O Artigo



 


Harry desceu as escadas da Mansão Malfoy, com o manto negro a flutuar atrás de si. Acabara de vir da biblioteca, e ainda carregava um livro. Voldemort ausentara-se com Rodolphus numa viagem à Irlanda.


- Bom dia, Harry. - Narcisa Malfoy sorriu-lhe, sem se preocupar em chamá-lo de Azrael.


- Bom dia, Miss Malfoy. - Harry sorriu.


Draco acenou-lhe para se sentar do seu lado esquerdo. Draco viera ter com ele, quando regressara de Azkaban, ficara a vê-lo embebedar-se e chorar. Fechara a porta e garantira que ninguém o vira.


E obrigara-o a levantar-se no dia seguinte. Sem surpresas, o Ministério não admitia o retorno de Voldemort, mas que o plano deveria ter sido orquestrado por Sirius Black. Havia uma foto de uma sombra com asas a atravessar o corredor de Segurança Máxima ao lado do artigo do Profeta Diário. Um dos aurores tinha uma câmara fotográfica. Mas a sua identidade não era reconhecível.


Uma semana passara, e Harry ainda não conseguira falar com Daphne.


- O meu padrinho vem-nos visitar hoje. - Draco informou-o - Aposto que vamos descobrir quem é que são os Prefeitos do nosso ano.


-  A Granger vai ser a dos Gryffindor, o que até é bastante decente.  - Daphne sentou-se à frente de Malfoy - E aposto que tu, Harry, vais ser o Prefeito de Slytherin.


- É mais provável que seja o Draco. - Harry deu um murro amigável no ombro do amigo.


- A ideia de uma sangue-de-lama como Prefeita de Hogwarts enoja-me. - Bellatrix comentou, com uma frieza característica - Cuidado com os comentários, jovem Greengrass.


- A Granger merece o distintivo. - Harry sibilou, apoiando Daphne.


Bellatrix fintou Harry por um longo momento, antes de lhe sussurrar, "o sangue dela é impuro e representa uma danificação da magia, e um perigo para a nossa sociedade, ela não merece nada". A sua língua estalou no fim, tal era a sua crença nas suas palavras.


- Por outro lado, aquele Weasley, também, deve ser um Prefeito. Isso, sim, é nojento. - Daphne suspirou, lançando um olhar cauteloso a Harry. Havia batalhas que não valia a pena lutar.


Snape chegou alguns minutos depois, para encontrar os seus três alunos a falar animadamente sobre o próximo ano escolar. Bellatrix e Lucius observavam-nos atentos, tentando saber mais sobre os alunos e professores. Narcisa parecia apenas feliz pela ausência de Voldemort e a conversa sobre Hogwarts trazerem um pouco de normalidade à sua família.  


- Potter, a Ordem de Fénix sabe que não estás em casa dos teus tios, e está convencida de que foste capturado. Eu disse-lhes que não tinhas sido capturado, que eu soubesse. - Snape sibilou - Seria boa ideia mostrares que estás vivo, antes que o desaparecimento de Harry Potter seja mais um motivo que o Dumbledore use para provar o regresso do Senhor das Trevas.


- Mr. Malfoy, ainda tem contactos no Profeta Diário? - Harry perguntou - Está na altura de Harry Potter dar uma palestra sobre a última noite do Torneio dos Três Feiticeiros.


Lucius limitou-se a acenar, sem fazer perguntas. Bellatrix esboçou um sorriso. E Harry compreendeu que desde que libertara os Devoradores de Azkaban, e Bellatrix lhe começara a dar lições particulares, confiavam nele. Começava a ter um certo estatuto ali dentro.


- Diggory foi acusado de fazer magia à frente de um muggle e tem um julgamento apontado para esta quarta. - Snape informou-os - Ele alega a presença de Dementors.


- Fomos nós que os enviámos? - Draco franziu as sobrancelha.


- Não, e de qualquer maneira, o Ministério nunca iria admitir que nós controlamos parte dos Dementors. - Lucius esboçou um sorriso.


Snape sentou-se à mesa e aceitou o café da parte de Narcisa, enquanto Bellatrix o fulminava com o olhar. Bellatrix era demasiado inteligente, ou intuitiva, para acreditar que Snape conseguia enganar Dumbledore. Não confiava em Snape.  


