Desafios



O que ocorreu depois quase a levou para Azkaban. Em vez de dizer: “Este homem está vivo”, Sheeba afirmou com todas as letras que Sirius era inocente. Até Alvo Dumbledore arregalou os olhos,  como se ela estivesse dizendo alguma grande idiotice. Ela foi levada ao departamento de execução de leis de magia para depor... agora achavam que ela cúmplice. Ela começou a falar, muito segura, diante de Bartolomeu Crouch, que a olhava com evidente descrença:
-    Sirius não matou o dono daquele dedo, simplesmente ele não morreu, está vivo. Eu pude sentir a energia do resto do corpo quando toquei o dedo.
-    Como então ele não apareceu?
-    Não posso dizer, ele está protegido por gelo de confusão.
-    Entendo... mas, e os outros.
-    Não é óbvio? Não foi Sirius que os matou... se o homem está vivo...
-    Minha filha, você vai continuar afirmando que Sirius Black é inocente?
-    Mas ele é...
-    Se ele é inocente, porque confessou a morte de Lílian e Tiago Potter?
-    Ele deve ter cometido algum engano... fatal, mas que não faz dele um assassino!
-    Diga isso para o menino que ficou órfão!
-    O senhor não conhece Sirius Black, eu o conheço!
-    Se o conhece tão bem, talvez soubesse dos planos dele...
-    Eu não sabia de plano nenhum porque não havia plano! Sirius não entregaria seus amigos!
-    Sheeba.... eu preciso falar com você... – Dumbledore olhou significativamente para ela e depois para  Crouch, que sem uma palavra, deixou a sala. Dumbledore acompanhou-o com os olhos e disse a Sheeba:
-    Qual é seu plano, Sheeba? Ser apontada como cúmplice mesmo sendo inocente para ir para Azkaban junto de Sirius?
-    Não professor! Sirius é inocente, eu vou tirá-lo de lá.
-    Que prova mais você precisa da culpa de Sirius, Sheeba? Ele confessou, foi visto matando um grande amigo diante de testemunhas... ele enlouqueceu ao saber da queda de Voldemort... e o que você tem? Uma afirmação absurda que ele não matou alguém que de fato, só ele pode ter matado.
Repentinamente, ela viu... ninguém, nem mesmo Dumbledore, acreditaria nela, até porque, mesmo ela não sabia onde, como, nem porque Pedro Pettigrew não aparecera... maldito gelo de confusão, ela nunca tocara Pedro antes... talvez ele fosse o traidor, mas ela tinha certeza que ele estava vivo... se ela o encontrasse e ele não fosse o traidor, talvez ajudasse Sirius, se fosse, ela o mataria com as próprias mãos, se pudesse. Um plano se formou em sua mente... não podia ajudar Sirius se afirmasse que ele era inocente sem provas. Encarou Dumbledore:
-    Professor...o senhor pode achar que Sirius é culpado... mas sabe que eu sou inocente, não sabe? – o homem balançou a cabeça lentamente.
-    Por isso fiz questão de dar a notícia para você... você sempre foi transparente, Sheeba, eu saberia se você estava ou não mentindo... Sirius pode ter enganado você também, e você não iria se refugiar nas minhas barbas se fosse cúmplice dele... eu vi a surpresa em seu rosto quando eu disse a você o que aconteceu...
-    Professor... eu amo demais Sirius, e com o gelo de confusão e tudo mais, realmente eu posso estar enganada. – o professor olhou para ela num misto de pesar e descrença... Sheeba nunca fora de mudar de opinião tão rápido.
-    Você está sendo sincera?
-    Totalmente. Pode chamar o Sr. Crouch... mas eu não quero depor... diga que eu estou sem condições... por favor.
    Bartolomeu Crouch voltou à sala e ela disse friamente tudo que tinha dito a Dumbledore. Ele a dispensou desconfiado, então estendeu-lhe a mão, que ela tocou, mesmo sem luvas, sem lembrar-se do toque. Ela encarou o homem e disse brevemente:
    - O senhor devia dar mais atenção à sua família – o homem fechou a cara e ela saiu. Dumbledore a deixou em casa.
