Bela Flor





   Era uma manhã de inverno e Narcissa tomava café sozinha em uma mesa na varanda que dava para a parte central do jardim. Observava a água cair da bela fonte ao centro rodeada por arbustos de damas-da-noite, o inebriante aroma da noite anterior ainda conservado, o sol nascendo ao fundo.


   Já tinham se passado dois anos desde seu casamento com Lucius e os dias se passavam exatamente os mesmos. Confraternizações massantes com a alta sociedade eram mais frequentes do que ela gostaria que fossem, em especial por conta do posto que seu marido conseguira no Ministério. Tudo em sua vida se tornara extremamente ordinário, mais até do que era antes.


   Aah como ela sentia falta de sua antiga vida, tinha se tornado até irônico ser lembrar do quanto reclamava mentalmente de como as coisas eram entediantes na casa de sua mãe. Não podia negar que Druella sempre a tratou de forma mais atenciosa que a Andrômeda ou Bellatrix, viver com sua família era de modo geral até confortável. E naqueles tempos, pelo menos, ela ainda tinha seu quarto como um refúgio, aonde ela ficava a salvo daquela realidade esgotante que a cercava. Ter de vestir uma máscara durante cada segundo do dia era automático e natural para Narcissa, mas ela sempre apreciou o modo como seus aposentos na Mansão Black traziam uma sensação de alívio para seu corpo. Era como se lá ela pudesse se revelar sem medos, se sentia ela mesma quando escorava na janela e olhava a bela vista que detinha. O único lugar no mundo que era verdadeiramente dela, aonde suas fraquezas ficavam expostas e por um momento os deveres que seu nome e sangue forçavam-na a carregar eram esquecidos, dando lugar à paz em seu íntimo.


   E então, seu quarto passou a ser um palco de pesadelos. Todas as noites após o jantar ela já entrava em uma espécie de ritual, começando a se preparar psicologicamente para o que viria.


   Infelizmente não havia escolha, havia se casado e teria de aceitar aquela vida, continuando a sustentar a velha máscara que sua mãe ensinara a construir, por mais que a própria realidade a fizesse querer ser contorcer em desgosto.


   Odiava o modo como Lucius a tocava, sempre tão rude e impessoal que calafrios de desconforto percorriam seu corpo. E o prazer que se estampava em seu rosto naqueles momentos a enojava, ela sabia que aquele deleite não era puramente físico. Se tornava cada vez mais visível a satisfação que o percorria por ter Narcissa impotente em seus braços, limitada a sempre fazer o que ele queria. Tê-la como a perfeita esposa que era, um belo troféu para exibir aos conhecidos. E ele o fazia. Mais até que o recomendado,  infinitamente mais do que Narcissa desejava. Mas isso não importava, sua opinião era irrelevante, e Lucius deixava esse fato bem claro toda vez que procurava sua esposa durante a noite.


   Claro que com o tempo ela estava se acostumando com o modo mecânico que se desenrolava a relação dos dois. Mas quando parava para refletir, isso era justamente o que mais a assustava. O modo como sua vida estava se reduzindo a acostumar-se aos hábitos e ditames de seu marido, uma realidade tão distante do que ela imaginara ser um casamento. Apesar de sempre ter se esforçado para não ser idealizadora demais, era inevitável esperar que se acostumar a ter o marido por perto não fosse se tornar a base de seu relacionamento.


   E agora seu único refúgio havia sido tomado. Isso a levou a procurar outros lugares para passar o tempo livre e espairecer a mente, um de seus prediletos acabou por ser o jardim da mansão. Se apaixonou por ele na primeira vez que o viu e sempre que precisava ficar sozinha e relaxar ia para lá, algo ali lembrava sua infância. Tempos em que conhecera a felicidade plena, quando Andrômeda e ela ainda eram muito próximas e Bellatrix era nova o suficiente para não causar intrigas com sua mãe, ela até passava algum tempo descente com as irmãs. Todos esses elementos dando à casa uma atmosfera de harmonia que há muito se dissipara. Desde então, todos os dias passava cerca de uma hora andando pelas flores, adicionando ao longo do tempo elementos seus à paisagem e transformando-o em uma espécie de paraíso particular. Diferentes flores foram postas por todos os lados, compondo uma visão extremamente variada em espécies, cores, aromas e sensações.