- Então, Severus, podes satisfazer a curiosidade dos jovens e dizer-nos quem são os novos Prefeitos de Slytherin? - Lucius esboçou um sorriso.


-  Pansy Parkinson e Draco Malfoy. - Snape informou-os, sem qualquer emoção na sua voz. Retirou um distintivo do bolso e estendeu-o a Draco - Parabéns.


Draco esboçou um sorriso, e olhou para Harry. O ruivo ao seu lado estava feliz. Ser Prefeito não era uma responsabilidade que tivesse desejado.


Draco olhou para o distintivo. No Verão anterior, atrevera-se a desafiar os valores do seu pai. Regressara quando Harry se tornara um Devorador da Morte, e nunca haviam discutido o que acontecera. O seu regresso significara aos olhos de seus pais que voltara aos seus antigos príncipios e crenças. A verdade é que o enojava as conversas sobre pureza de sangue, as histórias de tortura e matança sem fim, sonhos alucinantes de como seria o mundo sob o controlo de Lord Voldemort. Acima de tudo, enojava que fora uma criança educada para acreditar que os sangues-de-lama e os traidores de sangue mereciam aquele terrível destino. Sufocava a cada dia que passava, e não era sequer seguro partilhar os seus pensamentos com Harry e Daphne. A sua escapatória era contar os dias que faltavam para o final do Verão, e atrever-se a sonhar com Hogwarts, onde encontraria liberdade.


E ambicionara que ele ou Harry fossem Perfeitos, porque isso dar-lhes-ia poder e maior liberdade. O pai felicitou-o com um aperto de mão e Draco viu um brilho de orgulho nos olhos gelados de Lucius. A sua mãe abraçou-o e espetou-lhe um carinhoso beijo na bochecha.


- Oh não. A Parkinson já é mandona que chegue! - Daphne suspirou, fazendo Harry e Draco rirem-se.


- Hum...tu é que devias ser Prefeita, Daphne. - Draco comentou, sarcástico - Acho que farias um excelente trabalho.


- Harry, sabes que isto significa que vamos ter de excluír o Drak e a Pansy, não sabes? E fugir deles nas rondas nocturnas? - Daphne sorriu na sua direção.


Harry sorriu de volta. Era a primeira vez que ela lhe dirigia a palavra desde que regressara com o corpo de Hunter nos braços. Não tentara falar com ela, porque não podia dizer-lhe toda a verdade dentro das paredes da Mansão Malfoy. E ela afastara-se magoada e desiludida, como ele esperava.


- Seremos sempre mais inteligentes. - Harry afirmou - Estás tramado, Draco.


Snape abanou a cabeça, mas não disse nada. Draco, também, se manteve silencioso, achando que  havia naquelas palavras sarcásticas mais verdade do que gostaria de admitir.


- Sempre. - Daphne repetiu num sussurro.


Ela precisara de tempo, mas sabia que explicações viriam com o tempo, provavelmente quando regressassem a Hogwarts. E ela não conseguia ficar mais tempo chateada com Harry. Precisava do seu melhor amigo.


- Mr. Malfoy, consegue marcar-me uma entrevista para amanhã de manhã? - Harry levantou-se da mesa.


- Com certeza, Harry. - Lucius sorriu, com um aceno.


Harry passou o resto do dia a praticar magia com Bellatrix, enquanto decidia num debate interior o que haveria de dizer.


Nessa noite, Lucius explicou-lhe que havia muita gente interessada naquilo que Harry tinha para dizer, por isso, o profeta convidara-o a dar um discurso aberto ao público na Livraria da Diagon-Alley.


O discurso foi feito, e o trio passou o resto do dia a comprar artigos para a escola. O artigo sobre o discurso saíu no dia, imediatamente, a seguir.


