... E CONSEQÜENCIAS.



Harry estava a caminho do Hospital St Mungos com Sirius e Sheeba, que haviam vestido nele a roupa protetora. Ia pensando no quanto podia ter sido idiota de não usar a veste protetora por pura preguiça, se amaldiçoando por isso. Mas ao mesmo tempo pensava: Era seu último ano, afinal de contas, Voldemort estava lá fora, sumido há quase um ano, provavelmente mais forte que nunca, o que ele poderia esperar afinal de contas? Voldemort fazendo vodu contra ele é que parecia meio primário. Sempre achara vodu uma coisa meio ridícula, quando aprenderam os contra-feitiços que anulavam o vodu ele pensara que nunca precisaria, mas aquele vodu estava complicado, nem mesmo ele saberia dizer porque.
Quando entrou no hospital e foi posto numa cadeira de rodas, segurando o braço ferido, começou a pensar porque afinal de contas haviam escolhido o braço esquerdo. Ele não era canhoto, não fazia nada com o braço esquerdo, porque então o feriram neste braço?

Em Nova Iorque, Draco olhava o boneco assustado. Nenhum dos exemplos que haviam sido feitos em sala de aula haviam apresentado aquele sangramento contínuo e insistente. Ele imaginou onde estaria o Potter, e o quanto ele devia estar sentindo de dor por causa daquele furo no boneco. Nesse momento, Duff entrou na sala e viu o boneco sangrando, ficando na mesma hora com o queixo caído:
‒ Malfoy... você conseguiu uma ferida permanente... sinal que você e esse cara realmente se odeiam.
‒ Não fala besteira, Duff. O boneco de todo mundo sangrou
‒ Mas que nem o seu nenhum, cara... quem é seu desafeto? Me diz. É um cara que você odeia de verdade, hein?
‒ Cala a boca, seu babaca, não é da sua conta...
‒ Mas é da minha, Malfoy – a voz de Igor Zimmerman soou atrás de Draco. Ele sentiu-se ligeiramente tonto.  – Quem é seu desafeto, rapaz?
‒ Harry Potter. Ele estuda comigo. – Draco virou-se para encarar os olhos pretos do professor. Seus olhos azul-acinzentados tinham o brilho gelado do ódio. Se ele pudesse, trocaria o boneco pelo do professor e o faria sangrar até a morte. Atrás do professor podia ver a cara abobada do Skinhead, que saiu correndo para espalhar a notícia de que Draco Malfoy causara dano profundo em Harry Potter.
‒ Harry Potter – um brilho frio apareceu nos olhos do professor – então é verdade... você realmente é filho de um comensal da morte que não mudou de lado... e vai para o mesmo caminho.
‒ Não, isso não é verdade. Eu jamais serei um comensal da morte porque os acho uns idiotas... e não fui eu quem escolhi Harry Potter para desafeto. Ele que nunca gostou de mim, desde a primeira vez que me viu.
‒ Mas vocês se odeiam... só uma ligação de ódio profundo produz isso... Se qualquer pessoa tocar nesse boneco, dificilmente vai produzir um dano extenso a ele. Mas você pode, se quiser, destruir Harry Potter.
‒ Quem disse que eu quero destrui-lo?
‒ Bem... a ferida é uma prova de laço de ódio. Uma dupla ligação. Você o odeia, ele odeia você. Está claro como água.
Sim, era verdade. Draco e Harry Potter detestavam-se mutuamente, mas Draco o odiava realmente, porque Harry Potter tinha toda a atenção. E quando ele quisera aproximar-se desta atenção, seguindo a máxima de seu pai: “humilhe os mais fracos, bajule os mais importantes”, Harry o havia rejeitado como se ele fosse um ser desprezível. Mas Draco não podia fazer aquilo. Se Sue descobrisse, era o fim.
‒ Não, eu não odeio Harry Potter. E estou arrependido de ter causado este dano nele. E não quero que o dano permaneça. Como eu desfaço o vodu?
‒ Desfazer – o professor deu uma gargalhada alta – Não se desfaz um vodu como esse. Você pode desfazer a ferida. Retire o aguilhão, e use sua varinha para reparar o buraco, e a ferida sumirá nele. Mas a vida dele vai continuar em suas mãos. Cause um dano a este boneco, e Potter sofrerá dano. Destrua-o, e Harry Potter perderá a vida. – Draco arregalou os olhos. Não podia ser verdade, não queria ter a responsabilidade de ter a vida de alguém em suas mãos.
‒ Então, vou ter que conservar este boneco comigo até a morte?
‒ Exatamente... mas existe um meio do boneco ser destruído e nada acontecer.
‒ Que meio é esse?
‒ Entregue-o a Harry Potter e peça desculpas por tudo. Faça de coração aberto. E ele poderá destruir o boneco com as próprias mãos e estará livre de tudo.

