O SEGUNDO SIGNO



 Harry aparatou rapidamente no hotel, Willy olhou-o satisfeita: ele cumprira a promessa, era quase uma da tarde e ele já estava de volta.
‒ Quer almoçar com uns amigos?
‒ Amigos?
‒ Sue e Draco ‒ ela fez uma cara meio torta.
‒ Tente entender que eu não tive tempo de me acostumar com a idéia de você ser amigo do Malfoy...
‒ Ah, pare de bobagem..
‒ Está bem, vou me vestir, não, primeiro vou tomar um banho...
‒ Não demore, não temos a tarde toda.
‒ Você viu minha escova de cabelos? Não a encontro desde que saímos de Las Vegas! Como vou pentear o cabelo?
‒ Willy, você dá um jeito...
 Dez minutos mais tarde ela saiu do banheiro arrumada, perfumada e linda. Eles pegaram a moto e rumaram velozmente para o restaurante. Draco os esperava na porta e Sue como sempre estava atrasada. Harry entregou a chave da moto para um manobrista trouxa, que olhou amedrontado para o monstruoso veículo.
‒ Se você arranhá-la eu te mato... ou melhor, ela te mata. ‒ Neste minuto, Sue chegou, apressada, trazendo o filho num carrinho. Era um bebê de menos de um ano, louro e branco como Draco Malfoy.
‒ Harry... Willy! Ela gritou... eu não sabia. Quer dizer... como você a encontrou, Harry?
‒ É uma longa história. Draco me deu uma mãozinha...
 Eles entraram no restaurante e Willy ficou olhando o bebê de Sue, imaginando se em breve ela e Harry teriam um também. Eles contaram a Sue toda história e ela censurou Draco por não ter dito a Harry nada antes, e Harry o isentou de culpa, dizendo que afinal na época ele estava noivo de outra. Então passaram a falar da noite em que Hogwarts sofrera o ataque dos vampiros, agora distante sete anos...
‒ E seu pai, Sue?
‒ Meu pai não tem muito jeito não... ele casou com uma trouxa depois que Marsha Cage Fish deu o fora nele, mas já separou, casou de novo e separou... isso me rendeu mais quatro irmãos em seis anos... Ele agora anda as voltas com umas corujas que pega emprestado com Draco, não sei para quem ele as manda....no fundo acho que ele não desistiu da advogada bruxa.
 Infelizmente, o divertido almoço acabou logo. Eles tiveram que se despedir, Draco foi arrastando o pé para o Ministério. Sue pegou o filho e levou para casa, de onde sairia para seu consultório. Harry e Willy foram pegar a moto e encontraram-na rosnando para os manobreiros trouxas que estavam acuados de medo. Harry deu um assobio e ela veio até ele. Olhando os manobreiros apavorados ele jogou um feitiço de memória para fazê-los esquecer a moto e ele.
‒ Harry ‒ Willy disse assim que entraram no quarto ‒ Sue continua muito bonita, mas eu achei Draco meio diferente, não sei... parece que ele está adoentado.
‒ Eu notei a mesma coisa. Eu não deveria te contar isso ‒ ele disse, emendando a história de como ele achara que Draco matara a vampira na véspera. Durante o almoço ele discretamente sondara Sue para saber se eles haviam realmente estado juntos a noite toda, e diante da confirmação dela acreditou que não fora afinal Draco o bruxo que ele vira na noite anterior.
‒ Então alguém também usou a aparência dele?
‒ Não sei... eu não vi o rosto, posso estar enganado. E existe poção polissuco ainda.
‒ E agora, o que você vai fazer?
‒ Está neste envelope, ‒ ele mostrou o envelope que Mr. Sandman passara para ele‒ Mas  meu novo contato é só amanhã... Que tal você tirar a tarde de folga e sairmos para uma volta?
‒ Só depois que eu terminar meu serviço, espertinho... não demoro.
 Ele sentiu o queixo coçar e sem lembrar mexeu na ferida que a vampira infeccionara. Deu um grito porque quando mexeu, doeu um bocado. Ele esquecera de passar a poção. Willy veio ver o machucado.
‒ Harry, isso está horrível! Como você conseguiu? Está totalmente infeccionado!
