Capítulo 2



— Eu nunca confiei muito em "gentileza de estra­nhos" — disse Hermione rapidamente, levantando o queixo e fazendo questão de eliminar qualquer sinal de sedu­ção ou provocação de sua voz. Em vez disso, voltou a ser enérgica e indiferente. — Não estou contratando ninguém no momento. Na verdade, se você não se in­comodar...


As palavras ficaram presas na garganta. Ele havia se aproximado tanto que ela podia sentir-lhe o calor da res­piração na bochecha.


— Mas eu me incomodo, moça bonita — disse ele, com a voz tranqüila, mas dura como aço. — E não gosto que brinque comigo.


Ele não a tocou, mas era como se o tivesse feito. De repente, sentiu-se sem ar, e o coração estava disparado. Ela não sabia se era por medo ou excitação. De qualquer forma, não estava acostumada com isso, e queria parar. Teria ido longe demais dessa vez? Teria chegado perto demais do perigo?


Logo depois, porém, tudo virou uma verdadeira con­fusão, quando um grupo de turistas apareceu nas ruínas no terraço acima deles. Fábio logo voltou e começou a empurrar alegremente a cabeça contra o joelho dela, e Hermione sentiu Harry afastar-se. Em seguida ele estava chamando o filho, e ela pôde ouvir o barulho das pedras quando ele se afastou.


Por puro reflexo, levantou as mãos e cobriu a parte do rosto onde sentira a respiração dele. A voz e a presen­ça dele a deixaram perturbada de um modo que jamais sentira. Ela tremia e esperava ardentemente nunca mais cruzar com aquele homem.


— Ei, você está bem?


Gino estava de volta. Ela suspirou e sorriu aliviada na direção dele.


— Estou bem — mentiu ela, e estremeceu mais uma vez. — Mas acho que algum dos meus ancestrais andou pelo meu túmulo.


 


         — Hermione Granger, você está encrencada.


Ela gemeu baixinho e fez uma careta ao recostar-se na cadeira de um badalado café que costumava freqüentar todas as manhãs. Estava falando consigo mesma em pú­blico outra vez. Era preciso parar com essa nova mania. As pessoas pensariam que estava ficando maluca. Até Fábio levantou as orelhas de forma questionadora. Ela podia sentir isso.


— Você sabe quando está metida em confusão quan­do até o seu cachorro se vira contra você — resmungou, fazendo um afago nas orelhas dele.


E estava, apesar de não ter nada a ver com Fábio. O problema era a inquietação que tomara conta dela desde que encontrara o menino Jeremy e seu pai perturbador, na véspera. Ela se sentia como uma sonâmbula, vivendo uma vida atordoada, e agora, de repente, ele a desperta­ra. O despertar era doloroso. Ela precisava encarar o fato de que estava se deixando levar pela corrente. Se não se controlasse e assumisse o rumo de sua vida, bateria contra os rochedos.


Hermione sempre vivera em Niroli, e até então a vida era tranqüila e prazerosa, apesar de sua deficiência. Fora criada pela avó em uma pequena casa na cidade dormi­tório de Monte Speziare, onde os velhos hábitos eram valorizados, enquanto os empreendimentos hoteleiros turísticos e outras novidades eram vistos com horror. Sua avó morrera recentemente, e não deixara nada, exceto a pequena casa em que viviam. Hermione se sustentava dando aulas de piano, e esperava juntar dinheiro suficiente para freqüentar um programa especial de treinamento em te­rapia musical em Nova York.


Pelo menos era o que dizia para si mesma. Acabara de descobrir, naquela manhã, que um de seus melhores alunos estava de partida para a Itália. Isso mal a deixava com dinheiro para se alimentar, quanto mais para se pre­parar para qualquer tipo de futuro. Era hora de começar a pensar seriamente nas coisas? Precisava de uma nova fonte de renda.


