De volta pra casa.



 


Eram dias frios e sombrios em Askaban. Na verdade, Bellatrix não poderia dizer ao certo se era dia ou noite, pois os dementadores rodeando a alta e isolada prisão confundia os seus sentidos.


O tempo que passara em Askaban fora uma experiência terrível, é logico. Sua luta constante para não entregar-se aos dementadores foi muito desgastante. As suas piores lembranças, como a vez em que foi fortemente torturada por seu Lorde das Trevas até quebrar uma de suas costelas e ele abandona-la ali, sem dizer uma única palavra, com Bellatrix ainda contorcendo-se no chão, ou ainda a de quando adolescente, quando era torturada pela própria mãe por não comportar-se nem vestir-se como “um membro da nobre e antiga família Black”, eram as únicas coisas que circulavam por sua mente. Havia lembranças relacionadas à Maldição Cruciatus, seu feitiço favorito, que a deixavam levemente animada com o prazer que lhe dá ao ver os bruxos e trouxas sentindo dor, mas logo essa sensação era-lhe sugada, pois os dementadores alimentavam-se disso, de qualquer boa memória.


~*~


Era uma manhã fria na Mansão Malfoy. Todos, a esse horário, encontravam-se na sala de jantar, servindo-se de seu banquete de café da manhã.


Sentado à ponta da mesa entre Narcissa e Draco, Lucius Malfoy resmungava coisas consigo mesmo, erguendo, algumas vezes, sua sobrancelha para o que dizia. Certamente perdido em tantos pensamentos.


De repente, ouve-se um barulho contra a janela. Com um aceno de sua varinha, Draco liberou a passagem para uma coruja marrom, que voou diretamente sobre a sala e pousou espalhafatosamente sobre a mesa, derrubando a xícara de chá de Lucius e fazendo-o resmungar “ave idiota!” sobre o acontecido.


Draco reprime um riso, e solta as duas cartas presas às garras do animal. Uma das cartas continha a assinatura ‘P.P.Malfoy’ no fim do envelope, e um coração flechado, em cima. Era uma carta de Pansy Parkinson, uma garota da Sonserina na qual ele havia se envolvido sem muito comprometimento, apenas por diversão, no começo desse ano letivo, e que conseguia lhe irritar sempre que se intitulava um membro da família Malfoy.


O outro envelope continha um símbolo do Ministério da Magia bordado. Sem dar muita importância a ele, Draco entregou-o a sua mãe, já que o pai ainda está preocupado com o chá que lhe foi derrubado. A carta dizia:


 


‘Senhor e senhora Malfoy, saudações.


Gostaríamos de informar que a senhora Bellatrix Rosier Black Lestrange será libertada de Askaban amanhã, no período da noite. Por conhecermos a índole de Bellatrix Lestrange, enviamos este comunicado aos senhores ao invés de Andrômeda e Ted Tonks, na qual é um bruxo nascido trouxa. Solicitamos aos senhores para que compareçam em Askaban para recebe-la e aparatá-la até o local de sua estadia, pois ela está debilitada o suficiente para realizar tal ato sem assistência. Seu marido, Rodolphus Lestrange, permanecerá prisioneiro até o dia que sua pena seja cumprida.


Atenciosamente, Ministério da Magia.’


 


Após ler a carta, Narcissa ficou em estado de choque. Ela não poderia acreditar. A sua irmã, depois de tanto tempo presa em Askaban, 15 anos, estava livre novamente e de volta para casa. Depois de anos tentando lutar contra a dor da ausência, da saudade, e de tê-la perdido para os dementadores sem poder despedir-se corretamente, ela recebe uma notícia como essa dessa maneira, sem uma certa preparação. Os olhos de Narcissa corriam novamente sobre a carta, especialmente sobre as palavras “Bellatrix Lestrange”, “libertada”, “Askaban”, “recebê-la e aparatá-la”, “debilitada o suficiente” e “realizar tal ato sem assistência”. Embora ela soubesse que tanto tempo presa e torturada a deixaria nessas condições, ela não poderia deixar de se chocar com a novidade. Afinal, era a sua irmã, na qual sempre foi mais próxima, e ela poderia tê-la perdido em qualquer momento.


