Capítulo 11: Longo Dia de Jorn



O coração de Hermione parecia estar tão perto de sua boca que ficou impressionada de ainda conseguir respirar. Assim que a escuridão caiu, as mãos fortes de quem quer que fosse soltaram seus braços. Ela se espremeu no canto, apertando os olhos pra ver seu novo "amigo". –Mas que inferno! – praguejou. –Quem é você?


-Apenas mais uma inocente observadora – respondeu uma voz... A voz de uma mulher, bem rouca e americana e muito parecida com Eartha Kitt. Hermione a conhecia de algum lugar.


-O que você quer?


-Só te ajudar.


Hermione sacou a varinha. –Lumos! – gritou. Balançou a ponta brilhante pra um lado e pro outro. Hermione suspirou, deslizando pela parede de alivio. –Você me deu um susto e tanto, Quinn.


-Desculpe. Quando te vi indo pela rua, eu...


-Ah, inferno! – Hermione gritou, lembrando o que estava fazendo. Puxou a bússola. A tela tinha ficado completamente branca. –Droga! Eu o perdi!


-Quem, Harry?


-Sim! Ele estava aqui... Em algum lugar... E agora se foi. Culpa sua, eu quase consegui alcançá-lo!


-Eu sei! Por que você acha que te parei?


O queixo de Hermione caiu. –Do que está falando?


-Acha que Sorry estava sozinho ali? Os soldadinhos de Allegra estão em todos os lugares, se certificando que o churrasquinho deles não atraísse nenhuma atenção bruxa imprevista. Harry sabe disso, então estava usando a capa da invisibilidade, só pra você saber caso não tenha descoberto ainda porque não conseguiu vê-lo. – Hermione não disse nada, sentindo-se envergonhada... Não tinha, na verdade, descoberto. –Se tivesse ido até lá, teria exposto Harry e arruinado o disfarce de Sorry.


Hermione remexeu desconfortável, sentido de repente como se estivesse tentando fazer mais do que era capaz. –Não pensei nisso.


-Claro que não. Você não é treinada, não é seu trabalho pensar em coisas desse tipo. Por isso estou aqui.


-Como sabia?


-Remo Lupin me mandou uma coruja e me disse o que Harry estava aprontando.


-Como ele descobriu?


-Ah, eles sabem de tudo lá na DI, é melhor não perguntar como. Ele não pode fazer muita coisa sem que Pfaffenroth suspeite então me pediu pra dar uma olhada. Deduzi que você se envolveria por conta própria... Apesar de não ter sido uma dedução muito difícil... e quando eu procurei, aqui estava você, logo no encalço dele. Pensei que ia gostar de um pouco de ajuda, mais do que ele, e já que estamos nas férias de verão, não tinha muito o que fazer então aqui estou eu – ela disse com um brilho nos olhos.


-Não veio aqui pra me impedir?


-Não que eu saiba. Não seria uma tentativa inútil?


-Completamente.


-Então não vou tentar te impedir. O que é isso? – perguntou, apontando para bússola.


Hermione olhou pro objeto, sentindo-se um pouco constrangida; tinha certeza que esse talismã pareceria amadorismo desesperado para Quinn. –Bem... suspeitei que Harry iria numa jornada visionária solitária quando saiu então coloquei um talismã de ligação ao lar nele. Essa bússola está encanada para seguir os sinais.


Quinn sorriu. –Maravilha! Isso deixa as coisas muito mais fáceis. Foi bem pensado usar o talismã. Onde escondeu nele?


-Coloquei embaixo do capuz da capa dele. Estou um pouco preocupada que caia ou que se perca.


-Bem, pensaremos nisso se chegar a esse caso. Por enquanto sugiro que voltemos à bússola.


Hermione concordou. –Certo – ela virou para porta, mas Quinn a segurou pelo braço e a guiou até os fundos. –Obrigada por sua ajuda. Mas eu o encontraria mesmo assim.


-Claro – ela sorriu e deu um tapinha no ombro de Hermione. –Venha Srta Peel. Ainda vamos fazer de você uma espiã.




No sonho de Harry, ele estava sentado no salão comunal da Grifinónia, em sua poltrona vermelha e fofa favorita. Não havia mais ninguém ali, apenas o fogo brilhando na lareira a sua frente. Sentia-se confortável e bem em casa.


-Harry – disse uma voz baixinha. Ele olhou a sua volta... Sentado na poltrona ao seu lado estava seu pai. Ele o reconheceu das fotos que Hagrid lhe dera, apesar dele parecer mais velho. Ele parecia, Harry se deu conta, com como provavelmente estaria se estivesse vivo hoje. Seu cabelo preto estava cheio de mechas cinzas e havia marcas de expressão ao redor de seus olhos e dos cantos de sua boca.


-Pai – Harry disse. –Obrigado por vir. – de alguma forma não parecia surpreso de vê-lo ali.


-Como poderia perder sua formatura? – Tiago disse.


-Mas... eu me formei há dez mil anos.


-Está tão alto – seu pai disse, olhando pra ele com um sorriso gentil. Harry abaixou os olhos e viu que ele estava alto; uma parte de sua mente estava atenta ao fato dele estar mais alto no sonho do que realmente era. Seus ombros estavam acima das costas da cadeira e suas pernas se estendiam a sua frente. –Você não deveria ser tão alto. É só um bebê.


-Não sou mais um bebê, pai.


Tiago balançou a cabeça de um lado para outro devagar. –Eu tinha que estar lá pra te ajudar a crescer, e te mostrar como ser um homem – disse triste. –Por que não estava lá? Quem te ajudou?


-Os elfos me ajudaram – Harry disse.


Seu pai assentiu como se isso fizesse completo sentido. –Sua mãe também conhecia os elfos. – ele disse olhando por cima do ombro. Harry inclinou a cabeça e viu sua mãe vindo na direção deles pelo buraco do retrato. Seus longos cabelos acaju cobriam suas costas, parecia ter a mesma idade que Tiago. Hermione, usando vestes brancas e flutuantes andava de braços dados a ela. Passaram entre a poltrona dele e de seu pai sem falar com nenhum dos dois e então ficaram na frente da lareira e se olharam.


