Charadas



Nada no mundo é comum. Tudo o que existe faz parte de uma grande charada. Eu e você também. Nós somos a charada que ninguém consegue solucionar!

(Ei! Tem alguém aí? - Jostein Gaarder)



     Irônico. Fatalmente irônico. Depois de ouvir aquele simples "percebe-se", Tiago paralisou e ficou simplesmente parado, digerindo aquelas palavras. O que ela queria dizer? Será que ela ainda achava que Tiago a considerava um simples desafio?


     Ele voltou a se mexer, e se sentou em frente a ruiva, e disse baixinho, só para Lílian ouvir:


     — Existem desafios que mexeram comigo… Pelos quais me apaixonei…


     Lily deu uma risada sem emoção, e Sirius, Remo e Pedro os observavam sem entender nada.


     — Me responda, Potter. - falou ela, agora em uma voz bem audível - O que se tem, mas não se vê, o que se prova, mas não tem gosto e o que se sente, mas não tem forma?


     Tiago franziu o cenho. O que se tem, mas não se vê? O que se prova, mas não tem gosto? O que se sente, mas não tem forma?


     — Isso… Isso não tem resposta. - respondeu ele, enfim.


     — Imaginei que responderia isso. - falou ela em um tom pensativo - Vamos jogar logo.


     A concentração de Tiago estava no jogo, mas a mente, em outro lugar… A charada feita por Lílian… Seriam três coisas? Ou uma coisa apenas? Mas a questão que mais lhe atormentava a mente: por que raios parecera que Lily se importava tanto com a resposta? Seria uma coisa… Importante? Ou uma coisa qualquer, e ela só queria testar a inteligência dele?


     — Xeque-mate, Potter. - falou a ruiva.


     — Passa os meus cinco galeões, Sirius. Eu disse que ela ia ganhar. - falou Remo, estendendo a mão para Sirius que, reclamando, colocou cinco moedas de ouro na mão de amigo. 


     — Você estava apostando contra mim, Sirius? Ahhhh… Assim a ruivinha aqui fica triste… - falou Lílian, rindo.


     Tiago deu um meio sorriso. Pelo visto, ela não odiava taaaaaanto assim o apelido de "Ruivinha"…


     Sirius soltou uma gargalhada e Lily se levantou, pegando o livro trouxa que ela deixara ao lado do tabuleiro.


     — Vou dormir. Boa-noite. - falou a garota, já subindo as escadas que levavam ao dormitório feminino.


     Quando eles ouviram a porta do dormitório se fechou, Tiago os olhou curioso.


     — Algum de vocês tem uma ideia da resposta da charada dela?


     Todos pareceram pensativos.


     — Não faço ideia. - falou Sirius.


     — Ná seix tembi. - resmungou Pedro, comendo uma barra de chocolate que acabara de tirar do bolso.


     — Aluado? - perguntou Tiago, esperançoso. 


     — Francamente, Pontas, existem várias respostas. As três perguntas podem ter uma única resposta. Enquanto as mesmas podem ter respostas diferentes. Quando ela fez a charada, eu pensei no vácuo. Mas não se pode ter, provar e nem sentir o vácuo. Então não pode ser. Para a primeira pergunta, pode ser a voz, nós a temos, mas não a vimos. Para a segunda, pode ser alguma comida sem gosto. E a terceira poderia ser o vento, já que o sentimos, mas ele não tem uma forma definida. A verdadeira charada é: por que ela quer que você saiba isso? Porque, sabe, pra mim, ela pareceu dar muita importância para o fato de você não saber a resposta. - falou Remo, pensativo.


      O que seria?



                                                                           ~~~



      O dia seguinte amanheceu bonito… Os pássaros cantando… O Sol no céu… Um sábado perfeito… E Lily estava na… Biblioteca?!


     — Então… Então… Então a Revolta dos Duendes aconteceu em 1533?


     — Isso, Severo! Você finalmente entendeu!


     — Não precisava magoar desse jeito. Está parecendo a McGonagall.


     Os dois amigos riram, e foram logo abordados por Madame Pince, que os mandou calarem a boca.


     Severo Snape era um grande amigo de Lílian. Geralmente, eles não andavam juntos, pois Severo era da Sonserina, e Lily da Grifinória, mas, mesmo assim, eles estudavam juntos, e, sempre que tinham tempo, conversavam…


      — Então… Acabamos? Podemos sair daqui agora? Sabe que não gosto de ficar dentro do castelo nos fins de semana… Principalmente quando o dia está bonito desse jeito… Vamos aos jardins? - perguntou Lily, se animando.


     — Ah… Você podia me ajudar em Feitiços agora, não é? - falou Severo, apreensivo.


