Regresso



Gwydion Black estava no centro do porão. Os olhos cintilavam perigosamente, concentrados nas suas presas. As mãos agarravam as suas duas varinhas, e o seu corpo dançava com um meio sorriso arrogante estampado nos lábios, contra cinco adversários.


Nenhum dos alunos de sexto ano parecia capaz de derrota-lo, mas os seus olhos deslizavam pelos campeões de sétimo ano que o observavam atentos, estudando os seus movimentos antes de entrarem em combate.


Semanas de intensivo treino de combate e sobrevivência naquele mesmo navio faziam-no sentir-se confiante. O seu duelo com Krum na noite anterior fora épico, e acabara num empate.


Valkyrie e Tok, também, o observavam. E os sedutores olhos dela pareciam fintá-lo com desejo. Ela que o ajudara a encontrar-se a si próprio, ela que ele amava.


O convés encheu-se de água. Ouviu-se um grito. Caiu ao chão. Ele sabia que estavam debaixo de água, mas algo quebrara a magia. Agarrou-se a uma corda. Susteve a respiração. Os seus olhos encontraram os de Valkyrie e Tok. Os dele estavam assustados e confusos, mas os dela estavam tão calmos como os do próprio Gwydion.


Foi rápido. Sentiram um ligeiro impulso. A escorria para fora do convés. Correram para a superfície para ver um castelo a cintilar na linha do horizonte, e sabiam que tinham chegado ao Lago Negro.


Uma mão tocou no seu ombro. Um rosto sorridente encontrou o seu. E envolveram-se num novo beijo.


Vestiram os uniformes da escola, no mesmo quarto que partilhavam sem autorização, apesar de todos saberem que Karkaroff sabia, mas não reclamava.


- És lindo. – Valkyrie sussurrou ao seu ouvido.


- Tu és melhor do que eu. – Sussurrou de volta. E sentia que era verdade.


Saíram de mãos dadas. Com um aceno de Karkaroff, Gwydion deu por si à frente de Durmstrang mesmo atrás do director e lado a lado com Krum.


Avançaram com as botas militares pisando a erva húmida. Uma multidão esperava-os, com Dumbledore na entrada ladeado por McGonagall e Snape. Era confuso ouvir inglês e não alemão ou russo.


Os seus olhos cruzaram-se com os de Hermione, que acenou discreta, mas não lhe disse nada. E os Slytherin e Neville seguiram-lhe o exemplo. O sorriso arrogante de Draco disse-lhe que não o reconheceriam.


- É o Viktor Krum. – Uma voz cortou a noite, deixando a multidão histérica.


Fora Ronald Weasley. E ao lado dele estava Ethan Potter. O seu ar era desmazelado e arrogante. Suspirou enojado, quando os alunos de Hogwarts se aproximaram de Viktor. Dumbledore avançou para Karkaroff, sem sequer olhar duas vezes para ele.


Ele parou um pouco atrás de Krum, discreto. Observando o irmão que fazia comentários desagradáveis sobre os alunos de Durmstrang, convencido de que era melhor do que todos eles. Uma mão agarrou-lhe o ombro, e fê-lo voltar o rosto na direcção das luzes do castelo.


- Harry Potter. - Snape murmurou no seu habitual tom arrastado.


Mas Ronald Weasley conseguiu ouvir as palavras do Professor de Poções.


- Harry Potter? Não pode ser! – Weasley gritou.


Os olhos da multidão caíram todos sobre Gwydion e Snape, com excepção de Karkaroff, Valkyrie e Viktor que imediatamente olharam para Dumbledore.


- O meu nome é Gwydion Black. – Gwydion limitou-se a responder.


- Mas já foste conhecido pelo nome de Harry Potter, e se não me engano, expulsei-te deste castelo. – Dumbledore fintou-o, falava num tom grave.


- Expulsou-me da escola, não do castelo. Eu vim como aluno de Durmstrang. – Gwydion retorquiu, recebendo um aceno discreto de Karkaroff.


Os olhos tempestade de Gwydion encontraram os azuis gelados de Dumbledore. O homem que o expulsara, quando ele ameaçara o conforto do seu precioso herói. O homem que fizera tudo para que ele se sentisse inferior ao irmão. O homem que fizera com que os seus pais acreditassem que ele era um busca-pé, e por vezes levando-o a acreditar que era, de facto, esse o seu papel.


O coração de Gwydion batia contra o seu peito, numa estranha adrenalina, mas o seu rosto não era mais do que uma máscara impassível.


- Ainda posso expulsar-te do castelo. – Dumbledore disse.


- E porque razão farias isso? – Karkaroff interrogou.


- Vai mesmo deixar a sua escola ser representada por um busca-pé? – Ethan perguntou alto, avançando da multidão.


Viktor Krum esboçou um meio sorriso. Conseguia ver que Gwydion tinha os dedos entrelaçados na varinha dos Black, sentindo o seu poder fluir. Ele já não era o rapaz assustado que não mostrava o seu talento.