-Sua pele está branca – Lílian disse, passando um dedo pela bochecha de Hermione.


-É inverno – Hermione respondeu. –Não tive muitas oportunidades pra ver o sol.


Lílian esticou os braços e enlaçou Hermione calorosamente, alisando seus cabelos com uma mão. –É hora de ir agora – ela disse.


Hermione se afastou, concordando. Ela e Lílian deram as mãos depois viraram para lareira e entraram no fogo. Harry gritou e tentou puxá-las das chamas, mas descobriu que não conseguia sair da poltrona. Olhou sem poder fazer nada enquanto seus corpos viravam fumaça e desapareciam pela chaminé. Virou pra seu pai, que observava com um desapego clínico.


-É tudo pra melhor, Harry – ele disse. Virou pra ele e sorriu, depois seu rosto começou a virar fumaça e desapareceu numa névoa.


Harry acordou ofegando. Sentou e olhou a sua volta, sem saber ao certo onde estava. Seus arredores finalmente fizeram sentido... Estava na casa de segurança da DI, mantida no norte da Irlanda. Esfregou as mãos no roto molhado de suor, a imagem do rosto de seu pai virando fumaça persistia perante seus olhos.


Ficou sentado ali por um momento, ouvindo os grilos cricrilarem do lado de fora de sua janela. Perséfone balançou as penas dormindo e ele podia ouvir o vento batendo nas árvores. Você devia estar lá, pai, ele pensou. Pra me ensinar como me barbear e me dá minha primeira vassoura e me abraçar com aquele abraço com tapinha nas costas do jeito que homens se abraçam. Tive que ter a conversa sobre os fatos da vida com o Sr. Weasley e aprendi a me comportar como um homem honrado observando Alvo Dumbledore e meus outros professores. Tive que conseguir a aprovação de meus colegas e meus presentes de natal de meus amigos e seus familiares.


A velha tristeza se instalou em seu peito novamente como um parente distante que simplesmente não vai embora e continua dormindo no sofá noite após noite. Cada vez que ele achava que real e verdadeiramente tinha superado a perda de seus pais algo acontecia e lhe lembrava o quanto ele tinha perdido durante sua infância e além. Desejava que seus pais tivessem visto ele se tornar um bruxo e ganhar a copa de Quadribol para Grifinória e usar seu distintivo de Monitor-Chefe e derrotar o assassino deles e mil outras coisas que tinha feito e que tinha orgulho e que sabia que seus pais também sentiriam orgulho.


Lágrimas escorreram por seus olhos e ele os fechou com força, retorcendo o rosto e desejando que a dor recuasse para um canto distante de sua mente onde geralmente se escondia. A imagem de sua mãe abraçando Hermione flutuou em sua frente sem sua permissão... Queria que eles tivessem te conhecido, pensou. Eles também te amariam.


Isso foi suficiente. Ele se entregou; abaixou a cabeça nas mãos e se deixou chorar.




No sonho de Hermione, ela estava olhando para uma praia rochosa com toques de cinza e prata. O sol estava baixo no horizonte e as ondas fluíam em curvas de névoa e água sobre a areia pedregosa. Grandes montes desfocavam no canto de seu campo de visão. Uma figura vinha em sua direção pela borda da água. Enquanto se aproximava, ela viu que era Harry. Apesar de saber que era apenas um sonho, o coração dela aumentou só de vê-lo e de ver que estava vivo mesmo que nessa forma efêmera.


Ele andou sobre a areia molhada da praia deixando sombras de pegadas que eram apagadas pelas ondas. Estava com as mãos no bolso e olhava para o horizonte. De repente, olhou pra trás dela e sorriu, levantando a mão e acenando pra alguém que ela não podia ver. Ele se abaixou e abriu os braços pra um garotinho de uns quatro anos que correu pra ele balançando os braços. Harry abraçou a criança e levantou, segurando-o contra o ombro, o garotinho passando familiarmente um braço pelo pescoço do pai... porque era claro que Harry era o pai do garoto, quem mais ele seria? Hermione observou, sentindo-se distante da cena, enquanto Harry apontava para o oceano e falava com o garotinho. Quem era a mãe dele? Ela se perguntou. Sou eu? Então onde estou?


Harry olhou por cima do ombro pra ela e seus olhos pareciam penetrá-la e ela sentiu como se estivesse caindo para frente...


De repente estava no Cloister de volta em Balicroft, só que todas as paredes tinham sumido. Em seu lugar havia apenas névoa, uma pequena e fria névoa que ia até a cama onde ela estava. Estava sentada no meio dela e olhando a seu redor para o chão de pedra e pro musgo que crescia entre as pedras (na realidade, o chão do Cloister era de madeira) e dos pequenos dedos de névoa que subiam pelos lençóis da cama. Olhou a seu redor e Harry estava bem na frente dela, na verdade ela estava sentada ali nos braços dele. Olhou pra baixo e viu que nenhum dos dois estava vestido, mas isso parecia muito natural. Harry sorriu pra ela, olhando bem fundo em seus olhos e depois se inclinou para beijar o pescoço dela. Hermione relaxou contra ele, sorrindo pra si mesma e escorregando um braço pelo ombro dele... de repente sentiu algo em sua mão, seus dedos apertando com força. Olhou pra baixo e viu um brilho metálico, mas antes de ter registrado completamente o fato que estava segurando uma adaga bem longa e afiada, seu braço tomou vida própria e ela esticou a mão pra frente, enfiando a faca no coração de Harry.


Ela engasgou e se afastou rapidamente, levantando as mãos ensangüentadas na frente de seus olhos. Harry apenas ficou sentando, de queixo caído e olhos abertos, com a faca saindo de seu peito e sangue escorrendo da ferida. Esticou a mão pra ela e então caiu pra frente sobre o lençol.


