Os Brasileiros e a Fuga no Nat



    Quando o período letivo recomeçou, os quatro brasileiros já estavam tão integrados em Hogwarts que ninguém diria que eram estrangeiros... também, eles tomavam pílulas de inglês. As pílulas de idiomas eram uma invenção de um bruxo brasileiro genial, que permitiam por dias ou horas e entender outro idioma escolhido, verdes para inglês, amarelo para francês, laranja para português, e assim por diante. O grupo de brasileiros era composto por dois rapazes e duas moças.
Os dois rapazes eram do Rio de Janeiro, e eram amigos inseparáveis. O líder e monitor do grupo, de dezesseis anos, chamava-se Alcebíades de Souza, mas preferia ser conhecido apenas como Souza, era um moreno de 1,73m, magro de cabelos encaracolados e cheios, olhos castanhos e nariz largo, sorridente e brincalhão ao extremo, logo enturmou-se na turma da Grifnória, se dando especialmente bem com Sirius Black. Seu companheiro era o mais baixo Marcos Senna, um garoto da mesma idade, cabelos longos louro escuros, olhos verdes e pele morena, Souza o chamava de Marcos Soneca.
A garota mais séria do grupo era de uma tribo indígena do alto Amazonas, mas fora criada na cidade de São Paulo, e parecia tudo, menos um silvícola. Maíra Terena, era alta, magra e cerebral, séria, contida, tinha a pele cor de bronze, cabelos lisos, longos e  negros, olhos rasgados muito negros e uma boca grande, que estava via de regra séria, ela quase nunca sorria, e se o fazia era muito brevemente.
Ninguém podia ter personalidade mais oposta a de Maíra que sua colega Maria Bahiana da Silva... que gostava de ser chamada de Mariínha, o que para os estudantes de Hogwarts era particularmente difícil de pronunciar. Mariínha era uma mulata baixa e de corpo curvilíneo, 16 anos, olhos negros e jeito sensual... não havia um rapaz que não virasse a cabeça quando a mulata passava gingando seus largos quadris e seu traseiro avantajado, sacudindo os muitos colares de contas que trazia ao pescoço.
Ao contrário  dos estudantes de Hogwarts, os alunos da Mãe D’água usavam vestes brancas, com o símbolo azul da escola bordado no peito e foram a sensação daquele início de semestre, principalmente quando Souza tentou ensinar futebol de bruxo para os marotos.
O futebol bruxo se jogava com sete jogadores de cada lado. Um goleiro e seis outros, que podiam fazer tudo com uma bola nos pés e uma varinha na mão, sendo proibidos feitiços estuporantes, ou que machucassem ou matassem o adversário, também não se permitindo conjurar animais perigosos desde que um boitatá conjurado por um jogador devorara um time inteiro e um juiz em plena final do campeonato brasileiro. Souza era particularmente criativo e talentoso com a bola nos pés, e costumava transformar seus adversários em plantas e animais quando estes pegavam a bola, às vezes transformava até o goleiro do próprio time em elefante e este cobria todo gol momentos antes da bola entrar. Diziam que ele teria um grande futuro jogando no Rubra Cruz, o melhor time de futebol bruxo do Brasil.
Mariínha enamorou-se de Remo Lupin, para espanto deste, que não se achava capaz de atrair aquela menina de aparência quase vulcânica... Souza o advertiu:
-    Cuidado que isso é uma verdadeira Iaba*...
-    O que é uma Iaba?
-    Uma diaba sem rabo – disse Souza na maior sem cerimônia, estranhando a cara espantada que o rapaz fizera. Souza o examinou atentamente e perguntou: - vem cá, desculpa, mas perguntar não ofende... você é lobisomem? – a pergunta feita de chofre espantou ainda mais o rapaz.
-    S-Sou... mas ninguém sabe. Não conte para ninguém...
-    Tá explicado... Iaba adora lobisomem, só um é capaz de agüentar o fogo delas... assim mesmo quando tá virado em lobisomem...
    Pelo sim pelo não, Remo passou a manter uma boa distância da garota, que olhando bem tinha um jeito meio encapetado mesmo. E a garota parecia vigiá-lo particularmente quando chegava perto o período da lua cheia.
