O Grande Baile



Sheeba olhou-se no espelho do banheiro das monitoras. Ela nunca em sua vida se arrumara tanto para nenhum evento. Estava com uma veste que era justa até a cintura e depois abria-se em uma ampla saia rodada, de um azul profundo e acetinado, com uma capa translúcida do mesmo azul. Era a roupa mais linda que ela já usara na vida. Olhou-se no espelho, naquele dia, ela completava quinze anos.
    Era agora uma moça de 1,62 m de altura, com um corpo esbelto e rosto gracioso, branco como a neve. A marca do Prometeu estava perpetuamente escondida sob sua espessa franja de cabelos negros e cheios, que chegavam apenas ao pescoço, cortados em fio quase reto. Seus olhos negros eram a coisa mais bonita em seu rosto, grandes e maliciosos, com pestanas espessas. Seu nariz era um pouco grande, é verdade, mas ela tinha um charme e uma graça que compensavam isso.
    Ela desceu as escadas lentamente, achado que talvez ele já estivesse no saguão, esperando-a, achando que ela sairia da sala da Corvinal. Realmente, ele estava lá, olhando na direção que ela normalmente vinha pela manhã. Ele usava uma veste azul marinha quase negra, de veludo, seu cabelo crescera muito no último ano, e ele mesmo era bem alto (muito mais que ela, era chato admitir). Tinha os ombros largos e as mãos grandes e fortes, mas o que ela gostava mesmo era de olhar para o rosto dele.
    Ele não percebeu de imediato sua presença e ela ficou ali, olhando o perfil pétreo dele, parecia esculpido em mármore, o cenho carrancudo, forte, o queixo fino e o nariz  (grande, também, é verdade) ligeiramente adunco. Ele estava sério e compenetrado. Ela o chamou e ele voltou-se, arregalando os olhos. O choque dele a deixou intimamente satisfeita. Ele estendeu a mão e disse:
-    Onde você estava?
-    Eu fui me arrumar no banheiro das monitoras. Estou bem?
-    Está... ótima. – ele disse. De alguma forma ele não queria exagerar nos elogios, ele não queria errar, não desta vez. Estendeu o braço para ela e eles entraram no salão.
    Casais já dançavam (Sheeba realmente demorara demais para se arrumar!) e ela viu Tiago e Lilian dançando, ao som de uma orquestra fantasma, que ela soube depois, era a orquestra do Titanic, um navio afundado há muitos anos... céus, o cachê deles era caríssimo!
-    Sheeba, você quer um ponche?
-    Quero – ela sorriu e ele foi na direção das bebidas. Remo se aproximou rapidamente, de braço dado com Leda.
-    Espero que meu amigo não te aborreça esta noite – ele disse numa seriedade que ainda tornava pior a ironia implícita. Ele e Leda sumiram na direção do jardim e ela viu Sirius voltando com as bebidas. Ele tomou seu ponche em menos de um segundo e disse:
-    Vamos dançar? – ela acabou o dela rapidamente, estava se sentindo meio estranha... eles chegaram à pista de dança, ele a puxou pela cintura e eles começaram a dar voltas pelo salão. Ela sentia uma vontade louca de rir.
-    Sirius... você pôs algo naquele ponche.
-    Pus... é pus sim... – ele riu adoravelmente.
-    Como você se atreveu?
-    Calma... eu não te droguei... – ele riu.-  Eu apenas queria dançar com você a noite toda... e pus uma poção de pés inquietos no nosso ponche... sim, ela tem efeitos colaterais, provavelmente você vai achar graça até se alguém cair morto fulminado por um infarto no meio do salão...
-    Sirius...como você pôde? – ele a virou com um passo extravagante e mostrou a ela Snape parado do outro lado do salão, provavelmente observando eles dançando.
-    Lá está o motivo – ele disse – aquela coisa não vai poder sequer se aproximar de você.
-    Mas Sirius...
-    Shh! Eu gosto desta música... vamos dançar.
