Anna e o mar; As rainhas da pr



            Quando chegaram a casa, todos seguiram para os seus respectivos banhos. Todas as garotas já estavam arrumadas quando Anna finalmente entrou no banheiro. Elas decidiram descer e encontraram os Marotos sentados nos pufes do lado de fora da casa, conversando. Elas perceberam que eles se calaram quando elas se aproximaram e deduziram que eles conversavam sobre a história que as meninas comentaram mais cedo. Percebendo o pedido mudo para que elas explicassem o que elas tinham com o surfe e aquele lugar, as meninas suspiraram e se sentaram. Elas se entreolharam e suspiraram.


- Bom... – Começou Lizzie percebendo que não teria escapatória – Alguém sabe quem são os pais de Anna?


            Todos os meninos ficaram confusos e responderam não balançando a cabeça.


- Ta bom! Alguém lê ou sabe alguma coisa sobre surf? – Perguntou Lizzie com uma sobrancelha arqueada.


- Claro! – Responderam apenas James e Sirius, dando a entender que os outros dois não sabiam de nada.


- Era uma vez Alice Cout, uma famosa modelo Inglesa que, em um de seus trabalhos no Havaí, conheceu um dos maiores surfistas daquele tempo, Alex Richers. – James e Sirius arregalaram os olhos com sinal de compreendimento de quem se tratava – Quando os dois se viram, foi como amor a primeira vista e, depois de três meses de encontros, eles resolveram se casar. Foi uma cerimônia linda no Havaí, para representar onde tudo havia começado. Depois de dois anos juntos, eles tiverem uma filha: Anna Cout. Alice teve que fazer uma escolha e, para conseguir cuidar da filha e acompanhar o marido, ela desistiu de sua carreira. Tudo estava indo as mil maravilhas na vida da família Cout, com muitas viagens. A carreira de Alex cada vez melhor e sua filha, cada vez maior. Ele sentia orgulho dela e, enquanto sua mãe lhe ensinava etiquetas, como andar e se arrumar, Alex lhe ensinava a arte do surf. Seu primeiro presente foi uma pequena prancha de surf rosa, que era carregada para todo lugar para onde iam. Sempre, depois de uma competição normalmente ganha por ele, ele pegava a pequena prancha rosa e sua filha e, enquanto Alice tomava banho de sol, os dois iam surfar. Logo, a menina fez onze anos e, como sua mãe era uma bruxa Inglesa, ela recebeu uma carta de Hogwarts para começar seus ensinos por lá. Foi quando Alex descobriu que Alice era uma bruxa, mas seu amor por ela não diminuiu e isso não influenciou na relação dos dois.


            A menina parou sua narração para respirar profundamente. Aquelas lembranças eram tristes para todas as meninas.


- Enquanto Anna ia para Hogwarts, Alice e Alex continuaram viajando pelo mundo em competições de surf, mas todas as férias eram dedicadas para sua filha. Os três iam para a sua casa de praia no Havaí, onde poderiam surfar e se divertir juntos. Em uma parte das férias, as novas amigas de Anna – A menina parou e lançou um pequeno sorriso para as meninas aos seus lados – vinham para a o Havaí passar um tempo com ela e sua família e, logo, tomaram gosto pelo surf e resolveram aprender com Alex e Anna. Depois de três anos, todas já surfavam bem e elas acabaram ganhando o carinhoso apelido de rainhas da praia, já que já eram muito bem conhecidas por todos na área, mas ai aconteceu... – Lizzie parou, olhando para baixo tristemente.


- O que aconteceu? – Perguntou Remo curioso


- Ele sofreu um acidente e morreu. – James respondeu a pergunta de Remo


- Foi só isso que contaram nas revistas? – Perguntou Jane com um sorriso sarcástico no rosto


- Mas não foi só isso que aconteceu? – Perguntaram James e Sirius confusos


- Não... – Respondeu Lily tristemente


- Como vocês sabem? – Perguntaram os dois com a sobrancelha levemente arqueada


- Nós... – Começou Lily – Estávamos lá quando aconteceu.


            Os quatro meninos ficaram surpresos, olhando para as expressões tristes das meninas, que pareciam estar absorvidas em suas lembranças.


            Lily, que conseguiu se recuperar um pouco mais rápido e percebeu que Lizzie não conseguia continuar, começou a fala com um pesar na voz.