Hermione estava de joelhos sobre a grama olhando pra uma lápide escrita "Harry Potter, o garoto que morreu". Não havia datas nem outros túmulos próximos. Ela olhou a sua volta e percebeu que estava na clareira perto de Hogwarts, a mesma onde encontraram o corpo de Rony. Olhou pro túmulo, sentindo-se dormente. Alguém puxou sua manga, levantou os olhos e viu o garotinho da praia. Ela achou que seu coração fosse se partir ao vê-lo; tinha os olhos verdes de Harry e os cabeços castanhos ondulados dela. O rosto dele estava molhado de lágrimas e ele segurava um buquê de flores. Ele se inclinou e colocou as flores junto à lápide, depois subiu no colo dela como se já tivesse feito isso mil vezes. Hermione o abraçou porque não sabia mais o que fazer mesmo que não tivesse idéia de quem era essa criança, se ele era alguma forma de projeção mental de uma combinação dela e de Harry ou apenas uma representação de sua criança interior. –Papai – o garotinho disse numa voz entrecortada por lágrimas.


Uma mão a segurou pelo ombro e a virou rapidamente. Ela olhou nos olhos verdes furiosos de Harry; ele estava em pé, coberto por terra e fungos, suas vestes bruxas rasgadas e furadas, a adaga ainda saindo do peito. Ele sacudiu o ombro dela, com força e apenas continuou sacudindo e sacudindo...


Hermione lutou pra acordar e encontrou Quinn na beira de sua cama, sacudindo seu ombro. Ela sentou, sentindo o suor escorrer por seu rosto. –O que, que... – ela conseguiu dizer.


-Estava gritando enquanto dormia – Quinn respondeu, seus olhos confusos com sono. –Meu Deus, você me assustou! Pesadelo?


Hermione cobriu os olhos como se pra tirar as imagens que ainda permaneciam. –Horrível, horrível... – pra seu alívio, Quinn não a perguntou sobre o que foi, apenas ficou sentada segurando sua mão. –Estou apenas temendo... pelo pior.


Quinn balançou a cabeça. –Não se preocupe com Harry, ele pode se cuidar.


Hermione sentou, a coberta se amontoando em sua cintura. –Você não entende... Há alguma coisa acontecendo com ele, não sabemos o que é.


Quinn franziu a testa. –O que quer dizer?


-Ele tem tido esses... ataques. O primeiro foi forte o suficiente pra colocá-lo num coma defensivo que projetamos pra protegê-lo num caso desses. O segundo não foi tão ruim, mas ainda assim o fez desmaiar.


-Esses ataques... Pode descrevê-los?


-Começam na cicatriz dele. Dói de vez em quando, costumava ficar pior quando ele estava perto de algo maligno, mas ele disse que era pior do que qualquer coisa do que tinha sentido. Então ele perde a consciência.


-Esses ataques aconteceram durante tempestades?


Hermione pensou um pouco. –O primeiro sim... e sim, estava chovendo da segunda vez também. – olhou pra Quinn. Isso significa alguma coisa pra você?


-Alguém pode ter tentando entrar em contato come, ou mandar uma mensagem. – ela apontou pra testa. –Da mente de um bruxo pra mente de outro.


-Deve ter sido alguém maligno se estava tentando machucá-lo.


-Pode não ter tentado machucá-lo. Você disse que a segunda vez foi menos severa?


-Sim... Apesar de Harry ter dito que achava que estava mais próximo.


-Como se o remetente tiver percebido que exagerou na primeira mensagem e foi mais gentil da segunda vez.


Hermione ficou impressionada. –Não pensei desse ângulo.


-Talvez quem mandou tenha feito isso pela primeira vez... por isso perguntei sobre a tempestade. A atividade elétrica na atmosfera durante uma tempestade deixa muito mais fácil enviar esse tipo de mensagem. Um iniciante iria escolher uma noite dessas pra compensar sua inexperiência. Harry disse se recebeu alguma impressão durante esses ataques? Imagens, nomes, rostos?


-Ele não disse... mas eu também não perguntei.


-Ele pode nem ter percebido, é um jeito bem traumático de se receber uma mensagem. Há maneiras de se resgatar qualquer informação que ele possa ter recebido. Pode pensar em alguém que poderia querer mandar uma mensagem secreta pra ele?


-Que tal Sorry?


-Acho que não. Ele não disse que tentou evitar entrar em contato com Harry?


-Não sei quem mais poderia ser. – ela mordeu o dedo, pensando. –Há mais uma coisa que eu deveria te dizer. É sobre o homem que eu estava namorando. Geraldo Van Haven.


-Que tem ele?


-Um pouco antes de eu sair Edwiges me mandou uma mensagem dizendo simplesmente "Livros Spellbound" que era onde Geraldo trabalhava. Fui até lá e descobri que Geraldo morreu há um ano. Vi uma fotografia desse homem, e parecia ser o homem que eu conhecia como Geraldo.


-Interessante. – Quinn disse despreocupada, mas franziu a testa. –Quem tomaria a aparência e identidade de um homem morto?


-Não sei, mas quem quer que tenha feito isso teve muito trabalho.


-Me parece muito arriscado. Presumo que ele saiu em público com você; e se ele encontrasse alguém que conhecia o verdadeiro Geraldo?


-Não quero pensar sobre isso. Me dá arrepios, não me importo de te dizer.


-Imagino. E também há a questão de quem te mandou o bilhete que te levou a essa descoberta. Reconheceu a letra?


-Não.


-O enredo se complica.


Hermione se jogou de volta na cama suspirando. –Estava complicado o suficiente antes, obrigada. – não disseram nada por alguns momentos. –Não quero ficar aqui, quero estar lá fora procurando por ele.


-Relaxe. Precisa dormir um pouco... e eu também.


Hermione virou de lado. –De onde você é? De onde nos Estados Unidos?


