Capítulo 13: Pitseleh



15 de junho de 2008, um mês depois




O enorme espaço do jardim de trás dos terrenos de Bailicroft estava decorado para o 50° aniversário de Sirius Black. Justino tinha exagerado um pouco na decoração, talvez, mas não era uma surpresa considerando que era, afinal, Justino... Um homem que contrataria uma banda pra hora que acordasse se pudesse.


O gazebo e a tenda foram arrumados para festa e estavam enfeitados com guirlandas de flores, hera e balões brilhantes. As mesas foram arrumadas com toalhas de linho e espalhadas em lugares estratégicos para o jantar de gala planejado para noite. Uma banda céltica com oito membros tocava uma música delicada, porém viva, no palco armado no gazebo, onde algumas pessoas dançavam. No canto oeste do jardim, foram preparados jogos para as crianças, e convidados se misturavam nas longas mesas de apoio que tinham os petiscos e bebidas.


Umas 200 pessoas estavam presentes, mas o jardim era grande o suficiente de modo que não pareciam amontoados. As grandes portas francesas que levavam até a casa estavam abertas e as pessoas iam de um lado para o outro, conversando e rindo. Todos se divertiam e fingiam muito bem que não estavam olhando Harry Potter de canto de olho.


Ele estava se misturando, como todo mundo, e estava sorrindo, como todo mundo. Se ele estava um pouco mais magro que o normal, ninguém comentou. Se o sorriso dele não alcançou seus olhos, ninguém pareceu notar. Se as pessoas cuidadosamente evitavam falar o nome de Hermione perto dele, faziam parecer natural.


Laura e Gina estavam sentadas em um grande banco de balanço na varanda coberta dos fundos, fazendo a social enquanto muitos amigos passavam e davam os parabéns pela ótima festa. O convidado de honra e sua família estavam no quintal, cercados por bajuladorese pessoas desejando "tudo de bom". Harry estava perto de Sirius, conversando com Artur Weasley. Laura e Gina o observavam sem comentar nada uma com a outra.


-Como ele está hoje? – Gina finalmente murmurou.


-Parece bem – Laura disse. –Ele nos ajudou a organizar a festa.


-Ele teve dor de cabeça hoje?


-Acho que não. Já não tem há alguns dias.


-Bom – Gina tomou um gole de sua bebida. –Sirius me perguntou se eu achava que Hermione poderia voltar, pra essa festa. A idéia foi principalmente dela... de fazer aqui, quero dizer.


Laura suspirou. –Não sei. Ela voltará quando estiver pronta, não só por causa de uma festinha.


-Sinto falta dela.


-Eu também. – Laura finalmente olhou Gina nos olhos, forçando um sorriso.


As semanas desde a partida de Hermione foram difíceis para todos. O efeito chicote emocional havia sido inacreditável. Primeiro, a notícia que não só Hermione tinha retornado, mas que também tinha achado um jeito de curar Harry... e depois, no vácuo dessa notícia, que ela partira pra algum lugar num tipo de busca de visão pessoal. Laura lutara com o ressentimento por Hermione tê-la deixado sem dizer nada a ela ou a ninguém, mas chegou ao entendimento que a amiga não confiava que manteria sua decisão depois de uma série de adeus... E essa viagem, qualquer que tenha sido o ímpeto, era importante suficiente para ela sacrificar as formalidades de sua partida. Todas informações eram... bem, escassas era uma descrição caridosa, mas Laura tinha certeza que o que quer que tivesse acontecido com Hermione quando estava procurando a cura de Harry, fora traumático suficiente para fazê-la ultrapassar seus limites.


Quanto a Harry, sua recuperação fora difícil e demorada. Ele acordara menos de uma hora depois que Hermione partira, meio doido com a desorientação. Sofreu dores neurológicas intensas durante vários dias, e era atacado por dores de cabeça ocasionais. Laura estava a seu lado quando ele recobrou a consciência, junto com Sirius e Cordelia e Molly Weasley. Bem pior do que vê-lo com dor, fora ver aquele horrível olhar perdido que apareceu em seu rosto quando compreendeu que Hermione não estava lá, que ela não ia estar ali. Ele não entendeu e não estava em condições de ouvir nenhuma tentativa de explicação. Laura nunca esqueceria o som dele chamando por Hermione em seu sono perturbado, sua voz parecida com a de um garotinho, perdido e implorando. Passaram muitos dias antes que ele pudesse sentar e conversar com Sirius sobre o que acontecera e o que Hermione dissera antes de partir.


Laura gostaria de saber como ele se sentia sobre isso. Ele entendia? Estava com raiva? Magoado? Apoiava? Não tinha idéia, pois Harry não falava sobre isso. Tinha balançado a cabeça em todos os momentos certos enquanto Sirius explicava a situação o melhor que podia, e suas respostas foram todas racionais... Um pouco até demais na mente dela. –O que ela precisar – ele dissera, olhando para o lado. –Se ela precisa ficar só, tudo bem – ele dizia agora, mas com freqüência demais, como uma mantra. – Ela salvou minha vida. – ele lembrou. Estava certo sobre isso, é claro. O que permaneceu cuidadosamente não discutido foi que ninguém, nem Sirius, nem ninguém sabia o que custara a ela pra salvar a vida dele, porque ela não dissera a ninguém. Napoleon não lembrava de como ela influenciara na cura de Harry, ou ao menos era o que ele dizia e Hermione com certeza não estava contando.


Era isso que mais preocupava Harry, Laura suspeitava. O custo de sua cura. Ela não imaginava como era saber que a mulher que você ama mais que tudo tinha salvado sua vida por meios desconhecidos que a levaram para longe de você.


O que mais ele poderia estar pensando, o que quer que ele pudesse estar sentindo, Laura sabia que Harry sentia uma imensa falta de Hermione. Ele parecia menor de alguma forma, menos ele mesmo. Ela o via às vezes olhando por cima do ombro, como se a esperasse a qualquer momento. Sua risada virava uma memória distante e toda sua autoconfiança que trabalhara pra ter em sua vida adulta parecia agora evaporar de seus ombros, deixando-o meio encolhido. Mesmo agora, quando estava sorrindo e cercado por amigos e amados, parecia estar um tanto distante e isolado. No mínimo esta experiência estava dando a ele uma pequena amostra de como fora para Hermione quando ele sumira.


Laura esperava plenamente que essa fuga polarizasse as emoções entre os amigos de Harry e Hermione. Ela achava que alguns ficariam zangados com Hermione e outros a apoiariam. Esse cisma nunca se concretizara. Os amigos que tinham em comum não se separaram num tipo de "time de Harry" e "time de Hermione", como Laura temia que acontecesse. O consenso parecia ser que Hermione não faria o que fez sem um bom motivo, e a sensação predominante em relação a ela era entendida como "preocupação". Alta prioridade foi dada aos cuidados com Harry e com apoiá-lo o máximo que pudessem durante sua recuperação.


Mas este dia não era pra Harry, era pra Sirius. Laura continuou na varanda enquanto os convidados se reuniam perto do grande bolo colocado sob a sombra do cedro. Sirius, sua esposa e seus filhos estavam em volta dessa monstruosidade de quatro camadas vinda direta da cozinha de Jorge, sorrindo e rindo enquanto Remo acendia as velas sacudindo sua varinha. Harry ficou perto, de pé ao lado de Gina, que se afastara um pouco quando começaram a acender as velas. Enquanto Laura olhava, Harry colocou um braço companheiro em volta dela. Draco, que estava do outro lado de Gina, piscou pra seu ex-inimigo. Fred e Jorge estavam acendendo fogos de artifício que diziam "Feliz aniversário Sirius", invenção especial deles, e todos os reunidos começaram a cantar "Ele é um bom companheiro", acompanhados pela banda irlandesa, que parecia se divertir com todo espetáculo.


Ninguém notou a figura adicional de uma mulher, de pé sozinha embaixo do plátano no canto da casa, com a mala a seus pés.




Hermione virou o canto da casa bem a tempo de ver Remo acendendo as velas do bolo. Todos estavam reunidos ao redor do cedro e logo começaram a cantar para Sirius, que riu antes de assoprar as velas sob aplausos e assovios.


Ela sentia como se estivesse flutuando, planando em algum ponto sobre toda essa alegria e calor num exílio imposto por ela mesma que esperava terminar agora.


Não conseguia ver Harry. Avistava rapidamente cabelos vermelhos em todos os cantos. Lá estava Fred, que era facilmente distinguido de seu gêmeo agora que usava óculos enquanto Jorge não. Lá estava Gui, charmoso como sempre. Viu Artur e Molly parecendo confortavelmente distintos em seus ainda recentes cargos de Primeiro Casal da comunidade mágica britânica. Não viu Gina, mas havia muitas pessoas em volta de Sirius e seu campo de visão estava bem bloqueado. Harry estaria ali, perto de seu padrinho.


Hermione fechou os olhos. De algum estranho modo, quase não queria vê-lo na multidão. Isso tornaria tudo muito real. Enquanto ela estivesse ali sem ser notada, poderia manter sua antiga fantasia do retorno ao lar, na qual ela corria pros braços de Harry e ele a abraçava e a beijava e tudo estava perfeito... Mas se ela de fato o visse, teria que encarar a realidade da volta, que poderia não ter muito a ver com sua fantasia.


Ela abriu os olhos novamente, determinada a seguir adiante... E da forma que o destino queria, quando ela os abriu se achou olhando diretamente nos olhos de Harry. A multidão se abrira e lá estava ele, de pé ao lado de Gina e olhava pra ela com uma expressão de surpresa no rosto. Hermione sentiu alguma coisa que doía apertado dentro de si aliviar um pouco ao vê-lo. Ele parecia tão bonito e saudável e... inteiro. Ele parecia inteiro.


Sirius virou para Harry e ia dizer alguma coisa pra ele, mas notou na mesma hora que a atenção de Harry estava em outro lugar. Assim que Sirius a viu, tudo parou. Os amigos reunidos, todos que olhavam Sirius, começaram a virar pra ver o que era tão interessante e em instantes todos olhavam pra ela. Um murmúrio correu a multidão, mas ninguém parecia saber como reagir. Ela podia ver algumas pessoas sorrindo pra ela, o que era um alívio... Uma parte dela tinha se convencido que voltaria e descobriria que todos a odiavam. Ela viu Gina fazer menção de avançar e então hesitar, olhando em volta e notando que mais ninguém se movia.


