidas que virão, e tome muito cuidado, pois o mal que está por vir vai muito além do que se pode imaginar. E mais uma coisa...


Porém Harry não teve a oportunidade de saber o que o homem iria falar, pois nesse momento ele havia pulado da cama ofegando, sentido uma dor extrema em sua cicatriz. Ele repassou as últimas cenas em sua cabeça, percebendo aliviado que só havia sido um sonho.


Harry passou a mão pelos cabelos, e foi pegar um copo de água que estava na mesinha ao lado da cama. Avistando o copo, Harry o pegou e bebericou um pouco da água, mas em seu segundo gole o copo foi parar no chão. Harry olhava horrorizado o objeto brilhante que se encontrava em sua cama.A espada de seu sonho.

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