-Sou de uma cidadezinha chamada Loves Park.


-Parece romântico.


-Só se plantações de milhos te excitarem. É no norte de Illinois.


Hermione franziu a testa. –Minha geografia dos EUA está um pouco enferrujada. Onde é Illinois?


Quinn sorriu. –Fica quase no meio.


-Nunca estive nos EUA. Sempre quis visitar.


-É legal. Grande. Às vezes quando estou viajando de carro posso maravilhar a quantidade de espaço daquele país.


-Harry gosta de lá.


-Amo a Escócia, mas sinto falta do bom e velho EUA às vezes. Quando escuto outra voz americana, ou no 4 de Julho, ou quando algo me lembra de casa.


-Por que aceitou o emprego em Hogwarts e não em uma escola bruxa por lá?


-Quando comecei a procurar por uma posição por lá não havia vagas. Vailsmith tem o mesmo professor de Defesa há quinze anos. Yamagosa está feliz com os docentes atuais e Shreve's Landing acabara de contratar alguém novo.


-E quanto à Academia de Executores? É no Texas, não é?


-San Antonio, sim. Passei tempo suficiente por lá como aluna, obrigada.


Ela sorriu, intrigada por esta olhada no passado de Quinn. –Em que escola estudou?


-Shreve's Landing.


-Ouvi dizer que é linda.


-É sim. Quase até demais. Distrai, sabe. – ela sorriu. –Mas Hogwarts também tem seus cenários.


-Com certeza – Hermione cruzou as mãos atrás da cabeça e olhou pra cima, examinando as rachaduras do teto. Hum... aquela ali parece com o Príncipe Charles, pensou.


-Vai ficar bem? – Quinn perguntou, depois de algum tempo em silencio.


Hermione suspirou. –Vou ficar bem quando o encontrarmos.




O Inspetor Davies da polícia local estava de pé, examinando as cinzas, balançando a cabeça triste. Um prédio de apartamentos inteiro reduzido a pedras. Uma pena... Quatro pessoas mortas, todas da mesma família.


-Não entendo – o inspetor de bombeiros disse após um longo silêncio.


-O que não entende? – Davies perguntou.


-Leva tempo para o fogo esquentar o suficiente pra queimar um prédio inteiro. Chegamos aqui alguns minutos depois que a fumaça foi reportada, devíamos ter tempo suficiente pra controlar o incêndio. Mas no lugar... Temos isso. – ele disse, chutando um pedaço de madeira na calçada.


Davies se virou de repente. –Qual o seu problema? – o inspetor de bombeiros perguntou.


-Podia jurar que algo acabou de passar por mim.


O inspetor de bombeiros fungou.


-É só o calafrio que as cenas de crimes dá.


-Não, estou dizendo. A manhã toda tive a impressão que alguém estava perto de mim, mas nunca havia ninguém.


-Você precisa de uma folga, isso sim.


-É – Davies disse, virando para o prédio incendiado.




Sescha pressionou o lenço contra o rosto, tentando em vão abafar os soluços. O prédio estava cheio de policiais trouxas, ela podia sentir suas sensibilidades nulas e suas almas endurecidas de onde estava sentada na cozinha, segurando uma xícara de chá na mão. Por enquanto a deixavam em paz, cuidando da documentação e da remoção do corpo de seu marido.


Uma mulher entrou e sentou ao lado dela. –Sra. Hough?


-Sim.


A mulher inclinou um pouco a cabeça pra falar baixo. –Sou Willa Thompson, uma Executora das leis Mágicas.


Sescha relaxou, preenchida por um alívio por ter alguém como ela ao seu lado. –Ah, fico feliz que esteja aqui... Não posso dizer nada a eles.


-Me conte o que aconteceu.


-Voltei pra casa do trabalho e encontrei meu marido... Ele estava, estava...


Willa a silenciou. –Acha que seu marido é do tipo que tiraria a própria vida?


-Não! – Sescha exclamou. –Isso é só o que eles fizeram parecer!


Willa franziu a testa. –Eles?


A voz de Sescha abaixou até um sussurro apressado. –Você sabe...os bruxos das trevas – desviou os olhos como se tivesse medo de cada palavra que pronunciava. –Estão se organizando novamente, você sabe. Nós negamos, mas sempre vemos os sinais. Você-sabe-quem pode ter ido, mas o mal nunca morre! – ela pressionou uma mão contra os olhos. –Eles queriam meu marido, mas ele não ia se entregar. Lutou contra eles.


-Por que o queriam?


-Eu não sei! – começou a chorar novamente. –O trabalho dele era... Segredo. Não podia me contar sobre ele e isso o consumiu. Mas ultimamente ele voltava pra casa e trancava a porta com feitiços e pulava com qualquer barulho... Como se estivesse sendo seguido. Ficou ansioso, mais misterioso do que antes. Eu sabia que algo horrível aconteceria... Mas ele nunca se mataria, nunca. Era forte... Por isso tiveram que matá-lo.


Willa fez que sim com a cabeça. –Certo, Sescha. Vamos investigar.


Ela balançou a cabeça que não, um movimento lento e derrotado. –Não pode detê-los. Bruxos comuns como você e eu, e os Executores e o Ministério, não podemos detê-los. Tudo que podemos fazer é observar e esperar nossa vez. – olhou pra Willa com medo. –Há alguém que pode detê-los, eu acho. Só espero que não o peguem antes.


-Não podem pegar Harry Potter.


Sescha deu um sorriso obscuro. –Eles podem pegar qualquer um. Vão encontrar a fraqueza dele... É só questão de tempo. – Observou enquanto Willa deixava o cômodo, parecendo tão nervosa quanto Sescha se sentia.


De repente, Sescha sentiu uma pressão quente em sua mão como se alguém tivesse colocado a mão sobre a dela. Ela pulou e teria gritado se uma mão que podia sentir, mas não ver não estivesse sobre sua boca. –Eu vou detê-los. – uma voz sussurrou em seu ouvido. Ela podia sentir a respiração da pessoa contra sua bochecha. –Não deixe que vençam antes deles terem vencido.