‒ Passe aquela coisa ali ‒ ele apontou para o frasco de poção e ela começou a passar a poção sobre a ferida. Subitamente ela parou.
‒ Harry... tem uma coisa horrível aqui...
‒ O quê?
‒ Fique quieto... ‒ ela lavou uma pinça que retirou de seu material e esterilizou com loção de barba, diante de seu olhar intrigado. Então para o espanto dele, ela tirou algo de dentro da ferida infeccionada. Ele sentiu uma dor terrível. E gritou.
 Começou a sair sangue de seu queixo e ela tornou a passar a poção. Em menos de um minuto a ferida sumiu e a dor desapareceu. Ele olhou então para o corpo estranho que ela retirara de sob sua pele e perguntou-se como aquilo fora posto lá pela vampira. Ela olhou atentamente para a coisa e arregalou os olhos, encarando-o. Ainda segurando-o com a pinça, lavou o objeto, que devia ter uns dois centímetros,  na pia do banheiro, retirando todo sangue que ficara grudado. Então foi mostrar a ele.
 Harry sentiu um choque. O objeto era um minúsculo mas inconfundível brasão de metal fino. O signo sinistro, novamente.
‒ Como isso veio parar dentro da minha pele? ‒ ele olhava para o brasão apavorado. ‒ Eu vou ter que contatar a agência com urgência.
‒ Harry, eu estou com medo...
‒ Não se preocupe, Willy... isso deve ter uma explicação... deixe-me pensar.. metal, metal... a vampira não pôs isso sob minha pele, eu sentiria...preciso fazer uma consulta ‒ ele tirou de sua mala um livro, o "Grande Livro de Perguntas e Respostas Dos Aurores". Era fino e pequeno como um livro de bolso, todo escrito com letras miúdas, tão pequenas que era impossível lê-las. Ele abriu o livro e perguntou em voz alta:
‒ Existe algum feitiço que conjure metal para dentro do corpo de outra pessoa por uma ferida? O livro agitou-se e folheou-se sozinho como se desfolhado pelo vento. Abriu na página 2031 e cresceu até o tamanho de um livro normal. Harry pôde ver o assunto do tópico relacionado escrito em letras perfeitamente legíveis:
 "Feitiço do Espinho de Metal ‒ categoria: logro não-maligno , tipo: aporte, dano: mínimo. Trata-se de um feitiço inventado de brincadeira por Sandoval, o Magro em 1623, para assustar os amigos que eram feridos em batalhas, para que acreditassem que realmente tinham lascas de espadas de inimigos pelo corpo. Consiste em transportar um pequeno objeto de metal para um ponto sob a pele de uma pessoa, é preciso fazê-lo estando em contato visual com  a pessoa a ser enfeitiçada, o objeto deve ser pequeno e fino, até o tamanho de uma moeda de um galeão no máximo. Ao fazer o aporte , o feitiço procurará uma porta aberta na pele do destinatário (como um pequeno corte) de onde o objeto possa ser retirado, não encontrando, o objeto aparecerá em qualquer lugar no corpo da pessoa e poderá ser retirado facilmente com o contrafeitiço, ver página 2035."
‒ Então isso não foi magia negra... provavelmente o bruxo que matou a vampira quis me dar um aviso... ele tem ligação com quem está mandando os signos. Ele teve contato visual comigo e conjurou rapidamente o brasão para me advertir: mantenha distância... tenho que procurar Mr Sandman. ‒ Harry levantou-se e pegou Edwiges na gaiola. Minutos depois, a coruja saía pela janela com uma mensagem para a Agência. Até o fim do Dia ele teria um retorno de Mr Sandman. Ele olhou para Willy, que tremia. ‒ Calma, meu amor ‒ ele se surpreendeu. Apesar de saber há muito tempo que a amava, nunca a havia chamado dessa forma.
‒ Harry... eu estou com medo... ‒ Ela o abraçou e olhou-o nos olhos, que estavam calmos agora. Havia um resto de sangue manchando-lhe o queixo perto de onde estivera a ferida. Ele a encarou. Ela tinha que se acostumar com isso.
‒ Willy, você acha que não vai agüentar ficar casada com alguém que pode morrer a qualquer momento?
‒ Não seja tolo... eu posso morrer a qualquer momento... qualquer um pode. O que eu sinto é... diferente. É uma espécie de pressentimento.