 


As palavras do Rapaz-Que-Sobreviveu


O final do Torneio dos Três Feiticeiros foi uma noite traumática. Dois jovens feiticeiros desapareceram, quando agarraram a Taça. Foram levados para um destino desconhecido, de onde Cedric Diggory regressou a afirmar o regresso do mais temido Feiticeiro das Trevas de todos os tempos. Nessa mesma noite, foi descoberto um cadáver de um Devorador da Morte, que conseguira escapar de Azkaban e assumir a identidade de um professor em Hogwarts. O jovem que acompanhava Cedric Diggory era Harry Potter, o Rapaz-Que-Sobreviveu, que não tinha ainda dado a sua perspectiva dos acontecimentos até ontem. Aqui ficam as palavras do Rapaz-Que-Sobreviveu:


Faz quase dois meses desde que eu e o Cedric vencemos o Torneio dos Três Feiticeiros. Eu lembro-me de agarrar na Taça, como se tempo nenhum tivesse passado. Eu lembro-me de um cemitério. E lembro-me de ser atacado por um homem baixo, que vim a reconhecer como Peter Pettigrew.


Sei que o mundo mágico precisa de respostas, mas eu não me lembro mais do que isto. Sei que entreguei Pettigrew ao Ministro. E lembro-me de acordar no dia seguinte, de manhã.


Mas vou contar-vos o que sei, e o que consegui deduzir ao longo destes dois meses. Foi Pettigrew quem traíu os meus pais há treze anos atrás. Pettigrew viveu sob a pele de um rato em casa dos Weasley durante doze anos, mas há dois anos que se viu obrigado a fugir. Pettigrew não seria inteligente o suficiente para trazer o seu antigo mestre de volta. Ele era apenas um covarde desesperado por tentar agradar a um dos lados da Guerra. Barty Crouch Jr. era um fanático, derrotado por Azkaban. Não me parece que ele tivesse um plano para trazer o Quem-Nós-Sabemos de volta, mas parece-me que era um fanático a tentar conseguir o que nem mesmo o seu mestre conseguira: matar-me. Crouch traçou o plano, mas o seu erro foi usar Pettigrew para o golpe final.


Estas foram as conclusões a que eu cheguei. Não é uma questão de covardia, é uma questão de lógica. Não faz sentido, o Senhor das Trevas regressar em tão estranhas circuntâncias. Não quero duvidar da palavra do Diggory, mas não consigo conceber o seu regresso. O Cedric levou uma pancada forte na cabeça nessa noite, eu lembro-me disso.


Sei que Devoradores da Morte foram libertados de Azkaban. Existe uma fotografia desfocada de um ser com asas, em nada me pareceu relacionado com o Senhor das Trevas. E é ele que temos de combater, seja ele quem for. Temos problemas suficientes para resolver, sem fazermos grandes especulações.  


O mundo mágico deverá estar sempre alerta para um inimigo que se aproxime, mas não precisamos de criar fantasmas.


Daphne foi ter com ele nessa noite, e afagou-lhe os cabelos até ele adormecer. Ela sabia que ele se lembrava de cada segundo da noite que alegara esquecer-se. Ele sobrevivera, para se tornar um assassino, escravo do homem que lhe arruinara a infância.


- Desculpa. - Ele sussurrou-lhe.


Ela não disse nada, mas um pequeno sorriso surgiu nos seus lábios, sem que Harry não o visse. Os últimos dias antes de irem para Hogwarts foram uma catástrofe de acontecimentos.


Voldemort aprovou o discurso, assim que leu o jornal. Harry pediu a Snape que lhe ensinasse Oclumência, para poder enganar Dumbledore sobre a perda de memória. Narcisa Malfoy encomendou os livros e as roupas e o resto dos artigos da escola. Cedric Diggory foi inocentado em tribunal.

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Comentários (2)

  • Ivanice

    Que fic fantástica! E eu finalmente consegui chegar até aqui, as anteriores são muito boas também, mas me surpreendi com o começo do 5 ano. Quero saber logo como o Sirius vai ficar no meio disso tudo, porque acho que ele ficaria do lado do Harry, Azrael pois sempre foi leal ao Tiago não ao Dumbledore... Eu posso estar viajando, mas enfim... Como fica a amizade do Harry com a Hermione agora? Ansiosa pela morte do velho Dumbledore.Com que frequência você costuma atualizar a fic?O Snape é o meu personagem preferido na sua fic, não o mate ok?Continue! 

    2014-04-01
  • Luiza Snape

    Continua. 

    2014-03-31
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