E depois sumiu, deixando Sescha se perguntando se ela estava ficando maluca.




Quinn estava sentada no banco de passageiros do jipe de Harry segurando a bússola enquanto Hermione dirigia. –Hum... Vire a esquerda! – ela disse.


-Não posso, não tem estrada.


-Isso é um jipe, não é?


Hermione olhou pra ela alarmada, depois se preparou e tirou o jipe da estrada de duas vias e para os campos de grama a sul de Kent. –Segure-se!


-Espere! Pare! Hermione apertou os freios e Quinn levantou no banco, virando num círculo com a bússola a sua frente. –Ele está se mexendo!


-Droga! – Hermione gritou, esmurrando o volante. –Ele não consegue ficar num maldito lugar por mais de uma hora?


-Espere um pouco... – Quinn apertou os olhos pra bússola enquanto Hermione esperava impaciente no banco de motorista, enfiando os dedos no volante. –Consegui! De volta à estrada!


Hermione virou a direção e apertou o acelerador, Quinn se segurou e voltou pro lugar. –Direções?


-Apenas siga a estrada por enquanto.


Viajaram em silêncio por um tempo, Quinn olhando a bússola enquanto Hermione fazia o carro andar mais rápido que nunca. A sensação de urgência que caíra sobre elas estava aumentando nos últimos dias enquanto uma série de eventos agora familiares decorriam várias e várias vezes. Iam na direção que a bússola apontava e chegavam muito perto e então a agulha girava e a frente da bússola piscava e ficava branca enquanto Harry aparatava ou voava pra longe delas. Já tinham estado por todo país e até mesmo tinham atravessado o canal. Os nervos de Hermione estava a flor da pele e todos esses "quase" estavam tirando o bom humor de Quinn. Ela ficava se repetindo que toda vez que ele mudava de lugar significava que ao menos não estava morto... E que o talismã que ela colocara pelo menos continuava no lugar. Estava perseguindo Allegra, isso estava claro. Bem nos calcanhares dele, viram a destruição e perda trágica de vidas que o atraiam... O chamado de uma força sinistra incansável reunindo forças.


Algo branco passou pelo jipe, o carro balançando momentaneamente quando Hermione se assustou. A coisa branca diminuiu a velocidade e acompanhou o carro; era Edwiges. –Entre – Hermione disse. Edwiges voou pra dentro do carro e se acomodou entre os bancos, deixando um bilhete no colo de Quinn. Bateu as asas no ar e voou embora novamente.


-É pra você – Quinn disse. Hermione encostou o carro e pegou, franzindo a testa. Abriu o selo e desdobrou o bilhete. –O que diz? – sem falar nada, ela esticou pra Quinn pra que ela pudesse ler a mensagem, apenas três palavras escritas. Abadia de Carfax. –Abadia de Carfax? – Quinn disse confusa. –Não é a igreja que o Conde Drácula queria comprar?


-Sim – Hermione disse, dobrando o bilhete. –Também é um lugar de verdade, um mosteiro velho em Kent. Foi o lugar da Revolta Mandelianda em 1232 durante a agitação do período Pós-Catargiano. Houve uma discórdia considerável entre os bruxos da época quanto a extensão e confiabilidade que poderia se dar a Convenção de Yager em termos de magia efetiva. Houve muitas brigas internas até chegar a Revolta que foi sumariamente esmagada.


-Eu me perdi. Logo no inicio.


-A história não é importante, só que Carfax é um lugar relativamente significante na história do mundo bruxo.


-Quem mandou o bilhete?


-Não sei... Mas posso afirmar que é a mesma letra do bilhete que dizia "Livros Spellbound".


As duas mulheres apenas se olharam por um momento, pensando. –Alguém está nos guiando às cegas, Hermione e não gosto muito disso.


-Nem eu... Mas confio em Edwiges. E o primeiro bilhete não pareceu ter nenhum mal; com certeza eu gostei de saber a verdade sobre Geraldo... Ou pelo menos parte dela. – ela indicou a bússola com a cabeça. –O que diz?


-Nordeste, na direção da Escócia.


-Hum... Kent é para o outro lado. – Olhou pra sua companheira. –O que você diz?


-Bem... Se seguirmos a bússola provavelmente vamos perdê-lo novamente. Mas... Alguém mandou esse bilhete sobre a Abadia de Carfax por algum motivo, deve ser relevante. Se formos lá agora...


-Podemos chegar lá antes dele – Hermione engatou o jipe. –vamos apenas torcer que nossos caminhos se cruzem dessa vez.


-Isso seria uma boa mudança, não é?




Harry estava sentado de pernas cruzadas atrás de uma árvore grande, matando insetos e ouvindo atentamente o grampo perto de seu ouvido esquerdo. A uns trinta metros numa clareira no meio do bosque estava uma pequena cabine que pertencia a um membro do Círculo; mais cedo naquele dia, ele tinha seguido Torgo, um bruxo que ele sabia que era um dos capangas preferidos de Allegra, até aqui desde o lugar onde houve um duplo homicídio em Wessex. De seu lugar, ele podia ver a cabine por uma luneta, e com a ajuda do grampo podia ouvir tudo que diziam.


Ele sempre se perguntou o que os trouxas diriam se soubessem que o ditado ouvir pela parreira vinha do mundo mágico, devido a uma espécie mágica de parreira chamada parreira sussurrante. Plante metade de uma muda perto de onde você está e a outra metade perto das pessoas que está espionando, diga os feitiços certos e dentro de dez minutos as parreiras vão crescer e sussurrar para você tudo que está sendo dito, palavra por palavra... ela até imita as vozes.


Harry olhou pelos binóculos, o que lhe dava uma vista adorável da sala, pela janela da frente. Os três bruxos e uma bruxa estava lá dentro, numa conferência intensa. Harry tinha que se conter pra não pular de animação ao ouvir tudo o que eles sem querer estava contando. Ele não reconheceu os outros três bruxos, mas já tinha dado nomes pra eles, sem nem precisar pensar muito.