    Maíra, por sua vez, vivia implorando ao professor Dumbledore que permitisse que ela entrasse na floresta proibida, a garota tinha o poder de falar com diversas espécies de animais, e queria tentar se comunicar com unicórnios... até que o professor disse que ela poderia ir um dia, acompanhada do professor de trato de criaturas mágicas e de Hagrid, munido de seu arco e flechas.
    Depois de algumas horas, a jovem índia voltou com um sorriso sereno no rosto. O professor e Hagrid estavam maravilhados com o jeito dela, que falara não só com unicórnios, mas com seburrelhos, hipogrifos e no dia seguinte prometera contatar os sereianos do lago.
    Diante de garotas tão interessantes, alguém poderia dizer que os rapazes não tinham nada de mais, mas eles também tinham poderes especiais... Marcos era um excelente controlador de tempo, era impressionante a facilidade com que conjurava uma mini tempestade... inclusive conjurou uma diretamente em cima de Snape, que foi todo molhado dar queixa à Professora Minerva, que era a responsável pelo intercâmbio, não conseguindo muito êxito, pois ao ser questionado, Soneca dissera que fizera o experimento ao ar livre e Severo sem querer entrara no raio de ação da tempestade. O brasileirinho disse isso com uma cara tão inocente que não foi difícil de acreditar nele.
    Enquanto a escola distraía-se com os quatro brasileiros, Sheeba e Lilian, agora monitoras, procuravam conciliar suas tarefas com seus namoros e a crescente preocupação com as notícias que chegavam sobre desaparecimentos em lugares distantes de bruxos, ora na França, ora na Dinamarca... Hogwarts estava a salvo ainda, mas a crescente onde de terror vinha afetando muitas pessoas, entre elas alguns alunos. Mesmo com Dumbledore dizendo para que não fizessem aquilo, várias pessoas agora se referiam a Voldemort como “O que não deve ser nomeado” e “você sabe quem”.
    O pânico fora da escola e o clima pouco festivo motivaram o cancelamento do baile de inverno daquele ano, anunciado antes mesmo da festa das bruxas, para tristeza dos alunos do sétimo ano...  Sirius sentia-se decepcionado, não poderia este ano dançar com Sheeba, justamente quando   ela se tornara sua namorada... o namoro dos dois estava começando a esquentar, quando se encontravam fora de horas, sempre às escondidas para namorar, Sheeba tinha a sensação que Sirius seria impossível de ser parado, e ela procurava contê-lo da melhor forma possível, afinal era uma das monitoras e tinha que dar o exemplo...
    Às vezes parecia que as mãos dele estavam por toda parte, se é difícil frear um garoto de dezessete anos normal, imaginem um bruxo e pior, um bruxo apaixonado, convencido de que afinal de contas já é um adulto e ninguém tem nada a ver com o que faz com a namorada... Sheeba sentia que às vezes, apenas o olhar dele lhe fazia cócegas... então, não foi muito difícil aceitar a proposta dele para o feriado de Natal...
    Sheeba completaria 17 anos no dia que sairia o expresso de Hogwarts para os feriados de Natal...  ela nunca havia passado o fim do ano fora de Hogwarts desde que entrara para a escola, mas naquele ano, ela podia sair sem dar satisfações a ninguém, afinal, perante a lei bruxa, seria uma adulta, finalmente. Mas não falou para ninguém que estava fugindo com ele... para todos os efeitos, ia passar o Natal na casa do namorado, com os pais dele.   
    Ao chegarem na estação King’s Cross na noite de seu aniversário, Sheeba sentiu um certo pânico tomar conta dela...ela em momento algum perguntara a ele onde estavam indo, será que iam para a casa dele? Ele enlaçou firmemente a mão dela e arrastou-a até o metrô trouxa, dando um sorrisinho enigmático quando ela perguntou onde iam. Então, quando chegaram na estação West End, ele puxou-a para fora e levou-a através de uma barreira no fim da estação. Desceram por uma escada rolante e ela pôde ver pela primeira vez a estação do Subterrâneo Mágico Mundial, o  Metrô Bruxo, do qual ela apenas ouvira falar. Ela franziu o cenho e  perguntou a ele:
-    Para onde vamos?
