Capítulo Único



 - Não.


 Sabe o que eu senti ao ouvir aquela mínima palavra? Sabe o que aquele ‘não’ significou para minha carreira naquele colégio? Sabe o que aconteceu com a minha vida social depois de aquela garota ter pronunciado aquela nota de voz? Sabe o que as pessoas começaram a pensar de mim? Sabe o que aconteceu com a minha fama depois disso?


 Merda. Pois é. Não, você não leu errado. E não, não foi ironia. A minha vida toda virou uma bela de uma merda. E das bem grandes.


 Por incrível que pareça, eu levei um fora. Eu sei. Incrível, né? Esse foi o primeiro fora de toda a minha carreira. E sabe porque? Eu sempre fui o gostosão, o bam-bam-bam, o tesão, o lindo, o popular, o Cara. O garoto legal, que joga futebol, é popular, mas é humilde (como você deve ter reparado no último parágrafo) e gentil com nerds. O moreno inteligente, com cabelo bagunçado, corpo de arrasar o coração das mais novas às mais idosas e que fica lindo de óculos. Aquele por quem as garotas suspiram e os caras invejam. Aquele que já causou 7 ataques cardíacos femininos em uma só noite.


 Ninguém se igualava à mim. Alguns tentavam, mas eram vencidos pelo cansaço. E a minha vida era ótima. Um olhar para as professoras, e eu passava de ano. Uma cantada deslavada, e eu conseguia me agarrar com quantas garotas quisesse no mesmo dia.  Um sorriso para a cozinheira e eu conseguia sobremesa à mais.


 As garotas faziam fila para falarem comigo e disputavam umas com as outras para sentarem ao meu lado no almoço. Não era preciso dizer absolutamente nada. Se eu ficasse o tempo todo falando coisas como “de grão em grão, tanto bate até que fura”, as meninas iriam rir e dizer coisas como “você é tão inteligente, Jay”.


 E eu continuaria sendo muito feliz se não tivesse tido a brilhante idéia de dar uma variada no cardápio. Trocar um pouco o tipo de mulher que se pega, sabe? Porque, sinceramente, aquelas garotas cheias de bunda e sem cérebro começam a cansar você depois de um tempo. E, não me entenda mal, eu gosto de um bom papo cabeça de vez em quando.


 Então, sabem o que eu fiz? Abaixei a escala social nas minhas escolhas. Em vez de líderes de torcida, passei à procurar minhas presas no meio das estudantes inteligentes e comuns da escola. E não me arrependi. Existem meninas lindas nessa área.


 Mas, como nem tudo é perfeito (exceto eu), algo deu errado. Sim, porque além de ter achado meninas linda, encontrei também uma ruiva linda. A única ruiva que eu já havia visto naquela escola. E, como assim, eu nunca a havia visto? E, como assim, eu nunca a beijei? Cara, ela era a única ruiva da escola, eu tinha obrigação de beijá-la!


 E foi aí que a desgraça pairou na Terra. Como tudo o que eu costumo fazer, eu perguntei se ela tinha um “tempinho” para mim na frente de um bando de gente, para que todos soubessem que James Potter é o pegador (não que eles precisassem de lembretes). E foi na frente de todo mundo que eu ouvi aquela palavrinha maldita.


 - Não. – ah, olha a palavra ai.


 Fiquei tão chocado que não consegui dizer nada. Minha boca se escancarou e meus olhos se arregalaram. Sim, eu estava chocado. Não, não é impressão sua.


 - O que foi que disse? – perguntei, meio grogue. Sei lá, ás vezes eu posso ter entendido errado.  


 - Não. – disse a ruiva, confirmando meus receios. Adeus vida social. – E caso não tenha sido clara, eu disse “não”. Não tenho um tempinho para você.


 Como é que é?! Eu decido que quero uma garota inteligente e bonita (dispensando qualquer indicio de bunda), escolho essa ruiva (que além de inteligência e beleza também tem bunda [o que me surpreende]) e ela me vem com “não”?!


 - Porque? – perguntei, feito um idiota.


 Mas a garota nem se deu ao trabalho de responder. Ela simplesmente virou as costas e saiu andando, como se eu não tivesse acabado de fazer uma pergunta para ela. E é claro que eu corri atrás dela. Porque, cara, quem ela pensava que era para me deixar falando sozinho?


 - Ei, ei, ei... – fiz eu, agarrando o cotovelo dela e a virando para mim. – Eu ‘tô falando com você, sabia?


 - Pois é... – disse ela, irônica. – Eu percebi. Mas não vejo porque devo lhe responder.


 Há. Que audácia.


 - Porque é educado. – rebati. Toma essa, ruiva. Placar: James 1 x Ruiva 0.