   Contudo, por mais que desejasse, seu belo jardim não era capaz de anular a maldita inércia que a rodeava na vida dentro da Mansão Malfoy. Dar sempre as mesmas ordens aos elfos domésticos para arrumarem tudo sempre da mesma forma continuava uma tarefa entediante, assim como aquelas festas que Lucius a fazia organizar de tempos em tempos.


   Acordara especialmente cedo, antes mesmo que seu marido o fizesse, para aproveitar os poucos minutos de paz que conseguiria reservar para si naquele dia em que teria de aguentar um evento tradicional dos Malfoy à noite e, claro, ela seria responsável pelos preparativos. Percebeu uma maior movimentação no interior da casa e resolveu entrar novamente.  


 



   Narcissa se encontrava próxima à porta, os convidados aparatavam no hall de entrada e eram acompanhados pelos elfos até o amplo salão, aonde ela os recebia como uma perfeita anfitriã.


   Quando boa parte dos convidados já parecia ter chegado, Narcissa se permitiu ir em direção a Zabini e Carrow que conversavam totalmente entretidas do outro lado do salão. O assunto era mais uma das futilidades típicas das duas e ela não prestou real atenção, fazendo breves comentários de vez em quando. Estava tão entediada e distraída no meio delas que mal notou quando abaixaram o tom de voz, comentando sobre algo que observavam na porta principal. Se virou e em um segundo tudo estava charo: o casal Lestrange acabara de chegar. Era incrível a capacidade que Bellatrix tinha de atrair naturalmente todas as atenções para si sem nem ao menos dizer uma palavra, sua presença ali bastava.


   Os dois foram andando em direção a ela. Merlin, como ele parecia feliz, como ela parecia feliz. Bellatrix e Rodolphus formavam um belo casal, sem dúvidas. Um tanto irônico que sua irmã mais velha, justo ela sempre tão avessa à ideia de casamento, estivesse tendo mais sucesso nesse campo que ela.


   -Boa noite, Narcissa. - Rodolphus a cumprimentou, sempre tão educado que tornava a própria inveja muito mais ardente dentro de si mesma - A festa está belíssima, como sempre.


   - Muito obrigada, Rodolpus, espero que aproveite a noite.


   - Eu irei sim, obrigado. - exibiu um belo sorriso - Agora, se me dão licença - dirigiu um aceno de cabeça às duas e foi em direção aos outros convidados.


   - Está tudo realmente ótimo nesse salão, Cissy. - Bellatrix se dirigiu a ela enquanto se servia da dose de uísque de fogo sobre uma bandeja que passou flutuando próxima às duas -  Tenho de admitir que a cada vez que visito essa mansão você me impressiona mais.


   - Obrigada, Bella, eu realmente não tenho muito mais o que fazer além de organizar as belas festas de meu marido. - riu irônica antes de tomar um gole de sua bebida.


   Bellatrix a olhou levantando uma sobrancelha - Por Merlin, Narcissa. Lucius não pode estar passando tanto tempo assim fora de casa. Mas é interessante saber como você fica quando está na seca, minha irmã.


   - Bellatrix! Não foi isso o que eu quis dizer!


   -Minha nossa, você definitivamente precisa relaxar mais, Cissy. O que quis dizer então?


   - Ah, nada. Só esqueça o que eu disse. Como andam as coisas com Rodolphus? - Narcissa tentou ao máximo parecer relaxada para mudar de assunto. De modo algum ela admitiria a ela que seu casamento era um fiasco, estava segurando aquilo há dois anos e pretendia continuar assim.


   - Melhor impossível! Não poderia ter encontrado alguém melhor para o posto. - ela sorriu satisfeita enquanto olhava-o de longe voltar para perto das duas chamando Bellatrix para dançar.