- Era um lindo dia iluminado por um belo sol como todos os outros dias aqui. Então, nada mais natural do que todos nós pegarmos nossas pranchas e irmos surfar... – Ela deu uma pequena pausa para olhar para suas amigas, as faces igualmente molhadas pelas lágrimas silenciosas ocasionadas pelas lembranças vívidas em suas memórias – Nós fomos para o mar enquanto Alex e Alice ficaram na areia. Eles riam, brincavam e se amavam. Anna, que já era a mais experiente, sempre ia mais longe, para mais fundo, para pegar as melhores ondas, enquanto nós ficávamos mais próximas da areia. Isso não significava que ficávamos no rasinho com as piores ondas, apenas não nos arriscávamos como Anna. Foi ela mesma que nos falou isso quando quisermos ir com ela uma vez: ‘ Isso é perigoso para vocês. Eu tenho muito mais anos de prática.’ E isso realmente fazia sentido. O tempo começou a mudar e uma tempestade vinha caminhando em nossa direção. É claro que nós não vimos isso, mas Alex era experiente e observador. Assim que avistou o perigo, foi em nossa direção pedindo para que saíssemos da água. Nós estávamos próximas os suficientes para ouvir seu tom de preocupação e rapidamente fizemos o que ele pediu, mas Anna estava muito longe para ouvir os seus gritos. – Lily deu uma nova pausa, suspirando e limpando o rosto – Quando chegamos à praia, não conseguíamos avistar Anna em lugar algum... Depois de alguns angustiantes segundos de procura, nós a vimos pegando uma onda gigante, talvez uma das maiores de sua vida, perfeitamente, mas quando finalizou, a correnteza a pegou derrubando-a de sua prancha e a arrastando para o fundo. Nós a vimos voltar à superfície com dificuldade, mas ela estava sendo puxada para cada vez mais longe. Estava claro para nós que havia terminado para ela, mas não estava claro para Alex. Ele pegou sua própria prancha e saiu pro mar... – Com a voz muito embargada, Lily parou de falar impedida pelas lágrimas incontroladas. Ela se aproximou de suas amigas e as três se abraçaram chorando pelas ávidas lembranças que passavam por suas cabeças.


- O que aconteceu? – Perguntou Sirius curioso, não conseguindo se controlar.


- Cala a boca Sirius! – Falaram Remo e James ao mesmo tempo se levantando.


            Os dois, acompanhados por Sirius logo mais atrás, se levantaram e foram na direção das meninas, abraçando-as.


- Calma... – Dizia Remo se ajoelhando ao lado de Lily e a abraçando, enquanto James abraçava Lizzie e Jane.– Tudo vai ficar bem... - Ele disse com a cabeça da ruiva em seu peito


- Não vai não – Ela repetia no peito do maroto, não conseguindo controlar as lágrimas


- Mas... – Começou Sirius recebendo olhares reprovadores de seus amigos, mas não conseguindo se controlar – O que aconteceu?


- Ele foi atrás de mim... – Falou uma voz rouca atrás deles. Todos se viraram assustados e viram Anna parada a porta de vidro que dava acesso ao jardim, encostando-se como se segurasse para não cair e com os olhos muito inchados, provavelmente pelas lágrimas que derramou escondida em seu quarto.


- Anna! – As três meninas falaram e se levantaram indo em direção à amiga


- Você não precisa... – Começou Lizzie


- Tudo bem... – Ela falou – Eles podem saber... Mas eu preciso me sentar, não tenho força pra falar e me manter em pé ao mesmo tempo...


- Vem... – Disseram as meninas ajudando-a a se sentar em um dos pufes na beira da piscina, com os meninos sentados no chão a sua frente.


            Depois de devidamente sentadas, Anna retomou sua história mantendo a atenção de todos os seus amigos para seu rosto manchado de lágrimas. Ela respirou fundo e começou a falar:


 - Ele nadou e nadou até que me alcançou quase afogada e me colocou em cima de sua própria prancha. Ele disse que era para eu nadar pra praia e não olhar pra trás, que ele viria logo atrás de mim. Eu obedeci e nadei o mais rápido que me corpo agüentava, nunca olhando pra trás, mas as ondas estavam cada vez mais fortes e grandes. Eu consegui alcançar a praia depois de muito esforço, mas as ondas fortes e a correnteza o puxavam cada vez mais... – Ela deu uma pausa para limpar uma única solitária lágrima que escorria pelo seu rosto – Dois dias depois, os oficiais acharam o corpo dele a kilometros da costa. Ele havia se afogado... – A menina terminou e o silêncio reinou entre os presentes. Depois de alguns minutos, Anna voltou a falar. – Bem... – Ela disse se levantando – Se vocês me dão licença, eu vou me deitar. Estou muito cansada... – Ela falou se levantando e indo pro seu quarto, deixando todos em silencio novamente.