     — Sev… Por que você não quer sair do castelo? - perguntou a ruiva, delicadamente.


     — Eu… Eu… Prefiro ficar aqui. Assim ninguém vai rir de mim… - falou ele baixinho.


     — Ah, por favor! Eu não vou deixar ninguém rir de você! Vem, você precisa mesmo tomar um sol… - comentou ela, puxando Snape e o levando para fora da biblioteca.


     Resmungando, Severo acompanhou a amiga até os jardins, e mesmo que não quisesse, teve de concordar: o dia estava lindo.



                                                                          ~~~



     — Eu só quero entender: o que ela vê nele? - perguntou, pela milésima vez, Tiago.


     — Ela não vê nada nele. São amigos. Deixe de ser burro. Lily tem um ótimo gosto, viu? - retrucou Sirius, que sempre tivera simpatia pela ruiva.


     — Eu não duvido mais nada vindo dessa ruiva… Ela nem quer sair comigo! - resmungou ele.


     — Isso porque você sempre foi (e é) um completo imbecil perto dela. - comentou, sabiamente, Pedro.


     Sirius e Remo murmuraram em concordância.


     Irritado, Tiago voltou a observar Lílian e Snape, que conversavam alguma coisa, deitados um ao lado do outro na grama, perto do lago.


      — O que ele tem que eu não tenho? - resmungou Tiago.


     — Humm… A boca fechada? - brincou Remo, e ele, Sirius e Pedro começaram a rir, enquanto Tiago fechava a cara.


     — Ha ha ha, muito engraçado, estou morrendo de rir… - falou o garoto de óculos, com ironia. - Podemos mudar de assunto?


     — Podemos… Inclusive, deixe eu avisar-lhes que o próximo passeio para Hogsmeade vai ser no próximo final de semana. - falou Remo, e todos gritaram de alegria, menos Sirius, que começou a gargalhar.


     — Avisar-lhes… Hahahahaha… Quem é que fala isso? Hahahahaha…- ria ele.


     — Vou chamar a Lily pra ir comigo. - falou Tiago, sorrindo - Ah, isso quando ela não estiver junto do Ranhoso. - completou ele.


     — Ela vai dizer não. - resmungou Pedro, distraidamente, enquanto atirava uma pedra no lago - Deu três pulos! Viva! - falou ele quando a pedra finalmente afundou.


     — Sei que ela vai dizer não. - falou Tiago, irônico - Mas vale a pena tentar, não?


     — No caso da Lily? Não. - falaram Sirius, Remo e Pedro, em uníssono.


      Potter revirou os olhos e voltou a observar a ruiva, que havia se sentado, e olhava distraidamente para o lago, sem notar o olhar dele…



                                                                          ~~~ 



     — Mas por que você não aceita sair com ele logo? Assim, pelo menos, ele para de te encher. - comentou Clara.


     — Para depois me envolver, ser traída e me magoar? Não, obrigada, mas eu dispenso. - retrucou Lily.


     Ela, Clara, Júlia e Alice conversavam no dormitório, todas sentadas na cama de Lily.


     — Sabe, eu concordo com você, Lils! Prefiro sofrer uma grande encheção de saco do que sofrer por amor… - falou Júlia.


     — Eu acho que quem tem que decidir isso é a Lily. - disse Alice.


     Lílian olhou, aturdida, para a janela ao lado da cama, e viu uma leve garoa começar.


     Se estivesse na época da temporada de Quadribol, pensou ela com um sorriso, provavelmente Tiago, sendo o capitão cabeça-dura que é, não ia cancelar o treino, ia fazer os jogadores treinarem mesmo na chuva, que aumentava aos poucos, e pensar, que horas atrás, o dia estava lindo…


     Para tudo! Você não está pensando no Potter, Lily, não está… Não está pensando no Potter! Você não pode fazer isso!


     — Vamos descer? Tenho que procurar a Maria e devolver minhas anotações pra ela. - falou Clara.


     Todas murmuraram em concordância, e, em silêncio, elas desceram a escada.


     Tinham acabado de descer a escada, quando Tiago apareceu e perguntou pra Lily:


     — Hey, Lírio, quer ir a Hogsmeade comigo? 


     — Não. - respondeu ela sem rodeios, voltando a andar.


     — Espera, espera! - falou ele, segurando o braço da garota - Pode me falar a resposta daquela sua charada?


     A ruiva deu um meio sorriso.


     — Faremos assim: no dia que você adivinhar a resposta dessa charada, eu saio com você, tabom?


     E saiu pelo buraco do retrato.


     Ele nunca desejara tanto poder ler a mente de Lílian. 

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