   - Terminamos de conversar mais tarde, Cissy. - entregou o copo a Narcissa e saiu com Rodolphus os dois se perdendo entre os outros casais, se destacando de todos com passos incrivelmente bem sincronizados. Alguns até se afastaram para dar lugar à performance do casal Lestrange, ela flutuava e deslizava pelo chão como uma fada, e ele… Merlin sabia como Narcissa queimava em inveja naquele momento ao analisar Rosolphus. Ela já se acostumara ao esplendor de sua irmã, crescera sob o brilho dela afinal, e já superara aquilo há muito tempo.


   Não, o que a incomodava era ele. As mãos dele segurando sua irmã como se ela fosse a mais rara das jóias, o mais delicado cristal; conduzindo-a levemente pelo salão, com uma habilidade majestosa. Se Narcissa acreditasse em algum Deus, ela diria que este viera à Terra para dotar aqueles dois de todo o brilho que os cercava.


   Felizmente, a música cessou, e todos romperam em aplausos para o casal que agora se retirava do centro. A loira se recompôs e apenas sorriu, mantendo sua máscara ao se dirigir até uma das portas que levava ao jardim. Andou até mais adiante até ter certeza de que ninguém a viria derramar todo o conteúdo de seu copo e do de Bellatrix em sua boca de uma vez só, e logo em seguida desabar no banco ao seu lado, a expressão feliz e satisfeita que construíra em seu quarto antes de descer as escadas mais cedo se desmanchando. Como a água da chuva vinda de um lindo dia de verão cai sobre uma parede recém pintada caprichosamente e revela uma superfície degradada pelas experiências que o tempo lhe conferiu.


   Milhões de sentimentos passaram por seu interior. Do ódio e rancor intensos à mais profunda vergonha, todos coexistindo dentro de si trazendo a tona aquela terrível confusão que tirava seu sono. Ódio por ela sempre ter o que queria, e mesmo na única coisa na qual Narcissa tinha certeza de que se sairia melhor, Bellatrix ainda tivera mais sorte, e só lhe restava assistir mais um dos sucessos de sua irmã e fingir que aquilo não a afetava e que tinha uma vida tão feliz quanto a dela. Mas ela não conseguia fingir, por mais que quisesse não era forte o suficiente, estava morrendo aos poucos, desmanchando por dentro mais e mais a cada dia que se passava em sua vida. Olhou para as flores que rodeavam o banco em que se sentara… narcisos. Um deles murchava próximo a ela, arrancou a flor e a observou, uma das pétalas pendia frágil, e no momento em que a trouxe para sentir seu aroma, a pétala caiu no chão frio. O aroma em si já era fraco, e uma segunda pétala parecia querer cair logo após a primeira, a flor aparentava sofrer com a queda de suas partes mais belas. Narcissa então, com o intuito de talvez tornar todo o processo da morte mais fácil e rápido para aquela flor, puxou a pétala e a segurou em seus dedos, tão macia e acabada, os poucos traços de vida ainda presentes naquele vegetal já não eram mais suficientes para que a antiga beleza se manifestasse. E agora, não havia mais nada que a mantivesse viva, fora arrancada da sua única fonte de vida, a terra que a nutria já não mais estava conectada a ela e a única opção era esperar até que seu último sopro de vida fosse tomado.

 



   Rodolphus e Bellatrix se retiravam do centro do salão ao fim da música, ela seguindo até o banheiro e ele indo até a mesa de bebidas. Já não se incomodava mais em dar aquelas pequenas amostras públicas de como seu casamento era um mar de rosas. Não que ele estivesse de todo insatisfeito, eles dois tinham sim bons momentos juntos as vezes, quando ela não estava com outro. E esse era o maior problema. Ela o traía, ele a traía, e ambos sabiam disso, a grande diferença era que Bellatrix parecia imensamente satisfeita o tempo todo, não importava com quem estivesse.


