Pitonisa Sabe Tudo



Depois da primeira aula de adivinhação, Sheeba tratou de recuperar o tempo que perdera se lamentando, se enfurnava na biblioteca com Lilian para estudar, e foi assim que a amizade entre as duas cresceu e elas se tornaram rapidamente as melhores alunas de suas casas. Eventualmente tinham companhia, Remo aparecia sempre, principalmente logo depois da lua cheia, quando estudava em dobro, Thiago uma vez por semana, às vezes acompanhado de Pedro, e Sirius sempre às vésperas de algum exame importante, quando realmente não deixava as duas estudarem e acabava expulso por Sheeba, quase sempre aos safanões.
    Aos poucos, Sheeba ia fazendo a gangue da Sonserina distanciar-se, destacando-se em todas as aulas que tinha com a desagradável turma, que tinha uma exceção: Atlantis Fischer, o garoto que ela conhecera ainda no expresso de Hogwarts, e que conseguia ser simpático e popular entre todas as casas, porque era um notável piadista, assim que superava sua  timidez.
    Rapidamente, o outono se foi e chegou a época dos feriados de Natal, e Sheeba, como faria nos anos seguintes, se inscreveu para ficar no castelo. Não tinha dinheiro para voltar para casa. Escreveu um cartãozinho para os pais e mandou por uma coruja, achando que talvez eles fossem estranhar. Ao ver a lista de alunos que ficariam no castelo chateou-se ao ver que teria a companhia de Severo Snape e Sirius Black... ela era a única menina do primeiro ano que ficaria. Pelo menos Atlantis ficaria, ele era melhor companhia que aqueles dois.
    Sheeba conformou-se em comemorar seu 11° aniversário sozinha, ela fazia aniversário em 21 de dezembro, e como era o meio do semestre, entrara para a escola ainda com dez anos. No dia de seu aniversário ela estava na biblioteca, adiantando o dever dos feriados quando Sirius apareceu.
-    Cai fora – ela disse antes que ele chegasse muito perto.
-    Ei! Será que você não vai nem deixar eu falar nada??
-    Não, você nunca diz nada que preste, seu chato.
-    Olha só... eu sei que a gente não se dá muito bem
-    Novidade...
-    Mas... o Hagrid... você conhece o Hagrid?
-    O guarda chaves? Mais ou menos. Eu tenho um pouco de medo dele.
-    É porque você não o conhece. Bom, como eu ia dizendo, ele está cortando pinheiros pra festa de Natal lá fora... e me chamou pra ajudar... e perguntou se eu não conhecia mais ninguém... como eu não gosto daquele magrelo da Sonserina e não conheço o comprido... só restou você.
-    Tá bom... eu vou. Mas eu vou chamar o comprido. O nome dele é Atlantis e ele é legal.
Meia hora depois, ela estava chegando à cabana de Hagrid com Atlantis. Sirius já estava lá, ajudando Hagrid com os pinheiros. Na verdade ninguém ajudava Hagrid, porque ele não precisava de ajuda. Ele queria era companhia, e  em menos de meia hora, os garotos já estavam rindo a valer e batendo a neve do alto dos pinheiros, que caía com um barulho fofo sobre o chão. Uma hora Sirius fez uma quantidade estúpida de neve soterrar Sheeba, que levantou-se atordoada e furiosa, fazendo uma bola enorme que mirou em Sirius, mas acertou sem querer em Atlantis. Eles começaram uma guerra de neve que Hagrid ficou assistindo rindo.
-    Entre, Hagrid – gritou Sirius
-    Você está maluco? – Atlantis perguntou, distraindo-se por um instante fatal em que uma bola atirada por Sheeba o atingiu – Uma bola de neve atirada por ele nos mataria soterrados! – Hagrid deu uma gargalhada alta e foi levando o pinheiro para o castelo, enquanto eles continuaram a guerra até caírem exaustos na neve gelada. Ainda bem que estavam bem encasacados.
-    Ufa! – Disse Atlantis – eu nunca tinha brincado de guerra de neve.
-    Porque não? – perguntou Sheeba.
-    Porque eu não tive muitos colegas... eu fui criado por meu padrinho na fundação.
-    Fundação?
-    É... um instituto de pesquisas... meu padrinho se chama Hemerinos, Aristóteles Hemerinos.
-    Meu pai conhece seu padrinho – disse Sirius
-    Pois eu – disse Sheeba – sempre brinquei de guerra de neve com meus irmãos... eu tenho seis irmãos.
-    Todos homens? – perguntou Atlantis e Sheeba assentiu. Sirius interrompeu:
-    Por isso que ela é assim selvagem. Deve ter sido criada por uma família de monstros da floresta. – Sheeba ergueu-se e o soterrou com neve por causa disso e continuou falando enquanto ele cuspia a neve que caíra em sua boca.