- Nossa! – Foi a única coisa que Sirius conseguiu falar


- É... – Lizzie falou tristemente


- Ela se culpa pela morte dele... – Falou Lily


- E nós nunca mais tocamos numa prancha de novo... – Terminou Jane, levantando-se – Eu vou dormir, o dia foi muito cansativo.


- Eu vou com você. – Disseram Lizzie e Lily ao mesmo tempo – Nós temos que descansar, amanhã teremos um dia longo...


            Assim, as três foram para o seu quarto descansar. Nenhuma delas falou algo no caminho, mas todas sabiam o que teriam que enfrentar no dia seguinte. As rainhas da praia voltaram e elas não tinham muitas chances de evitar o surf de novo. Depois de anos, elas teriam que voltar para o mar, iriam surfar novamente.


 


x-x-x


 


Veio de manha molhar os pés na primeira onda


Abriu os braços devagar... E se entregou ao vento


O sol veio avisar... Que de noite ele seria a lua,


Pra poder iluminar... Ana, o céu e o mar


 


            O dia amanheceu, mas não foi o único. Anna acordou antes do brilho do sol e foi caminhar na areia ainda gelada da praia. Chegando perto, ela tirou os chinelos e caminhou descalça até as proximidades do mar, onde a água já batia mansa na areia. Parou onde a água batia levemente em seus pés e fechou os olhos, com os braços ao redor de seu corpo, entregando-se ao momento, cheia de saudade.


 


Sol e vento, dia de casamento


Vento e sol, luz apagada num farol


Sol e chuva, casamento de viúva


Chuva e sol, casamento de espanhol


 


            Várias sensações e lembranças misturadas em sua cabeça a deixavam tonta, mas as ondas batendo levemente em seus pés a acalmavam e a mantinha sã.


 


Ana aproveitava os carinhos do mundo


Os quatro elementos de tudo


Deitada diante do mar


Que apaixonado entregava as conchas mais belas


Tesouros de barcos e velas


Que o tempo não deixou voltar


 


            Por vezes, com as ondas, vinham conchas, de todas as cores e tamanhos. Ela se lembrava de quando era pequena e ia, de mãos dadas com seus pais, procurar tesouros na praia. Ela era sempre a que achava as conchas mais bonitas, os tesouros mais valiosos, como se o mar os mandasse especialmente a ela.


 


Onde já se viu o mar apaixonado por uma menina?


Quem já conseguiu dominar o amor?


Por que é que o mar não se apaixona por uma lagoa


Porque a gente nunca sabe de quem vai gostar


 


            Parando para pensar em tudo, não sabia como seu pai havia se apaixonado por uma patricinha fútil como sua mãe e como ela se apaixonou por um esfarrapado que vivia do mar e de suas viagens, eles nunca haviam sido feitos um para o outro, mas, afinal, se amaram. O amor mais bonito que ela já tinha visto.


 


Ana e o mar... Mar e Ana


Historias que nos contam na cama


Antes da gente dormir


Ana e o mar... Mar e ana


Todo sopro que apaga uma chama


Reacende o que for pra ficar


 


            A menina voltou a fechar os olhos e relaxar com as ondas; ela tinha uma ligação mágica com o mar. Algo que ela não conseguia explicar, mas que só ela e ele sabiam. Um segredo dos dois. Ele a fazia se lembrar do pai, das histórias que um dia ouviu com brilho nos olhos a beira daquele grande mar azul. Histórias de um surfista apaixonado pela vida, pelo mar, pela família...


 


Quando Ana entra n'água


O sorriso da madrugada


Se estende pro resto do mundo


Abençoando ondas cada vez mais altas


Barcos com suas rotas e as conchas que vem avisar


Desse novo amor... Ana e o mar


 


            “Não era a toa que minha mãe falava que meu pai tinha uma amante: o mar...” E com esse pensamento na cabeça e um leve sorriso nos lábios, a menina abriu os olhos novamente e, determinada, caminhou de volta a casa para pegar algo que esqueceu, propositalmente, mas que já estava na hora de desenferrujar.


 


x-x-x


 


- Alguém viu a Anna? – Pergunto Lizzie quando chegou à mesa do café da manhã


- Não... – Responderam os meninos


- Estranho... – Murmurou Lily pegando um pão na mesa – Ela já tinha levantando quando a gente acordou


- hum... – murmuraram os meninos


- Lizzie... – Começou Remo recebendo a atenção da menina – O que aconteceu com a mãe da Anna depois da morte do pai dela? – Ele perguntou acanhado, mas curioso


- Ela retomou sua carreira de modelo e hoje vê sua filha menos do que os avós dela... Ela vive viajando e às vezes passa por aqui pra ver se ela ainda está viva... – Lizzie murmurou com um pouco de raiva – Acho que ela nunca superou a morte dele e, ao invés de dar apoio a filha, sumiu no mundo, a fazendo ter mais certeza ainda que a culpa da morte era toda dela e por isso a mãe dela não queria mais vê-la.