-Não, o cofre está em algum lugar da América – Torgo dizia. –Precisamos do feitiço de decodificação primeiro.


Sr. Mohawk andou ansioso de um lado para o outro enquanto falava –Maldição, por que a cadela não pode fazer seu próprio trabalho sujo?


-Shh! – A Srta. Lápis de olho sibilou. –Não a chame assim! – Harry sorriu ao ouvir usarem este termo pra Allegra, termo que ele próprio usava para designá-la.


-Ah, cai fora, ela não pode nos ouvir. –Mohawk disse.


-Nunca se sabe, ela tem espiões por toda parte. – não é a única, Harry pensou.


-Estamos no meio de uma maldita floresta!


-Onde fica este lugar – disse o Sr. Monosobrancelha. Ele parecia o bruxo superior, todos prestaram atenção quando ele falou.


-É em Kent. Numa abadia... Abadia alguma coisa, não sei. Devemos receber as direções amanha de manhã.


Harry franziu a testa. Uma abadia em Kent. Abadia de Carfax? Era um pensamento elucidante.


-Estou ficando inquieta de ficar sentada aqui sem fazer nada – Lápis de olho disse.


-Souberam do Potter? – Mohawk disse. Harry aguçou os ouvidos.


-Que tem ele?


-O viado desapareceu. Allegra disse que ele está maluco.


-Não acredito. Não temos essa sorte.


-Adoraria enfiar minha varinha na bunda dele.


-Ah, cala boca, ele faria pasta de você sem nem precisar suar. – Harry sorriu. Saber o que seus inimigos realmente pensavam sobre você era uma luxúria inestimável com a qual não estava acostumado.


-Mesmo assim. Sabia que Allegra dormia com ele?


-Sai dessa!


-Sério. Nos dias de boazinha dela.


-Argh. Mesmo assim, faz você se perguntar – Lápis de olho disse.


-Se perguntar o quê?


-Como um lerdinho daquele seria na cama.


Uma insatisfação geral respondeu a essa declaração. –eu não precisava dessa imagem na cabeça, muitíssimo obrigado! – Mohawk gritou. Harry teve que tapar a boca com a mão para não se entregar pelas risadas.


-Então o que tem nessa abadia? – Srta Lápis de olho perguntou a Torgo.


-Não sei. Só que Sua Majestade está bem tensa com isso. Tem algo a ver com um cofre nos EUA.


-O que tem no cofre que é tão importante?


-O que, eu pareço com alguém da elite interna? Eu só trabalho aqui. Só sei que ela não pode chegar no cofre sem ir na abadia primeiro, não me pergunte porque.


Harry mordeu o lábio pensando. Virou a orelha em direção à parreira novamente mas os bruxos estavam saindo pra jogar cartas. Não conseguiria mais informações deles naquela noite.


Ele tocou a varinha na parreira sussurrante e ela se encolheu até uma pequena muda que ele tirou do chão e guardou em seu kit. Pegou sua Jet Stream e voou para noite.




-Whoa – Quinn disse, parando de repente.


Hermione foi até o lado dela, segurando duas lanternas. Ela as sacudiu e entregou uma a Quinn, olhando para fachada de pedra em ruínas da Abadia Carfax, iluminada ao fundo pelo sol quase desaparecido, as paredes ganhando um brilho vermelho da luz. –Eu sei. Horripilante, não? Centenas de bruxos e bruxas morreram aqui durante a Revolta.


-O que estamos procurando?


-Queria saber. A estrutura está quase toda em ruínas e muito bem explorada, eu mesma já estive aqui. Se existe algo secreto, estou inclinada a achar que está no subterrâneo.


As duas mulheres andaram suavemente até a abadia, dando a volta pelo lado e entrando por um buraco nas pedras. Seus passos ecoavam no chão de madeira semi-ruído, suas lanternas mostrando partículas sólidas no ar poeirento. –Bem – Quinn falou –Onde devemos começar a procurar?


Hermione sorriu. –Talvez não precisemos fazer isso – ela pegou seu pequeno compêndio de feitiços, entregando sua lanterna para Quinn, que iluminava as páginas para que Hermione pudesse ler as palavras com sua lupa. –Ah... Aqui está. – ela leu o feitiço pra si mesma, seus lábios se movendo silenciosamente, depois fechou o livro e deu um passo adiante com as duas mãos levantas de palmas pra frente, dedos separados. Quinn a observou enquanto ela começou a falar as palavras do feitiço, Latim e alguma outra língua também, tão baixo que mal era ouvida. –Radium manifestus, et lumine ad oculae! – ela terminou, suas mãos com um brilho lilás. No fim do feitiço, ela juntou as mãos e um raio de luz lilás saiu dela e inundou o espaço a seu redor. Quinn sorriu quando paredes ficaram semi-transparentes exceto por um pequeno retângulo perto do outro lado da abadia que brilhava com uma intensa luz dourada.


-Muito bem – ela disse. –Este não é um feitiço fácil.


-Te mostra apenas o que está escondido – Hermione disse, pegando sua lanterna de volta. –Se apresse antes que desapareça – Mesmo quando andaram pela parte brilhante do chão as paredes começaram a reaparecer e a luz dourada desaparecer, mas não antes delas terem alcançado.


-Deve ser um alçapão – Quinn disse.


-Está muito bem escondida. Não consigo ver nenhuma abertura, você consegue?


-Não – As duas se curvaram sobre as tabuas do chão. Hermione puxou a varinha.


-Ah, bem, quando em dúvida – Ela bateu no chão aos pés delas. –Alohomora! – Uma abertura retangular se desenhou sobre as tábuas e o alçapão subiu revelando degraus de uma escada curva sob ele. Hermione guardou a varinha. –Esse foi um dos primeiros feitiços que aprendi... Com certeza é útil.