Previsivelmente, Laura quebrou o gelo. Ela estava separada dos outros, mais atrás, perto da varanda e é claro, não se importava se mais ninguém se mexia, se Laura queria fazer alguma coisa, ela fazia... E o que ela fez agora foi gritar - Hermione! - com uma voz alegre e correr pela grama para abraçá-la. –Ah, querida! –gritou, empurrando Hermione pra trás um passo, tamanha força da recepção. –Graças a Deus você voltou!


Hermione abraçou a amiga em resposta, a animação da recepção de Laura aumentando seu ânimo consideravelmente. –Laura, como está? – ela perguntou.


Laura não teve chance de responder, pois suas boas-vindas puxaram as outras. Dezenas de pessoas se apressaram para cercar Hermione, as vozes animadas se misturando em um turbilhão que a inundava e encobria tudo mais. Por algum acordo mental de coletivo, todos ignoraram a falta de reação de Harry e começaram a falar com ela como se esperassem que voltasse hoje. Ela recebeu abraços de Gina e Cordélia e Justino e um abraço um pouco entusiasmado demais de Napoleon.


-Então, onde raios se enfiou? – A questão de Cho superou o barulho. Uma risada natural seguiu a pergunta.


Hermione tentou dar um sorriso casual. –Vou contar qualquer dia desses. – respondeu.


Sirius abriu caminho, seu largo sorriso fazendo o alívio correr pela espinha de Hermione. Apesar dele parecer ter entendido quando ela partiu, sabia que muito do peso da recuperação de Harry deve ter caído nos ombros dele... E se alguém tinha o direito de ficar com raiva dela, era Sirius. Mas ele parecia feliz em vê-la. –Hermione, bem-vinda de volta – disse e lhe deu um caloroso abraço. –Vá com calma – sussurrou em seu ouvido.


Ele se afastou e deliberadamente virou e sorriu para Harry que ainda estava de pé perto do bolo. As pessoas em volta pareceram se abrir como o Mar Vermelho para limpar o caminho entre eles. –Harry – Sirius disse. –Olha quem apareceu.


Harry avançou devagar. Hermione deu alguns passos na direção dele, conseguindo evitar que seu lábio tremesse. Harry parou a vários passos tímidos dela, seus olhos no chão, encarando os pés dela, e por um longo momento ninguém disse nada ou se mexeu. Finalmente, Hermione não podia mais agüentar. Começou a ir até ele, levantando os braços como que para abraçá-lo. –Harry... –falou. Ele fez um gesto pequeno, sutil que ela não conseguia descrever ao certo... Um leve inclinar de cabeça, uma pequena mudança na postura. Ela parou onde estava e abaixou os braços. Ainda estavam cercados por amigos e família, que observavam em silêncio.


-Você... – ele começou, sua voz falhando um pouco. Ele limou a garganta e recomeçou. –Você veio pegar suas coisas? – só então ele a olhou nos olhos.


O queixo de Hermione caiu um pouco. –O qu... minhas coisas... não! Não, Harry... eu voltei pra casa!


Ele balançou a cabeça que sim, um sorriso forçado no rosto. –Como vai você?


-Estou bem – ela se ouviu dizer através de lábios pesados. –Você?


-Bem – ele abaixou os olhos pelo corpo dela e voltou a olhar seu rosto. –Parece bem.


-Obrigada – uma dormência se espalhava em todo seu corpo. –Você também – ela estava mesmo conversando trivialidades com ele? Uma surrealidade tomava seu campo de visão.


Harry fez uma pequena careta e ela viu que ele achava essa situação tão ridícula quanto ela. Fazia com que se sentisse melhor. –Entre – ele disse. Passou por ela e entrou na casa.


Hermione hesitou. –Harry... o que...


Ele parou e virou. –Entre. – repetiu. Hermione o seguiu, pegando sua mala. Podia ouvir os murmúrios atrás dela.


Harry andou pela casa, ignorando todos que falavam com ele. Hermione ia atrás dele, atraindo olhares e comentários dos convidados que estavam lá dentro e não viram seu retorno. Harry a guiou, como ela sabia que guiaria, até o Cloister. O quarto deles.


Ela olhou em volta. Era como se não tivesse partido. Não voltara até Bailicroft quando saiu da DI, estava muito chateada e confusa. Parecia que tinha acabado de sair do quarto. O livro que estava lendo ainda estava no criado-mudo ao lado de sua cama. Um de seus casacos estava nas costas de uma cadeira onde deixara. A cama feita... Podia ver um copo de água e um pequeno vidro com pílulas no criado-mudo do lado de Harry.


Ela largou a mala. Harry virou, passando a mão pelos cabelos. Balançou a cabeça. –Não sei por onde começar – disse.


-Você está bem? Só me diga isso.


Ele fez que sim. –Estou bem – suspirou. –Ainda tenho dores de cabeça de vez em quando e tenho dificuldade para dormir, mas estou bem. – ele a olhou nos olhos então e ela viu tudo o que ele passara, bem claro.


-Harry, sei que deve ter muitas perguntas...


-Só uma na verdade.


-E qual é?


-Por quê? – ele deu um passo na direção dela. –Por quê partiu?


Ela respirou fundo. –Passei muito tempo pensado em como responderia isso quando me perguntasse.


-E?


-Não tenho certeza se posso explicar.


-Tente. – ela não podia acreditar como ele parecia fechado. As emoções dele sempre eram tão claras para ela, e ele nunca ficava constrangido em dizer como se sentia. Agora, parecia que ele tinha se trancado com todas as forças.


Ela fez que sim. –Quando voltei, descobri que precisava de um tempo para pensar algumas coisas. – ela sentou no parapeito da janela. –Harry, cada pessoa tem seu limite. Deixando de lado o fato de eu ter passado toda minha vida adulta concentrada em seu bem-estar, o último ano foi muito estressante para nós dois, de uma forma boa e ruim. Me apaixonar por você foi a coisa mais fácil que já fiz, mas te amar está sendo muito trabalhoso. Primeiro a coisa com Allegra, e depois você desapareceu. Toda minha carreira mudou e me custou muitos ajustes emocionais para me tornar uma boa agente. Você voltou e por um tempo muito curto foi tudo maravilhoso, e então você adoeceu e dependia de mim fazer alguma coisa pra resolver isso, como sempre parece ser. – ela disse, um tom de amargura aparecendo em sua voz, apesar de seu controle. –Principalmente porque não confiaria em mais ninguém pra resolver.


-Nunca ficamos entediados por aqui – Harry murmurou.


-Não, realmente nunca. Harry... Depois que descobri uma maneira de te ajudar e fiquei lá sentada com você no Confinamento, fui inundada por uma exaustão. Não podia pensar mais no futuro, nem um dia, nem uma semana. Tudo o que via em minha frente era uma série de dias quando algo novo e horrível cairia sobre nós. Passamos por essa, mas e a próxima? E a seguinte?


-Sabe, lembro de ter levantado essas mesmas objeções num passado não tão distante. – ele disse. –Você disse...


-Sei o que eu disse: que um dia com você valia mais pra mim do que um ano inteiro com alguém comum. Ainda sinto isso – ela suspirou, olhando as próprias mãos. –Só precisava de um tempo. Tempo pra mim para pensar no futuro, meu futuro.


-Tempo longe de mim.


Ela balançou a cabeça que não. –Isso não foi sobre você. Espero que possa acreditar nisso. Isso foi sobre mim. – ela o olhou nos olhos. –Harry, tem coisas que quero de minha vida. Quero uma carreira, e um lar e um bom casamento e até uma família minha, um dia. E mais que tudo, quero essas coisas com você. Tinha que tirar um tempo e considerar seriamente se essas coisas eram realmente possíveis pra você e eu, por quem somos. Não pode mudar quem e o que você é e eu não ia querer que você mudasse se pudesse. As coisas que fazem sua vida perigosa são apenas parte de tudo que amo em você... Mas a verdade é que apenas te amar não é suficiente.


-Temos mais que isso.


-Sim, nós temos. – ela se remexeu um pouco. –Eu só... tinha que me lembrar quem eu sou como um indivíduo, Harry. Passei toda minha vida como um apêndice seu... Não podia seguir em frente com a gente até que tivesse um tempo para redescobrir quem eu sou, separada de você. Sei que provavelmente parece egoísta, e talvez seja, mas não posso evitar. Acho que tem horas que devemos nos dar permissão para sermos egoístas. Espero que possa entender.


Ele sentou na beirada da cama, de frente pra ela. –Tem muitas coisas que não entendo no momento – respondeu. Ainda estava tão controlado, tão cerebral. Ela só podia esperar que depois que conversassem ele pudesse se abrir pra ela de novo. –Como por que você apenas não falou comigo sobre isso antes de partir. Se você me dissesse que precisava de um tempo sozinha, teria te dado com prazer...


Ela balançou a cabeça, sem expor sua dúvida do quanto prazer ele sentiria se ela tivesse falado com ele. –Não queria que você me desse tempo sozinha. Não queria ir com sua permissão, Harry. Eu tinha que fazer isso, sozinha... E sabia que não conseguiria se falasse com você. Se eu tivesse esperado até você acordar, não conseguiria te deixar e era muito importante que eu partisse. Tinha que ser naquela hora ou nunca seria. Se eu tivesse ficado tinha medo de começar a me ressentir com você. Isso não é jeito de ir em frente.


-Certo... Aceito que isso tenha sido um grito de liberdade...


-Não faça isso. Não banalize.


Ele piscou. –Desculpe, não foi minha intenção. O que quis dizer é que respeito a necessidade da pessoa estabelecer a própria identidade, especialmente você. Mas não está me dizendo a verdade.


Ela franziu a testa. –O que... O que quer dizer?


-Quando vai me contar a verdade?


-Do quê está falando?


Os olhos dele penetraram nos dela.


-O que te custou, Hermione?


-O quê?


-Minha cura. O que te custou?


-Não entendo...


-Entende sim. Olhe, tudo que me disse faz sentido. O problema é que nada disso é novidade. Já tínhamos cuidado disso juntos. Os riscos de minha vida, seus problemas com identidade... essas são coisas das quais já falamos antes e falaremos de novo. Então por que de repente se tornou tão pesado que você teve que fugir? – ele levantou. –Só há uma explicação. Você conseguiu minha cura, mas pra alcançá-la, você deve ter feito ou desistido de alguma coisa que foi tão traumático que te desequilibrou. No tempo que passei me recuperando, ninguém me dizia como você me curou. Isso me irritou muito até que percebi que eles não sabiam. Ninguém sabe, nem Napoleon, e ele estava com você! Então agora, você me diz. O que te custou?


Hermione ajeitou a postura. Estava esperando por isso. –Lamento, mas não posso discutir isso, Harry.


Ele apenas ficou olhando pra ela por um momento. –O que? – perguntou, parecendo que honestamente achava que não tinha ouvido certo.