   Já Rodolphus… Merlin, nenhuma mulher se comparava a sua esposa, absolutamente nenhuma com quem ele estivera em toda a vida conseguia chegar aos pés daquela maldita mulher. E ela sabia disso, até se aproveitava da situação quando lhe era conveniente. E ela insistia em esfregar na cara dele de todas as formas possíveis o fato de que ele não a controlava, muito pelo contrário, ela era capaz de gerar sensações em Rodolphus que ele não presenciava com mais ninguém. Amor? Ele ria só de pensar, definitivamente não a amava. Nem tinha certeza se nutria algum sentimento verdadeiro por Bellatrix. Talvez fosse apenas orgulho ferido, ela invertia totalmente os papéis daquela relação e isso o irritava a níveis descomunais.


   No fim das contas nunca chegava a uma conclusão, era tudo muito confuso quando se tratava de Bellatrix e há muito ele desistira de tentar entendê-la ou aos próprios sentimentos. Apenas continuava fingindo ao público que era ele quem a conduzia daquela dança, engolindo todo o ressentimento pela verdade junto com uma boa dose de seja lá o que estivesse dentro copo que segurava e que fez sua garganta arder. Resolveu então tomar um pouco de ar fresco, relaxar um pouco daquelas tensões e até evitar Bellatrix.


   O jardim exalava um aroma relaxante, inspirou o ar fresco da noite e soltou pesadamente enquanto avançava entre as flores, andava devagar sem fazer muito barulho. Chegou até o que parecia uma pequena praça, a luz da lua banhava o banco que estava bem no centro e a mulher que se encontrava sobre ele, observando a  flor e uma de suas pétalas que se encontravam em suas mãos. Narcissa parecia muito distante daquele lugar, seu semblante era triste e cansado, totalmente diferente da expressão que ela exibira mais cedo quando o recepcionara na mansão.


   Imaginou por um tempo se não deveria deixá-la sozinha, ela procurara um lugar isolado por algum motivo, afinal. Mas ele seria incapaz de abandoná-la ali naquele estado, sentia que ela precisava de alguém ao seu lado além da própria solidão.


   Ela suspirou longamente e levantou os olhos, notando então a outra presença no local e reconheceu Rodolphus a poucos passos de distância.


   - Narcissa… oi. Não queria incomodá-la, mas… está tudo bem? - as palavras se embolaram em sua garganta e saíram com um tom de preocupação um pouco mais acentuado do que ele pretendera.


   -Rodolphus! - levantou rapidamente, a flor e suas pétalas caindo pouco a frente de seus pés. Forçou um sorriso enquanto tentava esconder as lágrimas em seu rosto - Está tudo ótimo… Hmm, você não incomoda de jeito nenhum, imagine. Eu que peço desculpas, deveria estar na festa… aconteceu algo por lá?


   - Não precisa se desculpar, Narcissa, tudo corre na mais perfeita ordem. Eu apenas estava caminhando por aí, precisava de ar fresco… Você tem um jardim magnífico, sabia? Possui uma beleza bem singular… combina com você. - Segundos depois percebeu que suas palavras haviam soado um tanto insinuantes, efeito que ele certamente não desejara para o momento.


   - Obrigada… - sorriu boba, não estava acostumada com elogios - Tive um trabalho enorme para deixá-lo do jeito que está, é um ótimo lugar para se livrar das preocupações.


   - Pude perceber no momento em que pus meus pés aqui, ele possui uma essência reconfortante... - Percebeu então como aquele lugar realmente o ajudara a se afastar das preocupações, após alguns segundos olhou para Narcissa e a observou por um momento, reparando em seus olhos um pouco inchados e nos resquícios de lágrimas em seu rosto. - Tem certeza de que está tudo bem?


   - Sim, eu acho… - O breve devaneio de Rodolphus não passou despercebido, ela pode ver que não era a única que se incomodava com algo. - Apenas algumas complicações, nada que eu não consiga levar. E você? Também não parece muito bem...


   - Bom, parece que nós dois estamos cheios de complicações então. - sorriu levemente irônico pela situação - Vamos lá, eu digo se você disser.


   - Está me propondo uma espécie de terapia? É isso? - levantou uma sobrancelha e riu.