 Ela arqueou a sobrancelha. Eu queria tanto saber fazer isso! Sério, tem situações que pedem esse tipo de atitude. Mas já treinei várias vezes na frente do espelho e o resultado é sempre o mesmo: as duas sobrancelhas levantam.


 - Também é educado perguntar o nome de uma garota antes de perguntar se ela tem um “tempinho” para você. – ela retrucou. E, bem, ela tinha razão. Eu não tinha perguntado absolutamente nada mesmo sobre ela. Placar: James 1 x Ruiva 1.


 Fiquei sem palavras. De novo. Então, eu pensei bem, e descobri que a coisa óbvia à perguntar era:


 - E... qual seu nome?


 A ruiva deu um sorrisinho desdenhoso. Odeio quando me lançam esses benditos sorrisinhos. Significa que a pessoa se acha melhor do que eu. O que de fato nunca aconteceu.


 - Acho que deveria saber. Afinal, faço as mesmas aulas que você à sete anos.


 ‘Tá... eu não fazia a menor idéia que ela fazia aulas comigo.


 - Jura? – tentei não parecer culpado, enquanto passava a mão nervosamente pelos cabelos. Maldita ruiva! Nota: é claro que eu pareci culpado.


 - Pois é. – disse ela. – Incrível, não acha?


  - Na verdade... – fiz cara de indeciso. - Não. – curto e grosso, do jeito que ela merece. - Principalmente porque não havia motivo algum para eu reparar em você.


 Placar: James 2 x Ruiva 1.


 - E depois ainda espera que eu responda à sua pergunta? Que eu passe um “tempinho” com você? – ela desdenhou a palavra “você”, como se eu não valesse nada. O que não era o caso. – Francamente, Potter.


 E me deu as costas. Pelo menos não foi acrescentado nenhum ponto no placar. E como assim ela me deu as costas de novo? Eu falei om ela! Não era como se estivesse falando sozinho.


 - EI! – chamei de novo e corri atrás dela, dessa vez andando ao seu lado. – Já disse à você que é educado responder quando as pessoas falam com você!


 - E quem é você para falar de educação, Potter? – ela rebateu.


 - Acho que sou perfeitamente educado.


 A ruiva levantou a sobrancelha de novo. Ah, eu queria muito fazer isso!


 - Não é você que humilha as garotas do jornal da escola quando elas tentam sair com você?


 Placar: James 2 x Ruiva 2.


 - Não é você que fica se agarrando com as líderes de torcida encostado nos armários, impedindo gente como eu de pegar minhas coisas?


 Placar: James 2 x Ruiva 3.


 - Não é você que amaldiçoou a Deus e o mundo porque uma menininha de cinco anos derramou sorvete no seu casaco uma vez?


 Placar: James 2 x Ruiva 4.


 - Só porque era um daqueles blusões ridículos do time de futebol?


 Placar: James 2 x Ruiva 5.


 A ruiva sorriu, triunfante. Cara, só porque o placar disparou, não significa que ela tenha ganhado a guerra. Sabe, eu ainda queria ter meu “tempinho” com ela.


 - Pensando bem... Educação nunca foi mesmo o meu forte. – admiti.


 - Percebe-se.


 Placar: James 2 x Ruiva 6.


 - E vai me dizer seu nome? – insisti, como se ainda estivéssemos na primeira frase da discussão.


 E, mais uma vez, naquele maldito dia que não deveria ter começado, aquela palavrinha imbecil soou dos lábios dela:


 - Não.


 Céus! Como ela era negativa!


 - E porque não?


 Estávamos voltando ao primeiro estágio da discussão, mas a resposta dela foi diferente da primeira:


 - Porque, provavelmente, você já terá esquecido o meu nome quando acordar amanhã.


 O que, provavelmente, vai mesmo acontecer. Esse ponto no placar dedico especialmente para você, querida. Placar: James 2 x Ruiva 7. A coisa estava começando a ficar humilhante.


 - Olha só... – comecei, parando de andar e ficando de frente para ela. A ruiva fez menção de continuar andando e me deixar falando sozinho (de novo), mas eu a peguei pelo braço, paciente. – Vamos acabar logo com isso. Eu quero agarrar você e você quer se livrar de mim. Vamos esquecer o lance do nome, já nós dois sabemos que eu vou esquecer. Então, eu agarro você, você me agarra, e automaticamente se livra de mim. Ou nenhum dos dois faz nada, e eu continuo agarrado no seu tornozelo pelo resto da sua vida patética e sem graça.


 Não foi lá um modo muito amigável de dizer que eu queria parar de discutir coisas inúteis e partir logo para a parte em que ela se rende e nós dois nos agarramos. Mas, fazer o que? Foi o que saiu, concorda? Não? Problema seu, ninguém mandou vir bisbilhotar minha vida.