-Não posso te dizer.


Ele andou de um pro outro, compondo seus pensamentos. –Não pode me dizer? – ele repetiu. –Pelo fantasma de Merlin. Estava preparado pra qualquer resposta, menos essa.


-É a única resposta que posso te dar.


-Você honestamente vai ficar aí sentada, esperando que eu aceite o fato que você me deixou durante um mês e não pode ao menos me dizer por quê?


Hermione franziu a testa. –Harry... Fiz o que tinha que fazer. Parte disso envolvia manter confidencial. – isso não era precisamente verdade... esconder dele era escolha dela, não uma condição de Theo. Ela sabia como ele ficaria se soubesse o que ela pagara. Perturbaria sua mente até que não pudesse mais suportar... Ninguém tinha um complexo de culpa como seu Harry, e isso o destruiria. Ela protegeria sua estabilidade mental até seu último suspiro... tinha que fazer isso... já tinha desistido de muita coisa por ele.


-Não aceito isso.


-Vai ter que aceitar. Sabe de onde sua cura veio, não é?


-Do Guardião... apesar de ainda não saber quem ele é exatamente.


-Bom, melhor continuar sem saber. Vamos apenas dizer que o Guardião é um ser além da minha ou da sua real compreensão e eu devo cumprir o acordo que fizemos.


Ele deu um passo na direção dela, as mãos nos quadris e o queixo firme numa expressão de teimosia que ela reconheceu. –Hermione, não preocupo nem um pouco pra esse ser mítico com o qual você fez um acordo. Me preocupo com a gente. Isso não tem a ver com o Guardião, é entre mim e você. Pode me contar qualquer coisa, sabe que pode.


-Não posso te contar isso, Harry. Dói dizer isso, mas, por favor, vai ter que confiar em mim que há um bom motivo. Não é importante. O que é importante é que estou em casa agora e estou ansiosa pra conversar com você sobre minhas experiências e o que estive pensando. Isso é que preciso te contar. Temos muitas coisas pra trabalharmos juntos. Quero falar sobre o que passei enquanto estava fora e preciso que me ajude com algumas coisas que estou sentindo.


-Como podemos trabalhar em qualquer coisa que seja se você não pode confiar em mim esse segredo? Como posso te ajudar se não entendo o problema? O que quer que teve que fazer, preciso saber. Sou um adulto, posso agüentar.


-Não é questão de agüentar, Harry. Por favor, por favor, não me pergunte de novo. Não posso, só não posso. Tente entender isso.


-Ah, eu entendo. – ele disse, sua voz chegando ao limite. Ela estava quase feliz de ouvir isso, ao menos era uma expressão de emoção. –Como eu entendo que você tinha que me deixar na hora que eu mais precisava de você!


Ela pulou de pé. –Não venha pra cima de mim com essa culpa, já me sinto culpada suficiente! Precisei muito de você enquanto você estava sumido também, sabe, mas cuidei disso. Você é um homem adulto, Harry, não já está na hora de aprender a funcionar sem mim?


Ele ficou olhando pra ela, surpreso. –Desculpe se estar comigo é um trabalho tão difícil pra você!


-Ah, pelo amor de Deus, não é trabalho, mas não acha que devia se certificar que estamos bem primeiro como indivíduos independentes se queremos que nosso casamento seja saudável?


-Como pode ser saudável se você insiste em manter esse grande segredo de mim?


-Harry Potter, você guardou segredos maiores de mim durante anos! – ela exclamou. –Nunca me contou que era um agente ou que tinha uma namorada chamada Allegra, nem mesmo me contou que era um Mage até que não pôde mais evitar!


-Eu tive que guardar esses segredos.


-E tenho que guardar esse.


-Mas eu te contei tudo.


-Como posso saber isso? Não fiquei aí fingindo que não tem mais segredos de mim, Harry, porque nós dois temos. Todos têm segredos que nunca contam, mas você ainda mais que os outros porque nunca conta nada a ninguém! Quanto tempo levou pra contar a Rony e pra mim que quase foi colocado na Sonserina? Sei que não é sua culpa, foi como você foi criado, mas seu primeiro instinto é sempre esconder as coisas.


-Não de você.


-Gostaria de acreditar nisso – ela suspirou. –Harry, ninguém mais podia te ajudar. Eu busquei... bem, acho que pode se dizer que busquei um poder superior. Fiz um acordo para te curar. Teve um preço, eu o paguei. Por favor, acredite em mim, isso é tudo que precisa saber e tudo o que deve saber.


Ele balançou a cabeça com o queixo firme. –Não é o suficiente.


Hermione sentiu as lágrimas subindo pela garganta. Algo estava para acontecer ali e o temor do que estava por vir era palpável. –O Harry que eu conheço confiaria em mim – ela disse com a voz tremida. –Ele aceitaria que eu tive uma boa razão e continuaríamos dali. – o Harry que eu conheço conseguiria me dizer o que estava sentindo ao invés de argumentar logicamente, ela completou internamente.


Ele olhou atrás dela, para fora da janela. –Talvez esse Harry nunca teve que acordar com uma dor horrível, morrendo de medo, e se encontrar sozinho.


-Disse que entendia por que precisava ir, mas não entende. – ela disse, de repente mais cansada do que poderia descrever. –Você fez várias muitas viagens para se centrar, Harry. Me conhece mais do que ninguém. Não posso acreditar que você, de todas as pessoas, não pode entender por que eu precisei de um tempo pra mim.


-Talvez se eu pudesse saber o que te levou embora.


Um silêncio caiu no Cloister, um silêncio que parecia a morte. –Que pequeno círculo vicioso. – Hermione sussurrou.


Ele virou, os ombros caídos. –Isso não é jeito de começar uma vida. – disse, as palavras ditas num tom morto. –Não podemos progredir com uma coisa tão grande entre nós.


A dormência estava de volta, se espalhando por suas costas e ombros e por seus quadris. –O que está dizendo?


-Estou dizendo que não sei como isso pode dar certo se você não acha que pode confiar em mim o suficiente para me contar a verdade.


-Ou se você não confia em mim o suficiente pra aceitar que não posso – ele não respondeu. Hermione estava de pé sobre as pernas dormentes. –Harry... Quer que eu vá embora? Ou que eu fique pra gente discutir isso? Fui eu quem começou isso, farei o que você quiser. – ele ficou em silêncio, ainda de costas pra ela. Hermione sentia como se seu corpo fosse colocado ao avesso pelo silêncio dele. O pensamento que ela poderia perdê-lo de verdade por causa disso passou pela cabeça dela como uma criatura sinistra de um pântano úmido e escuro, só que ela não podia olhar a criatura, era horrível demais.


Ela virou, parecendo num sonho, e foi em direção à porta onde sua mala ainda estava. Ela a pegou, quase sem sentir a alça em seus dedos dormentes. Ah por favor, Deus, por favor, Deus, por favor, não deixe que isso esteja acontecendo, sua mente martelava varias vezes. Por favor, Deus, por favor...


-Hermione? – veio a voz dele na hora que ela ia abrir a porta.


Um alívio a atingiu como um bom golpe na cabeça. Graças a Deus, ele está me chamando de volta. Ela virou e o olhou nos olhos. Sabia que ele não ia me deixar sair...


-Adeus.


Por um horrível momento Hermione tinha certeza que ia vomitar, mas com um esforço super-humano manteve sua compostura. Com essa única palavra, dita tão suavemente, ligada a tanto arrependimento e tristeza... duas sílabas que sabia que nunca conseguiria parar de ouvir em sua cabeça.


Ela se viu como se estivesse fora do corpo enquanto colocava sua mala no chão e vagarosamente levantava a mão para tirar seu anel de noivado do dedo. Ela o colocou na mesinha ao lado da porta onde ficou brilhando sob a luz do sol da tarde que entrava pela janela. Sua mão parecia nua e incompleta sem ele. Ela o olhou nos olhos mais uma vez, mas mal podia vê-lo neles, do jeito que estavam mortos e sem expressão. Pegou sua mala novamente e foi até a porta, entretanto quando chegou lá hesitou. Falou sem se virar. –Eu te amo, Harry – disse. Ouviu a resposta dele bem claro enquanto fechava a porta atrás de si.


-Eu também te amo.




Como chegou até o quintal, Hermione nunca saberia. A luz do sol parecia brilhante demais quando saiu na varanda, a mala pesando em seus dedos como uma âncora para terra que impedia que saísse voando e se queimasse no sol.


Os convidados pareciam estar esperando alguma coisa acontecer. Todos estavam espalhados, sem fazer muita coisa, a partida do bolo esquecida, a banda em silêncio por enquanto. Quando ela apareceu na varanda, todos pararam o que faziam e viraram pra olhar. Não havia dúvidas que esperavam que duas pessoas saíssem da casa.


Ela olhou em volta até que viu quem estava procurando e saiu em linha reta pelo quintal até Gina, sem olhar pra direita ou para esquerda. Gina notou que ela vinha e se afastou de Draco para encontrá-la no meio do caminho. Hermione mantinha os olhos um pouco abaixados, sem querer ver a expressão no rosto de Gina. –Por favor, me leva pra casa, Gina –disse baixo, porém bem claro.


Gina hesitou. –Mas, Hermione... você está...


Ela a cortou, a náusea subindo ao peito novamente. –Gina, pelo amor de Deus me tire daqui antes que eu caia dura no chão. – conseguiu dizer entre os dentes cerrados. Olhou rápido para os olhos de Gina, bem rápido, mas era tudo que Gina precisava. Seus olhos se arregalaram um pouco, entendendo tudo.


-Certo, vamos lá – ela disse, colocando um braço a sua volta. Abençoadamente calma e competente, como Hermione sabia que ela estaria, Gina a puxou balançando a cabeça em entendimento para Draco, que continuou onde ele estava. Gina não falou com ela enquanto andavam até a frente da casa. Não questionaou, não perguntou se ela estava bem. Hermione manteve os olhos no chão e deixou que Gina a guiasse como quisesse. Não conseguia pensar no que acabara de acontecer, era grande demais. Logo, ela não conseguiria evitar, mas por enquanto só podia aproveitar essa dormência.




Laura viu tudo isso acontecer de onde ela estava na grama ao lado de Sirius e dos outros moradores da casa. Todos viram Hermione sair da casa e piscar ao ver a luz do sol. Seu rosto estava mortalmente pálido e fechado enquanto ela atravessava o quintal até Gina. Ela a viu falar com Gina e depois quando saíram juntas. –Ah meu Deus – Sirius murmurou. –O que está acontecendo?


-Você viu? – Laura disse, olhando para os outros.


