O jogo e o beijo part I



Provavelmente há por aí milhares de torcedores fanáticos por seus times em diversos esportes.  Porém em algum momento observamos um fato que torna dois times em especial extremamente rivais. Eu gostaria de descobrir o momento em que Grifinória e Sonserina haviam se estranhado tanto, ou talvez aquilo estivesse se construindo com o tempo. O certo é que, dia de jogo os corredores eram insuportáveis.


Eu procurava me atrasar o máximo possível para me juntar a todos na arquibancada, o que me proporcionara naquele dia a ouvir um comentário muito suspeito de Nigel enquanto ele e o outro batedor da Sonserina se encaminhavam para fora do castelo. Nigel não me notara seguindo atrás deles, segurara o braço de seu colega batedor e os dois foram diminuindo cada vez mais o passo até pararem, o que me fez ficar escondida atrás de uma coluna, evitando o confronto. Não consegui ouvir exatamente o que conversavam, mas Carrow o chamou de louco e Nigel o grudou na parede, apontando o dedo em sua cara.


- Não da pra trás, Carrow. Se o Black achou que mexeria comigo e ficaria impune estava muito enganado.


Em seguida Nigel soltou seu colega e continuou a caminhar. Refleti por alguns minutos sobre o que ele poderia fazer contra Sirius nesse jogo, que também era batedor. Corri em direção ao campo, contornando-o para não dar de cara com o Nigel. Eu estava de frente para a arquibancada, ao lado da estrutura de outra. Olhei todas aquelas cabecinhas saltitantes em nossas cores, tentando encontrar as meninas e Remus, mas era quase impossível daquela distancia. Voltei os olhos para o campo, os jogadores entravam e montavam em suas vassouras. Nigel e Carrow estavam à frente, o primeiro já com um sorriso vitorioso no rosto. Localizei Sirius e comecei a balançar os braços, tentando chamar sua atenção. Quando finalmente ele me olhou, foi apenas por alguns segundos, me fez um sinal com as mãos como se dissesse “Isso aí, vamos vencer”, o idiota achava que eu estava torcendo para ele. James bateu no braço dele e ambos subiram, espalhando-se em campo. O jogo iria começar.


Avistei a arquibancada principal dos professores, mais longe que a dos alunos, havia poucos ali e não consegui localizar o Professor Dumbledore. Talvez eu estivesse exagerando, Sirius sabia se cuidar, e Nigel não era tão ágil quanto ele. Mas continuei ali embaixo, juntando as mãos na frente de corpo, estreitando meus olhos para o alto para acompanhar Sirius e Nigel pelo jogo.


Notei algo estranho em pouco tempo, Nigel acertara um balaço e Carrow outro e, por mais que Sirius os defendesse, eles não iam para lugar algum, davam uma volta e retornavam ao seu encontro. Millicent era outra batedora da Grifinória e estava ajudando Sirius. Eu sei que balaços são imprevisíveis e era isso que me preocupava. Eles não pareciam seguir para onde eram batidos e sim constantemente retornavam na direção de Sirius.


- Estão enfeitiçados! – Eu gritava o mais alto que conseguia, mas ninguém poderia me ouvir. Mas Sirius claramente já sabia que algo não ia bem.  Acho que o restante dos torcedores só percebeu algo quando Sirius parou de rebater os balaços e começou a tentar escapar deles. Não sei bem o que eu fiz, ou por que fiz, mas corri para dentro do campo com a varinha em mãos e os olhos no alto. Sirius fez uma manobra contornando uma das arquibancadas para se desviar de um balaço, mas foi atingido em cheio por outro, chocando-se com a estrutura, uma viga quebrou, não causando risco suficiente de desabamento, mas Sirius ficara preso nela, inconsciente, enquanto sua vassoura caía. Apontei para ela:


-Accio Shooting Star! – era o modelo que ele usava, como me explicara em nossa ‘aula de vôo’. Agarrei a vassoura e procurei ajuda dos outros jogadores. Acontece que o time sonserino, quase inteiro, bloqueava os Grifinórios, impedindo-os de ir ao resgate de Sirius. Não entrei em negação, subi na vassoura e me joguei na direção dele. Aquela situação era minha culpa, eu precisava consertar.


De longe avistei o outro balaço indo na direção dele, o atingiria e dessa vez ele cairia da altura de 30m. Me esforcei para me colocar entre ele e o balaço, mirando na direção do mesmo. – kadabrus! – um lampejo negro saiu pela minha varinha e atingiu o balaço que diminuiu a velocidade, mas pouca coisa. – Reducto ! Diffindo maximus! – Eu os lançava, exaustivamente, mas um balaço era um objeto criado para resistir ao mais forte material mágico que um batedor poderia utilizar. – Confringo! O lampejo foi o maior e mais assustador, nunca tinha utilizado tal feitiço, o balaço explodiu como fogos de artifício. Me desequilibrei, mas logo me pus ao lado de Sirius. Havia sangue escorrendo pela sua testa, o cabelo todo grudado pelo mesmo em seu rosto. Eu não era forte o suficiente para carregá-lo comigo. Poderia levitá-lo dali e de fato, comecei a fazê-lo, porém a viga cedeu e Sirius caiu quase sobre mim, minha varinha escorregou por entre os dedos para que eu pudesse segurá-lo e, de maneira desenfreada começamos a ir, rápido demais, em direção ao chão. Quando estávamos chegando, tentei puxá-lo um pouco mais para perto e diminuir a velocidade. A verdade é que o impacto deve ter sido um pouco pior que o primeiro dele e ambos rolamos na grama. Se ele não tivesse desmaiado antes, provavelmente o faria de novo. – Sirius!! Fala comigo, vamos lá! Acorde! – Me arrastei para o lado dele, chacoalhando-o demasiadamente forte. Eu não sabia o que acontecia ao meu redor, mas os gritos me levavam a perceber o desespero do pessoal que começava a descer em nossa direção.