E precisava parar de pensar em homens. Bem, não em homens, na verdade. Um homem. Um homem que a deixara com as emoções abaladas, ao mesmo tempo em que sacudira suas convicções. Era estranho como ele se infiltrava em seus pensamentos. Ela não gostara dele, e ainda assim não conseguia parar de pensar nele.


De repente, sentiu pontadas na nuca.


— Oh, não — murmurou. Não precisava vê-lo. Podia senti-lo. Ele vinha em sua direção, e não havia nada que pudesse fazer para evitá-lo.


Bem, pelo menos o lugar era totalmente público. Tal­vez as coisas tomassem um rumo melhor agora. Ele não poderia tentar intimidá-la.


Melhor ainda, talvez eles pudessem passar sem notá-la. Hermione tentou não se mexer na cadeira, virou o rosto para a parede e prendeu a respiração.


Mas ouviu uma voz familiar.


— Olhe! É o Fábio. Venha!


— Jeremy!


Ela afundou na cadeira. Parecia que as coisas estavam ficando cada vez mais complicadas. Não havia saída.


 


Harry a viu ao mesmo tempo em que Jeremy, e tentou, tarde demais, direcionar o filho para o outro lado da rua. Jeremy correu direto para o pequeno café, e ele o seguiu relutante. A última coisa que queria era outra discussão com a irritante moça de óculos escuros.


Ele já tinha muito com que se preocupar. Só estava em Niroli há 24 horas e já estava doido para ir embora. Jeremy o tirava do sério, e o seu primeiro encontro com os conselheiros no palácio não fora muito tranqüilizador. Ele esperava chegar, encontrar seu avô, o rei Giorgio, e então sair com um contrato para examinar e avaliar as opções. No mundo real, as coisas eram assim, não eram? Deveria ter combinado tudo antes.


Em vez disso, foi jogado de uma sala para outra, como se não soubessem quem era ou o que fazia ali, até que finalmente conseguiu falar com um homem circunspecto chamado Tours, que alegou não o estarem esperando antes da semana seguinte. Os conselheiros reais encarregados desse assunto estavam de férias, e ele teria que esperar sua volta.


Ele não tinha tempo para isso. Sua companhia estava passando por uma mudança administrativa na Califór­nia. Ele precisava de uma definição e de dinheiro. Rá­pido. Palavras fortes se seguiram. Pensando no assunto, ele percebeu que não ajudara muito. Era preciso contro­lar o seu temperamento; ele não reagia muito bem diante dessas situações.


Tours insistiu para que ele saísse do hotel e fosse para um dos quartos do palácio. Seria ótimo, sem dúvida, para que pudessem vigiá-lo. Harry declinou do convite. Já que era para esperar uma semana, ele o faria a seu modo.


Foi então que pediu para ver o avô. Tours agiu como se primeiro tivesse que provar que era digno disso. Mas por que isso o surpreendera? Ele realmente imaginara que seria recebido de braços abertos, sem que ninguém se importasse? Tolice. Estava claro que o seu nascimen­to era um grande problema, e havia facções que se opu­nham à concessão do posto a ele em primeiro lugar. Cer­tamente seria muito mais complicado do que o haviam induzido a acreditar.


Qual era o grande problema, então? Tudo o que eles queriam era arrumar um rei para o seu pequeno país. Ele fora capaz de conseguir projetos internacionais que en­volviam muitos milhões de dólares com menos esforço do que a operação parecia exigir agora.


Enquanto isso, não conseguia contatar ninguém em Hollywood e precisava ter certeza de que as decisões apropriadas estavam sendo tomadas na sua ausência.


Também teria que prevenir Ron Weasley, seu vice na Potter Productions, de que precisaria de mais tempo do que imaginara. Os negócios estavam correndo risco.


Ele se aproximou da bela moça com a expressão séria, cumprimentando-a com um rápido aceno enquanto Jeremy se pendurava no pescoço do cachorro e murmurava palavras amorosas ininteligíveis para o animal, que as aceitava abanando o rabo.