-Ver o que?


-Ela não estava usando o anel de noivado.


Ninguém falou por um longo momento. –Não, ãh-ãh – Justino finalmente disse. –Não pode ser. – Ninguém o apoiou nessa. –Eles não podem... eles não fizeram...


Sirius apontou na direção da varanda. –Acho que eles fizeram. Olhe. – Harry acabara de sair da casa, imediatamente chamando a atenção de todos no festa. Ele apenas ficou ali na varanda por um momento, positivamente parecendo enjoado. Finalmente saiu andando pela grama e com passos determinados se juntou ao pequeno grupo.


-Bem, essa é uma festa de aniversário ou não? – disse em voz alta. –Vamos cortar esse bolo, Sirius.




A noite caíra em Londres quando alguém bateu à porta de Gina. Ela levantou de onde lia em silêncio e a abriu pra encontrar Draco, Laura, Justino e Napoleon em sua porta. –Entrem – ela disse. –Mas não façam barulho, ela está dormindo. – eles entraram, um grupo incomunmente sombrio. Draco fez uma pausa para dar um beijo nela quando entrou, e ela segurou sua mão, muito feliz em vê-lo.


Eles sentaram na bem decorada sala. Laura falou primeiro. –Certo, nós sabemos o que aconteceu? – ela disse. –Harry não está falando.


Gina respirou fundo. –Bem, eles terminaram. – um silêncio surpreso respondeu a essa declaração. –Não sei os detalhes, Hermione estava num estado e não disse nada. Apenas entrou no quarto de hóspedes e se encolheu na cama. Fiz um feitiço para dormir nela, estava precisando descansar. Ela... parecia exausta. Ela olhou em volta para eles. –Como Harry está?


-Mais ou menos a mesma coisa. – Justino disse. –Só que ele ainda fica andando de um lado para o outro, mas parece um zumbi. Ele teve uma atuação muito boa como uma pessoa legal, mas acho que ele estava quase em coma durante todo o dia.


Draco balançou a cabeça. –Que maldita bagunça – disse.


-Bem, o que vamos fazer sobre isso? – Laura perguntou, o familiar fogo do "nós podemos" aparecendo em seus olhos.


-Não tenho certeza se é nosso lugar fazermos qualquer coisa – Gina disse.


-Claro que é, eles são nossos amigos!


-Existem várias formas de se ajudar um amigo e às vezes a melhor maneira é deixá-los quietos. – ela suspirou. –Hermione pode ficar aqui o tempo que quiser, tenho espaço suficiente. Laura, pode mandar as coisas dela pela manhã?


Laura fez que sim, se largando contra as almofadas do sofá. –Não posso acreditar que isso está acontecendo. – ela murmurou.


-Eu sei – Gina disse. –Meu Deus... qual a chance de qualquer um de nós em um relacionamento se eles não deram certo? – ela olhou em volta e viu os rostos incertos. –Qual é, todos olhávamos pra eles como se tivessem o relacionamento perfeito entre duas pessoas perfeitas e que estavam perfeitamente apaixonadas.


-Acho que ninguém é tão perfeito no fim das contas – Napoleon disse, olhando para o teto.


-Ótimo! – Laura exclamou com uma veemência tão repentina que fez todos pularem um pouco. –Já estava na hora deles aprenderem que eles não são perfeitos! Idealização demais é uma coisa ruim quando se ama! Olhe, sou uma veterana em um relacionamento de dez anos baseado em uma profunda afeição e respeito mútuo então posso falar sobre isso com alguma autoridade e estou dizendo que se você entra em um relacionamento achando que nunca vão se machucar e ninguém nunca vai fazer nada errado pelo motivo errado então só está preparando para você mesmo uma queda maior! – os outros pareciam impressionados com essa visão. Laura piscou, corando um pouco. –Não que não ache que eles exageraram um pouco, mas...


-Ainda assim, Gina está certa. – Justino disse. – Isso me desanima um pouco mesmo.


-Vamos ter que está presente para os dois. – Gina disse. –Os dois vão precisar de muito apoio. Não é nosso lugar escolher lados ou marcar o campo. Somos amigos deles, é nosso trabalho estar com eles em tempos de crise.


-Mas não vamos esquecer nosso outro e mais importante trabalho – Justino disse. Os outros olharam confusos para ele. –Planejar, idealizar e preparar como vamos fazer com que voltem.


Uma de silêncio seguiu por um momento. –Vamos precisar de um fluxograma – Napoleon disse.


-Gráficos.


-Um diagrama organizacional.


-Códigos secretos.


-Quem tem pergaminho e algumas penas?




Napoleon sentou em uma das mesas redondas da cantina da DI, olhando a bandeja em sua frente. Harry já estava sentando, silenciosamente comendo seu curry. –Ei, patrão – ele disse.


-Ei.


Napoleon lançou um olhar desinteressado por cima do ombro de Harry e viu Hermione sentada do outro lado, com sua amiga Shay Daley. Harry, claro, estava ciente de sua presença... Por isso estava sentado nesse lugar. Numa situação onde os dois estavam presentes, Harry sempre se situava de forma que não precisasse olhar pra ela. Napoleon prestava atenção muito discretamente ao comportamento dos dois no trabalho. Era um de suas missões como membro da Operação Wombat, e único representante deles na DI.


Operação Wombat era o codinome referente à conspiração atual entre os amigos de Harry e Hermione para efetivar a reconciliação. O time da Wombat consistia dos outros quatro moradores de Bailicroft, mais Napoleon, Gina e Draco. O termo "Wombat" não tinha nada a ver com nada, e fora a contribuição estrelar de Justino. Numa das primeiras reuniões, Jorge propôs meio brincando que eles se referissem a seus planos secretos como "Operação qualquer coisa aí", na hora Justino falou do nada "Wombat", a primeira palavra que apareceu em sua cabeça. Tentaram pensar num codinome mais apropriado, mas obviamente depois do pronunciamento de Justino, tudo o que eles conseguiam pensar era Wombat, então decidiram simplesmente usá-lo. Na opinião de Napoleon, Wombat estava bom... Considerando a fonte poderia ser bem pior. Podiam ter terminado como "Operação Bobinhos" ou "Operação Peitorais Dançantes" ou quem sabe "Operação Sr. Stay-Puffy, o monstro de marshmallow".


Era tudo feito aos sussurros. Ninguém queria que Harry e Hermione suspeitassem que seus amigos estavam metendo o nariz onde poderiam não ser bem-vindos. O time se encontrava em segredo, geralmente no apartamento de Napoleon ou na Mansão Malfoy, que Draco agora possuía totalmente. Napoleon, o único no grupo que era um espião de verdade, se divertia com a ginástica que os outros faziam para evitar que fossem descobertos, mas tinha que admirar os resultados. Nenhum dos dois alvos sabia dos planos deles.


Só se passara uma semana desde A Separação, mas os planos do time estavam bem adiantados. Napoleon estava sob ordens rigorosas de observá-los no trabalho... Com ele, Gina e o pessoal de Bailicroft, os dois alvos (o termo que preferiam quando falavam em modo-Wombat) estavam quase sempre vigiados. Laura, a líder de fato deles puramente por superioridade em decibéis, matinha as observações por escrito, separados em duas categorias "Encorajador" e "Preocupante". Até agora, as páginas estavam igualmente preenchidas. Em "Encorajador" tinham algumas pistas no comportamento... Os dois alvos estavam comendo e dormindo mal, os dois pareciam distantes e preocupados, os dois pareciam mal quando achavam que estavam sozinhos. Também havia o fato de que nada fora feito para interromper ou desfazer os planos do casamento. Os convites ainda estavam em caixas em cima da mesa de Hermione e a organizadora do casamento ainda não fora notificada.


Em "Preocupante" tinham quase o mesmo número de comportamentos. Ambos alvos ainda pareciam determinados a ignorar a existência do outro e resistiam a conversar qualquer coisa sobre a separação. Os dois ainda fizeram o que poderiam ser considerados gestos simbólicos... Harry tirara a foto de noivado deles que estava pendurada na sala de Bailicroft e Hermione deixara vários itens significantes quando levou suas coisas para a casa de Gina, o mais notável foi o colar que ele dera pra ela de natal e a foto emoldurada dele que deixara em sua mesa. O mais perturbador por algum motivo era que os vinham nos últimos dias se referindo um ao outro como o "ex". Nos dois lados a palavra fora quase empurrada pra fora, mas foi dita. Tudo isso foi relatado e discutido durante as reuniões informais do time. Laura fizera o calendário, passara ordens para cada um e liderou um brainstorm para formularem estratégias.


Napoleon achava que Laura estava levando isso a sério demais.


-Como está o curry? – ele perguntou a Harry, e foi sentando para comer seu sanduíche de atum.


-Ehh, precisa de alho. – Harry levantou a mão e um recipiente com alho voou do carrinho de temperos e veio até sua mão, simples assim. –Terminou seu relatório do...


-Já. Está em sua mesa.


-Ótimo. Qual foi sua recomendação?


-Acho que devemos mandar um time agora mesmo. Não queremos dissidentes do Círculo aparecendo na costa do pacífico, não é?


-Realmente não. Quem pensa em mandar?


-Murdoch. Ele tem o melhor time de informação infiltrada.- Napoleon hesitou. –Pode-se considerar uma operação conjunta com VCI. Não faria mal ter uns dois agentes de vigilância no quadro, e também um interrogador experiente.


Harry concordou. –Pode ser bom mesmo. Vou falar com Isobel depois do almoço.


-Conseguir agentes pode ser complicado. Todos estão ocupados com as preparações para grande missão que vão começar em Florença no final do mês. –Napoleon não precisava lembrar Harry que Hermione estava escalada para ter um papel significante na operação em Florença que logo seria lançada pela sua divisão. Harry podia não falar com ela ou olhá-la nos olhos, mas isso não significava que ele ainda não tivesse interesse.


-Ah, certo. Bem, não faz mal perguntar.


Comeram em silêncio por um momento. –Ouviu que Disraeli Taylor vai se transferir para cá?


-Claro, eu aprovei a transferência dela.


-Ah, é verdade. – esse era um assunto que causava um pouco de ansiedade em Napoleon ultimamente. Disraeli Taylor era encarregada do escritório avançado da CIOS em Nova Iorque e era a agente mais condecorada da divisão de Harry, o que não era pouca coisa considerando que a CIOS incluía quase setecentos agentes ao redor do mundo. Ela era quase tão famosa nos círculos da DI quanto Harry era no mundo mágico em geral. Corriam vários rumores que ela seria a substituta de Harry se e quando ele fosse promovido, o que aconteceria um dia. Ela era um tipo de pessoa simples, impassível que vivia, respirava e dormia trabalho de inteligência e por acaso também era simplesmente boa nisso... quase tanto quanto Harry.