- Emme, Cuidado! – A voz amplificada de Remus me acordou para o ambiente, de dentro da estrutura que Sirius atingira, saía o primeiro balaço. Eu pude perceber várias coisas. Remus e vários outros alunos correndo em nossa direção. James discutindo com Nigel nas alturas, vindo em nossa direção após também perceber o outro balaço e Sirius abrindo os olhos, extremamente confusos.


- Oh Merlin.- Me joguei em cima de Sirius, sabia que os balaços estavam enfeitiçados para atingi-lo. Porém quando escutei o estrondo, não eram minhas costelas sendo quebradas pelo impacto, disso eu tinha certeza. Olhei para o alto e creio que nunca vou ficar tão surpresa com uma cena em toda minha vida. Um sonserino mantinha a varinha erguida, os olhos escuros e fixos em nós. Régulus Black salvara seu irmão traidor.


Quando Remus chegou até nós, Madame Pomfrey também o fazia juntamente aos professores. Lene estava ao lado de Sirius e Lily ao meu, ela achara minha varinha, felizmente inteira, e me entregara me abraçando apertado. Ou pelo menos acho que foi tudo isso que aconteceu. Eu sabia que Lene se mantinha ao lado de Sirius e que alguém me entregara uma varinha e me abraçara com extrema preocupação. Sabia também que várias partes do meu corpo deveriam estar doendo, porém tudo o que eu sentia era o ódio crescendo e subindo por minhas entranhas. Todos os jogadores estavam no chão, em particular um grupo me chamava atenção. O irmão de Sirius parecia estar discutindo com Nigel e era a ele que meu ódio estava direcionado. Avancei sem medir pensamento, ação ou conseqüências.


- Verme desgraçado! Você poderia tê-lo matado!


- Não faço idéia do que está dizendo!- Não vou dizer do que ele me chamou depois de se fazer tão cínico, porque não me importou.


- Expelliarmus – Ele me viu apontar a varinha, mas o desarmei antes que pudesse fazer algo – Eletricus! – Como um raio, o feitiço saiu pela varinha e o atingiu no peito, fazendo-o rodopiar no ar e cair, seu corpo tendo espasmos. Ergui a varinha novamente e entreabri os lábios, e foi aí que ela me escapou pelos dedos. Dumbledore estava ao meu lado, segurando minha varinha.


 


 


 
 


 


Nigel podia ser mau, mas não era tão esperto. Um feitiço de Dumbledore revelou a última travessura de sua varinha, mostrando assim que tinha amaldiçoado os balaços contra Sirius. Este estava internado na ala hospitalar e possuía uma enfermeira muito dedicada. Eu estava sentada na cama ao lado de Sirius, observando Lene cuidar dele com tanto carinho. Ele havia desmaiado novamente e não tinha aberto os olhos desde então, Madame Pomfrey disse que não haveria maiores danos e que logo ele se levantaria para arrumar outra confusão.


Tentei explicar que aquilo tinha sido minha culpa, mas a única pessoa que realmente me dera ouvidos fora o Diretor Dumbledore. Em seu escritório ele me anunciara que Sonserina fora desclassificada da Copa das Casas e Nigel, expulso de Hogwarts. Grifinória tinha ganhado 10 pontos pela minha coragem de ir ao resgate de um colega. Mas aquela cena que eu presenciava no momento não me fazia sentir como se tivesse ganhado algo. Suspirei e me retirei da enfermaria, com o braço enfaixado e o orgulho ferido. Eu tinha me jogado na frente de um balaço por Sirius, na presença de toda escola, o que só me fazia imaginar ser motivo de piada.


- Obrigado, Emme. – James e Lily estavam do lado de fora me aguardando e me acompanharam até a Sala Comunal.


- Você foi como uma super-heroína, Line. Estou tão, tão orgulhosa. – Lily estava de braços dados comigo, encostei a cabeça em seu ombro enquanto andávamos.


- Eu disse a vocês, precisava consertar aquilo que foi minha culpa...- Suspirei e pude perceber de canto de olho o olhar que James lançava a Lily.


- Nós sabemos, minha amiga. Mas não altera o fato de ter sido o ato mais corajoso que já vi em minha vida.


Assenti e continuamos, eu não poderia discordar. Aqueles pequenos momentos de ação me levaram ao ápice, e embora eu tivesse o sentimento de derrota perante Sirius e Lene, eu também tinha ainda mais a certeza de que estava desperdiçando um grande tempo permanecendo aqui ao invés de estar lá fora.


Quando chegamos a Sala Comunal, eu estava preparada para comentários maldosos, mas o que encontrei quando entrei, foi quase como uma festa. Todos gritavam e batiam palmas, me lançando saudações. A cada passo que eu dava, recebia um abraço  ou algo como um ‘valeu por hoje’.


- Uau, como ela é adorada. – Eu chegara ao jovem de cabelos castanhos e olhos âmbar, que me acolheram carinhosos. Pela primeira vez após o incidente no campo, eu me senti no lugar certo. Não disse nada, mas minha expressão poderia mostrar o suficiente para ele imaginar que eu me sentia perdida, porque me abraçou e levou para fora da Sala, me proporcionando alguma paz, ou foi isso que eu pensei que seria...


 


Continua...

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