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 Muito longe dali, em Hogsmeade, Sheeba acabara de monitorar Harry por sua penseira.  Ela sabia que o movimento estava voltando. Era preciso mandar uma carta para Avatar Fernandez. Ela sabia que o bruxo não tinha idéida do que Harry estava procurando exatamente quando pediu a missão de Nova Iorque... Sheeba achava que logo na primeira missão, Harry encararia uma prova de fogo... seria bom para ele? Parecia cada vez menos lógica a distribuição dos signos sinistros. Ela sabia todos que haviam sido entregues: Harry, Avatar, Moody, Sirius, Angus Stoneheart. Harry fora o único que recebera dois. Ele devia ser o alvo pois estava mais perto de achar quem estava mandando os signos... parecia estranho, mas ela sabia que ele só correria perigo depois de receber o quarto signo. "Malditos feitiços de confusão".
‒ Isso é muito maior que parece... ela murmurou... quem está fazendo isso tem um objetivo oculto.


 Eram seis horas da tarde quando a coruja de Mr Sandman chegou. Harry verificou sua procedência através de todos os sinais secretos de Auror e abriu-a.
 "Muito bem, Vassoura.
 Você acaba de ligar duas coisas aparentemente sem ligação... o camaleão então deve estar ligado a quem manda os signos... ou está pessoalmente mandando-os... boa conclusão.  Tudo indica que são dois, mas não sabemos ainda o porque da distribuição dos signos. Está na hora de mudar novamente, meu caro, eu sinto muito. Hospede sua esposa no Hilton, há uma suíte reservada para vocês lá. É melhor que aí, concorda?  Sua verba acaba de ser aumentada, cortesia de Mr Sandman. Me encontre no Banana Bar, no SoHo, às 22:30. Vamos sair juntos em diligência essa noite. Leve sua capa de invisibilidade. Prepare-se: ninguém esquece uma noite com o mestre dos sonhos... Ah, nossa música é "Mercedes Benz",  segue a letra abaixo.
 M.S.
P.S.: Vista-se de bruxo para passar desapercebido."

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 Harry levou Willy para o Hilton e pediu a chave do quarto. Eram sete e meia da noite. Ele a levou para o quarto e ficou olhando o olhar apreensivo dela... será que fizera o certo? Não queria que ela sofresse pelo resto da vida. E se ele morresse e ela ficasse só? Será que afinal de contas a avó dela estava certa?
‒ Minha avó não estava certa, Harry. ‒ Harry deu um pulo.
‒ Willy... como?
‒ Não sei. ‒ Ela o encarou  ‒ desde que você voltou, eu sei exatamente o que você pensa. E gosto cada vez menos do que vejo na sua cabeça.
‒ Willy, ler pensamentos não é corriqueiro nem banal.
‒ Eu não leio qualquer pensamento... só os seus. E isso começou na noite em que meu feitiço de memória se quebrou...
‒ Tem que haver uma explicação para isso.
‒ Sim, tem... a explicação é que eu te amo, te quero e não quero que você me abandone. Nunca ‒ ela deu um passo na direção dele e os dois se beijaram.
 Ficaram muito tempo deitados abraçados, olhando a luz da cidade penetrando no quarto escuro. Harry tinha agora medo de pensar. Ele não queria que nada acontecesse a ela, nada. Tinha medo de perdê-la e medo de ficar com ela e fazê-la sofrer. Agora entendia porque conhecia tão poucos Aurores casados. Passou a mão nos cabelos dela, como fazia quando sentia necessidade de protegê-la. Apertou-a de encontro ao peito, sentia falta dos conselhos de Dumbledore. Se ele estivesse por perto pelo menos ele não se sentiria tão inseguro.
 Estava na hora, ele precisava sair para encontrar Sandman. Levantou-se da cama e se arrumou rapidamente. Tocou o rosto dela, que o olhava sem palavras enquanto ele se vestia. Ele a beijou em despedida e saiu do quarto.
 "Eu preciso tomar uma decisão... depois que isso acabar" ‒ Ele foi em direção ao elevador sentindo sua alma torturar-se ainda. Ele não sabia que Willy já tomara uma decisão. E que quando voltasse, não a encontraria no quarto.

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