-Depois de Galino, ficamos com pouca gente experiente – Harry dizia. –Vieram poucos agentes para CIOS das últimas turmas de recrutas. Fico feliz que ela tenha requisitado a mudança.


Napoleon colocou seu sanduíche sobre a mesa. –Patrão, eu devia procurar algum lugar para me transferir?


Harry piscou sem entender. –Por quê?


-Bem, ela é tão... você sabe, tão Disraeli e tudo... e sei como você se sente sobre mim, só pensei que na hora que ela chegasse aqui...


-Ela seria minha nova vice? – Harry deu um risinho. –Jones, a capitã Taylor vem pra ficar no lugar de Galino. Vai supervisionar os times de campo, só isso. Além disso, já tenho um vice.


Napoleon sorriu, absurdamente tocado pela declaração dele. –Obrigado, Harry.


-Sem problema. Falei de coração.




-Então... Quem fala primeiro hoje? – Laura disse agitada, seu grande caderno da Wombat aberto diante de si. –Gina, por que não vai primeiro?


-O que quer saber?


-Ela vem dormindo?


-Um pouco. Mas não muito bem. A ouvi levantar duas vezes ontem.


-Já a viu chorar?


-Não, não vi nem ouvi ela chorar nem um pouco. Isso me preocupa, na verdade... depois de um trauma como esse, você tem que chorar. Acho que ela tem medo de que se começar, não consiga parar. Ela anda pra lá e pra cá num tipo de transe e finge que está tudo bem... Mas não está. No outro dia, ela estava sentada no sofá, lendo um livro e não virou a página durante mais de meia hora.


-Ele está do mesmo jeito. – Napoleon disse. –Age como se ela nem existisse, mas tudo o que faz é ficar olhando pra ela, quando acha que ninguém está observando.


Laura suspirou. –Isso deve ser uma tortura. Ainda interagem no trabalho, não é?


-Não tanto quanto você pensa. Trabalham em divisões diferentes, podem evitar muito contato se tentarem. Mas acho que tiveram alguns... Momentos desconfortáveis.


Justino falou. –Algum dos dois vai para a festa do Dia do Ministério? – esse evento anual comemorava o aniversario da fundação do Ministério Britânico e era celebrado com uma grande e elaborada festa na sede do Ministério. Era no final de semana mais próximo do Dia do Ministério, dia 30 de junho, cada ano a festa tinha um tema diferente. Ano passado, tivera tema latino e Harry e Hermione deram um grande show, dançando um energético e sexy tango enquanto os convidados olhavam e aplaudiam. Uma foto dele a baixando com uma mão só quase até o chão saiu na primeira página do Profeta e as pessoas ainda falavam sobre isso.


-Não sei – Gina disse. –Hermione não falou nada.


-Harry é mais ou menos obrigado a aparecer – Napoleon disse. –acho que o ouvi combinando com Sirius.


-A maior parte do Corpo de Executores é fortemente recomendados a ir – Justino disse. –Isso incluiria Hermione.


-Isso pode ser... constrangedor. – Draco disse.


-Especialmente depois do espetáculo que deram ano passado. As pessoas vão esperar que repitam a performance.


-Qual o tema desse ano?


-Os anos cinqüenta. Sabe, martinis, plástico nos móveis, bandas grandes. Ouvi uma das organizadoras falar em servir petiscos e fazer um abrigo anti-bombas falso.


-Ah, que ótimo – Laura gemeu. –Então todos vão estar dançando swing. Não poderiam pendurar logo um cartaz dizendo "Todo mundo! Fiquem olhando Harry e Hermione e nos poupem o trabalho"?




A festa do Dia do Ministério era tipicamente extravagante. O Grande Salão na sede do ministério, um espaço cavernosamente grande para duas mil pessoas, estava cheio de estrelas prateadas que brilhavam e giravam decoradas ao estilo dos anos 50. O chão tinha um mosaico, os móveis tinham estampas coloridas de chintz e sim, capas de plástico por cima. Os pratos eram de vidro Depressão e os talheres pastéis, a comida do tempo do pós-guerra e a música era um ritmo constante de rock-and-roll antigo e grandes sucessos de bandas.


Gina e Draco circulavam, encontrando e cumprimentando as pessoas... apesar de praticamente só Gina falar. Draco estava previsivelmente quieto, e ninguém esperava mais dele. Gina estava distraída, apesar de fazer o melhor parar disfarçar. Ela olhava Harry com um olho e Hermione com o outro. Harry estava sentado na mesa perto do buffet, às vezes com Sirius ou Napoleon e às vezes sozinho, com um copo de gin e tônica enquanto Hermione às vezes circulava cuidadosamente pelo salão, mantendo uma distância mínima de segurança da mesa dele.


Hermione viera com sua amiga Shay e alguns outros novos agentes de sua turma de treinamento, mais notavelmente o alto e esbelto americano Lloyd Llewellyn, que dava a ela uma certa atenção especial... Atenção que ela não estava exatamente ignorando. Lloyd entrara para divisão de Estratégias e Gina falava com certa autoridade que ele ficara com um brilho nos olhos ao saber da Grande Separação. Ele estava sendo esperto, pelo que Gina podia dizer. Não pedira diretamente que ela o acompanhasse à festa, nem agia como se tivessem ido juntos.


Nem Harry nem Hermione tinham posto os pés na pista de dança. Como todos esperavam, a música incluía muito swing e Gina notara várias pessoas olhando os dois com curiosidade, como se esperassem que alguém desse o primeiro passo. Gina não ia esperar nem sentada. Estavam, como de costume, ignorando firmemente um ao outro.


Gina levou Draco até a mesa ao lado da pista de dança onde os Wombats montaram seu acampamento informal. Laura e Justino já estavam lá, junto com o namorado de Justino, Stephen, que apesar de não ser um membro oficial, era um tipo de integrante auxiliar. Justino tomava um Martini e Laura atacava uma pilha de petiscos, um pequeno cemitério de palitos se formando ao lado de seu prato.


-Isso é muito divertido – Justino disse, parecendo irritado. Esvaziou seu copo de martini e pegou a azeitona de seu palitinho, que tinha um símbolo de radiação na ponta. –Bem vindos a "Cenas do Casamento de Meus Pais". Não sei o que esperamos que aconteça.


-Provavelmente nada. – Gina disse suspirando. –Cansei. Estou esperando que um dos dois vá embora para que a pressão diminua. Talvez então eu possa me divertir um pouco.


-O que uma garota tem que fazer pra ser convidada a dançar por aqui? –Laura resmungou.


-Querida, encher a cara de petiscos não grita exatamente "Adoro Dançar".


-Ah, vá se ferrar Bichinha.


-É sr. Bichinha pra você.


-Ótimo. – Stephen disse. –Isso me faz Sra. Bichinha. Parece bem digno.


Hermione se aproximou então, dando um sorriso um tanto largo demais. –Boa noite, pessoal. Divertido, não?


-Adoro petiscos – Laura disse.


-Dá pra notar – Hermione disse, olhando divertido para a pilha de palitos no prato de Laura. –Festa bonita – ela disse, olhando em volta. –Acho que gostei mais do tema do ano passado.


-Ah, não sei. Adoro capas de sofá de plástico – Justino sorriu, dando cotoveladas em Stephen.


-Vou lembrar disso – Stephen respondeu, piscando.


A banda começou outra música swing. Hermione não mostrou nenhuma reação, apesar da música provavelmente ter lhe lembrado muitas coisas. Gina olhou seu rosto por um momento, mas não percebeu nada. Continuaram batendo papo, a música tocando ao fundo enquanto outros casais dançavam.


Todos ficaram surpresos quando um homem bonito, de bom físico parou ao lado de Hermione. –Olá, Hermione – ele disse.


Ela sorriu para ele. –Olá, Sasha. – ele era estranho para Gina, mas Hermione parecia conhecê-lo. Hermione fez um gesto para mesa. –Pessoal, este é Sasha Smith, ele é o vice de Isobel... De um certo modo, meu chefe também. Sasha, estes são meus amigos. Gina Weasley, Draco Malfoy... – Sasha apertou a mão deles. –E esses dividem a casa comigo. –Laura Chant e Justino Finch-Fletchley, e o companheiro de Justino, Stephen Eastman.


O amigo de Hermione parecia um cara legal. Depois das apresentações, ele virou novamente para Hermione. –Ouvi dizer que você dança swing muito bem, Hermione.


Gina viu Hermione ficar um pouco tensa. –Um hobby que tenho, é verdade. – ela disse.


-Ouso dizer que também sou muito bom.


Hermione deu um sorriso educado. –Mesmo?


-Sim. Fiz umas aulas e costumava freqüentar clubes quando morava nos EUA. – seu sorriso se alargou. –Poderia me conceder uma dança? Mostrar a esses amadores como é a coisa de verdade?


-Seria muito legal, mas eu...


-Vamos lá. Não dançou nada a noite toda. A banda é ótima, seria uma vergonha perder a música boa. – ele esticou a mão.


Hermione cedeu. –Certo, então. Obrigada. – ela pegou a mão de Sasha e ele a guiou até a pista de dança. Gina se inclinou para frente, bem como todos na mesa. Sua barriga estava revirando um pouco e não era por uma sensação boa. Que diferença fazia se Hermione dançasse com um cara que conhecia do trabalho?


A banda começou uma nova música e Sasha guiou Hermione em alguns passos básicos de Lindy.


Depois de trinta segundos todos na mesa faziam caretas. Apesar do que dissera, Sasha não era um dançarino de swing. Tinha um conhecimento rudimentar dos passos básicos, mas era desajeitado e inexperiente. Até Gina, que não era mestre de dança, podia ver que era quase inapropriado ele tentar dançar com alguém tão talentosa como Hermione. Não ajudava o fato de todos que estavam dançando, estarem de olho neles. Gina se sentia envergonhada por Hermione, que tentava sutilmente levar Sasha de volta para o ritmo, sem conseguir. Sasha parecia não notar sua própria falta de ritmo, entusiasmadamente dificultando os passos bem além de suas habilidades.


Gina sentia como se olhasse um acidente de trem. Não queria olhar, mas não conseguia desviar os olhos. Uma puxada em sua manga lhe distraiu. Era Laura. –Olhe – ela sussurrou, apontando para o outro lado. Gina seguiu seu dedo e viu o que ela indicava.