   - Eu, honestamente, não estou muito a fim de voltar para lá agora - riu e indicou o caminho de volta à festa com a cabeça - então acho que não temos nada a perder.


   - Tudo bem então, eu precisava mesmo de um amigo para desabafar. - soltou um suspiro e se sentou novamente no banco. - Lucius é o problema. Não nos entendemos muito bem, desde o início é assim. Tudo entre nós é tão vazio de sentimentos, os dias correm de um modo tão mecânico… sei que é idealismo demais pensar que meu casamento teria algum sentimento verdadeiro, mas não imaginava que fosse ser assim.


   Rodolphus andou até ela enquanto a ouvia, sentando-se ao seu lado no banco.


   - Acredite, entendo o que é ter as expectativas frustradas. Mas não pode ser tão ruim assim, ele parece ser bem atencioso com você.


   - Atencioso? - Narcissa por pouco não gargalhou com aquele comentário, conseguiu se conter mas ainda assim riu sarcástica - Sempre soube que ele é um ótimo ator. Meu marido definitivamente não pode ser descrito como atencioso.


   - Merlin, Narcissa, o que Lucius fez exatamente para você falar dessa forma?


   Narcissa ponderou por um tempo sobre que resposta daria àquela pergunta. Por algum motivo estava se sentindo tão à vontade com Rodolphus que a tentação de se abrir completamente para ele era enorme. Mas algo dentro dela dizia que era melhor não, contar a ele sobre tudo o que ela enfrentava diariamente seria admitir para alguém além de si mesma todo o fracasso de sua vida, mostraria a ele todas as suas fraquezas. E como uma Black aquilo simplesmente não era uma opção, seu orgulho falava mais alto.


   - Ah, nada. Só algumas brigas que nós temos de vez em quando, nada demais. É só que com o passar do tempo você vai se desgastando, sabe. Chega a um ponto em que fica insuportável simplesmente engolir a situação…


   - Não imaginava que as coisas entre vocês eram assim, sinto muito, Narcissa… - acariciou de leve a mão da mulher que estava apoiada sobre o banco - Ajuda saber que não é a única?


   - O que…? - virou o rosto e encarou o cunhado com uma expressão confusa - Você e Bellatrix formam um ótimo casal, não pode estar falando sério.


   - Pois então se engana muito - Sorriu irônico passando a mão pelos cabelos tirando alguns fios que caiam nos olhos - Meu casamento também não é como eu queria que fosse. Não que sua irmã seja uma esposa ruim, ela só é… diferente. Acho que realmente sinto algo por ela, mas não tenho certeza de nada. Pode parecer irônico por sermos casados, mas ela nunca deixou que eu me aproximasse de verdade, é sempre tão indiferente e distante. Mas acho que posso dizer que já superei isso, a fase em que Bellatrix ainda me deixava mal por suas atitudes já passou há tempos. - Olhou para Narcissa neste momento querendo saber se ela caíra naquela mentira deslavada. É claro que Bellatrix ainda o afetava, ele só não admitiria aquilo a ninguém, por mais que a presença de sua cunhada o fizesse sentir mais confortável que o normal, ao ponto até de ele desabafar aquilo tudo.
   
   - Por Merlin, Rodolphus, não se martirize pelas atitudes de minha irmã. Você merece mais do que isso. - segurou a mão dele que já estava sobre a sua o olhou diretamente. Se perguntava incessantemente como Bellatrix era capaz de ignorar um homem daqueles.



   - Obrigado, Narcissa, é realmente muito gentil da sua parte dizer isso, mas eu realmente não me importo mais com isso. Aliás, você também não devia ficar assim por Lucius. Não consigo acreditar que ele não dê valor a esposa que tem.


   - Ah Rodolphus, sempre tão cortês,  obrigada... Mas não se preocupe comigo - deu uma risada descontraída e tornou a corar, era tão estranho ter alguém se preocupando com ela, querendo verdadeiramente o seu bem. O modo como os dois se abriam um com o outro trazia uma atmosfera que envolvia seu coração em um calor há muito tempo distante, um sentimento de familiaridade que experimentara vagamente na infância com suas irmãs, sentimento esse que infelizmente se dissipara e agora se recuperava dentro dela com quem ela menos esperava, justo aquele homem cuja relação com Bellatrix ela tanto invejara. - Minha nossa, temos em comum mais do que eu imaginava...