-    Na verdade toda minha família é trouxa, só eu sou bruxa... Eu tenho um irmão de 23 anos que é policial, outro de 20 que trabalha com seguros... – Pof! Uma bola de neve atingiu-a na boca e ela não pôde contar mais nada sobre sua família. Eles haviam retornado a guerra quando alguém chamou Sheeba e ela voltou-se, sendo derrubada no chão por duas bolas de neve, uma de cada garoto, que caíram no chão dando risadas. Sheeba levantou-se com o rosto e os cabelos cheios de neve para ver o professor Dumbledore parado pouco além. Ela  correu até ele.
-    Oi professor – a menina estava com as tranças desarrumadas e seu rosto estava vermelho, contrastando com a gola grossa de seu casaco de lã, mas ela tinha um sorriso imenso no rosto.
-    Eu só vim lhe desejar feliz aniversário... você está feliz?
-    Muito professor. Quer dizer... seria bom estar em casa... mas...
-    Tudo bem... chegou isso para você – ele estendeu um embrulho, era um presente de sua família. Um bolo de aniversário feito pela sua mãe, confeitado. – eu ensinei sua família a lidar com corujas... acho que você vai receber mais algumas coisas no Natal. – ele virou-se, deixando Sheeba para trás, feliz como nunca desde que chegara em Hogwarts. Constatou que o bolo era muito grande e chamou Hagrid e os meninos para comê-lo com ela.  Algum tempo depois, os quatro estavam diante do bolo partido, Sirius tinha confeito até no nariz e continuava comendo.
-    Você come como se o mundo fosse acabar! – Sheeba disse ao menino.
-    Ah, não enche. Você que sabe tudo... vai?
-    O quê?
-    Acabar, oras, o mundo ... vai acabar?... que droga de pitonisa é você?
-    Não me chame assim que eu não gosto!
-    Ótimo, é assim que eu vou te chamar de agora em diante. Pitonisa.
-    Os garotos da Sonserina chamam Sheeba de sabe-tudo – disse Atlantis, também com a boca cheia de bolo.
-    Lindo, isso, Pitonisa Sabe Tudo – Sirius disse – esse é seu nome de agora em diante.
-    E o seu vai ser Arrogante, seu filhote de trasgo.
-    Parem de brigar – interrompeu Hagrid – você não devia falar assim com a garota, Sirius – Sheeba deu um olhar triunfante na direção do menino – não é fácil poder ver o futuro...
-    Quem se preocupa com o futuro – Sirius deu de ombros
-    Dumbledore – Disse Hagrid, e Sheeba notou uma pontada de apreensão – e pelo que eu sei, ele tem muitos motivos para isso.
-    O que é afinal? – perguntou Sirius – é o tal bruxo que todo mundo tem medo? O tal de Voldemort?
-    Não diga o nome dele – Hagrid interrompeu o menino que arregalou os olhos – não se deve dizer o nome dele...
    Sirius ia abrir a boca para dizer qualquer coisa quando sentiu que Atlantis fazia sinal para que ficasse quieto. Minutos depois, os meninos iam sozinhos na direção do castelo quando Atlantis começou a falar:
-    Eu já vi o tal bruxo.
-    O quê? – Sirius e Sheeba disseram ao mesmo tempo.
-    Eu já o vi... eu sei que era ele
-    Você deve estar brincando – disse Sirius – e com uma coisa que deve ser séria... todo mundo quando fala nesse sujeito parece que fica histérico – Sheeba ficou em dúvida se falava ou não o que estava pensando, o que vira sobre Voldemort.
-    Não... eu não estou brincando... meu padrinho me salvou dele – Atlantis quase sussurou – depois eu ouvi gente dizendo que ele ia me matar...
-    Mas porque ele mataria você? – Sirius perguntou
-    Não sei.
-    Eu sei de uma coisa – Sheeba começou a falar e contou de como conhecera Dumbledore e o que vira quando o tocara.
-    Porque ele iria querer matar um diretor de escola ?– Disse Sirius – ele nem é m ministro da Magia ou coisa parecida, não deve ser tão importante assim.
-    Não sei – Atlantis encerrou a conversa – isso é história dos adultos.
    Os três aceleraram o passo na direção do castelo enquanto evitavam olhar para trás. De alguma forma aquela conversa amedrontava os três.