    Ela entrou no apartamento, fechou todas as janelas e sozinha, começou a lembrar das palavras de Zara, muitos anos antes: “você vai perder muitos amigos, todos de uma vez... vai se sentir perdida.”  - de fato, parecia que repentinamente, o mundo havia sumido à sua volta... Lílian e Tiago, mortos... há dois anos ela não via Remo... e Sirius... “Muitos anos te separam da felicidade no amor... eu te vejo esperando-o por longos anos, o único homem que você já ama sem saber...” – Será que um dia alguém poderia provar que ele era inocente? Vieram à sua cabeça as mais absurdas justificativas... a única coisa que tinha era a certeza que Pedro Pettigrew de alguma forma sobrevivera... talvez Sirius tivesse revelado o segredo a ele, confiança... talvez o traidor fosse Remo, mas isso parecia absurdo demais. O que ela faria agora? “há uma criança em seu destino.” Harry Potter, filho de Lílian e Tiago... Dumbledore lhe dissera que o menino estava com os tios.. e se ela pedisse a guarda de Harry? “você vai olhar por ele à distância” – não... Dumbledore nunca voltava atrás numa decisão como aquela... a essa altura o menino já estava na casa dos tios... ela não sabia o que seria dela agora... Voldemort estava derrotado, tudo mudava, ela não sabia como ficaria sua vida, não  conseguiria dar conta de tudo... Então lembrou-se de uma coisa.
    Seus dedos fecharam-se sobre a aliança de Sirius, no fundo do bolso da veste... ela focalizou-o em Azkaban, olhando o vazio... havia uma expressão de obssessão doentia nos olhos dele. Ela fixou-se sua mente no que ele poderia estar pensando: “ Eu sou inocente, eu não matei ninguém.... eu preciso resistir... eles não vão me pegar... eu não devia ter trocado... eles estão mortos e a culpa é minha” – foi o suficiente... usar o toque para ler pensamentos era doloroso e difícil, mas ela viu que ele estava convicto... de alguma forma, ele achara melhor trocar de papel com alguém... e esse alguém era o traidor. So podia ser Pettigrew. Mas ela não podia saber como ele escapara...
    “Eu vou te esperar, Sirius” – ela pensou segurando a aliança “Nem que eu espere a vida toda... estou proibida de te ver, mas vou estar contigo todos os dias da minha vida até que sua inocência fique provada... agora, eu preciso retomar a minha vida, não vou te ajudar ficando presa aqui.”
No dia seguinte, soube que estava desacreditada e desempregada, um pequeno artigo no profeta diário fizera o estrago: “Cúmplice ou apaixonada? Qual foi o papel de Sheeba Amapoulos no assassinato dos Potter?” . Ela não sabia dizer como, mas Rita Skeeter descobrira tudo, e colocara no jornal... ela era chamada de “A Amante de Sirius Black”... nunca se imaginara desta forma.... se tivessem se casado, talvez fosse diferente, mas agora era tarde, só uma pessoa poderia ajudá-la. Alvo Dumbledorde.

Março de 1982 – Londres – Sede da Polícia dos Trouxas
-    Muito bem senhorita... Ampola
-    Amapoulos.
-    Isso. Você foi indicada por Jerome Allen... esse departamento é novo e secreto. A senhorita pode imaginar que os contribuintes não vêem com muito bons olhos que a rainha esteja pagando salários para pessoas que investigam crimes fuçando as coisas e tentando pegar as vibrações do assassino...
    “Que diferença da minha primeira entrevista de emprego... esse trouxa não tem a mínima idéia do que eu posso fazer.”  Sheeba pegou casualmente uma caneta sobre a mesa e pensou: “Além de trouxa, ainda é traído pela esposa...” O homem continuava falando, falando... depois de dez anos aprendendo a ser bruxa, ela ia ter que reaprender a ser trouxa... ia trabalhar na polícia... engraçado que Dumbledore a ajudara através de Mr.Allen... quase seis meses depois de perder o emprego no ministério, sorte que eles a haviam ajudado, não tinha mais um tostão, bruxo ou trouxa. Precisava trabalhar, nem que fosse entre os trouxas. Era como fazer o caminho de volta. Tornou a prestar atenção no que o homem falava:
    - Como a senhorita passou com nota máxima nos exames para o ingresso na nossa academia...
    “Obrigada pela cola, Prof Dumbledore”
    - ... dentro de seis meses, estará engajada á corporação... mas sua condição ... especial... não pode ser revelada fora da polícia... seu cargo é experimental, nunca havíamos empregado... paranormais, nem eu sei de onde surgiu a idéia...