   - Verdade. Acho que temos tomado excessiva consideração com o que certas pessoas pensam,  mais que o recomendado - Olhou fundo nos olhos daquela bela mulher na qual nunca reparara de verdade e agora percebia o quão bem se sentia em sua presença.


   - Faz parte de se ser um sangue puro eu acho... Ainda assim, acho que essa é uma daquelas características e atitudes que são levadas com o tempo. Não há nada que se possa fazer, não é?


   Ela virou o olhar para um ponto vazio e o silêncio reinou por uns instantes. Rodolphus mirou o chão e achou a flor que ela antes segurava, um narciso... suas pétalas espalhadas ao redor; parecia murcho, a vida deixando-o lentamente. Sua beleza, porém, ainda era visível, a delicadeza sempre tão naturalmente expressa agora lutava para se sobrepor à dor que fluía por toda a extensão daquela bela flor. Uma força desconhecida tomou conta de si, ele sentia a necessidade de segurá-la, devolver-lhe a vida que era roubada. Conteve-se no entanto, apenas desviando o olhar para Narcissa, uma bela flor à luz do luar. Ele e Narcissa nunca foram muito próximos, mas visão dela ali tão debilitada mexia com algo em seu peito que ele nunca sentira em toda a vida.


   - Bom, é sempre mais fácil com um amigo por perto. - sorriu e secou os restos de uma lágrima que ainda se encontrava na bochecha da loira.


   - Tem razão. Obrigada Rodolphus, é bom saber que se tem um amigo a quem recorrer.


   - Disponha sempre que precisar, Cissy. Hmm, posso te chamar assim? - riu levemente nervoso, nunca a chamara pelo apelido mas ainda assim, usá-lo naquela situação pareceu tão natural.


   - Mas é claro que pode - riu junto com ele, gostando do modo como ele a chamara, e se lembrando em um lapso que eles ainda se encontravam no meio de uma festa, e ela não tinha ideia de quanto tempo havia se passado com os dois sozinhos no jardim. - Meu Merlin, temos que voltar para a festa! Perdi totalmente a noção do tempo. - se levantou subitamente no banco, assustada com o que todos pensariam se notassem que ela e Rodolphus haviam sumido ao mesmo tempo.


   - É verdade, também tinha me esquecido de aonde estávamos. É melhor mesmo voltar antes que notem que saímos - também se levantou e os dois começaram a andar em direção à saída, deram alguns passos e ela segurou o seu braço, parando-o aonde estavam.


   - Rodolphus… Obrigada. - o virou de frente para si e sorriu sincera, nos olhos uma expressão de alívio e conforto por finalmente ter colocado para fora parte de toda a angústia que tirava seu sono, grata por encontrar um ombro amigo. - Obrigada por ouvir, por falar… por tudo. Você foi um ótimo amigo hoje, não vou me esquecer disso nunca.


   - Mais uma vez, estarei aqui sempre que precisar. - sorriu de volta para ela, mergulhando na imensidão azul de seus olhos, aquele algo em seu peito voltando a crescer. E então uma força tomou conta de si, suas ações foram tomadas num impulso inconsciente, Rodolphus se aproximou de Narcissa colou os lábios nos dela em um beijo leve e calmo.


   Por um milésimo de segundo, ela ficou sem reação. Mas aos poucos foi se entregando ao beijo, passeando sua mão pelo cabelo dele calmamente. Sentiu-o suspirar contra seus lábios, e se deu conta do que estava fazendo. Empurrou-o de leve, apenas para separar as bocas. Estava em choque. (**)


   - Narcissa… Eu… Me desculpe. Não sei o que deu em mim…- tentava entender as próprias ações e ao mesmo tempo imaginar o que ela pensaria dele depois daquilo, as palavras acabaram se embolando e tudo o que ele queria era sumir dali.