    Depois do feriado de Natal, o tempo pareceu voar. Agora Sheeba tinha corujas de casa, o que era bom, e tinha um convívio pelo menos razoável com os colegas de classe, se dava bem com Marianne, Annabela e Helen, mas evitava Sibila e Lúcia, que considerava insuportáveis. Mas sua melhor amiga continuava sendo Lilian.  Quase no fim do semestre, quando o verão já estava chegando, ela testemunhou algo que melhorou um pouco o baixíssimo conceito que ela fazia de Sirius Black.
    Lilian tinha um gato. Seu nome era Seymour. Porque Lilian pusera este nome no bicho, ninguém sabia. Thiago Potter adorava rir do gato, que era preto e magricelo, meio manco e tinha uma orelha meio arrebentada, segundo Lilian, fruto de uma briga com um cachorro. Estava um dia muito quente e Lilian, Sheeba e outras meninas, algumas da Grifnória e outras da Corvinal, estavam conversando na grama, era um domingo lindo de sol. Os garotos estavam brincando mais adiante e o gato Seymour parecia tocaiar algo na grama, talvez um camundongo, talvez um pequeno gnomo. Repentinamente, algo ergueu o bichano magrelo no ar e Lilian deu um grito. Uma coruja negra e enorme pegara o gato, provavelmente iria comê-lo. Era a coruja de Lúcio Malfoy, que estava rindo, observando tudo de longe.
    Além da gangue da Sonserina, composta por garotos como severo Snape e Evan Rosier, Lúcio ainda tinha três “amiguinhos” mais velhos, do segundo ano, todos enormes que eram filhos de empregados de seu pai: Vincent Crabble e Marcus Goyle e Walden McNair. Eram três brutamontes burros e com caras de carrasco, que faziam tudo que o garoto mandava. Ele estava junto dos três rindo-se, vendo sua coruja segurar o pobre gato que esperneava. Vendo aquilo, Tiago correu e gritou para um garoto do terceiro ano que chegava com uma vassoura que a emprestasse. Subindo como um raio, Tiago alcançou a coruja, e depois de evitar algumas bicadas, tirou o arranhado, assustado, porém vivo Seymour das garras do corujão, que ele largou que foi voando desengonçado pousar no ombro de seu dono, que veio tirar satisfação com Tiago nem bem este chegou no chão.
    Tiago tinha arranhões no rosto, peito e  pescoço, feitos pelo gato, e alguns na mão, pela coruja. Mas encarou o outro garoto com raiva e altivez. Lúcio Malfoy começou, com voz arrastada:
-    Potter... meu mocho estava apenas brincando, afinal ele não é apenas uma coruja de recados... precisa caçar. – Tiago entregou o apavorado gato para Lilian que ficou acariciando o bicho até acalmá-lo, sem olhar para o garoto.
-    Porque você não manda seu mocho caçar seus parentes, Malfoy? Você deve ter vários ratos na família. – agora haviam quatro garotos de cada lado, se encarando, sendo que tirando Lúcio Malfoy, os  da Sonserina eram muito maiores que Thiago, Pedro e Remo, que ainda assim pareciam dispostos a brigar. Apenas Sirius parecia ser páreo para os três brutamontes, mesmo assim, com ligeira desvantagem.
-    Você está me ofendendo, Potter... meus amigos não estão gostando – Tiago ajeitou os óculos sobre o nariz e ia dizer alguma coisa, quando uma sombra passou a sua frente e de surpresa, atingiu Malfoy bem no queixo, derrubando o garoto no chão. A coruja pousada no ombro do garoto levantou vôo, para nunca mais aparecer. Lúcio ficou caído no chão diante do ar embasbacado de seus três amiguinhos, enquanto Sirius, que desferira o soco que nocauteara Malfoy, ria selvagemente para os três.
-    Parece que acabou... o assunto não era de vocês, não é mesmo? – Ele disse para os três idiotas que o olhavam – Que tal vocês pegarem seu patrãozinho e sumirem daqui? Levem-no para ala hospitalar.- os três garotos carregaram Malfoy para a ala hospitalar e todos os outros ficaram rindo, Tiago estava todo arranhado, mas ainda assim ria. Pedro e Remo rolavam no chão. As garotas riam também. Só Sirius estava parado, apenas sorrindo, quando uma voz chamou-o
-    Senhor Black! Agora, aqui! – A professora Mc Gonnagal estava parada pouco além do limite do jardim e Sirius disse para Tiago:
-    Bem... lá vou eu aumentar minha coleção de detenções... cuide dessa cara, você parece que lutou  com um vampiro, Tiago.
-    Você não precisava ter feito isso.
-    Eu investi em proveito próprio... é mais fácil derrubar a lombriga do Malfoy que aqueles três armários... – e Sirius foi andando na direção da professora que preparava a bronca.
    Sheeba não disse nada, mas achou que realmente o garoto fizera a coisa certa.

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