- Que horrível! – Murmurou Sirius com a boca cheia de pão


- Horrível, mas verdade! – Jane falou – Só nós sabemos o quanto ela já chorou por isso...


- Meninas... – Falou Lílian se levantando – Eu vou lá no galpão ver as pranchas.


- Daqui a pouco a gente está indo ruiva – Falou Lizzie, recebendo uma confirmação de Jane


- Eu vou com você! – James falou se levantando e indo correndo atrás da ruiva, que apenas deu de ombros e seguiu seu caminho.


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- E ai Lily, como elas estão? – Perguntou Lizzie, quando entrou no galpão que ficava ali perto da casa, sendo seguida dos outros.


- Eu acho que descobri onde a Anna está... – Ela falou não tirando os olhos do que estava fazendo, debruçada sobre a sua prancha.


- Como? O que? – Perguntaram as meninas juntas


- A prancha dela não está aqui hoje... – Lily murmurou com um sorrisinho no rosto, terminando o que estava fazendo e pegando a prancha.


            As meninas se entreolharam e, com um sorriso no rosto, pegaram as pranchas e saíram correndo, sendo seguidas por quatro garotos totalmente confusos. Chegaram à praia em poucos minutos e uma aglomeração de pessoas cercava uma determinada parte do mar e impedia a vista de quem chegasse ao local, eles falavam entre si murmúrios que as meninas não conseguiam entender, mas, com firmeza, seguiram para o meio da aglomeração e rumo ao mar. Todos que as viam abriam espaço para que passassem, como se já soubessem que estava acontecendo.


- Será que alguém pode me falar o que ta acontecendo aqui? – Berrava Sirius para os amigos


- Se eu soubesse... – Murmurou Pedro emburrado


- Até eles sabem algo que a gente não sabe... – Murmurou James tão emburrado quanto os outros dois


- Será que não é óbvio? – Perguntou Remo, o único dos quatro que mantinha uma expressão serena e se encostava a uma árvore próxima dali, despreocupadamente.


- O que é tão óbvio senhor sabe tudo? – Perguntou Sirius com uma sobrancelha arqueada em tom de desafio


- Vocês não prestaram atenção em nada que elas disseram? – Perguntou Remo em tom de incredulidade – Elas foram surfar, isso é óbvio! Pegaram as pranchas. São as tais Rainhas da praia. A Anna sumiu pela manhã e a prancha dela não tava no lugar. A Anna saiu cedo pra surfar e agora as meninas tão indo também...


- E essa aglomeração? – Perguntou Peter ainda confuso


- Você ouviu alguma coisa do que eu disse? – Ele perguntou já estressado com a “inteligência” dos amigos – A Anna ta surfando! Entendeu?


- An...Não! – Ele respondeu como se fosse obvio


- Desisto! – Ele falou já cansado – Porque você não vai lá perto pra vê com os seus olhos?


- Ta bom! – Ele respondeu e saiu rumo ao mar, com seus amigos um pouco atrás de si.


            Peter, assim como seus três amigos, ficou de queixo caído ao chegar perto do mar e ter uma boa visão de tudo. Havia uma garota muito parecida com a Anna, mas os meninos não conseguiam acreditar que era a mesma amiga quieta que eles conviviam a maior parte do ano. A menina que estava surfando deixava todos na praia admirados.


- Ela continua ótima... – Murmurou alguém ao lado dos meninos, chamando as suas atenções.


- Vocês ainda estão aqui? – perguntou Peter percebendo que eram as suas três amigas, as outras “rainhas”, segurando as suas pranchas em baixo do braço e olhando a garota que fazia manobras nas ondas.


- A gente já esta indo... – murmurou Lílian, sem tirar os olhos da menina que estava no mar – Só paramos pra ver ela...


- Faz muito tempo que eu não a via assim... – murmurou Jane


- Chega do momento “admirando Anna” e vamos pro mar que eu também já estou com saudade! – Falou Lizzie com um sorriso, correndo para o mar sendo seguida de suas amigas e recebendo gritos eufóricos de todos na praia.


            Os meninos observavam suas amigas no mar e silenciosamente concordaram que o apelido delas era extremamente apropriado. Elas pareciam fazer parte das ondas e, cada vez que ficavam em pé sobre as pranchas, era como se elas fossem extensões de suas pernas. Todos na praia pareciam apenas admirar as meninas e os marotos ficaram orgulhosos por aquelas serem suas amigas.

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