— Olá — disse ela, virando-se rapidamente para ele e logo voltando para a posição anterior. — Que surpresa, eu não imaginava que nos encontraríamos outra vez. — Ela franziu ligeiramente o cenho. — Este é um lugar pouco freqüentado por turistas. Está hospedado aqui por perto?


Esse era outro problema. A imprensa descobrira o hotel em que estava, e por esse motivo, além de outro relacionado a Jeremy, estava em busca de um novo lugar para se hospedar. Nada parecia simples como deveria ser naquele pequeno país.


— Não por muito tempo — disse ele rispidamente, perguntando-se por que ela não olhava para ele. Ele se lembrou do último encontro deles e ficou ligeiramente ir­ritado. Ela poderia pelo menos fingir que não o odiava.


— Posso levar Fábio para dar uma volta? — inter­rompeu Jeremy, ansioso.


Hermione hesitou obviamente relutante em estender o en­contro. Harry aproveitou a deixa.


— Bem, acho que já estamos indo — começou ele, mas suas palavras logo foram abafadas pelo filho.


— Ah, por favor, por favor! — choramingou Jeremy, enquanto Fábio lambia o seu rosto feliz da vida. — Ele é o meu melhor amigo agora.


Harry olhou para o filho, surpreso. Nunca o ouvira apelar de forma tão inocente antes. Geralmente eram só exigências e queixas. Parecia haver algo especial naque­le novo relacionamento de Jeremy. Estranho.


— Certo, só por um instante — disse Hermione, e ele sa­bia que era com relutância. — Eu vou dizer o que você pode fazer. Vê o açougue do outro lado da rua?


— Sim. Aquele com uma placa pendurada?


— Isso mesmo. Se você levar o Fábio para a porta dos fundos da loja, acho que o açougueiro dará um osso para ele. Ele geralmente faz isso. É só bater na porta.


— Legal — exclamou Jeremy, pulando de alegria.


— Espere um minuto — pediu ela. — Ele está com os arreios hoje. Você deve segurar isso pelas pontas, assim.


Após demonstrar como guiar o cão, Jeremy saiu cor­rendo com o seu novo melhor amigo.


Harry os observou afastarem-se, esquivando-se de al­gumas pessoas que transitavam pela charmosa rua cheia de vitrines. Ele ainda ficava impressionado de como Je­remy podia ser diferente quando queria.


— É quase um equipamento o que você tem no ca­chorro — comentou ele casualmente. — Parece...


Ele parou de imediato, olhando rapidamente para ela. Parece com o que os cegos usam, estava prestes a dizer. E, de repente, Harry se deu conta. No momento em que percebeu a realidade, sentiu-se como se tivesse tomado uma bolada num jogo de futebol.


— Sim, ele é um cão guia — disse ela calmamente. — E sim, eu sou cega.


Ele ainda estava muito aturdido para falar, sem contar a humilhação de ter sido tão idiota e não ter percebido antes.


— Não fique de queixo caído. Pegue seu queixo do chão! — disse ela com vivacidade.


— Eu... eu sinto muito, eu...


— Não é preciso se desculpar. Isso é quase divertido. Eu dei todas as dicas, mas você não pegou — sorriu ela serenamente. — Acho que você bateu o recorde. É a pes­soa mais desligada que já conheci.


— Eu... ouça, eu apenas não...


— Foram bem umas 24 horas, não é? Uma vez fiquei três horas seguidas conversando com um senhor que ti­nha um problema de audição e não percebeu que eu era cega, e ele falava aos berros o tempo todo. Mas aos 94 anos espera-se um pouco de distração. Mas você! — ela riu, feliz por ter encontrado uma parte vulnerável dele. — Você ganhou o prêmio.


Ele sabia que estava enrubescendo. Felizmente ela não podia ver, ou podia? Se ele conseguisse manter a voz firme, talvez fosse capaz de assumir o controle da situação. Harry afundou na cadeira em frente à dela e a encarou com firmeza.