“Mãe? Mãe? Droga, o que aconteceu?” Ela acordou de seus pensamentos com seu filho lhe chamando. Ela deixou a carta cair de suas mãos e cobriu seu rosto com elas, chorando.


“O que foi que aconteceu, mãe?” Perguntou Draco, assustado.


Pegando a carta de debaixo do braço de sua esposa, Lucius lê em voz alta o que diz nela.


Pode-se dizer que o resto desse dia, e o dia seguinte, foram torturantes. A espera pela visita em Askaban deixou-a cada vez mais ansiosa.


~*~


“Bellatrix Lestrange” gritou um homem severamente. “Você deverá retornar para sua casa esta noite. Em algumas horas, Narcissa e Lucius Malfoy estarão em Askaban para te levar embora daqui. Mas saiba: se você infringir as leis mágicas do mundo bruxo novamente, você será condenada ao beijo da morte de um dementador.”


Bellatrix irritou-se com o homem chamando-a por ‘você’. Quantas vezes seriam necessárias dizer para chamarem-na por ‘senhora’? Mas que falta de educação! Certamente foi educado por trouxas... Mas, como estava sem força para ir tirar satisfações, ela apenas o amaldiçoou mentalmente, caindo desmaiada no chão logo em seguida.


Quando acordou, se viu sendo carregada nos ombros de um bruxo. Antes que pudesse reagir e gritar para larga-la onde estava, Bellatrix viu uma bruxa baixa logo atrás dela. Por seus passos apressados, ela deduziu que fosse sua irmã, com seu marido carregando-a nos ombros. Virando com esforço a sua cabeça para o lado, ela pôde ver os longos cabelos loiros até um pouco mais da linha do ombro. Era, certamente, Lucius Malfoys quem estava a carregando. Esse pensamento lhe deu repulsa. Se havia um bruxo que ela não gostava logo depois do menino Potter, era ele. Depois de tudo o que ele fez para Narcissa, ela continuava a andar atrás dele como um cordeirinho corre atrás de sua mãe. E não lhe importava quantas vezes Bellatrix tentasse abrir seus olhos, convencê-la, Narcissa sempre iria atrás de seu marido, como faria a esposa dedicada e fiel que sempre foi.


De repente, uma sensação estranha espalhou-se por seu corpo. Seus olhos pareciam dar voltas, suas mãos tremiam e suas pernas estavam dormentes. Sua visão estava cada vez mais turva a cada vez que piscava. Certamente por que acabou de aparatar, ela pensou. Com tantos anos presa em Askaban, ela havia se esquecido de tal sensação.


Eles haviam chego ao destino. Mansão Malfoy. Lucius Malfoy saiu com sua cunhada nos ombros e sua esposa logo atrás dele nas escadas. Ele seguiu até o quarto de visitas, depositando-a na cama e dizendo, antes de sair do quarto:


“Bem... se você precisar de alguma coisa Narcissa, me chame.”


Narcissa assentiu com a cabeça e correu para a janela, para fechá-la, devido ao forte vento frio que entrava, quando Bellatrix disse:


“Nem se dê ao trabalho de fechar a janela, Cissa. O clima frio constante de lá me deixou com resistência às baixas temperaturas.”


“Oh, Bella...” disse Narcissa, voltando para o lado da irmã e jogando-se em seus braços, com lágrimas silenciosas escorrendo pelo rosto.


Depois de um curto espaço de tempo, a bruxa mais velha disse:


“Cissa, como eu senti a sua falta...”


“Oh Bella, e eu! Todos os dias eu ficava na esperança de que eu iria ver você outra vez, e esse dia nunca chegava. Lucius já havia cansado de dizer para eu parar de torturar a mim mesma.”


Pela primeira vez em tanto tempo, Bellatrix se entregou e chorou. E chorou fortemente, como se estivesse tirando um peso de seu ombro. Narcissa, sentindo suas lágrimas quentes caindo sobre o seu vestido, apertou ainda mais o abraço e passou uma mão para a parte de trás da cabeça da, pressionando-o contra o peito, com a necessidade de que sua irmã se sentisse segura naquele momento.