-    Surpresa... - ele disse, tapando os olhos dela enquanto a conduzia pela roleta até um trem que ela não sabia para onde iria... então, ele destampou-lhe os olhos, observando-a com uma expressão risonha. Ela permanecia quieta, nunca saíra do país. Ele enfiou uma pílula amarela na sua boca e disse:
-    Cortesia do Souza, eu pedi e ele me arrumou algumas quero poder pedir o jantar para onde vamos... subitamente ela entendia as conversas de alguns bruxos estrangeiros a sua volta uma expressão intrigada no rosto.
    Paris! Ele a levara para Paris, e quando saíram do metrô bruxo para o metrô trouxa e ela viu logo de saída a Torre Eiffel ao fundo , seus rosto se iluminou, uma felicidade radiosa surgindo nos olhos negros... era o melhor presente de aniversário que ela ganhara. Ele a abraçou e disse:
    - Então? Eu me lembro uma vez que eu deixei de vir a Paris para ficar em Hogwarts e você disse que só um idiota deixaria de passar o Natal em Paris... meus pais têm um apartamento vazio aqui... mandei uma coruja para o zelador e ele limpou-o para mim... para nós.
    Sheeba sentiu um calafrio de nervosismo subir-lhe pela espinha... ela estava agora sozinha com ele, apaixonada, longe de qualquer um que pudesse recriminá-la... ia viver o sonho, sem se importar com o futuro, ou mesmo com o dia seguinte... mas lembrou-se de dizer:
-    Temos que tomar cuidado... eu não quero ter um bebê...
-    Tomaremos todo cuidado do mundo. – ele disse, cobrindo os lábios dela com os seus.
    Ela sentia-se uma criança sendo mimada por ele. Sirius não tinha o amor dos pais, mas tinha um cofre abarrotado no Gringotes sempre à disposição, para aplacar a culpa destes pela forma que o haviam criado, em segundo plano, sempre atrás de Caius... e ele fizera questão de dar a ela um Natal digno de bruxo rico, eles estavam jantando num restaurante estupidamente caro, ela se preocupando a todo minuto com tudo, com cada galeão que ele gastava (galeões convertidos em francos, que nenhum dos dois sabia lidar).
-    Pare de bancar a camponesa – ele disse em tom de galhofa. – esta noite você é a noiva de um figurão... se porte como tal...
-    Eu não sei ser assim...
-    Ótimo... porque eu também não... estou achando a comida daqui uma desgraça – eles riram e ele pagou a conta. Em minutos estavam no apartamento dos pais dele, que displicentemente acendeu a lareira com um feitiço.
    Durante anos e anos, quando Sheeba se lembrasse daquela noite, um rubor involuntário cobriria seu rosto... e ela se lembraria de cada instante, desde que ele abriu a porta do apartamento grande e luxuoso, num edifício onde moravam apenas bruxos, até o momento em que o dois se encararam no escuro, a respiração ofegante, ele sério acariciando suavemente a curva de seu rosto, os olhos brilhando fixos nos seus.
    Passaram por todos os momentos de descoberta, do constrangimento inicial a entrega total um ao outro, adormecendo por fim abraçados e tão felizes que era como se o mundo não tivesse problemas. Ela acordou antes dele pela manhã, mas ficou ali, fazendo do corpo dele seu travesseiro, muito consciente do quanto o amava. Ficou muito tempo, com os dedos dele entre os seus, forçando-se a pensar apenas no presente, evitando os gritos que ela insistia em ouvir no futuro dele. Até que o ouviu  dizer:
-    Sheeba... as coisas estão piorando... você sabe o que eu quero dizer...
-    Mais que ninguém.
-    Vamos nos casar assim que terminarmos Hogwarts?
-    Porque, Sirius?
-    Porque eu tenho medo do que pode vir depois... estão falando em uma ordem, uma força tarefa.... vai haver uma guerra. E eu vou lutar. – ela virou-se para encará-lo séria. Ela sabia disso mesmo sem precisar tocá-lo.
-    Você sabe também o que me aguarda... se o ministério ainda não me pegou é apenas porque Dumbledore não permitiu... eles vão querer que eu profetize o tempo todo... eu sou a última que tem o Toque de Prometeu... será que eu vou dar conta?
-    Você dá conta de tudo... eu espero que quando tudo isso acabar, nós ainda estejamos fortes o suficiente para recomeçar...
-    Isso estaremos... somos fortes, no fim, estaremos sempre juntos. – ela sorriu, e ele puxou-a para junto de si, dando-lhe um longo e apaixonado beijo.

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