 A ruiva soltou uma gargalhada sarcástica.


 - Minha vida é patética e sem graça? – perguntou, parecendo chocada e divertida com o que eu havia dito. – Acho que você está nos confundindo.


 Ela estava insinuando que a minha vida era patética e sem graça? Há. Essa foi ótima.


 - Tenho tudo o que eu quero, quando eu quero, do jeito que eu quero. Se eu disser para uma garota que prefiro beijá-la quando estiver loira, ela provavelmente vai aparecer loira no dia seguinte. – recitei, sorrindo amarelo. E não me lance esse olhar absurdo! Tudo o que eu disse não passava da verdade.


 - E você se gaba disso? – a ruiva retrucou, cruzando os braços e olhando para a minha cara com desdém. – Manipular as garotas desse jeito? Usá-las como se não valessem nada?


 Dei de ombros, sem me sentir culpado.


 - São só garotas.


 Isso não é o que normalmente se diz quando se está tentando convencer uma garota à sair aos beijos com você. Mas a gente faz o que pode.


 - Não. Não são só garotas. – ela discordou, parecendo um tantinho revoltada comigo. – Elas são inteligentes, divertidas, lindas e talentosas. São especiais. – disse ela. Não me importei. Ela também era só uma garota. – Elas merecem um cara legal e que expire confiança. Um cara totalmente diferente de você. – ora, eu expiro confiança! Mais ou menos. – Elas não são só garotas. Você é que é um cara qualquer.


 Placar: James 2 x Ruiva 8.


 Um cara qualquer? Sete anos construindo uma carreira aceitável naquela escola para chegar uma ruivinha e me dizer que sou um cara qualquer?


 - Não sou um cara qualquer! – neguei, como uma criancinha, batendo o pé.


 - É sim. – afirmou ela. – Você é insensível, grosseiro e arrogante. Você é viciado em futebol, achando que isso vai contribuir muito para a sua vida quando sair daqui. Você ri das pessoas que não te interessam. Você gosta de quem fala mal de você pelas costas só porque são populares. Você acha que quem não estiver enfiado em um casaco do time ou em uma micro saia não merece seu respeito. – e continuou: - Você é exatamente igual à todos os outros garotos. Não tem nada de interessante.


 Revendo o placar: James 2 x Lily 282782927287.


 E eu achando que o negócio do “não” era a pior coisa que tinha me acontecido na face da Terra. Você também? Somos dois, camarada. Mas é exatamente ao contrário. O “não” foi o ponto alto do meu dia. E acho que acabei de descobrir o ponto baixo do meu dia. Bem baixo mesmo. Nem dá para ver onde foi parar, compreende?


 - E você espera mesmo que eu dê um “tempinho” com você? Acho que não.


 Ela humilhou, pisou em cima, cuspiu e saiu jogando o cabelo, como uma daquelas vilãs de filmes americanos, sabe? Não, ela não fez isso literalmente. Foi só um modo de demonstrar o que eu imaginei que ela faria quando terminou a frase. E seria o que qualquer garota normal faria. Porque ela não fazia? Porque ela não podia ser normal?


 - Tenho sérios argumentos contra o que acabou de dizer. – comentei, com a moral mais baixa do que a altura da minha professora de espanhol.


 Mas, como era de se esperar, a ruiva fingiu que não me ouviu e me deu as costas pela terceira vez naquele dia. Acho que deve ser legal fazer isso. Vou tentar um dia desses.


 Fui atrás dela.


 - Eu ‘tô falando com você. – rosnei, me postando em frente à ela, impedindo-a de falar.


 - Pouco me importa. – retrucou ela, tentando passar pelo meu lado direito. Barrei a passagem dela. A ruiva tentou pela esquerda, mas eu barrei de novo.


 - Também pouco me importa se isso importa para você, mas eu vou falar do mesmo jeito. – acho que deu para acompanhar a frase, né?


 - Não entendi uma palavra do que disse.


 - Quero falar meus argumentos. – expliquei.


 - Já disse que não quero ouvir.


 Tentei arquear a sobrancelha, mas as duas se levantaram.


  - Então é assim? Você me critica e não me dá o direito à defesa?


 Há. Isso fez ela parar. E deu para ver que ficou bem estressada mesmo. Há. Ela não gostou do que eu disse porque sabe que tenho razão. Há. Eu adoro ganhar. 


 - Seja rápido. – resmungou.


 E a galera vibra! Finalmente uma resposta afirmativa! Milagre divino, Jesus seja louvado.


 - Eu sou um cara legal quando quero. Só que não sou assim com todo mundo, porque tem gente que não merece.


