Renascer



Dor. Não conseguia abrir os olhos, e não via mais do que morte e sofrimento. Era o frio dos Dementors. Conseguiria derrota-los, se tivesse uma varinha, mas tinham-lha tirado.


Ainda não conseguia mexer o pulso direito, que Macnair quebrara contra a parede.


Tinha perdido a noção dos dias. Ali não havia mais do que escuridão, frio e um terrível cheiro a urina. Dormia a maior parte do tempo, deitado contra o chão imundo, enquanto a sua alma era lentamente sugada pela criatura das trevas. Nos poucos momentos em que estava acordado, tacteava e arrastava-se pelo chão, até encontrar o pão duro que lhe deixavam.


Pelo menos não era Azkaban. Azkaban seria pior. Era apenas uma cela nas masmorras da Mansão Malfoy. Ordens de Voldemort.


Ele tornara-se um Devorador da Morte, conseguira infiltrar-se no Departamento de Regulação e Controlo Criaturas Mágicas através de Polisuco, e conseguira que uma porção de Dementors de Azkaban desaparecesse sem deixar rasto, e se aliasse ao Exército das Trevas.


Três dias depois, Macnair e Avery arrastaram-no para as masmorras e tiraram-lhe a varinha. Macnair quebrou-lhe o pulso por diversão. E ele nem se tentou defender. Aqueles dois eram sádicos por natureza, e estando no Quartel-General dos Devoradores da Morte as probabilidades de fuga eram poucas.

Escuridão. Nada parecia mudar. Já se chegara a perguntar se morrera, mas sentia o seu coração bater fraco e ouvia a sua própria respiração. O pior eram os pesadelos. Onde as memórias se misturavam com o medo, e o sofrimento se tornava mais profundo. Sabia que com o tempo alucinaria, ainda que não fosse Azkaban. A presença daquele solitário Dementor era uma constante.  


A porta abriu-se. Havia luz do outro lado. Luz que o fez fechar os olhos, e vomitar. Não tinha nada no estômago, de qualquer maneira. Um homem entrou. A sua cabeça latejou com a entrada ainda maior de luz. O seu corpo tremeu, quando sentiu novamente calor na pele, ainda que estivesse deitado contra o chão de pedra gelada. E soube que um patronus entrara na cela, e o protegia do Dementor. Uma figura estava ajoelhada junto de si. Uma figura que ele reconhecia. 


- O senhor…- Harry tossiu – Eu não o vi no Cemitério…o senhor...o Dumbledore disse…


- Sim, Potter, o Dumbledore confia em mim, assim como o Senhor das Trevas. – Snape respondeu.


- E a quem é o senhor leal? – Harry perguntou.


- A quem é que tu achas? – Snape retorquiu, com um meio-sorriso. Uma pergunta a que Harry não conseguia responder. – Anda, levanta-te.


Snape agarrou-o pelo ombro, e obrigou-o a levantar-se. As suas pernas fraquejaram ao dar os primeiros passos, depois o seu corpo dorido pareceu adaptar-se, rapidamente, ao ritmo. Conhecia os corredores da Mansão Malfoy. E naquele momento pareciam-lhe mais distantes e desinteressantes do que nunca, como se o frio tivesse entrado na sua alma, e o tivesse consumido ou dominado. 


- Quanto tempo estive ali?


- Quase três semanas. – Snape respondeu.


Não era de admirar que se sentisse nojento e fraco. E, acima de tudo, sentia-se diferente. Vira os seus pais serem assassinados, sentira o cruciatus de Voldemort de novo na sua pele, ouvira Dumbledore a afirmar que não deixaria Snape provar a inocência de Sirius, ouvira, sentira, revivera cada momento. Snape conduziu-o para uma sala, onde Harry nunca tinha estado.


O chão era de um mármore verde-escuro, estátuas de marfim negro de magos das trevas estavam dispostas entre as colunas que saíam das paredes. No tecto, estava esculpido o céu estrelado em prata. O trono estava centrado na parede oposta à larga porta de ferro. Era uma cadeira em prata, elegantemente esculpida, com os braços em forma de serpente, e almofadada em tons de ébano. E nesse trono, estava sentado Lord Voldemort.


- Aqui está o rapaz, meu senhor. – A mão de Snape voou para a nuca de Harry, e empurrou-o para a frente.


A sala estava praticamente vazia. Lucius Malfoy estava à direita do trono, lado a lado com a sua mulher, Narcisa. E Harry não se atreveu a olhar para nenhum dos dois. Macnair, Avery e Travis estavam encostados a um canto. Harry deu mais uns passos, e deixou-se cair sobre um joelho em frente do trono. Baixou a cabeça.


- Meu senhor. – Disse numa voz fraca.


Snape ocupou a sua posição do lado esquerdo do trono.


- Harry Potter. – Voldemort sibilou – Finalmente, alguns dos meus Devoradores da Morte conseguiram aceder ao Departamento dos Mistérios. E a profecia tem o teu nome…


Soube que Voldemort iria matá-lo. Só se perguntava porque o tinha mantido vivo durante mais quase três semanas. Tinha de haver uma maneira de escapar…


- Vou-te dar duas hipóteses. – Voldemort continuou – Posso matar-te hoje, e agora. Ou podes trazer-me a profecia, e comprares a ti próprio mais uns dias de vida…


Só ele ou Lord Voldemort poderiam chegar à profecia. Se ele fosse o rapaz da profecia, não queria dar ao seu inimigo qualquer informação sobre como destruí-lo.