Harry olhava Hermione dançando com Sasha, uma expressão de desconforto no rosto. Seus lábios estavam curvados numa expressão de desgosto, e depois de tentativa quase desastrosa de Sasha de fazer um giro, que quase terminou com Hermione caindo de costas, ela viu Harry revirando os olhos.


Gina gradualmente começou a notar que quase todos perto da pista de dança olhavam sorrateiramente de Hermione, presa na pista, para Harry, olhando o espetáculo irritado. A situação inteira era angustiante. Gina não conseguia imaginar o que se passava na cabeça de Hermione.


Para alívio de todos, a música chegou ao fim... Mas o alívio foi curto, pois quando a banda tocou outro swing Sasha, incrivelmente, segurou Hermione na pista de dança, apesar de suas tentativas bem óbvias de tentar escapar. Gina ouviu murmúrios circulando entre os convidados... E pararem abruptamente quando Harry levantou.


Todas as atenções se voltaram a ele, exceto é claro a de Sasha. Ele continuava dançando de forma determinada. Harry levantou, virou o copo e baixou o copo sobre a mesa com força suficiente para que o gelo pulasse sobre a tolha. Deu largos passos até a pista de dança e deu um tapinha no ombro de Sasha. Ele parou de dançar e virou, surpreso.


-Posso cortar? – Harry disse. Todos o ouviram claramente, até a banda. Sasha parecia confuso. Hermione olhava Harry com expressão surpresa no rosto... E nem um pouco de apreensão.


-O quê? – Sasha perguntou.


-Cortar. Quero interromper.


-Bem, devo dizer... – Sasha parou pelo meio, sua firmeza hesitando diante do olhar direto e implacável de Harry. –acho que... se você... – deu um passo para o lado.


-Não acredito nisso – Laura sussurrou. Gina estava sem fala. Todos em volta desistiram de fingir que não estavam olhando e observavam abertamente. Ninguém mais dançava. Todos simplesmente olhavam enquanto Harry segurava a mão de Hermione e eles começavam.


Gina não conseguiu evitar o sorriso enquanto os olhava dançar. Era como se tivessem dançado no dia anterior, quando na verdade fazia meses. Moviam como se fossem uma só pessoa, passos rápidos e certos e tão habilidosos, fazendo os passos mais difíceis e ainda parecerem fáceis e comuns. Todos ficaram de queixo caído quando Harry jogou Hermione no ar, a segurando pela cintura e jogando-a por cima do ombro de modo que ela caísse de pé e entrasse novamente nos passos. Os observadores batiam palmas e assoviavam enquanto eles giravam e viravam.


Gina gostaria de estar entusiasmada assim. Apesar de ser bom vê-los dançar juntos novamente, se sentiria melhor se um dos dois sorrisse. Havia alguma coisa bem mecânica na coisa toda... E então ela percebeu. O sempre fora tão especial ao vê-los dançar era o sentimento que eles exalavam, a sensação de que na hora que entravam na pista de dança o mundo deixava de existir. Olhavam um no olho do outro e o que quer que houvesse entre eles, os envolvia como uma nuvem invisível.


Essa sensação desaparecera agora. Não olhavam nos olhos um do outro, e não estavam envolvidos em nada. Era como assistir a dois estranhos dançando.


Quando a banda terminou a música, simplesmente parou de tocar, sem começar outra música, como se também estivessem curiosos sobre o que estava acontecendo. Harry e Hermione afastaram-se quando a música parou. Sasha, que ainda estava próximo, olhou de um para o outro e parecia bastante confuso. Harry olhou para ele. –É assim que é pra ser. – ele disse, seu tom ríspido. Olhou para Hermione. Apesar de sua expressão não ter mudado, Gina percebeu que ele balançou um pouco a cabeça em cumprimento. Voltou para mesa onde estava, pegou seu casaco e saiu do salão sem olhar para trás.


Hermione o olhou saindo com um olhar chocado. A nudez de sua expressão era estranha para Gina, acostumada com ver sua amiga guardada. Depois de alguns segundos de silêncio, Hermione deu a volta e saiu apressada da pista de dança pelo outro lado. Gina ia levantar, mas Draco colocou a mão em seu braço.


-Não –disse, seu primeiro comentário desde que tinham sentado ali. –Deixe-a em paz.


Gina sentou novamente. A festa continuou e ninguém discutiu a estranha dança que presenciaram Gina começou a se perguntar se incidente entraria no caderno de Laura como "Preocupante" ou "Encorajador".




Uma semana depois...




Quando Harry chegou em casa, sabia que estava vazia. Cho estava fora da cidade, Laura estava na Nova Zelândia, em seu final de semana de relatórios para seu Ministério, Justino e Stephen haviam ido até Sheffield visitar os pais de Stephen e Jorge estava visitando Fred. Imaginou se tinham coordenado as ausências de propósito, para lhe dar um tempo sozinho.


Colocou a capa em seu gancho de costume, seus olhos fitando por um momento, como sempre faziam, o gancho onde a capa dela ficava. Colocou sua pasta no chão, cheia de trabalho que ele não encostaria, como fizera nas outras noites.


Entrou na cozinha, com vagos pensamentos em sanduíches e parou abruptamente quando passou da porta.


Allegra estava sentada à mesa, com um prato de biscoitos que Jorge deixara pra ele.


Ficou olhando pra ela por um momento, sem conseguir processar o que via. É isso, pensou. Fiquei maluco. Doido. Piscou e balançou a cabeça. Ela ainda estava ali, olhando pra ele com um sorriso no rosto.


Ela parecia diferente. Usava calça jeans e um simples blusão cinza, seus cabelos negros presos numa longa trança que repousava em seu ombro. Seu rosto não tinha maquiagem, a franja enrolava sobre a testa. Ela parecia, Harry constatou assustado, quando ele a conhecera.


-Boa noite, Harry. – ela disse calma. –Parece que viu um fantasma.


O primeiro impulso dele era se lançar em cima dela e bater até desmaiasse, mas isso não parecia normal quando ela estava apenas comendo biscoitos. Reações e pensamentos conflitantes batalhavam dentro de sua cabeça. Finalmente, decidiu ir com a maré, por enquanto, e descobrir o que ela queria. Sentou ao lado dela, cuidadosamente mantendo a varinha à mão. –Se importa em me dizer como entrou aqui? – ele perguntou baixo.


-A porta da frente estava aberta.


-Essa casa está protegida de cima a baixo.


-Essas proteções foram feitas para manter longe quem está com intenções hostis. Não vim aqui machucar ninguém, Harry.


Ele pensou por um momento. Ela estava absolutamente correta, os feitiços estavam configurados para manter longe apenas pessoas não amigas. Se ela conseguiu passar por eles, não devia querer nenhum mal. –Então por que veio aqui? – ele disse, mantendo os olhos sobre a mesa.


Ela pegou outro biscoito. –Preciso de um motivo para visitar um velho amigo?


-Não somos amigos. Nunca fomos.


Ela fez beicinho com lábio inferior. – Ohhh. Isso machuca, de verdade.


Ele apenas olhou para ela. –Se veio aqui pra fazer a cena da Vilã Sarcástica de novo, juro que vou...


Ela levantou a mão. –Não vim. – empurrou o prato de biscoitos para longe e cruzou as mãos sobre a mesa, sua expressão estranhamente séria. –Vim aqui pedir sua ajuda.


Por momento, Harry se perguntou se de fato ficara louco. –Desculpe – ele disse. –Podia jurar que disse que veio aqui pedir minha ajuda.


-Sim – ela o olhou nos olhos então, e então a outra resposta sarcástica que Harry pensara secou em seus lábios. Se não a conhecesse tanto, juraria que ela estava aterrorizada. –Não confio na opinião de mais ninguém.


Harry riu pelo nariz. –Você confia? Se confiasse em minha opinião não teria se alistado para lutar contra tudo que defendo!


Ela fechou os olhos por um segundo. –Pode me ouvir, por favor? Estou cercada por pessoas que pensam iguais, mas não tem ninguém no Círculo que eu respeite. Estão todos ocupados demais me bajulando e se curvando e fazendo seus caminhos até o circulo mais interno para oferecerem uma conversa honesta. – ela balançou a cabeça. –Me encontro em um território estranho, Harry. Estou lutando com... – ela respirou fundo. – com um dilema moral.


Isso foi suficiente. Harry começou a rir, uma risada alta, sem conseguir se conter. Allegra apenas ficou sentada, se remexendo na cadeira. –Um dilema moral! – ele gritou. –Ah, acho que quebrei alguma coisa – se forçou a se acalmar. –Um dilema moral de fato. Isso vindo de você cai na categoria de "irônico".


-Hei, você acha que isso me deixa feliz? Não pedi por isso, sabe. Estava feliz e satisfeita com meus negócios...


-Seus negócios de chantagem, destruição e assassinato.


-Precisamente. Quando de repente... Bem, lá estava.


-Lá estava o que, exatamente?


Ela hesitou e pareceu meio relutante em continuar. Harry a olhou mais cuidadosamente. Estava pálida e parecia cansada, o que era incomum... Ele não lembrava de Allegra parecer nada além de uma figura com uma boa e vibrante saúde. Ele estava começando a ter uma sensação estranha dessa visita inesperada. Ele quase ousava ter esperança dela estar tendo dúvidas sobre ser a vilã. A possibilidade de perdê-la como inimiga através de um tipo de mudança de sentimentos dela era o que ele mais esperava há um tempo. Ela era uma bruxa muito poderosa, talvez a mais poderosa que ele conhecera. A idéia de tê-la do lado do bem era bem atraente.


-Eu... eu... – ela gaguejou.


Ele se inclinou mais pra perto. –Me diga – ela de repente balançou a cabeça que não, violentamente.


-Não posso.


-É ele? O mestre? Tem medo dele?


-Teria também. Ele poderia me matar com um pensamento. Faria isso se soubesse que estou aqui.


Harry franziu a testa. O que quer que tivesse levado ela ali, devia ser importante o suficiente para justificar o risco. –O que está acontecendo? Me conte, Ali. Solta a língua. – com surpresa, notou que tinha chamado ela de "Ali", que era como se referia a ela quando estavam juntos.


Ela respirou fundo e inclinou o queixo para frente, imponente. –Estou aqui por causa de uma coisa que o Mestre me pediu... Bem, mais me mandou... fazer. Algo tão ruim que nem eu posso justificar.


-O que foi?


-Os detalhes não são importantes. Vamos dizer que... posso ser alguém que você chama de vilã, mas não sou um monstro.


Harry olhou triste para ela. –Allegra, você matou uma pessoa inocente disfarçada de Hermione para me fazer acreditar que a mulher que eu amava estava morta.


-Então está dizendo que eu sou um monstro.