Quinn esticou a mão e deu um passo para o topo da escada, a mensagem implícita de "deixe que eu vá primeiro" entendida entre elas. Ela puxou a varinha, uma varinha de combate grossa e de aparência poderosa, Hermione a seguiu vagarosamente descendo as escadas, iluminando a lanterna por cima do ombro de Quinn. As escadas levaram até um corredor estreito, completamente escuro a não ser pelas lanternas.


Elas andaram devagar adiante. O barulho de seus sapatos parecia muito alto no chão e Hermione tinha certeza que podia ouvir os insetos passando pelas pedras. O corredor se inclinou um pouco para baixo no que parecia uma série infinita de viradas e curvas. De repente, Quinn parou. –O que? – Hermione sibilou.


-Vê aqui? – ela disse apontando pra frente onde havia uma virada brusca para direita. Hermione apertou os olhos, percebendo que ela podia ver a esquina. Havia uma pequena luz adiante.


-vamos lá – Hermione disse. –Não quero passar a noite aqui se puder evitar.


Avançaram um pouco mais rápido, a luz ficando mais forte enquanto se aproximava. Elas viraram a esquina e se encontraram num pequeno corredor de uns dois metros, que depois virava de volta pra direita novamente formando uma curva em forma de U. No centro do pequeno corredor estava uma porta com duas pequenas tochas penduradas em cada lado. Hermione já ia avançar quando de repente Quinn a segurou pelo braço e as duas se esconderam na esquina. –shh – Quinn sibilou. –Tem mais alguém aqui.


-Como você sabe?


-Vi a sombra no outro lado do salão – ela olhou escondida pela esquina. –Não consigo ver nada – sussurrou.


-Quem poderia ser?


-Não sei. O fato de estarem se escondendo de nós não é um bom sinal. – ela respirou fundo. –Certo, no três nós vamos com tudo.


-Ir com tudo? Isso é sensato? – as duas estavam falando o mais baixo possível, quase sem emitir voz nenhuma.


-Bem, são duas contra um.


-E como sabemos disso?


-Sombra única, um par de sapatos se movendo. E devemos tentar imobilizá-lo antes que tente escapar... Ou nos imobilizar.


Hermione respirou fundo. –Certo. No três. Um. Dois. Três! – elas saíram juntas para o pequeno corredor, varinhas em punho. Ao mesmo tempo, o vizinho misterioso saiu do canto dele com a varinha dele em punho.


Por um segundo em choque, os três apenas se olharam, a adrenalina no ar como o cheiro de ozônio próximo de torres elétricas. Hermione olhou nos olhos verdes de Harry, de boca aberta. –Harry! – ela falou.


Harry abaixou a varinha. –Maldição – ele murmurou.




Três bruxos cansados se arrastavam pelo caminho que passava por um grande morro até uma casa de campo não muito distante da Abadia Carfax, pertencia a um amigo de Harry "dos negócios" que estava afastado de férias.


Ninguém estava realmente falando muito, estavam todos exaustos. Hermione estava repassando os eventos recentes em sua mente e tentando encaixá-los no quadro maior... um quadro que ela não tinha certeza se conhecia o formato ainda.


A cena no corredor foi no mínimo confusa. No minuto que ela o viu, Hermione se encheu com uma raiva irracional por ele ter enganado a elas por tanto tempo e que ele tivesse ido embora pra começo de conversa, mesmo quando ela tinha previsto. Harry também não estava exatamente sorrindo; uma das razões dele ter ido embora foi pra protegê-la e aqui estava ela, não cooperando. Quinn demandava saber porque ele estava escondido na abadia e se ele tinha enviado o bilhete que as levara até ali, e durante uns bons cinco minutos eles apenas ficaram lá falando uns com os outros e sem ouvir nada.


Finalmente Harry levantou as mãos, silenciando-os. –Certo – ele disse. –Eu vim aqui porque Allegra está enviando alguns bruxos pra cá hoje pra roubar o que está no cofre.


-O que está no cofre?


-Vou mostrar a vocês. – A porta do cofre não estava trancada, aparentemente quem o construiu achou que o alçapão enfeitiçado seria proteção suficiente. Abriu-se num pequeno cômodo contendo nada mais que um pedestal retangular que lembrava muito um armário de arquivos. Estava lá no centro do cômodo como um golem esperando pra ser despertado. Harry abriu as portas montadas na frente do pedestal... revelando nada em seu interior.


Por um momento, ele ficou completamente abismado. –Certo, estou esperando pela surpresa– Quinn disse.


-Mas... estava tudo aqui! – ele disse. –Quando cheguei aqui e olhei e... estavam aqui!


Hermione se adiantou e olhou por cima do ombro dele. –O que era?


-Hã.. bem, o publico bruxo não sabe disso, mas depois da rebelião de Mandelawan alguns dos bruxos dissidentes, que faziam magias muito ilegais, esconderam seus arquivos e livros de feitiços neste cofre. Não tinha certeza do porquê Allegra estar interessada até que hoje eu vi que um dos pergaminhos fala sobre uma catacumba subterrânea secreta na América onde estão escondidas "as chaves para metamorfose".


Hermione respirou fundo. –A passagem.


-Sim, isso aparentemente é o que Allegra pensa.


-Por que não os pegou?


-Queria pegar os ladrões para um interrogatório, então apenas esperei do lado de fora da porta. – ele olhou fazendo uma careta para elas. –Ninguém veio até este cofre até que você duas... ou pelo menos eu não os vi.


Ela olhou pro rosto dele. –Está pensando o que eu estou pensando?


-Que com a magia de viagem no tempo eles podem ter entrado sem que eu soubesse – ele fechou as portas e bateu a mão contra a parede de pedra. –Droga!


Ele saiu em disparada, deixando para Hermione e Quinn somente a opção de segui-lo. Hermione se sentiu muito desconfortável... Ele parecia com tanta raiva. Não disse nada enquanto dirigiam até esta casa e agora ele se arrastava adiante, sem vida. Ela queria muito tocá-lo ou ao menos falar com ele, mas ele parecia muito distante e imerso em seus pensamentos.


