O Trem - Alvo

O Expresso de Hogwarts fervilhava com as centenas de estudante andando para lá e para cá, todos querendo arrumar uma cabine para se acomodar e rever os amigos. Alvo estava com uma sensação estranha no peito, um misto de ansiedade e medo. Ele ficara olhando pela janela até que não conseguisse mais distinguir seus pais e até que o trem fizesse a curva no final da plataforma, e ainda assim, conseguia ouvir as palavras de seu pai em sua mente “se realmente for importante para você, você pode escolher, o Chapéu Seletor leva em conta a sua decisão, levou comigo” parecia que cada vez mais, Alvo descobria mais coisas sobre o passado de seu pai, ele nunca parecia saber tudo, mas imaginou que fosse o único a saber daquilo e preferiu não mencionar nada.

Ele estava em uma cabine com James e Rose e conforme o trem ia ganhando velocidade através das planícies ele começou a repassar todas as conversas que teve com seu pai nos últimos dias, todas as informações, era muito pra ele, sua cabeça martelava tanto que ele sentiu como se fosse vomitar.

- Você esta bem? – perguntou Rose – Seu rosto esta esverdeado, você vai vomitar?

- Estou bem. – Alvo respondeu.

- Deixe de ser tão maricas Al, é só um trem! – disse James revirando os olhos.

Nesse momento a mulher com o carrinho de doces passou e ele se levantou com um pulo em direção ao corredor.

- Feijõezinhos de Todos os Sabores, por favor. – disse uma garota ao lado de Alvo.

Ele se virou para olha-la, ele nem tinha reparado na presença dela quando saiu da cabine, mas agora que a olhava bem, parecia impossível não nota-la. Ela tinha cabelos loiros compridos presos com uma faixa preta para combinar com a roupa de Hogwarts solicitada aos alunos do primeiro ano – que por sinal ela já estava usando – e grandes olhos cor de mel que deixaram Alvo tonto só de olhar. Ele deve ter encarado tanto a menina que ela acabou percebendo.

- Hã... Oi? – ela tinha uma voz muito suave também.

- Oi! – ele parecia ter acordado de um transe – Oi! – por que ele estava dizendo “oi” de novo? – Me desculpe, meu nome é Alvo. Alvo Potter.

Oh! Potter, é? – disse uma menina ao lado dela.

- É, pois é, meu pai é o famoso Harry Potter. – Alvo disse com desanimo, será que todos que o conhecessem teriam a mesma reação?

- Na verdade estou imaginando se você é o irmãozinho de James. – responde a menina.

- Hã... Sou. Mas não sou nenhum “irmãozinho”, sou irmão dele, ele é só dois anos mais velho. – responde Alvo, ficando um pouco irritando com o tom de escarnio da menina quando disse “irmãozinho”.

- Bem, se você o vir, diga que a Dani esta procurando por ele. – ela disse de um jeito manhoso e irritante.

- Ele esta bem ali dentro – Alvo apontou para a cabine – se quiser, você mesma pode dar o recado.

A garota pareceu surpresa pelo jeito que Alvo respondeu e empinou o nariz, jogou os cabelos pretos para trás e saiu pelo corredor.

- Acho que ela não esta tão a fim de falar com ele então. – diz Alvo dando de ombros e abrindo um sorriso para a menina de olhos cor de mel.

- Hã... é, deve ser. Tenho que ir. Tchau! – ela pegou seus feijõezinhos e saiu apressada pelo corredor.

- Vai querer alguma coisa querido? – pergunta a senhora no carrinho.

Ele compra três sapos de chocolate e volta para dentro da cabine.

- Eu devo ser repulsivo. – diz ele deprimido.

- Disso eu sempre soube maninho. – diz James pegando um dos sapos de chocolate da mão dele.

- Ah, James! Vê se não enche tá? Como se já não tivesse sido ruim o suficiente te aturar o verão inteiro, ainda tenho que te aturar aqui? Eu acho que não!