Ela era cega. De algum modo, essa revelação o deixou abalado. Que tragédia. Era tão linda. A compaixão que sentiu pelo seu infortúnio sobrepujou o ressentimento de ter sido tão idiota... e de que ela não gostava dele.


Um garçom surgiu, ofereceu bebidas, e saiu outra vez. Harry concordou fazendo um sinal com a cabeça, mas sua atenção estava toda voltada para a situação daquela mulher adorável.


— Meu filho disse que o seu nome é Hermione — final­mente ele conseguiu falar, inclinando-se para frente e falando devagar.


— Sim, Hermione Granger.


— Eu sou Harry Potter — continuou ele com cuidado. — E suponho que você já saiba que meu filho se chama Jeremy.


Ela suspirou, jogando a cabeça para trás.


— Sr. Potter, eu sou cega, não surda, não tenho difi­culdades para ouvir, nem nenhum tipo de retardo. Não precisa falar devagar comigo. Por favor. Pode usar a sua voz normal.


Ele ficou vermelho outra vez, irritado... com o quê?


Por ter sido pego tentando ser compassivo? Esse era o problema, aquilo não era natural para ele. Não era de se estranhar que tivesse sido pego por ela.


— Certo Hermione Granger — respondeu ele enfatica­mente. — Eu sou Harry Potter.


Sorrindo, ela estendeu a mão.


— Prazer conhecê-lo, Harry Potter.


Ele segurou a mão dela por um tempo longo, estudando-a, admirando os dedos longos, as unhas pintadas de rosa, a pele macia.


— Foi gentil de sua parte ter contado Hermione Granger — respondeu ele enquanto ela puxava a mão de volta — Espero que não tenha acontecido nada para você ter mudado de idéia.


Ela pareceu espantada.


— O que poderia ter acontecido? Por que você está falando de maneira enigmática?


Ele riu, feliz por ter assumido o controle outra vez.


— Cansada de jogos? Ontem, você estava cheia deles.


Agora foi a vez de Hermione corar.


— Sinto muito — ela disse tranqüilamente. — Mas você tem que admitir que estava pedindo por isso.


Ele não pretendia admitir nada, e não respondeu. Ain­da estava tentando digerir a cegueira dela. Essa situação podia ser vista por vários ângulos, aspectos que ele não considerara antes. Descartou imediatamente a piedade. Sua intuição lhe dizia que ela desprezaria qualquer tipo de compaixão por sua condição. E isso o fez pensar na elegância dela e em como parecia lidar graciosamente com a situação. Ele não conseguia se imaginar lidando com tal coisa. A raiva e a amargura provavelmente dominariam a sua vida.


Como se já não estivessem dominando, pensou Harry ironicamente, apesar de saber que estava exagerando um pouco. Ninguém poderia dizer que era um homem feliz ultimamente. Um homem cínico sim, e duro também. A vida o levara a ser assim.


Ele fora pego de surpresa recentemente ao ouvir por acaso uma jovem funcionária na sua produtora de filmes dizer:


— O Sr. Potter é tão incrível. Como ele consegue não sorrir nunca?


Sorrir, ele pensou. O que havia de engraçado para se sorrir, afinal? Quem tinha tempo? Sorrir era para perde­dores.


Ele não nascera com raiva do mundo. Na verdade, ape­sar de ter tido uma mãe que passava o tempo todo na alta sociedade, sua infância fora relativamente calma. Mas ul­timamente, parecia ter se tornado um homem permanente­mente enraivecido. Talvez fosse por isso que Jeremy tinha um gênio tão difícil. Os pecados do pai, provavelmente.


Ele olhou para Hermione e imaginou se ela teria um amante.


— Suponho que não tenha sido você quem fez aque­les desenhos, não é? — comentou ele.


A gargalhada dela ecoou.


— Não, não fui eu.


— Isso é decepcionante.


— Que pena — disse ela fingindo simpatia. — Você pensou que havia encontrado uma mulher com um mon­te de figuras masculinas nuas na cabeça.