- Matai-me agora. – Harry sibilou.


- Escolhes morrer como um covarde. – Voldemort levantou-se, com uma gargalhada, de varinha erguida. Nagini deslizava atrás dele.


Harry levantou-se, e cerrou os punhos, atrevendo-se a fintar Lord Voldemort nos olhos.


´ Não, meu senhor. Eu escolho não morrer como vosso inimigo. – Harry sibilou.


- É o teu nome que está na profecia. – Voldemort fez um gesto com a varinha, e Harry caiu ao chão.


- Não é magia pura que coloca o nome na placa. Foi o Dumbledore quem interpretou a profecia. Foi o Dumbledore quem escolheu pôr o meu nome e o vosso na placa. Dizia Tom Riddle ou Lord Voldemort? – Harry murmurou – Se fosse a própria magia a cravejar o nome na placa diria Tom Riddle, mas muito poucos conhecem a vossa verdadeira identidade, não é verdade?


- Acreditas que o Dumbledore se enganou a interpretar a profecia?


- O Dumbledore precisava de um paladino para a luz, e desde que soube da profecia manipulou todas as circunstâncias para que eu me tornasse nesse herói. Mas mesmo que eu tenha o poder para vos derrotar, não quero dizer que escolha usá-lo. Eu não quero ser esse Harry Potter, eu não quero ser o rapaz do Dumbledore, o rapaz com o nome na placa, eu não quero ter nada a ver com essa profecia. Eu sou vosso. – Harry murmurou. Viu os olhos de Snape faiscarem atrás de Voldemort, e soube que o Mestre de Poções entendera. – E, se assim tem de ser, morro hoje, como vosso.


Os passos de Snape ecoaram no salão. Aproximou-se de Voldemort e sussurrou qualquer coisa. Voldemort soltou uma gargalhada.


- O teu professor de poções diz que é um desperdício matar-te. – Voldemort virou-se, novamente, para Harry – E eu concordo.


Harry sentia o seu coração palpitar contra o seu peito. O cansaço parecia ter desaparecido, dando lugar a uma incrível adrenalina. Snape compreendera as suas palavras, e percebera a sua ideia. Acreditava que acabara de ganhar controlo da situação.


- Deixa Harry Potter no passado, como eu deixei Tom Riddle. Escolhe um novo nome. Um nome que te ligue às trevas e a mim, e não a Dumbledore e à profecia. Deixa esse rapaz que não queres ser morrer. – Voldemort sibilou – É isto que queres?


Harry deixou-se cair sobre um joelho pela segunda vez naquele dia. Três semanas numa cela deixavam-no com vontade de afogar o mundo no seu próprio sangue. Todo o sofrimento da sua vida fora revivido. Odiava Voldemort por lhe matar os pais, e Dumbledore por o usar como um peão para atingir os seus próprios fins. Se a possibilidade de morrer acalmara a sua raiva. A possibilidade de viver trouxera-a de volta. Ele não era o mesmo desde que entrara naquele cemitério, e aquela cela mudara-o ainda mais. Ele precisava de um novo nome.


Olhou para a marca no seu braço esquerdo. Um nome que representasse as trevas, porque era às trevas que ele sentia que pertencia.


 - É o que eu desejo, meu senhor. – Harry acenou.


- Ergue-te. E diz-me o teu novo nome. – Voldemort sorriu.


Harry levantou-se. Deixou que um meio sorrisse lhe atingisse os lábios.


- Azrael. – Harry sibilou - O nome do Arcanjo da Morte.   

Só uma pergunta ecoava na sua mente: quanto de Harry Potter restaria em Azrael? Uma coisa mantivera-o lúcido naquela cela, enquanto suores frios escorriam pela sua pele. Uma coisa mantivera-o lúcido e permitira-lhe resistir ao Dementor. Ele sabia que murmurara o seu nome, que sonhara com ela. Daphne Greengrass. Eram os seus olhos escuros que encontrava, quando se sentia perdido, era sempre ela que o fazia relembrar-se de si mesmo. 

N/A: Olá pessoal, estou de volta. Os exames acabaram e aqui está a prometida actualização. Demorou, e não é muito grande, eu sei :(. Espero que tenham gostado, e já sabem que adoro a vossa opinião

Said 95, Xande vf, Guilherme, Gi Magno, só queria agradecer o vosso apoio ao longo destas semanas. E peço mesmo desculpa por esta demora. Comentem, por favooor. Já tenho saudades dos vossos comentários :) 

Silvia Evans Snape, Obrigado pelo seu comentário :). Espero a sua opinião sobre esta continuação. :P


 

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Comentários (2)

  • Guilherme L.

    Que bom que voltou! Senti bastante falta da fic nesse mês que passou. Parece que voltastes melhro que antes,se isso for possível,haha

    2013-06-27
  • Gi Magno

    Meuuuu, que aflição, mas, simplesmente, amei o capítulo!!!Agora a Daphne e o Harry tem que ficar juntos, hein!!E ainda curto Dramione e o Weasley e Dumbledore mortos... hahahaBeeijos e boa sorte! 

    2013-06-27
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