   - Tudo bem, não se preocupe… É melhor voltarmos… a festa… - se afastou um pouco, ainda confusa devido a rapidez com que a cena ocorreu.


   - Sim, claro. A festa, tem razão. - passava a mão nervosamente pelos cabelos, sem saber muito bem o que dizer ou fazer em um momento daqueles. - Eu vou na frente, seria meio estranho voltarmos juntos.


   - Ah verdade, tudo bem então. Eu vou depois - sorriu tímida e o observou sumir no caminho repleto de árvores e flores que levava de volta à festa.



   Esperou uns instantes até seguir o mesmo caminho, construindo novamente sua máscara de esposa e anfitriã perfeita e sustentando-a intacta por toda a noite, até que o último convidado deixasse sua casa, ela e Lucius se retiraram para seu quarto no último andar e, felizmente, ele parecia cansado ou bêbado demais para notá-la ali, caindo no sono no segundo em que se deitou na cama.


   Narcissa se deitou ao seu lado e ficou parada por muito tempo naquela mesma posição, observando o céu pela janela enquanto tentava entender o que diabos acontecera mais cedo naquele jardim. Já era bastante estranho o fato de se sentir tão a vontade com um homem de quem nunca fora próxima, um beijo entre os dois então! E não era só isso, ela gostara do beijo. Certamente, se não fosse oficialmente casada, não o teria afastado de si. Na verdade ela nem ao menos sabia direito por que gostara tanto daquilo, talvez fosse só a sensação maravilhosa de tirar um peso das costas que a conversa entre os dois trouxe para si. Ou não... os toques dele eram tão reconfortantes, em sua mão, sua bochecha, os lábios… talvez houvesse algo mais entre os dois, e eles apenas demoraram demais para perceber, mas não era de todo impossível. Merlin, não! Rodolphus era mesmo um homem maravilhoso, a valorizava de um modo que Lucius nunca nem chegara perto de fazer, e era totalmente deixado de lado pela própria esposa. Porém ele ainda era seu cunhado. Marido de Bellatrix. E ela também era casada, com o demônio que Lucius era, mas ainda assim era casada. Claro que havia também a possibilidade de ela estar tão necessitada de atenção que a mínima amostra de carinho a que fora submetida despertara todas aquelas sensações.


   Estava tudo cada vez mais confuso em sua mente, parecia que quanto mais tempo tentava entender mais as coisas se emaranhavam. O cansaço acabou por vencê-la e Narcissa adormeceu, pela primeira vez em muito tempo com um sorriso nos lábios, apesar de todos os conflitos de sua mente. Não se importava realmente com o que aquilo significava no momento, apenas aproveitou a onda de calor que se instalava em seu peito, deixando-a se alastrar tomando conta de todo o seu corpo e afundando-se na mais pura felicidade. E pela primeira vez desde que se mudara para aquela mansão, Narcissa dormiu em paz, os rotineiros pesadelos tão distantes que o espaço aberto por eles foi preenchido pelos mais maravilhosos sonhos, lavando sua alma e deixando por todos os lados um rastro de tranquilidade.


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N/A: Cara, demorei muuuito mais do que eu planejei nesse capítulo, mil desculpas! Enfim, demorei séculos mas tá aí xD Liiiiindos todos os comentários *o* morri aqui vendo que as pessoas gostaram cara, veleu mesmo :’)


Queria agradecer a minha vida à Mary Lestrange LINDA que pra começar fez a capa mais que perfeita dessa fic (e eu ia agradecer no prólogo mas esqueci hehehe mals ae mari) e também porque eu sou uma negação com diálogos e ela me deu a luz nesse capítulo pra eu conseguir botar no papel tudo o que eu tinha na cabeça. Muito obrigada Mariirrrghh ;)


Aaaah nossa, essa cena super gracinha do jardim, queria dedicar ela pra Hellie Lestrange que é a minha inspiração pra incorporar a Cissy aqui. Pra vc amore uma versão invertida do nosso flaskback :D


(**) Esse era um parágrafo originalmente da Hellie e eu mudei algumas coisas, mas a essência eu roubei de uma cena roldissa que a gente fez.