 A ruiva levantou a sobrancelha, divertida.


 - É só isso?


 - Eu sou popular, tenho um carro legal e as garotas gostam mais de mim do que de qualquer outra pessoa. Não tenho que dizer meu nome, porque eles sempre sabem.


 A sobrancelha dela levantou mais ainda.


 - Chama isso de argumentos?


 - Não. – respondi. Porque não chamava mesmo. – Eu sou um cara legal. Se não fosse, metade das garotas com quem saio já teriam espalhado por aí as minhas grosserias e hoje eu não seria nada. Digamos que minha popularidade, meu carro e minha beleza são um bônus.


 - E a arrogância? Faz parte do pacote?


 Sorri com o comentário dela.


 - As pessoas tem defeitos, sabia?


 E mais um daqueles sorrisinhos desdenhosos surgiu no rosto dela. Sem resposta, prossegui:


 - Seu nome é?


 A ruiva riu. Pela primeira vez, riu de verdade. Achei... interessante.


 - Você é muito cara de pau. – comentou, usando a mão para esconder o sorriso.


 - E você é muito linda. – bajulei. – Mas, ainda assim, me recusa um pouquinho do seu tempo.


 Ela riu de novo. E usou a mão livre (que não estava escondendo o sorriso) para me cumprimentar.


 - Lily Evans.


 - James Potter.


 Trocamos um aperto de mãos.


 - Agora vê se me deixa em paz, valeu? – disse ela, me dando as costas.


 Lily (nome recém descoberto) ia me deixar ali? Sozinho? Sem moral? Sem beijo?


 - Ei, Lily.


 Ela se virou e olhou para a minha cara, impaciente. Lily não podia querer tanto assim cair fora dali, não é? Ah, você acha que sim? Dane-se.


 - Que é?


 Passei as mãos pelos cabelos, sem graça.


 - Normalmente, as garotas não vão embora sem antes me dar um beijo.


 Lily levantou a sobrancelha, incrédula.


 - Não. – disse ela de novo.


 Eu realmente não deveria ter saído de casa hoje. Se tivesse ignorado o despertador e dormido o dia inteiro, não estaria levando o terceiro “não” consecutivo.


 Mas sorri. Já tinha previsto a resposta dela.


 Assim, torcendo para que Lily não resolvesse virar a mão na minha cara, me aproximei e enlacei a cintura dela. Sorrindo de lado, colei nossos lábios, roubando um selinho. Não me olhe assim! Não perdi todo esse tempo para sair de mãos abanando! E tinha gosto de... chiclete de canela?


 Há. A cara dela foi impagável.


 Rindo pelo nariz, eu a soltei.


 - Não me olhe assim. – disse me afastando da garota paralisada. – Você acabou de ganhar o dia.


 Lily riu. E a galera vibra!


 


And the crowd goes


Oh oh oh oh oh


I’m a superstar


And I got a cool car


And the girls like me better than whoever you are


Cuz’ I make your day


And let me hear you say


Oh oh oh oh oh


(E a galera vibra


Oh oh oh oh oh


Eu sou popular


E tenho um carro legal


E as garotas gostam mais de mim, não importa quem você seja


Porque eu faço você ganhar o dia


E me deixe te ouvir dizer


Oh oh oh oh oh)


 


 


N/A: Dedicada especialmente para Neuzimar de Faria (uma das minhas amigas mais velhas). Quem quiser conhecer, eu super recomendo! Um beijão, Neuzimar!


 


Thomas Cale.

Compartilhe!

anúncio

Comentários (3)

  • Neuzimar de Faria

    Caracas, Thomas, ri muito!!! Que James é esse "última Coca-Cola do deserto"? Quanta humildade da pessoa! KKKKKKKKKKK E a Lily, garota de atitude, quase o fêz se arrastar aos seus pés, ele teve que "suar a camisa" p'ra conseguir o selinho, gostei! E, Thomas, gostei de verdade, estou muito honrada, emocionada, muito obrigada, nunca vou esquecer!!! Valeu!!!! Beijos!!! 

    2012-12-05
  • willi santana

    thomas voce é o cara! será que eu ja disse isso? sera que alguem ja te disse isso? se sim, acredite! é verdade, voce nasceu pra escrever fics, adoro sua escrita, e eu ficaria muito, mas muito, mas muito feliz, se vc nos desse um 'tempinho' pra uma continuação dessa doçura de fic! ficou foda!

    2012-12-05
  • Sah Espósito

    Thomaz meu amigo...adoro todas as suas fics... e é por soo que ja li quase todasparabensfoafa e perfeita *-*   

    2012-12-05
Você precisa estar logado para comentar. Faça Login.