E todos os ritmos, todas as músicas que tocaram naquela noite eles dançaram... a orquestra sabia músicas bruxas e músicas trouxas e o fato de serem fantasmas não atrapalhava que eles soubessem inclusive músicas mais recentes... eles tinham uma crooner, que não havia afundado com o Titanic, mas que era uma fantasma americana que cantava extremamente bem... alguém disse que o nome dela era Billie*. A orquestra começou a tocar uma música e Sheeba cantava junto, baixinho, ele percebeu:
-    Que música é essa?
-    É uma música trouxa meio velha... minha mãe adora, tem o disco.. chama-se “The great pretender” – ela voltou a cantar:  “Yes, I am the great pretender, pretending that I’m living well, I  need you  such, and I pretend too much, I’m lonely even know one can tell …”
Subitamente Sirius ficou sério. Ele enfim teve consciência que gostava da garota... mas ele achou que ia acabar estragando tudo. Era melhor dançar com ela, dançar até que estivessem cansados demais para pensar... uma coisa pode amedrontar mais um homem que o perigo: saber o que sente. E Sirius sabia que sentia algo muito forte por aquela garota...
-    “Pretending that you still around...” – Ela acabou de cantar junto com a orquestra, que emendou em outra música, mais agitada. Ela sorria para ele, não estava nem um pouco preocupada com o que ia ou não acontecer... ele era tão... divertido. Era bom demais estar com ele, não importava onde fosse, ela só queria estar com ele.
As horas passaram sem que eles pudessem sentir. Então, a meia noite chegou e o baile acabou. Sheeba viu Lilian e Tiago passarem ao largo conversando... eles não haviam se envolvido, mas passaram a noite conversando numa mesa. Remo sim, parecia embevecido, quando passou de braço dado com Leda. Era óbvio que ele estava apaixonado pela garota. Só então Sheeba notou que não haviam parado de dançar...
-    Sirius... você tem antídoto para essa coisa? A música já acabou...
-    Err.. bem. Não. Não achei que o efeito fosse durar tanto.
-    Sirius! Quer dizer que vamos ficar assim nos sacudindo o resto da noite?
-    Talvez não o resto da noite... talvez por mais uma hora ou duas – ele riu e fez ela dar uma volta sobre si mesma.
-    Que coisa idiota. Dançar sem música!
-    Não seja por isso... eu posso cantar.
-    Ah, você está brincando...
-    Não estou não... – ele começou a cantar uma música bruxa que falava sobre trasgos dançando... era uma música engraçada, mas ele realmente cantava muito mal.
-    Você deve ser o pior cantor do universo.
-    Obrigado – ele disse voltando a cantar, e cantou por cerca de uma hora, enquanto iam aparecendo elfos domésticos que tentavam arrumar o salão, e achavam muito inoportuno um casal dançando no meio deles.
Sheeba dava gargalhadas com a falta de talento dele para a música, enquanto ele fingia não ligar, desta vez cantando um Rock muito animado sobre esqueletos que se levantavam do túmulo à meia noite para dançar o Rock and Roll. Então ele cansou e disse:
-    Sua vez de cantar... esgotei meu repertório... cante uma música de trouxas, para variar.  - Sheeba pensou por uns segundos e começou a cantar:
-    “Only You can make all this world seems right, Only You can make the darkness bright. Only You, and You alone…can thrill me like you do…And fill my heart with love for only you…” – subitamente ela percebeu o que cantava (se você não sabe inglês não se preocupe, lá no fim da fic esta música está traduzida), e seu rosto começou a ficar vermelho, mas ela não parou, tentando não olhar para ele. – “O-o-only you, can make all this change in me... for this truth, you are my destiny, When you hold my hand, I understand, the magic that you do, you’re my dream come true, my one, and only you…” – Subitamente ela parou de cantar e dançar. Ele também havia parado e os dois se olharam.  – E-eu... esqueci o resto. – ela disse, os dois estavam juntos bem no centro do salão, parados ele tinha uma das mãos ao redor de sua cintura e a outra segurava a mão direita dela. Por quase um minuto eles não souberam o que dizer. Então ele falou:
-    O efeito da poção passou. Acho melhor irmos embora... daqui a pouco os elfos vão nos expulsar... ele tentou rir e levou-a, segurando a mão dela um pouco sem saber o que mais dizer. Levou-a até o corredor e disse: - até amanhã.
