O jogo e o beijo part II



Estávamos sentados em alguns degraus próximos a Sala Comunal, o ambiente era calmo e silencioso, ao contrário da festa que acontecia na Sala. Suspirei e recostei minha cabeça na parede de pedra fria, olhando Remus de soslaio. Ele permanecia com os cotovelos apoiados nas pernas, olhando suas mãos como se fossem a coisa mais interessante do mundo.


- Obrigada por me tirar de lá. – ele sorriu e me olhou dando de ombros. – Sério, não nasci para ser famosa.


- Tudo bem. O que você fez hoje foi impressionante. – Me endireitei e passei as mãos no rosto, suspirando, eu não achava tão impressionante assim – Está com dor? A queda foi bem feia... Pra dizer a verdade achei que...- ele não precisou continuar, eu também fiquei com medo do pior.


- Um pouco dolorida, mas Madame Pomfrey disse que até amanhã não estarei sentindo nada – esperava que ela não estivesse se referindo somente as dores por todo meu corpo, mas também àquela vergonha que me preenchia no momento, o orgulho ferido e, por mais que não quisesse admitir, a inveja de Lene.


- Que bom...- Remus passou um braço pelo ombro e me deu palmadinhas consoladoras – Vai ficar tudo bem. Pelo menos aquele nojento foi expulso e nós ganhamos alguns pontos à custa da quase morte de Sirius, valeu a pena o sacrifício.


Olhei incrédula para Remus, não imaginara que ele fosse capaz de dizer algo tão terrível, embora cômico.


-Que foi, E.? Até eu mereço fazer uma brincadeirinha como essa de vez em quando.


Ele riu e eu não pude evitar fazer o mesmo. – É, mas dez pontos não foram a única coisa que ganhei. Fui presenteada com uma semana de detenção, vou auxiliar alguns funcionários até sexta.


- Ta brincando? Você salvou uma vida e recebe detenção?


- É, mas eu também ataquei um aluno na frente de toda escola, sabe, esse tipo de coisa não pode parecer impunível.


Remus estreitou os olhos e começou a rir alto. Fitei-o com uma sobrancelha erguida, indagando o que era tão engraçado.


- Ninguém, nem ao menos o Professor Dumbledore, pode negar que o Nigel rodopiando no ar e estatelando no chão foi a coisa mais engraçada que aconteceu nesse castelo em um bom tempo.


Olhei-o por alguns segundos e comecei a rir também. Era fácil ficar perto de Remus, não era necessário esforço para controlar minha língua sobre o que dizer ou o que fazer. Além de tudo, ele era confiável. E foi justamente por esse motivo que abri minha boca para dizer as coisas que seguiram.


- Aproveitei meus momentos com o Professor Dumbledore hoje, para explicar minha situação e meu desejo... – Remus franziu o cenho e eu mordi o lábio, começara e teria que terminar aquilo. Contei a ele tudo, desde meu desejo de fazer parte da Ordem até o desaparecimento de Emily e Rogers, contei como expressei tudo isso ao Professor Dumbledore que, apesar de não me aconselhar a tomar tal decisão esse ano, não se opôs a mim. – E é por isso que não quero retornar no próximo ano. Vou entrar para a Ordem.


Suspirei e olhei para ele, aguardando sua resposta. Ele mantinha uma expressão séria que foi se tornando um pouco confusa.


-Não- torci o nariz, esperando que ele continuasse – Não, você não pode. – ele apenas balançava a cabeça e negava. – Você não vai fazer isso.


- Desculpe, Remus, mas essa decisão não é sua.


- Isso é sério, Emmeline. Não é uma brincadeira, não é um jogo de Quadribol com um mal entendido. É sua vida, você, mais do que qualquer um, deveria saber pelo o que aconteceu com sua irmã. Eu entendo que queira isso, mas precisa ficar e terminar seus estudos... Precisa ficar aqui.


Remus não estava fazendo sentido, aliás eu poderia entender seus argumentos, se ele não estivesse jogando-os de forma tão desordenada em minha cara. Levantei com certo esforço e fiquei de frente para ele.


- E você, acima de qualquer um, Remus, como um dos meus melhores amigos... Você...deveria me entender e respeitar minha decisão.


Suspirei, dei-lhe as costas e fui embora para a Sala Comunal. Sempre achei que Remus iria me apoiar a qualquer coisa, com exceção ao tempo que cismou em não ser meu amigo, nunca discordou de mim ou não me apoiou em um pensamento. Cocei a cabeça enquanto entrava na Sala barulhenta, como algo poderia me fazer sentir tão certa e ao mesmo tempo tirar opiniões desgostosas das pessoas que eu mais gostava?


Enxerguei Lene em meio a um grupo, ela veio direto até mim e me abraçou.


- O minha linda, eu me sinto tão grata pelo o que fez... Memme, memme... Vou escrever uma canção sobre você.


Ri do absurdo daquilo e apenas lhe dei um beijo na bochecha. – Eu não poderia te deixar sem um futuro marido.


Eu quis pular dentro da lareira assim que disse aquilo, não que não desejasse a felicidade e Marlene, apenas não queria que isso esmagasse a minha. Mas a vida era assim, nem sempre teríamos tudo e algumas vezes, eu creio que sim, ela nos reservava algo melhor.


- Bobinha, eu te amo tanto.


-Também te amo...


-Merlin, o Moony parece meio desorientado...- Rolei os olhos e também o notei entrando na Sala, parecendo procurar por alguém. Quando ele me viu e começou a caminhar forte em nossa direção, ergui o queixo e me preparei para começar a debater com ele.


- Você...- Ele estava sério demais, senti minha confiança se abalar um pouco, ele nunca estivera bravo comigo – Não pode simplesmente me dizer que não vou vê-la mais porque você vai correr pra uma morte dolorosa...- Fiz uma careta e me aproximei para que ele não precisasse gritar, ninguém mais precisava saber que ele estava me acusando de ter um desejo suicida. – Chega disso, chega de passar a mão na sua cabeça.... – ele me segurou pelos ombros de modo que eu o fitasse bem nos olhos – E chega de ser seu amigo. – Então ele me surpreendeu ao simplesmente me beijar. Ao simplesmente me envolver em seus braços, simplesmente mover seus lábios suavemente nos meus e me deixar sem reação. E no final,  simplesmente se separar de mim, suspirar e ir embora.

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