Ethan atreveu-se a lançar um feitiço na sua direcção. O ataque foi defendido pela varinha de Gwydion, sem que uma única palavra saísse dos seus lábios. Gwydion não disse nada, até baixou a varinha, e limitou-se a fintar o irmão.


- Aprendeste uns truques em Durmstrang, foi? – Ethan riu-se. - Deviam estar desesperados por alunos, quando te aceitaram. Como te atreves a voltar? Gostas de ser humilhado? Ter sido expulso não foi humilhação suficiente? Aqui todos sabemos a verdade a teu respeito.


Os Gryffindor esboçaram sorrisos forçados. Não adoravam Ethan, mas Dumbledore relembrava-os constantemente aquilo que ele representava, e admiravam-no por isso.


- Eu estou aqui por Durmstrang. – Gwydion limitou-se a responder, calmo como as águas paradas.


Ethan fintou-o, desejoso de dizer qualquer coisa, mas Snape lançou-lhe um olhar que o calou. Gwydion esboçou um sorriso.


- Acho que vamos esperar por Beauxbatons no interior. – Karkaroff suspirou. Não se moveu, apontando os dedos para trás. – Espero que todos os meus alunos sejam bem-vindos neste castelo.


- Não entendo esta tua decisão, Igor. – Dumbledore suspirou, lançando um olhar de desdém a Gwydion.


- Assim como eu não entendo a que tomaste no passado. – Karkaroff encolheu os ombros.


Durmstrang sentou-se com os Slytherin. Gwydion reparou que Neville e Hermione estavam sentados junto de Draco.


- Igor, vou-te roubar o teu aluno por uns minutos. Black, vem comigo, se faz favor. – Snape indicou o caminho com um movimento de cabeça.


Com um aceno de Karkaroff, Gwydion seguiu Snape pelos corredores de Hogwarts. Foram até ao Gabinete de Snape, onde percebeu que nunca tinha estado. Era escuro e sombrio, mas sentia-se uma aura de poder.


- Harry Potter. – Snape esboçou um meio-sorriso – O rapaz que todos consideravam medíocre, e saiu de Hogwarts a achar que existia para que o irmão se sentisse um deus no olimpo, regressa.


- O meu nome é Gwydion Black, senhor. – Gwydion sussurrou.


- O nome de um idiota pelo nome de outro idiota. – Snape replicou com desdém.


- O nome do pai que me abandonou pelo nome do padrinho que deu a vida por mim.


Snape acenou, com sorriso. A postura do jovem de catorze anos era impecável.


- Karkaroff disse-me que te chamam de Príncipe de Haus Feuer, ou de Jovem Dragão, que te tinhas tornado uma espécie de líder para os alunos daquela escola. Agora, vejo porquê. – Snape continuou – Assim, como também sei, que foste tu o rapaz misterioso que enfrentou os Devoradores da Morte na Taça Mundial de Quidditch. E deixa-me que te diga que os teus pais devem fazer a mesma associação, quando te virem manejar duas varinhas no torneio.


Gwydion franziu as sobrancelhas. Snape estava demasiado bem informado sobre a sua vida.


- Porque foi que me chamou aqui, senhor? – Gwydion perguntou, defensivamente.


- Se as palavras do Karkaroff estiverem correctas, significa que o Professor Dumbledore cometeu um erro na noite em que te declarou um busca-pé, a mesma noite em que o teu irmão ganhou uma cicatriz na testa…e, se as minhas suspeitas estiverem correctas, tu, também, ganhaste uma cicatriz nessa noite. Alguma vez te interrogaste se o relâmpago que tens no peito poderia ser dessa noite?


- Não altera nada. A minha cicatriz pode ter sido resultado do colapso mágico que aconteceu naquela sala. – Gwydion encolheu os ombros.


- Ou pode ser a marca do sacrifício do teu padrinho, que tão pomposamente os teus pais acham que está na cabeça do teu irmão. O Professor Dumbledore nunca soube da tua cicatriz. Viu a cicatriz do Ethan e tomou a sua decisão. Mediu as vossas auras mágicas, e concluiu que a tua era fraca e considerou-o um comprovativo. – Snape continuou.


- O senhor está a dizer que a probabilidade de eu ser o rapaz da profecia é a mesma que o Ethan. – Gwydion acenou – Mas não informou Dumbledore sobre as suas suspeitas. Porquê?


- Porque haveria? – Snape encolheu os ombros – São apenas probabilidades. E tu estavas melhor em Durmstrang, do que em Hogwarts.


- E, contudo, hoje chamou-me aqui. – Gwydion lançou-lhe um olhar penetrante.


- Morrerias para impedir o avanço de Lord Voldemort, Gwydion Black? – Snape sussurrou.


- Morreria. – Gwydion acenou.


- Achas que o teu irmão tem a mesma posição? 

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Comentários (1)

  • ROC

    Eu ja disse que essa é a minha fic favorita dentre as suas?... Pois é a minha FAVORITA.... ela é a melhor de todas.... parabens e continue assim...

    2013-09-28
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