Eles chegaram na casa e Harry tirou a chave de sua mochila pra abrir a porta da frente. Ele entrou numa grande sala de visitas e depois parou, virando para encará-la. Quinn passou para o outro quarto pra dar privacidade aos dois.


Hermione respirou fundo, pronta. –Certo, Harry, você vai ou não deixar eu me explicar? Sei que isso não é o que você tinha em mente, mas de verdade, é melhor assim. Agora, sei o que você vai dizer e eu...


-Eu te amo – ele disse simplesmente.


Hermione apenas ficou lá, as mãos levantadas, a boca ainda aberta. Essa era a primeira vez que ele dizia isso. –Certo, eu não sabia que você ia dizer isso


Ele deu dois passos em direção a ela. –Passei a maior parte da viagem até aqui pensando sobre isso. Eu devia estar com raiva. Eu queria estar com raiva. Há um milhão de razoes por que eu não queria que você viesse e por que ainda não quero. Devia estar muito mais feliz se você estivesse a salvo em Bailicroft, cercada por talismãs e feitiços e outros bruxos... Mas nada disso importa agora. – Seus lábios vagarosamente se curvaram num sorriso. Hermione abaixou as mãos e suspirou. Ele esticou as mãos e a segurou pelos ombros. –Sei que não estava muito convidativo quando você apareceu na Abadia, mas eu estava muito cansado e com raiva de Allegra e de toda situação. Tentei ficar com raiva de você também... Mas estou muito feliz de te ver e não posso evitar isso. Acho que no fim das contas é isso... Não importa o quanto os motivos de eu fazer isso sozinho sejam bons, eu... – ele abaixou o olhar pro chão por um segundo e depois olhou de volta no rosto dela. –No fundo, não me importo com os motivos, eu ainda quero você comigo. – ele se inclinou e a beijou, gentil, porém firme, depois deixou sua testa repousando contra a dela. –Eu ainda preciso de você comigo.


Hermione fungou e enlaçou as mãos atrás do pescoço dele. –Que bom, porque você não vai se livrar de mim depois de eu ter passado três dias dirigindo pra todo lado procurando por você.


Ele se afastou, franzindo a testa. –Pensando melhor, como você me achou?


Ela sorriu e correu os dedos sob o capuz da capa dele, perto da costura... e lá estava, uma pequena massa como a cabeça de um alfinete.Ela o soltou e mostrou diante dos olhos dele. –Achou que estava me enganando quando foi embora naquela noite?


Harry balançou a cabeça devagar. –Não, não achei... Mas parece que subestimei seus recursos, Dra. Granger.


-Um erro que não vai cometer novamente – ele riu e a puxou num abraço apertado. –Venha, vamos procurar algo pra comer, estou faminta.


-Sabe, essa casa tem uma suíte principal com uma cama muito grande e confortável.


-Está dando em cima de mim?


-Ah sim.




Quinn estava deitada acorda enquanto a lua minguante nascia, ouvindo a brisa noturna do lado de fora de sua janela. Quando ela achou que era a hora certa levantou e jogou as cobertas para o lado; estava completamente vestida.


Pegou seus sapatos e entrou descalça no corredor, olhando pela porta entreaberta para o quarto principal. Os dois estavam dormindo, uma única vela lançando uma fraca luz sobre suas formas. Hermione estava deitada de lado com um braço e uma perna jogados sobre Harry, as cobertas enroscadas ao redor deles. Quinn sorriu e passou silenciosamente pro andar de baixo.


Amarrou seu tênis e foi até o quintal, apertando os olhos contra a escuridão. Uma figura indistinta se destacou das sombras perto da borda do bosque e avançou silenciosamente. Quinn se apressou para encontrá-lo, guiando de volta para o abrigo das árvores. –Está atrasada – a figura sussurrou.


-Tive que me certificar que estavam dormindo. – ela olhou para a casa silenciosa. –Hermione sabe sobre você. Ela foi até a Livros Spellbound como você queria. O bilhete foi um toque genial.


O sorriso do homem era quase invisível na escuridão. –Ela se assustou?


-Não muito a ponto de entrar em pânico, eu acho. Como se sentiria se descobrisse que o homem com quem estava saindo tinha morrido há um ano?


Geraldo deu de ombros. –Não posso dizer. Mas é de informação que ela precisa. – ele pensou. –Eles suspeitam?


-Nem um pouco. Estão preocupados demais com a coisa da Passagem.


-Bem, tudo vai terminar logo.


-Obrigada pela nota sobre a Abadia.


-Poderia tê-lo perdido sem ela. E é melhor que juntem forças mais cedo possível. Deixa mais convincente no futuro.


-Como está Allegra?


-Nervosa com a Filadélfia. Os pergaminhos deram a ela os feitiços das trancas, mas as tábulas em si... são outra história.


-Devia ter visto a cara de Harry quando percebeu que os pergaminhos tinham sido tirados bem debaixo do nariz dele – ela hesitou. –Eu levarei ele e Hermione até lá a tempo.


-Que bom, é melhor mesmo. Os dois precisam estar lá para que funcione.


-Se não der certo nós dois estamos ferrados. – ela suspirou. –E quanto a Sorry?


-Ninguém sabe. Acho melhor segurar este triunfo até quando precisarmos, não acha? Além disso, vamos precisar dele para Passagem.


-Ele sabe sobre Winter?


-Era de se esperar que ele já tivesse decifrado, não é? Mas não, ele não sabe. Tolo de mente simples – ele disse rangendo os dentes. –Allegra planeja adiante, admito isso a favor dela.


-Certo. Você volte. Te vejo depois.


Geraldo sorriu e se misturou novamente com as sombras. Quinn estremeceu com a brisa repentina, apertou o casaco mais forte a sua volta e voltou para casa.

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