“Shhh, está tudo bem agora, Bella. Eu vou cuidar de você até você ficar bem outra vez, como fazíamos quando éramos criança, se lembra? Uma cuidava da outra contra as maldades na nossa mãe.”


Elas ficaram assim por um momento, nessa mesma posição, até que, lentamente e entre sussurros...


“Cissa, eu... confesso que achei que fosse morrer. Eu senti medo, eu... eu temi morrer em Askaban por conta daqueles dementadores malditos. Eu não poderia morrer de uma forma tão covarde... Para uma Comensal fiel como eu, não, aquilo era humilhação. E, bom, eu também não poderia deixar, uh, você e o meu sobrinho, o Draco. Vocês são a minha família.”


Ouvir tais palavras da boca de Bellatrix Lestrange, a mais fiel Comensal da Morte, a mais dedicada seguidora do bruxo mais temido de todo o mundo mágico, o Lorde das Trevas, ainda que estivesse se importando com a sua reputação, era uma das últimas coisas que esperava. Ela, que sempre foi tão corajosa e amedrontadora, sempre era temida por outros bruxos que sempre se curvavam aos seus pés, hoje estava ali, chorando como uma criança nos braços da sua irmã mais nova e confessando ter temido a morte. Narcissa surpreendeu-se um pouco com tal declaração, é verdade, mas no fundo ela era uma bruxa como qualquer outra, ela tinha o direito de desabafar, apesar de tudo.


“Bella, calma, está tudo bem. Você está aqui, não está? E eu estou aqui, Draco também está. Nós estamos juntos. Não há o que se preocupar...” A irmã disse, confortando-a, sem entender porque não considerava Lucius e seu próprio marido, Rodolphus, como sua família.


Seguiu-se mais um momento de silêncio, e as irmãs continuavam daquele mesmo jeito: Bellatrix chorando silenciosamente e abraçando fortemente Narcissa, que também chorava, mas apertava Bella o mais apertado que podia, com o intuito de expressar o quanto estava preocupada com a irmã. Até, que finalmente, o silêncio é quebrado e ela disse, deixando o abraço para secar as próprias lágrimas e as da irmã:


“Certo, vamos lá. Vamos tomar um banho agora, não? Vou buscas algumas toalhas, algumas roupas minhas e outras coisas a mais para você poder usar.”


“Obrigada Cissa, mas eu mal consigo ficar de pé, você vê. Então você terá de me ajudar.”


“Certo, então, Bella. Venha...” Narcissa estendeu as mãos para a irmã com um sorriso calmo no rosto. Bellatrix fez biquinho, mas logo deu um pequeno sorriso e segurou as suas mãos.


 


Já despida de suas roupas, a irmã mais velha mergulhava lentamente o seu dolorido corpo na água já quente. Merlin, como era bom, voltar para casa, tomar um banho de água quente... Havia anos desde a última vez que ela vez isso.


Acomodando-se melhor, largando a cabeça para trás e seus braços na beira da banheira, ela deixou um suspiro longo escapar, mas foi interrompido por uma rápida expressão de dor.


“O que houve?”


“Não interessa”, Bellatrix respondeu, escondendo os braços na água novamente, ao lado do seu corpo.


“Por Merlin, o que são essas manchas roxas na sua pele?” Narcissa ajoelhou-se ao lado da irmã, tocando-lhe delicadamente o machucado.


“São machucados, não vê? São de Askaban, se ainda não lhe caiu à memória. Mas isso não é importante, Cissa. Esqueça.”


“Mas é lógico que é importante, Bellatrix. Veja o tamanho dessas manchas, a dor que devem estar lhe causando...” Delicadamente, Narcissa depositou um beijo no ombro da irmã mais velha. “Eu não posso imaginar o que aquele maldito lugar fez com você, Bella. Mas se eu soubesse disso antes, eu teria feito Lucius convencer o Ministério de soltar-te antes de lá.”


Bellatrix sorriu tristemente para a irmã, fazendo-a beijar a sua bochecha suavemente, fechando os olhos. “Eu me importo com a minha irmã, não pense você que não. Além do mais, aquele lugar horrível...”