Ele deu de ombros, despreocupado. –Nunca gostei muito de rótulos.


-Talvez esteja certo. Se alguém tem o direito de me chamar de monstro é você. Mas... Tem algumas coisas que nem eu tenho estômago pra fazer. Não sou sadista, Harry, ou psicopata. O que faço, faço por um motivo. É parte do trabalho.


Ele balançou a cabeça que não. –Como você justifica casualmente sua complacência em mais assassinatos do que eu poderia contar.


-Quero dizer que tudo que faço é parte de um plano, feito para levar a algum objetivo – ela o olhou nos olhos. –Não posso justificar causar dor e sofrimento por nenhum motivo aparente.


-Está dizendo que é isso que o mestre está te pedindo pra fazer?


Ela fez que sim, os olhos virados para mesa. –Não sei o que está errado comigo.


Ele deu um meio sorriso. –Está tendo uma crise ética.


-Ah, é esse o nome?


-Entendo por que não reconheceu.


-Então...O que eu faço?


-Quer que eu diga exatamente o que fazer? Fácil! Saia do Círculo, pare de matar pessoas, derrube todo o mal e volte para DI comigo. Podemos conversar sobre um asilo. Podemos conversar sobre todas as coisas.


Ela fungou. –Fale sério.


-Não pareci sério?


-Harry, não estou no mercado para uma mudança de vida aqui. Só preciso de um conselho. Olhe, já estou nisso há tanto tempo, nem tenho mais uma consciência. É a pessoa mais moral que conheço.


-Te disse o que fazer.


-Seja realista.


-Não peça meu conselho se não vai ouvir.


Ela levantou abruptamente, empurrando a cadeira para trás. –Não posso deixar o Círculo, Harry. Não quero! É meu, meu lugar! É o que faço, quem sou!


-Olhe, não vou dizer nem uma palavra que deixe nem um pouco mais fácil você voltar a levar seus negócios como de costume. – ele levantou e a encarou. –As únicas palavras que vou te dizer serão escolhidas para tentar te convencer a parar – não parecia haver mais nada a dizer. Allegra virou um pouco. –Quer me dizer por que realmente veio aqui?


Ela olhou pra ele, surpresa. -Do que está falando?


-Não veio até aqui apenas pra me pedir um conselho sobre um dilema que está em suas mãos. Sabe que nunca te ajudaria com nada, nem com isso. Então o que é, aqui?


Ela suspirou, seu rosto curiosamente desprotegido. –Ouvi sobre você... E Hermione.


Harry desviou o olhar, de repente intensamente desconfortável. –É – ele disse, brincando com a ponta do casaco. –O que isso tem a ver com você?


-Acho que queria dizer que... lamento por isso. – ele levantou os olhos então, incrédulo. –Sim, você ouviu certo. Não fique tão chocado. Posso não ter as melhores coisas pra dizer sobre Hermione, mas... Bem, até eu posso ver que você dois estavam bem juntos. Não estou acima de emoções humanas, sabe. Você estava todo errado antes de estar com ela e ela também. Ver uma coisa errada como aquela dar certo, me faz pensar que temos esperanças para nossa espécie miserável afinal. Agora, bem, dá dó no coração. De todos. Até de vadias irônicas e velhas como eu.


-Espera que acredite que minha vida pessoal te fez parar pra pensar por um momento?


-Acredite no que quiser – ela falou ríspida. –Vim aqui sob uma trégua, Harry. Posso ser sua arquiinimiga e tudo mais, mas temos mais em comum do que você imagina. Até Holmes e Moriarty respeitavam o intelecto um do outro.


-Não respeito ninguém que ameaça a mim e as pessoas que amo – Harry disse, direto. Ele estava tão cansado, até continuar atento parecia um trabalho de verdade.


-Já me amou um tempo – ela disse baixo.


-Você foi boa um tempo – ele a olhou nos olhos. –Era mesmo?


-Nunca estive de seu lado, Harry. Sabe disso, não é? Tinha um trabalho a fazer desde o dia que nos conhecemos e o fiz. Pelo que sei... se houvesse um jeito melhor de alcançar meu objetivo, teria feito. Não foi pessoal.


-Foi sim.


Um silêncio ficou no ar por um momento. Harry de repente notou a surrealidade de estar ali na cozinha de sua própria casa, tendo o que poderia se passar por uma conversa civilizada com a mulher que se dedicava a destruí-lo. Ela se sacudiu um pouco e pareceu voltar ao presente. –Enfim, só queria dizer... Lamento por tudo. É uma fase difícil. – ela sorriu de repente, como se acabasse de ter uma idéia. –E hei, se sentir amargo e precisar de uns caras pra engrossar pra ela ou algo do tipo...


Harry a interrompeu. –Fique longe dela – ele disse, seu tom mortal.


Ela deu de ombros. –Foi só uma idéia. – ela pegou sua capa de onde tinha colocado na cadeira. –Certo, Harry. Trégua terminada. Vou embora, então.


-E quanto a seu dilema moral?


-Esqueça isso. Vou achar uma solução, como sempre. – ela levantou a sobrancelha. –Da próxima vez que nos vermos podermos tentar nos matar de novo.


Harry riu apesar de tudo. –Vou esperar ansioso.


-Com certeza é menos confuso – ela andou em direção à porta, mas parou quando chegou perto dele. Quando falou de novo, sua voz era baixa e hesitante e parecia estranha vindo dela. –Menti mais cedo. – ela disse.


-Quando? – ele disse, mantendo os olhos desviados.


-Quando disse que não foi pessoal – ela respondeu, a voz rouca. Antes que ele pudesse abrir a boca para responder, ela inclinou a cabeça na direção dele e o beijou na boca, virando a cabeça dele na direção dela colocando uma mão no queixo dele.


A princípio, Harry ficou surpreso demais para reagir. Antes que seu cérebro cansado e confuso pudesse processar essa mudança de eventos, tudo que estava consciente era de uma mulher estar beijando-o e era bom. Hermione, pensou. Ah, Hermione... Como senti sua falta... como senti falta disso...


E passou apenas um segundo ou dois antes que a mente de Harry lhe lembrasse do fato de que era Allegra que o beijava, mas ele já estava respondendo, sua boca retornando o beijo dela e seus braços a envolvendo.


Com um grunhido de surpresa e desgosto, Harry a empurrou para longe o mais forte que podia. Ela cambaleou pra trás e caiu contra a bancada da cozinha. –Do que está brincando? – ele disse, esfregando a boca com as costas da mão.


-Não pareceu se importar – ela disse. –Talvez não esteja com o coração tão partido quanto fez o mundo acreditar.


A raiva inundou a visão de 4Harry como brilhantes fogos de artifício. Sem um momento de hesitação, ele se virou e a socou na boca. A cabeça dela virou para o lado, mas ela manteve a base e quando ele se preparou para outro golpe, ela o bloqueou rapidamente e o atingiu com o dorso da mão no rosto. Os dois se desequilibraram um pouco, se encarando sob o calor pouco iluminado da cozinha de Jorge. Harry sentia seu estômago revirar, sua pele formigando com a repugnância da memória do toque dela e como ele respondera cegamente, como um animal encurralado. –Saia de minha casa - rosnou.


Allegra levantou a mão até a boca e limpou o sangue do canto de seus lábios, olhando a ponta manchada de seus dedos. Olhou para ele e seu sorriso despreocupado e sarcástico sumiu de seu rosto. Era uma expressão familiar que ele reconheceu pelo que era... Uma máscara. –Aposto que esse incidente vai assombrar seus sonhos durante algumas noites, Potter – ela disse.


-Pesadelos, isso sim.


-Como quiser – ela passou por ele, parando na porta. –Sempre beijou muito bem, Harry. É uma pena que não tem ninguém pra aproveitar no momento. Me chama se quiser praticar. – ela piscou pra ele e saiu, sua risada deixando rastros atrás de si enquanto sumiam paulatinamente.


Harry procurou as costas de uma das cadeiras da cozinha e conseguiu sentar antes de suas pernas cederem, seus joelhos tremendo e tremores subindo e descendo sua espinha até que se recompôs.


Ele abriu os olhos e viu o prato de biscoitos ainda na mesa, um deles faltando apenas uma mordida. De repente, seu braço esquerdo se esticou e ele derrubou o prato da mesa. Quebrou contra parede, biscoitos e pedaços de cerâmica quebrada voando para todos os lados e caindo no chão desorganizadamente. Harry deixou a cabeça cair contra a mesa e durante um longo momento apenas ficou sentado, ouvindo seu estômago revirar e desejando poder desaparecer. Pelo menos assim nunca teria que se olhar no espelho novamente.




Harry ficou olhando o pergaminho em branco diante dele da mesma forma que fizera durante dias seguidos, debatendo consigo mesmo. Enfim, chegou a uma decisão.


Trancou a porta de sua sala e abriu uma pequena gaveta contendo uma caixa comprida. Dentro da caixa, estava uma caneta de vidro oco e elaborado, uma caneta sem tinta alguma.


Harry colocou a pena sobre o pergaminho e escreveu, as letras fluindo da caneta vazia. –Potter chamando – escreveu.


Depois de uma pequena pausa, a resposta apareceu abaixo de suas palavras, escrita por uma mão invisível. –North aqui.


Colocou a pena sobre o pergaminho novamente. –Por que não fui contatado?


-O que você quer, Harry?


-Sabe o que eu quero.


-Não estou com ânimo para jogos de adivinhação. Declare seu assunto.


-Vai me contar o que aconteceu entre Hermione e o Guardião?


-Acho que "não" não é uma palavra suficientemente forte.


-Preciso saber. Preciso saber como fui curado.


-Depende de Hermione te contar ou não o que achar adequado. Não devo discutir os assuntos do Guardião.


-Alguma coisa aconteceu, eu sei.


-Sem comentários.


-Sabe o que está acontecendo aqui embaixo?


-O Guardião vê tudo, Harry. Sabe disso.


-Então sabe que nós terminamos por causa disso.


-É uma pena.


-Alguém na rede deve ter ajudo-a a alcançar vocês. Ao menos me diga quem.


-Vamos, Harry. Como um membro da rede, conhece as regras. Não posso divulgar os nomes de outros membros. Deve trabalhar isolado.


-Acho que sei quem foi.


-Não perca tempo me contando sua teoria. Não posso confirmar ou negar nada.


-Teve que ir pra escola aprender a ser tão irritante? – a escrita de Harry ficava apressada e agitada, mas North parecia entender bem.


-Vem com o trabalho. Mais alguma coisa?


-Sim. Quero falar com o Guardião.


-Ninguém fala com o Guardião.