Ela o pegou de surpresa. A idéia o fascinara.


— Achei que havia encontrado uma mulher muito in­teressante.


— Então as mulheres não são interessantes se não houver sexo no meio?


Houve uma pausa, e, como não conseguisse resistir, ele disse suavemente.


— Quem disse que não há sexo envolvido?


— Eu...


Isso a deixou quieta por um tempo. Hermione estava com­pletamente vermelha. Ele deu uma risada.


— Então se não foi você quem os desenhou?


— Meu amigo Gino. Ele me acompanhou até as ruí­nas, mas teve que voltar para casa a fim de telefonar e deixou o caderno na minha bolsa.


Isso fez com que ele levantasse as sobrancelhas.


— Então, ele é o interessado em nus masculinos.


Ela sorriu.


— Pode-se dizer que sim. É um excelente artista, não é?


— Suponho que sim. Apesar de me considerar melhor crítico de nus femininos.


Ela parou de sorrir. Não precisava de nada que a fizesse lembrar que ele era agressivamente heterosse­xual. As vibrações lhe chegavam claras e nítidas, dei­xando-a nervosa. Ela não fez a menor questão de ser amigável. Assim que Fábio e o menino voltassem, logo encontraria uma desculpa para ir embora. Enquanto isso, não se incomodava em discutir com ele, desde que ele não tomasse o papo como um convite para algo mais íntimo.


Ele se mexeu e ela ficou tensa, sem saber exatamente o que ele estava fazendo, depois se sentiu uma idiota quando percebeu que era óbvio que estava apenas usan­do o celular. Ela pegou a bebida como se esse fosse o seu objetivo desde o início, mas sabia que não estava enganando ninguém.


— Droga — disse ele depois de um tempo. — Por que será que os celulares não funcionam aqui? Não consigo falar com ninguém com esse telefone.


— Ele está programado para internacional? — per­guntou ela.


— Eu o trouxe justamente por isso — ele disse. — Estou começando a achar que há um botão mágico ou coisa do gênero.


Ela quase ofereceu sua linha fixa. Sua casa ficava pró­ximo à outra esquina. Mas conteve-se a tempo. Real­mente não gostaria de Harry em sua casa. Era melhor não sugerir. Deveria haver uma linha que pudesse usar no hotel onde estava hospedado.


— Onde você está hospedado? — perguntou ela, já que o assunto fora mencionado, ao menos pelo que se lembrava.


— Por que você quer saber? — retrucou ele imedia­tamente.


— Oh! — Esse era com certeza o homem mais defen­sivo e desconfiado que já encontrara. Ela deu um suspiro de irritação. — O que você quer dizer com isso? É tão grosseiro!


— Desculpe — respondeu ele rispidamente. — Mas, acredite, tenho motivos para não querer que as pessoas saibam onde estou. — Ele hesitou. — No início fomos para o Ritz, mas acho que teremos que ir para outro lu­gar. Já devem estar colocando nossas bagagens na rua neste exato momento.


Ela balançou a cabeça sem entender.


— Do que você está falando? O que aconteceu? - Ele deu um suspiro profundo.


— Meu adorável filho mais uma vez. Como sempre.


Ela franziu o cenho. Ele era impossível.


— Gostaria que você não falasse dele dessa forma.


— Eu é que gostaria de não precisar falar dele assim. — Ele percebeu a expressão dela e cedeu. — Está bem, vou tentar controlar um pouco o sarcasmo. Mas, acredi­te, você também não falará coisas gentis a respeito dele quando souber o que Jeremy aprontou.


Ela fez uma cara de descrença.


— Conte.


Ajeitando-se na cadeira, Harry começou a história.


— Jeremy acordou antes de mim esta manhã e resol­veu sair em busca de uma vítima.


— Harry!