“Shhh, chega, Cissa. Não quero falar sobre isso. Eu estou aqui agora, não estou? Pois então...”


“Oh, sim, certo. Venha cá, deixe-me lavar seu cabelo, que por sinal, está precisando de uma lavagem e uns bons tratamentos...”


Bellatrix riu. Sua irmã era uma das únicas pessoas que ela deixava fazer comentários semelhantes a esse sobre sua aparência. Não que ela não se irritasse, porque sim, ela sentia uma pequena raiva dentro dela. Mas era a sua irmã, afinal, e fazia tanto tempo que não se viam, que Bellatrix realmente não se deu ao trabalho de retrucar.


Em seguida, a morena mergulhou a cabeça na água quente, molhando os cabelos para facilitar a lavagem. Com o primeiro contato da irmã nos seus fios, Bellatrix respirou fundo e fechou seus olhos. Narcissa escorregou as mãos calmamente por entre os longos cachos em sua frente. ‘Eles estão péssimos’, pensou. Despejando um pouco de uma poção avermelhada, ela massageou a cabeça, fazendo um leve aroma floral subir, apesar do vapor do chuveiro quente. Com as mãos ainda ensaboadas, ela as deslizou para o ombro e, em seguida, para os braços da irmã.


“Cissa?”, perguntou Bellatrix. “O que está fazendo?”


“Pensei que tivesse pedido para te dar banho.”


“Ah, sim. Continue.” disse, com ar de riso. Com isso, ela levantou da banheira, deixando com que a bruxa mais nova lavasse suas costas e quadris.


“Pronto. Agora lave-se na sua frente. Você sabe, isso já é íntimo o suficiente.” E elas riram.


 


Depois de terminado a lavagem e vestido uma roupa de Narcissa, – uma camisola preta longa de alça, com alguns detalhes rendados acima do peito – Bellatrix caminhou de volta para o quarto e sentou-se na penteadeira para ter seus cabelos penteados por Narcissa.


"Lembra-se de quando éramos crianças, Bella, quando ficávamos dessa mesma maneira que estamos agora, penteando o cabelo uma da outra, e depois dormíamos juntas? A mamãe não gostava; ela dizia que uma Black não..."


"Pfff, 'mamãe'. Cissa, você a chama de 'mamãe' mesmo depois de tudo o que ela fez conosco? Todas as maldições lançadas contra nós sem ao menos uma explicação, as vezes em que ela quase te matou, se não fosse por mim, você não estaria mais aqui, e você ainda a chama de 'mamãe'?" respondeu Bellatrix, indignada.


"Bella, olhe... independente, ela continua sendo nossa mãe..."


"Você realmente tem um coração de ouro, Cissa. Eu não seria capaz de perdoá-la."


"Bem, deixe isso para lá. Vou pedir aos elfos trazerem um suco de abóbora e uma sopa para você se alimentar, enquanto trago roupas de cama para ajeitar onde irá dormir."


 


Após a refeição e a cama arrumada, Narcissa sugeriu que Bellatrix fosse dormir, pois ela precisava descansar, oras. Precisava de um pouco de conforto depois de tanto tempo dormindo nas camas duras e pequenas daquela maldita prisão. Bellatrix concordou, mas pediu para que fizessem como nos velhos tempos. Pediu para que dormissem juntas ao menos essa noite, pois ela sentia falta disso e de todos os momentos que passaram juntas, e... Antes que a irmã começasse a chorar novamente, Narcissa tirou a sua capa e colocou-a em cima do banquinho da penteadeira, e atirou-se na cama para o lado dela. Com a cabeça encostada no ombro da bruxa caçula, Bellatrix deposita um beijo demorado lá.


"Eu te amo, Cissa." ela disse.


"Eu também te amo, Bella."


E com esse último pensamento, Bellatrix adormeceu nos braços da irmã. Por tanto tempo não sentia-se protegida, mas também confortável, como agora.

~~~~~

Bem... está aí. Minha primeira fanfic. Espero que gostem, apesar de não ter sido lá essas coisas... mas para quem começou agora até que está bom, não?
Bom, deixem suas revisões. Reviews sempre serão bem vindas. ;)
Gabrielle Gomes. 

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