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‒ Sue, eu não posso fazer isso!
‒ Porque não, Draco?
‒ Porque se eu fizer isso, ele vai saber que eu fiz o vodu, e eu vou ser expulso de Hogwarts!
‒ E daí. É isso que você merece depois de fazer uma besteira dessas.
‒ VOCÊ NÃO ENTENDE? ISSO É CRIME INAFIANÇÁVEL E IRREVOGÁVEL! EU SOU MENOR DE IDADE, MEU PAI VAI PARA AZKABAN SE EU ENTREGAR O BONECO AO POTTER!
‒ E PORQUE VOCÊ NÃO ME ESCUTOU? – Sue começou a chorar – Porque você não me escutou, Draco?
‒ Porque era a única forma de ficar ao seu lado.
‒ Não, não era. Você foi covarde. Havia mil coisas que você podia ter feito, você podia não ter posto o sangue de Harry no boneco, podia ter abandonado o curso, podia ter mandado teu pai para o inferno... mas preferiu fazer tudo como se não estivesse fazendo nada demais... Draco, você não teve escrúpulos!
‒ Eu não tive escrúpulos? O que você queria que eu fizesse?
‒ Que agisse de forma decente. Acabou, Draco, eu nunca mais quero ver você.  – Sue arrancou do pescoço o cordão que ele dera e sumiu numa estação do Metrô, deixando-o parado sozinho na rua, perplexo demais para dizer qualquer coisa.  Ele abaixou-se e pegou o cordão com o pingente que ela jogara no chão.  Voltou como um autômato para o albergue, de onde tirou o boneco de uma caixa e ficou olhando. Já tirara o aguilhão há horas. A essa hora, estava tudo bem com Harry Potter, ou melhor, tudo relativamente bem, se descontasse o fato que ele neste momento tinha sua vida nas mãos de outra pessoa.



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Sue deixou Draco para trás e correu para casa pensando em denunciá-lo ao seu pai, que poderia contar tudo para Sirius. Como Draco podia ceder àquela tentação de fazer tamanho mal?
Então lembrou-se que por pior que tivesse sido o resultado, Draco fizera tudo porque queria vê-la. Era covarde, era vil... mas acontecera por causa dela. Com lágrimas nos olhos pensou que não podia simplesmente provocar a expulsão dele do seu mundo, porque gostava demais dele para isso.
Ele dizia que não faria nada com o boneco. Ela acreditava nele. Ela queria acreditar que ele faria o melhor... pensou que se o denunciasse talvez o fizesse se tornar um bruxo das trevas, como todos aqueles nos quais ela só ouvira falar. Temendo por ele, Sue decidiu manter o silêncio. E guardou o horrível segredo dele.
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No Hospital, Harry se espantou quando a ferida em, seu braço desapareceu sem deixar vestígios. Sheeba tocou-o apreensiva e disse:
‒ Harry, eu preciso dizer uma coisa a você. Não é Voldemort quem está fazendo este vodu. Eu sei, apesar da pessoa estar com o gelo de confusão, não é Voldemort, eu reconheceria a energia dele nem que ele usasse um gelo com todos os pelos que ele nem tem no corpo... não se disfarça tanta energia trevosa.  Mas vodu pode ser muito sério. Existem cem  de formas de fazê-lo  e noventa e nove não são eficientes. Esta é a única que dá certo, e é maligna demais. Não tire mais a veste protetora até chegar em Hogwarts. Dentro do castelo, você estará protegido, eu falarei com Dumbledore e ele lhe dará proteção. Mas do lado de fora, ao ar livre, use sempre a veste protetora. Sempre.
‒ Está bem, Sheeba.

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Troy olhava Draco, que lhe contara a história toda do boneco e de como se daria mal se entregasse o boneco a Harry e pedisse desculpas, e também o quanto ele se arrependia por ter feito aquilo sem medir as conseqüências.
‒ Draco – começou Troy – você realmente odeia esse cara?
‒ Não sei. Mas acho que realmente odeio sim. Quer dizer, a gente começou a se estranhar no primeiro ano.
‒ Eu posso dar uma sugestão?
‒ Eu tenho escolha?
‒ Fique amigo dele.
‒ O quê?
‒ Fique amigo dele, amigo mesmo... não deve ser assim tão impossível.
‒ Depois de tudo que aconteceu entre a gente, é impossível.
‒ Não importa, tente. Enquanto isso, guarde o boneco como se fosse a sua vida que estivesse nele.  Quando vocês estiverem muito amigos e isso não tiver mais tanta importância, confesse. E entregue o boneco a ele.
‒ Isso não vai dar certo.
‒ Você tem outra sugestão?
‒ Nenhuma melhor, mas... você não conhece o Potter.
‒ E você conhece?
‒ Talvez menos que eu conheço você.
‒ Então, talvez ele não seja tão ruim como você pensa.