Ele deu um sorriso forçado, mas percebeu que ela não podia vê-lo, então, sacudiu os ombros e prosseguiu:


— Quando acordei e vi que ele não estava, já sabia que estaria metido em alguma confusão. Procurei por toda parte, tentando achar algum vestígio de desastre recente. Demorou um pouco, mas finalmente cheguei à cozinha do hotel. E lá estava ele.


— E? O que ele fez lá? Roubou um doce?


— Ah, não. — Ele deu uma risada curta. — Jeremy nunca comete pequenos delitos como esse. Eu lhe con­tarei o que ele aprontou. A equipe da cozinha estava pre­parando um casamento, havia um belo bolo decorado, pronto para a festa... até Jeremy chegar e lamber quase toda a cobertura do bolo.


Ela suspirou.


— Oh, não!


— Oh, sim — resmungou ele, coçando o cabelo e sa­cudindo a cabeça.


Hermione estava tentando não rir, mas era difícil se conter.


— Enquanto isso, ele enfiou o dedo na cobertura branca, fazendo desenhos circulares e ao mesmo tempo arrancando os pedaços e devorando-os. Quando o en­contrei, parecia um pouco enjoado, mas mesmo assim tentava enfiar mais cobertura pela goela voraz.


Ela suspirou, sacudindo a cabeça.


— Pobre Jeremy.


— Pobre Jeremy? — Ele estava quase indignado com aquela compaixão equivocada. — Que tal pobre pai de Jeremy? Ou pobre confeiteiro? Ou pobre noiva, pelo amor de Deus?


Ela conteve a risada.


— O que você fez? Ele deu de ombros.


— Eu deixei algum dinheiro para eles, agarrei o ga­roto e saí dali. Pode acreditar, não creio que possamos voltar. Até agora estamos vagando pelas ruas. — Ele deu um suspiro. — Por isso, precisamos encontrar outro lu­gar para ficar.


Ele ofereceu dinheiro. Ela percebeu que provavel­mente era assim que ele agia com muitas outras situa­ções. Algum problema? Tudo bem? Tome esse dinheiro para que eu não tenha que pensar mais no assunto. Que Deus proteja a mulher que se envolver com um homem como esse.


Não que ela corresse esse risco. Estava segura de que havia deixado bem claro que não era receptiva a ele. Harry já devia ter entendido isso depois de tudo o que lhe dissera. Ele não poderia ser tão estúpido — ou tão egocêntrico —, a ponto de achar que ela pudesse estar interessada.


Ele estava tentando telefonar outra vez, e resmungou alguma coisa.


— Então onde é que eles se enfiaram? — perguntou ele.


Ela franziu a testa, depois percebeu que Harry estava falando de Fábio e Jeremy. Hermione se esquecera deles e se censurou silenciosamente. Pensava no quanto deveria ser perigoso cuidar de um homem como Harry . Outra coisa que percebera, e Harry lhe dera sinais evidentes, era que estava deixando a presença dele virar-lhe a ca­beça.


— É melhor eu ir procurá-los — disse ele, levantando-se. — Eu já volto.


Ela concordou em silêncio, satisfeita por ter um tem­po para se acalmar. Mas foram apenas alguns minutos, porque o seu amigo Gino chegou no momento em que Adam saiu.


— Olá, Hermione — disse ele, sentando-se na cadeira a seu lado. — Aquele é Harry Potter?


Hermione levantou a cabeça, surpresa.


— Sim. Você o conhece?


— Não, mas parece que você sim. — Gino não pare­cia satisfeito. — Ele é seu amigo?


— Eu o conheci ontem nas ruínas.


— Conheceu? — Gino pigarreou intencionalmente. — Você tem idéia de quem ele é?


Ela ficou imóvel.


— Não. Conte para mim.


Ele segurou a mão dela como se Hermione precisasse ser consolada.


— Você não está atualizada com as noticias locais, minha querida. Ele é o último candidato que trouxeram para ser sabatinado para o cargo de rei de Niroli. Ele é o filho ilegítimo do último príncipe da coroa, James.


 

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