- Esta bem, esta bem. – diz James se levantando com as mãos para cima em sinal de rendição – Eu vou procurar o Dom e o Fred. – e ele saiu da cabine.

- Posso? – perguntou Rose apontando para o segundo sapo de chocolate na mão de Alvo.

- Claro.

- E então, o que aconteceu? – pergunta ela, lutando com o pequeno sapo enfeitiçado.

- Uma garota ai fora, eu fui educadamente me apresentar e ela simplesmente fugiu de mim!

- Ela deve ser tímida. – respondeu Rose com uma certeza na voz que chega a irritar.

- Bom, e como se já não bastasse isso, os amiguinhos do meu irmão ficam zombando de mim.

- Todos uns imbecis, não ligue. Agora se eu me lembro bem, você tem algo para me contar.

Ela estava certa, Alvo tinha que contar a ela o que seu pai tinha lhe falado, ela merecia saber. Então ele passou cerca de meia hora contando tudo a ela, explicando o que ele sabia, e o que seu pai havia contado, e que o pai dela também fazia parte disso, que ele também estava lá e que escondera isso dela assim como o pai dele fizera com ele.

- Então você quer dizer que nossos pais salvaram o mundo bruxo?

- Sim.

- Isso é demais! – grita ela mais feliz do que ele esperava.

- Espere, o que?

- Quer dizer, eu suspeitava que eles estivessem escondendo algo, mas isso? É maravilhoso!

- Mas o que...? – Alvo não conseguia entender por que ela estava tão feliz, eles tinham escondido aquilo dela tanto quanto esconderam dele, não tinham?

- Você não vê? Eu esperava que fosse algo mais... sei lá, alguma coisa mais grave, mas isso? Quer dizer, é claro que é grande, e importante, mas não é nada horrível certo?

- É claro que é! Eles mentiram pra nós a nossa vida toda! Fomos enganados! – ele estava ficando irritado com tamanha animação dela.

- Enganados? Por quê?

- Rose – Alvo para um pouco para respirar com calma – você esta certa, isso é grande, é importante, então por que passamos a vida toda sem saber disso? Eles mentiram pra nós!

- Alvo – ela imita a pausa dele quase rindo – eles não mentiram. No máximo omitiram, afinal, pelo o que eu sei, nem você nem eu fizemos essas perguntas antes.

- Tá. – diz ele irritado – Mas mesmo assim, eles omitiram essa grande parte da vida deles todos esses anos.

- E você queria que eles fizessem o que? Olhassem para uma criança de cinco anos e dissessem “Ei, filho eu nunca te contei isso, mas eu salvei o mundo bruxo de um bruxo das trevas muito poderoso e agora que você já sabe pode voltar a brincar, ok?”. – ela ri – é claro que não! Nós não tínhamos maturidade suficiente pra entender de verdade isso até agora. Eu ainda acho que não conseguimos compreender a complexidade de tudo isso! Talvez exista muito mais além do que sabemos, e eles estavam poupando a gente de tudo isso. Imagino que seu pai tenha se sentindo obrigado a contar isso pra você agora, por que você esta indo para Hogwarts, onde todo mundo deve saber disso, e você se sentiria perdido sem saber.

- Então você acha que eles podem estar escondendo mais coisas? – ele pergunta, quase com raiva de novo.

- Não Alvo! Você não escutou o que eu disse? Eles fizeram o que fizeram para o nosso bem.

- Mas eles podem estar escondendo mais alguma coisa. Você disse isso. Disse que talvez exista muito mais além do que sabemos.

- Sim, eu disse – responde ela impaciente – mas também disse que foi para o nosso bem que eles guardaram isso por todos esses anos.

Alvo ficou sem responder, apenas imaginando o que mais ele não sabia. Até que Rose perdeu a calma e gritou com ele.

- Por Merlim! Quando eu falo você escuta? Ou você só escuta o que quer? – ela se levantou e saiu da cabine corredor a fora.

Alvo confuso com o colapso nervoso dela continuou em seu lugar, notando agora, que tinha ficado sozinho.

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