-Para com isso. Se isso vai me custar a única mulher que já amei então acho que mereço receber respostas diretas de alguém ai de cima.


-O que quer que ache que merece, é irrelevante. É um membro da rede do Guardião. Lembre-se de seu lugar. Pode ser o garoto-que-sobreviveu aí embaixo, mas para nós é apenas um de milhões que nos ajudam. Sua associação conosco pode terminar a qualquer hora. Lembre-se disso... e lembre seu voto de segredo. Estamos te observando. North desligando.


Harry ficou olhando o pergaminho até todas as letras sumiram, e então, num acesso repentino de raiva jogou a caneta de vidro contra a parede onde ela se espatifou... Não que isso fizesse a menor diferença. Haveria outra dentro da caixa comprida da próxima vez que precisasse.




Hermione mantinha a mente concentrada firme na tarefa que fazia, ou seja, carregar um monte de pergaminhos. Observava sua bolha, flutuando diante dela e de vez em quando dando uns giros no ar para aliviar o próprio tédio.


Finalmente parou diante da porta da sala dele, o símbolo de raio dela encarando-a. Respirou fundo, colocou uma expressão casual no rosto e bateu.


-Entre.


Ela abriu a porta e entrou. Ele estava sentado atrás de sua mesa, escrevendo num caderno. Levantou os olhos tempo suficiente apenas para registrar sua presença e então se inclinou sobre o caderno novamente sem nenhuma mudança notável na expressão. –O que posso fazer por você, tenente? – ele perguntou.


-Estou com os relatórios de vigilância que requisitou da VCI, chefe – ela disse.


Ele olhou então. –Ótimo. – esticou as mãos e ela lhe entregou os pergaminhos. –Alguma coisa a comentar sobre o relatório oficial?


Ela deu de ombros. –Não muito. É apenas a coisa normal de um bando de capangas desmiolados do Círculo falando pelos cotovelos.


Ele fez que sim com a cabeça e colocou os pergaminhos de lado. –Obrigado.


Ela apenas ficou parada por um momento, usando sua melhor máscara de profissionalismo enquanto sua mente gritava o mais alto que podia. Harry, olhe para mim. Me veja, e pelo amor de Deus, me deixe te ver. Deixe que eu veja que está tão infeliz quanto eu. Olhe e veja que estou exausta e doente e perdida sem você. Mostre que ainda tem um coração... porque só sei que eu ainda tenho um pois toda vez que penso em você sinto que está se partindo.


Harry falou novamente, sem levantas os olhos. –Está dispensada, Agente.


Ela balançou a cabeça que sim uma vez e virou para sair. Hesitou quando chegou á porta. –Vou partir amanhã de manhã – ela disse baixo, de costas pra ele. Ele não disse nada, mas ela não ouviu a pena dele se movendo. –Pra Florença. A operação começa no final da semana.


-Eu sei – finalmente respondeu. Falou suavemente, mas ao menos o tom indiferente tinha sumido de sua voz. Ela virou, continuando no lugar que estava. Ele olhava para ela, seu rosto ainda estava cuidadosamente composto, mas seus olhos estavam preocupados.


-Estou um pouco nervosa. Minha primeira grande missão.


Ele sorriu. –Vai se sair bem.


-Vou... ficar longe por quase um mês. – diga mais alguma coisa, ela reclamou consigo mesma. Diga que não quer ir nessa missão e deixando as coisas como estão entre vocês. Ao mesmo tempo, sabia que nunca poderia dizer essas coisas pra ele, não agora. Tempo demais tinha passado. Ainda estavam se acostumando com isso... e baseado no tratamento profissional, quase frio dele nessas últimas semanas ela começara a suspeitar que ele honestamente não sentia mais por ela o que sentira um dia.


Agora, ele apenas concordou. –Eu sei.


A distância dele a matava. Ela suspirou. –Me deseja sorte?


Ele deu a volta na mesa então, se movendo com cuidado e não se aproximando muito. –Boa sorte – esticou a mãos. Hermione estendeu a sua e segurou os dedos dele nos seus num rápido aperto de mãos.


-Obrigada – ela sussurrou, saindo da sala o mais depressa que podia.




-Hermione? É você?


-Sim, mãe – Hermione pendurou a capa no cabide. Claire Granger veio da sala e a abraçou calorosamente. Hermione abraçou a mão com força, sentindo o conforto do lar sorrateiramente se infiltrando.


Claire a levou até o sofá e trouxe um chá e sentou ao lado dela. –Querida, estou tão preocupada porque vai ficar longe durante um mês inteiro. E essa missão... parece tão perigosa.


-Sabe que não posso discutir os detalhes, mãe... mas não vou estar no centro da ação.


-Se você diz. Mas tente mandar notícias sempre que puder, só pra eu saber que está bem.


-Vou tentar – Hermione bebeu o chá. –Falei com Harry hoje. – disse, baixo.


Claire olhou pra ela ansiosa. –E?


Hermione balançou a cabeça. –Ah, mãe... foi como se fossemos estranhos. Só conhecidos. Nunca me senti tão desconfortável em minha vida. Não achava que era possível me sentir desconfortável perto de Harry. Ele estava como um robô... tão frio e insensível, distante.


-Talvez ele esteja com medo. Como você.


-E do que estou com medo?


-Está com medo que seja demais.


Hermione concordou, passando um dedo pela borda da sua xícara. –Está certa. E é demais. Quando sinto que estou começando a pensar nisso, tenho que me concentrar em outra coisa rapidamente.


-Por que está afastando?


-Porque... – ela suspirou. –Porque se me permitir sentir, vai doer demais. Não vou conseguir fazer nada alem de me curvar numa bola e chorar durante dias.


-Talvez seja o que precisa.


Hermione travou o queixo. –Acho... acho que ele talvez não me ame mais.


Claire esticou a mão e segurou a dela. –Ah, querida. Tenho certeza que não é o caso.


Agora que falara seu maior medo, a língua de Hermione pareceu magicamente ter soltado na boca e ela começou a falar rápido, colocando pra fora tudo que segurava há um mês. –Toquei sua mão hoje, mãe... apenas um aperto de mãos, mas me deu vontade de morrer. E quando ele olha pra mim, não tem nada lá, nada mesmo e não sei o que fazer. – sentiu lágrimas subindo pela garganta, uma grande onda de lágrimas pra compensar todas que não se permitira derramar. Encontrou os olhos compreensivos de sua mãe. –E se for isso, mãe? E se realmente acabou? Não posso, não consigo pensar nisso, é horrível demais. É pior do que perder simplesmente meu noivo. É muito pior não tê-lo nem como meu melhor amigo. Não tê-lo em minha vida de forma nenhum é ter um grande buraco negro que puxa tudo até que não posso sentir nada alem de sua ausência. – suas palavras secaram então e ela olhou para sua mãe, seus olhos enchendo de lágrimas. Pela primeira vez desde que deixara Bailicroft ela não tentou impedi-las. –Sinto tanta falta dele, mãe. Estou... partida pelo meio.


-Eu sei – Claire sussurrou, tirando o cabelo da testa de Hermione. –Está tudo bem.


Hermione se encolheu no abraço de sua mãe e chorou, uma enxurrada livre e sem restrições de tristeza e lamento que a envenenaram por semanas, sem ser expressas e presas com força. Claire a abraçou, alisando suas costas e a confortando com palavras e frases curtas sem sentido que só as mães conseguem dizer nessas situações. Hermione se deixou ir com elas, se rendendo a essa dor que temia ser muito grande para suportar.




A Chancelaria só era acessível a pessoas que a conheciam. Como sede da Federação Internacional de Bruxos, a segurança era pesada. O prédio em si não era localizável e só permitia acesso via aparatação e só então você saberia o feitiço direcional correto.


Harry, é claro, era um daqueles liberados a ir e vir quando quisesse, então quando ele apareceu lá na tarde seguinte, ninguém achou estranho. Ele foi até a ala do prédio que levava até o escritório do vice, subindo as escadas até onde sabia que encontraria Sirius.


Seu padrinho saiu de sua sala assim que seu assistente o avisou que Harry estava lá. Seu rosto estava preocupado, pois Harry raramente aparecia sem mandar uma coruja antes. –Harry, o que houve? – perguntou.


Harry se remexeu de um pé para o outro. –Eu, hã... preciso conversar.


Sirius relaxou, suspirando aliviado. – Graças a Deus. Já estava na hora. Quer entrar, por favor? – empurrou Harry para que entrasse em sua frente no seu escritório. – Nicholas, não devo ser interrompido – ele disse para seu assistente quando passou por sua mesa.


Sirius instalou Harry em uma cadeira e sentou ao seu lado, se inclinando para frente na expectativa. Por um tempo, Harry apenas ficou sentado, se perguntando como colocaria aquilo tudo em palavras. –Me diga a verdade – finalmente disse.


-Claro que sim.


Ele levantou a cabeça então e olhou Sirius nos olhos, vendo apenas compaixão ali. – Nós estragamos tudo além de qualquer esperança de conserto?


-Bem, eu não sei. Gostaria de pensar que nada está alem de esperanças de consertos. – ele suspirou. – Harry, não sei como está sentindo. Ninguém sabe, tem estado tão... distante. Fechado.


-Sabe por quê?


-Acho que sim, mas gostaria de ouvir de você.


-Porque se eu não me fechar isso vai me engolir. Estou petrificado, por tudo. Por ela, por mim, pelo que aconteceu e pelo que pode acontecer... ou que pode não acontecer. Então ando como um robô, que é como me sinto a maior parte do tempo, falando nisso, e finjo que nada me atinge. Às vezes até funciona. – levantou de repente. –Deus, como deixei que isso acontecesse? Nunca devia ter deixado que ela saísse de Bailicroft.


-Acho que há culpa suficiente para ser distribuída.


-Eu estava tão confuso e magoado e... não sabia o que fazer ou o que pensar. Mas nunca devia ter deixado que saísse daquele jeito. Ela não queria ir, sei disso agora. Ela queria ficar e consertar as coisas. É minha culpa.


-E se foi isso? Quer dizer que tem se punir para sempre?


Harry sentou novamente, deixando a cabeça cair entre as mãos. –Tudo dói, Sirius. Dói me mexer, respirar dói, dói pensar ou falar ou sentir.


Sirius esticou a mão e puxou uma de Harry, apertando-a com força. –Eu sei.


-Ela foi pra Florença hoje de manhã.


-Ouvi falar.


-Tenho medo de ser tarde demais.


-Ainda a ama?


Harry levantou os olhos, a pergunta parecendo uma flecha direto em seu coração. –Sim.


-Então nunca é tarde demais.

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