-    Sirius... – ela pensou bem... não, não ia pedir um beijo, por mais que quisesse.
-    Eu gostei de ir ao baile com você... eu sei que é meio cedo para isso... mas você quer ir ao próximo baile comigo? – Sheeba não sabia o que dizer. Era lógico que queria, ela não queria estar com mais ninguém no mundo... será que ele era burro para não perceber isso?
-    Claro... mas...
-    Ótimo – ele sorriu – Boa noite – ele aproximou-se e deu um beijo delicadamente em sua testa. E foi tudo,  virou-se e subiu as escadas aceleradamente, enquanto ela ficava lá embaixo sem entender nadinha a atitude dele.
Quando Sirius entrou no dormitório, foi recebido por uma chuva de travesseiradas dos outros marotos, eles o estavam esperando para uma série de gozações. Era óbvio para eles que ele e Sheeba estariam namorando.
-    Vocês são uns babacas – ele disse mau humorado. Remo olhou para ele e disse:
-    Eu pensei que você fosse chegar com uma cara melhor... não é cara de quem acaba de arrumar uma namorada.
-    Nós não estamos namorando.
-    O quê? Ela te disse não? – perguntou Pedro
-    Não... nós nem... eu nem perguntei nada para ela. Eu não quero namorá-la agora.
-    O quê? Sirius, você endoidou? É claro que você quer namorar Sheeba! Tá escrito na sua testa. – Sirius, que durante o diálogo ia trocando a veste por um pijama, atirou-se de costas na cama e disse, olhando para os três:
-    Quantos namoros por aqui deram certo, Tiago?  Aliás, o que você está falando, hein? Eu não vi você começando a namorar Lilian...
-    Não tivemos “clima”, acho...
-    Bem feito – disse Pedro – quem manda ficar de papo cerebral
-    Falou aquele que namorou a escola inteira – disse Remo – Sério, Sirius... o que aconteceu? – Sirius contou o que acontecera a partir do fim do baile e disse então:
-    Eu não quis estragar tudo... ano passado, depois do baile eu só queria me livrar de Amanda, foi uma ótima sessão de agarramento, e foi tudo. Vocês acham que eu ia querer perder a... amizade de Sheeba?
-    Conversa fiada – Remo disse incisivamente – você está com medo!
-    Ah, Remo, vá catar besouros e não me encha o saco – Sirius virou-se na cama e deu as costas para ele, pensando o que Sheeba estaria pensando naquele momento.

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    “Covarde!” – deitada em sua cama Sheeba não conseguia achar outra explicação para a atitude de Sirius... mas também que grande besta ela fora... achar que ele ia pedi-la em namoro... no máximo o que ele queria da vida era aquilo que fizera com Amanda no ano anterior, um amasso indecente e tchau... “Droga, panaca, cretino, idiota... e eu ainda cantei “Only You” pra ele! E aceitei ir ao baile do ano que vem com ele... porque eu aceitei? Eu tenho que deixar de gostar dele... ele não me merece... ele me rejeitou! Eu odeio Sirius Black! Aquele trasgo arrogante! Como ele pôde fazer isso comigo?”
    Então Sheeba se lembrou do beijo que ele lhe dera na testa... uma coisa tão delicada e cheia de respeito... não sabia que Sirius sabia ser um cavalheiro... ela sempre pensara nele como um sujeito meio bruto, não muito gentil... mas ele fora tão meigo com ela... não, ele não podia não gostar dela... havia algo por trás daquela atitude dele, ela não sabia o que era, mas gostava disso, de ter algum mistério entre os dois. Um mistério... um romance... pensando nisso, adormeceu.

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