Bom, espero que gostem e que sejam ainda mais pacientes, ENEM tá cada vez mais perto e eu tenho um bando de outras coisas que brotaram agora pra eu fazer ): To só ferrada aqui kkkkkk mas vou me desdobrar pra escrever mais. Bjoos ;)






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Comentários (3)

  • MaryLestrange

    AAAFF, da laris falou tipo tudlo que eu queria falar!!! Não vale! Também nunca achei que ia shippar Roldissa, mas aqui estou eu *-* Nossa Barbara, a fic tá muito boa, sério mesmo, tá linda! Eu to amando sua Cissy super complexa emocional e psicologicamente, seu Lucius ausente e trasgo, SEU ROLD, como eu já disse milhões de vezes, muuuuito bom, vc faz um Rold muito forte e interessante, muito coerente, gosto mto do seu Rold *-* Ah, o diálogo deles ficou lindo, AMEI a metáfora da flor murchando *----*  o beijo tb ficou muito bom, muito natural e ao mesmo tempo inesperado... Ah, tá lindo, super bem escrito, e por mais que eu saiba oa vai acontecer (=x) estou SUPER ansiosa pelos próximos capítulos, pra ver como as cenas vão se desenrolar e me deliciar masi com a voz incrível q vc tá dando pra esses dois personagens que sempre form "sides" pra mim e que estão ganhando um espaço cada vez maior no meu coração. Bjos!!! ps: Estude, mas não deixe de ecrever, pelo amor de Merlin!!! ;***

    2013-09-12
  • B.Black

    Aaaaaaah brigada laris sua linda, só morri com o seu comentário *------* Cara, shippar roldissa é vida cara, ninguem merece o lulu né kkkkk Nossa, tava morrendo de medo desse beijo acabar ficando meio forçado, to feliz de saber que vc gostou :DDD E também eu tava super acostumada com o fake né, eu sendo o Rold e só, Luna que cuidava da cissy sempre e daí eu tenho que ficar alternando entre os dois!! Gente, minha cabeça deu tilt pra começar os diálogos mas depois foi fluindo kkkkkkkkkKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKK GENTE deixa mari e márcia lerem isso aí não viu, elas acabam torturando a gente até o fim da vida kkkkkkk HAHAHAHAHAHAHAH shiu ae, vc ja comeu a cissy minha filha, deixa ela pra mim agora kkkkkkkkkk 

    2013-09-11
  • Laris Black

    "Se Narcissa acreditasse em algum Deus, ela diria que este viera à Terra para dotar aqueles dois de todo o brilho que os cercava." MORRI! ai , eu amo de paixão quando todo mundo concorda que eles são fodas! Serio, quero dizer que FICOU LINDO ESSE CAPITULO. ai <3 eu to gostando demais da Cissy para o meu proprio bem. O fake ta dominando todo mundo kkkk to shippando coisas que eu nunca pensei que shipparia na vida e Roldissa é uma dessas coisas. Tudo culpa tua e da Luna, mas sua fic ta tão linda e fofa. To amando sua Cissy serio... To em um encruzilhada porq eu sempre achei Bella e Rold super otimo juntos, ai surge voce! E essa Fic! E ai eu fico babando para Roldissa. Mas eu amei, serio. O beijo foi lindo! Apesar de que eu não achei que já ia rolar no primeiro capitulo né, mas ok, rolou e ficou bom , até natural... Ah, vei , diz que a Bella vai terminar com o Vold que eu não me importo dela ser corna por causa da Cissy. kkkkkkkkkkkk Ahhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhh Nao me lembre do ENEM cara, morri aqui. Também vou fazer essa merda! Ai carai, boa sorte pra nosss! Vou estudar, fui. ps: Tu ta me deixando com remorso por ter te cornado no fake, ISSO NÃO É BOM . Tenho uma vingança ainda u.u

    2013-09-10
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