    “Obrigada novamente, Mr Allen”
-    Bem, acho que é só.
-    Obrigada, Mr Sullivan... só uma coisa...
-    Sim?
-    Eu posso ter uma coruja como bicho de estimação? É que ela se sente sozinha sem mim...sempre ficou o dia todo comigo
-    Er... nunca soube de nada contra isso...
-    Obrigada. – Sheeba saiu. Não era o emprego dos seus sonhos, mas dava para começar, e Dumbledore conseguira defendê-la e salvá-la de um banimento... teria um emprego trouxa, mas poderia ser bruxa. Tinha que torcer para não ficar doida, afinal, poucas as pessoas precisam seguir duas leis diferentes.

    Em seis meses, Sheeba começou a trabalhar na polícia como investigadora... departamento de parapsicologia... era um cargo sigiloso, mas que não a livrava do comentário dos colegas, dividia um gabinete com seis pessoas. Quando ganhara uma arma, pensou: “Nunca vou usar essa coisa... para que preciso disso? Minha varinha dá de dez a zero...” Até provar ser útil, ela ouvia as piadinhas:
-    E ela ganha um salário para isso!
-    Fica pedindo os objetos e segurando, de olhos fechados... depois faz umas anotações e leva para o chefe.
-    E a história daquela coruja?
-    Eu juro que eu vi ela sair segurando a coruja outro dia... com um bilhete na pata, sério, amarrado.
-    E o homem... quem será aquele homem que ela tem uma foto enorme dele?
    Sim, ela encantara uma foto de Sirius com um feitiço estática... mas de vez em quando ele ainda teimava em mudar de posição na moldura, quando ninguém estava olhando... fingia não ouvir os comentários... tinha mais o que fazer. Era preciso ganhar respeito. Um dia, apareceu o caso de um assassino serial... a quarta vítima. Ela achou que chegara a hora. Procurou Jonatthan Reed, responsável pelo caso e disse:
    - Por favor... eu soube que ele deixa sempre uma faca nas vítimas... posso examinar uma delas?
    O homem a olhou incrédulo. Era alto, devia ter 26 anos, e era um investigador muito mais antigo que ela:
-    Você pode destruir alguma digital ou evidência...
-    Por favor. Depois que eu terminar, você não vai precisar de evidências.
    O homem hesitou por uns momentos e a levou à sua sala. Ele tinha uma sala individual, ampla.
-    Espere aqui. – voltou alguns minutos depois, trazendo uma faca dentro de um plástico lacrado. Entregou-a olhando desafiadoramente para Sheeba.
-    Posso tirá-la do invólucro?
-    Não.
-    Então, talvez demore um pouco mais. – Sheeba fechou as mãos em torno do cabo da faca, pensando firmemente: “Eu quero o assassino...” – a imagem do assassino veio à sua mente, límpida e clara. Um rapaz da cabelos cor de trigo – ele é canhoto – disse Sheeba casualmente – escreve palavras na barriga das moças com uma faca – Reed arregalou os olhos, essa era uma informação confidencial, não vazara para o público e sequer para os outros departamentos da polícia – O nome dele é Melvin Johnson, ele tem 27 anos, branco, trabalha numa fábrica, mas tem um intelecto muito avançado. – Sheeba abriu os olhos – você dirige? – Reed olhava-a incrédulo.
-    Sim, porque.
-    Ótimo... se nos apressarmos, vamos salvar a potencial quinta vítima.
    Reed hesitou muito em cumprir as instruções de Sheeba, mas resolveu pagar para ver. Em meia hora entravam num lugar abandonado, uma espécie de galpão.
-    Amapoulos... não temos mandado.
-    Diga isso para a garota... se não a tirarmos daqui, ela morre essa noite.
    Avançaram por alguns minutos até que deram com uma porta... era uma câmara frigorífica desativada.
-    Ele mata aí dentro – Sheeba disse – a garota está aí.
    Quando Reed arrombou a porta, a garota estava lá. Cerca de duas horas depois, Melvin Johnson foi preso.  O nome de Sheeba não foi publicado, nem saiu em parte alguma... era parte de seu acordo com a polícia. Mas todo o departamento soube. Foi apenas o primeiro caso importante... em pouco tempo, ela participaria de várias investigações importantes, mas nunca ficaria conhecida. Era melhor assim

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