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No dia seguinte, Harry saiu do hospital e foi visitado por Rony e Hermione. Rony estava bem diferente,  seus cabelos estavam louros e os ombros bem mais largos e ele estava uns dez centímetros mais baixo
‒ Não estranhe – ele disse – transfiguração pessoal, não quis desfazer para mostrar para você.
‒ Isso está horrível – disse Hermione fazendo um muxoxo, porque ele estava realmente bem diferente – Nem parece você.
‒ Realmente – disse Harry – eu não te reconheceria!
‒ Mas isso não é importante. Precisamos descobrir quem fez isso em você. Se Sheeba diz que não foi... Voldemot ‒ Rony fez uma careta ao dizer o nome.
‒ Não foi mesmo ele, desde o começo eu achei que não fosse. Vocês lembram quando estudamos vodu em defesa contra as artes das trevas? Isso é considerado primário por bruxos que realmente se acham poderosos... mesquinho, covarde. Fazer bonequinhos e espetá-los. E ainda tem o problema da eficiência... é preciso um elo de ódio real para que dê certo.
‒ E quem você odeia tanto quanto odeia você ?
‒ Sei lá... Não me ocorre ninguém.
‒ Ninguém? – Disse Hermione – E aquele invejoso do Malfoy? O pai dele também é bem covarde... e o Malfoy não teria dificuldade nenhuma de pegar uma peça de roupa sua lá em Hogwarts.
‒ Hermione – Começou Rony – embora eu deteste dizer isso, acho que o panaca do Draco não faria vodu para o Harry. Ele na verdade é apenas um idiota invejoso. E o Harry não odeia ele também. Odeia?
Harry deu de ombros e Rony prosseguiu:
‒  Além do mais, vodu é coisa de bruxos sul americanos, jamaicanos... você consegue imaginar algum Malfoy, com sua mania de superioridade, praticando algo que até entre os Comensais da Morte é motivo de piada?
Harry ficou calado. A verdade era que realmente não suportava Draco Malfoy. Tudo no garoto o irritava, ele ainda lembrava de todas as coisas que ele havia feito, principalmente as humilhações a Hermione e Rony. Harry ainda não digerira muito bem o fato de no semestre anterior Rony ter emprestado sua coruja para Draco. E decididamente não esquecera que quando Draco andara se pavoneando na escola por estar muito forte no fim do semestre anterior havia até cantado Willy. Isso ele não podia perdoar, mas não acreditava que ele fosse o responsável por aquilo. O pai dele podia até ser suspeito, mas como Rony bem dissera, era pouco provável
‒ De qualquer forma – disse Harry – eu ainda posso me proteger. Acho que quem fez o vodu queria me dar alguma espécie de aviso. Machucou meu braço esquerdo... se quisesse realmente me fazer mal, machucaria o direito.

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Draco voltava para casa no metrô mundial pensando no boneco, protegido dentro da mala, enrolado em várias peças de roupa porque aquilo seria um sério problema se alguém o achasse. A coruja o olhava dentro da gaiola. Tentara falar com Sue várias vezes antes de ir embora, mas ela não o atendera. Ligara para a casa dela (era humilhante ter de usar uma coisa como um telefone), mandara uma coruja, fora até o prédio dela e sempre ela se recusou a falar com ele. Quando fora ao prédio dela, tivera a pior experiência, com John gritando a plenos pulmões que ele sumisse da frente dele ou ele o entregaria para os vampiros, porque ele havia partido o coração de sua filha querida. Fora medonho, mas aquilo o aliviou: se ele não mencionara o vodu, era porque Sue não contara para ele, estava a salvo de uma denuncia e de certa forma era uma demonstração de solidariedade da parte dela. Agora, voltava para casa arrependido da forma que conduzira as coisas e sem saber como consertá-las. Se na viagem de ida se achara o máximo, na volta, estava se achando um autêntico imbecil, que não percebera que isso ia acabar da forma que acabou. Também, se o pai tivesse escolhido outro curso para ele. Agora imaginava que despertaria um zumbi de bom grado se isso não lhe custasse o amor de Sue, como o maldito vodu.
Ao chegar na estação, seu pai o esperava com um sorriso que não o enganava. Ele queria alguma coisa, e Draco desconfiava do que se tratava.
‒ E aí, filho, teve boas férias? – Lúcio tinha a tendência de usar nos outros as táticas que funcionavam com ele, uma delas era a bajulação.
‒ Tudo bem, pai. – Draco disse mecanicamente
‒ Fez um bom curso?
‒ Fiz. Mas não quis o certificado, o senhor pode imaginar que ele daria problemas.
O pai calou-se e conduziu-o até o carro, que, dirigido pelo motorista com cara de trasgo, rapidamente virou numa curva e aparatou na frente da casa deles, nos arredores de Londres. Draco tirou velozmente a mala do carro e correu para o quarto. Queria evitar que o pai lhe pedisse o que sabia que ele ia pedir. Mas seu pai foi atrás. Antes que fechasse a porta, ele entrou e disse:
‒ Muito bem, eu lhe dei algo que me pertence, agora quero de volta.
‒ Do que você está falando pai?
‒ Eu lhe dei o sangue de Potter. Agora quero o boneco.

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